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ISSN 2318-8014
a) Curso de Medicina Veterinária, Centro Universitário da Serra Gaúcha, Caxias do Sul, RS.
1 INTRODUÇÃO
2 METODOLOGIA
A revisão bibliográfica foi produzida por meio de consultas em materiais científicos, incluindo
artigos científicos e livros, e em ambiente digital, como as plataformas PubMed, Scielo e Google
Acadêmico. A pesquisa dos artigos foi realizada no período de 1 de agosto a 27 de agosto de 2022,
4 CICLO BIOLÓGICO
O ciclo biológico tem como ponto inicial, a eliminação de ovos de L. minor nas fezes de
felídeos silvestres (ex. jaguatirica, lontra), ou seja, dos hospedeiros definitivos (HD). Os ovos no
ambiente passam por segmentação, ocorrendo a formação de L1 e L2 no interior do ovo, o qual torna-
se infectante. Os roedores como hospedeiros intermediários (HI), acabam se infectando após a
ingestão de ovos contendo L2 infectante. As larvas ingeridas por sua vez, acabam eclodindo dos ovos
na luz intestinal, atravessam a parede do órgão e atingem o tecido muscular esquelético e subcutâneo,
formando cistos. Posteriormente, o HI parasitado é ingerido pelo HD, que acaba se infectando com a
L3 presente nos cistos. A L3 encistada é liberada no estômago e por meio do esôfago, migra para a
região do pescoço e áreas próximas (tecidos da rino e orofaringe), onde se instala e realiza a muda
para L4. Após ocorrer a maturação sexual, as fêmeas do parasita iniciam a deposição dos ovos na
porção inicial do sistema digestório ou respiratório (MATTOS, 2021).
A presença simultânea de todos os estágios evolutivos do L.minor pode ocorrer no interior
dos cistos, demostrando que o parasita se reproduz durante o encistamento e portanto, ocorre
O Lagochilascaris minor apresenta maior tropismo pela região cervical, podendo envolver
orofaringe, nasofaringe, mastoide e ouvido médio. O agente já foi encontrado parasitando a região
sacral, pulmões e sistema nervoso central e, diferentemente de outros ascarídeos, não parasita o trato
digestivo (PAIXÃO & CAMPOS, 2018). Quando se instala em alguma das regiões citadas,
inicialmente ocorre a formação de lesões de aspecto tumoral, na forma de pseudocisto, nódulo ou
abcesso. Essas lesões apresentam-se não-fistuladas, indolores, e aumentam o seu tamanho de forma
gradual, chegando a medir um diâmetro de 5 a 12 cm. Com o aumento de tamanho, se torna dolorosa
e com bordas indefinidas, podendo apresentar ulceração e/ou fistulação espontânea. Quando há
fistulação, ocorre a eliminação de secreção purulenta ou serossanguinolenta com odor fétido,
contendo todas as formas evolutivas do parasito, caracterizando o processo de autoinfecção, o que
determina a forma crônica da doença. Outras lesões secundárias podem se desenvolver próximas ou
distantes das lesões iniciais, por conta da migração do L. minor pelos tecidos do hospedeiro. Durante
seu processo de migração, o parasito pode fazer osteólise, formando túneis pela liberação de enzimas
proteolíticas que hidrolisam o colágeno da matriz extracelular, e pela evasão dos mecanismos
hemostáticos. Esses mecanismos por sua vez, permitem que o parasito invada, migre e evite as defesas
do sistema imune do hospedeiro. Além disso, são responsáveis pela nutrição e desenvolvimento dos
parasitos (PAIXÃO, 2019).
Em humanos, a lagochilascaríase é caracterizada como uma doença polimórfica, ou seja, se
manifesta sob diversas formas, onde os sinais clínicos específicos podem variar de acordo com a
localização, número das lesões, presença de resposta imune do hospedeiro e ainda pela carga
parasitária. No geral, os sintomas da doença são muito amplos podendo ser relatado febre,
inapetência, perda de peso e adenopatia nas fases iniciais da infecção. Nos estágios de
comprometimento cervical, ocorre o surgimento de nódulos, que crescem de forma gradual e que
normalmente fistulam. Por conta do local de desenvolvimento dos nódulos, sinais clínicos de
amigdalite, sinusite, otite e mastoidite também são relatados. Pode ser observado ainda, a eliminação
das formas evolutivas do parasita, através do ouvido ou por espirros (narinas). Alguns pacientes já
apresentaram cefaleia, tetraparesia, vômitos, rigidez de nuca, convulsões, sinais neurológicos e
podendo evoluir para o óbito. Quando há comprometimento pulmonar ocorre dispneia, febre, cianose
e até mesmo insuficiência respiratória. No entanto, existem pessoas que não sofrem nenhuma
alteração no estado geral de saúde com o parasitismo (SILVA, 2020).
