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Babesiose Canina

A babesiose é caracterizada por anemia hemolítica, comum de transmissão de B. gibsoni, para a qual não
febre e esplenomegalia. As espécies de Babesia são existem carrapatos vetores competentes.
protozoários parasitos intraeritrocitáriosdo filo
Características epidemiológicas específicas
Apicomplexa, que são frequentemente transmitidos por
carrapatos. Babesia canis
EPIDEMIOLOGIA B. canis é a espécie de Babesia grande mais comum e
apresenta três subespécies distintas: B. canis vogeli, B.
A extensão geográfica depende da relação com os
canis canis e B. canis rossi.
vetores- carrapatos. Prestar atenção em viagens.
B. canis vogeli é transmitida pelo carrapato marrom do
Ciclo de vida:
cão (Rhipicephalus sanguineus) e compartilha a sua
As espécies de Babesia podem ser transmitidas na distribuição quase mundial. A infecção é mais
natureza por meio da picada do carrapato vetor ou comumente diagnosticada em regiões quentes e úmidas
diretamente entre hospedeiros vertebrados. Durante a do mundo, e a doença foi diagnosticada durante todo o
alimentação do carrapato, os esporozoítas são ano em regiões endêmicas. Existe forte suspeita de
liberados das glândulas salivares e penetram na transmissão transplacentária da infecção por B. canis
corrente sanguínea do hospedeiro vertebrado. Em vogeli, porém isso não foi comprovado em situação
seguida, fixamse e sofrem endocitose nos eritrócitos. experimental.
Uma vez no interior dos eritrócitos, os esporozoítas
B. canis canis é transmitida pelo carrapato dos
sofrem reprodução assexuada e merogonia, e as
bovinos, Dermacentor reticulatus, porém há algumas
célulasfilhas são capazes de infectar novos eritrócitos.
evidências moleculares de que R. sanguineus também
Os eritrócitos infectados são ingeridos por um
seja um vetor. Taxas mais altas de prevalência são
carrapato sem infecção.
mais comumente observadas em áreas rurais ou
Não se sabe ao certo se a transformação de merozoíta suburbanas adjacentes a pradarias ou bosques, que
em gameta (gametócito) começa no hospedeiro proporcionam um habitat apropriado para D.
vertebrado ou no carrapato. reticulatus.
No intestino médio do carrapato ocorre a fase sexuada B. canis rossi é transmitida pelo carrapatoamarelodo-
da reprodução, quando os gametas se fundem para cão, Haemaphysalis elliptica (anteriormente
formar um zigoto. O zigoto invade a célula epitelial do Haemaphysalis leachi). Os relatos de infecção por B.
intestino do carrapato e ocorre uma forma assexuada canis rossi limitaramse ao continente africano, sendo a
de reprodução, a esporogonia. As formas resultantes, maioria dos relatos proveniente da África do Sul, onde
os oocinetos, deixam a célula epitelial e invadem as mais de 10% dos cães examinados em alguns hospitais
glândulas salivares ou o ovário, onde participam da veterinários podem estar acometidos.51,207 A
transmissão transestadial e transovariana, incidência da infecção é mais alta nos meses de verão.
respectivamente. A predisposição de determinadas raças à infecção não
foi bem estudada, porém as raças de cães de luta
Transmissão:
tradicionais (American Pit Bull Terrier, Staffordshire
Transmissão Bull Terrier e Bull Terrier) têm mais probabilidade de
morrer quando diagnosticadas com babesiose “grave”.
Na maior parte do mundo, os carrapatos vetores são o
meio mais importante de transmissão. Todavia, para
algumas espécies de Babesia, como Babesia gibsoni na
PATOGENIA
América do Norte e na Europa, acreditase que a
transmissão não associada a vetores seja o principal A patogenicidade das espécies de Babesia é
modo de infecção. Acreditase que a transmissão direta determinada principalmente pela espécie e cepa
entre ovos, por meio de contato durante lutas ou por envolvidas. Os fatores do hospedeiro também são
transmissão transplacentária congênita, seja a via mais importantes, como a idade do hospedeiro e a resposta
imunológica desencadeada contra o parasito ou o acidose metabólica, porém mais diretamente para a
carrapato vetor. hipoxemia.
Os eritrócitos infectados incorporam os antígenos do É possível constatar o desenvolvimento de numerosos
parasito em sua superfície e induzem anticorpos de sinais ou complicações incomuns, não relacionados
opsonização do hospedeiro, levando à remoção dos com a hemólise, em animais com babesiose causada
eritrócitos infectados pelo sistema mononuclear por infecções por cepas virulentas de B. canis rossi e
fagocitário. Além disso, antígenos solúveis do parasito B. canis canis. Ambos os microrganismos podem
podem aderir à superfície de alguns eritrócitos não induzir uma resposta inflamatória sistêmica profunda.
infectados e plaquetas. É possível que esse processo
As complicações da síndrome de disfunção múltipla de
leve à opsonização do parasito por anticorpos, com ou
órgãos em consequência da síndrome de resposta
sem complemento, dando origem a anemia hemolítica
inflamatória sistêmica incluem insuficiência renal
e trombocitopenia frequentemente correlacionadas ao
aguda, hepatopatia, hemólise imunomediada, edema
nível de parasitemia.
pulmonar, rabdomiólise e disfunção cerebral.
O hospedeiro pode desenvolver anticorpos anti-
Outras complicações possíveis incluem
membrana eritrocitária contra autoantígenos e
glomerulonefrite membranoproliferativa, que pode ter
apresentar macrófagos com atividade eritrofagocitária
uma patogenia imunomediada.
aumentada, por vezes contribuindo para a anemia
imunomediada.* ACHADOS CLÍNICOS
A esplenectomia faz com que a parasitemia e a anemia Muitos casos podem acontecer sem achados clínicos
resultante sejam mais graves. ou laboratoriais.
A parasitemia resulta em eritrócitos osmoticamente  Febre
frágeis, hemólise e anemia subsequente. A lesão direta  Trombocitopenia
pelo parasito durante a sua penetração e a ocupação da  Anemia hemolítica
célula contribui para o processo hemolítico.
 Esplenomegalia
O estresse oxidativo é outra possível causa de lesão  Letargia
dos eritrócitos, que também resulta em aumento da  Anorexia
suscetibilidade à fagocitose.  Fraqueza
 Palidez de mucosa
Observase a ocorrência de trombocitopenia isolada em
 Icterícia
muitos casos de babesiose, que pode estar relacionada
com o consumo imune ou coagulante de plaquetas em  Alteração na cor da urina
consequência de lesão hemolítica ou vascular. Apesar B canis vogeli
da acentuada redução das contagens de plaquetas,
raramente é observado sangramento em cães com As infecções são geralmente não complicadas ou
babesiose isoladamente, e outros resultados anormais subclínicas; alguns cães podem ter apenas febre
da coagulação são incomuns.
B canis canis
A hipoxia tecidual é um importante fator que contribui
Febre
para muitos dos sinais clínicos causados pela maioria
das cepas patogênicas de Babesia. As causas de Crise hemolítica ou portadores subclínicos
hipoxia em cães infectados por Babesia incluem
Babesiose grave ou complicada
anemia, choque, estase vascular, produção endógena
excessiva de monóxido de carbono, lesão da Habitualmente associada a B. canis Rossi
hemoglobina pelo parasito e capacidade diminuída da
hemoglobina de liberar o oxigênio. A hipoxia parece O desenvolvimento e a gravidade de muitas
ser mais importante do que a hemoglobinúria na lesão anormalidades clínicas ou laboratoriais frequentemente
dos rins de cães com infecção experimental. estão correlacionados a maior grau de parasitemia;

