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Paloma Faria
PATOLOGIA
INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA
Microbiota humana: Formada por micróbios que coexistem com os seres humanos e
estão adaptados à vida, na superfície do corpo. Há sítios estéreis (não tem presença
de microrganismo, como SNC, rins, bexiga, ossos) e sítios colonizados (há presença
de microrganismos, como o trato respiratório, intestino delgado, flora vaginal, boca,
terço distal da uretra, canal auditivo externo).
Diagnóstico microbiológico
Suspeita de infecção
Qual o sítio ou local provável?
É um sítio colonizado ou estéril?
A coleta do material deve ocorrer de forma asséptica. Pode ser material
biológico (urina, sangue, fezes, líquor, abscesso, raspados de pele, secreção
de córnea) ou não biológico (válvulas cardíacas, cateter de longa duração).
O transporte do material coletado deve manter o microrganismo viável até
chegar ao laboratório.
O uso de medicação prévia (principalmente antibióticos) pode inibir o
desenvolvimento do microrganismo.
Deve ser feita a identificação do agente (vírus, bactéria, fungo, protozoário).
Metodologias:
1. Exame direto (bacterioscopia): visualização direta ao microscópio ótico
com e sem colorações específicas.
2. Cultura: aspecto do crescimento em meios de cultura sólidos e líquidos.
3. Provas bioquímicas: baseadas nas vias metabólicas utilizadas por
esses agentes para obtenção de energia vital (bactérias e fungos).
4. Sorologia: detecção indireta do agente pela pesquisa de anticorpos
adsorvidos em látex.
5. Biologia molecular: sequenciamento e ampliação do material genético
do agente encontrado em material biológico.
Construção da epidemiologia:
Conhecer os principais agentes infecciosos relacionados aquele sítio
biológico.
Conhecer o perfil de resistência e susceptibilidade desses agentes aos
fármacos normalmente utilizados pela comunidade científica para
tratamento da infecção.
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Bloco Síndromes Infecciosas 2
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VETORES
Triatoma spp.
Lutzomyia spp.
Anopheles spp.
Aedes spp.
MALÁRIA
Agente etiológico
Os parasitas pertencem ao filo Apicomplexa, família Plasmodidae e gênero
Plasmodium. Apenas quatro espécies causam a doença: Plasmodium falciparum,
Plasmodium vivax, Plasmodium malariae e Plasmodium ovale (só existe na África).
Transmissão
Picada de fêmeas do gênero Anopheles, parasitadas com esporozoítos em suas
glândulas salivares, que inoculam estas formas infectantes durante o repasto
sanguíneo. A transmissão é mais comum em áreas rurais e semi-rurais, mas pode
ocorrer em áreas urbanas principalmente na periferia.
Anopheles darlingi: Principal transmissor na região amazônica. Tem como
criadouro grande coleção de água.
Anopheles aquasalis: Predomina na faixa litorânea, inclusive no RJ. Prolifera
em coleções de água salobra.
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Ciclo biológico
Patogenia
Apenas o ciclo eritrocítico é responsável pelas manifestações clínicas e patologia da
malária. A destruição dos eritrócitos parasitados está presente em todos os tipos de
malária e em menor ou maior grau participam do desenvolvimento da anemia.
Entretanto, na maior parte dos casos, a anemia não se correlaciona com a
parasitemia, podendo ser decorrente da destruição de eritrócitos não parasitados pelo
sistema imune ou por aumento da eritrofagocitose esplênica. Desse modo, a hemólise
pode ser tanto intracelular (Plasmodium), quando extracelular (baço).
P. vivax: reticulócitos (anemia mais leve)
P. malariae: hemácias maduras
P. falciparum: hemácias de todas as idades (anemia mais grave)
Manifestações clínicas
Fase inicial (prodrômica): Mal-estar, cefaleia, cansaço e mialgia – geralmente
precede a febre (marca o fim do período de incubação).
Fase pré-eritrocítica: Silêncio clínico.
