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Ciclo de vida da
Leishmania
1a Edição
Dirceu E. Teixeira
Marlene Benchimol
Juliany Cola F. Rodrigues
Paulo Henrique Crepaldi
Paulo Filemon Paolucci Pimenta
Wanderley de Souza
.
Rio de Janeiro
2013
Capa
Crepaldi.
Teixeira, Dirceu E.
Atlas didático: Ciclo de vida da Leishmania/ Dirceu Esdras Teixeira ... [et al.].
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7648-900-9
CDD-616.9364
Nota biográfica dos autores
Consórcio CEDERJ.
Mundial de Ciências.
Prefácio
1. Introdução................................................................................................ 1
2. Estágios do desenvolvimento.................................................................. 15
A. Promastigota......................................................................................... 15
B. Amastigota............................................................................................ 19
Núcleo
...................................................................................................... 25
Retículo endoplasmático........................................................................... 26
Complexo de Golgi................................................................................... 28
Mitocôndria e cinetoplasto........................................................................ 28
Corpúsculo basal....................................................................................... 29
Bolsa flagelar............................................................................................ 30
Flagelo
...................................................................................................... 30
Estrutura paraflagelar................................................................................ 30
Microtúbulos subpeliculares..................................................................... 31
Acidocalcissomo....................................................................................... 31
Glicossomo............................................................................................... 33
Inclusões lipídicas..................................................................................... 33
Túbulos multivesiculares.......................................................................... 35
Megassomo............................................................................................... 35
7. Referências básicas.................................................................................. 60
1. Introdução
interesse das indústrias farmacêuticas uma vez que são doenças principalmente
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baixa renda. Além disso, o estudo destas doenças também recebe poucos
Ciências, 2010).
África e Ásia (Alvar et al., 2012). É uma doença que afeta principalmente
400 mil novos casos de leishmaniose visceral e de 700 mil a 1,2 milhões
formas cutânea e mucocutânea. Por outro lado, 90% dos casos de leishmaniose
Sudão e Brasil (Alvar et al., 2012). No Brasil, ocorre uma predominância das
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leishmaniose cutânea e mucocutânea e 5 mil casos de leishmaniose visceral
por ano (Desjeux, 2004; Ministério da Saúde - Brasil, 2006, 2007; Alvar et
al., 2012).
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Fig. 2. Estratificação por município dos casos de Leishmaniose Visceral ou
Calazar no Brasil, no período de 2006 a 2008 (Fonte: SVS/MS).
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1.2. História e manifestações clínicas das leishmanioses
O parasito foi descrito pela primeira vez em 1903, pelo médico britânico
Biskra, que também foi conhecido como botão endêmico dos países quentes.
forma visceral da doença teve uma história um pouco diferente quando, apenas
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existência de, pelo menos, cinco formas clínicas diferentes causadas pelas
que pode ser fatal (Kaye e Scott, 2011). Nos próximos tópicos serão abordadas
e Lu. whitmani.
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e avermelhado e bordas elevadas, que podem ainda apresentar infecções
secundárias por bactérias e/ou fungos. A lesão pode ser única ou múltipla e
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uma forma clínica rara, de natureza crônica e muito grave. A doença começa
com uma lesão única no local da picada do inseto vetor. É tratada de modo
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C. Leishmaniose cutânea disseminada
Saúde, 2007).
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D. Leishmaniose mucocutânea:
(Ministério da Saúde, 2007). Acredita-se que até 5% dos casos possam evoluir
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1.2.2. Leishmaniose Visceral (LV)
crianças e idosos (Fig. 7). É causada, na maioria das vezes, pelas espécies L.
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1.3. A Leishmaniose no cão
(Miró et al., 2008). Onde há um ser humano infectado com qualquer espécie
sintomas são feridas que demoram a cicatrizar, crescimento anormal das unhas
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Fig. 8. Principais sintomas da leishmaniose canina. (a) Feridas na pele,
principalmente nas orelhas e no focinho (b). (c) Crescimento anormal das
unhas (onicogrifose). (Fotos de P. Araujo, UFRRJ).
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Tabela 1. Distribuição das principais espécies de Leishmania e o tipo de doença.
