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Medicina Veterinária (UFRPE) ISSN 2675-6617

Leishmaniose Visceral: há possibilidade de transmissão sexual e vertical entre cães?

[Visceral Leishmaniasis: is there a possibility of sexual and vertical transmission between dogs?]

“Revisão/Review”

Luanna Soares de Melo Evangelista1,2*, Letícia Costa Carvalho3, Luiz Fernando Wolpert de Gois3,
Luana Dias de Moura2, Maria do Socorro Pires e Cruz2

1
Departamento de Parasitologia e Microbiologia, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Piauí,
Teresina-PI, Brasil.
2
Programa de Pós-Graduação em Tecnologias Aplicadas a Animais de Interesse Regional, Centro de Ciências Agrárias,
Universidade Federal do Piauí, Teresina-PI, Brasil.
3
Curso de Medicina Veterinária, Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Piauí, Teresina-PI, Brasil.
*
Autora para correspondência/Corresponding author: E-mail: luannaufpi@gmail.com

Resumo
A leishmaniose visceral (LV) é uma enfermidade cosmopolita, grave e de alta letalidade em seres humanos,
sendo considerada uma zoonose negligenciada. Nas Américas, a sua ocorrência está diretamente ligada com a
presença do inseto vetor, principalmente relacionada à fêmea da espécie de flebotomíneo Lutzomyia
longipalpis. Entretanto, em alguns estudos foram observados casos da doença em humanos e cães, com
ocorrências em locais livres do vetor, indicando para a possibilidade de outras formas de transmissão, como a
sexual e a vertical. O objetivo desse trabalho foi realizar uma revisão de literatura com o intuito de descrever
sobre os principais aspectos relacionados com a transmissão sexual e vertical entre cães, proporcionando,
assim, uma melhor compreensão da epidemiologia da doença, principalmente em áreas endêmicas.
Atualmente, a possibilidade de transmissão sexual e vertical nessa espécie animal vem sendo bastante
explorada, em que as pesquisas visam buscar a presença do protozoário Leishmania (L.) infantum nos órgãos
do sistema reprodutivo, tanto de fêmeas quanto de machos caninos, bem como a presença do DNA do parasito
no esmegma e sêmen. Dessa forma, a literatura aponta que essas formas de transmissão na LV provavelmente
ocorrem em cães.
Palavras-chave: canino; Leishmania; sêmen; transmissão venérea.

Abstract
Visceral leishmaniasis (VL) is a cosmopolitan, serious and highly lethal disease in humans, being considered
a neglected zoonosis. In the Americas, its occurrence is directly linked to the presence of the insect vector,
mainly related to the female of the sand fly species Lutzomyia longipalpis. However, in some studies cases of
the disease have been observed in humans and dogs, with occurrences in places free of the vector, indicating
the possibility of other forms of transmission, such as sexual and vertical. The goal of this work was to carry
out a literature review in order to describe the main aspects related to sexual and vertical transmission between
dogs, thus providing a better understanding of the epidemiology of the disease, mainly in endemic areas.
Currently, the possibility of sexual and vertical transmission in this animal species has been widely explored,
in which research is aimed at searching for the presence of the protozoan Leishmania (L.) infantum in the
organs of the reproductive system, both female and male dogs, as well as the presence of the parasite's DNA
in the smegma and semen. In this way, the literature points that these forms of VL transmission are likely to
occur in dogs.
Keywords: canine; Leishmania; semen; venereal transmission.

Recebido 26 de maio de 2022. Aceito 14 de agosto de 2022.


