ocorrendo contínuamento na atmosfera, a precipitação e a evaporação, aqueles em que a atmosfera interactua com a água superficial, são da maior importância para a Hidrologia. • Muita da água que precipita deriva da evaporação nos oceanos e do transporte a longa distância pela circulação atmosférica. As duas forças motrizes fundamentais da circulação atmosférica resultam da rotação da Terra e da transferência de energia entre o Equador e os Polos. Mecanismos de formação da precipitação são necessárias quatro condições para produzir as quantidades de precipitação que se verificam: 1. um mecanismo que produza o arrefecimento do ar; 2. um mecanismo que origine a condensação; 3. um mecanismo para produzir o crescimento das gotas; 4. um mecanismo para produzir a acumulação de humidade suficiente para justificar as intensidades de precipitação observadas. TIPOS DE PRECIPITAÇÃO 1. convectiva; 2. orográfica; 3. frontal; 4. ciclónica Precipitação convectiva A precipitação de origem convectiva é causada pela subida duma massa de ar quente, menos denso, para as camadas superiores da atmosfera, mais frias, onde arrefece, condensa o vapor de água e precipita. Está associada a um fenómeno de instabilidade provocado por um aquecimento desigual da superfície do solo • Normalmente, origina chuvadas intensas e de curta duração, frequentemente acompanhadas de trovoada. Precipitação de origem orográfica A existência duma montanha constitui uma barreira à deslocação da massa de ar húmido, obrigando à sua subida com o consequente arrefecimento e condensação. Precipitação de origem frontal Diz-se que há uma frente quando uma massa de ar frio contacta uma massa de ar mais quente, sendo a superfície de contacto mais ou menos bem definida . As regiões Centro e Sul de Moçambique são frequentemente afectadas pelas frentes frias: massas de ar frio provenientes das regiões temperada e polar deslocam-se e encontram sobre o continente massas de ar quente, forçando-as a subir. O movimento ascensional induz o arrefecimento da massa de ar quente com posterior condensação e precipitação. Precipitação de origem ciclónica • Os ciclones são sistemas de baixa pressão acompanhados de ventos com velocidades superiores a 120 km/h e dotados de movimento turbilhonar. Estes ciclones deslocam-se para sudoeste absorvendo no seu percurso grandes quantidades de humidade. Ao atingirem o continente, comportam-se como uma frente quente originando precipitação numa faixa de 150 a 300 km e dissipando-se à medida que progridem para o interior. As chuvas intensas e os ventos fortes dão aos ciclones tropicais características muito destrutivas. MEDIÇÃO DA PRECIPITAÇÃO A precipitação é caracterizada pela altura e pela intensidade. • A altura de precipitação sobre uma dada área é igual ao volume da precipitação sobre essa área a dividir pelo valor da área. É normalmente expressa em mm ou em l/m2. • A intensidade da precipitação é definida como a quantidade de precipitação ocorrida por unidade de tempo. • A intensidade é normalmente expressa em mm/hora. A intensidade não é medida directamente mas obtida a partir do conhecimento da altura, função h(t).
A medição da altura de precipitação faz-se em intervalos
discretos de tempo, através dos udómetros ou pluviómetros, ou em registo contínuo, através de udógrafos ou pluviógrafos. Udómetros • Os udómetros utilizados em Moçambique têm as seguintes características: • - diâmetro da boca: ≈ 16 cm; • - superfície receptora: 200 cm2; • - altura da boca acima do solo: 1.50 m. udógrafos Os udógrafos são instrumentos que permitem conhecer a variação da precipitação em função do tempo utilizando um sistema de registo contínuo. Obtem-se assim numa folha de papel um gráfico h(t). O papel roda num tambor ou num sistema de rolos a uma velocidade constante regulada por um mecanismo de relojoaria. Há diversos tipos de udógrafos conforme o mecanismo que quantifica a precipitação. O gráfico resultante chama-se udograma ou pluviograma DETERMINAÇÃO DA PRECIPITAÇÃO SOBRE UMA REGIÃO
A precipitação registada num udómetro é um
valor pontual do ponto de vista geográfico. Há diversos métodos que permitem, a partir dos valores registados nos postos udométricos, determinar a precipitação sobre uma região, nomeadamente o método da média aritmética, o método de Thiessen e o método das isoietas. Método da média aritmética • O método da média aritmética consiste em igualar a precipitação sobre a região à média aritmética dos valores registados nos vários postos existentes na região e próximos dela. • É um método muito grosseiro que apenas deve ser usado se os postos se distribuirem uniformemente na região e o valor de cada um não se afastar muito do valor médio Método de Thiessen A partir duma carta onde está delimitada a bacia ou a região cuja precipitação se pretende calcular e marcados os postos udométricos (dentro da região e à volta), executam-se os seguintes passos: 1. Liga-se cada posto com todos aqueles que lhe ficam próximos, definindo segmentos de recta; 2. Traçam-se mediatrizes desses segmentos. Essas mediatrizes, juntamente com os limites da região definem polígonos à volta dos vários postos - são os polígonos de Thiessen; 3. Medem-se as áreas dos polígonos e a área total da região; 4. Calculam-se os coeficientes de Thiessen para os vários postos: Polígonos de Thiessen Método das isoietas • O método das isoietas é, como o método de Thiessen, um método de base gráfica. Para se calcular a precipitação na região, é necessário começar por traçar as isoietas (linhas de igual precipitação). 