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X Congresso de Pesquisa e Extensão da FSG

& VIII Salão de Extensão

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ISSN 2318-8014

PRINCIPAIS INFERÊNCIAS SOBRE A LAGOCHILASCARÍASE: UMA ZOONOSE


EMERGENTE DOS ÚLTIMOS TEMPOS
Katiane Carvalho Colomboa, Gabriele Casagrandea, Jaeli Fernanda Maule Girellia, Shirlei
Lazzaria, Aline Kummera, Liziane Bertotti Crippaa, Diane Alves de Limaa*

a) Curso de Medicina Veterinária, Centro Universitário da Serra Gaúcha, Caxias do Sul, RS.

Informações de Submissão Resumo


*Orientador (autor correspondente): A lagochilascaríase é uma zoonose causada por parasitos da
Diane Alves de Lima, endereço: Rua Os classe Nematoda, Família Ascarididae, do gênero
Dezoito do Forte, 2366. Caxias do Sul – RS. Lagochilascaris. Sua ocorrência não é tão comum e o
CEP: 95020-472. conhecimento pela população é muito baixo. Dessa forma,
E-mail: alinekummer@hotmail.com realizou-se uma revisão bibliográfica, por meio de trabalhos
científicos selecionados de plataformas acadêmicas como
Palavras-chave: Parasitose. Nematódeos.
Scielo, Pubmed e Google Acadêmico, com o uso de
Lagochilascaris sp. Felinos silvestres.
indexadores como lagochilascaríase, doenças parasitárias,
parasitas, doenças emergentes, zoonoses. O objetivo deste
trabalho foi reunir os principais aspectos da parasitose,
principalmente sobre as características biológicas do parasita e
da doença causada por ele. A lagochilascaríase é causada pelo
nematódeo Lagochilascaris minor que ocorre principalmente
em países subdesenvolvidos. As infecções já relatadas são em
sua maioria, localizadas na área rural de países com clima
neotropical. A doença cursa com a infecção e o
desenvolvimento de lesões nodulares na região cervical,
orofaringe, nasofaringe, mastoide e ouvido médio. A
sintomatologia clínica é ampla, tornando necessário a
diferenciação de lesões neoplásicas, inflamatórias ou
congênitas. O diagnóstico pode ser complexo, mas exames
laboratoriais e de imagem podem auxiliar no mesmo. O
tratamento acaba sendo prolongado e as vezes não tão efetivos,
pois não existem anti-helmínticos que eliminem o parasita em
todas a suas fases evolutivas, o que torna comum a ocorrência
de recidivas e a consequente cronicidade da doença.
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1 INTRODUÇÃO

Os protozoários e helmintos responsáveis por doenças parasitárias em humanos e animais,


cursam seus ciclos biológicos apresentando estágios de parasitismo e em alguns casos estágios de
vida livre (SILVA, 2016). No entanto, apesar desse comportamento bem definido, do atual
conhecimento disponível e das ações aplicadas para controlar a propagação de parasitoses
(BARRADAS, 1999), as mesmas seguem migrando mundialmente e se modificando de acordo com
o aumento de fatores de risco, como condições de saneamento básico e de higiene precários,
observados principalmente em países em desenvolvimento e o aumento do consumo de carnes cruas,
mal cozidas ou ainda de animais silvestres. Além disso, certas doenças demonstram maior
disseminação em regiões de clima neotropical, pois favorecem o desenvolvimento de vetores
(SILVA, 2020), sendo um exemplo a lagochilascaríase.
A lagochilascaríase é uma parasitose zoonótica que tem como agente etiológico o nematódeo
Lagochilascaris minor (L.minor) (OLIVEIRA, 2020). É uma doença parasitária considerada rara
(OLIVEIRA, 2020) e emergente (GUIMARAES et al., 2010), sendo o Brasil responsável por 80,7%
dos casos relatados no mundo (HANSEN, 2019). Os felídeos silvestres são considerados os
hospedeiros definitivos, enquanto os hospedeiros intermediários são os roedores e, sendo o homem
classificado como hospedeiro acidental (MATTOS, 2021). A principal forma de transmissão, tanto
para os felídeos quanto para o ser humano, é a ingestão de carne de roedores silvestres infectados
(PAIXÃO, 2019). Por conta disso, a maioria dos casos em humanos se restringe a zonas rurais onde
a presença desses animais é maior e o consumo da carne dos mesmos é comum (OLIVEIRA, 2020).
Considerando o potencial da lagochilascaríase como doença parasitária negligenciada, é
necessário a realização de estudos visando ampliar o conhecimento a respeito da doença, tanto pela
comunidade acadêmica quanto pela população em geral, principalmente moradores de áreas rurais.
Visto isso, o objetivo deste trabalho é reunir os principais aspectos dessa parasitose, principalmente
sobre as características biológicas do parasita e da doença causada por ele, visando facilitar o
diagnóstico e possibilitar tratamentos adequados.

