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7UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO

ESCOLA DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS, INOVAÇÃO E NEGÓCIOS

CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

Acadêmicos: Ana Lúcia Perera, Mateus Timbola Mozzato, Paloma Gabriéli da Silva

Disciplina: Clínica Médica de Suínos

Professor: Rafael Frandoloso

Salmonelose suína

Doença infecciosa que acomete animais desmamados, com até 3-4 meses. Causa
septicemia e enterite aguda ou crônica, podendo ser inaparente.

Etiologia:

A bactéria pertence ao Gênero Salmonella, espécie S. enterica e família


Enterobacteriaceae. Existindo mais de 2600 sorovares, que são classificados quanto seus
antígenos, determinados por aglutinação sorológica (Somáticos – O; flagelar – H; e capsular –
Vi). É um bacilo, Gram negativo e móvel.

A doença clínica tem sido descrita como a associação de S. choleraesuis e S.


thyphimurium.

Epidemiologia:

Na maioria das vezes não se manifesta clinicamente. Os animais portadores são os


reservatórios da bactéria e excretam pelas fezes. Fatores estressantes e doenças concomitantes
favorecem a multiplicação e excreção.

A transmissão mais comum se dá através da via oro-fecal. Pode ser transmitida por
aerossol, em curtas distâncias, e por contaminação do ambiente, rações, vetores (roedores).

O número de leitões adoecidos é a baixo de 15%; e a mortalidade entre 4-6%.

Podem resistir durante meses no ambiente, suportando dessecação e congelamento. E


são sensíveis ao calor, sol e desinfetantes (fenóis, clorados, amônia quaternária).
Patogenia:

A microbiota entérica oferece uma barreira competitiva aos patógenos que chegam no
intestino, ocasionando uma resistência a colonização, que ocorre pela maior capacidade de a
microbiota competir por nutrientes e capacidade de modular a resposta imune.

Perturbações na microbiota causam a diminuição da competição, ocasionando uma


rápida colonização pelo sorovar S. thyphimurium. Um exemplo de perturbação é o uso
indiscriminado de antimicrobianos.

S. thyphimurium tem um papel ativo na modificação após a colonização, induzindo


inflamação local e resposta imune inata. A inflamação causa uma perturbação do grupo de
bactérias anaeróbicas, que são responsáveis pela hemostasia entérica e combate a colonização.
Assim alterando a taxa de oxigênio, o que favorece o crescimento da Salmonella, levando a
uma perturbação constante da microbiota intestinal.

A invasão de células M, induzida por efetores da própria Salmonella, permite que ocorra
seu transporte até bolsões destas células, onde serão fagocitados por neutrófilos, macrófagos e
células dendríticas. Quando no interior dessas células, a bactéria é transportada até nódulos
linfoides de placas de Peyer e linfonodos mesentéricos, podendo chegar a outros tecidos.

A apresentação clínica e os achados patológicos dependem do sorovar, virulência da


cepa, resistência do hospedeiro e dose infectante. Durante a maternidade, estão protegidos pela
imunidade materna.

O sorovar S. choleraesuis possui maior capacidade invasiva, não precisando de grande


carga bacteriana para causar doença. Tem preferência pelo íleo e cólon, invadindo células M e
eritrócitos, chegando a corrente sanguínea e causando septicemia em 24-72h. Diarreia pode
ocorrer nos primeiros 3 dias de sinais.

O sorovar S. typhimurium é menos invasivo e não tem preferência por local (jejuno,
íleo). A principal porta de entrada é pelo epitélio que recobre Placas de Peyer, por endocitose,
formando vacúolos, que transportam as bactérias no citoplasma e entra na lamina própria,
chegando aos linfonodos mesentéricos.