A produção de ácido láctico em consequência de Insuficiência renal aguda e comprometimento renal


hipoxia tecidual é considerada a principal causa de Incluem sinais de anúria ou oligúria, apesar da
acidose metabólica que se desenvolve em animais com reidratação adequada; todavia, tratase de complicações
babesiose. A alcalose respiratória da hiperventilação incomuns.
resulta, em parte, na tentativa do corpo de compensar a
Babesiose cerebral
A babesiose cerebral é definida pela existência quanto as secundárias na AHIM apresentam resultado
concomitante de sinais neurológicos em um animal positivo.
com babesiose. A hipoglicemia, que foi documentada
Síndrome de angústia respiratória aguda
em infecções graves por B. canis rossi, ou outras
causas não relacionadas de disfunção do SNC devem A síndrome de angústia respiratória aguda (SARA) é
ser excluídas e tratadas, quando possível, antes do uma complicação catastrófica grave e frequente da
estabelecimento do diagnóstico de babesiose cerebral. babesiose. Os sinais clínicos típicos consistem em
Os sinais, típicos de início peragudo, consistem na súbito aumento da frequência respiratória (que pode
associação de incoordenação, paresia dos membros ser causado por outros fatores, como pirexia e
pélvicos, tremores musculares, nistagmo, anisocoria, acidose), dispneia, tosse úmida e secreção nasal
perda intermitente da consciência, convulsões, estupor, espumosa tingida de sangue. O diagnóstico de SARA
coma, agressão, movimento das patas em remada ou baseiase nos achados de infiltrados pulmonares difusos
vocalização.108 As alterações patológicas do cérebro na radiografia de tórax, hipoxemia em consequência de
que causam esses sinais são congestão, hemorragias desequilíbrio de ventilaçãoperfusão, pressão capilar
macroscópicas e microscópicas, sequestro de pulmonar em cunha normal e redução da complacência
eritrócitos parasitados nos leitos capilares e pulmonar.
pavimentação das células parasitadas contra o
endotélio Hemoconcentração

