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Medicina Felina

IMUNODEFICIÊNCIA VIRAL FELINA - FIV


De epidemiologia variável, com subtipos de A a E, onde 14% dos gatos são assintomáticos
a doença e 44% sintomáticos. Como sinais clínicos podemos notar emagrecimento contínuo e
diminuição constante de imunidade.
É um retrovírus, do gênero Lentivirus, da mesma família do HIV, mas não faz dele uma
zoonose.
Esse vírus tem tropismo por linfócitos T (CD4 e CD8), onde o vírus entra e deixa sistema
imunológico descoordenado.
TRANSMISSÃO
Mordida (inoculação de vírus), é mais comum entre machos por conta de briga e pode ou
não gerar abcessos.
Deve ser cauteloso e testar gatos antes de transfusões sanguíneas.
Pode ser transmitido durante a reprodução, durante o parto e amamentação.
FATORES DE RISCO
Animais semi-domiciliados, os animais que não são sociáveis e geram brigas, colônias
(onde possui mais de 5 gatos), estresse, diminuição de imunidade, pode gerar neoplasia por
mutação de DNA.
SINAIS CLÍNICOS
Fase Inicial - Aguda
Momento da mordida, causa febre leve, letargia e linfoadenomegalia periférica.
Fase de latência ou assintomática.
É de 4 a 6 anos ou silencioso onde o sistema imunológico tem pouco vírus, mas se
mantém. (Nada acontece nessa fase).
Fase de Imunodeficiência
No início, depois de meses ou até anos, ocorre por queda de imunidade onde o vírus
aproveita para aumentar sua carga viral. Pode gerar: gripe, dermatite, diarreia, aumento de
linfonodos, febre, apatia, anorexia, perda de peso crônica e constante, uveíte, esporotricose
hipersensibilidade de gengivas, faucites.
A mortalidade nessa fase é baixa.
OBS: Para tratamento – Interferon e/ou Corticoides. E também pode se usar antibióticos.
Pode acontecer Doença Renal Crônica (DRC), por conta de depósito de imunocomplexo,
onde o anticorpo se liga ao vírus e passeia por pequenos vasos como glomérulos e libera
ocitocina, lesionando.
Fase Final – Imunodeficiência
A carga viral fica muito alta, nessa fase acontece tudo e nada responde, e a mortalidade é
maior nessa etapa.
Nessa etapa o felino fica cada vez mais magro e possui uma anemia crônica.
Outras fases:
Imunoestimulação
Câncer, alteração de DNA, podendo causar linfossarcoma de células B, mieloproliferativas,
carcinoma de células escamosas.
DIAGNÓSTICO
 Elisa - Anticorpo.
 Snap
 PCR
 Prognóstico:
 Variável, depende da fase que o animal esteja.

TRATAMENTO
Não existe tratamento específico pra esse tipo de doença.
Manejo de felinos positivos: Não é necessária a eutanásia, castrar, separar de outros
animais.

LEUCEMIA VIRAL FELINA – FELV


Comum no mundo todo, mas com pouca pesquisa.
Sua transmissão é pela saliva, transfusão sanguínea, urina, fezes, secreção nasal,
venérea e da forma vertical.
O vírus é de fácil inativação (desinfetantes).
FATORES DE RISCO
Colônias de gatos (5 ou mais).
Gatos sociáveis.
Gatos comerem no mesmo pote, ideal cada um ter o seu.
Ciclo do Vírus
FELV - Câncer.
RNA - Com transcriptase reversa.
Vírus quer acesso ao receptor de células, para colocar seu RNA. Realiza oncogênese –
Linfoma e leucemia.
SUBTIPOS
 Tipo A – mais comum que causa anemia hemolítica e linfoma.
 Tipo B - Mutação do tipo A que causa neoplasia.
 Tipo C – Desordens hematopoiético.
 Tipo T- Imunossupressão.
A infecção é ORONASAL – VÍRUS entra nas células de defesa e gera viremia.
DIAGNÓSTICO
Anamnese, exame físico e Elisa (Snap Teste), IFI, PCR.
SINAIS CLÍNICOS
Alterações neoplásicas.
Predominância em células T.
PROGNÓSTICO
Felv+Neo
 “BOM” causando perda mínima de peso.
 “RUIM” quando acompanhado de anemia, paralisia, febre, rinite crônica.
Uveíte - secundária à doença.
TRATAMENTO
Não há tratamento.
Trata-se as doenças secundárias.
Corticoides, AZT (antiviral), interferon.