Fase eritrocítica: Ocorre o ataque paroxístico agudo (acesso malárico), que
coincide com a ruptura das hemácias ao final da esquizogonia e é geralmente
acompanhado de calafrio e sudorese. Esta fase dura de 15 minutos a uma
hora, sendo seguida por uma fase febril (41oC ou mais). Após um período de
duas a seis horas, ocorre desfervescência da febre e o paciente apresenta
sudorese profusa e fraqueza intensa. Depois de algumas horas, os sintomas
desaparecem e o paciente sente-se melhor.
A periodicidade dos sintomas depende do tempo de duração dos ciclos
eritrocíticos de cada espécie:
P. vivax: 48 h (febre terçã benigna)
P. falciparum: 48 h (febre terçã maligna)
P. malariae: 72 h (febre quartã)
Malária não complicada: Os acessos maláricos são acompanhados de intensa
debilidade física, náuseas, vômitos, palidez, baço palpável e anemia variável.
Quadros prolongados de infecção podem resultar na Síndrome de
Esplenomegalia Tropical (volumosa esplenomegalia, hepatomegalia, anemia,
leucopenia e plaquetopenia).
Nota: Pode ocorrer ruptura do baço por manobra na palpação.
Malária grave e complicada: Adultos não imunes, crianças e gestantes podem
apresentar infecções mais graves, podendo ser fatal. Hipoglicemia, convulsões,
vômitos repetidos, hiperpirexia, icterícia e distúrbio da consciência são
indicadores de pior prognósitco e podem preceder insuficiência renal aguda,
edema pulmonar agudo e malária cerebral.
Diagnóstico
Exame direto do esfregaço sanguíneo e gota espessa corada com Giemsa.
Nota: Recidivas ou recrudescências podem acontecer em alguns pacientes, mesmo
após tratamento. Se houver recidivas e não houver tratamento, a doença pode
cronificar.
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DOENÇA DE CHAGAS
Agente etiológico
Protozoário Trypanosoma cruzi, pertencente a família Trypanosomatidae. A forma
intracelular no hospedeiro vertebrado é a amastigota. No sangue circulante, a forma
encontrada é a tripomastigota, que possui flagelo característico.
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Transmissão
A doença é transmitida pelo inseto hematófago do gênero Triatoma, comumente
chamado de barbeiro ou chupança.
Ciclo biológico
O barbeiro pica o homem durante a noite. Formas tripomastigotas metacíclicas são
eliminadas nas fezes e/ou urina do vetor durante o repasto sanguíneo. O indivíduo
coça o local da picada e os protozoários caem na corrente sanguínea, a partir daí, vão
para os órgãos pelos quais tem tropismo (esôfago, miocárdio e cólon).
Formas de evolução da doença
1. Fase aguda: Pode ser sintomática ou assintomática. As manifestações gerais são
representadas por febre, taquicardia, discreta esplenomegalia e linfadenomegalia.
São clássicos dessa fase (50% dos pacientes):
a. Sinal de Romaña: edema bipalpebral unilateral com
linfadenite satélite pré-auricular devido à penetração do
T. cruzi na conjuntiva.
b. Chagoma de inoculação (ou cutâneo): nódulo que se
forma no local da picada do barbeiro.
2. Fase crônica assintomática
Forma indeterminada: Longo período assintomático (10 a 30 anos). Há
positividade de exames sorológicos e/ou parasitológicos para a infecção pelo
T. cruzi. Compreende a 50% dos pacientes e a maioria pode sem nunca
apresentar sintomas. Cerca de 30% evoluem para a forma sintomática.
3. Fase crônica sintomática: É caracterizada pelas sequelas de destruição pelo
parasita, que tem tropismo pelas células musculares estriadas cardíacas e
neurônios.
Forma cardíaca: Quando o parasita chega ao miocárdio, inicia-se uma
resposta inflamatória aguda com acúmulo de polimorfonucleares,
caracterizando a miocardite inflamatória, que resulta em congestão e edema.
