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IDADES GEOLÓGICAS

Marco Aurélio Costa Caiado, Ph.D.

Este texto foi elaborado para servir de material de suporte aos alunos do
Instituto Federal do Espírito Santo - IFES - nas Disciplinas Geologia, do
curso de Licenciatura em Biologia, e Geologia Aplicada, do curso de
Engenharia Sanitária e Ambiental. Embora sejam feitas várias citações no
decorrer do mesmo, este foi baseado principalmente em informações
colhidas no site oficial do Museu de Paleontologia da Universidade da
Califórnia Berkeley.

INTRODUÇÃO AO ARQUEANO

3.8 TO 2.5 BILHÕES DE ANOS ATRÁS

Se você pudesse visitar a terra durante o arqueano, provavelmente não


reconheceria que fosse o mesmo planeta terra. A atmosfera era muito
diferente daquela que respiramos atualmente; naquele tempo, era uma
atmosfera redutora, formada por metano, amônia e outros gases que seriam
tóxicos para a maioria da vida do nosso planeta atual. Naquele tempo, a
crosta terrestre havia se esfriado o suficiente para rochas e continentes
terem começado a se formar.

Foi no início do Arqueano que a vida começou a aparecer na Terra. Nossos


fósseis mais velhos datam de cerca de 3.5 bilhões de anos e consistem de
microfósseis de bactérias. De fato, toda vida em mais de um bilhão de anos
no Arqueano foi composta apenas de bactérias. A Figura 1 apresenta o que
seria uma costa arqueana a 3,5 bilhões de anos atrás.

Pode parecer surpreendente que as bactérias possam deixar fósseis em


tudo. No entanto, um grupo particular de bactérias, as Cianobactérias ou
"algas azuis", deixaram um registro fóssil que se estende pelo Arqueano, já
que os mais antigos fósseis parecidos com Cianobactérias são de cerca de
3,5 bilhões de anos. As Cianobactérias são maiores do que a maioria das
bactérias, e podem secretar uma parede celular espessa. Mais importante,
as Cianobactérias podem formar grandes estruturas em camadas, chamadas
Estromatólitos (se mais ou menos em forma de cúpula) ou Oncólitos (se
redondos). Estas estruturas formam como um tapete de Cianobactérias e

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crescem em um ambiente aquático, prendendo sedimentos e, por vezes,
segregando carbonato de cálcio. Quando seccionado muito finamente,
estromatólitos fósseis podem conter Cianobactérias fósseis e algas
requintadamente preservadas.

Figura 1: Representação de uma costa no Arqueano

Os montículos em primeiro plano são estromatólitos, colônias de bactérias


fotossintéticas que tem sido achadas como fósseis em rochas do início do
Arqueano na África do Sul e Austrália. Estromatólitos cresceram em
abundância durante o Arqueano, mas começaram a declinar durante o
Proterozóico e não são comuns nos dias atuais.

A Figura 2 é uma cadeia curta de células de Cianobactérias, de Bitter


Springs Chert, norte da Austrália (cerca de 1 bilhão de anos). Muito
semelhantes Cianobactérias ainda vivem hoje; na verdade, a maioria dos
fósseis desse grupo pode ser referenciada como gêneros ainda vivos. Pode-
se comparar a Cyanobacterium fóssil da Figura 2 com a Cyanobacterium
oscillatoria, da Figura 3, a qual existe atualmente.

Figura 2: Registro Fóssil de Bactéria

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Figura 3: Cyanobacterium Oscillatoria.

Este grupo mostra o que é provavelmente o mais extremo conservacionismo


da morfologia de quaisquer organismos.

Além de Cianobactérias, outras bactérias fósseis não são muito


encontradas. No entanto, sob determinadas condições químicas, as células
bacterianas podem ser substituídos por minerais, especialmente pirita e
siderita (carbonato de ferro), formando réplicas de células vivas, ou
pseudomorfos. Algumas bactérias secretam bainhas de ferro que às vezes
fossilizam.

Outras podem perfurar rochas e conchas e formar canais microscópicos.


