O carrapato Rhipicephalus microplus transmite para os bovinos dois
protozoários responsáveis pela doença denominada babesiose, e uma rickettsia que causa a anaplasmose, sendo que esta pode ainda ser transmitida mecanicamente por dípteros hematófagos e fômites. Popularmente, tais doenças são conhecidas como tristeza parasitária bovina, que se manifesta, clinicamente, por febre, anemia, hemoglobinúria, icterícia, falta de apetite, prostração e pelo arrepiado, determinando alta mortalidade em rebanhos sensíveis. Apesar de ter sido erradicado nos Estados Unidos da América, algumas vezes o R. microplus pode aparecer no Texas ou na Califórnia, em uma zona tampão de quarentena ao longo da fronteira com o México. A tristeza parasitária bovina causa maiores prejuízos principalmente em zonas de instabilidade enzoótica , como é o caso do Rio Grande do Sul, em que as condições climáticas determinam períodos mais ou menos longos sem a presença do carrapato R. microplus, transmissor desses agentes.
BABESIOSE
O envolvimento do carrapato R. microplus na transmissão de protozoários
do gênero Babesia está relacionado à fase parasitária do vetor, quando as larvas fixam-se no hospedeiro em regiões corporais propícias ao seu desenvolvimento, como posterior da coxa, perineal, perianal e perivulvar. A B. bovis é transmitida pelas larvas do R. microplus, mas não persiste no carrapato como um agente infeccioso além do estágio larval. As maiores perdas econômicas referentes à babesiose em bovinos ocorrem em áreas de instabilidade enzóotica, como é o caso do Rio grande do Sul, ou por ocasião da transferência de animais destas, ou de áreas livres, para outras cuja situação epidemiológica seja de estabilidade. Em bovinos, a severidade da infecção pode ser determinada por características inatas ao animal, como raça, sexo, faixa etária e resposta imunológica específica induzida por infecção ativa ou transferência passiva de anticorpos. Essa resistência decorre da presença de anticorpos colostrais, rápida resposta da imunidade celular, maior eritropoese da medula óssea e da presença de hemoglobina fetal nos eritrócitos O Brasil é considerado como um país enzoótico devido à constante transmissão dos agentes, porém existem algumas regiões como sertão nordestino e sul brasileiro, em que as condições edafoclimáticas não favorecem o desenvolvimento do R. microplus.
ANAPLASMOSE
As regiões tropicais e subtropicais são endêmicas para a doença devida a
grande população de vetores presentes, diferente das áreas de clima temperado, onde a infecção é esporádica. A fonte de infecção é sempre o sangue de um animal infectado. A recuperação de uma infecção aguda resulta numa infecção persistente, caracterizada por períodos repetitivos de riquetsemia. Os portadores funcionam como fontes de infecção para todo o rebanho.
Muitas vezes, o nível de parasitemia é tão baixo que impede a visualização
do parasita no sangue, porém a identificação pode ser feita por meio de analise do ácido nucléico. Durante o repasto sanguíneo, o carrapato, através da saliva, injeta o agente patogênico no sangue do animal. fase aguda da anaplasmose é caracterizada por altas riquetsemias , anemia, perda de peso, aborto e até morte.
SINAIS CLÍNICOS
Os sinais clínicos de infecções subagudas são mais difíceis de
detectar. Sinais neurológicos estavam presentes nos casos de babesiose por B. bovis e se caracterizaram por transtornos da locomoção, tremores musculares, agressividade e quedas com movimentos de pedalagem convulsão e coma.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico das babesioses e ou anaplasmose bovina pode ser realizado
com base nos sinais clínicos e na visualização dos parasitos no interior das hemácias em esfregaços sanguíneos delgados corados pelo Giemsa. bovis, mesmo na fase aguda tende a apresentar baixa parasitemia, o que dificulta o seu diagnóstico por exame de esfregaço sanguíneo. Para confirmar o diagnóstico de babesiose, e necessário verificar antecipadamente a presença do carrapato vetor no local, a não ser que o animal tenha vindo de zona enzoótica no mês precedente.
TRATAMENTO
O tratamento da babesiose consiste em destruir os protozoários no
paciente com aplicação de medicamentos a base de aceturato de diminazeno, dipropionato de imidocarb, diisetionato de amicarbalina e fenamidina. O mais utilizado é o dipropionato de imidocarb por apresentar efeito prolongado devido a sua lenta metabolização, porém suas ações colaterais como diarreia, cólica e salivação são mais severas também.
Apesar da eficácia do tratamento, é preciso lembrar que a fase inicial da
doença é aguda e o animal pode morrer de anemia se houver demora na instituição do mesmo. Outro fator que deve ser pensado é que os fármacos não agem sobre os protozoários que estão residindo nos carrapatos que por ventura estejam infestando o bovino nesse momento, consequentemente, não há efeito sobre a taxa de transmissão.
Às vezes a babesiose pode estar associada com a anaplasmose, assim é
comum no tratamento a utilização de aceturato de diminazeno e oxitetraciclina nos animais que apresentam os sinais clínicos e quando não se podem aplicar testes sorológicos na região.
CONTROLE
O conhecimento do ciclo vital do carrapato é fundamental para seu
controle. O grande paradoxo no controle dessas enfermidades são os animais persistentemente infectados. No Brasil, é utilizado o controle estratégico em determinadas área. Para a anaplasmose, o controle de carrapatos só protege parcialmente contra a sua transmissão, visto que, essa ocorre muitas vezes por transmissão mecânica por fômites com sangue infectado e por moscas hematófagas.
A tristeza parasitária bovina é caracterizada como uma enfermidade que
está presente no cotidiano da pecuária de corte e leiteira ficando evidenciados a necessidade de conhecer sua epidemiologia, controle, prevenção e seu tratamento para evitar perdas econômicas.