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Helmintas (Metazoários)

Os Helmintas, grupo de parasitas muito heterogéneo. São, por definição parasitas


multicelulares, alguns podem atingir tamanho considerável (Taenia spp. até 4-5 metros);
têm ciclos de vida complexos, pudendo ter necessidade de hospedeiros intermediários; as
vias de transmissão são variadas, sendo por vezes transmitida por vetores e as lesões que
provocam no corpo humano muito diversas.

Incluem três classes principais consoante a forma do seu corpo (corte transversal):

▪ Nemátodos – vermes redondos, cilíndricos

▪ Céstodos – ténias, vermes em fita

▪ Tremátodos – vermes planos, achatados

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NEMÁTODOS
(Medical Microbiology, 9th edition. P. Murray, Capítulo 74)

OBJECTIVOS: conhecer o ciclo de vida, formas infetantes, doenças associadas, epidemiologia e


diagnóstico dos seguintes nemátodos

São vermes cilíndricos, de simetria bilateral, não segmentados e com sexos separados.

Os nemátodos são os helmintas que mais frequentemente estão associados a doença no Homem.
A gravidade destas infeções dependem da quantidade do inoculo parasitário bem como da sua
localização, assim os nemátodos intestinais produzem uma lesão de menor gravidade do que os
nemátodos dos tecidos.

Geralmente diagnosticam-se pela identificação microscópica dos ovos ou larvas do parasita.

Caracteristicamente produzem eosinofilia.

NEMÁTODOS INTESTINAIS

Ascaris lumbricoides

Ancylostoma duodenale/Necator americanus


Intestino delgado
Strongyloides stercolaris
Trichuris trichiuria
Intestino grosso Enterobius vermicularis

NEMÁTODOS DOS TECIDOS

Músculo estriado Trichinella spiralis « trichinose »


Órgãos internos Toxocara canis « larva migrans visceral »
Pele Ancylostoma braziliense « larva migrans cutânea »

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NEMÁTODOS DO SANGUE

Brugia malayi « elefantíase »


Wuchereria bancrofti « elefantíase »
Loa loa « verme Africano do olho »
Onchocerca volvulus « cegueira do rio »

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Enterobius vermicularis (Oxiúros)

É uma parasitose de distribuição cosmopolita, mais frequente em climas temperados e húmidos.


Infecta indivíduos de uma família ou de uma comunidade (escolas).

O ciclo de vida apresenta certas particularidades. A forma adulta adere à mucosa do ílion terminal
e as fêmeas fecundadas migram caracteristicamente para a zona perianal, normalmente durante a
noite onde depositam os ovos, o que pode perpetuar a infeção por um mecanismo de autoinfeção.

Os vermes adultos atingem até 15 cm no caso das fêmeas e 6-7 cm os machos.

▪ Epidemiologia:

O homem é o único hospedeiro para este parasita (antroponose pura)

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A via principal de transmissão é por ingestão de ovos, sendo possíveis vias de infeção a inalatória e
mecanismos de autoinfeção/retro infeção.

A oxiuríase é uma parasitose muito frequente entre crianças.

Enumere e explique quais são as diferentes vias de transmissão da infeção por oxiúros e
como elas ocorrem?

▪ Manifestações clínicas:

Os sintomas clínicos mais característicos, são o prurido na zona perianal e perineal com as
correspondentes lesões e as alterações do sono (pela migração noturna das fêmeas); as
vulvovaginites são frequentes.

Podem ocorrer complicações, normalmente raras, como a infeção bacteriana secundária, migração
sistémica pelo peritoneu, fígado e pulmão, apendicite e problemas geniturinários.

▪ Diagnóstico:

O diagnóstico de confirmação é feito por observação microscópica dos ovos recolhidos na zona
perianal utilizando uma fita adesiva ou uma zaragatoa embebida em solução salina, que é colocada
numa lâmina para posterior observação ao microscópio, esta técnica e conhecida como teste de
Graham. (ver figura).

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Podem ainda ser observados ovos na urina de criança de sexo feminino e os vermes adultos podem
raramente ser observados nas fezes.

Os ovos de Enterobius têm morfologia assimétrica característica, sendo achatados numa das faces,
alongados, incolores e possuem uma larva imatura no interior.

▪ Tratamento, prevenção e controlo:

O Mebendazol e Albendazol são as drogas de eleição. Todos os membros da família devem


ser tratados para reduzir o risco de reinfeção, é recomendado repetir o tratamento
passadas duas semanas com o mesmo objetivo

A roupa interior e as roupas de cama devem ser lavadas a altas temperaturas e aspirada as
janelas e portas da habitação para evitar inalação dos ovos.

