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As riquétsias que provocam erliquiose e anaplasmose transmitem a infecção durante pelo menos 155 dias a
são classificadas como bactérias, dentro do grupo das cães suscetíveis. Essa capacidade possibilita ao
αproteobactérias. São intermediárias entre os vírus, patógeno hibernar no carrapato e, em seguida, na
microrganismos intracelulares obrigatórios, e as primavera seguinte possibilita que o carrapato infecte
bactérias, que utilizam oxigênio, têm enzimas cães susceptíveis. A maioria dos casos ocorrem na
metabólicas, são sensíveis a alguns fármacos estação quentes, quando o número de carrapatos é
antibacterianos e têm paredes celulares. abundante.
O gênero Ehrlichia consiste em bactérias Gram-
negativas intracelulares obrigatórias, transmitidas por
carrapatos, que infectam principalmente leucócitos
(monócitos, macrófagos, granulócitos). Esses
cocobacilos pleomórficos são aeróbios.
A família Anaplasmataceae é composta de
microrganismos Gramnegativos intracelulares
obrigatórios que parasitam leucócitos, eritrócitos,
células endoteliais ou plaquetas. Esses agentes são
transmitidos naturalmente a seres humanos e a uma
ampla variedade de animais domésticos, incluindo cães
e gatos, por carrapatos específicos que adquirem a Patogenia
infecção durante a sua alimentação em reservatórios
mamíferos silvestres. O período de incubação da EMC é de 8 a 20 dias.
Os microrganismos multiplicam-se nos macrófagos do
Infecção por Ehrliquia sistema mononuclear fagocitário por divisão binária e
disseminam-se por todo o corpo.
canis Acredita-se que a infecção se dissemine entre as
Etiologia e epidemiologia células por meio de saída do microrganismo e sua
captação por projeções citoplasmáticas adjacentes.
A erliquiose monocitotrópica canina (EMC) é
causada por E. canis, um microrganismo intracelular A replicação no hospedeiro ocorre em vacúolos
obrigatório. Essa pequena bactéria Gramnegativa delimitados por membrana isolados e protegidos do
cocoide pleomórfica tem localização sistema de imunovigilância do hospedeiro, dos
intracitoplasmática, dentro de monócitos e macrófagos, lisossomas e de intermediários reativos de oxigênio.
e ocorre em grupos de microrganismos denominados As erlíquias podem ser liberadas para infectar novas
mórulas. E. canis foi estabelecida como causa ubíqua células por meio de ruptura da membrana celular do
de morbidade e mortalidade em cães. Sua distribuição hospedeiro em um estágio avançado de formação das
é mundial. mórulas.
O artrópode vetor de E. canis é o carrapato marrom do
cão, Rhipicephalus sanguineus. Esse carrapato de um
único hospedeiro alimentase preferencialmente em
cães em todos os estágios de seu ciclo de vida e pode
viver em ambientes fechados, em domicílios onde
residem cães.
O modo de transmissão é transestadial, em que a
infecção é transmitida para estágios subsequentes do
carrapato, mas não para os ovos maternos da geração
seguinte.
Os carrapatos adquirem E. canis na forma de larvas ou
ninfas, alimentando-se em cães com riquetsiemia e
significativamente mais baixos constituem fator de alto
risco de mortalidade. A leucopenia grave, a anemia
grave, o prolongamento do tempo de tromboplastina
parcial ativado e a hipopotassemia constituem, cada
um, previsores de mortalidade, com probabilidade de
100%. Pode ocorrer morte em consequência de
hemorragias e/ou infecções secundárias.
As alterações hematológicas na EMC estão associadas
a processos inflamatórios e imunes desencadeados pela
infecção. A trombocitopenia, a anormalidade
hematológica mais comum de cães infectados por E.
canis, ocorre em todas as fases da doença.
Vários mecanismos estão envolvidos na patogenia da
trombocitopenia, incluindo aumento do consumo de
O período de incubação é seguido de três estágios plaquetas e diminuição de sua meia vida,
consecutivos: agudo, subclínico e crônico. provavelmente em consequência do sequestro
A fase aguda pode ter uma duração de 1 a 4 semanas. esplênico e da destruição imunologicamente mediada.
A maioria dos cães recuperase da doença aguda com A diminuição da produção de plaquetas em
tratamento adequado. Os cães não tratados e os que são consequência da hipoplasia da medula óssea é
tratados inadequadamente podem se recuperar considerada mecanismo responsável pela
clinicamente, porém, em seguida, passam para a fase trombocitopenia na fase crônica.
subclínica, durante a qual apenas as contagens
plaquetárias podem estar subnormais. A trombocitopenia também é acompanhada de
disfunção plaquetária nos cães infectados. A disfunção
É provável que cães na fase subclínica continuem plaquetária, juntamente com a baixa contagem de
portadores persistentes “clinicamente sadios” de E. plaquetas, contribui para as hemorragias observadas na
canis durante meses e até mesmo anos, conforme EMC. É possível que anticorpos antiplaquetários
descrito em um estudo de acompanhamento de 3 anos. estejam envolvidos na trombocitopatia da EMC por
Os resultados dessa infecção experimental indicam que meio de ligação competitiva aos receptores
o baço tem mais tendência a abrigar E. canis durante a plaquetários.
