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TDAH NO ADULTO – ALGUMAS ESTRATÉGIAS

PARA O DIA A DIA


Publicado por ABDA | jun 22, 2016 | Dicas para adultos |

Com as informações que dispomos hoje, sabemos que o TDAH – Transtorno do Déficit de
Atenção e Hiperatividade – é um distúrbio neurobiológico reconhecido pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) e que pode ser observado desde a infância e a adolescência,
principalmente em idade escolar.

Porém, o que muitas pessoas desconhecem é que o TDAH pode também persistir na vida
adulta da pessoa. Descuido nas atividades, falta de organização, dificuldade em manter a
concentração e atenção, inquietude e hiperatividade são apenas alguns dos sintomas típicos do
adulto com TDAH.

O TDAH não está ligado a fatores culturais ou conflitos psicológicos, mas sim em pequenas
alterações na região frontal do cérebro, responsável pela inibição do comportamento e do
controle da atenção. O que ajuda e muito a vida de uma pessoa com TDAH é o diagnóstico
precoce, correto e o tratamento adequado, trazendo uma melhora significativa nas relações
interpessoais com cônjuges, familiares e amigos.
Abaixo seguem alguns sintomas que encontramos com maior frequência e intensidade em
adultos com TDAH, comparados a uma pessoa que não possui o transtorno:

• Instabilidade profissional

• Rendimento abaixo da capacidade intelectual

• Falta de foco e atenção

• Dificuldade de seguir rotinas

• Tédio

• Maior incidência de divórcios e separações conjugais

• Maior incidência de acidentes de transito

• Dificuldade de planejamento e execução das tarefas propostas

• Maior índice de desemprego

• Procrastinação

• Ansiedade diante das tarefas não estimulantes

• Maior índice de desistência em Universidades / evasão escolar

• Dificuldades nos relacionamentos; relacionamentos instáveis

• Frequente alteração de humor

• Frequentes esquecimentos, perdas e descuidos para datas e reuniões importantes

• Dificuldades para expressar suas ideias, colocar em prática o que está pensando/em
sua cabeça

• Dificuldade para escutar e esperar a sua vez de falar

• Frequente busca por novas coisas que o estimulem; intolerância a situações


monótonas e repetitivas

• Repetição frequente de erros, frequente falta de atenção com coisas simples


Por mais difícil que seja lidar com o TDAH na vida adulta, algumas estratégias podem ser úteis
e, bem utilizadas, fazem com que o TDAH não seja o fim do mundo, como muitas pessoas
pensam.

Essas estratégias podem ser utilizadas tanto no trabalho quanto na vida pessoal do adulto com
TDAH. Estas pessoas costumam esquecer de pagar as contas, perdem as chaves com facilidade,
não se lembram de reuniões e outros compromissos, ou, quando lembram, geralmente alguma
coisa fica pendente ou sem finalização. Isto não quer dizer que uma pessoa com TDAH seja
ineficiente ou incapaz de realizar um trabalho com competência. Se ela estiver consciente dos
seus pontos fracos, seus pontos fortes, seguindo o seu tratamento de maneira correta
(medicação/psicoterapia), as estratégias podem ajudá-la no dia-a-dia, fazendo com que o
adulto com TDAH possa ter uma vida de sucesso, tanto na sua vida pessoal quanto profissional.

Por mais difícil e desesperador que possa parecer o TDAH na vida adulta, existem algumas
dicas para lidar com o TDAH.

Para facilitar a leitura, dividimos as dicas abaixo em 3 partes:

1 – Lidando com o estresse e a alteração de humor:


Devido à impulsividade, desorganização e distração, o adulto com TDAH frequentemente
batalha para mudar um círculo vicioso com poucas horas de sono, pouco (ou nenhum)
exercício físico e péssimos hábitos alimentares – e tudo isso pode acentuar os sintomas do
TDAH.