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Ascaris lumbricoides

▪ Epidemiologia:

O homem é o único hospedeiro, não existindo


nenhum reservatório animal conhecido.

É o nemátodo com maior distribuição em todo


o mundo parasitando cerca de 1 bilião de
pessoas.

A infeção ocorre por ingestão dos ovos a partir


de alimentos ou águas contaminadas (sobretudo em áreas onde as condições sanitárias são
deficitárias).

▪ Ciclo de vida:

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Os ovos eclodem no intestino delgado atingindo a forma larval que penetra na mucosa do intestino
delgado (mucosa duodenal) e circula pela corrente sanguínea atingindo os pulmões onde as larvas
amadurecem em duas semanas

As larvas maduras são engolidas e voltam até o intestino delgado onde formam os vermes adultos
que iniciam a produção de ovos fecundados sendo estes eliminados nas fezes, passado 3 meses
após a ingestão inicial de ovos. Os vermes adultos atingem até 40 cm no caso das fêmeas e 20 cm
dos machos.

A migração do parasita é chamada entero-hepato-pulmonar-entérica – obrigatória para a


maturação dos vermes adultos

▪ Manifestações clínicas:

Infeção assintomática – muito frequente nas zonas endémicas

A migração pelos pulmões pode causar Pneumonite eosinófila ou Síndroma de Löeffler (infiltrados
migrantes)

Ascaridíase sintomática – infeção leve que se manifesta normalmente com desconforto


abdominal. As complicações da ascaridíase podem ser consequência da migração do parasita e
atingimento de outros órgãos.

Complicações:

⮚ Digestivas: Oclusão intestinal, perfuração e peritonite com infeção bacteriana secundária

⮚ Hepáticas e biliares: abcesso hepático, obstrução da via biliar com icterícia

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▪ Diagnóstico:

Diagnostica-se pela observação microscópica de ovos férteis ou inférteis nas fezes. Os ovos têm
forma oval e são pigmentados pela bílis.

Raramente os vermes adultos, que atingem grande tamanho são observados nas fezes

A pesquisa de larvas na expetoração pode ser útil no diagnóstico da fase pulmonar

▪ Tratamento, prevenção e controlo:

Albendazol e Mebendazol são as drogas de eleição

Boa higiene pessoal, boas condições sanitárias, ingestão de alimentos crus bem lavados (alface,
cenoura, etc.)

 Evitar o uso de fezes humanas como fertilizante.

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Ancylostoma duodenale e Necator americanus

Também conhecidos como vermes com ganchos ou hookworms. Conhecem-se


duas espécies principais que diferem apenas na distribuição geográfica e
morfologia da boca, causando ambas problemas de saúde semelhantes.

Parasitose que ocorre principalmente em países tropicais e subtropicais onde as


condições de humidade e calor favorecem o seu desenvolvimento.

▪ Epidemiologia e Ciclo da vida:

O Homem é o único hospedeiro para estes parasitas, não existindo reservatório animal nem
vetor (inseto).

O solo contaminado com fezes humanas contém as larvas infetantes (larvas filariformes)
que penetram pela pele, depois migram via sanguínea até aos pulmões (A. duodenale
também por via oral)

As larvas penetram as paredes alveolares, sobem até à faringe e são engolidas

No intestino delgado as larvas amadurecem sexualmente e os vermes adultos (8 a 11 mm)


aderem à parede intestinal iniciando a produção de ovos que são expulsos pelas fezes.

Após o contacto dos ovos com o solo são libertadas as larvas imaturas (larvas rabditiformes)
que concluem a sua maturação em 2 semanas e transformam-se em larvas filariformes
(infetantes)

O ciclo completo do parasita dura 4 a 5 semanas, surgindo os ovos nas fezes ao fim de 5
semanas

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▪ Manifestações clínicas:

Infeções assintomáticas: comuns nas áreas endémicas

Doença sintomática:

🗶 Pulmão 🡺 pneumonite

🗶 Sangue 🡺 anemia microcítica hipocrómica

🗶 Intestino 🡺 diarreia, défice nutricional, perdas de sangue, náuseas, vómitos

🗶 Pele 🡺 erupção e reações alérgicas no local da entrada

Qual é o mecanismo de produção da anemia?

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▪ Diagnóstico:

O diagnóstico é semelhante ao dos restantes nemátodos e é feito por observação microscópica dos
ovos nas fezes. Os ovos de ambos helmintas são caracteristicamente de aspeto segmentado, não
corados pela bílis e morfologicamente indistinguíveis.

Raramente são observadas as larvas, só em amostras de fezes antigas nas quais as lavas eclodem
dos ovos (larva rabditiforme)

▪ Tratamento, prevenção e controlo:

O Albendazol e o Mebendazol são os fármacos de eleição.

