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Lembre-se:
Os apontamentos em sala de aula e os comentários nesse arquivo digital devem ser complementados pela leitura
dos livros preconizados e indicados no primeiro dia de aula.
A consulta e crítica às diferentes referências, inclusive ao professor, é o que distingue o futuro profissional bem-
sucedido.

Em muitos momentos “abriremos parênteses” para outros assuntos dentro


do tema principal. Essa tortuosidade não é para complicar. É para
reforçarmos e relacionarmos o tema principal com outros assuntos vistos
no Passado ou que veremos no Futuro.

Norman Rockwell (‘crítico caipira’)


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A eventual citação de empresas e instituições nesta apresentação não tem qualquer sentido de marketing, patrocínio ou depreciação...
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Comentários de Aula

Armazenamento da Água no Solo


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Representação do Solo como Reservatório de Água


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Conceito de Lâmina

O conceito de Lâmina d’água está presente no


cotidiano do agrônomo.
É comum ouvirmos:

Hoje deve chover 20 mm em Salvador.

A evaporação anual dos açudes no


Semiárido pode chegar a 3.000 mm.

A lavoura precisa de uma lâmina de


irrigação de 15 mm. https://twitter.com/jornalnacional/status/883487798753452033

Mas, por que falamos sempre em Lâmina e


não em Volume?
E essa unidade mm, o que representa?
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Conveniência do Conceito de Lâmina

É mais conveniente tratar essas medidas de Precipitação, Evaporação, Evapotranspiração,


Drenagem, Irrigação em termos de Lâmina d’água porque assim torna-se desnecessário expressar
as dimensões da área.

Quando se expressa valores dessas medidas em Volume, há necessidade de conhecer ou fornecer


as dimensões da área.

Por exemplo: O que tem mais significado para você?

a) Choveu 4,3 bilhões de Litros em Cruz das Almas – BA.

b) Choveu 30 mm em Cruz das Almas – Ba.

A área do município é 145.742 km2.


https://en.wikipedia.org/wiki/Cruz_das_Almas
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Relação entre Lâmina e Volume

Imaginemos uma caixa d’água com dimensões de base de 1 m por 1 m. Se colocarmos 1 mm de


água, teremos qual volume armazenado?

Área = 1 x 1 = 1m2
Altura = 1mm = 0,001 m

Volume = Área x Altura


Volume = 1 m2 x 0,001 m
Volume = 0,001 m3

Como 1 m3 = 1.000 L
Então: 0,001 m3 = 1 L
m
1 Assim:
1m 1 mm = 1 L em 1 m2
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https://g1.globo.com/rj/sul-do-rio-costa-verde/noticia/2019/02/18/de-olho-no-
tempo-entenda-como-e-calculado-o-volume-de-chuva.ghtml
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Em uma área de 1 ha, qual o volume correspondente a 1 mm?

1 mm -------- 1 L ------------------ 1 m2
X L-------------10.000m2

X = 10.000 L ou 10 m3

Assim:

1 mm = 10 m3/hectare
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Relação entre Lâmina e Volume

Como deduzido antes:

Lâmina é a expressão do Volume por unidade de Área!

Lâmina é simplesmente Altura de Água, constituída ao se colocar um dado Volume numa dada
unidade de Área.

Quando se fornece essa Área em m2 e o Volume em Litros, a altura resultante é milímetro (mm).

Portanto, quando expressamos Lâmina em mm, temos intuitivamente o conhecimento da


magnitude do evento (Precipitação, Evapotranspiração, Evaporação, Irrigação, Drenagem...)
quando projetamos essa Lâmina em termos de Altura da Água em 1 m2 de Área.
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Não Confundir Volume e Vazão:

Lâmina é Volume por unidade de Área.


Vazão é Volume por unidade de Tempo.

Não Confundir Milímetro e Mililitro:

Milímetro é milésima parte do Metro (1 mm = 0,001 m)

Mililitro é milésima parte do Litro (1 mL = 0,001 L)


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Lâmina Armazenada no Solo

Da mesma forma que estudamos a Lâmina


em uma Caixa d’água, podemos estudar a
Lâmina de Água no Solo.

