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Parasitologia

O foco principal da Parasitologia é identificar e descrever comportamentos parasitários, isto é, visa


estudar o tipo de interação ecológica em que organismos (parasitas ou agentes etiológicos) vivem em
associação com outros seres vivos (hospedeiros), dos quais obtêm as condições ideais para sua
sobrevivência. Os parasitas, no entanto, causam prejuízos (doenças) ao hospedeiro.
Os hospedeiros podem ser de dois tipos:
• hospedeiro definitivo: organismo em que ocorre a reprodução sexuada do parasita, garantindo
a variabilidade genética de seus descendentes;
• hospedeiro intermediário: organismo em que o parasita se reproduz de forma assexuada,
gerando descendentes geneticamente idênticos.
Amebíase
O agente etiológico da amebíase é a espécie Entamoeba histolytica, protozoário que se locomove
pela emissão de pseudópodes. O ciclo biológico desses organismos apresenta dois estágios
diferentes e bem definidos: o trofozoíto e o cisto.
Os trofozoítos são a forma ativa dos protozoários, isto é, capazes de se alimentar e de se reproduzir;
apresentam diferentes formatos e tamanhos. Já os cistos têm formato esférico e diminuto e são
formas de resistência do parasita, isto é, estão protegidos por um revestimento de quitina e
polissacarídeos, que confere rigidez à estrutura e possibilita a sobrevivência em condições inóspitas.
-Transmissão e sintomas

Os sintomas, quando presentes, costumam ser cólica, diarreia e fezes com sangue. Em casos graves,
pode haver problemas hepáticos.
-Tratamento e prevenção
Tanto a amebíase quanto a giardíase contam com o mesmo tipo de tratamento e prevenção. As
medidas profiláticas mais eficientes para se evitar a contaminação por esses protozoários são:
• condições adequadas de saneamento básico;
• higienização dos alimentos – a lavagem cautelosa dos alimentos e a fervura da água evitam
que os cistos se mantenham viáveis;
• higiene pessoal – principalmente lavar as mãos antes das refeições e após usar o banheiro.
Em alguns casos, é recomendável que o indivíduo acometido seja afastado de atividades que
envolvam a manipulação de alimentos.
Toxoplasmose
O agente etiológico dessa parasitose é o protozoário apicomplexo Toxoplasma gondii, que, além de
não apresentar estruturas especializadas de locomoção, é um parasita intracelular obrigatório.
Diferentemente dos protozoários causadores das protozooses apresentadas até agora, o T.
gondii conta com três estágios de vida: taquizoíta, bradizoíta e esporozoíta.
O ciclo de vida facultativamente heteróxeno do protozoário possibilita que os organismos infectados
funcionem como hospedeiros intermediários ou definitivos. Apenas os membros na família Felidae, à
qual pertencem, por exemplo, os gatos domésticos, servem como hospedeiros definitivos do T.
gondii, os quais são eliminados pelas fezes e contaminam o ambiente. Acredita-se que os felinos
sejam contaminados devido ao hábito carnívoro, pois ingerem os cistos do parasita nos tecidos das
presas e atuam como reservatórios da doença.
-Transmissão e sintomas
Veja no esquema a seguir como ocorre a contaminação e quais as etapas do desenvolvimento do
transmissor da toxoplasmose.

Na maioria das vezes, a toxoplasmose é assintomática. Quando presentes, os sintomas incluem


febre, dor de cabeça e dor muscular.
-Tratamento e prevenção
A toxoplasmose, na forma congênita, é mais grave. Caso a infecção ocorra nos primeiros meses de
gestação, o feto pode desenvolver alguma má-formação ou, então, ser abortado. A transmissão
vertical é a forma de transmissão da toxoplasmose entre mãe e feto, que se dá por meio da passagem
de taquizoítos pela placenta. O tratamento para a toxoplasmose é feito com medicamentos
antiparasitários, sob prescrição médica.