DOI: https://doi.org/10.26605/medvet-v16n2-5223
Melo Evangelista et al. (2022) Leishmaniose Visceral: há possibilidade de transmissão sexual e... 105

Introdução sexual e vertical dessa doença também nessa


A leishmaniose visceral (LV), conhecida espécie animal.
popularmente como calazar, é considerada uma Diante do exposto, esse trabalho teve como
zoonose negligenciada, grave e de alta letalidade objetivo realizar uma revisão de literatura do tipo
em seres humanos. Essa enfermidade possui uma narrativa, com o intuito de descrever sobre os
ampla distribuição mundial, prevalecendo em principais aspectos relacionados com a transmissão
regiões tropicais com 75 países do globo em sexual e vertical entre cães, proporcionando, assim,
situação endêmica, sendo que em 2020, 97% dos uma melhor compreensão da epidemiologia da
casos reportados foram notificados no Brasil e os doença, principalmente em áreas endêmicas.
demais em outros seis países da América do Sul
(BRASIL, 2020; OPAS, 2021). Material e Métodos
Nas Américas, o protozoário Leishmania Para esta revisão foram realizadas buscas de
(Leishmania) infantum é o responsável pela trabalhos científicos nas bases de dados PubMed,
infecção em humanos e demais hospedeiros. É um SciELO e LILACS, utilizando os descritores
parasito de ciclo heteróxeno, no qual tem como “Leishmaniose Visceral”, “Transmissão Sexual”,
principal reservatório, em áreas urbanas, o cão “Transmissão Vertical”, “Cães” e “Caninos”,
doméstico (BRASIL, 2014; 2020). O vetor é um cruzando com os termos “E”, “OU”, “AND” e
inseto flebotomíneo que tem um papel fundamental “OR”, nos idiomas português e inglês,
no ciclo biológico (Bates, 2008). independente do ano de publicação. A seleção
No Brasil, duas espécies de flebotomíneos aconteceu entre setembro e dezembro de 2021, por
são descritas envolvidas no ciclo da LV: Lutzomyia interesse e conveniência dos autores.
longipalpis, relatada em praticamente todo o país
(Borges et al., 2017) e Lutzomyia cruzi, que é mais Leishmaniose Visceral: Aspectos gerais do
restrita à região Centro-Oeste (BRASIL, 2020). parasito e da transmissão vetorial
A transmissão de L. (L.) infantum em Leishmania (L.) infantum é um protozoário
hospedeiros vertebrados ocorre normalmente do complexo Leishmania donovani, pertencente ao