As medidas de higiene pessoal, assim como a proteção dos pés nas áreas endémicas mediante o uso
de sapatos, podem ser medidas eficazes na prevenção da infeção.

Evitar o uso de fezes humanas como fertilizantes do solo.

Curiosidades…
Cada fêmea de A. duodenale produz entre 25000-35000 ovos por dia e durante toda a sua vida
(1 a 3 anos) produz entre 18 a 54 milhões de ovos

A fêmea N. americanus produz entre 6000-20000 ovos por dia e pode viver entre 3 a 5 anos.

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Strongyloides stercoralis

▪ Epidemiologia e ciclo de vida:

É o agente da Estrongiloidose, parasitose de distribuição mundial.

Possui no seu ciclo de vida algumas caraterísticas particulares, como a capacidade de reproduzir-se
no solo tendo assim uma fase de vida livre.

Quias é a caraterística principal da fase de vida livre?

Entre 30 e 100 milhões de pessoas são infetadas em todo o mundo

Strongyloides stercoralis infeta o Homem, existem, no entanto, outras espécies que afetam outros
animais como macacos, cães, etc.

O Homem é o hospedeiro definitivo deste parasita.

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Normalmente a larva filariforme, forma infetante, presente no solo, penetra através da pele ou
das mucosas, atingindo o intestino delgado, habitat do parasita adulto, diretamente ou através da
passagem pelos pulmões.

No intestino delgado dá-se a maturação sexual dos adultos, as fêmeas aderem à parede intestinal e
começam a produzir ovos. Os vermes adultos atingem entre 0.7-1.3 mm de cumprimento.

Ainda no lúmen intestinal as larvas eclodem diferenciando-se em larvas rabditiformes macho e


fêmea e saem para o exterior com as fezes. No solo as larvas sofrem maturação e transformam-se
em larvas filariformes.

A maturação das larvas pode ocorrer ainda dentro do intestino e tornarem-se infetantes e
perpetuando a infeção por autoinfeção.

A infeção pode persistir durante anos.

▪ Manifestações clínicas:

▪ Infeção assintomática

▪ Manifestações cutâneas, eritema e prurido na


zona de entrada.

▪ Manifestações respiratórias, pneumonite,


consequência da migração das larvas pelo pulmão, com
tosse, expetoração, asma.

▪ Manifestações gastrointestinais – dor


abdominal, vómitos, diarreia, astenia e má absorção.

▪ Infeção no individuo imunodeprimido. Nos doentes com compromisso imune e Infeção


crónica pode ocorrer uma Síndrome de Hiperinfeção, por falta de controlo do mecanismo de
autoinfeção, ocorrendo com disseminação sistémica das larvas e alta mortalidade.

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▪ Diagnóstico:

O diagnostico laboratorial é realizado por observação das larvas nas fezes. As larvas deste parasita
são difíceis de ver microscopicamente dada a sua eliminação intermitente, pelo que devem ser
estudadas várias amostras e realizar técnicas de concentração.

A pesquisa pode ser feita noutros tipos de amostras, nomeadamente na expetoração ou no aspirado
duodenal.

Ao contrário de outros nemátodos, os ovos de estrongiloides são raramente observados nas fezes.

Larvas rabditiformes
Larvas filariformes Ovos

São metodologias alternativas a cultura das larvas e métodos serológicos, estes últimos com fins
epidemiológicos.

▪ Tratamento, prevenção e controlo:

Ivermectin é a droga de eleição, sendo Albendazol e Mebendazol as alternativas. É conveniente o


tratamento da infeção para prevenir a síndrome de Hiperinfeção.

A prevenção da estrongiloidose passa pelas medidas de boas condições sanitárias, educação da


população no sentido da proteção e uma boa higiene pessoal.

Deve-se evitar a contaminação do solo com fezes humanas.

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Trichinella spiralis

Agente responsável pela Triquinose.

É um parasita de distribuição mundial, com maior prevalência em zonas onde o consumo de carne
de porco é elevado.

A doença transmite-se pela ingestão de larvas enquistadas no músculo estriado dos animais
mamíferos, sendo os suínos os mais frequentemente afetados. As larvas desenvolvem-se em
vermes adultos no intestino delgado (2 dias). Os vermes adultos atingem até 3-4 mm no caso das
fêmeas e 2 mm os machos.

As fêmeas começam a produzir larvas que atravessam a mucosa intestinal e atingem a circulação
sistémica. Estas larvas têm tropismo para o tecido muscular onde se enquistam.

▪ Ciclo de vida:

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▪ Manifestações clínicas:

As manifestações clínicas da triquinose dependem do local onde as larvas migraram e da


concentração das mesmas no tecido.