Afinal, sejamos repetitivos: o solo é um Z


Reservatório de Água.

Então, imaginemos uma amostra


indeformada de solo, cujas dimensões são
X, Y e Z.

Y
X
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Imaginemos que conseguimos extrair toda água


da amostra, transferindo-a para um recipiente que
Z também tem as mesmas dimensões de base X e Y.

Y
X

X Y
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Y
Nesse caso, obteremos uma altura h de água
X nesse recipiente...

X Y
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Obviamente, partindo dessa separação em


Z que obtivemos um volume de sólidos e um
volume de líquido, podemos destrinchar:

Vsolo = X x Y x Zsolo

VH20 = X x Y x hH20
Y
X

X Y
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Considerando que a razão entre Volume de


ZSolo H2O e Volume de Solo representa Umidade
Volumétrica do Solo (Ɵ):

Ɵ = VH20 / Vsolo

Ɵ = (X x Y x hH20 ) / (X x Y x Zsolo)
Y
X Logo:

Ɵ = hH20 / Zsolo
hH2O

X Y
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Portanto:

ZSolo Umidade do solo (Ɵ) é a razão entre a Lâmina


de Água Armazenada (hH20) à uma dada
Profundidade do Solo e essa Profundidade do
Solo (Zsolo).

Lâmina de Água Armazenada no Solo (hH2O) é


Y o produto entre a Umidade Volumétrica (Ɵ) e a
X Profundidade do Solo (Zsolo).

Ɵ = hH20 / Zsolo
hH2O
hH20 = Ɵ x Zsolo

X Y
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ZSolo

d http://soilquality.org.au/factsheets/bulk-density-measurement

Em amostragem de solo para fins de irrigação,


hH2O normalmente as amostras indeformadas são cilíndricas.

Refaça a dedução anterior para esse tipo de amostra.


d
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Lâmina Armazenada no Solo

A Lâmina de Água Armazenada no Solo (LAA) é baseada na umidade volumétrica do solo (Ɵ).
Então, tomemos como gênese das equações de Lâmina de Irrigação a umidade volumétrica (Ɵ)...

O uso das equações baseadas na umidade gravimétrica (U) é adaptação...

Consideremos ainda a seguinte observação:


O valor absoluto do Armazenamento de Água no Solo pouco é importante para fins de
dimensionamento e manejo de sistemas de Irrigação e Drenagem. Para esses casos, o que
importa é a Variação do Armazenamento entre dois estados de umidade!

Portanto, todas as equações de dimensionamento e manejo são variações da seguinte expressão:

ΔhH20 = Ɵ1 x Zsolo – Ɵ2 x Zsolo →→→→→→→→ ΔhH20 = ΔƟ x Zsolo

Vejamos...
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Disponibilidade Total de Água no Solo (DTA)

Diz respeito à toda umidade do solo disponível entre a capacidade de campo (CC) e o ponto de
murcha permanente (PMP).

DTA
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Disponibilidade Total de Água no Solo (DTA)

Transformando esse enunciado em equação matemática e analisando a unidade resultante:

Esse resultado significa Como cm3 de solo =


cm3 de volume de H2O cm2 de área de solo x
por cm3 de volume de cm de profundidade do
solo... solo...

A resultante é cm de Lâmina de
Água Armazenada no solo para
cada 1 cm de profundidade do
solo
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Disponibilidade Total de Água no Solo (DTA)

Como o maior interesse é na Lâmina em milímetros, tem-se que adotar o fator de conversão
10 mm/cm. Logo, para termos DTA em mm/cm a partir de Ɵ em cm3/cm3:

Adequando a equação, temos:

em que:
DTA em mm/cm
Ɵ em cm3/cm3
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Disponibilidade Real de Água no Solo (DRA)

Em Irrigação não se pode deixar a umidade do solo cair para valores próximos da PMP.

Apesar de termos água disponível entre a ƟCC e o ƟPMP, a cultura deve ser manejada com a
umidade oscilando da CC até um ponto crítico (ƟCrítica), que depende da sensibilidade da cultura
ao déficit hídrico.
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Disponibilidade Real de Água no Solo (DRA)

Assim, imputa-se no cálculo do armazenamento útil para a planta o conceito da fração da


disponibilidade total da água no solo que a cultura pode consumir com segurança, de tal forma
que esse esgotamento não gera uma condição estressante capaz de reduzir a produtividade e
qualidade da cultura.

