Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Paloma Faria
GT1
INFECÇÃO PELO HIV E AIDS
Vírus HIV
o É um retrovírus da família Retroviridae e gênero Lentivirus.
o Retrovírus são vírus de RNA que, para infectar o ser humano necessita ter seu
material genético transcrito de forma “reversa” em DNA de fita dupla por meio
da transcriptase reversa.
Formas de transmissão
o Relação sexual: A transmissão é tanto homossexual quanto heterossexual. O
sexo anal receptivo desprotegido tem sido identificado como a prática que
apresenta o maior risco de infecção para ambos os sexos devido a grande
quantidade de linfócitos na região anal e a possibilidade de microerosões na
mucosa durante o ato.
o Via sanguínea: É a via mais eficiente de transmissão, o que se deve tanto à
alta concentração viral encontrada no sangue de infectados, como à introdução
do vírus diretamente na corrente sanguínea.
o Aleitamento materno
o Transmissão vertical (gestação ou trabalho de parto)
Ciclo viral
1. O HIV penetra no organismo do hospedeiro.
2. A glicoproteína (GP-120) presente no vírus se liga às células através dos
receptores CD4 (presentes no epitélio cérvico-vaginal, amígdalas e adenoide).
A interação com o CD4 promove uma mudança conformacional na GP-120,
Bloco Síndromes Infecciosas 2
Paloma Faria
Tratamento
Atualmente é usado o esquema contendo associação de três medicamentos
antirretrovirais para sobrepujar a emergência de resistência viral facilmente observada
na monoterapia. Deve-se estimular o início imediato da terapia antirretroviral (TARV)
em todas as pessoas HIV+.
Classes de drogas antirretrovirais:
o Inibidores da transcriptase reversa: Impedem a transcrição do RNA viral
presente no citoplasma para o DNA celular. Podem ser:
Análogos de nucleosídeos (INTR): Atuam por inibição competitiva do
sítio enzimático de ligação aos nucleosídeos, principalmente da
transcriptase reversa.
Não análogos de nucleosídeos (INNTR): Ligam-se de modo reversível à
transcriptase reversa, em local diferente ao de ligação do nucleosídio,
alterando a conformação espacial.
o Inibidores da protease (IP): Inibem a atividade da protease, evitando a
formação de novo vírus.
o Inibidores da fusão: Impedem a fusão da membrana viral com a membrana
celular, evitando que o vírus entre na célula do hospedeiro.
o Inibidores da entrada: Atuam impedindo a ligação do vírus ao receptor CD4
ou aos correceptores (CCR5 ou CXC4).
o Inibidores da integrase: Impedem que o DNA viral seja incorporado ao núcleo
da célula e integrado ao genoma do hospedeiro.
Esquemas:
1) Primeira linha: 2 ITRN + 1 ITRNN (TDF + 3TC + EFV)
2) Segunda linha: 2 ITRN + 1 IP
Referências:
1. TAVARES, W.; MARINHO, L.A.C. Rotinas de Diagnóstico e Tratamento das
Doenças Infecciosas e Parasitárias. 3a ed., 2012. | Cap. 5 – AIDS: Síndrome
de Imunodeficiência Adquirida.
2. Brasil. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para manejo da infecção
pelo HIV em adultos. Ministério da Saúde, 2013.
3. VERONESI, R.; FOCACCIA, R. Tratado de Infectologia. 3a ed., 2005. | Cap. 8
– AIDS.
4. Seminário de Replicação Viral (Alexandre Moura)
Bloco Síndromes Infecciosas 5
Paloma Faria
GT2
HEPATITES VIRAIS
Hepatite A
Etiologia: Vírus HAV da família Picornaviridae. Apresenta fita simples de RNA como
material genético.
Epidemiologia: É uma doença mundialmente distribuída, com incidência maior nos
países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. No Brasil, aproximadamente 100%
da população adulta já teve contato com o vírus em algum momento.
Transmissão
o Fecal-oral (alimentos e/ou água contaminados)
o Relações sexuais
o Via sanguínea (raro)
o Vertical (raro)
Patogênese: No caso da transmissão fecal-oral, após a ingestão do vírus, este resiste
ao pH estomacal e chega ao epitélio intestinal e daí para a circulação mesentérica,
chegando ao fígado pelo sistema porta. O vírus penetra nas células do hospedeiro
pela adsorção à membrana celular através das interações de receptores e, por
endocitose, adentra ao citoplasma perdendo o capsídeo, liberando RNA que passa a
funcionar como RNA mensageiro no processo de replicação viral.