Digestivas: derivadas da invasão intestinal, leve diarreia

Sistémicas: ocorrem durante o período de migração das larvas. Nas infeções leves ocorre uma
síndrome pseudogripal. Quando há uma alta concentração de larvas as manifestações sistémicas
são mais severas, por vezes derivadas de fenómenos de vasculite. Nos casos mais graves pode haver
manifestações neurológicas severas.

Musculares: causadas pela invasão das larvas como miosite, dispneia, alterações dos movimentos
oculares, etc.

Triquinose letal: ocorre se atingimento severo do miocárdio, diafragma e disseminação sistémica.

▪ Diagnóstico:

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O diagnóstico laboratorial é realizado por Biopsia muscular para pesquisa das larvas, tipicamente
em espiral, podem ser procuradas no individuo ou no alimento contaminado.

A serologia com pesquisa de anticorpos específicos pode auxiliar o diagnóstico.

A eosinofilia sanguínea é frequente

▪ Tratamento, prevenção e controlo:

O tratamento é sintomatológico porque não existe tratamento eficaz contra as larvas. O


Mebendazol pode ser usado contra os parasitas adultos para reduzir a libertação de larvas

Evitar comer carnes pouco cozidas. As carnes secas, fumadas ou preparadas em micro-ondas podem
conter larvas vivas. Realizar controlos aos animais destinados a consumo humano, nomeadamente
à carne de porco.

Quais são as medidas mais eficazes para eliminar as larvas da carne contaminada?

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Filariase (Wuchereria bancrofti e Brugia malayi)

▪ Epidemiologia e ciclo de vida:

A filaríase linfática é uma das parasitoses tropicais mais prevalentes. São helmintíases transmitidas
por insetos hematófagos. W bancrofti e B malayi diferem em alguns aspetos, mas o ciclo de vida é
semelhante

Existem 120 milhões de pessoas infetadas no mundo com ampla distribuição pelos países tropicais,
subtropicais e costa mediterrânica. 90-95% dos casos são provocados por W bancrofti, filária de
periodicidade noturna sem reservatório animal identificado. B malayi, espécie com periodicidade
noturna, típica de regiões pantanosas, tem como reservatório os gatos e macacos.

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As larvas infetantes são transmitidas ao homem pela picada de mosquito (Aedes, Anopheles) Elas
migram via linfática e atingem os nódulos linfáticos onde se desenvolvem os nemátodos adultos. A
fêmea produz larvas chamadas microfilárias (0.8micrometros) que circulam no sangue e podem
infetar o mosquito. No mosquito as microfilárias transformam-se em larvas filariformes infetantes
(1-2 semanas) As formas adultas vivem durante anos no Homem.

▪ Manifestações clínicas:

Sintomas precoces – febre, linfangite,


linfadenite e calafrios pela resposta
inflamatória.

Infeção progressiva com aumento dos nódulos linfáticos; É produzida obstrução linfática pelas
filarias adultas da qual derivam os sintomas da doença. Podem dar origem a grandes edemas
denominados elefantíase.

Complicações da infeção crónica são a infeção bacteriana secundária, ascite e derrame pleural.

▪ Diagnóstico:

Realiza-se por observação microscópica das microfilárias no sangue periférico. Para a sua
observação é necessário ter em conta a sua periodicidade e por vezes são precisas técnicas de
concentração.

As diferentes espécies de filarias distinguem-se pela morfologia da extremidade cefálica, com


revestimento ou bainha, e da cauda onde estão os núcleos.

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▪ Tratamento, prevenção e controlo:

Não existe tratamento eficaz contra o parasita adulto, Dietilcarbamazina ou Ivermectina são usados
para tratamento das microfilarias, não estando isento de efeitos secundários.

Na prevenção devem ser usados repelentes de mosquitos e realizar controlo dos mesmos.

Endosimbiose bacteriana:
As filarias adultas estabelecem uma relação de simbiose com a bactéria do género
Wolbachia, sendo esta condicionante da sua atividade metabólica e reprodutora.
É por esta razão que alguns antibióticos como a doxiciclina podem ser eficazes no
tratamento das formas adultas

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CÉSTODOS
(Medical Microbiology, 9th edition. P. Murray, Capítulo 76)

OBJECTIVOS: conhecer o ciclo de vida, formas infetantes, doenças associadas, epidemiologia e


diagnóstico dos segures céstodos

Os céstodos ou ténias são vermes de corpo achatado e segmentado, em forma de fita, com cabeça
arredondada ou escolex, e que possuem ventosas ou ganchos que permitem a fixação à mucosa
intestinal do animal/homem parasitado.

O tamanho do corpo varia de alguns centímetros a 10 metros.