A inflamação crônica é caracterizada por fibrose entre as fibras cardíacas, o
que pode resultar em destruição do sincício elétrico e perda da complacência
e contração do coração. Assim, o paciente pode apresentar: ICC, distúrbios
elétricos e arritmias. Os fenômenos tromboembólicos também são frequentes.
No ECG, bloqueio de ramo direito associado à hemibloqueio anterossuperior
esquerdo é patognomônico da doença de Chagas.
Forma digestiva: A presença do protozoário no tecido muscular do trato
gastrointestinal causa a desenervação dos plexos mioentéricos de Meissner e
Auerbach, determinando perda da motilidade. Evidenciam-se principalmente
pelo megaesôfago e megacólon.
Diagnóstico
1. Fase aguda
Exame direto do esfregaço sanguíneo e gota espessa corada com Giemsa
Sorologia: IFI-IgM
PCR
2. Forma indeterminada
Exame direto do esfregaço sanguíneo e gota espessa corada com Giemsa
Sorologia: IFI-IgG, Elisa e HAI.
PCR
3. Forma crônica
Sorologia: IFI-IgG, Elisa, aglutinação de látex e HAI.
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LEISHMANIOSE
LEISHMANIOSE VISCERAL
o Período de incubação: Extremamente variável. Entre 2 e 7 meses.
o Reservatórios: Os principais são o cão, a raposa e marsupiais.
o Manifestações clínicas: Hepatoesplenomegalia febril (tríade), pancitopenia.
o Diagnóstico diferencial: Esquistossomose mansônica, linfomas e leucemias
agudas, febre tifoide, salmonelose, malária, tuberculose.
o Diagnóstico:
1. Exames inespecíficos: hemograma (pancitopenia) e eletroforese de
proteínas (níveis baixos de albumina e elevados de globulina).
2. Exames específicos:
a. Parasitológico: Aspirado de medula óssea. O material é submetido a
exame direto, cultura e PCR.
b. Imunológico:
Pesquisa de anticorpos: IFI (mais utilizado; resultado em
titulação), Elisa, aglutinação direta, teste rápido Rk39
Intradermorreação de Montenegro: Negativo durante o período
da doença devido a imunidade celular. Torna-se positivo após
cura clínica.
LEISHMANIOSE TEGUMENTAR
o É uma doença de ampla distribuição mundial e endêmica. Também conhecida
como úlcera de Bauru ou botão do Oriente.
o Período de incubação: Varia de duas semanas a vários meses, podendo
chegar a três anos.
o Reservatórios: Roedores silvestres.
o Formas clínicas:
1. Cutânea: Formação de úlceras únicas ou múltiplas
confinadas na derme, com a epiderme ulcerada.
Caracterizada por lesão ulcerativa, superficial e circular, com bordas
elevadas e bem definidas, sobre uma base de tecido de granulação.
Evolutiva, com infecções secundárias até se tornar lesão cicatricial
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FUNGOS
Fungos leveduriformes
Candida spp.
Geralmente coloniza a mucosa, principalmente
digestiva.
Doenças: Candidíase oral (sapinho), esofagite,
vulvovaginite, infecção urinária, sepse.
Diagnóstico: Cultura (aspecto e cor da colônia) e
teste do tubo germinativo (diferencia espécies
albicans das não albicans).
Cryptococcus neoformans
Geralmente coloniza a orofaringe.
Doenças: Criptococose
Fisiopatologia: A infecção ocorre pela inalação
da levedura, atingindo os pulmões onde pode
evoluir para curar ou disseminar para SNC,
pele, ossos e pulmão. Assim, pode causar a
neurocriptococose.
Transmissão: Fezes de pombos e morcegos.
Diagnóstico: Pesquisa do fungo em esfregaço
de material biológico (líquor, escarro, pus)
corado com tinta nankin → O Cryptococcus
neoformans possui uma cápsula polissacarídea
com propriedades antifagocíticas. Essa cápsula
não é corada pela tinta nankin. Assim, observa-
se formas arredondadas, às vezes em
gemulação, não coradas pela tinta.
