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Micróbios destroem monumentos e ameaçam história

26 de junho de 2008

Deterioração de cristais de pedra calcária de Viena


em laboratório

26 de junho de 2008
Robert Koestler/The Smithsonian''s Museum Conservation Institute/The New York
Times

Em Angkor Wat, os pés das dançarinas estão desmoronando. Um monumental templo hindu do
século XII, encrustado nas selvas do Camboja, têm sido anfitrião de uma próspera comunidade de
cianobactérias desde que líquens imperceptíveis foram limpados de suas paredes há
aproximadamente 20 anos. Os micróbios não têm sido bons anfitriões.

Estas bactérias (Gloeocapsa) não apenas mancham a pedra de preto, mas aumentam a água absorvida pelo
xisto nas chuvas matinais de monsões e o calor absorvido quando sai o sol. O resultado, afirma Thomas
Warscheid, um geomicrobiologista que vive na Alemanha, é uma expansão e contração diárias do ciclo
que quebra a fachada do templo e sua estrutura interna.
Warscheid, que estudou a deterioração do Angkor Wat por mais de uma década, disse em uma entrevista
que estas variações pendulares quebraram partes de esculturas de dançarinas celestiais das paredes do
templo.
"A situação está piorando - mais de 60 ou 70% do templo está negro", ele afirmou. Uma vez considerados
conseqüência das condições meteorológicas, os danos no Angkor Wat são agora vistos como o resultado
de uma dinâmica muito mais complexa: a interação de microorganismos com propriedades físicas e
químicas do templo.
Em vários lugares ao redor do mundo, da Ilha de Páscoa à Acrópole, organismos microscópicos estão
acelerando a deterioração de monumentos e marcos históricos. Cientistas e restauradores começaram a
entender só recentemente o papel das bactérias e fungos comuns na destruição de construções culturais e
como - se possível - eles podem ser detidos. Esse reconhecimento crescente está inspirando novas
tecnologias para combater danos de micróbios.
"Nossa herança está desaparecendo", disse Ralph Mitchell, professor de biologia de Harvard. "Não
importa se é o Angkor Wat, ou construções maias no México ou sítios arqueológicos dos índios
americanos no Oeste deste país, eles estão todos sob ameaça. E a pergunta é, nós podemos preservá-los?"
De bactérias que se alimentam de hidrocarbonetos a fungos endolíticos que prolongam sua existência em
uma rocha porosa, micróbios que causam danos a monumentos têm sucesso porque eles sobrevivem em
ambientes inóspitos a outras flora e fauna.
"Uma das recentes descobertas importante é que a poluição do ar pode às vezes aumentar a
biodeterioração" disse Eric Doehne, um cientista do Instituto de Conservação Getty. Algumas bactérias se
alimentam de substâncias químicas encontradas em poluentes, excretando um ácido que destrói pedra,
metal e tinta.
Os micróbios representam um sério risco aos monumentos da Acrópole em Atenas, incluindo o Partenon,
de excelente proporção, e o Templo de Atena Nike, disse Sophia Papida, restauradora do Serviço de
Restauração da Acrópole.
As bactérias penetram nos veios do mármore, atraem água e expandem, quebrando os bustos e pilares do
monumento, disse Sophia. Liquens cavam buracos circulares no mármore e esfoliam frisos esculturais
que contam as histórias de deuses e deusas.
Os micróbios também frustram esforços diligentes para restaurar os monumentos. As pedras da Acrópole
podem desmoronar em milhares de pequenos pedaços, deixando um quebra-cabeça que quase não se pode
entender. "Nosso trabalho é atacado por microorganismos, e nós temos que voltar, remover os
microorganismos e colocar tudo junto de volta em seu lugar" disse Sophia. "As bactérias que estão lá,
estão se divertindo, na verdade."
Por décadas, pesquisadores lutaram para criar em laboratórios culturas de bactérias que sobrevivem em
monumentos. Hoje, técnicas genéticas permitem aos cientistas identificar melhor esses microorganismos,
mas isso nem sempre quer dizer que eles possam reverter o dano.
"Nós podemos usar análises de DNA para identificar quem está lá, mas isso não significa que eles causem
o problema", disse Robert Koestler, diretor do Instituto de Conservação de Museu do Smithsonian.
Alguns esforços para preservar monumentos se tornam a própria causa do problema. Polímeros
biodegradáveis usados para consolidar as pedras das ruínas maias no México, por exemplo, criaram
condições propícias para micróbios danosos.
Uma complicação adicional é que os microorganismos às vezes protegem monumentos, como as
formações de rocha vulcânica chamadas de "chaminés encantadas" da Capadócia no sudeste da Turquia.
Assim como liquens já impediram Angkor Wat de absorver água e calor demasiados, cientistas
descobriram que liquens nas chaminés evitaram que elas recebessem água demais, deixando-as intactas
por mais tempo.
"Não é sempre uma história com más notícias", disse Doehne. Ele é otimista sobre a capacidade dos
cientistas controlarem os ataques dos micróbios. "Nós estamos vendo uma explosão de conhecimento
surgindo, mais fortemente nos últimos 20 anos"
Em Angkor Wat, Warscheid desenvolveu um biocida chamado "melange d'Angkor" que será usado para
alvejar certas áreas do templo. A solução química altera a capacidade das cianobatérias produzirem seu
subproduto que mancha em preto. Não há porque aplicar o biocida em todo o templo, diz ele, porque após
10 anos, a bactéria vai se adaptar a ele. "Em certos lugares, onde há escrituras sagradas esculpidas na
pedra, você pode prover mão-de-obra humana para fazer essa limpeza regularmente."
Na Acrópole, pesquisadores da Universidade de Atenas estão trabalhando com Sophia para testar o
biocida, um produto composto quaternário de amônia que ela espera que coloque a restauração de volta
no caminho certo.
Lutar contra micróbios é uma questão de "vigilância e rotinas de manutenção" disse Mark Weber do
Fundo Mundial de Monumentos. As pessoas freqüentemente lidam com organismos "comedores-de-
pedras", como se fossem eventos singulares, ele acrescentou, em vez de serem pensados como seres
adaptativos.
Outra solução emergente é deixar os micróbios morrerem de fome. Restauradores fizeram isso para matar
fungos com aparência de algodão-doce em artefatos africanos que sofreram com inundação em um prédio
universitário de Nova Orleans quando o Furacão Katrina ocorreu, disse Koestler. Os fungos sobrevivem
no oxigênio, eles criaram um ambiente com pouco oxigênio lavando os objetos com argônio.
O método é mais fácil, é claro, em ambientes fechados. Em áreas externas, combater micróbios pode
significar cortar sua fonte de água. "Você quer pegá-lo logo - assim como quando você diagnostica uma
doença" disse Mitchell, de Harvard. Uma vez que constitui um biofilme, um complexo ecossistema
microbiano, e a comunidade de bactérias, como a cobertura viscosa que se forma em seus dentes, se
desenvolve, qualquer esforço pode ser em vão.
Na visão de Warscheid, proteger monumentos, embora importante, é retardar o inevitável. "Nós temos
que aceitar que em algum momento eles vão desaparecer," disse ele. "Mas nós sabemos bastante sobre
como conservá-los pelos próximos 20, 30 anos."

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