Leishmaniose Visceral
L. donovani
Acentuado tropismo do parasito L. infantum L. infantum chagasi
pelas vísceras, como fígado, baço,
medula óssea e tecidos linfáticos
L. braziliensis
Leishmaniose Cutânea
L. guyanensis
L. infantum chagasi
L. major L. panamensis
Doença caracterizada pela presença L. mexicana
L. tropica L. peruviana
de uma lesão cutânea localizada L. pifanol
L. aethiopica L. lainsoni
no sítio de inoculação pelo inseto L. amazonensis
L. naiffi
vetor, que pode ser ulcerosa ou não
L. lindenberg
L. shawi
Leishmaniose mucocutânea
L. braziliensis
As lesões podem destruir total ou L. panamensis
parcialmente as mucosas da boca,
nariz, laringe e faringe
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2. Estágios do desenvolvimento
A. Promastigota
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Fig. 9. Micrografia da forma promastigota de L. amazonensis observada no
microscópio eletrônico de varredura (Imagem de J. Godinho).
10) e os metacíclicos (Fig. 11). Esses subtipos variam de acordo com a região
será transmitida pelo inseto vetor através da picada durante o repasto sanguíneo
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fagocitados, principalmente por macrófagos e neutrófilos. No interior destas
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Fig. 11. Esquema tridimensional da forma promastigota metacíclica de L.
amazonensis mostrando as principais estruturas celulares.
18
B. Amastigota
fica entre o núcleo e a base do flagelo. Esta forma é intracelular obrigatória, pois
19
Fig. 13. Esquema tridimensional da forma amastigota de L. amazonensis
mostrando as principais estruturas celulares (Vídeo suplementar 2).
20
Fig. 14. Esquema tridimensional comparativo dos estágios do
desenvolvimento de L. amazonensis. Notar as diferenças de tamanho do
corpo celular e do flagelo.
3. Organização estrutural
Leishmania amazonensis.
21
Fig. 15. Ilustração da forma promastigota de L. amazonensis em corte
longitudinal mostrando as principais estruturas celulares.
22
Fig. 16. Ilustração da forma amastigota da L. amazonensis em corte
longitudinal mostrando as principais estruturas celulares.
23
Fig. 17. Micrografia da forma promastigota de L. amazonensis observada no
microscópio eletrônico de transmissão (Imagem de J. Rodrigues e W. de Souza
reproduzida com permissão da Sociedade Americana de Microbiologia©;
Rodrigues et al., 2008).
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Fig. 18. Micrografia da forma amastigota de L. amazonensis observada no
microscópio eletrônico de transmissão (Imagem de J. Godinho e J. Rodrigues).
Núcleo
25
Retículo endoplasmático
endoplasmático liso e rugoso podem ser encontrados por todo o corpo celular
26
Fig. 19. Micrografia da forma promastigota de L. amazonensis. (a) O
quadrado marca a área ampliada. (b) Em maior aumento, nota-se a associação
íntima (cabeça de seta) entre os microtúbulos subpeliculares e o retículo
endoplasmático (a. Imagem de J. Rodrigues reproduzida com permissão da
Sociedade Americana de Microbiologia©. Lorente et al., 2004; b. Imagem de
P. Pimenta e W. de Souza, 1985 ).
27
Complexo de Golgi
biogênese de lisossomos.
Mitocôndria e cinetoplasto
28
Fig. 20. Micrografia eletrônica do cinetoplasto de L. amazonensis mostrando
seu formato em bastão, bem como a presença de várias cristas mitocondriais
(Imagem de J. Rodrigues).
Corpúsculo basal
filamentos unilaterais (revisto por Liu et al., 2005; Ogbadoyi et al., 2003).
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Bolsa flagelar
Flagelo
flagelar torna-se livre na região anterior. Temos ainda outra estrutura associada
Estrutura paraflagelar
30
motilidade como na adesão ao epitélio intestinal dos insetos. Detalhes desta
Microtúbulos subpeliculares
Acidocalcissomo
alongada com diâmetro médio de 600 nm e estão distribuídos por toda a célula
e Docampo, 2009).
31
Fig. 21. Micrografia eletrônica da forma promastigota de Leishmania
mostrando vários acidocalcissomos (organelas eletrondensas) distribuídos
principalmente pela região posterior do parasito (Imagem de J. Rodrigues).
32
Glicossomo
por concentrarem em seu interior a maior parte das enzimas da via glicolítica.