Para prevenir a doença, recomenda-se:
• higiene pessoal – lavar bem as mãos antes das refeições e usar luvas em atividades de
jardinagem;
• higiene do ambiente – limpeza diária dos locais usados pelos animais domésticos e remoção
adequada das fezes; gestantes devem
• evitar o contato com as fezes desses animais; evitar a ingestão de carnes cruas ou
malpassadas, pois podem estar contaminadas por cistos ou oocistos.
Doença de Chagas
A doença de Chagas, também conhecida como tripanossomíase americana, é endêmica em 21
países da América Latina e afeta entre 16 e 18 milhões de pessoas nessas regiões. Aproximadamente
100 milhões de indivíduos estão expostos à infecção.
Todos os aspectos da parasitose foram descobertos pelo médico e pesquisador Carlos Chagas, daí o
nome doença de Chagas. Ao descobrir o protozoário flagelado que é o agente etiológico da doença,
Carlos Chagas o nomeou Trypanosoma cruzi, em homenagem ao também médico sanitarista
Oswaldo Cruz.
O T. cruzi apresenta três formas evolutivas bem definidas durante seu ciclo biológico:
• Tripomastigota: forma dotada de um flagelo que se estende por toda a sua estrutura, é
altamente infectante e encontrada na porção posterior do intestino do agente transmissor e
também no sangue de vertebrados infectados.
• Amastigota: estruturalmente arredondada, é a forma encontrada no interior de células de
hospedeiros infectados.
• Epimastigota: estruturalmente, assemelha-se à forma tripomastigota, entretanto só é
encontrada no tubo digestório do agente transmissor.
-Transmissão e sintomas
A doença de Chagas tem como agente transmissor insetos popularmente conhecidos por “barbeiro”
ou “chupança” e, comumente, encontrados nas frestas de casas de pau a pique. Entre os insetos
transmissores, duas espécies são de grande destaque: a Triatoma infestans e a Triatoma brasiliensis,
por causa de sua ampla distribuição, mecanismos eficientes de alimentação e ciclos biológicos
rápidos.
Outros mecanismos de transmissão do T. cruzi já foram identificados, tais como transfusões
sanguíneas, transmissão vertical, acidentes laboratoriais e ingestão de cana-de-açúcar e açaí com
fragmentos de barbeiros contaminados; consequentemente, os protozoários foram liberados nos
produtos.
-Tratamento e prevenção
O tratamento para a doença de Chagas depende da fase em que ocorre o diagnóstico. Não há vacina
para prevenir a contaminação.
Como a transmissão está diretamente relacionada às condições habitacionais, as medidas de
profilaxia mais comuns são:
• conservação das casas – estimular a construção de casas de alvenaria em substituição a
casas de pau a pique;
• combate ao vetor – uso de inseticidas e repelentes, bem como o emprego de telas em portas e
janelas para evitar a entrada do barbeiro nas residências.
A classificação dos seres vivos
O sistema de classificação que leva em conta o parentesco evolutivo entre as espécies é
denominado natural. Em um sistema de classificação natural, golfinhos e elefantes são classificados
no grupo de animais denominados mamíferos, enquanto tartarugas e jabutis são classificados no
grupo de animais denominados quelônios.
Taxonomia e Sistemática são as áreas dedicadas à classificação natural dos seres vivos. A área da
Biologia que identifica, nomeia e classifica os seres vivos é a Taxonomia (do grego taxis e nomos, que
significam, respectivamente, “arranjo” e “lei”). A Sistemática representa uma área mais ampla, pois
além de incluir os estudos da Taxonomia, também estuda as relações de parentesco evolutivo
(filogenia) entre as espécies.