fase subclínica da EMC e constitui, provavelmente, o
último órgão a acomodar as riquétsias antes de sua A maioria dos cães infectados por E. canis desenvolve
eliminação. Além disso, nas infecções naturais, a hiperproteinemia devido à hipergamaglobulinemia.
detecção de mórulas foi efetuada mais provavelmente
A função dos anticorpos circulantes específicos contra
de aspirado esplênico do que do esfregaço do creme
E. canis na eliminação das infecções por erlíquias
leucocitário do sangue periférico.
intracelulares é mínima. Altos títulos de anticorpos
É provável que o baço desempenhe um importante antiE. canis não proporciona proteção quando os
papel na patogenia e consequente expressão clínica da animais são expostos. Além disso, é possível que
doença. Foi constatado que cães com infecção tenham efeito prejudicial sobre a progressão da
experimental por E. canis e submetidos a doença, em virtude de suas consequências
esplenectomia apresentam doença clínica leve em imunopatológicas.
comparação com a doença mais grave observada em
A persistência de E. canis é obtida pela evasão do
cães não esplenectomizados.
sistema imune do hospedeiro devido a alterações
Os cães com infecção persistente podem recuperarse constantes dos antígenos de superfície do
espontaneamente da doença, ou desenvolver doença microrganismo e à expressão de diferentes variantes
grave crônica. Nem todos os cães evoluem para a fase proteicas.
crônica da EMC, e as condições que levam ao
ACHADOS CLÍNICOS
desenvolvimento dessa fase ainda não estão
esclarecidas. Sinais multissistêmicos:
A pancitopenia grave, que ocorre em consequência da A EMC é um distúrbio multissistêmico. As infecções
hipoplasia da medula óssea, é um achado típico da por E. canis podem ser agudas, subclínicas ou crônicas
doença crônica. Foi constatado que contagens de em cães. Os sinais clínicos comuns consistem em
leucócitos e plaquetas e hematócritos depressão, letargia, anorexia, perda de peso e tendência
hemorrágica. Frequentemente observase a ocorrência tenham sido excluídos. Além disso, cães com
de epistaxe na EMC. O exame também pode revelar aberrações imunológicas em consequência de
linfadenomegalia e esplenomegalia em 20 e 25% dos erliquiose podem tornarse secundariamente infectados
pacientes, respectivamente. Como o microrganismo é por bactérias, fungos ou protozoários oportunistas.
transmitido por R. sanguineus, a doença pode ser
Sinais cardiológicos
complicada pela coinfecção por outros patógenos,
como Babesia canis vogeli e Hepatozoon canis Há evidências de que erliquiose possa ser um fator de
transmitidos pelo mesmo vetor. risco para lesão do miocárdio, conforme sugerido pelo
achado de níveis elevados de troponina cardíaca 1 em
cães com infecção aguda por E. canis. Há relato de um
caso em que foram detectadas alterações
eletrocardiográficas aparentes em associação à
infecção por E. canis.
Anemia é sempre arregenerativa independente da fase
da doença.
Leucograma:
Fase crônica: leucopenia por neutropenia, pode haver
lnfocitose; trombocitopenia é o achado mais
importante
DIAGNÓSTICO
Sinais oculares
O diagnóstico de erliquiose baseiase habitualmente na
Os cães podem apresentar alterações na cor ou na associação de anamnese (i. e., residência em área
aparência dos olhos, ou desenvolver cegueira em endêmica, história de viagens, infestação por
consequência de paraproteinemia, hipertensão carrapatos), sinais clínicos, anormalidades
sistêmica, hifema, sangramento subretiniano e hematológicas e achados sorológicos. Atualmente, a
descolamento da retina. A uveíte anterior e a doença da reação em cadeia da polimerase (PCR) está sendo
retina, como corrorretinite, papiledema, hemorragia da usada no contexto clínico para o estabelecimento do
retina, infiltrados perivasculares retinianos e diagnóstico. Como E. canis é transmitida por R.
descolamento bolhoso da retina, constituem os achados sanguineus, devese investigar sempre a possibilidade
mais comuns na EMC. de coinfecção por outros patógenos transmitidos por
esse mesmo carrapato vetor.
Sinais neuromusculares
Achados clinicolaboratoriais
As manifestações neurológicas da erliquiose resultam
principalmente de meningite, sangramento meníngeo Na fase aguda, as anormalidades hematológicas típicas
ou ambos, em consequência de lesão dos tecidos consistem em trombocitopenia característica, de
adjacentes do sistema nervoso central (SNC) ou moderada a grave, anemia discreta e leucopenia. A
sistema nervoso periférico. Observouse ocorrência de trombocitopenia constitui a característica essencial do
convulsões, estupor, ataxia com disfunção do neurônio estágio agudo e caracterizase por megatrombocitose. A
motor superior ou inferior, disfunção vestibular central anemia observada durante a fase aguda da EMC é
ou periférica aguda, anisocoria, disfunção cerebelar, considerada “anemia de doença inflamatória” e,
tremor intencional e hiperestesia generalizada ou classicamente, é uma anemia normocítica
localizada. normocrômica moderada e arregenerativa.