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ASSISTENCIA DE ENFERMAGEM NA SAÚDE COLETIVA – FAFIA - 2021

ELOS DA CADEIA DE TRANSMISSÃO


As doenças transmissíveis ocorrem como resultado deuma interação entre agente
infeccioso, processo de transmissão, hospedeiro e o ambiente (figura 2).
Figura 2: Agente e Ambiente
Agente Hospedeiro

Ambiente
Fonte: OPAS, 2010

O controle dessas doenças pode envolver mudanças em umou mais desses


componentes, os quais são influenciados pelo ambiente. Essas doenças podem ter um
grande número de efeitos, variando de uma infecção silenciosa – com sinal ou sintoma –
até doença severa ou morte.

Figura 3: A cadeia epidemiológica: Elos que identificam os pontos principais da


sequência contínua da interação entre o agente, o hospedeiro e o meio.

1 - Agente
causal
específico

A cadeia
epidemiológic
a

Fonte: OPAS, 2010


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Um agente é um fator que está presente para a ocorrênciade uma doença; de modo
geral, um agente é considerado uma causa necessária, porém não suficiente para a
produção da doença.
É importante entendermos as diferenças entre os conceitos:

Infecção é a entrada Doença é a manifestação


e o desenvolvimento clínica da infecção onde outros
ou multiplicação de fatores (causas suficientes)
um agente infeccioso devem estar presentes para
no hospedeiro. a produção de doenças.

O Agente Infeccioso é um ser Vivo?

O agente infeccioso é um ser vivo que, através de umadas formas (adulto, larva, cisto,
ovo, esporo etc.), pode ser introduzido em outro ser vivo, onde é capaz de se
desenvolver ou de se multiplicar e, dependendo das predisposições intrínsecas do
novo hospedeiro, gerar ou não um estado patológico manifesto, denominado doença
infecciosa, que também é doençatransmissível.

As características específicas de cada agente são importantes para determinar a


natureza da infecção,que é determinada por fatores tais como:

Infectividade: é a capacidade de o agente infeccioso de poder alojar-se e multiplicar-se


dentro de um hospedeiro.

Exemplos: alta infectividade: vírus do sarampoe varicela; baixa infectividade: bactéria


da hanseníase.

Patogenicidade: é a capacidade de um agenteinfeccioso de produzir doença em


pessoas infectadas.

Exemplos: o vírus do sarampo é de alta patogenicidade e o da poliomielite de baixa


patogenicidade.

Patogenicidade:
casos de doença
X 100

Nº total de infectados
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Virulência: é a capacidade do agente infecciosoproduzir casos graves e fatais.

Exemplos: raiva é uma doença de alta virulênciae poliomielite de baixa virulência.

Letalidade: é uma característica frequentemente usada para descrever a gravidade de


uma epidemia. É a capacidade doagente infeccioso de produzir casos fatais.

Diferenças entre virulência e letalidade:

Virulência Letalidade

Casos graves e fatais Casos fatais

Total de casos aparentes Total de casos aparentes

Dose infectante: é a quantidade requerida paracausar infecção em um indivíduo


suscetível.
Imunogenicidade ou poder imunogênico: capacidade do agente biológico estimular a
resposta imune no hospedeiro. Há agentes, comoos vírus do sarampo, caxumba,
rubéola de alto poder imunogênico (uma vez infectadas por estesmicrorganismos, as
pessoas, em geral, ficam imunes para o resto da vida, já salmonelas, shigelas, por
exemplo, são de baixo poder imunogênico e conferem imunidade apenas temporária
aos suscetíveis.

Veja mais exemplos de medidas de prevenção e controlevoltadas


ao agente

Destruição do agente:
Pasteurização do leite e outros produtos, cloração da água e esterilização de
equipamentos cirúrgicos. Evitar o contato hospedeiro-agente: isolar e limitar o
movimento dos casos altamente contagiosos quando existe grande número de
suscetíveis na área ou isolar os mais suscetíveis (isolamento, quarentena);
buscar,identificar e tratar os doentes e portadores, através da detecção,
diagnóstico, notificação, tratamento e acompanhamento de casos até seu
período de convalescença e total recuperação.
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Reservatório de agentes infecciosos:

É qualquer ser humano, animal, artrópode, planta, solo ou matéria inanimada,


onde um agente infeccioso, normalmente, vive e se multiplica e do qual
depende para sua sobrevivência, reproduzindo-se de forma que possa ser
transmitido a um hospedeiro suscetível.