durante o repasto sanguíneo do inseto vetor, Reino Protista, Ordem Kinetoplastida e Família
entretanto já houve relatos da possibilidade de Trypanosomatidae. Esse parasito possui duas
transmissão na ausência desse vetor em humanos, formas evolutivas de maior importância: uma
como por meio de agulhas compartilhadas por forma ovoide, sem flagelo livre, denominada
dependentes químicos (Cruz et al., 2002; Molina et amastigota, que parasita células do sistema
al., 2013), transfusão sanguínea (Dey e Singh, fagocítico mononuclear de hospedeiros
2006; França et al., 2018), transmissão sexual e vertebrados, podendo infectar uma variedade de
vertical (Low e Cooke, 1926; Symmers, 1960; tecidos (Singh, 2006; Neves, 2016) e uma forma
Meinecke et al., 1999). alongada, flagelada, a promastigota, que se adere
Symmers (1960) passou a considerar uma ao sistema digestório dos hospedeiros
probabilidade real de transmissão sexual após um invertebrados, possuindo diversas fases de
casal do Reino Unido ser diagnosticado com LV diferenciação, sendo a promastigota metacíclica a
em uma área livre do protozoário e do vetor. O forma infectante para os hospedeiros vertebrados
homem tinha realizado uma viagem para a África (Kaye e Scott, 2011; Neves, 2016).
um tempo atrás e após contato sexual com a mulher Há uma grande variedade de hospedeiros
ela desenvolveu pápulas genitais com a presença de envolvidos no ciclo desse protozoário como
Leishmania sp. primatas humanos e não humanos, canídeos,
Nos últimos anos, passou-se a investigar roedores, marsupiais, edentados, procionídeos,
mais sobre esse modo de transmissão em cães, com ungulados primitivos e felídeos (Neves, 2016).
achados significativos da presença de amastigotas Flebotomíneos fêmeas são insetos
do parasito em órgãos reprodutivos de fêmeas e hematófagos considerados vetores associados com
machos (Silva et al., 2008; Amara et al., 2009), a transmissão de Leishmania sp. Estes, ao
bem como a presença do DNA do protozoário no alimentar-se do mamífero infectado, também
esmegma e sêmen de cães infectados (Diniz et al., podem se infectar com o protozoário e o regurgitar
2005; Silva et al., 2014), sendo considerados fortes no próximo vertebrado durante o repasto
indícios da existência e importância da transmissão sanguíneo. Esse inseto pertence à Ordem Diptera,
Família Psychodidae e Subfamília Phlebotominae