2 METODOLOGIA
A revisão bibliográfica foi produzida por meio de consultas em materiais científicos, incluindo
artigos científicos e livros, e em ambiente digital, como as plataformas PubMed, Scielo e Google
Acadêmico. A pesquisa dos artigos foi realizada no período de 1 de agosto a 27 de agosto de 2022,

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utilizando as seguintes palavras chaves em português: lagochilascaríase, doenças parasitárias,


parasitas, doenças emergentes, zoonoses. Não foram utilizados indexadores em inglês. Os critérios
de escolha dos materiais para consulta foram a abordagem de cada estudo, na qual deu-se preferência
a trabalhos que apresentavam resultados sobre a etiologia, epidemiologia, patogenia, sinais clínicos,
diagnóstico, tratamento e prevenção da lagochilascaríase.

3 AGENTE ETIOLÓGICO E EPIDEMIOLOGIA

A lagochilascaríase é causada pelo parasita Lagochilascaris minor, pertencente à subfamília


Ascaridinae, Família Ascarididae, Ordem Ascaroidea e Classe Nematoda (PAIXÃO, 2019; SILVA,
2020). A espécie L. minor é considerada a única do gênero associada ao parasitismo de seres
humanos, cães e gatos. Parasitando outros animais, foram relatadas cinco espécies sendo elas
Lagochilascaris turgida em gambás das espécies Didelphis crassicaudata e Didelphis aurita;
Lagochilascaris major em leões (Felis leo sabakiensis); Lagochilascaris buckleyi em onça (Felis
concolor); Lagochilascaris sprenti em gambá (Didelphis virginiana) e Lagochilascaris
multipapillatum em víbora (Trimeresurus mucrosquamatus) (PAIXÃO, 2019).
A distribuição da parasitose no mundo, se detém na América Latina (OLIVEIRA, 2020)
ocorrendo desde o sul do México até o sul do Brasil (MATTOS, 2021). O Brasil é o país com maior
prevalência da doença, sendo o estado do Pará o detentor da maioria dos casos. Após o registro do
primeiro caso no estado do Pará, houve o relato posterior de 127 casos mundiais. Destes, 98 ocorreram
no Brasil, sendo 61 deles relatados no Pará. A maioria dos casos em humanos, ocorrem naqueles que
residem em áreas rurais e possuem o hábito de ingerir a carne de animais silvestres, como a cutia
(Dasyprocta agouti), paca (Agouti paca), anta (Tapirus terrestres), capivara (Hydrochoerus
hydrochoeris), veado (Mazama americana). Em animais domésticos como cães e gatos, a infecção
ocorre principalmente pela ingestão carcaças de camundongos ou roedores infectados (SILVA, 2020).
Morfologicamente, o L. minor pode ser classificado em quatro estádios larvais, sendo eles:
larvas de 1° estádio (L1) as quais apresentam 300 µm de comprimento e são observáveis no interior
dos ovos após uma semana. As larvas de 2° estádio (L2) possuem 400 µm de comprimento e surgem
após 10 a 15 dias de desenvolvimento, e apresentam tamanho maior que as larvas do 1º estádio. As
larvas do 3° estádio (L3) estarão presentes no interior dos ovos de L. minor, medindo 600 µm de
comprimento, ou ainda encistadas nos tecidos de roedores, medindo 900 µm de comprimento. E por