Humanos: o fato de que uma doença ou grupo de doenças tenha o ser


humano como reservatório é de grande importância prática, já que as medidas
de controle que se adotam podem circunscrever-se ao mesmo ser humano.

Se uma doença pode ser tratada com um antibiótico adequado, a ação direta é
exercida sobre o sujeito como paciente e como reservatório. Exemplos de
doenças cujo reservatório é humano: doenças de transmissão sexual,
hanseníase, coqueluche, sarampo e febre tifoide.

Extra-humanos

Os animais podem ser infectados e,


também, servir de reservatórios para
várias doenças do ser humano. São
exemplos disso a brucelose, a
leptospirose, a peste, a raiva e o tétano.
As doenças infecciosas que são
transmitidas em condições normais de
animais para o homem são denominadas
zoonoses.

Ambiental

as plantas, o solo e a água podem comportar-


se como reservatórios para alguns agentes
infecciosos.

Veja mais exemplos de medidas de prevenção e controlevoltadas ao


reservatório
Humanos: casos clínicos e subclínicos e portadores, convalescentes,
crônicos e intermitentes: isolamento e quarentena; quimioterapia, como
tratamento profilático para eliminar o agente de pacientes infectados;
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imunização para evitar o estado de portador, como ocorre com as vacinas
meningocócicas conjugadas e contra a coqueluche (tríplice bacteriana).

Animais: imunização de animais selvagens e animais domésticos contra a


raiva; controle sanitário e quimioterapia massiva de gado para consumo
humano, inclusive eliminação dos animais (teníase, encefalopatia
espongiforme); eliminação de carrapatos de certos animais domésticos.

Ambientais: desinfecção de áreas contaminadas


com fezes de aves e morcegos; eliminação de
criadouros de mosquitos; tratamento de torres de
resfriamento.

Fonte de infecção:
É a pessoa, animal ou objeto de onde o hospedeiro adquire a doença.
O conhecimento tanto do reservatório quanto da fonte é necessário para o
desenvolvimento de medidas efetivas de controle. Uma importante fonte de
infecção pode ser o portador – uma pessoa infectada que não mostra qualquer
evidência de doença clínica. A duração do estado de portador varia entre
diferentes agentes. Os portadores podem ser assintomáticos durante todo o
período de infecção, ou o estado de portador pode ser limitado a uma fase da
doença.

Os portadores desempenham um importante papel nadisseminação global do


vírus da imunodeficiência humana em decorrência da transmissão sexual
durante os longos períodos.

Portas de eliminação ou de saída do agente: o caminho pelo qual um agente


infeccioso sai do seu hospedeiro. As principais portas/vias são:

● Respiratórias: as doenças que utilizam esta porta de saída são as de


maior difusão e asmais difíceis de controlar (covid-19, tuberculose,
influenza, sarampo etc.).
● Geniturinárias: sífilis, AIDS, gonorreia e outras
doenças de transmissão sexual.
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● Digestivas: próprias da febre tifoide, hepatite Ae


E, cólera e amebíase.

● Percutânea: através de contato direto com


lesões superficiais, como na varicela, herpes
zoster e sífilis. Por picadura, mordeduras,
perfuração por agulha ou outro mecanismo
que tenha contato com sangue infectado,
como na sífilis, doença de Chagas, malária,
leishmaniose, febre amarela, hepatite B etc.

● Placentária: em geral, a placenta é uma


barreira efetiva de proteção do feto contra
infecções da mãe, no entanto, não é
totalmente efetiva para alguns agentes
infecciosos como os da sífilis, rubéola,
toxoplasmose, AIDS e doença de Chagas.


O agente costuma sair do reservatório humano e animal por vias fisiológicas,
tais como a respiratória e a digestiva. O controle da via de saída respiratória é
feito através de máscaras, como está sendo utilizado para controle da covid-19.

• Veja mais exemplos de medidas de prevenção econtrole voltadas à porta


de saída

As medidas de controle entérico, ou seja, bloqueio da via de saída digestiva,


compreendem principalmente ações de eliminação do agente por meio da
desinfecção, incluindo a aplicação contínua de medidas de higiene pessoal
básicas.