Coombs, 2007).
Inclusões lipídicas
sendo envoltas por uma unidade de membrana típica, mas pelo que chamamos
variando de média a alta (Fig. 22) (Soares e Souza, 1987). Muito pouco se sabe
33
Fig. 22. Micrografia eletrônica da forma promastigota de L. amazonensis
mostrando inclusões lipídicas. (a) Note que as inclusões lipídicas possuem
diferentes eletrondensidades, podendo ser eletronlucentes e eletrondensas.
(b) Em maior aumento, nota-se, em detalhe, a presença da hemimembrana
(Imagem de J. Rodrigues reproduzida com permissão da Sociedade Americana
de Microbiologia©).
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Túbulos multivesiculares
Megassomo
célula (Fig. 23). Sua matriz não é homogênea, podendo apresentar perfis de
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Fig. 23. Microscopia eletrônica de transmissão da forma amastigota de L.
amazonensis obtida de tecido de camundongo BalB-c infectado. (a) Notam-se
megassomos (asteriscos) com tamanhos variados. (b) Detalhe do megassomo
com várias vesículas em seu interior, um possível indicativo de alta atividade
de degradação (Imagem de J. Godinho e J. Rodrigues).
36
4. Ciclo biológico da Leishmania
pelo flagelo (5). Após a divisão, migram para a região anterior do intestino
recomeça o ciclo.
e Descoteaux, 1992). Hoje se sabe que a simples picada libera uma série
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de fatores que induzem rápida infiltração da região afetada por neutrófilos
invadir novos macrófagos (15) ou serem sugados por uma nova fêmea de
invertebrado e vertebrado.
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Fig. 24. Ciclo biológico da Leishmania no interior do inseto vetor e do
mamífero hospedeiro (Vídeo suplementar 3 e 4).
39
5. Interação da Leishmania com a célula hospedeira
40
5.1. Interação da forma promastigota com o macrófago
funil, que culmina na entrada do parasito em um vacúolo (Figs. 25, 26, 27 e 28).
fica tão repleta de amastigotas que ocorre a lise celular com a liberação de
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Fig. 25. Micrografia obtida no microscópio eletrônico de varredura após 30
minutos da interação de uma forma promastigota de L. amazonensis com
macrófagos de cultura. Note que os pseudópodos vão progredindo ao redor
do flagelo da forma promastigota (Imagem de J. Rodrigues e T. Portugal).
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Fig. 26. Micrografia da interação de uma forma promastigota de L. amazonensis
com macrófagos de cultura. Note que o promastigota está sendo internalizado
e a cabeça de seta indica as ondulações e o funil que se formam na superfície
do macrófago. Este promastigota está sendo fagocitado pela região anterior
onde se encontra o flagelo (Imagem de J. Rodrigues e T. Portugal).
43
Fig. 27. Micrografia obtida após 1 hora de interação de uma forma
promastigota de L. amazonensis com macrófagos de cultura (Imagem de J.
Rodrigues e T. Portugal).
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Fig. 28. Micrografia obtida após 2 horas da interação de uma forma
promastigota de L. amazonensis com macrófagos de cultura (Imagem de J.
Rodrigues e T. Portugal).
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Fig. 29. Microscopia óptica de campo claro da interação de L. amazonensis
com macrófagos em cultura, usando coloração por Giemsa. (a) Após 30
min de interação, é possível observar ainda a presença de promastigotas
sendo internalizados, no entanto, já aparecem parasitos em transformação
para formas amastigotas. (b) Após 5h, predominam os amastigotas com seu
formato característico no interior dos vacúolos parasitóforos (Imagens de J.
Rodrigues e T. Portugal).
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Fig. 30. Microscopia óptica de campo claro de esfregaço de tecido da pele de
camundongos Balb-c infectados com L. amazonensis. Notar o número elevado
de amastigotas por macrófago (Imagem de J. Godinho e J. Rodrigues).
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Fig. 31. Microscopia eletrônica de varredura de tecido da pele de
camundongos Balb-c infectados com L. amazonensis após clivagem a frio
usando nitrogênio líquido. Notar o número e formato das amastigotas dentro
do vacúolo parasitóforo, bem como a sua relação com a membrana deste
vacúolo (Imagem de J. Godinho, M. Attias e J. Rodrigues).