São parasitas hermafroditas, têm sistema nervoso e excretor, mas não possuem aparelho digestivo.

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Taenia solium

T. solium, ou ténia do porco, causa infeção intestinal com a forma adulta (2 a 4 metros) e infeção
somática com a forma larvar Cysticercus cellulosae.

▪ Epidemiologia:

É um céstodo cosmopolita com maior prevalência na América Latina, África, Índia, China e alguns
países na Europa (Rússia, Polónia). A prevalência desta parasitose depende do acesso fácil do porco
aos excrementos humanos por hábitos de defecação humana no meio ambiente, da criação do
animal em liberdade e do fraco controlo veterinário da carne suína.

▪ Ciclo de vida:

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O porco é o hospedeiro intermediário deste parasita e o Homem o único hospedeiro definitivo.
Quando o homem ingere carne de porco mal passada que contém cisticercos, desenvolve-se no
intestino uma ténia adulta que elimina os proglótides que contêm ovos pelas fezes.

Quando o Homem ingere os ovos (por autoinfeção ou ingestão de água ou alimentos contaminados)
desenvolve-se uma Cisticercose, tal como nos suínos.

Carne com cisticercos


Ingestão de cisticercos TENIASE

Ingestão de ovos CISTICERCOSE


Água, vegetais, mãos,
autoinfeção.

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▪ Manifestações clínicas:

Ocorre habitualmente de forma assintomática, mas pode manifestar-se com sintomas


gastrointestinais inespecíficos – dor abdominal, anorexia, perda ponderal, desconforto abdominal.

Quando se desenvolve uma Cisticercose, as manifestações clínicas devem-se à reação inflamatória


nos diversos órgãos parasitados. A cisticercose cerebral é a manifestação mais grave da doença.

▪ Diagnóstico:

O diagnostico da teníase é feito pela observação dos ovos ou proglótides nas fezes; os ovos são
esféricos e possuem uma proteção externa com uma estriação radial típica. Os ovos das diferentes
ténias são indistinguíveis, sendo a observação das proglótides ou escólex o que vai permitir a
identificação das diferentes espécies

Na cisticercose podem ser observados calcificações por estudos de imagem ou cisticercos por
biopsia nos tecidos afetados
A serologia pode ser um método alternativo.

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▪ Tratamento, prevenção e controlo:

O Praziquantel é o tratamento de eleição para teníase ou cisticercose, neste caso associados com
esteroides para diminuir a resposta inflamatória aos cisticercos
Tratamento térmico da carne, bem cozinhadas ou congeladas, especialmente nas zonas
endémicas.
Boas condições sanitárias e controlo veterinário da carne são medidas a tomar na prevenção desta
parasitose.

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Taenia saginata

O gado bovino é o hospedeiro intermediário e a infeção é produzida por ingestão de carne pouco
cozida contaminada com cisticercos. O cisticerco transforma-se em ténia (até 10 m), que parasita o
intestino delgado do Homem.

▪ Ciclo de vida:

Esta ténia é mais frequente do que T. Solium e a simbiose com o homem pode durar anos. É um
parasita de distribuição cosmopolita.

▪ Manifestações clínicas:

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A infeção sintomática é mais frequente dado o tamanho atingido pelo parasita adulto. Dores
abdominais, anorexia, perda ponderal, desconforto gástrico são os sintomas mais habituais

▪ Diagnóstico:

É feito por observação dos proglótides eliminados nas fezes, sendo


os ovos indistinguíveis dos da T. Solium

▪ Tratamento, prevenção e controlo:

O Praziquantel é o tratamento de eleição


A prevenção da infeção humana faz-se evitando o consumo de carne bovina mal passada.
O controlo da infeção deve ser feito por inspeção veterinária ao gado bovino.

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Echinococcus granulosus

É o céstodo que causa a Hidatidose/Equinococose ou Quisto hidático, afeta o Homem de maneira


acidental.

▪ Epidemiologia e Ciclo de vida:

Parasitose de distribuição mundial, endémicas em zonas onde se faz criação de gado ovino.

O cão é o hospedeiro definitivo sendo responsável pela eliminação dos ovos. Ele infeta-se ao ingerir
órgãos de gado que contém quistos do parasita. A ténia adulta parasita o intestino do cão (5-6 mm)

O Homem é hospedeiro intermediário acidental, sendo infetado pela ingestão de ovos


embrionados com a água ou alimentos contaminados ou por contacto direto com cães infetados

Os herbívoros, principalmente o gado, constituem o reservatório deste parasita, adquirindo a


infeção ao ingerir os ovos libertados nas fezes do cão.

