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Evelyn Mayra Barbosa Maia; Jéssica Samara Sousa Santos; Maria Eduarda Costa dos Santos;

Raissa Batista Cavalcanti Cordeiro; Victoria Felinto Franco.

LEISHMANIOSE VISCERAL EM CÃES


DOMÉSTICOS E CANÍDEOS
SELVAGENS: REVISÃO DA
LITERATURA

RESUMO
As leishmanioses são zoonoses causadas por protozoários do gênero Leishmania, presente em
diversos países pelo mundo e amplamente distribuída pelo território brasileiro, transmitida
por meio de um vetor, o flebótomo. Existem duas apresentações da doença: a Leishmaniose
Visceral e a Leishmaniose Tegumentar Americana. Atualmente, a transmissão da
leishmaniose no meio urbano é recorrente, devido à adaptação do vetor a variados ambientes,
assim como à bio adaptabilidade da Leishmania sp., que pode parasitar uma ampla gama de
espécies, tornando-os potenciais reservatórios da doença. Existem vários relatos de casos de
canídeos selvagens sintomáticos e positivos para Leishmaniose Visceral, como o lobo guará,
cachorro-do-mato, raposa do campo, cachorro-vinagre, animais da fauna silvestre, e até
mesmo o lobo-cinzento, animal nativo da América do Norte, Europa e Ásia, o que levanta
preocupações acerca do real potencial da doença, de seus prejuízos à conservação de espécies
e como podem ser contornados. Portanto, nesta revisão de literatura, tem como principal
objetivo o foco na Leishmaniose Visceral em canídeos silvestres, abrangendo os mais
diversos aspectos e impactos causados na Saúde Pública.

Palavras-chave: Flebótomo; Leishmania; Doença

INTRODUÇÃO
As leishmanioses são antropozoonoses de amplo interesse para saúde única, acometendo
vários mamíferos, tendo os canídeos domésticos como principais reservatórios em ambientes
domésticos, estão presentes em todo o mundo e são causadas por protozoários do gênero
Leishmania, família Trypanosomatidae, que podem ser classificadas em dois grandes grupos,
que divergem em suas apresentações clínicas: a Leishmaniose Tegumentar (LT) Americana e
a Leishmaniose Visceral (LV). Os agentes causadores da leishmaniose tegumentar são as
Leishmania braziliensis e Leishmania mexicana, em contrapartida, a Leishmania donovani,
encontrada na África e na Ásia, a Leishmania infantum, encontrada na Ásia, Europa e África
e a Leishmania chagasi, das Américas, são os agentes causadores da leishmaniose visceral
(SAPATERA et al., 2022). Em termos de Saúde Única, é uma das doenças parasitárias
humanas que mais impactam diversas regiões do mundo
(Santos & Alessi, 2016)
Anteriormente, as leishmanioses ocorriam somente entre animais silvestres e em
zonas rurais, posteriormente o homem passou a fazer parte do ciclo de transmissão como
hospedeiro acidental. Atualmente, a transmissão da Leishmaniose é recorrente em ambientes
urbanos e periurbanos, devido principalmente à adaptação do vetor no peridomicílio
(PALMEIRA, 2018). A Leishmania sp. é capaz de infectar uma ampla gama de espécies,
desde o homem à mamíferos domésticos e de vida livre. Apesar do cão doméstico ser
considerado o principal reservatório da Leishmaniose visceral, é sabido que a Leishmania sp.
pode parasitar espécies das famílias Bovidae, Canidae, Cricetidae, Cunicuidae, Felidae,
Equidae, Leporidae, Muridae, Mustelidae e Procyonidae (BATISTA et al., 2022).
Tendo em vista a relevância dos cães e canídeos selvagens como reservatórios naturais da LV
e a epidemiologia da doença (SAPATERA et al., 2022), esta revisão de literatura tem como
objetivo explorar de forma comparativa aos cães domésticos, a prevalência do parasito em
canídeos selvagens, suas apresentações clínicas, diagnóstico, profilaxia, sua relevância para
Saúde Única e desafios para conservação das espécies.