• Pratique exercícios – Indicado para todos em geral, as pessoas que tem TDAH podem
se beneficiar ainda mais. Alivia o estresse, melhora o humor, acalma a mente e ainda
ajuda a gastar o excesso de energia que as pessoas com TDAH tem.
• Durma bastante – e durma bem! Poucas horas de sono aumentam os sintomas do
TDAH, diminuindo a capacidade de manter o foco durante dia. Para isso, evite tomar
cafeína antes de dormir, mantenha uma rotina à noite e evite exercícios por até uma
hora antes de ir dormir.
• Alimente-se de maneira correta – Comer bem ajuda a diminuir a distração,
hiperatividade e os níveis de estresse. Pequenas porções durante o dia, ingerir pouco
açúcar, menos carboidrato e mais proteínas podem ajudar a reduzir os sintomas do
TDAH.

2 – Como se organizar e evitar a desordem diária


A distração e a falta de atenção tornam a vida de um adulto com TDAH um verdadeiro desafio,
deixando-o sobrecarregado. As dicas a seguir, foram elaboradas para ajudar o pessoa com
TDAH a organizar melhor a sua vida.

• Crie espaço – Verifique diariamente o que você usará e o que deverá ficar guardado.
Defina lugares para chaves, contas e outros itens que se perdem facilmente. E jogue
fora tudo o que não for necessário!
• Use uma agenda – O uso da agenda ajuda a lidar e organizar os seus horários e
compromissos. É como andar de bicicleta – a prática leva a perfeição. Quanto mais
você utiliza, mais você criará padrões de comportamento organizado.
• Faça listas – Crie o hábito de fazer listas e anotar tudo o que for importante, como
tarefas, compromissos, projetos, deadlines, etc. Caso esteja usando uma agenda,
mantenha suas anotações junto. O planejamento é condição necessária para o bom
desempenho das pessoas com TDAH.
• Faça agora! – Para evitar o esquecimento, procrastinação e desordem, comuns em
adultos com TDAH, faça o que tiver que ser feito na hora, evitando deixar ‘’para
depois’’. Tarefas como responder a um e-mail importante, limpar sua bagunça,
retornar uma ligação, preparar uma apresentação não podem ficar para ‘’o dia
seguinte’’.
• Estabeleça um sistema de arquivamento – Use divisores, ou então separe pelo tipo
de documento (receitas, contas, fichas de inscrição, etc.). Etiquetar ou colorir seus
arquivos também são ótimas estratégias.
• Dedique um tempo do seu dia para e-mails – Separe alguns minutos do seu dia para
checar seus e-mails, evitando abrir sua caixa de correspondência de 5 em 5 minutos.
Responda, arquive ou apague na hora, dependendo do caso.

3 – Administrando seu tempo e não perdendo seus compromissos


Por terem uma percepção diferenciada do tempo, os adultos com TDAH sofrem com a má
administração do mesmo. Frequentemente perdem a hora, prazos, sempre acham que ainda
tem tempo para realizar determinada tarefa (quando na realidade não tem). Muitos adultos
com TDAH se frustram de tal maneira que, no final do dia, não realizaram nada do que tinham
planejado.
• Use um relógio – Pode ser de pulso, timer, alarme, celular ou do computador – desde
que esteja sempre à vista e com o horário certo. Quando começar uma tarefa, diga em
voz alta ou anote o horário, alem de definir uma quantidade de tempo para a mesma.
• Defina prioridades – Defina as suas tarefas mais importantes do dia e depois as com
menor importância.
• Crie uma curta rotina diária – e defina um tempo para ela. Arquivar documentos,
retornar ligações, responder e-mails, pagar contas, etc. podem ser feitos durante um
mesmo período de tempo (por exemplo: 60 minutos) e sempre na mesma ordem.
Dessa maneira, você não se esquecerá de fazer nada importante e conseguirá realizar
todas as suas tarefas.
• Dê mais tempo do que você julgar necessário – Por exemplo, se você acha que para
realizar determinada tarefa, ou encontrar alguém em outro lugar, você levará por volta
de 30 minutos, adicione mais 15 minutos. Com certeza você irá se atrasar.
• Use alarmes e chegue cedo – Anote os horários de seus compromissos com 15
minutos (ou o tempo que você julgar necessário) de antecedência e use alarmes para
que você chegue na hora certa.
• Faça uma tarefa de cada vez – Execute seus compromissos um de cada vez. Caso seja
um grande projeto, divida-o em pequenas partes e termine-os um de cada vez.
• Aprenda a dizer não – A impulsividade no adulto com TDAH pode fazer com que ele
aceite executar muitos projetos ou compromissos de uma só vez sem uma avaliação
prévia e ponderada das suas capacidades e, consequentemente, não consiga finalizar
nenhum. Isto gera sentimentos de frustração, baixa autoestima e incompetência.
Verifique sempre a sua agenda para ver se você realmente pode aceitar um
compromisso, tarefa ou trabalho extra, de maneira que isso não o prejudique.