Tais bactérias são referidas como endolíticas e seus furos podem ser
reconhecidos por todo o Fanerozóico. Bactérias também têm sido
encontradas em âmbar - resina de árvore fossilizada - e em tecidos
mumificados. Também é por vezes possível inferir a presença de bactérias
causadoras de doenças em ossos fósseis que mostram sinais de terem sido
infectados quando o animal estava vivo. Talvez os mais surpreendentes são
os fósseis deixados por magnetobacteria - um grupo de bactérias que
formam minúsculos cristais de magnetita (óxido de ferro) dentro de suas
células. Cristais de magnetita identificada como produtos bacterianos
foram encontrados em rochas tão antigas quanto dois bilhões de anos - em
um tamanho de algumas centenas de milionésimos de metro, estes detêm o
recorde para os menores fósseis.

CYANOBACTERIA: REGISTO FÓSSIL

As Cianobactérias estão entre os microfósseis mais fáceis de reconhecer.


Conforme já comentado, os mais antigos fósseis conhecidos, de fato, são
Cianobactérias em rochas arqueanas da Austrália Ocidental, datadas de 3,5
bilhões de anos. Isso pode ser algo surpreendente, uma vez que as rochas
mais antigas são apenas um pouco mais velhos: 3,8 bilhões de anos!

A Figura 4 apresenta um estromatólito em camadas, produzidos pela


atividade de Cianobactérias antigas. As camadas foram produzidas por

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carbonato de cálcio precipitado sobre um tapete de filamentos bacterianos.
Os minerais, juntamente com grãos de sedimento precipitando na água,
foram presos na camada adesiva de mucilagem que envolve as colônias de
bactérias, que depois continuou a crescer para cima, através do sedimento
para formar uma nova camada. Como esse processo ocorreu várias vezes, as
camadas de sedimentos foram criadas. Este processo ainda ocorre hoje,
Shark Bay, na Austrália Ocidental é bem conhecido pelos estromatólitos em
suas praias.

Figura 4: Estromatólito em camadas, produzido pela atividade


de cianobactérias antigas.

As Cianobactérias também foram tremendamente importantes por moldar o


curso da evolução e das mudanças ecológicas ao longo da história da Terra.
A atmosfera de oxigênio de que nós tanto dependemos foi gerada por
numerosas Cianobactérias fotossintetizantes durante o Arqueano e a Era
Proterozóica. Antes dessa época, a atmosfera tinha uma química muito
diferente, imprópria para a vida como a conhecemos hoje.

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Figura 5: Cianobactérias atuais

A outra grande contribuição das Cianobactérias é a origem das plantas. O


cloroplasto com que as plantas fazem fotoassimilados é na verdade uma
Cianobactéria que vive dentro das células da planta. Em algum tempo, no
final do Proterozóico, ou no início do Cambriano, Cianobactérias começaram
a habitar em certas células eucariotas, fazendo comida para o hospedeiro
eucarioto em troca de uma casa. Este evento é conhecido como
endossimbiose, e é também a origem da mitocôndria eucariótica.

Pelo fato de serem fotossintéticas e aquáticas, as cianobactérias são


freqüentemente chamados de "algas azuis-verdes". Este nome é conveniente
por se tratar de organismos aquáticos que fazem sua própria comida, mas
não reflete qualquer relação entre as Cianobactérias e as algas.
Cianobactérias são parentes das bactérias, não eucariontes, e é apenas o
cloroplastos que as liga às algas eucarióticas.

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O PERÍODO PROTEROZÓICO

2.5 BILHÕES A 543 MILHÕES DE ANOS ATRÁS

O período da história da Terra que começou a 2,5 bilhões de anos e


terminou a 543 milhões anos atrás é conhecido como o Proterozóico. Muitos
dos eventos mais emocionantes da história da Terra e da vida ocorreram
durante o Proterozóico - continentes estáveis apareceram pela primeira vez
e começaram a crescer, um longo processo que levou cerca de um bilhão de
anos. A cerca de 1,8 bilhões de anos atrás células eucarióticas apareceram
como fósseis.

Com o início do Proterozóico Médio, veio a primeira evidência do acúmulo de


oxigênio na atmosfera. Esta foi uma catástrofe para muitos grupos de
bactérias, mas possibilitou a explosão de formas eucarióticas, incluindo
algas multicelulares e, no final do Proterozóico, os primeiros animais.