PERITONITE INFECCIOSA FELINA – PIF


Gera abdome abaulado, causada pelo coronavírus felino que gera mutação, não se
desativa com desinfetantes.
TRANSMISSÃO
Contato direto e contínuo.
Colônia de gatos.
FATORES DE RISCO
Idade; Estresse; ter outras doenças; estar tomando medicamento imunossupressor.
Vírus gera viremia e vasculite.
SINAIS CLÍNICOS
 Acúmulo de líquido em abdômen, tórax e pericárdio.
 Dispneia.
 Parada.

Alterações oculares, aneurisma e perda súbita de visão.


Uveíte.
Alterações Renais.
Hepatite/Icterícia.
DIAGNÓSTICO
Quebra cabeça: histórico, neoplasia (histopatológico), sinais clínicos e achados
laboratoriais (Proteína Total, Hiperglobulenemia, teste de rivalda)
TRATAMENTO
Não há tratamento, apenas suporte para conforto, supressão – predinisolona, eutanásia
em caso de definhamento.

PANLEUCOPENIA
Atinge células de alta replicação.
FATORES DE RISCO
Sem vacinação, colônia de gatos, pouca limpeza, imunossuprimidos.
OBS: O vírus fica ate 1 ano no ambiente, é resistente a altas temperaturas (56º), sobrevive a
álcool 70 e iodo.
TRANSMISSÃO
Saliva, vetores (mosca), urina, fezes.
Durante a prenhez pode causar aborto ou má formação fetal.
SINAIS CLÍNICOS
Sequelas da doença.
Morte súbita em filhotes.
Febre, depressão e anorexia.
Vômito com sangue.
Sepse + Cid
Na palpação as alças intestinais se tornam doloridas.
DIAGNÓSTICO
Presuntivo, com diferencial em sinais clínicos, exames, palpação, septicemia bacteriana.
- Alteração laboratorial: Anemia, neutrofilia, linfopenia, trombocitopenia, azotemia pré-renal,
hipoalbuminemia, hipopotassemia.
- Isolamento viral, sorologia, PCR, Elisa.
TRATAMENTO
Suporte emergencial, internação isolada, diminuição de estresse, restauração de equilíbrio
eletrolítico, reposição de potássio.
Vacinação: todos os gatos devem ser vacinados.

COMPLEXO RESPIRATÓRIO
Podem ser várias doenças com os mesmos sintomas, sendo 80% virais – HVF, CVF e 20%
bacterianas.
HERPES VÍRUS TIPO 1 – RINOTRAQUEÍTE
Acomete células epiteliais conjuntivas.
Diminuição de imunidade, o vírus fica no neurônio causando latência.
A transmissão é por conjuntivite, nasal, oral. Podendo gerar pneumonia, pois atinge trato
respiratório.
SINAIS CLÍNICOS
Citólise, Ulceração, necrose inflamação, secreção purulenta, alteração anatômica,
dermatite.
DIAGNÓSTICO
Isolamento viral, analise viral.
TRATAMENTO
Diminuição de estresse, aumento de temperatura, alimentação úmida, limpeza de
secreção, inalação, fluido, colírio, antibióticos, interferon.

CALICIVÍRUS FELINO (CVF)


Vírus altamente contagioso, realiza mutação facilmente.
Gera viremia assintomática: claudicação.
Pode causar pneumonia intersticial grave, insuficiência de alguns órgãos e óbito.
Os filhotes possuem mais sinais que adultos.
O Diagnóstico é por PCR – isolamento viral.
Tratamento: fluidotarapia, inalação, antibiótico oral, analgesia, interferon humano.

CLAMIDIA
Não sobrevive fora do hospedeiro, afeta animais jovens, é uma zoonose, fica isolada em
conjuntivite crônica, gosta de tecido conjuntivo.
SINAIS CLÍNICOS
 Infecção unilateral/bilateral.
 Alguns sinais respiratórios.
 Quemose (característico)
 Dor no olho.
 Úlceras orais.
DIAGNÓSTICO
Isolamento viral, PCR.