1. Para tal, pode utilizar-se o seguinte procedimento - consideram-se estações próximas 2 a 2; 2. admite-se que entre 2 estações próximas a precipitação varia linearmente; 3. determinam-se assim pontos de ocorrência de determinados valores de precipitação P1, P2, etc.; 4. as isoietas traçam-se unindo por curvas pontos com o mesmo valor de precipitação. Comparação entre o método de Thiessen e o método das isoietas • A principal vantagem do método de Thiessen sobre o método das isoietas é que os polígonos de Thiessen não dependem dos valores da precipitação registados nos postos e, portanto, o cálculoda precipitação ponderada na região faz-se sempre com os mesmos coeficientes. • Apenas é necessário recalcular os polígonos se algum dos postos não tiver registos para a precipitação ponderada que se pretende calcular. , As isoietas dependem dos valores das precipitações. Isso torna o método muito trabalhoso para aplicação rotineira, razão pela qual se reserva a aplicação do método das isoietas ao cálculo de precipitações ponderadas para precipitações médias (anuais, semestrais, mensais), precipitações com determinada probabilidade de excedência (p.exº 80%) ou para chuvadas extremas Uma outra desvantagem do método das isoietas relativamente ao método de Thiessem é a dose de subjectividade com que as isoietas são traçadas. Por outro lado, isso permite a um hidrologista experiente traçar as isoietas entrando em linha de conta com a influência do relevo, distância à costa e exposição aos ventos húmidos, o que constitui uma vantagem sobre o método de Thiessen. O método das isoietas apresenta sobre o método de Thiessen as seguintes vantagens:
desde que as isoietas sejam traçadas por um
hidrologista experiente, o metódo conduz a um valor da precipitação ponderada mais rigoroso do que o obtido pelo método de Thiessen; • - a carta de isoietas dá uma imagem visual da distribuição espacial da precipitação. • Normalmente, as isoietas serão traçadas para situações particulares como, por exemplo, os valores anuais ou semestrais médios ou para uma chuvada particularmente intensa. Para os cálculos de rotina, será utilizado o método de Thiessen. CONSISTÊNCIA DUMA SÉRIE DE REGISTOS
• Não é invulgar que uma série de registos de
precipitação acuse, na sua análise, inconsistência, i.e., uma subsérie contendo os anos terminais regista características (como a média e o desvio padrão) muito distintas da subsérie dos anos iniciais. Isso pode ter origem, por exemplo, na mudança de localização do udómetro, na construção duma habitação demasiado próxima ou na substituição do aparelho de medida. O método da dupla massa consiste no seguinte: a. escolhe-se um certo número de estações (normalmente, cerca de 10) geográficamente próximas de estação de cuja série de registos se pretende testar a consistência; b. calculam-se as médias dos valores dessas estações para o período correspondente à estação em estudo; c. marca-se num gráfico em abcissas os valores acumulados das médias das estações e em ordenadas os valores acumulados da estação em estudo. • Se neste gráfico os pontos se alinharem ao longo duma recta não se detecta inconsistência. Se, no entanto, se verificar uma situação como a da figura 4.22 em que, a partir dum dado ano, há uma clara mudança de inclinação que se mantém (verificada pelo menos nos últimos 5 anos), então pode suspeitar-se de haver inconsistência na série em estudo. • Nesse caso, é preciso verificar o que aconteceu com a estação, se houve uma mudança do local ou outra causa que possa ser a origem da inconsistência. Grafico de incosistencia PREENCHIMENTO DE FALHAS Frequentamente, os registos de precipitação para uma dada estação têm faltas de 1 ou mais dias e, por vezes, até de períodos mais longos. Para não se perder totalmente a continuidade dos registos, utilizam-se métodos para estimar os valores em falta, permitindo assim reconstituir os totais mensais, semestrais e anuais Método da razão normal • Escolhem-se 3 estações muito próximas da estação com registos em falta e distribuidas • regularmente à volta dela. Designando essas estações por A,B,C, a estação em estudo por X, a precipitação anual média por P e a precipitação no período em falta por P, a estimativa do valor EVAPORAÇÃO Evaporação a partir duma superfície líquida Em qualquer superfície líquida, há um incessante movimento de moléculas de água que passa da fase líquida para a fase gasosa e vice-versa, sendo a primeira forma a dominante em condições atmosféricas normais. Há, portanto, simultâneamente evaporação (líquido → vapor) e condensação de água (vapor ← líquido). Evaporação a partir do solo nu A evaporação que se verifica a partir do solo nu depende de um certo número de factores entre os quais os mais importantes são o estado de humidade do solo, o tipo de solo e a localização da toalha freática. Se o solo se encontra saturado, a evaporação que lhe