Regras de nomenclatura biológica
Um dos grandes méritos de Lineu foi estabelecer um método de nomenclatura biológica dos seres
vivos que é utilizado até hoje pelos taxonomistas. Esse método é importante, pois permite que
cientistas de diferentes regiões, independentemente da língua, possam utilizar as mesmas regras
para nomear os seres vivos. Vejamos a seguir algumas dessas regras:
Os nomes científicos devem ser escritos em latim ou, se forem derivados de outras línguas, deverão
ser latinizados. A justificativa é que o latim é uma língua que não sofre alterações ao longo do tempo
e era a língua utilizada pelas pessoas cultas na época de Lineu. Além disso, o idioma de nenhum país
é privilegiado na nomenclatura biológica. No caso da planta Hevea brasiliensis, conhecida
popularmente como seringueira, o termo brasiliensis é a latinização da palavra brasileira, indicativa
de que a espécie ocorre na flora do Brasil.
O nome científico é duplo, ou seja, composto de duas palavras. O primeiro nome refere-se ao gênero
e deve ser escrito sempre com inicial maiúscula. O segundo nome refere-se ao epíteto específico, um
termo que especifica a espécie e deve ser escrito sempre com inicial minúscula. No caso da espécie
humana, cujo nome científico é Homo sapiens, que significa “humano sábio”, o termo Homo refere-
se ao gênero, e sapiens, ao epíteto específico. Por atribuir dois nomes a cada espécie, o sistema de
Lineu ficou conhecido como nomenclatura binomial.
O nome científico deve ser destacado no texto em que aparece, seja em itálico ou sublinhado. Ao ser
utilizado pela primeira vez no texto, o nome científico deve ser escrito por extenso, ou seja, não pode
ser abreviado. Nas demais vezes em que aparece, a parte genérica pode ser abreviada. Por exemplo,
depois de ser citado no texto o nome científico Homo sapiens, podemos escrever H. sapiens nas
próximas vezes em que a espécie for citada.
A nomenclatura de uma subespécie é trinomial, sendo necessário acrescentar um terceiro termo,
que deve ser escrito com inicial minúscula ao lado do binômio da espécie. Canis lupus familiaris, por
exemplo, é o nome científico do cão doméstico, uma subespécie de Canis lupus.
O nome do subgênero de uma espécie, quando for necessário, deve ser indicado entre parênteses e
com inicial maiúscula entre o nome do gênero e do epíteto específico. Por exemplo, o mosquito que
transmite a dengue é o Aedes (Stegomyia) aegypti, sendo Aedes o nome do gênero, Stegomyia o nome
do subgênero e aegypti o nome do epíteto específico.
Categorias taxonômicas
No sistema de Lineu a categoria básica de classificação dos seres vivos é a espécie (do latim species,
que significa “tipo”). A categoria taxonômica, ou táxon, imediatamente superior à espécie, em termos
hierárquicos, foi denominada gênero. Um gênero agrupa diferentes espécies que apresentam
características comuns. Lineu agrupou gêneros semelhantes em uma mesma ordem, ordens
semelhantes em uma mesma classe, e classes semelhantes em um mesmo reino. Posteriormente
foram criadas outras categorias taxonômicas, como família (entre gênero e ordem), filo (entre reino e
classe) e domínio (acima de reino), além de outras. De acordo com o Código Internacional de
Nomenclatura Zoológica e o Código Internacional de Nomenclatura Botânica, existem sete
categorias taxonômicas obrigatórias: reino, filo, classe, ordem, família, gênero e espécie
Conceito de espécie
O conceito mais utilizado de espécie na atualidade é o conceito biológico de espécie, que foi
proposto, em 1942, pelo biólogo alemão naturalizado estadunidense Ernst Mayr (1904-2005). Para
esse cientista, espécie representa um grupo de populações cujos organismos são capazes de se
cruzar, em condições naturais, e gerar descendentes férteis, estando reprodutivamente isolados de
organismos de outras espécies.
Com os avanços dos estudos filogenéticos nos últimos anos, surgiu o conceito filogenético de
espécie, segundo o qual espécie representa uma população ou conjunto de populações definidas
por uma ou mais características derivadas, constituindo o menor agrupamento taxonômico
reconhecível. Essa definição, diferentemente do conceito tipológico e biológico de espécie, pode ser
utilizada para todos os tipos de organismos do planeta, desde os que apresentam reprodução
assexuada, como as bactérias, até para os já desaparecidos, como os fósseis.