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último, as larvas de 4° estádio (L4) apresentam entre 4 a 8 mm de comprimento, o maior tamanho de


todos os estádios (SILVA, 2020).
O L.minor pode ser ainda classificado em forma adulta, machos e fêmeas e ovos. A forma
adulta do nematódeo possui morfologia afilada nas extremidades posteriores e tamanho entre 6 a 12
mm de comprimento. Os machos e as fêmeas possuem tamanhos ligeiramente diferentes, sendo a
fêmea maior que o macho (SILVA, 2020), podendo medir quando adulta entre 15,25 - 20,95 mm de
comprimento e o macho, entre 14,44 - 18,48 mm de comprimento. Os ovos podem apresentar formato
esférico ou ovalado, com tamanho entre 63 – 85 µm e sua cobertura externa se apresenta espessa e
irregular. Sobrevivem bem em temperatura ambiente (20°C a 33° C), assim como em temperatura
média de 4°C por até 400 dias. São resistentes ao hipoclorito de sódio e resistem por até 24 horas à
solução de formaldeído e álcool etílico. No entanto, demostram sensibilidade ao lugol, ao
congelamento em temperaturas média de -10°C e ao aquecimento em temperaturas acima de 80°C
por um período de 24 horas. Nos ovos, é possível observar escavações ou reentrâncias que variam de
número conforme a espécie do gênero Lagochilascaris, sendo esta característica um elemento de
diferenciação entre as espécies. Outro aspecto sobre os ovos de L. minor, é a sua morfologia
semelhante aos ovos de Ascaris Lumbricoides, o que torna necessário maior atenção no momento da
identificação e diferenciação dos dois parasitos (SILVA, 2020).

4 CICLO BIOLÓGICO

O ciclo biológico tem como ponto inicial, a eliminação de ovos de L. minor nas fezes de
felídeos silvestres (ex. jaguatirica, lontra), ou seja, dos hospedeiros definitivos (HD). Os ovos no
ambiente passam por segmentação, ocorrendo a formação de L1 e L2 no interior do ovo, o qual torna-
se infectante. Os roedores como hospedeiros intermediários (HI), acabam se infectando após a
ingestão de ovos contendo L2 infectante. As larvas ingeridas por sua vez, acabam eclodindo dos ovos
na luz intestinal, atravessam a parede do órgão e atingem o tecido muscular esquelético e subcutâneo,
formando cistos. Posteriormente, o HI parasitado é ingerido pelo HD, que acaba se infectando com a
L3 presente nos cistos. A L3 encistada é liberada no estômago e por meio do esôfago, migra para a
região do pescoço e áreas próximas (tecidos da rino e orofaringe), onde se instala e realiza a muda
para L4. Após ocorrer a maturação sexual, as fêmeas do parasita iniciam a deposição dos ovos na
porção inicial do sistema digestório ou respiratório (MATTOS, 2021).
A presença simultânea de todos os estágios evolutivos do L.minor pode ocorrer no interior
dos cistos, demostrando que o parasita se reproduz durante o encistamento e portanto, ocorre

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autoinfecção. Apesar do ciclo biológico do Lagochilascaris minor envolver basicamente animais


silvestres, o cão e o gato doméstico já foram infectados de forma acidental, assim como o homem que
acaba se infectando após ingerir a carne crua ou mal cozida de hospedeiros intermediários silvestres
(capivara, paca, cutia) infectados com larvas L3 encistadas nos músculos, nas vísceras e no tecido
subcutâneo. Por conta disso, neste ciclo, o homem, o cão e o gato são considerados hospedeiros
acidentais (MATTOS, 2021).