Fungos filamentosos
Aspergillus spp.
Geralmente coloniza olhos, ouvidos e nariz.
Doença: Aspergilose
Geralmente o processo se inicia no pulmão, podendo
resultar em três formas: localizada (colonização
intracavitária pulmonar, bronquites aspergilares,
broncopneumonia obstrutiva crônica), alérgica (asma,
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Fungos dimórficos
Paracoccioides brasiliensis
Doença: Paracoccidioidomicose
É uma doença granulomatosa crônica que se inicia no pulmão e depois se dissemina
(micose sistêmica).
Diagnóstico diferencial: Forma cutaneomucosa da leishmaniose tegumentar
Diagnóstico: Exame direto do escarro (é possível observar roda de leme, devido
reprodução por brotamento)
Sporothrix schenkii
Doença: Esporotricose (micose subcutânea que causa ulcerações).
Doença de cunho ocupacional, pois esse fungo é encontrado em todo lugar que tenha
decomposição da matéria orgânica.
Diagnóstico diferencial: Leishmaniose tegumentar
Diagnóstico: Cultura (raspado ou tecido biopsiado) e soroaglutinação do látex
Histoplasma capsulatum
Doença: Histoplasmose (micose sistêmica que pode alcançar a medula óssea e
causar pancitopenia)
Diagnóstico diferencial: Leishmaniose visceral
Diagnóstico: Exame direto em medula óssea
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BACTERIOLOGIA
UROCULTURA
É a cultura da urina em meios de cultivo sólidos e líquidos e permite-nos identificar
possíveis agentes bacterianos e fúngicos causadores de infecção urinária baixa (cistite
e uretrite) e alta (pielonefrite).
Cultura qualitativa: Informa se há infecção ou não e/ou contaminação; e
quantas espécies diferentes cresceram.
Cultura quantitativa: Informa a quantidade de microrganismo de cada espécie
que cresceu. É importante para diferenciar microbiota normal e patogênica.
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Materiais necessários
Placas de ágar Cled
Urina
Alça calibrada descartável de 1microlitro ou 0,001ml.
1 colônia ou aglomerado = 1000 UFC/mL, pois a alça é de 1/1000 de 1mL.
Procedimento
1. Coletar jato médio de urina e semeá-la em ágar Cled pela técnica de esgotamento
(longitudinalmente e transversalmente)
2. Confeccionar esfregaço de gota de urina e corar pelo Gram
3. Incubar a 37°C por 24h
4. Identificar a placa
Interpretação da urocultura
1. Resultado:
Negativo
Cultura qualitativa: não houve crescimento
Cultura quantitativa: 0 UFC por ml
Positivo
Cultura qualitativa: houve crescimento e quantas espécies
Cultura quantitativa: quantificar as colônias em UFC por ml
ANTIBIOGRAMA
O objetivo é a investigação da capacidade de uma amostra bacteriana expressar
resistência a drogas antimicrobianas comumente empregadas na terapêutica. Os
resultados orientam a escolha da droga mais adequada para cada situação clínica.
Métodos
Disco difusão em ágar (Kirby-Bauer): Antimicrobianos impregnados em discos
de papel de filtro difundem-se no ágar, criando, em torno do disco, um
gradiente decrescente de concentração da droga.
CIM ou MIC (concentração inibitória mínima): Testa diferentes drogas em
diferentes concentrações, sendo possível identificar a menor concentração de
droga suficiente para inibição da bactéria.
Procedimento
1. Identificar a placa de Ágar Mueller-Hinton e marcar os locais onde serão colocados
os discos de antimicrobianos, que devem ficar espalhados a cerca de 1 cm da borda
da placa.
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Interpretação
1. Observar crescimento ao redor dos discos.
2. Medir o diâmetro dos halos de inibição e comparar com a tabela (S: sensível;
R: resistente; I: intermediário).
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Referências:
NEVES, D.P. Parasitologia Humana. 10ª ed.
ERICHSEN, E.S. et al. Medicina laboratorial para o clínico. Belo Horizonte, 2009.