TRATAMENTO
Pomada cloranfenicol
Doxicilina via oral.
Pomada oftálmica

BORDETELLA
É uma bactéria, doença de caninos e felinos.
Coloniza o epitélio ciliado do trato respiratório.
Sua transmissão é por secreção oral e nasal.
SINAIS CLÍNICOS: tosse, febre, espirros, secreção ocular, linfoadenomegalia.
DIAGNÓSTICO: Snap, cultura de bactérias e PCR.
TRATAMENTO: Antibiótico como doxiciclina.

DOENÇAS FÚNGICAS
ESPOROTRICOSE
É uma zoonose. São fungos dimórficos.
Gatos: Com hábito de rua, marcação de território, arranhaduras. Tem lesões em nariz e
orelhas.
SINAIS CLÍNICOS: nódulos com material purulento, úlceras exsudativas, perda de pele/pelo.
DIAGNÓSTICO: Lâmina, histórico, epidemiologia.
TRATAMENTO: Antifúngico + Antibiótico.
Cuidado com atendimento: Luvas devem ser descartadas e jalecos trocados.

CRIPTOCOCOSE
Identificação: Nariz de palhaço (aumento nodular).
É comum causar rinite, lesão nodular, linfoadenomegalia. Se atingir o sistema nervoso
central causa infecção/erosão da narina, cegueira.
SINAIS CLÍNICOS: Coriza, sinusites, lesões na narina, dificuldade de alimentação e respiração.
DIAGNÓSTICO: swab, lavado nasal, biópsia, inprint, citologia, histologia, cultura, ressonância,
tomografia, radiografia.
TRATAMENTO: Itraconazol.
PROGNÓSTICO: Favorável.

DERMATOFITOSE
Transmissível para humanos.
SINAIS CLÍNICOS: pleomórficas, plantas na pele. Lesões iniciais na cabeça.
DIAGNÓSTICO: realização de tratamento, coleta de material da pele, cultura em placa, lâmpada
de Wood.
TRATAMENTO: Imunocompetentes, sistêmicos - itaconazol, tópicos.

TOXOPLASMOSE
Um terço dos gatos do mundo possuem.
Infecta animais de sangue quente.
Felino Hospedeiro definitivo.
- Gestantes: Toxoplasmose não pega por contato direto com o gato, só se beber água
contaminada ou ingerir carne crua contaminada.
SINAIS CLÍNICOS: raro.
Causa inflamação e necrose de tecido.
O animal tem diminuição de imunidade, diarreia
Pode afetar o sistema nervoso central.
Dispneia
Uveíte
Icterícia.
TRATAMENTO: tratamento antiparasitário, para a uveíte uso de prednisolona, para prevenção
limpeza de caixas de areia com frequência.
LEPTOSPIROSE
É uma bactéria fina, flexível e filamentosa.
Pode sobreviver até 180 dias em local de calor e sombra com água.
TRANSMISSÃO
 Direta - urina, sangue, venérea, placentária.
 Indireta – água, solo.

Patogenia: em felinos causa vasculite, que é a inflamação com replicação.


Os ROEDORES são portadores renais, eles não ficam doentes, mas liberam a leptospira.
SINAIS CLÍNICOS:
Doença renal crônica.
DIAGNÓSTICO: Anamnese, soroaglutinação, microscopia, PCR.
TRATAMENTO: Antimicrobiano
Amoxicilina ou doxiciclina
PROFILAXIA:
Vacinação
Controle ambiental.