5 PATOGENIA E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

O Lagochilascaris minor apresenta maior tropismo pela região cervical, podendo envolver
orofaringe, nasofaringe, mastoide e ouvido médio. O agente já foi encontrado parasitando a região
sacral, pulmões e sistema nervoso central e, diferentemente de outros ascarídeos, não parasita o trato
digestivo (PAIXÃO & CAMPOS, 2018). Quando se instala em alguma das regiões citadas,
inicialmente ocorre a formação de lesões de aspecto tumoral, na forma de pseudocisto, nódulo ou
abcesso. Essas lesões apresentam-se não-fistuladas, indolores, e aumentam o seu tamanho de forma
gradual, chegando a medir um diâmetro de 5 a 12 cm. Com o aumento de tamanho, se torna dolorosa
e com bordas indefinidas, podendo apresentar ulceração e/ou fistulação espontânea. Quando há
fistulação, ocorre a eliminação de secreção purulenta ou serossanguinolenta com odor fétido,
contendo todas as formas evolutivas do parasito, caracterizando o processo de autoinfecção, o que
determina a forma crônica da doença. Outras lesões secundárias podem se desenvolver próximas ou
distantes das lesões iniciais, por conta da migração do L. minor pelos tecidos do hospedeiro. Durante
seu processo de migração, o parasito pode fazer osteólise, formando túneis pela liberação de enzimas
proteolíticas que hidrolisam o colágeno da matriz extracelular, e pela evasão dos mecanismos
hemostáticos. Esses mecanismos por sua vez, permitem que o parasito invada, migre e evite as defesas
do sistema imune do hospedeiro. Além disso, são responsáveis pela nutrição e desenvolvimento dos
parasitos (PAIXÃO, 2019).
Em humanos, a lagochilascaríase é caracterizada como uma doença polimórfica, ou seja, se
manifesta sob diversas formas, onde os sinais clínicos específicos podem variar de acordo com a
localização, número das lesões, presença de resposta imune do hospedeiro e ainda pela carga
parasitária. No geral, os sintomas da doença são muito amplos podendo ser relatado febre,
inapetência, perda de peso e adenopatia nas fases iniciais da infecção. Nos estágios de
comprometimento cervical, ocorre o surgimento de nódulos, que crescem de forma gradual e que
normalmente fistulam. Por conta do local de desenvolvimento dos nódulos, sinais clínicos de

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amigdalite, sinusite, otite e mastoidite também são relatados. Pode ser observado ainda, a eliminação
das formas evolutivas do parasita, através do ouvido ou por espirros (narinas). Alguns pacientes já
apresentaram cefaleia, tetraparesia, vômitos, rigidez de nuca, convulsões, sinais neurológicos e
podendo evoluir para o óbito. Quando há comprometimento pulmonar ocorre dispneia, febre, cianose
e até mesmo insuficiência respiratória. No entanto, existem pessoas que não sofrem nenhuma
alteração no estado geral de saúde com o parasitismo (SILVA, 2020).

6 DIAGNÓSTICO

Em geral, o diagnóstico da lagochilascaríase é realizado de forma tardia, seja pela similaridade