Nota: No fígado, a lesão é atribuída muito mais aos fenômenos imunológicos (ativação
de linfócitos CD8 e NK) do que aos efeitos citopáticos do vírus.
Período de incubação: 15-40 dias
Quadro clínico: Infecção de evolução limitada, que não cronifica, mas pode prolongar-
se por mais de 6 meses. As formas clínicas são variadas:
Assintomática: só demonstrada pela sorologia específica pra o HAV.
Oligossintomática anictérica: Manifestações efêmeras, em geral representada pela
síndrome infecciosa aguda, indiferenciada e confundida com virose banal. O quadro
clínico é composto por febre, astenia, inapetência, mialgia e cefaleia. Há aumento
das transaminases.
Ictérica: Ocorre após o período de incubação. Surge icterícia colúrica e as queixas
gastrintestinais (náusea, vômitos, dor abdominal e empachamento) são frequentes.
Colestática: Mais comum em adultos. Caracterizada por icterícia intensa, colúria
evidente, hipocolia ou acolia fecal, dores abdominais, vômitos, empachamento,
prurido cutâneo de difícil controle.
Prolongada: Duração média de 6 meses com quadro clínico de síndrome infecciosa
inicial, período ictérico posterior e elevação das transaminases por tempo maior.
Recorrente: Após recuperação clínico-laboratorial pode haver recaída.
Complicação: Forma fulminante (rara) e tem como marca fundamental o rápido
progresso para insuficiência hepática decorrente de necrose importante e extensa dos
hepatócitos.
Diagnóstico
o Inicialmente clínico.
o Leucócitos geralmente não se alteram. Há possibilidade de leucocitose com
neutrofilia nos casos de lesão hepática mais extensa (hepatite fulminante).
o Aminotransferases muito elevadas (300-1000) com TGP superior a TGO.
o Aumento da bilirrubina direta em casos de icterícia.
Bloco Síndromes Infecciosas 6
Paloma Faria
Hepatite B
Etiologia: Vírus HBV da família Hepadnaviridae. Estrutura:
DNA de fita parcialmente dupla e DNA-
polimerase na zona central do vírus.
HBsAg: Antígeno de superfície que compõe o
envoltório externo do vírus.
HBcAg: Compõe o núcleo central denso
(core) do vírus. Induz a formação de
anticorpos específicos (anti-HBcAg) em
indivíduos infectados. Como não é secretado,
sua presença é incomum na circulação e
abundante no fígado doente.
HBeAg: Produzido pelo vírus, translocado
para o retículo endoplasmático e secretado na
circulação sanguínea do infectado. Se associa à replicação e infectividade virais,
induzindo a formação de anticorpo específico (anti-HBeAg).
Epidemiologia: Estima-se a existência no mundo de 400.000.000 de portadores
crônicos do HBV. No Brasil, a maior taxa de prevalência é na região Amazônica,
podendo atingir 5 a 15%.
Transmissão
o Vertical (90% dos recém-nascidos evoluem para forma crônica)
o Relações sexuais
o Via sanguínea (agulhas ou seringas compartilhadas por usuários de drogas,
tatuagens, piercings, acupuntura, acidentes ocupacionais)
o Transfusão de sangue (raro devido à realização de testes de triagem)
Ciclo viral: Após a entrada do
vírus na célula e desnudamento
do material genético, o DNA viral
chega ao núcleo, onde completa
a síntese da sua cadeia. Há a
possibilidade de integração do
DNA viral pelo genoma do
hepatócito facilitando a
transformação neoplásica
(hepatocarcinoma). Contudo,
mais comumente, pela ação da
DNA polimerase, o DNA é
convertido em um DNA circular
covalentemente fechado
(cccDNA), que não é integrado ao DNA celular. Durante o ciclo, vários cccDNAs são
formados, produzindo um reservatório de material genético estável do vírus dentro da
Bloco Síndromes Infecciosas 7
Paloma Faria
Tratamento
o Fase aguda: Orientações dietéticas nos ictéricos, repouso relativo, abstinência
de drogas hepatotóxicas como álcool.
o Fase crônica ativa (HBsAg positivo, HBeAg positivo, carga viral alta):
1. Interferon: Pode ser usado por no máximo 6 meses, e em casos especiais,
até 12 meses. Causa muitos efeitos colaterais como febre diária, perda de
apetite e irritabilidade. É contraindicado em cirróticos, imunossuprimidos e
transplantados. Tenta induzir o organismo a produzir uma resposta que
transforme a hepatite crônica ativa em inativa (40% de chance). Usado em
situações de alta replicação viral.