6 DIAGNÓSTICO
7 TRATAMENTO E PROFILAXIA
Por conta da presença das diversas formas evolutivas do L.minor nas lesões, o tratamento é
complexo e prolongado, pois o anti-helmíntico ideal precisa agir nos ovos, larvas e parasitas adultos,
além de impedir a embriogênese. Por este motivo, não há um protocolo terapêutico padronizado. No
geral, são usados em sequência, anti-helmínticos como tiabendazol, dietilcarbamazina, mebendazol
e, por último, levamisol. Quando possível, a remoção cirúrgica das lesões associada ao tratamento
com anti-helmínticos, pode ser uma alternativa para potencializar o tratamento e sua eficácia (SILVA
& CAMPOS, 2018).
Na maioria das vezes, após a administração do levamisol, ocorre a eliminação de centenas de
vermes, permitindo a cicatrização da lesão e até aparente cura clínica. No entanto, é comum a
ocorrência de recidivas, com formação de novas lesões tumorais, as vezes próximas ou distantes da
primeira lesão. Por conta disso, cura total é considerada incomum, visto que os fármacos disponíveis
não atuam em todos os estágios evolutivos do parasito. Adicionado a isso, a lagochilascaríase
apresenta um ciclo auto infectante, o que torna a doença crônica. As fases agudas da doença ocorrem
na embriogênese dos ovos e nos demais processos de desenvolvimento do parasito (QUEIROZ-
TELLES & SALVADOR, 2019).
O uso de agentes químicos e físicos em contaminantes biológicos do esgoto doméstico, já foi
considerada uma alternativa para o controle do Lagochilascaris minor. No entanto, os ovos de
helmintos, principalmente os ascarídeos, possuem grande resistência a ação de diversos agentes como
o sulfato de zinco, o formaldeído e o hipoclorito de sódio, que demonstram ineficácia na destruição
dos ovos. O álcool etílico é efetivo apenas na concentração de 99%, o que o torna um agente inviável
pelo alto custo para aplicações diárias e por se tornar diluído nos dejetos. Entre os agentes que
demonstram eficácia está o iodo, o qual inativa enzimas celulares e elimina ovos pré-embrionados.
Em relação aos agentes físicos, tanto o aquecimento, quanto o congelamento são opções eficazes na
temperatura certa (PAIXÃO, 2019).
A melhor medida para prevenir novas infecções pelo Lagochilascaris minor, é a inativação
da sua larva infectante. Para isso, devem ser difundidas orientações alimentares para as populações
quanto ao cozimento de carnes provindas de animais silvestres, principalmente de roedores, a no
mínimo 100°C por 10 minutos ou congelamento a -20°C por 15 dias antes do preparo para o consumo
(PAIXÃO, 2019).
A transmissão da lagochilascaríase está relacionada principalmente a questões econômicas e
sociais, visto que a maioria das pessoas acometidas, possuem poucas condições econômicas, e que,
muitas vezes acabam vivendo em condições precárias. Portanto, a prevenção da lagochilascaríase
deve iniciar com a implementação de medidas governamentais voltadas a melhoria da qualidade de
vida, o que envolve mais empregos, saneamento básico e acesso à educação, além de métodos
educativos voltados a não ingestão de carnes cruas e de animais silvestres (HANSEN, 2019).
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Mesmo sendo uma doença descoberta há vários anos, a lagochilascaríase ainda gera muitas
incertezas sobre seu mecanismo de transmissão, ciclo biológico e possibilidade de tratamento efetivo.
Além disso, apesar do conhecimento a respeito da maior ocorrência em pessoas que residem em áreas
rurais, principalmente na região amazônica, pouco se sabe sobre a situação epidemiológica da doença,
o que torna a lagochilascaríase uma parasitose negligenciada.
Dessa forma, é necessário que sejam realizadas campanhas educacionais para a população e
profissionais de saúde, visando diminuir a ocorrência da doença, aumentar as chances de um
diagnóstico precoce e evitar formas graves da mesma. Além disso, é preciso maior investimento e
incentivo em pesquisas realizadas por instituições de ensino e de saúde, a fim de possibilitar o
desenvolvimento de investigações de campo, programas focados na prevenção e notificação de locais
de maior incidência, entre outras medidas.
9 REFERÊNCIAS
GUIMARAES, V. C., BARBOSA, A. P., CAMARGO, L. A., SIQUEIRA, P. H., FILHO, J. C. S.,
CASTRO, V. L. S., BARBOSA, M. A., CAMPOS, D. M. B. Otomastoidite por Lagochilascaris
minor em criança: relato de caso. Arquivos Internacionais de Otorrinolaringologia, v. 14, n. 3, p.
373-376, 2010.