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Secretaria Estadual de Saúde de Mato Grosso

Superintendência de Vigilância em Saúde


Coordenadoria de Vigilância em Saúde Ambiental
Gerência de Vigilância de Vetores e Antropozoonoses

Manual de Vigilância
e Controle das
Leishmanioses
GOVERNO DO ESTADO DE MATO GROSSO
SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE
SUPERINTENDÊNCIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE AMBIENTAL
COORDENADORIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE AMBIENTAL
GERÊNCIA DE VIGILÂNCIA DE VETORES E ANTROPOZOONOSES

Governador:
Blairo Borges Maggi
Secretario de Saúde:
Augustinho Moro
Secretário Adjunto de Saúde:
Victor Rodrigues
Superintendente de Vigilância em Saúde:
Maria Conceição da Encarnação Villa
Assessor Especial de Vigilância em Saúde:
Benedito Oscar de Campos
Coordenador de Vigilância em Saúde Ambiental:
Oberdan Ferreira Coutinho Lira
Gerente de Vigilância de Vetores e Antropozoonoses:
Marlene da Costa Barros

Elaboradores:
Patrícia Lazari
Manual de Vigilância e Controle
das Leishmanioses.

Cuiabá / 2007.
SUMÁRIO:
APRESENTAÇÃO:
INTRODUÇÃO:
Leishmaniose:

1. - Definição:

As leishmanioses são doenças infecciosas, causadas por protozoários do


gênero Leishmania, que podem afetar o homem e animais silvestres e
domésticos, principalmente o cão. São classificadas como antropozoonoses e
representam um complexo de doenças com importante espectro clínico e
diversidade epidemiológica, sendo consideradas um grande problema de
saúde pública. Atualmente encontram-se entre as seis endemias
consideradas prioritárias no mundo.
A Organização Mundial de Saúde (OMS), estima que 350 milhões de pessoas
estejam expostas ao risco com registro aproximado de dois milhões de novos
casos das diferentes formas clínicas ao ano.
No Brasil, as leishmanioses apresentam-se como duas doenças distintas: a
Leishmaniose Visceral (LV), também conhecida por Calazar,
2.- Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA):

A Leishmaniose Tegumentar Americana é uma doença infecciosa, não


contagiosa, causada por diferentes espécies de protozoários do gênero
Leishmania, que acomete pele e mucosas. Primariamente, é uma infecção
zoonótica, afetando outros animais que não o ser humano, o qual pode ser
envolvido secundariamente.
A LTA tem ampla distribuição mundial e no Continente Americano há registro de
casos desde o extremo sul dos Estados Unidos até o norte da Argentina, com
exceção do Chile e Uruguai. No Brasil, a LTA é uma doença com diversidade de
agentes, de reservatórios e de vetores que apresenta diferentes padrões de
transmissão e um conhecimento ainda limitado sobre alguns aspectos, o que a
torna de difícil controle.

2.1.- Epidemiologia:

A LTA constitui um problema de saúde pública em 88 países, distribuídos em


quatro continentes (Américas, Europa, África e Ásia), com registro anual de 1 a 1,5
milhões de casos. É considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS),
como uma das seis mais importantes doenças infecciosas, pelo seu alto
coeficiente de detecção e capacidade de produzir deformidades.
No Brasil, a LTA é uma das afecções dermatológicas que merece mais atenção,
devido à sua magnitude, assim como pelo risco de ocorrência de deformidades
que pode produzir no ser humano e sua incidência tem aumentado, nos últimos 20
anos, em praticamente todos os Estados.
Surtos epidêmicos têm ocorrido nas regiões Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e,
mais recentemente, na região Amazônica, relacionados ao processo predatório
de colonização. Nos últimos anos, o Ministério da Saúde registrou média anual de
35 mil novos casos de LTA no país.
A LTA ocorre em ambos os sexos e todas as faixas etárias, entretanto na média do
país, predomina os maiores de 10 anos, representando 90% dos casos e o sexo
masculino, 74%.
Atualmente, pode-se dizer que, no Brasil, a LTA apresenta três padrões epidemiológicos
característicos:
a) Silvestre – Neste padrão, a transmissão ocorre em área de vegetação primária e é,
fundamentalmente uma zoonose de animais silvestres, que pode acometer o ser
humano quando este entra em contato com o ambiente silvestre, onde esteja ocorrendo
enzootia.
b) Ocupacional e Lazer – Este padrão de transmissão está associado à exploração
desordenada da floresta e derrubada de matas para construção de estradas, usinas
hidrelétricas, instalação de povoados, extração de madeira, desenvolvimento de
atividades agropecuárias, de treinamentos militares e ecoturismo.
c) Rural e periurbano em áreas de colonização – Este padrão está relacionado ao
processo migratório, ocupação de encostas e aglomerados em centros urbanos
associados a matas secundárias ou residuais.
2.2- Agente Etiológico:

A LTA é uma doença causada pelo protozoário do gênero Leishmania,


pertencente à família Trypanosomatidae, parasito intracelular obrigatório das
células do sistema fagocítico mononuclear, com duas formas principais: uma
flagelada ou promastigota, encontrada no tubo digestivo do inseto vetor, e outra
aflagelada ou amastigota, observada nos tecidos dos hospedeiros vertebrados.
Leishmania - Forma flagelada ou promastigota. Leishmania - Forma aflagelada ou amastigota.

Fonte:http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/manual_lta Fonte:http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/manual
_2ed.pdf _lta_2ed.pdf

No Brasil já foram identificadas sete espécies, sendo seis do subgênero Viannia e


uma do subgênero Leishmania. As três principais espécies são: L. (V.) braziliensis,
L.(V.) guyanensis e L.(L.) amazonensis e, mais recentemente, as espécies L. (V.)
lainsoni, L. (V.) naiffi , L. (V.) lindenberg e L. (V.) shawi foram identifi cadas em
estados das regiões Norte e Nordeste.
A distribuição das principais espécies de Leishmania responsáveis pela transmissão
da LTA no Brasil está escrita no mapa a seguir:
Distribuição de espécies de Leishmania responsáveis pela transmissão
da leishmaniose tegumentar americana, Brasil – 2005.

Fonte:SVS/MS/http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pd
f/manual_lta_2ed.pdf
2.3 - Vetor:

Os vetores da LTA são dípteros da família Psychodidae denominados


flebotomíneos, também conhecidos como: Cangalha, Cangalhinha,
mosquito-palha, birigui e tatuíra. São pequenos, coberto de pêlos e de
coloração clara (cor de palha ou castanho claro). Vivem, preferencialmente,
ao nível do solo, próximos a vegetação em raízes e/ou troncos de árvores,
podendo ser encontrados em tocas de animais. Gostam de lugares com
pouca luz, úmidos, sem vento e que tenham alimento por perto.
De um modo geral, para seu desenvolvimento requer temperaturas entre 20º
e 30ºC, umidade superior a 80% e matéria orgânica.
Ambos os sexos necessitam de carboidratos, que são extraídos da seiva de
plantas como fonte energética. As fêmeas precisam ingerir sangue para o
desenvolvimento dos ovos. Costumam picar a partir do por do sol até a
madrugada.
Das 700 espécies de flebotomíneos conhecidas no mundo, 400 ocorrem no
continente americano. No Brasil, as principais espécies envolvidas na
transmissão da LTA são: Lutzomyia flaviscutellata, L. whitmani, L. umbratilis, L.
intermedia, L. wellcome e L. migonei. Estas espécies de flebotomíneos foram
definidas como vetoras por atenderem aos critérios que atribuem a uma
espécie a competência vetorial.

Fonte:http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/manual_lta_2ed.pdf
2.4 - Hospedeiros e Reservatórios:

Os reservatórios variam conforme a espécie de leishmânia e seus principais


hospedeiros naturais são a preguiça, o tamanduá, marsupiais e roedores. É
freqüente o encontro de várias espécies domésticas, como o cão, eqüinos,
mulas, e roedores domésticos ou sinantrópicos, albergando a Leishmania
brasiliensis.
São numerosos os registros de infecção em animais domésticos. Entretanto,
não há evidências científicas que comprovem o papel destes animais como
reservatórios das espécies de leishmânias, sendo considerados hospedeiros
acidentais da doença.

Fonte:http://www.achetudoeregiao.com.b Fonte:http://www.canico- Fonte:http://www.mgrande.com/weblog/i


r/ANIMAIS/gif_animal/cao_policial.jpg online.com/NATAL2005/gato.jpg mages/partosdepandora/cavalo.jpg

Fonte:http://www.ambienteemfoco.com.br/wp- Fonte:http://www.taiko.org.nz/rat1.jpg
content/uploads/fauna/Canideos/cachorro_do_ma
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2.5 Modo de transmissão:

O modo de transmissão é através da picada de insetos transmissores


infectados. Não há transmissão de pessoa a pessoa.

