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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

Faculdade de ciências agronómicas Cuamba

Relatório de Higiene e sanidade animal

Tema:

Peste suína africana

Estudante: Docente: Gregory Saxon

Juninnha da Fezlizarda J.A. Maine

Cuamba, outubro de 2023

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1. INTRODUÇÃO
Segundo Quinn et al. (2005) e Bastos (2008), Asfarviridae é considerada uma família de vírus
complexa, a qual apresenta DNA envelopado, semelhante ao Poxvírus, primeiramente
classificada na família Iridoviridae, por infectar anfíbios e invertebrados e posteriormente,
reclassificada na família Asfarviridae, por acometer espécies de suínos domésticos e selvagens.
Conforme Carter et al. (2005), tal família de vírus, possui alta resistência às condições ambientais
adversas, como temperatura entre 4 °C a 20 °C, ao ambiente e pH de 3 a 10, propaga-se por seis
meses em alimentos embutidos ou durante quatro anos, em carnes congeladas. Assim, torna-se
imprescindível á importância que a carne identificada com Asfarvírus, não deva ser consumida,
diante da premissa que o vírus pode manter-se em carcaças resfriadas por até um mês.
A Peste Suína Africana (PSA), é considerada uma enfermidade grave, capaz de causar grandes
prejuízos econômicos, visto que o maior agravante configura-se no fato de que até o momento,
não existem vacinas disponíveis. A doença possui aspectos semelhantes à peste suína clássica. A
PSA foi erradicada na maioria dos países, exceto na África subsaariana (MERKEY et al., 2005).
Esta doença manifestou-se primeiramente no continente Africano, a partir do início do século
XX, somente em porcos selvagens nas colônias locais. A doença foi introduzida no Brasil com o
advento da chegada de imigrantes europeus, os quais trouxeram porcos infectados com a doença.
No decorrer do tempo, com o maior fluxo de pessoas e também de maiores relações comerciais,
houve concomitantemente, uma maior disseminação da doença pelo continente europeu, com
origem da África com destino a Portugal e desta forma, chegou ao continente Europeu e
finalmente foi veiculado para o Brasil (CORRÊA et al., 2017).

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2. Etiologia
Conforme os estudos aprofundados de Bastos (2008), a peste suína tem como agente etiológico
um vírus, cujo genoma compreende duas fitas de DNA encapsulado e morfologia em formato
icosaédrico. Possuem comprimento de 170 à 190 pares de nucleotídeos, características que
assumem traços semelhantes para duas famílias de vírus, como os Iridoviridae e Poxviridae, pois
compartilham da mesma superfamília NCLTV (Núcleo Cytoplasmic Large DNA Virus). O vírus
da Peste Suína é especifico e complexo, de forma única e distinta, o qual pode ser configurado
como o único membro da família a qual pertence: Asfarviridae.

3. Replicação
Segundo Villamandos et al., (1995), a evolução do ciclo viral no organismo, ocorre por meio da
introdução do trato respiratório e das tonsilas. Posteriormente, tal proliferação ocorreu em dois
locais diferentes, primeiramente nas células-alvo, especificamente no interstício e no parênquima,
por conterem células do sistema mononuclear fagocitário, assim como, de forma secundária, a
replicação viral pode também acontecer no fígado.
Conforme estudos realizados por Bastos (2008), o início da replicação viral acontece no
citoplasma da célula, que torna possível, somente pela presença de proteínas p72, p54, p30 e p12,
responsáveis pela entrada do mesmo, dentro do citoplasma. Neste local, dá-se início à transcrição
do mRNA precoce. Para tanto, são utilizados os fatores de transcrição, assim como as enzimas
pertencente aos virions, de forma a migrar posteriormente pelos microtúbulos, até chegar no
espaço extracelular.

4. Epidemiologia
A carne suína é uma das mais consumidas, com consumo aproximado de 88 milhões de toneladas
no ano de 2000 e que, portanto, devido à crescente demanda de consumo, gerou-se também
concomitantemente, grande preocupação com a sanidade dos suínos. Segundo a OIE
(Organização Mundial de Saúde Animal) a PSA (Peste Suína Africana), a ocorrência da doença é
de notificação obrigatória, conforme as leis do código Zoossanitário Internacional para os
Animais Terrestres (MOURA, 2009).