Essa fração da DTA que pode ser consumida é também denominada de fator de reposição ou fator
de depleção (fd) da disponibilidade da água para a cultura.

Depleção = diminuição

Por representar uma fração da DTA, o fator f varia de 0 a 1, em decimais. Ou seja, varia de 0 a
100%, em termos percentuais.
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Qual espécie é mais sensível ao déficit hídrico?


Espécie A, com fator de depleção igual a 0,3.
Espécie B, com fator de depleção igual a 0,6.
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Disponibilidade Real de Água no Solo (DRA)

Se o fator de depleção (fd) se aproxima de 1, significa dizer que a DRA ≈DTA.

Ou seja, a cultura tolera um esgotamento de praticamente toda DTA, chegando a próximo do


ƟPMP, sem prejuízo.

Essa não é uma condição esperada para as culturas de interesse agrícola...


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A fração da umidade que pode ser consumida está entre os limites da ƟCC e da ƟCrítica.

A Ɵcrítica é estabelecida mediante valores previamente conhecidos (Tabelas, Artigos Científicos) do


fator de depleção (fd) ou de tensão crítica da água tolerada pela cultura...

Não se tabela valores de Ɵcrítica porque a umidade é um produto do tipo de solo. E assim, seria
variável entre solos diferentes para uma mesma energia de retenção da água (tensão).
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Faixas de tensão crítica de água no solo em que se deve promover a irrigação para obtenção de
produtividade máxima para algumas hortaliças irrigadas por aspersão
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Faixas de tensão crítica de água no solo em que se deve promover a irrigação para obtenção de
produtividade máxima para algumas hortaliças irrigadas por sulco e gotejamento
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Disponibilidade Real de Água no Solo (DRA)

Os valores recomendados do fator de depleção (fd) também se alteram em função do clima...

Onde deveríamos adotar maior valor de fd, em clima de maior ETC ou clima de menor ETC?
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Qual fração da DTA se pode deixar a cultura


consumir?

Qual o valor do fator f de depleção?


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Fator de reposição de água ao solo (fr = fd) para hortaliças e fruteiras irrigadas por aspersão e
sulco, para ETc1 ≈ 5 mm dia-1
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Fator de reposição de água ao solo (fr = fd) para hortaliças e fruteiras irrigadas por aspersão e
sulco, para ETc ≈ 5 mm dia-1
Fator de depleção da água ao solo (fd) para diferentes grupos de cultura sob diferentes demandas
atmosféricas:

Grupo de Evapotranspiração máxima – ETm (mm dia-1)


culturas 2 3 4 5 6 7 8 9 10

1 0,50 0,42 0,35 0,30 0,25 0,22 0,22 0,20 0,18


2 0,68 0,56 0,48 0,40 0,35 0,32 0,28 0,25 0,22
3 0,80 0,70 0,60 0,50 0,45 0,42 0,38 0,35 0,30
4 0,88 0,80 0,70 0,60 0,55 0,50 0,45 0,42 0,40

Grupo 1: cebola, arroz, alho, folhosas


Grupo 2: feijão, trigo, ervilha
Grupo 3: milho, girassol, tomate, batata
Grupo 4: algodão, amendoim, sorgo, soja, cana-de-açúcar
Expressando graficamente o solo como reservatório de água, represente o significado
de um fd = 0,25 para uma determinada cultura.

Qual cultura é mais sensível, uma cultivar de cebola com fd = 0,30 ou uma cultivar de
amendoim com fd = 0,60?