Figura 6: Massas de terra e mar no Proterozóico

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POLUIÇÃO GLOBAL NO PROTEROZÓICO

A primeira “crise de poluição" atingiu a Terra a cerca de 2,2 bilhões de anos


atrás. Várias evidências como a presença de óxidos de ferro em paleossolos
(solos fósseis), o aparecimento de "red-beds” (camas vermelhas) contendo
óxidos de metais, e outros apontam para um aumento razoavelmente rápido
nos níveis de oxigênio na atmosfera naquele tempo. Os níveis de oxigênio no
Arqueano eram menores que 1% dos níveis presentes atualmente na
atmosfera, mas a cerca de 1,8 bilhões de anos, os níveis de oxigênio eram
maiores do que 15% dos níveis atuais e ainda em elevação. Pode parecer
estranho chamar isso de uma crise de poluição, pois a maioria dos
organismos que estamos familiarizados com eles não só toleram, mas
necessitam de oxigênio para basaltoviver. No entanto, o oxigênio é um
poderoso degradador de compostos orgânicos. Ainda hoje, muitas bactérias
e protistas são mortos pelo oxigênio. Organismos tiveram que desenvolver
métodos bioquímicos para tornar o oxigênio sem perigo; um desses
processos, a respiração oxidativa, tinha a vantagem de produzir grandes
quantidades de energia para a célula, e agora é encontrado na maioria dos
eucariontes.

De onde veio este oxigênio? As Cianobactérias, organismos fotossintéticos


que produzem oxigênio como subproduto, apareceram na face da terra a 3,5
bilhões de anos, mas tornaram-se comuns e generalizadas no Proterozóico.
Sua atividade fotossintética foi a principal responsável pela ascensão dos
níveis de oxigênio atmosférico.

A FAUNA DE EDIACARA

Figura 7: Montanhas de Ediacara, Sudeste de Austrália

Em 1946, um geólogo australiano chamado Reginald C. Sprigg estava


explorando uma cadeia de montanhas ao norte da cidade de Adelaide, na
Austrália, conhecida como a Ediacara. Por acaso, ele encontrou impressões
fossilizadas de o que aparentemente eram organismos de corpo mole,

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conservados principalmente na parte inferior de lajes de quartzito e de
arenito. A maioria era redonda, que Sprigg chamou de "medusoids" devido
sua semelhança com águas-vivas. Outros, no entanto, pareciam estranhos
vermes, artrópodes ou outras formas estranhas.

Inicialmente, Sprigg pensou que esses fósseis pudessem ser de idade


Cambriana, mas outros estudos mostraram que esses fósseis são de fato do
final do pré-cambriano. Estes não foram os primeiros fósseis pré-
cambrianas de corpo mole a serem encontrados e descritos. Vários relatos
sobre eles tinham aparecido na literatura científica já em meados do século
XIX. No entanto, este foi o primeiro conjunto diversificado e bem
preservado desses fósseis a serem estudados em detalhe, ajudando a
desencadear uma onda de interesse em paleontologia Pré-Cambriano. As
montanhas Ediacara deu nome a toda a biota Ediacara do pré-cambriano
tardio. A Figura 8 apresenta fósseis da fauna de Ediacara. Na esquerda,
Arkarua, um pequeno animal em forma de disco que pode ser o mais velho
Equinoderma. No centro, Tribrachidium heraldicum e à direita, Spriggina,
um possível parente dos artrópodos.

Figura 8: Fósseis da fauna de Ediacara

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O PERÍODO CAMBRIANO

543 a 490 MILHÕES DE ANOS ATRÁS

O Período Cambriano marca um ponto importante na história da vida na


Terra, é o momento em que a maioria dos principais grupos de animais
aparecem como registro fóssil. Este evento é às vezes chamado de
"explosão cambriana", por causa do tempo relativamente curto em que esta
diversidade de formas aparece. Antes se pensava que as rochas do
Cambriano continham os primeiros e mais antigos fósseis de animais, mas
estes podem ser encontrados nos estratos do período Vendiano (650 a 543
Milhões de anos atrás), que é uma parte do Proterozóico.

A Figura 9 apresenta o mapa da terra durante o Cambriano.

Figura 9: O mundo durante o Cambriano

Como pode ser visto, o mundo do Cambriano foi concentrada no hemisfério


sul. A maior massa de terra (em baixo à direita) foi o Gondwana (uma
coleção dos atuais continentes do hemisfério). O segundo maior continente
era o Laurentia à esquerda do centro no mapa. Entre Gondwana e Laurentia
existia a Sibéria (ao sul do equador) e Báltica (Escandinávia, Europa de
Leste e Rússia européia). O resto da Europa e muito do que é hoje a Ásia
estava em fragmentos ao longo da costa norte de Gondwana.