METODOLOGIA

Para a construção do presente artigo, foram realizadas pesquisas e uma revisão da literatura
acerca da Leishmaniose visceral em mamíferos domésticos e em animais selvagens e
silvestres, cativos e de vida livre. Além disso, as bases para pesquisa foram descrições de
casos clínicos encontrados no Google Scholar e sites médicos como o PubMed e Sci-hub,
além de artigos encontrados no Jornal Brasileiro de Pesquisa Veterinária e Ciência Animal.
Tendo em vista os meios de pesquisa, não foram utilizados restrição de idiomas os quais a
maioria dos artigos pesquisados foram lidos em inglês, espanhol e francês. Foram excluídos
artigos e notícias incompletos de fontes de baixa confiabilidade e que fugissem do tema.

REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 ETIOLOGIA E CICLO BIOLÓGICO

O gênero Leishmania taxonomicamente está na ordem Kinetoplastida e na família


Trypanosomatidae, na qual também está inserido o Trypanosoma mesmo possuindo formas
evolutivas distintas (SAPATERA et al., 2022 apud MONTEIRO, 2017).
A transmissão da Leishmaniose ocorre por um vetor invertebrado da espécie L.
longipalpa,(FARIA e ANDRADE, 2012 apud GREENE, 2006). Seu ciclo é heteroxeno,
possuindo dois estágios de desenvolvimento, um no flebotomíneo e o outro no hospedeiro
vertebrado. O estágio de desenvolvimento no trato digestivo do mosquito são as formas
promastigotas, cujo protozoário está com seu flagelo exposto, livre no estômago do
vertebrado, se multiplicando por fissão binária (MONTEIRO et al., 2005).
Por meio da picada do vetor em um animal infectado por Leishmania sp., o flebotomíneo
ingere as formas amastigotas que estão dentro de macrófagos presentes no sangue. Após a
ingestão, no intestino, rapidamente transformam-se em promastigotas (SAPATERA et al.,
2022 apud MONTEIRO, 2017). O ciclo biológico continua quando o flebotomíneo se
alimenta de um novo hospedeiro e nesse processo inocula pela saliva as formas
promastigotas, que transformam-se em amastigotas ao serem fagocitadas principalmente
pelos macrófagos. Assim, o parasito penetra na corrente sanguínea, podendo chegar ao baço,
fígado, ou à medula óssea. A amastigotas se multiplicam no citoplasma celular e o distendem
até sua ruptura, quando são liberadas, ocorre a fagocitose por novas células reticulares
(SAPATERA et al., 2022 apud MONTEIRO, 2017), e esse processo se repete repetidas vezes,
resultando em uma infecção visceral (SAPATERA et al., 2022 apud VIOTTO, 2018).

3.2 EPIDEMIOLOGIA
Segundo o Ministério da Saúde, a Leishmaniose Visceral é endêmica em 76 países.
Inicialmente era considerada uma doença do ambiente rural, hoje é observada em uma ampla
gama de ambientes. A rápida disseminação dessa zoonose se deve principalmente à expansão
das fronteiras agrícolas e à destruição do hábitat natural das espécies selvagens (BATISTA et
al., 2022).
Hoje, é uma doença de grande relevância para saúde única no Brasil, tendo sido registrado
surtos com frequência, distribuídos em 20 unidades da federação, atingindo as cinco regiões
brasileiras. Anualmente, cerca de 500.000 pessoas são infectadas por este parasito, sendo o
maior número de casos registrados em Bangladesh, Índia, Nepal e Brasil (ALMEIDA et al.,
2011 apud WHO, 2008). A doença é mais frequente em menores de 10 anos e o sexo
masculino é proporcionalmente mais afetado, na década de 90 aproximadamente 90% dos
casos notificados de Leishmaniose visceral no Brasil ocorreram na região nordeste, na
medida em que a doença expandiu para outras regiões, essa situação vem se modificando e,
recentemente a região nordeste apresenta 48% dos casos do país‌(SILVA et al.2006).
Diversas espécies de mamíferos estão sujeitas à infecção por Leishmania sp. No entanto, os
canídeos são os mais frequentemente relatados com a infecção (ALMEIDA et al., 2011 apud
PALATNIK-DE-SOUSA et al., 2001). Os canídeos silvestres comumente servem como
reservatórios do parasito. Entretanto, a possibilidade de transmissão para o homem ainda é
discutida. Dentre aqueles relatados com infecção encontra-se cachorro-do-mato (Cerdocyon
thous), raposa do campo (Lycalopex vetulus) (ALMEIDA et al., 2011 apud CURI;
MIRANDA; TALAMONI, 2006), cachorro-vinagre (Speothos venaticus) (FIGUEIREDO et
al., 2008). Contudo, somente Cerdocyon thous é considerado reservatório da LV no Brasil
(ALMEIDA et al., 2011, apud COURTENAY et al., 1996).