2. Inibidores da transcriptase reversa análogos de nucleosídeos (lamivudina,
tenofovir, entecavir): Monoterapia.
Profilaxia: Controle dos riscos de contaminação, vacinação.
Hepatite C
Etiologia: Vírus HCV da família Flaviviridae. Contém uma molécula de RNA de cadeia
simples. É considerado como um agente com alto teor de mutação, levando ao
desenvolvimento de diferentes genótipos.
Epidemiologia: Atualmente é a principal infecção crônica transmitida pelo sangue ou
derivados.
Transmissão
o Via sanguínea
o Relação sexual (raro)
o Vertical (raro)
Ciclo viral
base no RNA viral de polaridade positiva. O RNA de polaridade negativa forma RNA
de polaridade positiva, o qual passa pelo ribossomo ou forma um novo vírus. O RNA
viral é “empacotado” e transformado em novo vírus, que amadurece no complexo de
Golgi e é liberado da célula hospedeira por exocitose.
Patogênese: A resposta imune participa muito mais das alterações sofridas pelo
órgão-alvo do que a ação citopática direta do vírus. A rápida ocorrência de mutações
virais e a incapacidade do sistema imune de “clarear” esses mutantes permitem a
presença viral. A alta persistência da infecção no hospedeiro por tempo indeterminado
é responsável por elevadíssimo percentual de evolução crônica da doença (80% dos
infectados). A falha em eliminar totalmente o vírus está centrada na diversidade de a
resposta imune ser predominantemente TH1 ou TH2. Aqueles com forte resposta TH1
tornariam a infecção autolimitada, enquanto naqueles com predomínio TH2 a
tendência é a cronificação.
Período de incubação: 15-150 dias
Quadro clínico
o Fase aguda: Apenas 15% dos casos exibem uma forma aguda com as mesmas
manifestações que as hepatites A e B.
o Fase crônica: Geralmente silenciosa ou com sintomatologia discreta e pouco
incomodativa.
Complicação: A permanência do vírus vai produzindo alterações inflamatórias
degenerativas do tecido hepático, conduzindo em longo prazo à lesões cirróticas.
Diagnóstico laboratorial
o Leucócitos normais ou leucopenia com linfocitose na fase aguda.
o Transaminases elevadas, mas com níveis inferiores aos das hepatites A e B.
o Quando houver comprometimento da função hepática é frequente a diminuição
da atividade protrombínica e a hipoalbuminemia.
o O diagnóstico específico é feito pela detecção de anticorpos anti-HCV. Se o
resultado for reagente, deverá ser solicitado o PCR (releva qual genótipo é
causador do processo).
Tratamento
o A genotipagem do HCV é obrigatória para os candidatos ao tratamento, pois o
mesmo é definido de acordo com o genótipo encontrado.
o Esquema mais utilizado: Inibidor da polimerase análogo de nucleosídeo
(sofosbuvir) + inibidor da protease (simeprevir) ou inibidor do complexo
replicativo de membrana NS5A (daclatasvir). Essas medicações atuam
diretamente no HCV, interrompendo a sua replicação, e constituem avanços
recentes no tratamento da hepatite C crônica.
o Interferon e ribavirina: Tratamento utilizado anteriormente. Ribavirina (inibidor
da polimerase análogo de nucleosídeo) ainda pode ser usado para alguns
pacientes (preditores de má resposta ao tratamento) como opção de terceira
droga.
Referências:
1. TAVARES, W.; MARINHO, L.A.C. Rotinas de Diagnóstico e Tratamento das
Doenças Infecciosas e Parasitárias. 3a ed., 2012. | Cap. 80 – Hepatites Virais
A, B e C.
2. VERONESI, R.; FOCACCIA, R. Tratado de Infectologia. 3a ed., 2005. | Cap.
22 – Hepatites virais.