Estes ovos uma vez ingeridos, libertam as oncosferas (larvas) no duodeno, atravessam a mucosa e
disseminam-se através da circulação portal, atingem os diversos órgãos onde formam quistos –
quistos hidáticos, que são quistos cheios de líquido em crescimento contínuo.

▪ Manifestações clínicas:

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Resulta da compressão do órgão afetado por parte do quisto, o crescimento do quisto é lento,
podem passar entre 5 a 20 anos antes dos sintomas surgirem. O quisto pode causar erosão nos
tecidos como por exemplo no osso.

A localização mais frequente dos quistos é o fígado seguido pelo pulmão, peritoneu, rim, osso,
cérebro.

Podem surgir complicações como a sobre infeção do quisto, a rotura do quisto que pode causar
disseminação e reação anafilática grave e a sensibilização às proteínas do quisto

▪ Diagnóstico

Métodos imagiológicos, são usados para evidenciar a presença dos quistos

Os métodos diagnósticos mais utilizados são os serológicos sendo os testes de ELISA os mais
sensíveis e específicos.

O diagnóstico definitivo é feito pela identificação do proto-escólex ou das vesículas numa amostra
(a punção de um quisto hidático está contraindicada devido ao risco de rotura e posterior
disseminação e reação anafilática).

▪ Tratamento, prevenção e controlo:

A remoção cirúrgica do quisto é o tratamento de


eleição. Nas situações inoperáveis altas doses de
Albendazol ou Mebendazol são recomendadas.
A prevenção passa pelo controlo da infeção nos cães e usar medidas de higiene alimentar e
pessoal apropriadas

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TREMÁTODOS
(Medical Microbiology 9th edition. P. Murray, Capítulo 75)

OBJETIVOS: conhecer o ciclo de vida, formas infetantes, doenças associadas, epidemiologia e


diagnóstico dos seguintes tremátodos

São vermes geralmente achatados, não segmentados, de forma alongada ou foliácea possuindo
duas ventosas musculares. Têm aparelho digestivo e podem ter sexos separados (somente
Schistosoma spp.) ou sernhermafroditas (exemplo: Fasciola).

No ciclo de vida, participa um hospedeiro intermediário, pode ter um segundo hospedeiro


intermediário ou hospedeiro de transporte (plantas) e um hospedeiro definitivo que pode ser o
Homem.

A via de entrada e a localização no hospedeiro definitivo varia segundo a espécie, o que condiciona
as manifestações clínicas.

Desenho à escala: - ovos de tremátodos que se podem encontrar nas fezes humanas. Observar as
diferenças de tamanho.

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Fasciola hepatica

Vermes planos, não segmentados, hermafroditas e de forma oval, tipo folha. Parasita habitual de
herbívoros como ovelhas, cabras, etc. e, acidentalmente, o Homem

Provocam uma das parasitoses hepatobiliares com maior importância em saúde pública.

▪ Ciclo de vida:

 O homem é um dos hospedeiros definitivos (acidental) e costuma contrair a doença por ingestão
de plantas aquáticas (agrião) contaminadas por metacercárias; estas migram atravessando a parede
duodenal, e chegam ao fígado e à vesícula biliar onde maturam e atingem a forma adulta; (vias
biliares) os ovos produzidos são eliminados pelas fezes.

Os ovos devem permanecem na água algum tempo para desenvolverem os miracídios (forma
infetante), que prosseguem o seu ciclo de vida em moluscos anfíbios, o caracol. Dos moluscos saem
cercárias que enquistam sob a forma de metacercárias nas plantas aquáticas ou na própria água.

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▪ Epidemiologia:

Distribuição mundial onde é feita criação de gado ovino; a presença do hospedeiro intermediário e
hábitos alimentares como consumo de plantas aquáticas, são necessários para a parasitose
ocorrer.

▪ Manifestações clínicas:

Na fase de migração, pode ocorrer febre com eosinofilia acentuada e dor no hipocôndrio direito. O
parasita adulto encontra-se no fígado e vias biliares, onde provoca doença. Os sintomas são
causados por mecanismos de irritação, toxicidade e ação hiperplásica.

As complicações podem ser hepáticas com fibrose e cirrose hepática, e infeções bacterianas
secundárias.

▪ Diagnóstico

Normalmente o diagnóstico é feito pela identificação dos ovos operculados (“com tampa”) nas
fezes, bílis ou aspirado duodenal.

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.

Estão disponíveis testes serológicos que detetam anticorpos contra antigénios do parasita e que
podem ser úteis. Por exemplo, tendo em consideração a exposição inicial à Fasciola hepatica,
habitualmente, os anticorpos são detetáveis primeiro do que os ovos em termos temporais.