A via percutânea pode ser bloqueada evitando punções de agulhas e picadas


de mosquito e a via urogenital utilizando preservativos.

Modo de transmissão do agente: é a forma em que o agente infeccioso se


transporta do reservatório ao hospedeiro.

Transmissão direta: É a transferência imediata do agente infeccioso de um


hospedeiro ou reservatório para uma porta de entrada através da qual a
infecção poderá ocorrer. É denominada também transmissão de pessoa a
pessoa. Esta pode ser pelo contato direto através do toque, beijo, relação
sexual ou pela disseminação de gotículas ao tossir ou espirrar. A transfusão de
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sangue e a infecção transplacentária da mãe para o feto são outras importantes
formasde transmissão direta.

Transmissão Indireta: Pode ser através de veículo, vetor ou aérea. A


transmissão por veículos ocorre através de materiais contaminados, tais como
brinquedos, alimentos, vestimentas, roupas de cama e utensílios de cozinha.
A transmissão por vetor ocorre quando o agente é carregado por um inseto
ou animal (o vetor) para um hospedeiro suscetível; o agente pode se multiplicar
no vetor (exemplos: dengue, febre amarela, malária, esquistossomose,
leishmaniose) ou não (moscas).
A transmissão aérea de longa distância ocorre quando há disseminação de
pequenas gotículas para uma porta de entrada, usualmente o trato respiratório.
As partículas de poeira também facilitam a transmissão aérea, por exemplo,
através de esporos de fungos.
A distinção entre os tipos de transmissão é importante quando são escolhidos
os métodos de controle de doenças. A transmissão direta pode ser interrompida
pelaprevenção do contato com a fonte, enquanto a transmissão indireta requer
abordagens diferentes, tais como o fornecimento de mosquiteiros, ventilação
adequada, armazenamento de alimentos sob refrigeração e fornecimento de
agulhas e seringas descartáveis.

Transmissão direta Transmissão indireta

 Relação  Vetores (insetos, carrapatos)


sexual Aperto  Veículos (alimentos
de mãosBeijo contaminados,água)
 Via gotículas respiratórias,  Aérea ou aerossol, longa
curtadistância (respiração, distância(gotículas respiratórias
tosse, espirro) de menor tamanho eliminadas
 Outro contato por respiração, tosse, espirro)
(procedimentosmédico-  Parenteral (injeção com
hospitalares, amamentação) seringascontaminadas)
 Transfusão (sangue, plasma)
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Algumas medidas de prevenção e controle voltadas à via de transmissão
são: evitar que a água, os alimentos e o solo sejam contaminados com excreções
humanas, animais ou outros materiais biológicos potencialmente perigosos para
a saúde; evitar o contato entre o
vetor e o sujeito infectado; prevenir
a infecção do vetor com o agente;
tratar o sujeito infectado para que
deixe de ser fonte potencial de
infecção; controlar o vetor; prevenir
o contato entre um vetor infectado e
uma pessoa suscetível; tratamento
ou eliminação de animais doentes; imunização dos animais quando existem
medidas específicas de proteção; evitar o contato entre os animais doentes e o
indivíduo; esterilização de produtos animais disponíveis para o consumo;
controle de roedores domésticos.

Portas de entrada no hospedeiro: as portas de entrada de um agente no novo


hospedeiro são basicamente as mesmas usadas para a saída do hospedeiro
prévio. Nas doenças respiratórias, a via aérea é utilizada como porta de saída e
portade entrada entre as pessoas. Em outras doenças, as portas de saída e de
entrada podem ser diferentes. Como exemplo, nas intoxicações alimentares por
estafilococos, o agente é eliminado através de uma lesão aberta da pele eentra
no novo hospedeiro através de alimentos contaminados com secreção da lesão.

Exemplos de medidasde prevenção e controle voltadas àporta de entrada

Evitar a punção com agulhas, evitar as picadas de mosquitos, limpar e cobrir as


feridas e usar preservativos, são exemplos de medidas de controle voltadas ao
bloqueio da porta de entrada. Nesse caso, as medidas de bloqueio da porta de
entrada estão voltadas ao hospedeiro suscetível, diferentemente das de
bloqueio da porta de saída, voltadas ao reservatório (o paciente).