3. Seminário de Replicação Viral (Alexandre Moura)
Bloco Síndromes Infecciosas 10
Paloma Faria
GT3
DENGUE
Etiologia
Causada pelo vírus Dengue, da família Flaviviridae e gênero Flavivirus.
Possui quatro sorotipos distintos: Den 1, Den 2, Den 3 e Den 4. Cada sorotipo
possui genótipos que denotam sua grande variabilidade genética.
É constituído por RNA de fita simples e polaridade positiva, com três proteínas
estruturais (C do núcleo-capsídeo, M associado à membrana e E do envelope
viral) e sete proteínas não estruturais
(NS1: responsável por fixação do
complemento, NS2a, NS2b, NS3,
NS4a, NS4b, NS5).
Faz parte do grupo de arboviroses:
doenças virais transmitidos na
natureza por meio de artrópodes
hematófagos.
Vetor
Transmitida por insetos hematófagos (fêmea) do gênero Aedes:
Espécies: aegypti e albopictus.
A hematofagia, cópula e oviposição são diurnas.
Ao exercer a hematofagia, inocula com a saliva as partículas virais.
Prefere sugar o homem, principalmente nos pés ou nas partes inferiores das
pernas.
Uma fêmea infectada pode ter várias alimentações sanguíneas curtas em
diferentes hospedeiros, disseminando assim o vírus do dengue.
Os ovos são muito resistentes à dessecação, podendo permanecer por mais de
um ano e serem transportados a grandes distâncias em ambiente seco. Após o
contato com a água os ovos podem eclodir.
Existe a possibilidade de as fêmeas grávidas infectadas com o vírus do dengue
contaminarem os seus ovos (transmissão transovariana).
Em nosso país, tem como criadouros preferenciais os mais variados recipientes
de água: pneus sem uso, latas, garrafas, pratos com vasos de samambaias,
caixas d’água descobertas, piscinas sem uso.
Epidemiologia
Nos últimos 50 anos a incidência mundial da dengue aumentou 30 vezes. Estima-se
50 milhões de novos casos a cada ano. O dengue situa-se entre períodos endêmicos,
alternados por epidemias de magnitude variada.
O comportamento epidemiológico depende de: presença e quantidade do inseto vetor,
susceptibilidade da população aos sorotipos do vírus circulante, quantidade e
qualidade de criadouros peri e intradomiciliares do mosquito, clima favorável a
proliferação do artrópode, capacidade de ação efetiva das autoridades sanitárias do
local e grau de conhecimento da população na destruição de possíveis focos do
inseto.
Ciclo viral
1. O vírus da dengue entra no organismo do hospedeiro.
2. Ocorre a ligação da proteína E aos receptores de superfície celular, e então a
partícula viral é internalizada em um compartimento endossomal.
3. Ocorre a fusão das membranas endossomal e viral, possibilitando a
penetração do nucleocapsideo no citoplasma da célula hospedeira e o
desnudamento do genoma viral.
Bloco Síndromes Infecciosas 11
Paloma Faria
Grupo C
Paciente com algum sinal de alarme
→ Reposição volêmica imediata
→ Permanecer em acompanhamento em leito de internação até estabilização
→ Realizar exames laboratoriais obrigatórios: hemograma completo, dosagem de
albumina sérica e transaminases.
→ Reavaliação clínica (sinais vitais, PA, avaliar diurese) a cada hora e avaliação do
hematócrito a cada duas horas.
→ Exames para confirmação de dengue são obrigatórios, mas não são essenciais
para conduta clinica.
→ Analgésico e antitérmico se necessário
→ Notificar o caso
→ Retorno para reavaliação clínica e laboratorial
Grupo D
Presença de sinais de choque, sangramento grave ou disfunção grave de
órgãos.
Sinais de choque
1. Taquicardia
2. Extremidades distais frias
3. Pulso fraco e filiforme
4. Enchimento capilar lento
5. Pressão arterial convergente (<20mmHg)
6. Taquipneia
7. Oligúria
8. Hipotensão arterial
9. Cianose
→ Reposição volêmica
→ Realizar exames laboratoriais obrigatórios: hemograma completo, dosagem de
albumina sérica e transaminases.
→ Exames para confirmação de dengue são obrigatórios, mas não são essenciais
para conduta clinica.
