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FÍSICA DO SOLO: Água-solo

INTRODUÇÃO, Conceitos

Robson Bonomo – UFES/CEUNES


Eng. Agrônomo, D.S. Irrigação e Drenagem
1 - Conteúdo de água no solo (umidade do solo)

O Solo é constituído de três fases:

✓Sólida  Partículas Minerais + M. O.


✓Líquida  ocupam espaço poroso
✓Gasosa  ocupam espaço poroso

Volume de poros
Porosidade (P) =
Volume aparente do solo (VAS)
1 - Conteúdo de água no solo (umidade do solo)

Valores indicativos de (P):

P  55% P  50% P  45%


Solo argiloso Solo textura média Solo arenoso
1 - Conteúdo de água no solo (umidade do solo)

O Conteúdo de água no solo, ou umidade do solo, pode ser


expresso em massa ou volume:

Ma
Up (umidade gravimetrica, % em peso, massa) = 𝑥100
Mss

Va
Uv (umidade volumetrica, % em volume) = x100
Vas

em que:
Ma = massa de água;
Mss = massa de solo seco (seco a 105 oC por 24 h);
Va = volume de água;
Vas = volume aparente de solo úmido.
1 - Conteúdo de água no solo (umidade do solo)

Recordando que:

Mss (g/cm3)  densidade aparente do solo, ou massa


da = Me = específica do solo, ou densidade do solo.
Vas
da  1,0 a 1,3 (solos argilosos);
da  1,2 a 1,4 (solos arenosos)
Mss
dr = densidade real do solo ou densidade de partículas. Valores
Vr para maioria dos solos em torno de 2,65 g/cm3.
Vr = volume real do solo (somente as partículas).

Va Ma Ma
Disto, Uv =
Vas
=
Mss
=
Mss
da = Up da
da

1 1
Mss ( - )
Vas - Vr da dr = 1 - da
Da mesma forma, P = =
Vas Mss dr
da
1 - Conteúdo de água no solo (umidade do solo)
Em irrigação é muito útil expressar o conteúdo de água do solo na forma
de altura de lâmina de água.

✓Se a água contida em um prisma de solo de área (S) e altura (h)


[figura abaixo] fosse retirada deste e acumulada sobre sua superfície,
alcançaria uma altura ha, disto:

Uv = Va/Vas = (S ha)/ (S h) ,
logo, ha = Uv . h

Unidades usuais para representar lâmina


de água:

mm, m3/ha;

sendo: 1 mm = 10 m3/ha = 1 L/m2


1 - Conteúdo de água no solo (retenção de água do solo)

Na retenção de água no solo:

• As forças envolvidas na interação solo-água são as forças de


adsorsão (forças de coesão e de adesão).
• Além destas forças, a água do solo pode ser retida por capilaridade.

➢ A capilaridade atua na retenção de água na região de


baixa sucção (solo úmido);
➢ Na região de alta sucção (solo seco), as forças de
adsorsão passam a dominar o fenômeno de retenção de
água do solo.
1 - Conteúdo de água no solo (retenção de água do solo)

Fatores que afetam a retenção de água no solo:

➢ Matéria orgânica: aumenta a capacidade de retenção de água


do solo diretamente e indiretamente através da melhoria das
condições físicas do solo, devido a sua influência na estrutura do solo;

➢ Estrutura do solo: A retenção de água a baixa sucção depende


do fenômeno de capilaridade e distribuição do tamanho de poros,
sendo grandemente afetada pela estrutura do solo. O manejo
inadequado do solo pode causar compactação do solo com
consequente destruição da estrutura do solo, o que diminuirá a
retenção de água a baixa sucção.
1 - Conteúdo de água no solo (umidade do solo)

Classificação da água no solo segundo o grau de união com as


partículas do solo:

➢Água Higroscópica  Água fortemente fixada pelas partículas


do solo. Não é disponível para as plantas.

➢Água Capilar  Água retida nos poros do solo vencendo a ação


da gravidade. Desta uma parte é mais móvel e disponível para as
plantas, e outra é unida com maior força as partículas do solo.