2.6 Período de incubação:

O período de incubação da doença no ser humano é, em média, de dois a três


meses, podendo variar de duas semanas a dois anos.
2.7 - Ciclo de Transmissão:
Os ciclos de transmissão da LTA variam de acordo com a região geográfica,
envolvendo uma diversidade de espécies de parasito, vetores, reservatórios e
hospedeiros.
Ciclo de transmissão da Leishmania (Viannia) braziliensis entre
Lutzomyia wellcomei e roedores silvestres na Amazônia brasileira.

Fonte: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/manual_lta_2ed.pdf

2.8 - Quadro Clínico:

2.8.1 - Humanos:
Classicamente a doença se manifesta sob duas formas: Leishmaniose Cutânea
e Leishmaniose Mucosa, esta última também conhecida como mucocutânea,
que podem apresentar diferentes manifestações clínicas.
A Leishmaniose Cutânea apresenta-se sob as seguintes formas clínicas:
Forma cutânea localizada: representa o acometimento primário da pele. A lesão
é geralmente do tipo úlcera, com tendência à cura espontânea e
apresentando boa resposta ao tratamento, podendo ser única ou múltipla (até
20 lesões).
Forma cutânea disseminada:Esta forma de apresentação é caracterizada pelo
aparecimento de múltiplas lesões papulares e de aparência acneiforme que
acometem vários segmentos corporais, envolvendo com freqüência a face e o
tronco. O número de lesões pode alcançar as centenas.
Outros aspectos a serem destacados nesta forma clínica são: o acometimento
mucoso concomitante, que tem sido observado, em até 30% dos pacientes e as
manifestações sistêmicas, como febre, mal-estar geral, dores musculares,
emagrecimento, anorexia, entre outros.

2.8.2 - Cães:
A LTA é caracterizada, geralmente, pela presença de úlcera cutânea única ou
em pequeno número; com bordas elevadas, em moldura; e com ausência de
dor local. ----As lesões estão localizadas mais comumente nas orelhas, focinho ou
bolsa escrotal. No entanto, deve-se estar atento a outras doenças que causem
úlceras, tais como neoplasias, piodermites e micoses.
3. - Leishmaniose Visceral (LV):

A leishmaniose visceral (LV) é uma infecção zoonótica que afeta animais e o ser
humano, causada por protozoário do gênero Leishmania sp e transmitida por
várias espécies de insetos vetores conhecidos como flebotomíneos. É uma das
seis doenças endêmicas mais importantes no mundo (Alencar et al. 1991), dada
a sua incidência, alta mortalidade em indivíduos não tratados e crianças
desnutridas e emergente em indivíduos portadores da infecção por HIV.
Tem ampla distribuição geográfica, ocorrendo na Ásia, na Europa, no Oriente
Médio, na África e nas Américas, onde também é denominada de Calazar.

3.1 - Epidemiologia:

No Brasil, a LV inicialmente tinha um caráter eminentemente rural e, mais


recentemente, vem se expandindo para as áreas urbanas de médio e grande
porte, sendo também conhecida por: Calazar, barriga d'água, entre outras
denominações menos conhecidas.
No Brasil, a LV apresenta aspectos geográficos, climáticos e sociais
diferenciados, em função da sua ampla distribuição geográfica, envolvendo as
regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste.
O ambiente característico e propício à ocorrência da LV é aquele de baixo nível
socioeconômico, pobreza, promiscuidade, prevalente em grande medida no
meio rural e na periferia das grandes cidades. Entretanto, estas características
vem se modificando, principalmente, nos estados das regiões Sudeste e Centro-
Oeste, onde a LV se encontra urbanizada.

Distribuição de casos autóctones de Leishmaniose Visceral


segundo município, Brasil 2002

Fonte: SINAN- COVEV/


CGDT/DEVEP/SVS/MS/http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/manu
al_leish_visceral2006.pdf
3.2 - Agente Etiológico:

O agente etiológico da LV é um protozoário da família Tripanossomatidae,


gênero Leishmania, que apresenta duas formas: uma flagelada ou
promastigota, encontrada no tubo digestivo do inseto vetor e outra
flagelada ou amastigota, que é intracelular obrigatória, sendo
encontrada nas células do sistema fagocítico mononuclear do
hospedeiro vertebrado.
No Novo Mundo, a Leishmania (Leishmania) chagasi é a espécie
comumente isolada em pacientes com LV.