As portas de entrada respiratória e digestiva são também as mais difíceis de


controlar; de fato, a aplicação de medidas massivas de eliminação ou
destruição do agente por meio de desinfecção são as únicas que protegem
essasportas de entrada no hospedeiro suscetível; se aquelas falham, essas
também, e, portanto a doença se propaga com facilidade. Isso explica em parte
a alta prevalência de doenças de transmissão respiratória e digestiva, assim
como a importância de manter sistemas de abastecimento de água e
saneamento com apropriado controle de qualidade, entre outros aspectos
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relevantes.

O hospedeiro suscetível: é um indivíduo ou animal vivo, que em


circunstâncias naturais permite a subsistência e o alojamento de um agente
infeccioso. Para produzir uma doença infecciosa no indivíduo, deve ser reunida
uma sériede aspectos estruturais e funcionais do próprio indivíduo.

Você sabe o que é Suscetibilidade?

Suscetibilidade: é a situação de uma pessoa ou animal que se caracteriza


pela ausência de resistência suficiente contra um determinado agente
patogênico que a proteja da enfermidade na eventualidade de entrar em contato
com esse agente. A suscetibilidade do hospedeiro depende de fatores
genéticos, de fatores gerais de resistência às doenças e das condições de
imunidade específica para cada doença.

O que é Resistência?

Resistência: é o conjunto de mecanismos que servem de defesa contra a


invasão ou multiplicação de agentes infecciosos, ou contra efeitos nocivos de
seus produtos tóxicos.

A resistência pode ser:

Inespecífica (inerente ou natural): é a que o organismo apresenta


naturalmente, em geralassociada a características de sua anatomia e fisiologia
e independentes da ação de anticorpos.

Específica (imunidade): é o estado de resistência relacionado à presença de


anticorpos, substâncias produzidas pelo organismo e que possuem ação
particular sobre o microrganismo responsável pela infecção (figura).

O indivíduo será imunologicamente resistente se adquire anticorpos de forma


passiva (curta duração) ou ativa (longa duração).

Fonte: OPAS, 2010 (a).


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Exemplos de medidas deprevenção e controle voltadas ao hospedeiro


suscetível

Aplicação de gamaglobulina e soros específicos; biossegurança universal;


busca e tratamento de portadores; cloração da água; controle biológico de
vetores; controle de armazenamento, manipulação e comercialização de
alimentos; controle de reservatório extra-humano; controle de roedores;
controle de vetores; controle sanitário de matadouros; cordão epidemiológico
ou sanitário; cozimento adequado dos alimentos; desinfecção concorrente;
desinfestação; despoluição ambiental; eliminação sanitária de fezes
humanas; eliminação sanitária do lixo; esterilização de agulhas e seringas;
exame de doadores de sangue; higiene pessoal; isolamento (doentes) e
quarentena (expostos); legislação sanitária; melhoramento da moradia;
melhoramento do estado nutricional; modificações de conduta e de atitude;
mudanças de hábitos pessoais; orientação genética e familiar; orientação
nos locais de trabalho; pasteurização de produtos lácteos e outros
alimentícios; promoção e uso de preservativos; pulverização de residências;
quimioprofilaxia; recomendações sanitárias através de meios massivos de
comunicação (comunicação de risco); regulações de segurança sanitária;
tratamento de casos; triagem ou rastreamento de sangue e hemoderivados;
triagem ou rastreamento populacional; vacinação de contatos; vacinação de
população suscetível.
O ambiente desempenha um papel importante no desenvolvimento das
doenças transmissíveis. Condições sanitárias, temperatura, poluição aérea e
qualidade da água estão entre os fatores que podem influenciar os estágios
na cadeia de infecção. Além disso, fatores socioeconômicos, tais como,
densidade populacional, aglomeração e pobreza, são de grande importância.

Outros conceitosrelacionados:

Período de incubação: período decorrente entre a penetração do agente


etiológico e o aparecimento dos primeiros sintomas clínicos. É extremante
variável desde horas (cólera), dias (covid-19, dengue, influenza...), até meses
ou anos (hanseníase, AIDS).
Período de latência: período entre a exposição e o início da
transmissibilidade.