5. Transmissão
A transmissão da doença pode ocorrer de forma direta entre animais, através do contacto com
carraças ou produtos infetados, ou por contacto com objetos contaminados
A PSA não é uma doença zoonótica, uma vez que não se transmite de suídeos, ou de carraças, a
humanos. Como em muitas outras doenças virais, a transmissão entre animais pode ocorrer de
forma direta ou indireta. Enquanto as carraças moles Ornithodoros moubata , que infestam as
tocas dos suídeos selvagens em África, estão envolvidas no ciclo silvático de transmissão
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(suídeo-carraça-suídeo), na Europa Ocidental as carraças moles da espécie O. Erraticus são o
vetor do vírus, participando na transmissão entre suínos domésticos de montado e javalis. No
entanto, na Europa Central, o papel das carraças é negligenciável, ocorrendo transmissão da
infeção por contacto direto entre animais infetados e não infetados (através de secreções, sangue,
sémen), ou por ingestão de restos alimentares, produtos ou preparações de origem suína
contaminadas. Nas vias indiretas, as atividades antropogénicas são particularmente relevantes na
transmissão a grandes distâncias, através da contaminação de veículos e equipamentos, incluindo
equipamentos de caça, ferramentas e máquinas agrícolas, roupas, etc. O contacto com sangue é a
via de transmissão mais eficiente, uma vez que a concentração de vírus pode ser muito elevada
nesta matriz biológica. Alguns vetores mecânicos, como a mosca-do-estábulo (Stomoxys
calcitrans), poderão participar na transmissão mecânica do VPSA. Com efeito, foi possível
demonstrar em condições experimentais que esta mosca consegue transmitir o VPSA a suínos.
No entanto, ainda não foi possível demonstrar este facto em condições naturais.
Em zonas endémicas, a PSA não está dependente da densidade da população de javalis, pois
mesmo que seja alcançada a extinção local de javalis pela elevada mortalidade associada ao
VPSA, este permanece viável durante muito tempo nos cadáveres de javalis e possivelmente no
ambiente, sendo uma fonte constante de infeção para novos animais, que se infetam por esta via
de transmissão indireta. São reconhecidos atualmente 4 ciclos de transmissão da PSA.
A transmissão pode ocorrer por vetor, como o carrapato do gênero Ornithodoros spp, natural da
África, pelo contato com alimentos de origem suína que estejam contaminados com o vírus ou
ainda por contato direto entre suínos através de secreções nasais e orais. O período de incubação
varia de 5 a 15 dias, varia de acordo com a forma de inoculação do vírus. (MOURA, 2009)
Os sinais clínicos estão relacionados com a virulência da cepa e a dose infectante, e os animais
podem apresentar sinais clínicos agudos ou não demonstrarem sinais. Entre os sinais clínicos da
PSA se destacam: febre, apatia, secreção ocular pegajosa, diarreia, fraqueza nas patas traseiras,
respiração ofegante, sangue nas fezes, manchas azuis ou rochas nas orelhas, pescoço, cauda e
ventre dos animais. Em todos os graus de severidade da doença, a taxa de morbidade é alta em
suínos que apresentam contato constante. (ALMEIDA, et al 2014)
A PSA é uma enfermidade que pode apresentar alta morbidade e letalidade, devido a isso o seu
tratamento não é realizado, principalmente em função econômica. O animal que entrou em
contato com o vírus, desenvolveu a doença e se curou se torna um portador. Este animal passará a
disseminar o vírus no ambiente, além de contaminar mais vetores, impossibilitando assim o
controle da mesma. (MOURA, 2009)

6 .Diagnósticos
O primeiro teste de diagnóstico é o superficial, onde são observadas as características como
porcos com quadros de anorexia, ocorrência de casos de mortes, animais com movimentação
descoordenada e aglomerado sem interesse de movimentar-se. Outros métodos de diagnósticos
podem ser indicados, como os laboratoriais, onde podem ser executados protocolos como
hemoadsorção, RFC, RPGA, RIF, Eletroforese Imuno-Osmótica e Imunodifusão Radial Inversa,

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Virológico, Sorológico, Imunoflurescência Indireta, ID, CIE, PCR (Reação em Cadeia da
Polimerase), assim como o acompanhamento de dados epidemiológicos (CORREA., 1992).
Para realizar a diferenciação entre Peste Suína Africana e Peste Suína Clássica, envolve a
inoculação de materiais suspeito em suínos vacinados contra a febre suína clássica e em suínos
não vacinados e assim, também pode ser utilizada a PCR, para detectar DNA do VPSA em
tecidos inadequados ao isolamento do vírus, ou à detecção de antígenos (QUINN et al., 2005).
Portanto, animais dos quais são recuperados os anticorpos, persistem por longos períodos, nos
quais utilizam-se os testes sorológicos como os únicos meios de detecção de anticorpos para
execução de protocolos para Peste Suína Africana, como o ELISA, Immunoblotting,
Imunofluorescência Indireta e Radioimunoensaio (CARTER et al., 2005).
Mesmo quando diagnosticada, até o presente momento, não há descrição da existência de
tratamento para essa doença. Assim, quando animais se encontram infectados, devem ser
sacrificados e sua carcaça incinerada (OLIVEIRA et al., 2014)