No Cambriano, os primeiros fósseis de anelídeos, artrópodes, braquiópodes,


equinodermos, moluscos, Onychophora, poríferos, e Priapulids apareceram
em rochas de todo o mundo. A Figura 10 e a Figura 11 apresentam fósseis
em rochas do Cambriano.

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Figura 10: Fauna Cambriana

Figura 11: Fauna Cambriana

Quase todos os filos de metazoários com partes duras e muitos de corpo


moles fez sua primeira aparição no Cambriano. O único filo moderno com
registro apenas depois do Cambriano foi o filo Bryozoa, que não é conhecida
antes do início do Ordoviciano.

Alguns fósseis de animais mineralizados, incluindo espículas de esponjas e


prováveis vermes tubulares, são conhecidas como do Vendiano, período do
Proterozóico imediatamente anterior ao Cambriano. No entanto, o
Cambriano foi um momento de grande inovação evolutiva, com muitos dos
principais grupos de organismos aparecendo dentro de um espaço de apenas
quarenta milhões de anos. Fósseis de animais também mostram uma grande
diversidade em rochas do Cambriano, mostrando que os animais do
Cambriano desenvolveram novos nichos ecológicos e estratégias - como a
caça ativa, se enterrar profundamente em sedimentos e fazer tocas
complexas. Finalmente, o Cambriano viu o aparecimento e/ou a
diversificação das algas mineralizadas de vários tipos, como as algas
coralíneas vermelhas e as algas verdes.

Isso não significa que a vida nos mares do Cambriano teria sido
perfeitamente familiar a um moderno mergulhador! Embora quase todos os

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filos marinhos vivos estivessem presentes, a maioria era representada por
classes que foram extintas ou sua importância reduzida significantemente.

Equinodermos Cambrianos eram tipos predominantemente estranhos, como


Edrioasteroids, Eocrinoids e Helicoplacoids. As estrelas do mar mais
familiares e ouriços do mar ainda não tinham evoluído, e há alguma
controvérsia sobre se existiam os crinóides (lírios do mar). Mesmo se
estivessem presentes, crinóides eram raros no Cambriano, embora eles
tivessem se tornado numerosos e diversos em outras eras posteriores no
Paleozóico. Enquanto os vertebrados sem mandíbula estavam presentes no
Cambriano, não foi até o Ordoviciano que os peixes com armadura se
tornaram comuns o suficiente para deixarem registro fóssil significativo.

Outros invertebrados Cambrianos dominantes com partes duras foram os


Trilobites (Figura 10 à esquerda e Figura 11); Archaeocyathids (parentes de
esponjas que eram restritos ao Cambriano Inferior); e os Hyolithids (Figura
10, à direita).

Algumas localidades ao redor do mundo, que preservam fósseis de animais


de corpo mole do Cambriano mostram que a "radiação cambriana" gerou
muitas formas incomuns que não são facilmente comparáveis com qualquer
coisa hoje. O mais conhecido destes sites é o lendário Folhelho Burgess, do
Cambriano Médio, nas Montanhas Rochosas de British Columbia, Canadá.
Locais em Utah, no sul da China, Sibéria e Groenlândia também são
conhecidos por sua boa preservação de fósseis não mineralizados do
Cambriano. Uma dessas maravilhas estranhas, pela primeira vez
documentada no Folhelho Burgess, é a Wiwaxia, apresentada na Figura 12.
Trata-se de um animal com uma polegada de comprimento, rastejante,
escamoso e espinhoso morador do fundo da água que pode ter sido um
parente dos moluscos, dos anelídeos, ou possivelmente um grupo de animais
extintos com características combinadas dos dois filos.

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Figura 12: Wiwaxia, componente da fauna do Folhelho Burgess

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O PERÍODO ORDOVICIANO

490 A 443 MILHÕES DE ANOS ATRÁS

O período Ordoviciano começou a cerca de 490 milhões de anos atrás, com o


fim do Cambriano, e terminou por volta de 443 milhões anos atrás, com o
início do Siluriano. Neste momento, a área norte dos trópicos era quase
inteiramente oceano, e a maior parte terrestre do mundo estava junta no
hemisfério sul, no super-continente Gondwana. Durante todo o Ordoviciano,
o Gondwana deslocou para o Pólo Sul e grande parte dele estava debaixo
d'água. Figura 13 mostra o aspecto da terra 450 milhões de anos atrás.