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(Bates, 2008). São pequenos, com o corpo piloso, identificaram o DNA do protozoário no útero,
patas longas e permanecem com as asas abertas em ovário, tubas uterinas, vagina e vulva de cadelas,
formato de “V”, quando estão em repouso (Taylor porém sem alterações macroscópicas pertinentes e
et al., 2017). As fêmeas possuem um aparelho sem relação entre a infecção e o processo
bucal picador-sugador e seus hábitos alimentares inflamatório, sendo encontrada somente uma
acontecem, principalmente, durante períodos dermatite vulvar leve e moderada associada com
crepusculares ou noturnos (Maroli et al., 2013). amastigotas no infiltrado inflamatório.
Ao realizar o repasto sanguíneo em um Acredita-se que a vulva, a vagina e o útero
hospedeiro vertebrado infectado com o parecem ser os órgãos mais parasitados por
protozoário, os flebotomíneos infectam-se com as Leishmania sp. em cadelas (Silva et al., 2008;
formas amastigotas de Leishmania sp. presentes Boechat et al., 2016; 2021; Oliveira et al., 2016;
nos macrófagos de pele. No interior do sistema Silva et al., 2021). Vale ressaltar que estes
digestório desses insetos, as amastigotas se resultados foram realizados em áreas endêmicas da
diferenciam em promastigotas procíclicas, que se doença no Brasil, nos estados de Minas Gerais, Rio
aderem ao epitélio intestinal para a posterior de Janeiro, São Paulo e Pernambuco.
diferenciação em promastigotas metacíclicas. Uma pesquisa revelou que apesar da
Assim, para a completa diferenciação do parasito, ausência de lesões macroscópicas nos órgãos
este precisa ser inoculado em um mamífero. Para genitais femininos de cadelas infectadas por LV,
que isso ocorra, as promastigotas metacíclicas houve a presença de infiltrado inflamatório
migram para o esôfago dos insetos e são liberadas granulomatoso em todo sistema reprodutivo desses
durante o repasto sanguíneo, juntamente com a animais, com exceção das tubas uterinas, e a
saliva (Neves, 2016). presença de amastigotas de L. (L.) infantum foi
Durante essa mudança de hospedeiros, visualizada no endométrio, ovários, mucosa
ocorre a diferenciação de promastigotas em vaginal, pele e mucosa da vulva e glândulas
amastigotas, que é a forma parasitária intracelular, mamárias, inclusive foi possível observar uma
onde parasitam principalmente os macrófagos e por maior carga parasitária e intensa reação
meio destes chegam aos demais tecidos dos inflamatória na vulva e mamas de cadelas
mamíferos, podendo ter como consequências infectadas (Boechat et al., 2016). Nesse trabalho,
processos inflamatórios associados ou não a lesões os autores mostraram uma certa preocupação com
dos órgãos parasitados. o encontro de amastigotas do parasito no lúmen da
As amastigotas de Leishmania sp. podem ser glândula mamária, o que pode indicar que sejam
encontradas em uma ampla variedade de tecidos de eliminadas pelo leite materno, consequentemente
cães, incluindo o envolvimento do sistema genital revelando uma possível transmissão mamária.
de fêmeas e machos caninos (Diniz et al., 2005; Também nessa pesquisa foi isolado o DNA do
Silva et al., 2008). protozoário no útero de cadelas com LV, o que
confere a probabilidade de transmissão vertical.
Lesões genitais associadas à Leishmaniose Alterações inflamatórias na vulva e glândulas
Visceral em cadelas e a possibilidade de mamárias também foram associadas às cadelas
transmissão vertical com LV em outro estudo (Bertolo, 2020).
Atualmente, amastigotas de L. (L.) infantum As pesquisas mais recentes nos revelam que
vem sendo encontradas em órgãos genitais de cães a presença do DNA de L. (L.) infantum em
e normalmente estão associadas a lesões amostras de útero sugere que esse órgão pode
inflamatórias nestes locais (Diniz et al., 2005; Silva abrigar o parasito mesmo sem associação
et al., 2008). Diversos trabalhos demonstraram que macroscópica ou lesões microscópicas, e isso pode
há um tropismo do parasito para os órgãos do ser importante na transmissão vertical de LV
sistema reprodutivo dessa espécie animal e estudos canina (Boechat et al., 2021; Silva et al., 2021),
recentes de Boechat et al. (2016; 2021) revelaram especialmente em áreas endêmicas.
que a presença do protozoário no sistema Anteriormente, Rosypal et al. (2005) já
reprodutivo de cães infectados independe do sexo haviam descrito a presença de DNA de Leishmania
(macho e fêmea) e dos sinais clínicos sp. no tecido uterino de uma cadela
(assintomático e sintomático). experimentalmente infectada, cujos filhotes
Nos primeiros trabalhos com fêmeas caninas provenientes de uma cesariana também
infectadas com LV, Silva et al. (2008) apresentaram positividade no fígado, medula