→ Acompanhamento em leito de terapia intensiva (internação).
→ Reavaliação clínica a cada 15-30 minutos e de hematócrito a cada 2 horas.
→ Se o hematócrito estiver em queda com resolução do choque, ausência de
sangramentos, mas com o surgimento de outros sinais de gravidade, observar sinais
de desconforto respiratório, sinais de insuficiência cardíaca congestiva e investigar
hiper-hidratação. Deve-se tratar com diminuição importante da infusão de líquido, uso
de diuréticos e drogas inotrópicas, quando necessário.
→ Notificar o caso.
→ Orientar o retorno após a alta.
Prevenção
o Educação permanente das populações (evitar criadouros do mosquito e
eliminar focos existentes).
o Coleta de lixo, diminuindo possíveis locais de reprodução do inseto.
o Vacina antidengue: previsão para utilização em massa nos próximos anos.
CHIKUNGUNYA
ZIKA VÍRUS
Referências:
1. TAVARES, W.; MARINHO, L.A.C. Rotinas de Diagnóstico e Tratamento das
Doenças Infecciosas e Parasitárias. 3a ed., 2012. | Cap. 86 – Dengue.
2. VERONESI, R.; FOCACCIA, R. Tratado de Infectologia. 3a ed., 2005. | Cap.
13 – Dengue.
3. Brasil. Dengue: diagnóstico e manejo clínico: adulto e criança. Ministério
da Saúde, 5a ed., 2016.
4. Brasil. Febre de chikungunya: manejo clínico. Ministério da Saúde, 2015.
5. DEVISA, SUS, Prefeitura Municipal de Campinas. Informe Técnico. Zika
Vírus. 06/2016.
Bloco Síndromes Infecciosas 16
Paloma Faria
GT4
LEISHMANIOSE VISCERAL (CALAZAR)
Agente etiológico
Causada por protozoários do gênero Leishmania, que são parasitas intracelulares
obrigatórios de macrófagos de mamíferos. As principais espécies são: Leishmania
chagasi (Brasil) e Leishmania donovani (mundo).
Formas do parasita:
Trato digestório do vetor: promastigotas metacíclicos (flagelados)
Organismo dos mamíferos: forma amastigota (não-flagelada)
Vetores
Dípteros pertencentes à sub-família Phlebotominae.
Lutzomyia longipalpis é o mais importante vetor no Brasil, sendo um inseto
adaptado ao domicílio e peridomicílio. A atividade hematófaga é máxima entre
o crepúsculo e 23h.
São pequenos e apresentam coloração amarelada (mosquito palha). Em
posição de repouso, suas asas permanecem eretas e semi-abertas. Devido a
seu vôo característico, em pequenos saltos, eles são chamados muitas vezes
de pula-pula.
Reservatório
Os principais reservatórios da infecção são o cão, a raposa e marsupiais. O cão pode
ou não adoecer e, quando isso acontece apresenta emagrecimento, queda dos pelos,
nódulos e ulcerações na pele (ricos em parasitas), paralisia dos membros posteriores
e cegueira.
Epidemiologia
A leishmaniose visceral brasileira se comportava como uma antropozoonose rural até
recentemente, mas, após a década de 80, observou-se sua expansão também para as
regiões periurbanas de grandes cidades.
É uma doença prevalente e de alta letalidade. Mais da metade dos pacientes são
adultos.
Ciclo de vida
As formas amastigotas do protozoário são adquiridas pelo vetor por sucção do sangue
de mamíferos infectados e no trato gastrintestinal dos insetos transformam-se em
promastigotas metacíclicas, que são inoculadas na derme do hospedeiro durante a
Bloco Síndromes Infecciosas 17
Paloma Faria
Patogênese
A resposta imunológica na leishmaniose visceral apresenta-se polarizada para um dos
subtipos da célula TCD4+:
Th1: Produção de IL-2 e IFN-ɣ (interferon-gama ativa macrófagos, que possui
ação microbicida por meio da produção de íons superóxidos) → autorresolução
e cura da infecção.
Th2: Produção de IL-4 e IL-10 → a doença é progressiva e fatal.