Figura 13: Aspecto da terra no Ordoviciano

O Ordoviciano é mais conhecido pela presença de sua diversa fauna marinha


de invertebrados, incluindo graptolitos, trilobites, braquiópodes, e os
conodontes (primeiros vertebrados). Uma comunidade marinha típica era
composta por estes animais, somados com algas vermelhas e verdes, peixes
primitivos, cefalópodes, corais, crinóides, e gastrópodes. A Figura 14
apresenta o tipo da fauna da época.

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Figura 14: Fauna típica do Ordoviciano

Talvez o acontecimento mais importante do Ordoviciano tenha sido o início


da colonização da terra. Restos de artrópodes primitivos terrestres são
conhecidos a partir desta era. Tem também sido encontradas evidências de
esporos tetraédricos, que são similares àqueles de plantas primitivas
terrestres.

Desde o início do Ordoviciano médio, a terra experimentou um clima mais


ameno em que o tempo estava quente e a atmosfera continha uma grande
quantidade de umidade. No entanto, quando o Gondwana finalmente se
estabilizou no Pólo Sul, durante o Ordoviciano Tardio, maciças geleiras se
formaram, fazendo com que mares rasos fossem drenados e o nível dos
mares restantes sofressem rebaixamento. Isto causou provavelmente
extinções maciças que caracterizam o fim do Ordoviciano, quando 60% dos
gêneros marinhos invertebrados e 25% de todas as famílias foram extintos.

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O PERÍODO SILURIANO

443 a 417 Milhões de anos atrás

O Siluriano (443 para 417 milhões de anos atrás) é nomeado em homenagem


ao povo Silures, um povo antigo que viveu no País de Gales, onde as rochas
deste período foram primeiramente estudadas. Esta foi uma era em que a
Terra passou por mudanças consideráveis que tiveram repercussões
importantes para o ambiente e a vida dentro dela.

Paleogeográficamente, o mundo Siluriano consistiu de um vasto oceano polar


norte e um supercontinente situado no sul (Gondwana) com um anel de
aproximadamente seis continentes, conforme mostrado na Figura 15.

No início do Siluriano grande parte da América do Sul, África e Antártica


eram terras emersas. Mares intracontinentais cobriam a América do Norte,
Europa, Ásia e Austrália, mas diminuem ao longo do período, já que se
observou um constante soerguiento dessas regiões.

No norte do globo terrestre, Laurentia, Europa e Sibéria colidem e se unem,


constituindo um continente chamado Laurasia. Esta colisão continental
resultou na formação das montanhas Caledônia na Escandinávia, norte da
Grã-Bretanha e Groenlândia, e as montanhas Apalaches ao longo da costa
leste da América do Norte. A colisão levou à deformação, dobradura e
soerguimento de rochas do Ordoviciano, Siluriano e rochas mais antigas do
norte da Inglaterra. O Gondwana (continente constituído da America do Sul,
África, Antártica, Índia e Austrália), que no final do Ordoviciano estava
localizado no pólo sul, circunda o globo terrestre e migra de encontro à
Laurentia.

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Figura 15: Mapa dos continentes e oceano no Siluriano.

O Siluriano testemunhou uma relativa estabilização do clima geral da Terra,


terminando o padrão anterior de erráticas flutuações climáticas. O clima foi
muito mais ameno em todo o mundo e um resultado dessas mudanças foi o
degelo de grandes formações glaciais, que contribuiu para o aumento
substancial nos níveis dos oceanos mais importantes, fazendo com que
grandes mares rasos cobrissem grande parte das áreas de terra
continental. Folhelhos, calcários, arenitos e quartzitos foram amplamente
depositados neste período.

Os recifes de corais, que provavelmente apareceram no Proterozóico tardio,


diversificaram em um grande número de grupos durante o Siluriano. Este
período foi também um momento marcante na evolução dos peixes, pois
marca a ampla e rápida difusão de peixes sem mandíbulas, assim como o
aparecimento das primeiras espécies de peixes de água doce e de
peixes com mandíbulas.