Em qual região se deve adotar um fd menor, numa com demanda atmosférica de 4


mm/dia ou em outra cuja demanda é de 7 mm/dia. Justifique sua resposta.
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Disponibilidade Real de Água no Solo (DRA)

Transformando a teoria em equação matemática:

em que:
DRA em mm/cm
Ɵ em cm3/cm3
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Disponibilidade Real de Água no Solo (DRA)

Conhecendo os valores de fd é possível estimar o valor da Ɵcrítica. E vice-versa.

em que:
f em decimal
Ɵ em cm3/cm3

 Conhecendo o valor da tensão crítica (Ψcrítica), é possível obter o valor da Ɵcrítica


diretamente na equação da curva caraterística de retenção da água no solo.

em que:
Ɵ em cm3/cm3
Ψm em kPa
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Disponibilidade Real de Água no Solo (DRA)

Conhecendo os valores de fd é possível estimar o valor da Ɵcrítica. E vice-versa...

Isso se baseia na igualdade: DRA (pela eq.1) = DRA (pela eq.2)


Mas, será que DRA = DRA?

Alerta: Para uma cultura que na literatura se tem disponível valores de fd e tensão crítica (Ɵcrítica),
é comum se observar que esses valores não são perfeitamente correspondentes quando se usa a
igualdade anterior.

O que explica? Esses valores são oriundos de pesquisas com cultivares diferentes, condições
edafoclimáticas diferentes, diferentes sistemas de produção...

O que fazer? O valor mais indicado seria aquele obtido em condições mais próximas das que será
usada no projeto.
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Tanto a DTA quanto a DRA representam o armazenamento unitário da água no solo.


Vejam que suas unidades usuais são mm/cm.

Ou seja, DTA e DRA representam o quanto se armazena de lâmina de água para cada 1 unidade
de profundidade do solo.

Mas, em Irrigação e Drenagem, o que interessa é a Lâmina a ser fornecida ou a Lâmina a ser
retirada em uma dada profundidade de interesse, que normalmente é a Profundidade Efetiva do
Sistema Radicular (Zefetiva).

Assim, evoluímos os conceitos de Disponibilidade de Água (armazenamento unitário) para os


conceitos de Capacidade de Água (armazenamento integrado em uma dada profundidade)...
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Capacidade Total de Água no Solo


A CTA de um solo diz respeito a toda água armazenada no solo entre os limites da CC e do PMP,
considerando a profundidade efetiva do sistema radicular da cultura.

Portanto:
em que:
CTA em mm
Z em cm
Ɵ em cm3/cm3

Observe que a CTA assim definida remete à dedução prévia:


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Capacidade Total de Água no Solo

Por mais profundo que seja o solo, obviamente só se irriga até a profundidade ocupada pelas
raízes...

Por outro lado, não se irriga até a profundidade máxima alcançada pelas raízes.

Daí surge o conceito da Profundidade Efetiva do Sistema Radicular (Z efetiva), que é a


profundidade do solo que acumula uma concentração de cerca de 80 % das raízes ativas da
cultura.
Obviamente, isso faz com que o sistema de irrigação fique menos seguro. Por outro lado,
torna-o mais barato (Lâmina aplicada é menor).

Além disso, mantendo irrigados os 80% do sistema radicular não se cria deficiência no
suprimento de água para as plantas, pois:
Raízes tenderão a se concentrar na Z efetiva
Mesmo que haja 20% das raízes realmente fora da Z efetiva, a planta mantém sua
transpiração próxima do potencial
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Capacidade Total de Água no Solo

Ou seja, por mais que as raízes de uma dada cultivar de


milho possam atingir 120 cm de profundidade de um dado
solo, só se deve irrigar até uma profundidade que
concentra 80% dessas raízes.

Essa profundidade efetiva das raízes é indicada para a


cultura do milho em cerca de 40 a 70 cm.

https://rehagro.com.br/blog/raizes-de-milho-ate-qual-profundidade/
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Milho

Soja

https://www.pioneer.com/us/agronomy/staging_corn_growth.html

https://blog.aegro.com.br/dessecacao-de-soja-para-colheita/
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Valores de profundidade efetiva do sistema radicular (Zr = Z efetiva) durante o estádio e


máxima cobertura do solo
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Valores de profundidade efetiva do sistema radicular (Zr = Z efetiva) durante o estádio e


máxima cobertura do solo
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0-20
cm

20-40
cm
Z efetiva = 38 cm
40-60
cm

60-80 Z total = 62 cm
cm

80-100 Nunca cometa esse erro!!!


cm

100-120 Z efetiva é diferente de 80% da Z total


cm

0,80 x 62 cm = 0,496 cm
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Profundidade Efetiva das Raízes x Perda por Percolação Profunda

Em Irrigação, quando se tem lâmina de água abaixo da Z efetiva,


considera-se que essa lâmina é perdida por Percolação Profunda.