➢Água Livre ou Gravitacional  É aquela que momentaneamente


chega aos grandes poros do solo, porém são arrastadas pela ação
da gravidade em solos bem drenados.
2 – POTENCIAL DE ÁGUA NO SOLO

Energia da água no solo:

A energia da água em um dado ponto no solo é dada pela


diferença entre este estado e o estado padrão.

Estado padrão:
“água pura e livre, submetida a condições normais de
temperatura e pressão e livre de sais minerais e outros
solutos.”

Para este estado atribui-se arbitrariamente o valor de sua


energia como nulo. Assim:
Uma vez que a água movimenta-se no
solo à baixas velocidades, a
caracterização do seu Estado de Energia
é feita pela sua Energia Potencial
2 – POTENCIAL DE ÁGUA NO SOLO

 No estudo de extração de água do solo é mais importante conhecer a


energia com que a água está retida no solo do que conhecer a umidade do
solo.
 O potencial representa o nível de energia associado a unidade de peso,
de massa, ou de volume.

 O potencial da água no solo representa a energia necessária


para separar uma unidade de peso de água (de massa ou de
volume) da matriz do solo.

Pontos de
maior Pontos de
 Movimento menor
de água: potencial potencial
2 – POTENCIAL DE ÁGUA NO SOLO

 O potencial representa o nível de energia associado a unidade de


peso, de massa, ou de volume.

Unidades: m, J/kg, N/m2 = Pa, ou bar


1 bar = 100 kPa = 100 kN/m2  100 J/kg  1 atm  10 mca

pF é o logaritmo da pressão exercida por uma altura


equivalente (em centímetros) de uma coluna d’água. Ele surgiu
em 1935, por sugestão de Schofield (em analogia com a escala
pH). Sua utilidade está em reduzir a quantidade de números
para representar a tensão (Hillel, 1971).

10 mca = 1000 cmca = pF 3


2 – POTENCIAL DE ÁGUA NO SOLO

Componentes do Potencial Hídrico do Solo:


Referência = água pura e livre
Ti Pi Zi ni i
 T =  − sdT +  − vdP +  − gdz +  − dn +  − d
T0 P0 0 0 0

 i =  T + P + g + os + m
Como os processos que ocorrem no solo são aproximadamente
isotérmicos, a componente térmica é considerada desprezível.

Total Pressão Osmótico

 i =  P + g + os + m
Gravitacional Mátrico
2 – POTENCIAL DE ÁGUA NO SOLO

a) Potencial Gravitacional (g): Corresponde a altura geométrica do


ponto considerado em relação ao plano de referência. A energia
potencial de um peso “W” situado a uma altura “h” sobre o plano de
referência é Ep = W h, portanto a energia por unidade de peso será:
g = W h / W = h (m)
2 – POTENCIAL DE ÁGUA NO SOLO
b) Potencial Matricial (mt):

✓Só existe em condições de solo não saturado e é gerado pelos


mecanismos de retenção de água no solo [forças capilares de atração
entre as moléculas de água entre si (coesão) e com a matriz do solo
(adesão) e forças absorventes associadas ao complexo superficial das
micelas]. Seu valor é sempre negativo.
Quanto mais seco está o solo, menor é o mt e maior será a pressão que
se deverá aplicar para extrair a água do solo.

Forças atrativas entre


cargas da superfície
das partículas a a
molécula dipolar da
água

Quanto mais seco está o


solo, menor é o mt e
maior será a pressão que
se deverá aplicar para
extrair a água do solo.
2 – POTENCIAL DE ÁGUA NO SOLO

c) Potencial de Pressão (p): Só existe em solo saturado e representa a


pressão hidrostática que a água exerce sobre o ponto considerado. Seu
valor é sempre positivo, ou Zero para solo não saturado.
2 – POTENCIAL DE ÁGUA NO SOLO

 O potencial matricial e de pressão são excludentes, disto na prática


se chama de potencial mátrico (m):