Características dos vírus
Ao contrário de todas as formas de vida existentes no planeta, os vírus não são incluídos em nenhum
sistema de classificação de seres vivos, pois são acelulares, ou seja, não apresentam estrutura
celular. Os vírus são extremamente pequenos, com tamanho entre 15 e 300 nanômetros (nm),
menores que as mais diminutas bactérias. Apenas nas últimas décadas é que foram descobertos os
mimivírus, com mais de 600 nm, e os pandoravírus, que podem atingir 1 micrômetro (µm).
Fora das células hospedeiras, os vírus existem como partículas individuais denominadas vírions.
Cada vírion, unidade básica do vírus, é composto de uma ou diversas moléculas de ácido nucleico
(DNA ou RNA) revestidas por uma cápsula chamada capsídeo (do latim capsa, que significa “caixa”),
formada por proteínas, denominadas capsômeros (do latim capsa e do grego meros, que significam,
respectivamente, “caixa” e “partes”). Dependendo do tipo de vírus, o capsídeo pode ter formato
poliédrico, de bastão ou apresentar forma mais complexa, como a do bacteriófago. O conjunto
formado pelo capsídeo e pelo material genético é denominado nucleocapsídeo.
Em alguns vírus, o nucleocapsídeo é envolvido por uma membrana lipoproteica derivada da célula
hospedeira denominada envelope viral. Além de proteínas e lipídeos de origem celular, o envelope
viral também apresenta proteínas específicas do vírus, sintetizadas pela célula hospedeira e
adicionadas à membrana plasmática antes da liberação do vírus pela célula. Dependendo da
presença ou não de envelope, os vírus podem ser classificados em dois grupos: envelopados e não
envelopados.
O ácido nucleico presente nos vírus pode ser o DNA de fita dupla, o DNA de fita simples, o RNA de fita
dupla ou o RNA de fita simples, dependendo do tipo de vírus. Geralmente o vírus tem uma única
molécula linear ou circular de ácido nucleico, embora alguns vírus possam ser constituídos por
múltiplas cópias de ácido nucleico, como o vírus Influenza, causador da gripe. Os vírus de RNA de fita
simples podem ser divididos em três grupos: vírus de RNA positivo, vírus de RNA negativo e os
retrovírus.
O tipo de ácido nucleico presente no vírus é que determina como ocorrerá o processo de síntese de
proteínas virais pela célula hospedeira.
Os vírus não têm metabolismo próprio, ou seja, não sintetizam nenhuma molécula nem realizam
qualquer reação química de forma independente. Dessa forma, todos os vírus são parasitas
intracelulares obrigatórios, que invadem células de diferentes tipos de seres vivos, como bactérias,
fungos, protozoários, algas, plantas e animais, incluindo humanos. Quando os vírus estão fora da
célula, eles não apresentam nenhuma atividade vital, e podem até mesmo ficar cristalizados por
diversos anos. Ao entrar em contato com uma célula hospedeira, entretanto, inicia-se o processo de
reprodução viral.
Reprodução dos vírus
Todos os vírus se reproduzem apenas no interior das células parasitadas por eles, pois a ausência de
metabolismo próprio e de estruturas celulares impede que sua reprodução possa ocorrer de forma
independente. De forma geral, a reprodução dos vírus na célula hospedeira segue as seguintes
etapas: fixação, penetração, desnudação, multiplicação viral, montagem e liberação de novos vírus
para o meio extracelular.
Na primeira fase da reprodução, ocorre a fixação do vírus, processo também conhecido como
adsorção, na superfície da célula parasitada. Os vírus têm proteínas especiais denominadas ligantes
ou antirreceptores, presentes na cápsula (no caso de vírus não envelopados) ou no envelope
lipoproteico (no caso dos vírus envelopados), que se ligam a determinadas proteínas da membrana
plasmática ou da parede celular da célula hospedeira, denominadas receptores virais. A interação
entre ligantes e receptores virais determina a especificidade de hospedeiro apresentada pelos vírus e
funciona como um sistema chave-fechadura de reconhecimento.