7. Controle

Existem no mercado vacinas atenuadas, que foram utilizadas de forma a induzir a proteção contra
essa doença. Assim, alguns suínos até podem apresentar o desenvolvimento de lesões iniciais ou
até mesmo lesões crônicas, por conta da doença. No entanto, as formas mais importantes de
prevenção contra a doença, consiste no monitoramento sorológico, de forma a evitar que o suíno
silvestre entre em contato com os suínos domésticos (QUINN et al., 2007)
O controle através de vacinas é inviável devido ao fato de as vacinas terem uma baixa produção
imunológica, sendo elas com vírus inativado ou não, a identificação de animais vacinados e
contaminados não pode ser feita. Para o controle efetivo é realizado o abate sanitário imediato
dos animais e destruição de focos de contaminação e vetores, esse processo é realizado em países
não livres. (MOURA, 2009)
O controlo da doença na indústria e no campo constituem desafios com graus de dificuldade
distintos
Uma vez que ainda não existem vacinas para a prevenção da PSA, nem tão pouco medicamentos
eficazes para o tratamento dos animais infetados, a prevenção e/ou controlo da doença baseia-se
exclusivamente na aplicação de medidas profiláticas e preventivas como sejam:
i) A certificação sanitária pelos serviços veterinários dos países de origem que atestam
que os animais são originários de “zonas-livres” de PSA que não estejam em restrição
devido à doença;

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ii) A biossegurança nas explorações suinícolas,

Nos transportes de animais e na atividade cinegética;


iii) Os controlos nas fronteiras por forma a evitar a introdução de produtos de origem
animal potencialmente contaminados, como carne de porco e derivados, sémen, couro,
troféus de caça, etc.;

iv) A gestão eficiente dos subprodutos de origem animal;

v) A vigilância ativa e passiva da PSA nas populações de javalis e nos suínos domésticos
que permita a deteção precoce da doença.
No caso de surgimento da PSA em suínos domésticos, são aplicadas as medidas de emergência
previstas nos planos de contingência para impedir a disseminação do VPSA, como a occisão dos
animais doentes e em contacto com estes, e posterior vazio sanitário, e o estabelecimento de
zonas de restrição envolventes do foco, com restrições à movimentação de animais e seus
produtos.
Em caso de confirmação de PSA em javalis, as medidas de controlo desta doença compreendem a
restrição de movimentos de pessoas (caçadores, caminhantes, turistas) e veículos nas zonas
infetadas, a proibição de alimentar estes animais, a proibição de caçar na área afetada, e a
intensificação da caça nas zonas circundantes às zonas infetadas para as despovoar, de acordo
com as regras da DGAV e ICNF. Na zona infetada é promovida a retirada ativa dos cadáveres de
javalis para posterior eliminação, restringindo, assim, esta fonte de contaminação locais. No
campo, o controlo e a vigilância do VPSA nas populações de javalis são extremamente
dificultados pelo aumento da densidade populacional que se tem verificado em toda a Europa nas
últimas décadas, e que proporcionou as condições para o VPSA expandir a sua distribuição
geográfica. Aí, o papel dos agricultores e dos caçadores é fundamental, não só no que toca ao
respeito pelas boas práticas de biossegurança recomendadas no exercício da atividade pecuária e
cinegética, como para a identificação rápida de animais doentes ou mortos, e subsequente alerta e
atuação das autoridades competentes para a contenção precoce e erradicação dos focos de
doença.

8. Importância da peste suína africana


O número de países ou territórios afetados pela PSA tem aumentado substancialmente nos
últimos anos, com notificações de países da África Subsariana, da Europa e da Ásia, conduzindo
a uma crise sanitária e socioeconómica mundial na indústria suinícola, fruto dos abates
compulsivos dos animais doentes dos vazios sanitários, das interdições às exportações de carne
de porco ou seus derivados e da circulação dos animais nas zonas de restrição. A PSA afeta
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presentemente inúmeros países dos 3 continentes referidos, constituindo por isso uma
importantíssima ameaça sanitária e económica para todos os países livres da doença.

9. Conclusão

As principais patogenias relacionadas à PSA (Peste Suína Africana) configuram-se com a


apresentação de quadros de febre, apatia, diarreia, descargas entre oculares entre outras
sintomatologias. A infecção pode ocorrer por diversas vias, como as vias oro-nasal, intra-cutânea;
bronquial e entérica.
Para o diagnóstico, podem ser utilizados diversos testes sorológicos, no intuito de detectar
anticorpos em protocolos para esta doença, como o ELISA, Immunoblotting, Imunofluorescência
Indireta e Radioimunoensaio.
Até o momento, não há disponibilidade de tratamento para Peste Suína Africana. Quando a
doença ocorre em uma vara, os animais infectados devem ser sacrificados e sua carcaça
incinerada. Por outro lado, mesmo com ausência de tratamento, o que há no momento são as
medidas profiláticas, como as vacinas atenuadas disponíveis no mercado. Além disso, deve ser
realizado periodicamente o monitoramento sorológico, de forma a evitar que o suíno silvestre
entre em contato com os suínos domésticos.

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