Quadro clínico
1. Forma assintomática: Frequente em indivíduos que vivem em área endêmica.
2. Forma oligoassintomática: Apresenta sintomas inespecíficos como febre baixa,
tosse seca, diarreia, sudorese, adinamia. Discreta visceromegalia (geralmente
somente o fígado está pouco aumentado). Frequentemente evolui para cura.
3. Forma clássica (sintomática):
Período inicial: Febre com duração inferior a 4 semanas, palidez,
hepatoesplenomegalia. Podem ocorrer tosse (seca ou pouco produtiva) e
diarreia.
Período de estado: Febre irregular, emagrecimento progressivo, palidez,
aumento da hepatoesplenomegalia, desconforto abdominal, estado geral
comprometido, dispneia aos pequenos esforços.
Período final: Em casos de não diagnóstico, há febre contínua e
comprometimento mais intenso do estado geral. Pode apresentar
desnutrição, hemorragias, icterícia, ascite e infecções bacterianas
secundárias (principal causa de óbito).
Diagnóstico
Quando suspeitar?
Esplenomegalia febril.
Febre com duração ≥ 14 dias (mesmo na ausência de esplenomegalia).
Exames inespecíficos
o Hemograma: pancitopenia
o Perfil hepático:
- Inversão da relação albumina/globulina com hipergamaglobulinemia
- Aumento das bilirrubinas e das aminotransferases
o Função renal: aumento da ureia e creatinina.
Exames específicos
1. Imunológico:
a. Imunofluorescência indireta: Método mais utilizado. Valores maiores que
1:80 são positivos.
Bloco Síndromes Infecciosas 18
Paloma Faria
Diagnóstico diferencial
Esquistossomose mansônica, linfomas e leucemias agudas, febre tifoide, salmonelose,
malária, tuberculose.
Tratamento
Pacientes assintomáticos não devem ser tratados devido à toxicidade do tratamento.
Ambulatorial: Ausência de sinais de gravidade. Tratar com antimonial pentavalente
(glucantime) injetável. Essa droga é cardiotóxica, causando arritmias fulminantes
(prolongamento do QT), necessitando de acompanhamento com EGC semanal.
Contraindicações: insuficiência renal, hepática ou cardíaca; gestantes; maiores de 50
anos.
Hospitalar: Uso de anfotericina B lipossomal injetável. Essa droga é mais potente e
menos tóxica, podendo ser usada em gestantes e imunossuprimidos.
Critérios de cura
o Desaparecimento da febre (ocorre geralmente até o 5°dia).
o Redução da hepatoesplenomegalia nas primeiras semanas.
o Melhora dos padrões hematológicos (a partir da 2° semana)
o Ganho ponderal progressivo.
→ Seguimento do paciente 3 e 6 meses após o tratamento. Se estiver estável na
última avaliação é considerado cura.
Referência:
TAVARES, W.; MARINHO, L.A.C. Rotinas de Diagnóstico e Tratamento das
Doenças Infecciosas e Parasitárias. 3a ed., 2012. | Cap. 110 – Leishmaniose
Visceral (Calazar).
Bloco Síndromes Infecciosas 19
Paloma Faria
GT5
PARACOCCIDIOIDOMICOSE
Etiologia
Epidemiologia
Fisiopatologia
Quadro clínico
Diagnóstico diferencial
Tratamento
Critérios de cura
I. Clínico: Desaparecimento dos sinais e sintomas.
II. Micológico: Pesquisa negativa do fungo em exame micológico após
tratamento eficaz. Não significa que desapareceu do organismo.
III. Radiológico: Estabilização do padrão radiológico com o tratamento em pelo
menos três radiografias realizadas ao longo de um ano.
IV. Imunológico: Os níveis séricos de anticorpos anti-P. brasiliensis negativam ou
ficam baixos.
Referências:
TAVARES, W.; MARINHO, L.A.C. Rotinas de Diagnóstico e Tratamento das
Doenças Infecciosas e Parasitárias. 3a ed., 2012. | Cap. 130 –
Paracoccidioidomicose.
VERONESI, R.; FOCACCIA, R. Tratado de Infectologia. 3a ed., 2005. | Cap. 84 –
Paracoccidioidomicose.