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Figura 16: A lampreia é exemplo de um dos poucos peixes sem
mandíbulas ainda existentes

É também nesta altura que as primeiras evidências de boa qualidade de vida


na terra são preservadas, incluindo parentes das aranhas e centopéias, e
também os mais antigos fósseis de plantas vasculares.

Talvez o avanço mais significativo da vida durante o Siluriano foi a


colonização da terra, já iniciada no Ordoviciano, primeiro pelas plantas e
insetos, e mais tarde (durante o Devoniano) por "certos" peixes e suas
ramificações, os anfíbios. As terras do siluriano foram povoadas por plantas
terrestres primitivas, bem como uma variedade de insetos. Ambos, plantas e
animais tiveram uma série de desafios quando se mudaram da água para a
terra:

 Secagem: Uma vez retirado da água e exposta ao ar, os organismos


tiveram que lidar com a necessidade de conservar a água. Uma série
de adaptações foram desenvolvidas, tais como o desenvolvimento de
pele impermeável (em animais), a vida em ambientes úmidos (anfíbios,
briófitas), a produção e de superfície impermeável (a cutícula nas
plantas, as camadas de cortiça e cascas de árvores lenhosas).
 Troca gasosa: Organismos que vivem na água são capazes de trocar
dióxido de carbono e e oxigênio através de suas superfícies. Estas
superfícies de troca são úmidas e finas camadas através da qual de
difusão podem ocorrer. A resposta ao desafio de secagem tendeu a
fazer com que essas superfícies se tornassem mais espessas,
impermeáveis, retardando o processo de troca gasosa. Por
conseguinte, outro método de troca de gás teve que ser modificado
ou desenvolvido. Muitos peixes já tinham brânquias e bexigas
natatórias, portanto, quando alguns deles começaram a se mover
entre as lagoas, a bexiga natatória (uma estrutura de retenção de gás
para ajudar na flutuabilidade do peixe) começou a atuar como uma
superfície de troca gasosa, em última análise, evoluindo para o pulmão
terrestre. Muitos artrópodes tinham brânquias ou outras superfícies
internas respiratórias que foram modificados para facilitar a troca

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de gás em terra. A solução de troca gasosa para as plantas foi uma
estrutura nova, a célula guarda dos estômatos. Ao abrir estas células
guarda a planta é capaz de permitir a troca de gás por difusão
através dos estômatos abertos.

 Suporte: Organismos que vivem na água são suportados pelo líquido


denso em que vivem. Uma vez em terra, os organismos tiveram que
lidar com o ar menos denso, que não podia suportar seu peso.
Adaptações para isso incluem esqueletos de animais e células/tecidos
vegetais especializados no suporte dos vegetais.

 Condução: Organismos unicelulares apenas têm que mover material


para dentro, para fora ou no interior das células. Um ser multicelular
deve fazer isso em cada célula do corpo; além disso, deve mover
material para dentro, para fora e no interior do organismo.
Adaptações para isso incluem os sistemas circulatórios dos animais, e
os tecidos especializados na condução de seiva: xilema e floema.

 Reprodução: Organismos na água podem liberar seus gametas na água,


onde estes vão nadar por flagelos até encontrar uns aos outros para a
fecundação ocorrer. Em terra, tal cenário não é possível. Os animais
de terra tiveram que desenvolver sistemas especializados de
reprodução que envolve a fertilização quando eles retornam para a
água (anfíbios), ou fecundação interna e um ovo amniótico (répteis,
aves e mamíferos). Os insetos desenvolveram mecanismos
semelhantes. As plantas também tiveram que lidar com isso, quer
vivendo em ambientes úmidos, como as samambaias e briófitas, ou
pelo desenvolvimento de sistemas de transporte especializado, como
tubos polínicos.

As primeiras plantas de verdade começaram a enraizar-se em terra cerca


de 430 milhões de anos atrás. Elas evoluíram hastes rígidas, permitindo-
lhes ficar em pé, assim como os tecidos tubulares comuns a todas as plantas
vasculares, que permitiu o transporte de água e nutrientes. Esses primeiros
colonizadores não tinham folhas, mas musgos e outras plantas
desenvolveram em seguida, favorecendo a formação de uma vegetação no
entorno da água que incentivou mais animais aquáticos a fazer a transição
para a terra.