Solo Saturado  p > 0; mt = 0  m > 0


m = mt + p
Solo não Saturado  p = 0; mt < 0  m < 0

OBS => Na superfície do lençol freático: p = 0; mt = 0  m = 0

CONCEITO: Tensão de água no solo


✓Com o objetivo de se evitar valores negativos de m em solo não saturados, é comum
se utilizar o conceito de Tensão de Água no Solo, que é o m com o sinal trocado.
2 – POTENCIAL DE ÁGUA NO SOLO
Medição do Potencial Matricial (mt):
2 – POTENCIAL DE ÁGUA NO SOLO

d) Potencial Osmótico (o): Origina-se em consequência das


diferenças de concentração na presença de membranas semipermeáveis,
originando um fluxo no sentido da solução mais concentrada.

No solo as membranas semipermeáveis são, normalmente, as


membranas celulares das raízes. Quando o solo tem um alto teor de sais
a planta tem que realizar um “esforço” maior para absorver a água.
2 – POTENCIAL DE ÁGUA NO SOLO

Para solos não saturados

Potencial Hidráulico (H):

H = m + g
3 – Curvas Características de umidade do solo

Curva de retenção → Relação entre o


potencial matricial e a umidade do solo

Função:

➢ Textura → Solos argilosos retém mais água do que solos arenosos e solos
com argila 2:1 retém mais água do que solos com argila 1:1.

➢ Estrutura do solo (tamanho e número de poros) → A retenção de água a


baixa sucção depende do fenômeno de capilaridade e
distribuição do tamanho de poros, sendo grandemente afetada pela estrutura do
solo.

➢ Matéria orgânica → aumenta a capacidade de retenção de água do solo


diretamente e indiretamente através da melhoria das condições físicas do solo,
devido a sua influência na estrutura do solo.
3 – Curvas Características de umidade do solo

θs= umidade volumétrica de saturação obtida


pelo processo de drenagem;
θ's = umidade volumétrica de saturação obtida
pelo processo de umedecimento;
(θ − θ's ) = conteúdo de ar residual entre os
processos de drenagem e umedecimento;
fase θr = umidade volumétrica residual, no qual o
residual de efeito da sucção para causar uma drenagem
drenagem
adicional da fase líquida diminui e a remoção
da água requer a migração do vapor (TFSA);
Pressão de entrada de ar = representa o
diferencial de pressões entre a água e o ar
necessário para causar a drenagem do maior
Figura – Curva de Retenção típica e principais poro do solo.
componentes (solo siltoso)
3 – Curvas Características de umidade do solo
50.0

45.0

40.0 Média
35.0
Umidade, g/cm3 30.0
Argilosa

25.0 Arenosa
20.0

15.0
10.0

5.0

0.0
0 200 400 600 800 1000 1200 1400
Tensão (kPa)

Modelo de van Genuchten: Arenoso Médio Argiloso


Θr 0,018 0,148 0,057

θs - θr Θs 0,373 1,002 0,445


θ = θr +
1 + (αψ) 
α 0,9081 0,8864 0,015
n m
n 1,5151 2,7554 2,500
m 0,340 0,3029 0,500
3 – Curvas Características de umidade do solo

Metodologia de determinação: Manual Embrapa


Princípio da Placa de Pressão ou Panela de Pressão
(Câmara de pressão de Richards)

A placa porosa interna tem vazios muito pequenos que


permitem, dentro de certos limites, o fluxo de água, porém
não o de ar.

Figura – Esquema básico da Câmara de Richards


3 – Curvas Características de umidade do solo

35,0

30,0
0-20
25,0 20-40
U, % peso
20,0

15,0

10,0

5,0

0,0
0 200 400 600 800 1000 1200 1400
Tensão, kPa

Figura 2 – Curva de retenção de água. Faz. 0-20 20-40


Atalaia, Pinheiros. Solo argila arenosa.
Θr 0,148 0,1250

s - r Θs 1,002 0,0100

 = r +
1 + ( ) 
α 0,8864 0,7798
n m n 2,7554 3,3325
m 0,3029 0,2505
3 – Curvas Características de umidade do solo