Para invadir uma célula, os ligantes dos vírus têm de se encaixar perfeitamente nos receptores virais
presentes na superfície da célula hospedeira, ou seja, só conseguem infectar células que
apresentam receptores compatíveis com os ligantes de seu envoltório. Por exemplo, o vírus HIV
apresenta a glicoproteína denominada GP120, ligante viral, que se encaixa perfeitamente nos
receptores CD4 presentes em determinados tipos de linfócitos que ocorrem na espécie humana.
Depois de se fixar na superfície da célula hospedeira, ocorre a penetração do vírus, porém esse
mecanismo ocorre de diferentes maneiras, dependendo do tipo de vírus. Nos bacteriófagos, por
exemplo, ocorre a injeção do ácido nucleico no interior da bactéria, e o capsídeo permanece do lado
de fora da célula.

Determinados vírus envelopados, como o HIV, utilizam o envelope para a entrada na célula
hospedeira. Após a fixação do envelope na célula bacteriana, ocorre a fusão do envelope viral com a
membrana plasmática da bactéria, da qual passa a fazer parte, e apenas o nucleocapsídeo penetra
no citoplasma.

Outra estratégia dos vírus é a entrada na célula por endocitose, processo em que a célula hospedeira
engloba o vírus após sua fixação na superfície celular. Uma vez no interior da célula, o
nucleocapsídeo escapa do vacúolo e se espalha pelo citoplasma da célula.
Depois de invadir a célula, inicia-se o desnudamento do nucleocapsídeo, processo em que enzimas
presentes no lisossomo removem o capsídeo viral e expõem o ácido nucleico do vírus ao citoplasma.
Após o desnudamento, ocorre a multiplicação viral comandada pela célula hospedeira. Os vírus,
independentemente do tipo de ácido nucleico, apresentam genes apenas para moléculas de RNA
mensageiro. Dessa forma, os vírus precisam utilizar RNA ribossômico, RNA transportador,
nucleotídeos, aminoácidos e energia da célula hospedeira para que ocorra a produção de novas
cópias virais.
Após a produção de material genético (DNA ou RNA) e de proteínas virais pela célula hospedeira,
ocorre uma fase importante da reprodução dos vírus, que é a montagem ou maturação das novas
cópias virais. Nesse processo, as proteínas que formam o capsídeo, o material genético e as enzimas
virais, no caso de alguns vírus, agregam-se para formar o nucleocapsídeo. Somente após a formação
completa do nucleocapsídeo é que o vírion (partícula viral) pode ser eliminado da célula hospedeira.
A liberação de novos vírus pode ocorrer por lise celular, no caso do bacteriófago, ou por brotamento,
no caso do HIV. Para a liberação por lise celular ocorre inicialmente a síntese de enzimas virais pela
célula hospedeira, denominadas lisozimas, que perfuram a parede celular e permitem a entrada de
líquido na célula. Com a entrada de líquido, a célula bacteriana incha e finalmente explode, processo
conhecido como lise celular, liberando dezenas de cópias de novos vírus para o meio extracelular.
O processo de liberação por brotamento se inicia com o transporte intracelular do nucleocapsídeo
viral para a membrana plasmática da célula hospedeira. Quando o nucleocapsídeo se aproxima da
superfície da célula, a membrana plasmática realiza um processo de evaginação, que envolve o
nucleocapsídeo e forma um broto, que logo se desprende da célula. O crescimento do broto
representa o envolvimento do nucleocapsídeo viral pela membrana plasmática da célula, que
formará o envelope do vírus.
Ciclo lítico
O ciclo reprodutivo que culmina na morte da célula hospedeira é denominado ciclo lítico. Esse termo
se refere ao último estágio da reprodução, em que ocorre a lise celular (explosão da célula) com
liberação de novas cópias de bacteriófagos para o meio extracelular. Um bacteriófago que se
reproduz somente por ciclo lítico é denominado fago virulento. Poucos ciclos líticos desse fago são
capazes de destruir rapidamente uma população inteira de bactérias.