LIPIDOSE HEPÁTICA

A lipidose segundo a epidemiologia é a segunda maior doença de causa hepática em


felinos, que pode causar diminuição de apetite e até mesmo a morte, perdendo apenas para
colangites. É interessante saber diferenciar essas doenças para realizar o tratamento, pois a
colangite é causada por vários motivos, entre eles parasitário, bacteriano e autoimune, sendo um
tratamento diferencial entre elas.
O conceito de lipidose é o acúmulo lipídico nos hepatócitos, vinculados à gordura, podendo
conduzir a disfunção hepática grave ou morte, que acomete animais de meia-idade obesos,
levando a um quadro de anorexia e diminuição de peso.
Essa doença sempre é secundária, muitas vezes por conta de anorexia por estresse, às
vezes vinculado a visitas ou mudança de ambiente entre outros. Ou anorexia por outros motivos
sendo eles doença intestinal inflamatória, Pancreatite, diabetes mellitus, colangites, D.R.C.
Iniciada pela anorexia, o corpo entra em estresse elevando as taxas de glucagon, catecolaminas,
cortisol e glicose, causando o estímulo para a lipase hormônio sensível, acontecendo a quebra de
lipídios (não sendo eficiente), sendo direcionada ao fígado e sendo armazenado. Mas quando
acontece essa quebra excessiva o fígado fica com vários vacúolos de gorduras acumuladas no
hepatócito. Quando atinge 80% acontece o que é denominado colestase intra-hepática grave,
causando a anorexia.
SINAIS CLÍNICOS: vômito, náusea, ptialismo/salivação. Com pelo ressecado e descabelado. A
icterícia (olho, orelha), sendo bem comum bilirrubinuria na urina. Anaurose, depressão mental
(acúmulo de amônia), hepatomegalia (aumento de 50%).
Como o fígado está cheio de gordura, ele não consegue transformar amônia em ureia,
causando acúmulo dessa toxina, causando encefalopatia.
DIAGNÓSTICO: Sinais, históricos, exames laboratoriais, exames de imagem.
 Exame laboratoriais - No hemograma é encontrado uma anemia não regenerativa
suave, globulinas altas, neutrofilia. Bilirrubina (icterícia), falta de quebra de gordura
no fígado. ALT, AST, FA, GGT é bom avaliarem juntas, sendo um aumento de 10
vezes mais, sendo uma alteração grave.
 US - Estudo de fígado (hepatomegalia), vesícula biliar, pâncreas.
 O diagnóstico definitivo para lipidose é histopatológico, podendo ser coletado
durante o us, ou de forma cirúrgica.

TRATAMENTOS:
Estimulantes de apetite, com alimentos cheio de proteína, para aumento de insulina
parando com o trabalho da lipase (não quebrando gordura em excesso)
Medicações para estímulo do apetite (casos de lipdose leve): Mirtazapina, que é
antidepressivo com efeito colateral de fome e ação antiemético. Efeito colateral: alteração de
comportamento, tremores, hiperatividade e contrações musculares. Ciproeptatina (cobavital):
cuidado é hepatotóxico como os benzodiazepínicos (diazepam) o efeito colateral de sonolência ou
excitação.
A alimentação forçada é contraindicada, pois causa estresse no felino, sendo perigoso
para manipulador, o mesmo pode aspirar. Adequado nesses casos as sondas de alimentação, e a
retirada deve ser no momento que eles estão comendo sozinhos. A nutrição desses animais pode
ser realizados com: Nutralife, A/D, Recovery. Mas deve ser gradual e lenta para não ter alterações
sanguíneas rapidamente, ou até mesmo porque o estômago do felinos, que "diminui" de tamanho
quando o animal para de comer, e se volta a comer em muita quantidade pode causar vômito.
Junto com a alimentação é bom trabalhar com antiemético: Ondansetrona que é muito
segura sem eleitos colaterais quando usado até 1mg/kg. Cerenia pode ser usado uma vez ao dia
por 5 dias, 1mg/kg tendo um efeito de analgesia visceral. Uso de antiácido como ranitidina auxilia
na motilidade do intestino, famotidina é bom para ser enviada para uso em casa para tratar a
gastrite.
Fluidoterapia para corrigir desidratação, bom usar com complexo B, sem glicose, pois gato
sem comer faz hipoglicemia.
Nutracêuticos e antioxidantes como Same é ótimo para auxílio na lesão aguda do fígado,
evitando morte celular, e recuperação das células. Usa-se Ursacol , que fluidifica a bile facilitando
a liberação da mesma. Vitamina E, para melhorar membranas, vitamina C auxiliando no fígado e a
L- Carnitina melhorando a oxidação da gordura no fígado. Não usar metionina, pois piora o
problema.
Manejo comportamental: Estresse - necessário fazer um enriquecimento ambiental, com
caixas, comida próxima, para que a experiência desse felino na internação não seja ruim.
O prognóstico é reservado, pois quanto mais rápido você diagnosticar a doença no animal,
mais rápido parte para o tratamento, e correção da bilirrubina, que é um ponto principal. Se o
potássio está certo isso quer dizer que a alimentação está sendo eficiente para o felino e que não
está mais gerando gordura.

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