Diarreia observada é consequência da má absorção e do aumento na permeabilidade


intestinal (causado pela inflamação). No início do quadro clinico, ocorre hipersecreção,
mediado pela ativação da enzima adenilciclase. As lesões e sintomas de septicemia são
consequentes a endotoxemia, quase exclusivamente produzida por S. Choleraesuis. S.
Typhimurium pode ser encontrada no fígado, baço e pulmões de leitões inoculados
experimentalmente.

Sinais clínicos: podem estar relacionados à septicemia ou à diarreia

Septicemia: normalmente agudo com mortalidade aumentada, alguns animais morrem


subitamente e outros apresentam febre e cianose de extremidades, temperatura corporal entre
40,5 a 41 °C, queda no apetite, dificuldade de locomoção, enfraquecimento, tendência a se
amontoarem, ocasionalmente diarreia. Pele com áreas avermelhadas (orelhas, barriga, períneo
e região inguinal) que posteriormente se tornam cianóticas, dificuldade respiratória e tosse
(sorovar Choleraesuis). A maioria morre de 1-4 dias após o aparecimento dos sinais clínicos.
Recuperações são raras, e os suínos definham. Se sobreviverem à fase aguda, os sinais clínicos
são vistos conforme o órgão afetado.

Diarreia: aumento na temperatura corporal, queda no apetite, diarreia líquida, malcheirosa,


amarelada, esverdeada (menos frequente, sanguinolenta, com material necrótico), tem curso
intermitente, podendo durar várias semanas e resulta em perda progressiva de peso. Os
sobreviventes tendem a refugar. A mortalidade varia de 20 a 40%.

Por seu potencial zoonótico pode o homem, causando sinais como vômitos, diarreia, dor
abdominal e febre moderada.

Lesões:

Forma septicêmica: apresenta gastrenterite hemorrágica (mucosa estomacal com focos


hemorrágicos e áreas com perda da mucosa). Baço aumentado e com coloração vermelho-
escura. A epiglote, os rins e a bexiga apresentam hemorragias petequiais. Os linfonodos estão
aumentados de volume e cor vermelho-escura. Nos pulmões, são evidentes focos de pneumonia
e áreas hemorrágicas disseminadas, em quadros respiratórios o pulmão não está colapsado, com
superfície lisa e brilhosa, com edema intersticial acentuado e hemorragias subpleurais
multifocais. Coração apresenta excesso de fluido no saco pericárdico e petequias no epicárdio.
O fígado tem pontos necróticos esbranquiçados ou acinzentados. Animais que sobrevivem
apresentam icterícia acentuada em decorrência das lesões hepáticas, úlceras em botão na
mucosa aboral do intestino delgado, ceco e cólon, à semelhança da forma enterocolitica na fase
de cronicidade.

Forma enterocolítica: edema de mesocólon e parede intestinal espessada. A mucosa do


ceco e cólon tem áreas de tecido necrosado e fibrinoso confluente, a espessura está aumentada,
com coloração esbranquiçada ou amarelada, algumas vezes escurecida. O conteúdo é líquido,
fétido, contendo grumos de tecido necrótico. Os linfonodos mesentéricos estão aumentados.
Microscopicamente são vistas lesões necróticas profundas (mucosa e submucosa) e vasos
sanguíneos com trombos na submucosa. Nos pulmões (frequentemente acometidos na forma
septicêmica), os septos alveolares estão espessados (devido ao infiltrado predominantemente
mononuclear, com frequência associados a microtrombos de capilares). As lesões hepáticas são
nodais e esplénicas, caracterizadas por necróticas multifocais.

Diagnóstico: apresentação clínica da doença e identificação do patógeno

Com o animal vivo, o exame pode ser realizado a partir de swabes retais ou um pool de
fezes frescas. Quando feita necropsia, o material coletado depende da apresentação clínica e
das lesões observadas (Septicemia - órgãos internos, pulmão, fígado, baço, linfonodos;
Enterocolite - íleo, ceco e colón, seu conteúdo, fígado e linfonodos mesentéricos). Coletar
especialmente de áreas com pontos necróticos, pois possuem valor diagnóstico na avaliação
histopatológica e imunohistoquímica para sorovares específicos.