3.3 - Vetor:

Fêmea de Flebotomíneo adulto, engurgitada

Fonte:http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/manual_lei
sh_visceral2006.pdf
3.8 - Quadro Clínico:

3.8.1 - Humanos:
Caracteriza-se por um amplo espectro clínico, e pode ser dividida em três formas
clínicas distintas:
Forma assintomática: As infecções inaparentes ou assintomáticas são aquelas
em que não há evidência de manifestações clínicas. São aquelas vistas em
pacientes provenientes de áreas endêmicas, onde há evidência
epidemiológica e imunológica da infecção.
Forma oligossintomática: Caracteriza-se pela presença de alguns sintomas da
doença tais como: febre, hepatomegalia, diarréia e anemia discreta. Esses
sintomas podem evoluir para a cura espontânea ou para doença plenamente
manifesta em cerca de dois a 15 meses.
Forma clássica: É a doença plenamente manifesta. Os sinais são bastante
exacerbados, caracterizados por hepatoesplenomegalia volumosa, febre e
comprometimento do estado geral, perda de peso progressiva, anorexia e
astenia. Por se caracterizar por uma progressiva alteração do estado geral, pode
se complicar se não tratada e levar o paciente a óbito.

3.8.2 - Cães:
A doença no cão é de evolução lenta e início insidioso. A leishmaniose visceral
canina é uma doença sistêmica severa cuja manifestações clínicas estão
intrinsecamente dependentes do tipo de resposta imunológica expressa pelo
animal infectado. O quadro clínico dos cães infectados apresenta um espectro
de características clínicas que varia do aparente estado sadio a um severo
estágio final.
Em cães suscetíveis, após a infecção da pele, ocorre a disseminação do parasita
por todo o organismo com posterior desenvolvimento dos sintomas. Geralmente
no cão essa doença é sistêmica e crônica, porém a evolução aguda e grave
pode levar o animal a óbito em poucas semanas.
A classificação segundo os sinais clínicos apresentados nesses animais pode ser
verificada conforme demonstrado a seguir:
Forma assintomática: ausência de sinais clínicos sugestivos da infecção por
Leishmania.
Forma oligossintomática: presença de adenopatia linfóide, pequena perda de
peso e pêlo opaco.
Forma sintomática: todos ou alguns sinais mais comuns da doença como as
alterações cutâneas (alopecia, eczema furfuráceo, úlceras, hiperqueratose),
onicogrifose, emagrecimento, ceratoconjuntivite e paresia dos membros
posteriores.
3.4 - Hospedeiros e Reservatórios:
Na área urbana, o cão é a principal fonte de infecção. A enzootia canina
tem precedido a ocorrência de casos humanos e a infecção em cães tem
sido mais
prevalente do que no homem. No ambiente silvestre, os reservatórios são
as raposas e os marsupiais.

3.5 - Modo de transmissão:


A transmissão se dá da picada dos vetores - L. longipalpis ou
L. cruzi – infectados pela Leishmania (L.) chagasi.
Não ocorre transmissão direta da LV de pessoa a pessoa.

3.6 - Período de incubação:


O período de incubação é bastante variável tanto para o homem como
para o cão:
- No homem: 10 dias a 24 meses, com média entre 2 a 6 meses.
- No cão: bastante variável, de 3 meses a vários anos com média de 3 a 7
meses.

3.7 - Ciclo de Transmissão:

Ciclo de transmissão da Leishmaniose Visceral

Fonte: www.vira-lata.org/doc2.shtml
4. - DIAGNÓSTICO:

4.1 - Diagnóstico Laboratorial:

Diferentes técnicas podem ser utilizadas para o diagnóstico de


leishmaniose humana e canina. Muitos avanços têm ocorrido nos últimos
anos, mas a despeito do grande número de testes disponíveis para o
diagnóstico da LV, nenhum apresenta 100% de sensibilidade e
especificidade.

4.1.1 - Humanos:
Nos casos humanos, o diagnóstico é rotineiramente realizado com base
em parâmetros clínicos e epidemiológicos. Entretanto, um diagnóstico
definitivo requer a demonstração do parasita através de métodos
parasitológicos.

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