Cooksonia, figura 17(A), tem sido geralmente considerada a planta mais


antiga conhecida da terra. A maioria dos fósseis de plantas do Siluriano
foram atribuídos ao gênero Cooksonia, mas fósseis atribuídos a várias

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espécies são conhecidos na América do Norte, Europa, Ásia e África, tanto
do Siluriano Tardio como do início do Devoniano. O Baragwanathia lycophyte,
à direita, é estruturalmente mais complexo do que Cooksonia. Fósseis
Silurianos desta planta foram encontrados na Austrália, significativamente mais cedo
do que no Hemisfério Norte.

Figura 17: Cooksonia (à esquerda) e Baragwanathia lycophyte (à direita).

Outros fósseis marinhos encontrados no Siluriano incluiem trilobites (Figura


18-A), Graptolitos, Conodontes, corais, estromatoforóides e moluscos.

Figura 17: Fósseis silurianos: À esquerda, Limuluris dalmanites, um trilobita do


Siluriano de Nova York. À direita, Grammysia cingulata, um braquiópoda da
Inglaterra.

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Figura 18: Braquiópodes: animais marinhos fixos, com esqueleto constituído de duas
conchas. Habitam mares frios ou temperados. Vivem do Cambriano inferior até hoje.

O PERÍODO DEVONIANO
417 a 354 Milhões de anos atrás

O mapa da terra no Devoniano está apresentado na Figura 19.

Figura 19: Mapa da terra no Devoniano

Durante este período, as terras do mundo estavam divididas em dois


supercontinentes, Gondwana e Euramerica. Essas massas enormes
estabeleceram-se relativamente próximo uma da outra em um único
hemisfério, enquanto um vasto oceano encobria o resto do mundo. Estes
supercontinentes foram cercados por todos os lados por zonas de
subducção. Com o desenvolvimento da zona de subducção entre Gondwana e
Euramerica, uma grande colisão foi posta em movimento, a qual levou os dois
juntos a formar o continente Pangea no Permiano.

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Os continentes da América do Norte e Europa colidiram, resultando em
intrusões maciças de granito maciço e o aumento dos Montes Apalaches, no
leste da América do Norte. Significativo processo erosivo passou a ocorrer
nas montanhas recém erguidas, resultando em grandes volumes de
sedimentos, os quais foram depositados em vastas planícies e mares rasos
nas proximidades.

Os mares devonianos eram dominados por braquiópodes, tais como


spiriferids (Figura 20), assim como por corais tabulata e rugosa, os quais
construíram grandes recifes em águas rasas. Algas vermelhas também
contribuíram para a construção do recife. No Devoniano Inferior,
ammonoids apareceram, deixando-nos grandes depósitos de calcário de suas
carapaças. Moluscos bivalvos, equinodermos crinóides e blastóides, e
Trilobitas estiveram presentes, mas a maioria dos seus grupos desapareceu
no final do Devoniano.

Braquiópodes são animais marinhos que, ao primeiro olhar, são vistos como
conchas marinhas. Eles são realmente muito diferentes dos moluscos em sua
anatomia e não estão intimamente relacionados com eles.

Figura 20: Fosseis de spiriferids, Braquiópodes do Devoniano.

Figura 21: Fosseis de corais tabulata (A) e rugosa (B).

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O Devoniano também é notável pela rápida diversificação em peixes. Peixes
bênticos com armaduras, os quais apareceram no Siluriano, foram comuns no
início do Devoniano. Estes peixes primários não tinham mandíbulas e são
chamados coletivamente "ostracodermos" (Figura 22) os quais incluem um
número de diferentes grupos. Os ostracodermes ou ostracodermos (do
grego ostrac, casca + derm, pele) são um grupo de agnatos (sem mandíbula)
extintos, considerados como os vertebrados mais antigos que se conhecem.
Compreendem diversas linhagens distintas, entretanto, todos são
caracterizados pela presença de um revestimento de ossos dérmicos,
geralmente na forma de uma extensa armadura ou carapaça, mas às vezes
na forma de placas menores ou escamas.

Eram pequenos peixes sem mandíbulas (ainda que alguns alcançassem os 60


cm de comprimento), fundamentalmente de água doce, que habitaram a
Terra aproximadamente entre 500 e 350 milhões de anos. Eram cobertos
de escamas e uma pesada couraça ou escudo ósseo, motivo pelo que se
moviam pelo fundo alimentando-se dos detritos que ali se depositavam.