DISPONÍVEL EM:

https://tdah.org.br/tdah-no-adulto-algumas-estrategias-para-o-dia-a-dia/
O TDAH NO ADULTO E O PROCESSAMENTO
DAS EMOÇÕES
Publicado por ABDA | abr 27, 2016 | Textos |
O TDAH no adulto e o processamento das emoções

Por muito tempo o TDAH foi considerado um transtorno da infância. Somente


nos anos 90 se estabeleceu definitivamente a persistência do transtorno na
vida adulta. A desatenção é o sintoma que frequentemente persiste na idade
adulta, podendo haver uma redução da hiperatividade e da impulsividade.
Os sintomas do TDAH na fase adulta podem ocasionar prejuízos no trabalho,
nas relações sociais e amorosas, problemas com condução de veículos,
drogas, crimes, imagem corporal, autoestima e queixas de dificuldades com a
memória, dificuldades com lazer, espiritualidade, segurança, relações sexuais,
ambiente familiar…
Estudos recentes sugerem que se inclua a desregulação emocional como
sendo um sintoma fundamental no TDAH adulto. A emoção conglomera
processos de avaliação, sensação física, comportamento motor,
intencionalidade e expressão interpessoal; desempenha a função básica de
auxiliar uma pessoa na avaliação de alternativas, ao oferecer motivação e
revelar necessidades e perigos. Portanto, regular as emoções representa uma
habilidade fundamental para a interação social.
Desta forma, a desregulação emocional pode ser definida como a dificuldade
ou inabilidade de lidar com as experiências ou processar as emoções, podendo
se manifestar como intensificação excessiva ou como desativação das
emoções.
Para regular as emoções, o indivíduo necessita usar estratégias para
enfrentamento das mesmas, quando este se depara com a intencionalidade
emocional indesejada. Autorregulação das emoções seria como um termostato
homeostático que regula e mantem as emoções em níveis controláveis.
Dada a relevância das emoções como moduladoras do comportamento e de
sua interpretação, é possível inferir a importância de sua alteração patológica,
ou seja, a Desregulação Emocional. Tanto a intensificação excessiva, que pode
ser sentida pelo indivíduo como indesejada, resultando em pânico, terror,
trauma, temor ou senso de urgência, de forma que o indivíduo se sinta
sobrecarregado e com dificuldade de tolerar tais emoções, como a desativação
excessiva de emoções, podem impedir o processamento emocional adequado,
criando um tipo de enfrentamento caracterizado pela esquiva.
Entre muitos sintomas
característicos do TDAH no adulto podem-se agrupar três categorias de muita
importância: baixa inibição, baixo autocontrole e problemas nas funções
executivas, sendo estes grupos interrelacionados. A baixa inibição estaria
relacionada à dificuldade do indivíduo parar e pensar no ato antes de fazê-lo,
agindo assim com impulsividade. O autocontrole são reações dirigidas a si, ou
ao seu comportamento que poderia ajudar a “fazer” algo diferente do que o
impulso manda. A função executiva se refere às ações autodirecionadas que
são usadas para o controle, sendo eles inibição, memória de trabalho,
planejamento e atenção, e controle emocional. Sendo assim, os indivíduos
adultos com TDAH apresentam reações emocionais impulsivas em diversas
situações justamente porque eles têm dificuldade de autocontrolar a reação
inicial, e também usar de ações direcionadas e autodirigidas que os ajudariam
a acalmar as emoções. Ou seja, a autorregulação é um importante mecanismo
para guiar, moderar a emoção e organizar a ação. E tendo dificuldade de inibir
as emoções, o indivíduo com TDAH apresenta baixa tolerância à frustração,
impaciência e baixo controle cognitivo. Adultos diagnosticados com TDAH
geralmente vêm de uma infância marcada por dificuldades, expressam um
comportamento bastante mal adaptado e deveriam ser reconhecidos como
indivíduos que, por definição, lutaram com dificuldades psicossociais
duradouras.
Embora o TDAH venha sendo estudado há anos através do foco na dificuldade
cognitiva, a perspectiva da regulação da emoção parece que pode levar a uma
melhor compreensão deste transtorno. O adulto com TDAH frequentemente
sofre de oscilações do humor que podem ser pequenas contrariedades ou
mesmo ocorrências menores, sem importância, do cotidiano. Além de
alterações de humor, os portadores de TDAH podem perder o interesse
rapidamente pelas coisas e precisam de novidades para se sentir estimulados,
revelando uma mistura de incapacidade em manter-se com energia e
disposição suficientes para sustentar algo, ainda enfrentando a inquietude
própria do transtorno. Mudam de planos constantemente, na maioria das vezes
sem prévia consulta aos outros, o que gera muitos conflitos nas relações. Por
terem dificuldade de monitorar seu próprio comportamento, avaliam as
consequências de seus atos somente depois que já praticaram a ação.