Ou seja, mesmo que toda a água que transita abaixo da Z efetiva


fique dentro do limite máximo da profundidade das raízes,
considera-se perda.

Portanto, Perda por Percolação Profunda pode ser entendido como


um conceito questionável. Isso porque na realidade a água
percolada abaixo da Z efetiva pode ser absorvida pelos 20% das
raízes encontradas abaixo da Z efetiva.

Então, por que se considera Perda de Água?

http://vtpro3.tecnologiasvtpro.com.br/
FiquePorDentroView.aspx?id=33&page=5
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Então, por que se considera Perda de Água?


Ao se impor que a Lâmina drenada abaixo da Z efetiva é Lâmina Perdida por Percolação Profunda,
fica implícito um limite para a qualidade da irrigação.

Um único evento de irrigação que gera perda por percolação até a Z total não macula a qualidade
da irrigação. De fato, ao longo do ciclo os 20% de raízes naquela zona podem aproveitar essa água.

Por outro lado, repetidos eventos que


geram individualmente perdas por
percolação tendem a:

produzir umidade elevada incapaz de ser


aproveitada pelo pouco volume de raízes

promover ϴatual > ϴcc, gerando lâminas


que percolarão da Z efetiva para a Z total e
dessa para o lençol freático
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Lâmina percolada abaixo da Z efetiva como oportunidade?

Ao planejar alguma lâmina percolada abaixo da Z efetiva, pode-se criar condições para aumento
da própria profundidade efetiva.

Nesse caso, aumenta-se a CTA.

Isso pode ser interpretado de diferentes formas:


Para atender a CTA, a lâmina de irrigação será maior que aquela com Z efetiva (altera a hidráulica).
Com um reservatório maior no solo, diminui-se a frequência de irrigação.
A cultura aproveitará melhor as chuvas que penetrarem além da Z efetiva.
Se a Irrigação for de Salvação, usar Z efetiva maior produzirá raízes mais aprofundadas (‘vacina’) e
adaptadas às estiagens e veranicos.

Obviamente, esse aumento da alocação de água além da Z efetiva pressupõe Planejamento.

Não é uma atenuação para a Baixa Qualidade da Irrigação (descontrole/desconhecimento/falta de


monitoramento/falta de intervenção).
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Capacidade Real de Água no Solo

A Capacidade Real de Água no Solo diz respeito ao armazenamento útil de água na camada de
interesse (Z efetiva) que pode ser efetivamente usado para planta, sem risco de esgotamento
excessivo e, portanto, sem risco de vulnerabilidade ao estresse hídrico.

ou

em que:
CRA em mm
Z em cm
f em decimal
Ɵ em cm3/cm3
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Capacidade Real de Água no Solo

Para sistemas que aplicam água de forma localizada, a CRA deve ser corrigida pela fração de área
molhada (fW).

Assim:

em que:
CRA em mm
fw em decimal
Z em cm
f em decimal Observe que a CTA assim definida
Ɵ em cm3/cm3 remete à dedução prévia:
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Esse sistema é o de Microaspersão, do


método da Irrigação Localizada.

Observe que parte significativa da


área cultivada não é molhada pelo
sistema.

A aplicação de água é localizada.

Deve-se usar a fração de área


molhada (fW) para ajustar a CRA do
solo.
http://thealmonddoctor.com/2010/09/28/soil-sampling-and-the-effectiveness-of-leaching/
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Esse sistema é o da Aspersão


Convencional, do Método da
Aspersão.

Observe que toda a área cultivada é


molhada pelo sistema.

A aplicação de água não é localizada.

Logo: fW = 1,0

Não é preciso ajustar a CRA do solo. http://www.sop.rs.gov.br/conteudo/933/sop-busca-parceria-de-empresas-para-


projeto-de-sistemas-irrigados

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