O diagnóstico clinico é resultado associado a anamnese e outros exames laboratoriais,


uma vez que as salmonelas estão amplamente disseminadas nas granjas de suínos.

A sorotipificação é importante para implementar uma ferramenta especifica de controle.


A bactéria isolada possibilita a realização do antibiograma. Técnicas moleculares (PCR e PCR
quantitativa), comprovam a presença da bactéria e sua quantificação. O exame sorológico, pelo
teste de ELISA, é usado, porém o estado de portador assintomático apresenta resultado positivo
dependendo dos sorovares presentes na granja e do antígeno que compõe o kit.

Perfil de macrorestrição por eletroforese em campo pulsado (PFGE) e o sequenciamento


de genoma completo são métodos empregados para comparar amostras. São usados na
investigação de surtos e pesquisa científica em função do seu custo.

No diagnóstico diferencial, são incluídas as infecções por L. intracellularis, PCV2 e


disenteria suína. Em estados positivos para Peste Suína Clássica (PSC), a salmonelose
septicémica deve constar do diagnóstico diferencial entre as enfermidades hemorrágicas. A
presença de material necrótico nas fezes pode ser sugestiva de salmonelose, infecção por L.
intracellularis ou disenteria suína. A diferença básica entre as doenças é a presença de muco e
sangue na disenteria, enquanto na infecção pela L. intracellularis as lesões costumam apresentar
espessamento marcante da mucosa
Para o cultivo da Salmonella podem ser usados dois tipos de Ágar. Como o Ágar
Salmonella-Shigella (SS), que é usado para o isolamento de Salmonella e Shigella, sendo um
cultivo seletivo que inibe o crescimento de microrganismos Gram +. É composto por peptona
de carne pancreática, extrato de carne, lactose, sais biliares, citrato de sódio, tiossulfato de
sódio, citrato férrico amoniacal, vermelho neutro, verde brilhante e ágar bacteriológico. Na
leitura desse cultivo são encontradas incolores as Salmonellas que não fermentam lactose e as
Shigellas, quando usado para crescimento de coliformes se apresentam em colônias vermelhas
ou rosadas. O segundo Ágar que pode ser usado é o Xilose Lisina Desoxicolato (XLD), que
possui a mesma leitura do ágar SS, porém não pode ser colocado na autoclave. É composto de
extrato de leveduras, xilose, lactose, sacarose, cloridrato de lisina, tiossulfato de sódio, citrato
férrico amônio, vermelho de fenol, deoxicolato de sódio, ágar e água destilada.

Existem fatores predisponentes para a ocorrência da doença, que são o estresse


ambiental (temperaturas elevadas ou muito baixas, transporte, densidade de animais elevada),
má higienização de materiais usados ou dos galpões, botas e roupas contaminadas, vetores
(roedores) e ração contaminada.

Controle:

Em caso de surto, deve-se evitar que suínos tenham acesso à fonte de infecção. Novas
infecções ocorrem através da ingestão de fezes e alimentos contaminados, portanto deve ser
feita a limpeza diária das fezes das baias.

Eliminar ou isolar os animais doentes. Se possível, colocar um tratador exclusivamente


dedicado ao manejo das baias com animais doentes. Medidas terapêuticas devem ser adotadas
juntamente com medidas de higiene, desinfecção e manejo.

O sucesso do tratamento antimicrobiano depende da suscetibilidade da cepa do


patógeno. Os níveis de resistência observados nos isolados clínicos de Salmonella são críticos
(130 isolados no Brasil, 113 mostraram resistência a três ou mais classes de antimicrobianos
(multirresistência)). A frequência mais alta de resistência foi contra tetraciclina (90%), seguida
de florfenicol (77,69%), doxiciclina (76,92%), gentamicina (73,84%), colistina (63,07%) e
estreptomicina (62,30%).