3.3 IMUNOLOGIA E FISIOPATOLOGIA DA LEISHMANIOSE VISCERAL

Existem poucos estudos sobre a resposta imune frente à Leishmania sp. em animais
selvagens. Esses animais, quando cativos em áreas endêmicas para LV tem grande
probabilidade de se infectar, por viverem mais do que viveriam em vida livre. Uma vida mais
longa os predispõe a outros fatores que favorecem o desenvolvimento de sinais clínicos da
LV, como o estresse e a mudança dos hábitos naturais, dieta e comportamento (LUPPI et al.,
2008). Contudo, podemos utilizar estudos em cães domésticos como referência para
compreender a imunologia dessa doença. explicar como o macrofago e infectado
Sabemos que, assim que a fêmea do mosquito inocula as promastigotas no tecido do
animal, o processo inflamatório se inicia. As substâncias vasoativas e quimiotáticas,
associadas ao aumento da expressão celular de moléculas de adesão, irão causar a diapedese
dos leucócitos para o sítio infeccioso, o que, juntamente com o plasma sanguíneo,
desencadeia o edema tecidual e demais sinais da inflamação (ABBAS et al., 2008). Após a
fagocitose, as células podem apresentar em sua superfície fragmentos antigênicos da
Leishmania, juntamente às moléculas de MHC classe I, aos linfócitos T citotóxicos. O
reconhecimento via receptores da célula T (TCR-CD3), ativa as células TCD8 +,que irão
causar destruição da célula infectada. Além disso, é estimulada a produção de
interferon-gama (IFN-γ), o que causa maior ativação de macrófagos (COELHO-CASTELO
et al., 2009). Outra subpopulação de macrófagos irá ativar os linfócitos TCD4 +, através da
apresentação de epítopos associados às moléculas de MHC classe II. Estes se diferenciam em
Th1 (consideradas citocinas pró-inflamatórias) que irá mediar a resposta celular e Th2
(citocinas anti-inflamatórias) que irá atuar para uma resposta humoral, agindo na maturação
específica de linfócitos B em plasmócitos (MACHADO et al., 2004).
O resultado da Leishmaniose visceral em canídeos silvestres e em cães é altamente
variável. Os animais podem estar infectados e assintomáticos enquanto outros podem
desenvolver sintomas. Por exemplo, em 2004 foram testados 15 canídeos cativos na
Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte, uma raposa-do-campo (Lycalopex vetulus)
sorologicamente positiva para Leishmaniose, apresentou anemia, prostração, perda de peso e
lesões de pele ulceradas na base da cauda e nas extremidades dos membros, linfonodo
subescapular direito aumentado, no qual foram observadas amastigotas nos macrófagos
durante a avaliação citológica da punção aspirativa por agulha fina (LUPPI et al., 2008). Por
sua vez, outro animal também sorologicamente positivo e em PCR (por meio de amostras de
DNA extraídas da medula), da mesma espécie, só desenvolveu sinais clínicos da LV dois
anos após o diagnóstico (LUPPI et al., 2008).
Conhecendo a fisiopatologia da LV, é possível chegar mais rápido em um diagnóstico.
Os animais acometidos apresentam como principal alteração hematológica; anemia, hemólise
e queda na hematopoiese por hipoplasia ou aplasia medular. Outros sinais como caquexia,
perda gradual de peso, diarréia e vômito, linfoadenomegalia e hepatoesplenomegalia ocorrem
por uma reação inflamatória a Leishmania sp. e proliferação de linfócitos B, histiócitos,
plasmócitos e macrófagos nestes órgãos (PÁDUA, 2013).
Estudos imunológicos mostram que as respostas do tipo Th1 predominam na
resistência à Leishmaniose Visceral Canina (LVC). Acionando um Th1 resposta na LVC
dependerá de muitos fatores, incluindo genética do hospedeiro e natureza de antígenos de
Leishmania. O envolvimento genético do hospedeiro na LVC é apoiado pela recente
demonstração de que a suscetibilidade à doença está associada a polimorfismos do gene
canino NRAMP1 e alelos MHC classe II (RIBEIRO, Érica, 2011). O meio de citocinas
desempenha um papel central no desenvolvimento de células T em subconjuntos Th1 ou Th2
e IL-12, sendo necessários para a indução, magnitude e sustentação das respostas do Th1. Na
LV canina, a IL-12 tem sido relacionada à retardo da doença e indução da secreção de IFN-γ
em cães com LV sintomática (NOVAIS et al., 2016).