Bloco Síndromes Infecciosas 22
Paloma Faria
GT6
ANTIMICROBIANOS
MECANISMO DE MECANISMO DE
CLASSE AÇÃO
AÇÃO RESISTÊNCIA
Beta-lactâmicos
Produção de beta-
Exemplos:
lactamase
Penicilinas: naturais
Inibição da síntese da Modificação da ligação do
(cristalina, procaína) e
parede bacteriana por antibiótico com o PBP
sintéticas (amoxicilina,
meio da ligação à PBP, Diminuição da
ampicilina).
Bactericida inbindo peptideoglicano permeabilidade da
Cefalosporinas: 1a
e ocasionando uma membrana ao antibiótico
geração (cefalixina), 2a
perda na rigidez da devido às mutações com
geração (cefuroxina), 3a
parede celular. perda dos canais de
geração (ceftriaxona), 4a
porinas
geração (cefepima)
Bomba de efluxo
Alteração de sítio receptor
Macrolídeos Inibição da síntese da porção do 50s do
Bacteriostático proteica por meio da ribossomo
Exemplos: azitromicina,
ligação a subunidade Diminuição da
eritromicina, claritromicina
ribossomal 50S. permeabilidade da
membrana ao antibiótico
Inativação por enzimas
Aminoglicosídeos
Mutação do sítio de ligação
Exemplos: do ribossomo
Bactericida Inibição da síntese
estreptomicina, Diminuição da
proteica por meio da
gentamicina permeabilidade da
ligação a subunidade
membrana ao antibiótico
ribossomal 30S.
Inativação por enzimas
Quinolonas Diminuição da
permeabilidade da
Exemplos: ácido
Inibem DNA-girase, membrana ao antibiótico
nalidíxico,
Bactericida afetando a replicação, Bomba de efluxo
fluoroquinolonas
transcrição e reparo. Mutações cromossômicas
(norfloxacina,
em genes estruturais da
criprofloxacina)
DNA girase e da
topoisomerase
Aumento da síntese de
Sulfonamidas PABA
Bacteriostático Inibição do ácido fólico, Diminuição da
Exemplos:
pela competição com o permeabilidade da
sulfametoxazol,
PABA. membrana ao antibiótico
sulfadiazina
Alteração da via
metabólica
Diminuição da
Tetraciclinas Bacteriostático Inibição da síntese permeabilidade da
proteica por meio da membrana ao antibiótico
Exemplo: doxiciclina ligação a subunidade Bomba de efluxo
ribossomal 30S. Mutação do sítio de ligação
do ribossomo
Inativação por enzimas
Bloco Síndromes Infecciosas 23
Paloma Faria
GT7
ENDOCARDITE INFECCIOSA
Definição
Processo infeccioso que acomete o endocárdio valvar na maioria dos casos. Também
pode acometer o endocárdio que reveste comunicação interatrial ou interventricular,
em uma anormalidade cardíaca, corda tendínea ou ainda no endocárdio mural. A
lesão característica é a vegetação.
Epidemiologia
A incidência global da endocardite infecciosa na população tem-se mantido entre 2 e 6
por 100.000 indivíduos por ano nas 3 últimas décadas, com mortalidade entre 10% e
30%, a depender do tipo de patógeno, da condição subjacente e se a infecção ocorre
em uma válvula cardíaca natural ou prótese. As populações urbanas são mais
acometidas que as rurais. Nos casos de válvulas naturais, os homens mostram-se
mais acometidos que as mulheres. A média de idade é de 55 anos, com cerca de 50%
dos casos acometendo maiores de 60 anos.
Etiologia
A bacteriana é a mais comum, mas também pode ser causada por fungos ou vírus.
→ Principais agentes bacterianos: estafilococos (Staphylococcus aureus),
estreptococos (Streptococcus pneumoniae, grupo Viridans) e enterococos.
Evolução clínica
Forma aguda: Infecção de valvas cardíacas normais causada por agentes virulentos,
como o Staphylococcus aureus e Streptococcus pneumoniae, com destruição rápida
das valvas e disseminação hematogênica. A letalidade é alta.
Forma subaguda: Acometimento de valvas previamente danificadas por organismos
de baixa virulência, como estreptococos do grupo Viridans e enterococos. Possui
evolução mais insidiosa.
Condições predisponentes
Prótese valvular
Endocardite prévia
Prolapso da valva mitral
Valvopatia degenerativa
Anormalidades congênitas
Cardiopatia reumática
Fisiopatologia
1. Fatores hemodinâmicos (jato sanguíneo de alta velocidade e gradiente de pressão
entre câmaras) são responsáveis pela primeira alteração, uma lesão endotelial.