A deteção de antigénio do parasita nas fezes é útil na distinção entre infeções presente e passada.
Testes de diagnóstico molecular (deteção de ácidos nucleicos do parasita), a partir de amostras
fecais, são alternativas promissoras.

▪ Tratamento, prevenção e controlo:

Triclabendazol é o fármaco mais eficaz.


O Homem adquire a doença por ingestão de água ou agriões contaminados. A prevenção realiza-se
evitando a ingestão destas verduras em áreas onde o risco de contaminação existe (presença de
gado) bem como tomando medidas para eliminar os caracóis.

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Schistosoma ssp

Os schistosomas são dos tremátodos mais importantes em Medicina. Responsáveis pelas


schistosomoses, bilharziose ou febre do caracol. São parasitas intravasculares obrigatórios, com
sexos separados. Estão descritas várias espécies patogénicas para o ser humano:

Espécie Distribuição Parasita adulto Ovos

África, Meio Oriente,


S. haematobium Plexo vesical, prostático e uterino Urina
Índia
Japão, China, Filipinas,
S. japonicum Plexo mesentérico superior Fezes
ilha Sulawesi (Indonésia)
África, América do Sul,
S. mansoni Plexo mesentérico inferior Fezes
Caraíbas, Arábia Saudita

▪ Epidemiologia:

Mais de 200 milhões de pessoas estão infetadas nas áreas endémicas.


O parasita encontra-se nas águas dos rios e lagos onde o hospedeiro intermediário (caracol) está
presente.
Existem vários animais que servem de reservatório como primatas, roedores, gado, cães, cavalos,
porcos, que diferem conforme a espécie.

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A via de transmissão é cutânea; as cercárias, formas infetantes, penetram no organismo através da
pele intacta, quando o hospedeiro entra em contacto com águas contaminadas.
A cercária migra via sanguínea ao sistema portal do fígado onde faz maturação e transformação em
vermes adultos (as fêmeas atingem maior cumprimento do que os machos); depois eles acoplados
migram ao plexo mesentérico superior (S. japonicum), ao plexo mesentérico inferior (S. mansoni)
ou ao plexo vesical (S haematobium) e iniciam a produção de ovos que atravessam a parede
intestinal ou vesical e são excretados nas fezes ou na urina.

▪ Manifestações clínicas:

Na fase de invasão, provocam reação no local de entrada como prurido, reações alérgicas e
dermatite na zona de penetração.

Na fase aguda, correspondente à fase em que o parasita começa a produzir os ovos (4-8 semanas),
pode apresentar sintomatologia conhecida como febre de Katayama, quadro autolimitado com
manifestações tóxicas ou alérgicas, linfadenopatias, hepatoesplenomegalia e eosinofilia.

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Os sintomas na fase crónica e as complicações diferem conforme a localização dos ovos do parasita
e são derivadas da reação fibrosante e granulomatosa contra estes.

🡺 S. japonicum e S. mansoni -hepato-esplenomegalia e fibrose peri portal; pode provocar


sintomas neurológicos por atingimento do SNC.

🡺 S. haematobium sintomas génito-urinários como disúria, hematúria, hidronefrose e, como


complicação mais grave a neoplasia de bexiga

▪ Diagnóstico:

Faz-se pela identificação dos ovos nas fezes, na urina ou em biópsias.

Os testes complementares como a ecografia hepática (observação de bandas fibróticas peri portais)
e a cistoscopia (observação de massas ou granulomas na bexiga) auxiliam o diagnóstico.

As provas serológicas têm fundamentalmente interesse epidemiológico. O seu interesse

clínico principal é em viajantes (originários de áreas não endémicas).

Têm sido também desenvolvidos testes de deteção de antigénios (CAA e CCA) e testes

moleculares (deteção de DNA dos parasitas em diferentes tipos de amostra).

▪ Tratamento, prevenção e controlo:

O anti-helmintico de primeira escolha é o Praziquantel, cuja eficácia conduzirá à cessação da


produção de ovos.

A prevenção passa por adotar medidas de saneamento adequadas, evitar micção e defecação nas
águas (rios, lagos), evitar contato com coleções de água doce em áreas endémicas e atuar contra o
hospedeiro intermediário, o caracol. A Consulta de Medicina do Viajante também é

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importante neste contexto.

Programas de tratamento em massa podem ajudar no controlo destas infeções.

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ARTRÓPODES
(Medical Microbiology 9th edition. P. Murray, Capítulo 77)

Os artrópodes constituem o mais diversificado e numeroso grupo do reino Animmalia. A


importância médica deve-se a capacidade de transmitir agentes infeciosos, vetores, e como
responsável por doença, patogénicos.