Várias vacinas estão disponíveis no mercado, porém para sua eficácia como medida
preventiva devem ser levados em conta:
 As formas clínicas de salmonelose, uma entérica e outra septicêmica, e a prevalência de
portadores assintomáticos ao abate;
 Devem ser preferidas vacinas vivas atenuadas ou com adjuvantes que consigam
estimular a imunidade celular;
 A maioria dos surtos com manifestações clínicas da doença tem sido causada pelos
sorovares S. Choleraesuis e S. Typhimurium (vacina deve conter tipos sorológicos
homólogos)
 Análise de custo-benefício
 A vacinação como ferramenta para diminuir a prevalência de portadores de Salmonella
ao abate apresenta resultados variáveis.
 Infecção não significa doença, as granjas sem apresentação clínica e com prevalências
baixas de animais positivos devem implementar medidas de redução da pressão de
infecção e biosseguridade entre elas
 Rações produzidas com matérias-primas livres de Salmonella
 Bom programa de limpeza e desinfecção e manejo adequado à granja
 Sistema de manejo das instalações "todos dentro-todos fora", com vazio
sanitário
 Controle de roedores, pássaros e moscas
 Evitar misturas de lotes de diferentes propriedades
 Evitar superlotação das instalações e manejar os suínos sob os conceitos
de bem-estar animal e boas práticas de produção
 A vacina do laboratório Boehringer Ingelheim, é indicada para suínos saudáveis como
forma de prevenção da Salmonelose causada pela S. choleraesuis.
o Sendo uma vacina viva com a cepa avirulenta da bactéria.
o É usada 2mL, via oral, a partir de 1 dia de idade.
 Vacina do laboratório Inata Biológicos, sendo uma vacina autógenas para os dois
sorovares causadores de doença clínica em suínos.
o É utilizado um adjuvante em gel quando aplicada em leitões e adjuvante oleoso
para matrizes de reposição.
o É usada pela via intramuscular (na lateral do pescoço), em matrizes de reposição
é feita em 2 doses, na entrada da granja (com 4 semanas de intervalo) e em
leitões também em duas doses, nos 21 e 42 dias de vida.
Tratamento

Podem ser usados antibióticos injetáveis, na ração ou na água para o tratamento dos
animais. Porém muitos veterinários acreditam que apenas com medidas de controle, como
limpeza, desinfecção e controle de densidade dos animais nas baias, se consiga manter os
animais saudáveis.

Referências

https://inata.com.br/suinos/vacinas-autogenas-suinos/salmonella-typhimurium-e-salmonella-choleraesuis/

MASSON, Guido Carlos Iselda Hermans et al. Infecção experimental por Salmonella enterica subspécie enterica
sorotipo Panama e tentativa de transmissão área em leitões desmamados. 2008.

https://www.3tres3.com.br/artigos/diagnostico-laboratorial-de-salmonella-em-suinos_2165/

https://www2.zoetis.com.br/content/pt/pages/Especies/Suinos/_assets/pdf/SUINOS_040_Catalogo_Vacinas_SUI
NOS_v4.pdf

KICH, Jalusa Deon; MENEGGUZZI, Mariana; REICHEN, Caroline. Salmonelose clínica em suínos no Brasil?
diagnóstico e controle. 2017.

https://www.laborclin.com.br/wp-content/uploads/2023/04/172436BK-00-BULA-BK022-_-SS-AGAR.pdf

https://www.boehringer-ingelheim.com.br/saude-animal/suinos/enterisol-SC-54

Livro Doença de Suínos

https://www.splabor.com.br/blog/meio-de-cultura-2/o-que-e-xld-agar-saiba-tudo-sobre-esse-meio-de-cultura/

https://www.ourofinosaudeanimal.com/ourofinoemcampo/categoria/artigos/salmonelose-em-suinocultura/

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