de sinais clínicos com outras enfermidades ou pela busca por tratamento na fase avançada da doença.
É extremamente importante considerar os diagnósticos diferenciais, visto que lesões cervicais são
sinais bastante amplos e devem ser diferenciados de lesões de origem neoplásica, congênita ou
inflamatória. O diagnóstico clínico é fundamentado na avaliação das lesões, para a exclusão do
acometimento de infecções como adenite piogênica, actinomicose, paracoccidioidomicose,
tuberculose ganglionar ou leishmaniose, pois apresentam lesões muito semelhantes as causadas por
L. minor. Em casos de comprometimento do sistema nervoso central, respiratório ou regiões de naso
e orofaringe, o diagnóstico se torna ainda mais desafiador, pois pode não haver a presença de nódulos
cervicais, retroauriculares e mastoideos (SILVA, 2020).
O diagnóstico pode ser realizado através do exame parasitológico das secreções das lesões,
permitindo a identificação macroscópica dos vermes adultos ou microscópica de larvas e ovos. Outra
possibilidade de diagnóstico é o exame parasitológico de fezes (EPF), o qual permite a identificação
dos ovos na presença de fistulações na cavidade nasofaríngea que possibilite a excreção dos ovos
pelas fezes. Além disso, os ovos podem ser obtidos de secreção pulmonar, conduto auditivo, mastoide
e seios paranasais. Outro exame laboratorial que auxilia no diagnóstico, é o exame histopatológico,
realizado a partir da biopsia das lesões. Nesse caso, é possível observar a presença de granuloma
contendo células gigantes com elementos parasitários, os quais correspondem as estruturas dos
vermes adultos, larvas e ovos. Tanto no EPF quanto no exame histopatológico, deve ser realizada a
correta diferenciação do parasita Ascaris lumbricoides (PAIXÃO, 2019).
A utilização de exames de imagem pode ser útil no diagnóstico da lagochilascaríase,
principalmente para a identificação de lesões no sistema nervoso central ou pulmões, além de permitir
a avaliação da extensão das lesões, acompanhamento dessas e também para auxiliar no diagnóstico
diferencial. Dentre esses exames, a radiografia de tórax, pode identificar lesões pulmonares que

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costumam apresentar-se como múltiplas imagens com hipotransparência ou lesões exsudativas em


ambos lodos pulmonares. A tomografia computadorizada do crânio pode demonstrar focos de
hemorragia, imagens nodulares, abcessos e compressão de diferentes locais do sistema nervoso
central. A nasofibroscopia auxilia na detecção dos parasitas instalados na rinofaringe e na entrada da
tuba auditiva (PAIXÃO & CAMPOS, 2018).

7 TRATAMENTO E PROFILAXIA

Por conta da presença das diversas formas evolutivas do L.minor nas lesões, o tratamento é
complexo e prolongado, pois o anti-helmíntico ideal precisa agir nos ovos, larvas e parasitas adultos,
além de impedir a embriogênese. Por este motivo, não há um protocolo terapêutico padronizado. No
geral, são usados em sequência, anti-helmínticos como tiabendazol, dietilcarbamazina, mebendazol
e, por último, levamisol. Quando possível, a remoção cirúrgica das lesões associada ao tratamento
com anti-helmínticos, pode ser uma alternativa para potencializar o tratamento e sua eficácia (SILVA
& CAMPOS, 2018).
Na maioria das vezes, após a administração do levamisol, ocorre a eliminação de centenas de
vermes, permitindo a cicatrização da lesão e até aparente cura clínica. No entanto, é comum a
ocorrência de recidivas, com formação de novas lesões tumorais, as vezes próximas ou distantes da
primeira lesão. Por conta disso, cura total é considerada incomum, visto que os fármacos disponíveis
não atuam em todos os estágios evolutivos do parasito. Adicionado a isso, a lagochilascaríase
apresenta um ciclo auto infectante, o que torna a doença crônica. As fases agudas da doença ocorrem
na embriogênese dos ovos e nos demais processos de desenvolvimento do parasito (QUEIROZ-
TELLES & SALVADOR, 2019).
O uso de agentes químicos e físicos em contaminantes biológicos do esgoto doméstico, já foi
considerada uma alternativa para o controle do Lagochilascaris minor. No entanto, os ovos de
helmintos, principalmente os ascarídeos, possuem grande resistência a ação de diversos agentes como
o sulfato de zinco, o formaldeído e o hipoclorito de sódio, que demonstram ineficácia na destruição
dos ovos. O álcool etílico é efetivo apenas na concentração de 99%, o que o torna um agente inviável
pelo alto custo para aplicações diárias e por se tornar diluído nos dejetos. Entre os agentes que
demonstram eficácia está o iodo, o qual inativa enzimas celulares e elimina ovos pré-embrionados.
Em relação aos agentes físicos, tanto o aquecimento, quanto o congelamento são opções eficazes na
temperatura certa (PAIXÃO, 2019).