2. Ocorre deposição de plaquetas e fibrina no local da lesão, formando um trombo.
3. Bacteremias decorrentes de processos inflamatórios traumáticos são
responsáveis pela aderência de microrganismos.
4. As bactérias possuem fatores de adesão que causam ainda maior lesão
endotelial, criando um ciclo de inflamação e posterior deposição de fibrina.
5. Forma-se então a vegetação, composta por plaquetas, fibrina, microrganismos e
células inflamatórias. As bactérias fazem parte do núcleo da vegetação e são
recobertas por várias camadas de fibrina, dificultando a fagocitose dos neutrófilos.
6. A bacteremia prolongada gera resposta imune humoral e celular.
Nota: As vegetações ocorrem geralmente à jusante da lesão da face valvar da câmara
de menor pressão, ou seja, elas se localizam na face atrial das válvulas mitral e
tricúspide, face ventricular da válvula aórtica e no ventrículo direito da CIV.
Bloco Síndromes Infecciosas 25
Paloma Faria
Endocardite infecciosa:
Definitiva: 2 critérios maiores OU 1 maior e 3 menores OU 5 menores
Provável: 1 critério maior e 1 menor OU 3 menores
Exames laboratoriais e de imagens
Hemoculturas: Deverão ser colhidas 12 a 24 horas antes de iniciada a
antibioticoterapia. A positividade ocorre em cerca de 85% dos casos. É
recomendado a colheita de três amostras, em locais diferentes, com intervalo de no
mínimo uma hora.
Sorologia: Importante para identificação de agentes etiológicos de difícil isolamento
em cultivo. A positividade é demonstrada pela elevação dos títulos de IgG.
Exame patológico valvular: Estudo histológico e cultura.
PCR: Permite a identificação de microrganismos quando hemoculturas são
negativas, uso anterior de antibiótico ou causado por organismos fastigiosos ou não
cultivados.
Ecocardiografia: Podem ser encontradas vegetações, abcessos, aneurismas,
fístulas, perfuração de folheto e deiscência de próteses.
Hemograma: Anemia normocrômica e normocítica. Leucocitose com neutrofilia,
principalmente na forma aguda por S. aureus. Também pode ser encontrado desvio
à esquerda.
Urina rotina: Hematúria microscópica, proteinúria e leucocitúria.
Tratamento
→ Antibioticoterapia:
Empírica Específica
Estreptococos e Enterococos: penicilina G +
Deve ser iniciada
aminoglicosídeo
imediatamente, enquanto se
Estafilococos: oxacilina + aminoglicosídeo
esperam os resultados das
Estafilococos resistentes à oxacilina causando
hemoculturas.
infecção comunitária: vancomicina + aminoglicosídeos
Visa bactérias mais agressivas.
Estafilococos na presença de próteses valvares:
Penicilina G + aminoglicosídeo
vancomicina + rifampicina
→ Tratamento cirúrgico: Indicado em casos de urgências e emergências.
Profilaxia
Procedimentos indicados:
1) Procedimentos na orofaringe, nasofaringe e esôfago que possam causar
sangramento: procedimentos dentários, amigdalectomia, adenoidectomia,
broncoscopia, dilatação de estenoses esofágicas, colocação de stents esofágicos.
2) Cirurgias da próstata, cistoscopia e dilatação uretral.
3) Cirurgias cardíacas.
→ Para procedimentos orais, a profilaxia é direcionada aos estreptococos do grupo
Viridans, enquanto para procedimentos dos tratos gastrointestinal e geniturinário o
alvo principal são os enterococos. Para cirurgias cardíacas, a profilaxia recomendada
é direcionada aos estafilococos.
Referências:
TAVARES, W.; MARINHO, L.A.C. Rotinas de Diagnóstico e Tratamento das
Doenças Infecciosas e Parasitárias. 3a ed., 2012. | Cap. 51 – Endocardite
Infecciosa.
VERONESI, R.; FOCACCIA, R. Tratado de Infectologia. 3a ed., 2005. | Cap. 47 –
Endocardites Infecciosas.
GOLDMAN, L. Goldman Cecil Medicina Interna. 23ª ed. | Cap. 76 – Endocardite
Infecciosa.