Período de transmissibilidade: período durante o qual o agente infeccioso


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pode ser transferido, direta ou indiretamente, de uma pessoa infectada a
outra, ou de um animal infectado ao homem, ou de um homem infectado a
um animal, inclusive artrópodes. Dependendo da doença, a transmissão pode
ocorreratravés de pacientes sintomáticos ou assintomáticos, também.

Isolamento: é uma medida que visa separar as pessoas doentes durante o


período de transmissibilidade, em lugar e condições que evitem a
transmissão direta ou indireta de agente infeccioso a pessoas ou animais
suscetíveis ao agente. O isolamento pode ocorrer em domicílio ou em
ambiente hospitalar, conforme o estado clínico da pessoa. O isolamento
depende da forma de transmissão (exemplo: respiratório na covid-19,
tuberculose; entérico na cólera).
Quarentena: é a restrição de atividades ou separação de pessoas que foram
presumivelmente expostas a uma doença transmissível, mas que não estão
doentes (porque estão no período de incubação ou até mesmo porque não
foram infectadas). O período de quarentena deve ser igual ao período
máximo de incubação. Atualmente, poucas são as doenças em que se utiliza
a quarentena como método de controle, a covid-19 é uma dessa poucas.
Surto, Epidemia e Pandemia

As epidemias foram e continuam sendo importantes no cenário global e tal


temática assume relevância ainda maior com a COVID 19, de proporções
avassaladoras. No Brasil, além das epidemias, a exemplo, covid-19, AIDS,
influenza por H1N1, cólera, sarampo, dengue, ainda se convive com doenças
endêmicas e surtos de etiologias diversas.

Você sabe quais asdiferenças entre estes conceitos?

Endemia: Pode ser conceituada como a ocorrência de um agravo dentro


de um número esperado de casos para aquela região, naquele período de
tempo, baseado nasua ocorrência em anos anteriores não epidêmicos.

Dessa forma, a incidência deuma doença endêmica é relativamente


constante, podendo ocorrer variações sazonais no comportamento
esperado para o agravo em questão.

Surto: É o aumento pouco comum no número de casos relacionados


epidemiologicamente entre si, de aparecimento súbito e disseminação
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localizada num espaço específico. Como situação limitada, um surto implica
a ocorrência num espaço especificamente localizado e geograficamente
restrito, como por exemplo, uma comunidade, um povoado, um barco, uma
instituição fechada (escola, hospital, quartel, mosteiro).

Epidemia: Representa a ocorrência de um agravo acima da média (ou


mediana) histórica de sua ocorrência. O agravo causadorde uma epidemia
tem geralmente aparecimento súbito e se propaga por determinado
período de tempo em determinada área geográfica, acometendo
frequentemente elevado número de pessoas. O número de casos
necessários para definir uma epidemia varia de acordo com o agente, o
tamanho, tipo e suscetibilidade da população exposta e o momento e local
da ocorrência da doença. A identificação de uma epidemia também
depende da frequência usual da doença na região, no mesmo grupo
populacional, durante a mesma estação do ano.

Pandemia: É definida quando uma epidemia atinge vários países de


diferentes continentes, como está acontecendo com acovid-19.

As epidemias ou surtosgeralmente são ocasionados por:

Aumento do número de suscetíveis: quando o número de suscetíveis em um


local é suficientemente grande, a introdução de um caso alóctone (caso
importado) de uma doença transmissível gera diversos outros, configurando um
aumento na incidência. O aumento do número de suscetíveis pode apresentar
diversas causas, como: baixas coberturas vacinais e migração de susceptíveis.

Alterações no meio ambiente que favorecem a transmissão de doenças


infecciosas e não infecciosas: contaminação da água potável por dejetos
favorece a transmissão de febre tifoide, hepatite A, hepatite E, cólera, entre
outras; aglomeração de pessoas em abrigos provisórios, em situações de
calamidade, facilita a eclosão de surtos de gripes, sarampo e outras doenças
respiratórias agudas; aumento no número de vetores infectados, responsáveis
pela transmissão de algumas doenças em razão de condições ambientais
favoráveis e inexistência ou ineficácia das medidas de controle, facilita o
crescimento do número de agravos, como no caso de malária, dengue;
contaminação de alimentos por microrganismos patogênicos ocasiona surtos
de intoxicação, toxi-infecção e infecção alimentar, frequentes em locais de
refeições coletivas;extravasamento de produtos químicos poluindo o ar, solo e
mananciais leva a intoxicações agudas na comunidade local; emissão
descontrolada de material particulado por veículos motorizados leva a
problemasrespiratórios agudos na população.
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Então um surto ou epidemia podem surgir a partir das seguintes
situações:

- Quando inexiste uma doença em determinado lugar e se introduz uma fonte


de infecção ou contaminação (por exemplo, um caso de cólera ouum alimento
contaminado), dando início ao aparecimento de casos ou epidemia.

- Quando ocorrem casos esporádicos de uma determinada doença e começa a


haver aumento na incidência além do esperado.

- Uma doença que ocorre endemicamente e alguns fatores desequilibram a sua


estabilidade, iniciandouma epidemia.

Epidemias e endemias têm como fatores determinantes e condicionantes


diversas situações econômicas, culturais, ecológicas, psicossociais e biológicas
(quadro 3). A compreensão desses determinantes e condicionantes é importante
para o planejamento de ações de prevenção e controle dos agravos com
potencial endêmico e epidêmico.

Exemplos

As doenças transmitidas por contato direto são favorecidas por condições de


habitação e de saneamento precárias, além de situações que favoreçam
aglomeração; a transmissão sexual é favorecida pela falta de informação e por
barreiras culturais, como, por exemplo, resistência ao uso de preservativo.

As doenças transmitidas por contato indireto, entre as quais se incluem as


transmitidas por vetor, requerem a existência de um ambiente favorável para a
replicação de mosquito ou carrapatos. A maioria dos vetores se reproduz bem
em regiões com clima quente e úmido, mas enquanto alguns utilizam água limpa
parada para sua reprodução (exemplo: Aedes aegypti, vetor da dengue), outros
se reproduzem em matéria orgânica, sendo favorecido pelo acúmulo de lixo ou
fezes de animais no peridomicílio (exemplo: Lutzomyia, vetor da leishmaniose
visceral).

As doenças que são transmitidas por formas infectantes presentes no ambiente


(exemplo: esquistossomose) também estão relacionadas à falta de saneamento
básicoadequado.
Nos dias atuais, a globalização constitui outro determinante importante, resultado
do intenso fluxo de pessoas e alimentos por todo o mundo. Alimentos produzidos
na América do Sul e América Central, por exemplo, podem causar surtos de
intoxicação alimentar na América do Norte ou Europa. A rapidez de deslocamento
das pessoas proporcionada pela facilidade de acesso ao transporte aéreo
permite que agentes causadores de epidemias sejam transmitidos rapidamente
para pessoas de várias regiões do planeta em curto espaço de tempo, a exemplo
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da influenza H1N1 e covid-19.

Quadro 3: Exemplos de determinantes de epidemias e endemias

Determinantes econômicos: miséria, privações resultando emhabitações


precárias, falta de saneamento básico e de água tratada e ocupação do território
de forma desordenada.

Determinantes culturais: hábito de defecar próximo de mananciais, hábitos


alimentares de risco como ingestão depeixe ou ostras.

Determinantes ecológicos: poluição atmosférica, condições climáticas e


ambientais e favoráveis à proliferação de vetores.

Determinantes psicossociais: estresse, uso de drogas, ausência


de atividade e locais para lazer.
Determinantes biológicos: Indivíduos suscetíveis, mutação doagente infeccioso,
transmissibilidade do agente.

Considerações Finais

Chegamos ao final desta aula. É importante destacar os seguintes pontos abordados:

Chegamos ao final desta aula e é importante destacaros seguintes


pontos abordados:

● História natural das doenças e níveis de prevenção.

● Medidas de prevenção.

● Elos da cadeia de transmissão das doenças: agente,reservatório,


porta de saída do agente, modo de transmissão do agente, porta de
entrada do agente no novo hospedeiro, suscetibilidade do hospedeiro.

● Surto, epidemia e pandemia.


Espero que o conhecimento adquirido sobre os mecanismos de defesa;
processo de adoecimento e conceitos de imunologia auxilie você nas
boas práticasde cuidado com o paciente no seu dia a dia.

Até apróxima!
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