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A melhor medida para prevenir novas infecções pelo Lagochilascaris minor, é a inativação
da sua larva infectante. Para isso, devem ser difundidas orientações alimentares para as populações
quanto ao cozimento de carnes provindas de animais silvestres, principalmente de roedores, a no
mínimo 100°C por 10 minutos ou congelamento a -20°C por 15 dias antes do preparo para o consumo
(PAIXÃO, 2019).
A transmissão da lagochilascaríase está relacionada principalmente a questões econômicas e
sociais, visto que a maioria das pessoas acometidas, possuem poucas condições econômicas, e que,
muitas vezes acabam vivendo em condições precárias. Portanto, a prevenção da lagochilascaríase
deve iniciar com a implementação de medidas governamentais voltadas a melhoria da qualidade de
vida, o que envolve mais empregos, saneamento básico e acesso à educação, além de métodos
educativos voltados a não ingestão de carnes cruas e de animais silvestres (HANSEN, 2019).

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mesmo sendo uma doença descoberta há vários anos, a lagochilascaríase ainda gera muitas
incertezas sobre seu mecanismo de transmissão, ciclo biológico e possibilidade de tratamento efetivo.
Além disso, apesar do conhecimento a respeito da maior ocorrência em pessoas que residem em áreas
rurais, principalmente na região amazônica, pouco se sabe sobre a situação epidemiológica da doença,
o que torna a lagochilascaríase uma parasitose negligenciada.
Dessa forma, é necessário que sejam realizadas campanhas educacionais para a população e
profissionais de saúde, visando diminuir a ocorrência da doença, aumentar as chances de um
diagnóstico precoce e evitar formas graves da mesma. Além disso, é preciso maior investimento e
incentivo em pesquisas realizadas por instituições de ensino e de saúde, a fim de possibilitar o
desenvolvimento de investigações de campo, programas focados na prevenção e notificação de locais
de maior incidência, entre outras medidas.

9 REFERÊNCIAS

BARRADAS, R. C. B. O desafio das doenças emergentes e a revalorização da epidemiologia


descritiva. Informe Epidemiológico do SUS, v. 8, n. 1, p. 7-15, 1999.

GUIMARAES, V. C., BARBOSA, A. P., CAMARGO, L. A., SIQUEIRA, P. H., FILHO, J. C. S.,
CASTRO, V. L. S., BARBOSA, M. A., CAMPOS, D. M. B. Otomastoidite por Lagochilascaris
minor em criança: relato de caso. Arquivos Internacionais de Otorrinolaringologia, v. 14, n. 3, p.
373-376, 2010.

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MATTOS, M. J. T. D. Helmintoses de felinos domésticos. 1 ed. Porto Alegre: UFRGS, 2021.

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relação da doença com aspectos sociais e naturais da Amazônia. Hygeia: Revista Brasileira de
Geografia Médica e da Saúde, v. 17, n. 1, p. 1 - 13, 2021.

PAIXÃO, T. F. LAGOCHILASCARÍASE HUMANA: fatores bióticos e abióticos envolvidos


na transmissão da lagochilascaríase humana na região neotropical. Anápolis:
UniEVANGÉLICA, 2019. Dissertação (Pós-Graduação em Sociedade, Tecnologia e Meio
Ambiente), Centro Universitário de Anápolis, 2019.

PAIXÃO, T. F. P., CAMPOS, D. M. B. Lagochilascaríase: inferências sobre a doença. CIPEEX, v.


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em laboratório por 31 anos. Anápolis: UniEVANGÉLICA, 2020. Dissertação (Pós-graduação em
Sociedade Tecnologia e Meio Ambiente), Centro Universitário de Anápolis, 2020.

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