3.4 HISTOPATOLOGIA DA LEISHMANIOSE VISCERAL

As lesões histopatológicas atribuídas à LVC incluem infiltrados inflamatórios e


deposição de imunocomplexos nos tecidos. No rim, a glomerulonefrite intersticial resulta de
mecanismos imunomediados que desencadeiam danos irreversíveis aos glomérulos o que
compromete a função do néfron e evolui o quadro para uma insuficiência renal (COSTA et
al., 2003; COSTA et al., 2010)
Na Argentina, foi realizada uma pesquisa em uma raposa (Cerdocyon thous) sobre a
histopatologia da Leishmaniose, na qual foi revelada a presença de macrófagos e múltiplos
focos de infiltrado linfoplasmocitário, característicos da doença, no fígado, baço, rins,
coração, intestino, bexiga e pele. O fígado revelou colestase acentuada, com necrose
degenerativa centrolobular e hidrópica e gordurosa (BURNA, A.N, 2014).
Nos rins observou-se congestão e cilindros hialino. Na pele da região do quadril e
dorsal carpo, lesões ulceradas com abundante infiltrado inflamatório e também a presença de
macrófagos abundantes com estruturas compatíveis com amastigotas de Leishmania sp. O
músculo cardíaco apresentava discreto infiltrado inflamatório linfoplasmocítico. A técnica
imuno-histoquímica permitiu demonstrar a presença de amastigotas dentro e fora dos
macrófagos. No fígado, amastigotas de Leishmania sp. no epitélio dos ductos biliares e em
macrófagos distribuídos no parênquima hepático. No intestino, amastigotas foram observadas
dentro de macrófagos. No baço eles estavam localizados dentro e fora de macrófagos. Na
pele foram observados dentro de macrófagos na derme e livres dentro dos vasos linfáticos
(Burna, A.N, 2014).

SINAIS CLÍNICOS
A Leishmaniose visceral não possui sinais clínicos patognomônicos, contudo os mais
comuns nos cães, são: alterações cutâneas, linfadenomegalia local ou generalizada, perda de
peso, aumento do tamanho do baço e do fígado, onicogrifose e apatia (FARIA et al., 2012).
Entretanto, algo que traz grande preocupação é a elevada porcentagem de animais portadores
de Leishmania sp., porém assintomáticos, mas que ainda assim portam o protozoário e podem
ou transmitir para o flebótomo (FARIA et al., 2012).
Estudos e relatos recentes mostram que animais selvagens, tanto cativos quanto de
vida livre, infectados por Leishmania sp. podem apresentar sinais clínicos da Leishmaniose
visceral. Na Europa, foram analisados lobos cinzentos (Canis lupus) encontrados mortos com
sinais clínicos de Leishmaniose Visceral Canina (LVC), através do PCR foi a infecção desses
animais por L. infantum. Em 2004, na Croácia, foi relatado o primeiro caso de morte de um
lobo-cinzento por L. infantum. Achados de necropsia nesse animal demonstraram caquexia,
desidratação, alopecia e lesões cutâneas crostosas nas áreas alopécicas, também foi visto
aumento de linfonodos e hepatoesplenomegalia (BECK et al., 2008).
Outro estudo, desta vez no Brasil, realizado em um zoológico em Belo Horizonte,
Minas Gerais, encontrou 15 canídeos sorologicamente positivos, dos quais dois animais, um
cachorro-vinagre (Spheotos venaticos) e uma raposa-do-campo (Lycalopex vetulus)
desenvolveram sinais clínicos da LVC, enquanto três animais, um cachorro-do-mato
(Cerdocyon thous), um lobo guará (Chrysocyon brachyurus) e uma raposa-do-campo
(Lycalopex vetulus) testaram positivo, mas não apresentaram sintomas (AGUIRRE, 2009).