Os artrópodes são metazoários invertebrados, de simetria bilateral, com exoesqueleto de quitina


que apresenta apêndices articulados. Apresentam sexos separados.

Existem dos grupos de artrópodes de importância médica:

Arachnida: p.e. os escorpiões

Insecta: existem cerca de 14.000espécies de insetos hematófagos, constituindo o grupo de


artrópodes com maior importância em medicina.

Classe Arachnida:

Scorpionida (escorpiões)

É caraterística deste grupo a presença de uma estrutura em


forma de gancho na porção terminal do abdómem.

Habitam as regiões quentes do planeta e são animais de


atividade noturna. Em Portugal só existe uma espécie
registada (Buthus occitanus).

Os escorpiões são espécies predadoras produtoras de veneno.

Os humanos são atacados acidentalmente, o efeito do veneno


de pende do tipo de toxina, quantidade injetada e peso da vítima, sendo as crianças um
grupo de risco maior.

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A maioria das picadas por escorpiões tem efeitos pouco graves, salvo situações raras de
hipersensibilidade.

Aranae (aranhas)

As aranhas são também animais predadores, injetando veneno como forma de defesa. A
grande maioria das aranhas são inofensivas para o Homem, embora certas espécies possam
causar diversas situações, como:

▪ Reação local de diversa gravidade

▪ Lactrodectismo - provocado pelo género Latrodectus


(p.e. viúva negra) produtoras de uma neurotoxina cuja
Latrodectus mactans
picada pode ser letal em crianças ou adultos debilitados. ou viúva negra.

▪ Loxocelismo – provocam sintomas localizados (cutâneo-necróticos) ou sistémicas


(cutâneo-visceral) causados por um veneno de efeito citotóxico.

▪ Foneurismo – conhecidas como aranhas das bananas, causam reações locais


potencialmente graves em crianças

Acari (ácaros e carraças)

Ácaros: as espécies de importância médica são:

▪ ácaros das poeiras: podem causar asma brônquica, dermatite atópica, rinite e
conjuntivite por reações de hipersensibilidade aos mesmos

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▪ ácaro da sarna ou Sarcoptes scabiei: responsáveis pela sarna humana ou escabiose,
doença cutânea

Carraças: as carraças são ácaros hematófagos. Podem ser agentes de doença ou vetores.

Doenças provocadas: paralisia da carraça, polirradiculoneurite e eritema crónico migrans


(associado a B. burgdorferi)

Vetores: dos arbovírus, rickettsias, borrelias entre outras

Classe Insecta:

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Insetos Exopterigotas

Ordem Phithiraptera: são ectoparasitas de aves e mamíferos. São insetos hematófagos e


existem duas espécies que parasitam o Homem: Pediculus humanus e Phthirus pubis
(piolhos).

▫ P humanus capitis parasita a cabeça

▫ P humanus ou corporis parasita o corpo

▫ P pubis parasita as regiões púbicas e perianal

Este parasita dissemina por contacto físico com um portador, por troca de roupas ou
contacto sexual no caso de P pubis.

São responsáveis pela pediculose (P humanus) e ftiríase (P pubis) ambos provocam prurido
intenso com o sem lesão associada e de diversas localizações, conforme a espécie
envolvida.

P humanus pode ainda ser transmissor, vetor, de outros agentes como:

▪ Rickettsia prowazekii – tifo exantemático

▪ Bartonella quintana – febre das trincheiras

▪ Borrelia recurrentis – febre recorrente epidémica

Ordem Hemíptera: os hemípteros de importância médica pertencem à Família Cimicidae,


vulgarmente chamados percevejos e Reduviidae, os reduviris hematófagos ou subfamília
triatominae são transmissores do Trypanosoma cruzii agente etiológico da doença de
Chagas ou tripanossomíase americana.

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Insetos endotperigotas

Existem múltiplas ordens, famílias e subfamílias destes agentes. A sua importância em


medicina radica nas reações locais consequência da picada destes insetos e pelo facto de
serem agentes transmissores de diversas doenças com importância mundial.

▪ Phlebothomus (moscas ou mosquitos que picam) – leishmaniose

▪ Simulium (mosca negra) – oncocercose, filariose

▪ Anopheles (mosquito) – malária, filariose linfática

▪ Aedes (mosquitos) – febre amarela, dengue, chikungunya

▪ Culex (mosquito) – febre do Nilo ocidental, chikungunya, filariose

▪ Tabanídeos – Bacillus anthracis, Frascisella tularensis, Loa loa

▪ Glossinas (mosca do sono) – tripanossomíase africana ou doença do sono

▪ Sifonápteros (pulgas) – podem causar dermatite, podem ser hospedeiros


intermediários de vários céstodos e vetores do tifo endémico, tularemia e a peste

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