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óssea, coração e tecidos placentários. Apesar de configura um grave problema em fêmeas com
não ter sido encontrado o parasito na placenta da idade reprodutiva que apresentam essa
cadela, os autores afirmaram que esse foi o enfermidade.
primeiro relato de transmissão materna de um Em um estudo recente, os autores mostraram
isolado norte-americano de L. (L.) infantum. que além da possibilidade de transmissão de LV
Já Dubey et al. (2005) descreveram lesões por via placentária, os filhotes podem apresentar
severas na placenta de uma cadela com LV de um sinais clínicos da doença de forma precoce a partir
ano e meio de idade que abortou sete fetos. Os de dois meses de vida, principalmente lesões
autores associaram a placentite à presença de cutâneas (Salant et al., 2021), sugerindo que
amastigotas de Leishmania sp. em trofoblastos alterações dermatológicas em filhotes de cães
placentários. No exame histopatológico observou- residentes em áreas endêmicas para essa
se infiltrado inflamatório de leucócitos mistos. enfermidade devem ser criteriosamente avaliadas.
Embora os protozoários não tenham sido Como supracitado, a transmissão vertical foi
encontrados nos tecidos fetais, os autores primeiramente detectada em humanos (Low e
acreditaram na possibilidade de transmissão Cooke, 1926; Meinecke et al., 1999), inclusive com
vertical. relatos no Brasil (Mescouto-Borges et al., 2013).
Na América do Sul, um trabalho no Paraguai Neste último trabalho, duas mulheres foram
também revelou a possibilidade de transmissão diagnosticadas por meio de achados de amastigotas
transplacentária de LV das cadelas para os seus do protozoário no aspirado medular durante a
filhotes (Pangrazio et al., 2009). Nos resultados, os gestação, sendo também revelada a presença do
pesquisadores afirmaram que 26 de 53 placentas e parasito na medula de seus recém-nascidos. Esse
17 de 53 fetos pesquisados foram positivos para L. tipo de transmissão é mais relatado em seres
(L.) infantum na reação em cadeia da polimerase humanos que em cães.
(PCR), indicando, ainda, que não houve diferença A transmissão vertical na LV canina parece
no potencial de transmissão entre cadelas prenhes ser a principal via de propagação do protozoário em
assintomáticas e sintomáticas. áreas sem a comprovação de transmissão vetorial,
No Brasil, em 2009, o primeiro relato de como nos Estados Unidos (Toepp et al., 2017),
transmissão vertical de L. (L.) infantum foi portanto essa forma de transmissão também pode
confirmado por PCR e imunohistoquímica em contribuir para a manutenção da doença em áreas
amostras de baço e fígado de dois filhotes endêmicas, devendo ser melhor investigada.
natimortos de uma cadela prenhe da raça Dogo Apesar de pouco elucidadas as formas de
Argentino naturalmente infectada (Silva et al., transmissão sexual e vertical de LV na espécie
2009a). Essa pesquisa ainda mostrou que a placenta canina, os estudos construíram, ao longo dos anos,
materna foi positiva para Leishmania no PCR, um forte embasamento que amparam a tese do
apesar de o útero ter sido negativo pela mesma tropismo de L. (L.) infantum tanto para os órgãos
técnica. genitais femininos como masculinos desses
Ainda no Brasil, um trabalho mostrou que animais, gerando muitos questionamentos na
houve a transmissão de L. (L.) infantum de uma comunidade científica.
cadela prenhe para o embrião por volta do 23º dia
de implantação (Oliveira et al., 2017). Amostras da Lesões genitais associadas à Leishmaniose
vulva, vagina, útero e ovários do animal e o próprio Visceral em cães machos
embrião foram positivos no PCR, sendo o primeiro Assim como o sistema reprodutivo de
relato revelando o parasito infectando um embrião cadelas, os machos também evidenciaram um alto
canino. percentual de lesões genitais com a presença de
Há, ainda, na literatura, a possibilidade de amastigotas de L. (L.) infantum. Diniz et al. (2005)
ocorrência de parto prematuro em cadelas com LV descreveram a presença de inflamações nos
(Melo Evangelista e Sousa Filho, 2018). Neste epidídimos, testículos, glande do pênis e prepúcio
estudo, os filhotes apresentaram tamanhos de animais soropositivos para LV. Apesar de
inferiores à idade gestacional e má formação nas nenhuma lesão intensa ter sido observada, a
extremidades dos membros. De acordo com Toepp identificação de processos inflamatórios nesses
et al. (2019) filhotes nascidos de cadelas gestantes órgãos foi bem mais acentuada nos animais
diagnosticadas com LV apresentam quase 14 vezes sintomáticos. Além disso, foram visualizadas
mais chance de também nascerem infectados, o que amastigotas do parasito nos órgãos avaliados, com