DIAGNÓSTICO
Atualmente no Brasil, é recomendado pelo Ministério da Saúde a eliminação de cães
infectados como medida de controle da Leishmaniose Visceral (FARIA et al., 2012), contudo,
ao se tratar de animais selvagens, a eutanásia é a última escolha, dado que alguns animais que
podem vir a portar Leishmania sp. correm sério risco de extinção.
Um dos principais testes utilizados para o diagnóstico da Leishmaniose é o exame
parasitológico em amostras teciduais, cuja finalidade é analisar microscópicamente o material
biológico coletado, buscando amastigotas e/ou macrófagos infectados. A coleta do material é
feita através de aspirados e/ou punção dos tecidos que são mais propensos a infecção do
parasito, como medula e linfonodos. Também pode ser realizada a coleta de sangue, devido à
presença de promastigotas circulantes na corrente sanguínea. Com o material coletado, é
realizada a busca ativa do parasito em microscópio óptico (SOUZA et al., 2013).
Para que o diagnóstico seja finalizado, é importante a utilização de testes sorológicos,
como o ensaio imunoenzimático (ELISA) e a reação de imunofluorescência indireta (RIFI)
(ALVES, W.A, 2009). Ambos os testes têm como finalidade a detecção de imunoglobulina G
(IgG) no soro do animal suspeito. Se houver a presença do IgG, há indicação de que o animal
entrou em contato com a Leishmania sp..
O ELISA é o teste mais utilizado para imunodiagnóstico de LV, permitindo a detecção
de baixos títulos de anticorpos. Pois a LV é caracterizada por uma estimulação policlonal de
linfócitos B, que resulta em uma grande produção de anticorpos.
A imunofluorescência indireta (RIFI) é outro teste sorológico muito aplicado para
confirmação de infecção por Leishmania sp., esse teste é realizado através da diluição do soro
do paciente em solução salina, buscando a titulação máxima que é possível a visualização de
fluorescência na lâmina (AOKI et al., 2010)
Observando os sintomas do animal, concomitante a anamnese, é possível a realização
do teste imunocromatográfico DPP® LVC. Este teste é baseado na procura de anticorpos para
o parasito no animal, com o surgimento de duas linhas de leitura. É descrito como o único no
mercado mundial com esta tecnologia, o que facilita a leitura em campo e também aumenta a
sua especificidade e sensibilidade (FIOCRUZ/Bio-Manguinhos, 2020).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
As medidas de controle utilizadas no Brasil são: a distribuição gratuita de
medicamentos para o tratamento da Leishmaniose Visceral Humana, o controle dos
reservatórios (testagem de cães domésticos pelo método de imunofluorescência indireta e
eutanásia dos animais positivos) e controle do vetor (uso de inseticidas). Entretanto, no caso
de canídeos selvagens outras soluções devem ser pensadas antes da eutanásia, devido ao risco
de extinção de algumas espécies, como o Lobo Guará (Chrysocyon brachyurus),
cachorro-vinagre (Spheotos venaticus) e lobo-cinzento (Canis lupus) assim como a falta de
conhecimento acerca do potêncial de transmissão da LV por esses canídeos (LUPPI et al.,
2008). Hoje, zoológicos e santuários não apresentam medidas efetivas de controle, mas
algumas possibilidades seriam a testagem dos animais do plantel, uso permanente de coleiras
impregnadas com inseticida em animais positivos e pulverização de piretróide, a cada 3
meses, nas instalações, podendo até mesmo utilizar-se de técnicas de condicionamento
operante dos animais cativos, visando um manejo mais fácil (LUPPI et al., 2008).

CONCLUSÃO

Dessa forma, podemos concluir que a LV emprega desafios não somente à Saúde
única, mas também à conservação das espécies. Por meio dos estudos supracitados, vemos
que animais selvagens e silvestres, tanto cativos quanto de vida livre, até mesmo que correm
risco de extinção, podem não somente portar Leishmania sp., mas também apresentar sinais
clínicos e até mesmo vir a óbito por complicações desta doença. Tal fato traz preocupações
quanto ao real potencial zoonótico da doença e a eficiência de seu controle. Isto também
levanta dúvidas sobre o real impacto da LV em animais selvagens e sobre seus papéis na
cadeia epidemiológica da doença. Concluímos que a realização de mais estudos acerca da
prevalência e efeitos da Leishmania sp. em canídeos selvagens, os quais foram o foco deste
trabalho, é extremamente necessária, assim como uma reavaliação das medidas de controle
empregadas.

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