Coagulopatia O fenômeno paradoxal de hemólise intravascular grave


associada a hemoconcentração constitui a síndrome
A anormalidade hemostática mais consistente nos “biliar vermelha”. As manifestações clínicas são
casos complicados e não complicados de babesiose é a congestão das mucosas, hemoglobinemia visível,
trombocitopenia profunda; todavia, as hemorragias hemoglobinúria ou todas elas, juntamente com níveis
clinicamente aparentes são relativamente raras. de hematócrito (volume globular, VG) na faixa de
referência alta ou elevados.108 A hemoconcentração
Hepatopatia
tem sido associada a outras complicações, como
Em alguns casos de babesiose verificase o babesiose cerebral, CID, IRA e SARA. Acreditase que
desenvolvimento de níveis elevados de ácidos biliares, a hemoconcentração na babesiose seja o resultado da
que por vezes indicam disfunção hepática. As redução do volume sanguíneo em consequência de
atividades das enzimas hepáticas séricas podem estar desvios de líquido do compartimento vascular para o
aumentadas na doença grave. Não se sabe se o extravascular.
processo é causado por citocinas inflamatórias, lesão
DIAGNÓSTICO
hipóxica ou uma associação de ambas. Em alguns
casos, a icterícia mostrase desproporcional ao grau de Achados clinicolaboratoriais
hemólise ou obstrução do fluxo hepático. Por
conseguinte, a disfunção hepatocelular parece ser, pelo Os principais distúrbios a excluir na hemólise típica da
menos, um fator contribuinte. babesiose aguda não complicada consistem em estados
hemolíticos, com distúrbios metabólicos, parasitários,
Anemia hemolítica imunomediada imunomediados, oxidativos, osmóticos e traumáticos
dos eritrócitos. Em comparação com esses distúrbios,
A AHIM caracterizase pela destruição aumentada dos
as alterações na patologia clínica da babesiose são
eritrócitos causada por anticorpos associados à
inespecíficas; as principais anormalidades
membrana eritrocitária. Essa destruição pode ser
hematológicas são anemia e trombocitopenia. A
primária, em que a membrana é normal, ou secundária
prevalência da trombocitopenia é mais alta do que a de
(expectador inocente), em que a membrana encontrase
cães com erliquiose, e em geral a trombocitopenia é
alterada pelo parasito ou seus antígenos e é
uma característica da babesiose canina,
reconhecida como estranha. Acreditase que ocorra
independentemente da existência de anemia
destruição secundária na babesiose. A característica
concomitante.
essencial da AHIM associada à babesiose é a hemólise
contínua, apesar do tratamento bemsucedido contra Em geral, observase anemia normocítica
babesiose. Suspeitase do diagnóstico pelo achado de normocrômica leve nos primeiros dias após a
autoaglutinação com diluição do sangue com soro infecção, e, em seguida, a anemia tornase
fisiológico, detecção de esferocitose ou ambas. O teste macrocítica, hipocrômica e regenerativa à medida
de Coombs não pode ser usado para confirmar se os que a doença progride. A reticulocitose é proporcional
autoanticorpos antieritrocitários primários são à gravidade da anemia posteriormente no processo de
responsáveis, visto que tanto as formas primárias evolução da doença.
Não existem achados bioquímicos ou no exame de O teste do anticorpo fluorescente indireto é o teste
urina patognomônicos em cães com babesiose. A mais comumente utilizado para a detecção de
hiperbilirrubinemia é um achado consistente durante a anticorpos antiBabesia. Como diretriz geral, títulos de
doença aguda causada por B. canis canis e por B. canis anticorpos contra B. canis ou B. gibsoni iguais ou
rossi, mas não por B. gibsoni. superiores a 64 em uma única amostra sustentam a
exposição. Foi estabelecido um ponto de corte de 320
As anormalidades no exame de urina podem incluir
ou mais para incriminar a infecção por B. conradae.
bilirrubinúria, hemoglobinúria, proteinúria e, em raros
casos, cilindros granulosos. Os títulos de anticorpos contra múltiplas espécies
precisam ser medidos se a pesquisa de anticorpos for
Exames complementares específicos
realizada em regiões geográficas que exibem mais de
Existem três métodos básicos disponíveis para o um tipo de infecção por Babesia. Em virtude da
diagnóstico de infecções por Babesia: a identificação reatividade cruzada entre espécies de Babesia, a
microscópica, a sorologia e os métodos de detecção identificação do parasito pela PCR é necessário para
à base de ácidos nucleicos. identificar definitivamente uma espécie específica.