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lesões e imunomarcação nos epidídimos e prepúcio resultados de Manna et al. (2012) mostraram que a
dos cães. orquite pode estar associada a altas cargas de L. (L.)
A presença de amastigotas de Leishmania infantum nos testículos de cães infectados por LV.
nesses órgãos pode ser explicada devido à cadeia Barros et al. (2019) analisaram os testículos,
inflamatória desencadeada nos mesmos. Uma das os epidídimos e também a glândula prostática de
inflamações mais associadas à LV em cães é a cães com LV. Foram observadas uma série de
epididimite, que no trabalho de Diniz et al. (2005) lesões associadas a reações inflamatórias nesses
apresentou-se mais frequente nos animais órgãos, como: fibrose de tecidos testiculares e
soropositivos que apresentaram a doença clínica. degeneração testicular com infiltrado
Ademais, uma orquite intersticial linfo- linfomononuclear intersticial, além de atrofia,
plasmocitária associada a uma discreta fibrose e infiltrados inflamatórios na próstata. As
degeneração testicular também foi visualizada nos lesões foram muito diferentes entre os grupos
cães sintomáticos, com a presença de amastigotas sintomáticos e assintomáticos, sendo que os
intralesionais. primeiros apresentaram maior severidade.
Outro estudo revelou o desenvolvimento de A próstata também foi avaliada no estudo de
lesões no sistema reprodutivo de cães com LV, Mir et al. (2012), onde os autores observaram
especialmente nos testículos desses animais, hematospermia e teratospermia em dois ejaculados
analisados por exame histopatológico (Melo de um cão com duas semanas de intervalo. Esse
Evangelista et al., 2019). Foi possível observar animal apresentava prostatite macrofágica crônica
oligospermia, degeneração testicular local e difusa, com a presença de amastigotas intracitoplasmáticas
atrofia de túbulos seminíferos e algumas reações de Leishmania sp. O diagnóstico de LV se deu por
inflamatórias. Essas alterações testiculares podem PCR do plasma seminal. De acordo com os
ser aceleradas em razão da alta incidência de pesquisadores esse foi o primeiro relato de
processos inflamatórios genitais associados à LV, prostatite secundária à infecção por Leishmania
principalmente em animais sintomáticos. Com sp., portando a LV também deve ser considerada
isso, o acúmulo anormal de infiltrados no diagnóstico diferencial de infertilidade em cães.
inflamatórios nesses órgãos favorece o Boechat et al. (2016) afirmaram que uma
desenvolvimento de alterações patológicas nos alta carga parasitária e um maior processo
mesmos. inflamatório foram percebidos na glande do pênis
Na maioria dos trabalhos realizados com o e prepúcio dos machos, bem como na vulva de
intuito de investigar lesões genitais associadas à fêmeas deste mesmo trabalho. A presença do
doença em cães, os testículos demonstraram ser protozoário nestes órgãos pode facilitar a
órgãos de bastante relevância para a manutenção da transmissão sexual, principalmente no momento da
infecção (Amara et al., 2009; Benites et al., 2011; monta natural, visto que durante esse ato o atrito
Manna et al., 2012; Boechat et al., 2021; Silva et entre as mucosas é mais intenso.
al., 2021). Além da inflamação local, degeneração, Em resumo, os trabalhos mais recentes
atrofia, ausência de espermatogênese e necrose afirmaram que infiltrados inflamatórios presentes
foram algumas alterações observadas em testículos nos testículos, epidídimos, pênis e prepúcio de cães
de cães com LV (Boechat et al., 2016). infectados por L. (L.) infantum foram
As lesões inflamatórias nos testículos estão significativamente mais intensos nos cães com
associadas com a evolução clínica da doença, maior carga parasitária nestes órgãos (Boechat et
considerando que as amastigotas acarretam uma al., 2016; 2021), o que implica dizer que quanto
resposta inflamatória intensa. Isso pode explicar a mais amastigotas do protozoário estiverem
incidência dessas lesões com maior ocorrência em presentes em determinado órgão genital, maior será
animais sintomáticos. a possibilidade de encontro de lesões e processos
Amara et al. (2009) também notaram lesões inflamatórios, e maior será a probabilidade de
testiculares e epididimárias em todos os cães com transmissão sexual entre os animais.
LV de sua pesquisa. Foi observada a presença de
amastigotas de Leishmania sp. nos testículos e no Presença de Leishmania sp. no sêmen de cães e
epidídimo e lesões que variaram de discretas às alterações espermáticas
mais graves, todas associadas com infiltrados Diniz et al. (2005), além de elucidarem sobre
inflamatórios que levam a lesões degenerativas, lesões genitais em cães machos, também
como a fibrose e a redução da espermatogênese. Os analisaram amostras de sêmen desses animais,