Tratamento

O tratamento do TDAH deve ser multimodal e inclui orientação, tratamento


psicoterápico e uso de psicofármacos. O tratamento da Desregulação
Emocional no TDAH deve colaborar para que a pessoa desenvolva hábitos e
capacidade de tolerar suas emoções, a fim de lidar melhor com os desafios do
cotidiano.
A Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) é hoje a mais indicada para o
tratamento do TDAH por ser vista como um conjunto de intervenções
relevantes para a regulação emocional, pois inclui orientação e técnicas que
colaborem na modificação de comportamento, na estruturação do ambiente, no
planejamento de atividades e no manejo de sintomas.
Esta abordagem de psicoterapia busca propor que não é a situação que
determina o que as pessoas sentem, mas o modo como interpretam a
realidade à sua volta. Sugere também que o pensamento distorcido pode
influenciar o humor e o comportamento do indivíduo. Sendo assim, o terapeuta
auxilia o paciente a descobrir não só os eventos do ambiente que determinam
os comportamentos-problemas, mas também a identificar e atuar sobre o que
mantém estes comportamentos, como os pensamentos distorcidos.
A TCC utiliza lineamento de habilidades sociais, conversação, resolução de
conflitos, controle da raiva, estratégias específicas que reforce o
comportamento adaptativo social e diminua ou elimine o comportamento
desadaptativo, por exemplo, através de técnicas de reforço positivo. Tais
técnicas podem ajudar a diminuir as deficiências no dia a dia e administrar os
sintomas, tornando os comportamentos desadaptativos menos frequentes e
desta maneira menos estressantes.
A reestruturação cognitiva é uma eficaz estratégia “antecedente” de regulação
emocional, pois modificando a interpretação dos eventos, o indivíduo pode
efetivamente reduzir o impacto emocional.
Partindo do entendimento da neurobiologia das emoções e do seu papel na
etiologia de diversos transtornos psiquiátricos, a Regulação Emocional surge
então, no contexto da psicoterapia como um conjunto de habilidades
adaptativas, que inclui a capacidade de identificar emoções e compreendê-las,
controlando a emergência de comportamentos impulsivos e possibilitando o
uso de estratégias adaptativas para ajustar a resposta emocional.

Denise Ferreira Ghigiarelli – Psicóloga Clínica-CRP 06/107690


Especialização em Terapia Cognitivo Comportamental-HCFM-USP

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