O diagnóstico definitivo de babesiose pode ser Detecção genético-molecular


estabelecido pela demonstração de microrganismos
Como os microrganismos variam ou são infrequentes
dentro dos eritrócitos infectados, amplificação do
nos esfregaços sanguíneos, os métodos genéticos
DNA de babésia extraído do sangue ou de tecido
constituem o meio mais sensível específico para a
infectado, ou soroconversão em amostras agudas e
detecção de infecção. Babesia pode ser detectada pela
convalescentes.
PCR realizada em DNA extraído de amostras de
Identificação microscópica sangue.

O exame ao microscópio óptico é altamente específico ACHADOS PATOLOGICOS


para a identificação de Babesia; todavia, em virtude de
Os achados patológicos em cães que morrem de
seu limite de detecção (0,001% de parasitemia),
formas graves da doença (habitualmente associadas a
apresenta sensibilidade relativamente fraca e o seu uso
B. canis rossi) incluem coloração dos tecidos por
não é recomendado como único método de triagem.
hemoglobina ou bilirrubina, hepatoesplenomegalia,
Embora o exame microscópico não possa identificar
linfadenomegalia e rins de coloração escura
definitivamente as espécies ou subespécies de Babesia,
avermelhada. O edema e a hemorragia, que podem
ele pode ajudar o clínico a prever o microrganismo
indicar lesão vascular ou oxigenação tecidual precária
mais provável em associação com a anamnese, sinais,
em cães gravemente acometidos, são frequentemente
exame físico, dados clinicopatológicos e localização
mais graves nos pulmões. É possível observar grandes
geográfica.
números de eritrócitos parasitados nos leitos capilares,
Tipicamente, B. canis é um microrganismo grande e particularmente no cérebro.
piriforme, que costuma ocorrer isoladamente ou em
Com frequência, células não parasitadas revestem a
pares, enquanto os microrganismos intracelulares
superfície endotelial, com deposição das células
isolados de menor tamanho são provavelmente B.
parasitadas no lúmen. Microtrombos em muitos
gibsoni.
tecidos podem ser evidentes em animais que
Em alguns casos, particularmente quando ocorre apresentam sinais de CID. Com frequência, são
rápida replicação dos parasitos, as formas observados grandes números de células parasitadas no
intraeritrocitárias “clássicas” podem não predominar, e baço. Os esfregaços do baço por impressão por vezes
é possível detectar algumas formas ameboides fundamentam o diagnóstico de babesiose na necropsia.
irregulares, mais “atípicas”, com ampla diversidade de Os microrganismos podem ser encontrados em
tamanhos. Durante essas fases da infecção, por vezes eritrócitos dentro da microvasculatura.
algumas espécies de Babesia pequenas têm formas
TRATAMENTO
“grandes”, enquanto algumas espécies de Babesia
grandes exibem formas “pequenas”. Dipropionato de imidocarb, eficaz contra B. canis,
mas não é eficaz contra B. gibsoni, apresentando
No caso de infecções por B. canis, o sangue coletado
apenas redução de morbidade e mortalidade.
de leitos capilares periféricos da ponta da orelha ou
do leito ungueal pode revelar maiores números de A terapia de combinação com atovaquona e
células parasitadas. azitromicina é a mais eficaz para o tratamento das
infecções por B. gibsoni. É fundamental que a
Sorologia
atovaquona seja administrada com uma refeição
gordurosa para obter absorção máxima do fármaco.
Foi proposta uma estratégia alternativa para o
tratamento das infecções por B. gibsoni que não
respondem a atovaquona e azitromicina.218 Esse
esquema envolve uma associação de clindamicina (25
mg/kg VO, a cada 12 h), metronidazol (15 mg/kg VO,
a cada 12 h) e doxiciclina (5 mg/kg VO, a cada 12 h)
pelo período mínimo de 3 meses.
Transfusão sanguínea
Cuidados de suporte
PREVENÇÃO
A prevenção é de suma importância, tendose em vista
a dificuldade de obter compostos terapêuticos
específicos para o tratamento da Babesia.
O principal meio de prevenção é o controle do
carrapato vetor.
Greyhounds
Pit Bull Terrier

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