corresponde é próxima da evaporação a partir duma superfície líquida, sugerindo-se multiplicar esta última por 0.9 para se obter a evaporação a partir do solo. À medida que o solo vai perdendo a humidade, a água remanescente vai sendo retida com intensidade crescente por forças de capilaridade e adsorção, dependendo do tipo de solo. A evaporação torna-se geralmente desprezável depois de se terem evaporado os primeiros 10-15 mm. Se a toalha freática estiver suficientemente alta para que a água possa atingir a superfície do solo por capilaridade, a evaporação a partir do solo é elevada e semelhante à situação do solo saturado. Transpiração Transpiração é a água perdida pelas plantas através dos estomas (poros) das folhas por evaporação para a atmosfera. Esta água é substituida pela que a planta vai buscar ao solo através das raízes. Numa região em que o solo está revestido de vegetação, é praticamente impossível analisar em separado a transpiração das plantas e a evaporação a partir do solo, linhas de água e lagoas. Importância do fenómeno da evaporação
• Do ponto de vista para a utilização da água
para o homem, a evaporação constitui uma perda que interessa minimizar. Várias vias têm vindo a ser consideradas para este efeito: Como minimizar a evaporação 1) utilizar reservatórios cobertos (só possível em pequenos reservatórios); 2) utilizar reservatórios subterrâneos (é necessário que existam condições naturais para o efeito); 3) construir reservatórios com área superficial mínima (na escolha dum local para uma barragem, é preferível optar pelo que apresenta a menor superfície para um dado volume de armazenamento); 4) utilizar produtos químicos especiais na superfície da água. Certos compostos orgânicos como o hexadecanol e o octodecanol formam películas monomoleculares à superfície da água que inibem a evaporação. O processo físico da evaporação. Lei de Dalton Considere-se o recepiente fechado e que contém uma certa quantidade de água a uma dada temperatura. A situação é estável o que se manifesta pelo nível constante da água. Isto significa que o número de moléculas de água que passa para a fase de vapor é, em média ao longo de um intervalo de tempo curto, igual ao número de moléculas que passa da fase de vapor para a fase líquida. Diz-se então que o ar está saturado e não pode conter mais vapor de água. ‘
Admitamos agora que no recipiente se fez inicialmente o
vácuo e depois se introduziu uma certa quantidade de água. Verifica-se que a água começa imediatamente a vaporizar. Isto deve-se ao facto de que a força estabilizante das moléculas no seio do líquido, que é a atracção molecular, é insuficiente para contrariar a forca de repulsão devido a energia cinética das moléculas. Como é sabido, as moléculas de vapor de água dispõem de maior energia cinética do que as moléculas de água no estado líquido. Por outro lado, na fase inicial da vaporização, há muito poucas moléculas gazosas e a pressão de vapor de água é baixa. À medida que a vaporização da água se vai processando, aumenta a pressão de vapor, aumentam as colisões entre moléculas gasosas e algumas destas, ficando com energia cinética reduzida, voltam ao estado líquido. A certa altura atinge-se a estabilidade: a evaporação cessa e a pressão do vapor mantem-se constante. A pressão do vapor não saturado designa-se por e. Designa-se por tensão do vapor saturado ew a pressão do vapor quando o espaço já não comporta mais vapor de água. ew aumenta com a temperatura como é fácil de constatar experimentalmente. Com efeito, se no recipiente fechado onde a evaporação cessou se produzir um aquecimento, a evaporação reinicia-se e a pressão do vapor aumenta. Isto deve-se ao facto do aumento da temperatura conduzir a uma aumento da energia cinética das moléculas da água. A diferença (ew - e) chama-se défice de saturação. A tensão ew iguala à pressão atmosférica no ponto de ebulição. Os principais factores que afectam a evaporação são: a) a radiação solar, que é a principal fonte da energia necessária para a vaporização das moléculas de água. Por sua vez, a radiação solar é uma função da latitude, dia do ano, hora do dia e nebulosidade. Outras fontes de energia podem dar um importante contributo local para a evaporação, por exemplo a entrada num lago de água quente proveniente da refrigeração duma central térmica. b) as temperaturas do ar e da água, a pressão atmosférica e a humidade. Todos estes factores influenciam o défice de saturação. Ora a evaporação é obviamente uma função crescente do défice de saturação. o vento. Numa situação sem vento, o vapor de água concentrado numa camada da atmosfera muito próxima da superfície livre da água, camada que se designa por camada evaporante, atinge o estado de saturação e a evaporação cessa. Para que a evaporação continue, é necessário que essa camada já saturada seja removida e substituida por ar não saturado. Esse é o papel desempenhado pelo vento. DETERMINAÇÃO DA EVAPORAÇÃO EM SUPERFÍCIES LÍQUIDAS Para a determinação da evaporação em superfícies líquidas existem vários métodos, dos quais os mais importantes são: • método de balanço hídrico; • método do balanço energético; • método da transferência da massa; • método de Penman; • medição directa.