35.0

30.0 U 0-20
U 20-40
U (% peso) 25.0

20.0

15.0

10.0

5.0

0.0
0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5
Tensão, pF
pF = log (T, em cmca)

Figura 2 – Curva de retenção de água. Faz. 0-20 20-40


Atalaia, Pinheiros. Solo argila arenosa.
Θr 0,148 0,1250

s - r Θs 1,002 0,0100

 = r +
1 + ( ) 
α 0,8864 0,7798
n m n 2,7554 3,3325
m 0,3029 0,2505
3 – Curvas Características de umidade do solo
Influência da Compactação
3 – Curvas Características de umidade do solo
Influência da Compactação
3 – Curvas Características de umidade do solo
Influência da Compactação

M. S. DIAS JUNIOR & W. T. ESTANISLAUR.


Bras. Ci. Solo, 23:45-51, 1999
3 – Curvas Características de umidade do solo

Existem três métodos de se obter a Curva de Retenção do solo:

➢Por secagem (drenagem): toma-se uma amostra de solo


inicialmente saturada e aplicando-se gradualmente sucções
maiores, fazendo medidas sucessivas de tensão em função de θ;

➢Por molhamento (umedecimento): toma-se uma amostra de


solo inicialmente seca ao ar e permitindo-se seu umedecimento
gradual por redução de tensão.

➢Além destes, pode-se partir de um teor de umidade


intermediário do solo (por exemplo, o teor de umidade natural
da amostra) a partir do qual pode-se aplicar tanto o processo de
drenagem quanto para o umedecimento.
3 – Curvas Características de umidade do solo
Histerese
Histerese, do grego hysteresis (atraso), conforme definição da
Grande Enciclopédia Delta Larousse, é o aparecimento de um
atraso na evolução de um fenômeno físico em relação a outro.

A relação entre m e θ, não é única, dependendo do processo


empregado na sua confecção. Deste modo, a curva oriunda do
processo de secamento é diferente daquela resultante do
processo de umedecimento.
3 – Curvas Características de umidade do solo

Figura 2.19 - Fenômeno de Histerese em Curva de


Retenção do Solo (Reichardt, 1985)
3 – Curvas Características de umidade do solo

A histerese é atribuída a não uniformidade dos poros,


bolhas de ar, contração e expansão durante os
processos de molhamento e secagem do solo.

Na prática, assume-se a curva característica de


secamento para fins de manejo irrigação (Marouelli et
al. (1996)).
3 – Curvas Características de umidade do solo
4 – Intervalo Hídrico Ótimo (IHO)
Intervalo Ótimo do Potencial da Água no Solo (IOP)

O Intervalo Hídrico Ótimo (IHO) é um parâmetro físico do solo que


incorpora limitações ao desenvolvimento das culturas relacionadas:

• à aeração;
• à resistência à penetração das raízes; e
• ao potencial matricial
4 – Intervalo Hídrico Ótimo (IHO)

A quantificação do IHO exige a determinação dos limites Inferiores e


superiores de água disponível às plantas:

Limites inferiores Limites superiores


➢ Umidade no ponto de ➢ Umidade na capacidade de
murcha permanente (pm ) campo (cc )
➢ Umidade que promove ➢ Umidade referente a
resistência à penetração porosidade de aeração (PA )
de raízes (RP )
4 – Intervalo Hídrico Ótimo (IHO)

Portanto, para solos com estrutura ideal para o desenvolvimento das


plantas:
IHO = CTA
Lembrado que:
CTA = Z (cc - pm)

➢ se (RP  pm ) e (PA  CC )  IHO = (PA - RP) Z

O IHO indica o risco de exposição das culturas ao


estresse físico do solo e à magnitude na qual a
condição estrutural restringe o crescimento e
desenvolvimento das plantas.
4 – Intervalo Hídrico Ótimo (IHO)

Intervalo Hídrico Ótimo (IHO) Umidade do solo ()

Intervalo Ótimo do Potencial da Água no Solo (IOP) Potencial da água no


solo ()

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