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Fig. 32. Micrografia eletrônica de um macrófago infectado obtido da lesão
de camundongo infectado, apresentando vários amastigotas (asteriscos) de
L. amazonensis no interior de um vacúolo parasitóforo. Em algumas regiões
é possível notar uma forte associação da membrana do amastigota com a
membrana do vacúolo parasitóforo (Micrografia de J. Godinho e J. Rodrigues).
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A figura 33 ilustra as fases da interação de uma forma promastigota de
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5.2. Interação da forma amastigota com o macrófago
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lise dos macrófagos que libera os amastigotas para o espaço extracelular,
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Fig. 34. Processo de interação da forma amastigota de Leishmania com a célula
hospedeira (macrófago) (Vídeo suplementar 6). (a) Amastigota aderindo e
invadindo o macrófago. (b) Amastigota sendo fagocitada pelo macrófago e
posterior formação do vacúolo parasitóforo. (c) Lisossomos liberam enzimas
no interior do vacúolo, porém o parasito não é alterado. (d) No interior do
vacúolo parasitóforo, aderido à membrana, o parasito multiplica-se por fissões
binárias sucessivas (e-f), podendo o vacúolo crescer tanto que pode tomar
grande parte do citoplasma (g). A célula hospedeira se rompe pelo excesso de
parasitos (h).
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6. Interação da Leishmania com o inseto vetor
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Esta adesão ocorre predominantemente pela região do flagelo devido à presença
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Fig. 35. Fases do ciclo de vida da Leishmania no interior do inseto vetor
(Vídeo suplementar 4). (a) Inicialmente, para melhor compreensão do
ciclo de vida no interior do inseto, apresentamos uma visão esquemática do
inseto flebotomíneo por transparência para observar o tubo digestório. (b)
Inseto (mosquito-palha) ingerindo sangue com macrófagos contendo formas
amastigotas presentes em um mamífero infectado. (c) Ninhos de amastigotas
presentes no intestino médio abdominal. (d) Transformação das formas
amastigotas em promastigotas procíclicos. (e) Ao chegar ao intestino médio,
os promastigotas começam a se multiplicar por divisão binária e aderem ao
epitélio intestinal. (f) Na porção anterior do intestino médio torácico, iniciam
o processo de diferenciação em promastigotas metacíclicos. (g) Parasitos
sendo regurgitados infectando um novo hospedeiro.
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7. Referências básicas
algumas revisões e capítulos de livros, devendo ser encarado apenas como uma
estratégicos. 56p.
Alvar, J., Vélez, I.D., Bern, C., Herrero, M., Desjeux, P., Cano, J., Jannin,
J., den Boer, M. (2012). Leishmaniasis worldwide and global estimates of its
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Docampo, R., de Souza, W., Miranda, K., Rohloff, P., Moreno, S.N. (2005).
Microbiology 3: 251-261.
Liu, B., Liu, Y., Motyka, S.A., Agbo, E.E., Englund, P.T. (2005). Fellowship
of the rings: the replication of kinetoplast DNA. Trends Parasitol. 21: 363-369.
C., Croft, S.L., Yardley, V., Luca-Fradley, K., Ruiz-Pérez, L.M., Urbina,
J.A., de Souza, W., Pacanowska, D.G., Gilbert, I.H. (2004). Novel azasterols
61
Miró, G., Cardoso, L., Pennisi, M.G., Oliva, G., Baneth, G. (2008). Canine
Peters, N.C., Egen, J.G., Secundino, N., Debrabant, A., Kimblin, N., Kamhawi,
S., Lawyer, P., Fay, M.P., Germain, R.N., Sacks, D. (2008) In vivo imaging
413-419.
Pimenta, P.F., Modi, G.B., Pereira, S.T., Shahabuddin, M., Sacks D.L. (1997).
A novel role for the peritrophic matrix in protecting Leishmania from the
62
Pimenta, P.F., Turco S.J., McConville, M.J., Lawyer, P.G., Perkins, P.V., Sacks,
damage the feeding mechanism of the sandfly vector and implement parasite
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Shaw, J.J. (2006). Further thoughts on the use of the name Leishmania
Stuart, K., Brun, R., Croft, S., Fairlamb, A., Gürtler, R.E., McKerrow, J., Reed,
March 2010.
64