O bacteriófago T4 é um exemplo de fago virulento que apresenta um capsídeo proteico complexo,
formado por uma cabeça facetada, que envolve uma longa molécula de DNA de cadeia dupla, e uma
cauda cilíndrica, composta de uma bainha contrátil e de fibras.
Ao encontrar uma bactéria, o fago T4 se fixa na parede da célula por meio de ligantes, presentes nas
fibras da cauda, que se ligam aos receptores virais. Logo após a fixação, o bacteriófago perfura a
parede da bactéria, contrai a bainha e injeta apenas seu DNA dentro da célula bacteriana.
Uma vez dentro da célula hospedeira, o DNA viral atrai a enzima RNA polimerase da bactéria e inicia a
transcrição de genes virais, responsáveis pela produção de proteínas virais pela célula hospedeira.
As proteínas virais estimulam a multiplicação do DNA viral e a transcrição dos genes virais. As
enzimas virais destroem o DNA bacteriano e fornecem nucleotídeos, que serão utilizados para a
produção de novas cópias de DNA viral. Além disso, a transcrição e tradução dos genes virais são
responsáveis pela produção das proteínas que formam o capsídeo do bacteriófago.
Na fase final da infecção, ocorre a montagem do nucleocapsídeo dentro da célula bacteriana e
produção da enzima lisozima, que degrada a parede celular bacteriana e permite a entrada de líquido
na célula. Com a entrada de líquido, a célula bacteriana incha e finalmente explode, processo
conhecido como lise celular, liberando dezenas de cópias de novos vírus para o meio extracelular,
que podem infectar outras bactérias.
O processo total, desde a fixação do vírus na superfície da bactéria até a liberação de novos
bacteriófagos, ocorre em torno de meia hora. Essa sequência de eventos, entretanto, deve ser
cuidadosamente controlada, pois uma lise prematura poderia comprometer seriamente a formação
completa de novos bacteriófagos pela bactéria, o que inviabilizaria novas infecções.
Ciclo lisogênico
Outro ciclo reprodutivo do bacteriófago, que permite a reprodução do DNA viral sem destruir a célula
hospedeira, é denominado ciclo lisogênico. Os bacteriófagos capazes de utilizar esses dois tipos de
ciclo reprodutivo, lítico e lisogênico, são denominados fagos temperados, e as bactérias que
apresentam esses fagos em seus DNAs são denominadas bactérias lisogênicas.
A infecção de uma célula bacteriana por um bacteriófago temperado se inicia quando o vírus se liga à
superfície da célula bacteriana e injeta nela seu DNA linear. O que ocorre na sequência depende do
ciclo reprodutivo que será ativado. Se o ciclo lítico for ativado, os genes virais imediatamente
destroem o DNA bacteriano e tornam a célula hospedeira uma verdadeira fábrica de novos vírus, que
serão liberados da célula ao final do processo por lise celular.
Se o ciclo lisogênico for ativado, proteínas virais inserem o DNA viral no DNA bacteriano. Quando o
DNA viral fica integrado ao DNA bacteriano, o vírus é conhecido como provírus ou profago, que ficará
silenciado dentro da célula bacteriana. A cada ciclo reprodutivo da bactéria, uma cópia do profago é
transferida para cada bactériafilha. Uma única bactéria infectada origina rapidamente uma linhagem
completa de bactérias portadoras de profagos, o que permite que o vírus se perpetue sem matar as
bactérias.
O termo lisogênico significa que eventualmente o profago pode despertar e estimular na célula o
ciclo lítico. Alguns sinais ambientais, como determinados agentes químicos, radiação de alta
energia, que danifica o DNA, ou estresse na célula hospedeira são responsáveis pela alteração do
ciclo lisogênico para o lítico.

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