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onde 08 das 22 (36,4%) foram positivas para aumento de patologias espermáticas,


Leishmania sp. no PCR. Entretanto, essas amostras principalmente na cabeça e na cauda de
não foram colhidas somente da segunda fração do espermatozoides de animais parasitados. Esses
ejaculado canino, que é a rica em espermatozoides, dados mostram que a doença pode comprometer a
podendo ter se misturado com o fluido prostático. qualidade seminal de cães, e assim, a eficiência
Vale ressaltar que o ejaculado do cão se divide em reprodutiva desses animais.
três frações: a primeira e a terceira, que se Anteriormente, Labat et al. (2010) ao
constituem basicamente de fluido prostático e a analisarem amostras de sêmen de cães infectados
segunda, que é a mais importante, pois contém os com Leishmania sp. já haviam notado um aumento
espermatozoides. de alterações na morfologia espermática,
Os autores relacionaram, ainda, a presença principalmente na cauda dos espermatozoides. Em
de Leishmania sp. no sêmen desses animais com a animais sintomáticos, foram observados
existência de epididimite, informando que as diminuição do volume do ejaculado, diminuição da
células inflamatórias epidimimárias poderiam ser concentração espermática e declínio contínuo da
eliminadas junto com o ejaculado, podendo assim, motilidade retilínea e progressiva. Nos animais em
também, liberar macrófagos contendo o estágio mais avançado da doença, a porcentagem
protozoário. de defeitos totais chegou a 96%, quando estes não
Em outro estudo, foram analisadas amostras devem ultrapassar 30% (CBRA, 2013). Nesses
seminais de 15 cães soropositivos para LV cães sintomáticos, foi possível perceber que a
submetidos às coletas de sêmen por manipulação integridade das membranas plasmática e
digital. Destes, 13 (86,7%) eliminaram Leishmania acrossomal estavam igualmente prejudicadas.
sp. através do sêmen de forma aleatória e Essas pesquisas implicam sobre a
intermitente, contudo se considerar os três importância de uma avaliação física geral e dos
ejaculados colhidos de cada cão da pesquisa, órgãos genitais dos animais, além de um
apenas 2 (13,3%) animais eliminaram de forma espermograma completo, visto que podem auxiliar
consistente (Silva et al., 2009b). Esse trabalho na determinação do comprometimento reprodutivo
informa que as amostras seminais foram colhidas que esse parasito pode ocasionar nos cães.
de frações distintas do ejaculado dos cães, com
volumes variados, o que pode ter refletido nessa Transmissão sexual na Leishmaniose Visceral
intermitência de resultados positivos no PCR. canina
Silva et al. (2014) revelaram que o parasito A transmissão sexual na LV passou a ser
foi encontrado no sêmen e no esmegma de cães mais profundamente analisada após as pesquisas
infectados por LV. Por conseguinte, esses fluidos supracitadas sugerirem o tropismo desse
podem servir de fonte de contaminação para as protozoário pelo aparelho reprodutivo de cães e sua
cadelas no momento da cópula, aumentando o risco consequente eliminação através do sêmen. Além
de transmissão por via sexual. disso, a ocorrência dessa forma de transmissão em
Leishmania (L.) infantum também já foi humanos (Symmers, 1960) também instigou mais
detectada no fluido seminal colhido da cauda do estudos sobre o assunto. Este autor relatou um caso
epidídimo de cães infectados por meio de autóctone da doença em uma área livre do
semeadura em cultura (Boechat et al., 2016) bem protozoário e do vetor, na qual uma mulher
como no fluido dos ductos deferentes de um cão desenvolveu pápulas genitais na vulva com a
com LV diagnosticado por PCR (Salant et al., presença de amastigotas do protozoário após
2021), resultados que sugerem a possibilidade de contato sexual com seu esposo. Anos antes o
transmissão sexual e, consequentemente, a vertical. marido havia realizado uma viagem para áreas
Além disso, a literatura nos revela que endêmica da doença e tinha sido diagnosticado e
alterações na estrutura e morfologia espermática tratado, apresentando diminuição da
também podem estar associadas à doença em cães sintomatologia clínica previamente ao diagnóstico
(Melo Evangelista et al., 2016; 2020). No primeiro da esposa.
trabalho, foram observadas alterações Silva et al. (2009b), ao realizarem um estudo
significativas na integridade da membrana com cães sorologicamente positivos e cadelas
plasmática, membrana acrossomal e potencial saudáveis, tentaram confirmar a transmissão sexual
mitocondrial de espermatozoides de cães entre eles. Foram selecionados 12 cães
infectados com LV, e no segundo, houve um sorologicamente positivos para LV, no qual

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liberavam o protozoário no sêmen de forma carga parasitária antes ou durante a gestação de


intermitente, para posterior cópula com 12 cadelas cadelas (Toepp et al., 2018; 2019).
negativas. Estas, além de sorologicamente Adicionalmente, ferramentas de educação
negativas, usavam coleiras repelentes com em saúde e programas de controle populacional de
deltametrina e estavam em recintos isolados, cães, como mutirão de castração e guarda
telados, para evitar o contato com o inseto vetor. responsável, tornam-se bastante relevantes em
As cadelas, negativas para LV, foram copuladas áreas endêmicas para a LV.
com os cães positivos e após 165 dias, três cadelas
soroconverteram. O PCR também foi realizado, Considerações Finais
positivando 06 (50%) das cadelas que participaram Esse trabalho discute os principais aspectos
da pesquisa, demonstrando a possibilidade de relacionados à transmissão sexual e vertical na LV
transmissão sexual na LV e enfatizando o maior canina. Considerando que ocorre tropismo e
tropismo do parasito pelo sistema reprodutor infecção de L. (L.) infantum no sistema genital de
masculino, já que não foi possível identificar lesões cães, possivelmente a castração seja uma
características nas fêmeas em questão. importante medida de controle dessa doença para
Por conseguinte, diante da literatura animais que não sejam de interesse reprodutivo,
consultada, acredita-se que a transmissão sexual principalmente em áreas endêmicas.
possa ocorrer pelo contato de uma fêmea saudável Portanto, percebe-se a importância de mais
com a mucosa genital, esmegma e/ou sêmen de estudos sobre a transmissão de LV na ausência do
cães infectados, o que já foi relatado em outros inseto vetor e seu modo de manutenção nos
estudos (Silva et al., 2014; Boechat et al., 2016), ou hospedeiros vertebrados, principalmente em cães,
ainda, pode-se acrescentar, o contato de um macho elucidando melhor a epidemiologia da doença.
sadio com a mucosa da vulva e da vagina de uma
cadela infectada com o protozoário nestes órgãos. Conflito de Interesse
Esses dados sustentam que L. (L.) infantum Os autores declaram não existir conflito de
pode ser transmitida sexualmente entre cães. interesse.
Assim, recomenda-se incluir os exames de
diagnóstico de LV em caninos domésticos que Referências
serão utilizados para a reprodução. Amara, A. et al. Etude histologique dés lesions
É importante destacar que o uso de testiculaires chez les chiens leishmaniens.
biotecnologias reprodutivas, como a inseminação Revue de Médicine Vétérinaire, 160(1): 54-
artificial (IA), pode ser uma alternativa viável para 60, 2009.
evitar que a forma de transmissão sexual ocorra, Barros, A.L.C. et al. Histopathological alterations
pois impede o contato direto e o atrito da mucosa in the reproductive tract of male dogs with
genital do cão com a cadela. canine visceral leishmaniasis. Semina Ciências
Na IA normalmente se utiliza somente a Agrárias, 40(2): 665-676, 2019.
segunda fração do ejaculado canino, rica em Bates, P.A. Leishmania sand fly interaction:
espermatozoides, e ela não se mistura com o fluido progress and challenges. Current Opinion in
prostático ou outros fluidos, possuindo relativa Microbiology, 11(4): 340-344, 2008.
viscosidade e pouco volume, o que possivelmente Benites, A.P. et al. Presença de formas amastigotas
diminui as chances de amastigotas do protozoário de Leishmania chagasi e perfil leucocitário no
serem carreadas. Essa biotecnologia também pode aparelho reprodutivo de cães. Pesquisa
favorecer que animais de alto padrão zootécnico Veterinária Brasileira, 31(1): 72-77, 2011.
positivos para LV, sob protocolo terapêutico, Bertolo, P.H.L. Lesões genitais em cadelas
continuem a ser empregados na reprodução, sendo naturalmente infectadas com Leishmania
importante que mais pesquisas sejam realizadas infantum. 2020. 80p. Tese (Doutorado em
com esse objetivo. Medicina Veterinária) – Programa de Pós-
Estudos recentes revelaram, ainda, que a graduação em Medicina Veterinária,
vacinação de cadelas contra LV pode aumentar a Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal,
imunidade antes da gestação, podendo ser útil para 2020.
reduzir a transmissão de L. (L.) infantum para a Boechat, V.C. et al. Occurrence of Leishmania
próxima geração. Além de que, o alopurinol e/ou infantum and associated histological alterations
imunoterapias adicionais também podem reduzir a in the genital tract and mammary glands of

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