Figura 22: Exemplo de Ostracodermos

Os peixes sem mandíbulas evoluíram, se diferenciando dos vertebrados


anteriores através de modificações dos arcos branquiais, que se
desenvolveram para se tornar o maxilar e suas estruturas de apoio. Após o
aparecimento dos peixes com mandíbulas (placodermos, tubarões etc), cerca
de 400 milhões de anos atrás, a maioria das espécies de Ostracodermos
sofreu um declínio, e os últimos Ostracodermos tornaram-se extintos no
final do Devoniano.

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Em meados do Devoniano, Placodermos (Figura 23), os primeiros peixes de
mandíbulas, apareceram. Muitos deles cresceram a tamanhos grandes e
eram predadores temíveis.

Figura 23: Placodermos do período Devoniano

Ao contrário de todos os outros vertebrados com mandíbula, os


placodermos não tinham dentes, e não foram descendentes de ancestrais
dentados. Em vez disso, placas ósseas associadas com as mandíbulas
desempenhavam a função dos dentes, às vezes formando lâminas, cujas
bordas se auto-afiavam.

A história evolutiva dos placodermos tem sido comparado a uma lâmpada de


luz brilhante, que logo se queima. Eles eram um taxon muito bem sucedido e
diversificado, mas que durou apenas cerca de cinqüenta milhões de anos.
Compare isto com a história dos tubarões, que apareceram
aproximadamente no mesmo tempo que os placodermos - mas que têm
sobrevivido por mais de 400 milhões de anos!

De grande interesse para nós é a ascensão do sarcopterigios, ou os peixes


de nadadeiras lobadas, que acabaram por produzir os primeiros tetrápodes,
pouco antes do final do Devoniano. Foi nessa época que os primeiros
vertebrados se mudaram para a terra.

23
Figura 24: Coelacanthus SP., um sarcopterigio ainda existente tido como extinto a 80
milhões de anos, até ser encontrado na África do Sul em 1938.

MUDANÇAS NA PAISAGEM DEVONIANA

No Período Devoniano, a vida se encaminhou para a colonização da terra.


Antes disso, não havia acumulação orgânica no solo, fazendo com que estes
tivessem cor avermelhada, um indicativo de paisagem colonizada apenas por
tapetes de bactérias e algas.

No início do Devoniano, entretanto, primitiva vegetação terrestre começou


a se espalhar. Essas plantas não possuíam raízes ou folhas como as plantas
mais comuns atualmente e muitos não tinham tecido vascular. Elas
provavelmente se espalharam através de reprodução vegetativa e não
cresceram muito mais do que alguns centímetros de altura.

A fauna primitiva que existia entre essas plantas eram principalmente


artrópodes: ácaros, trigonotarbids, insetos sem asas, e miriápodes, os quais
não são bem conhecidos.

No final do Devoniano, lycophytes, sphenophytes, samambaias e


progimnosperma tinham evoluído. A maioria destas plantas possuía raízes e
folhas verdadeiras e muitas eram bastante altas. A progimnosperma
Archaeopteris, cujas folhas são mostrados na Figura 255, foi uma grande
árvore com madeira verdadeira. Na verdade, é a mais antiga árvore
conhecida e produziu algumas das primeiras florestas do mundo.

Até o final do Devoniano, as primeiras plantas de semente tinham aparecido.


Esse rápido aparecimento de grupos de plantas e tantas formas de
crescimento têm sido chamados de a “explosão Devoniana”. Junto com esta
diversificação na estrutura da vegetação terrestre, veio uma diversificação
dos artrópodes.

24
Figura 25: Folha de Archaeopteris, do Devoniano.

Perto do final do Devoniano, um evento de extinção em massa ocorreu.


Glaciação e o rebaixamento do nível do mar global podem ter provocado essa
crise, uma vez que evidências sugerem que espécies marinhas de água morna
foram as mais afetadas. Impactos de meteoritos também têm sido
responsabilizados pela extinção em massa, ou mudanças nas concentrações
de dióxido de carbono atmosférico. É até concebível que tenha sido a
evolução e disseminação das florestas e as primeiras plantas com sistema
radicular complexo, que pode ter alterado o clima global.

O PERÍODO CARBONÍFERO
354 a 290 Milhões de anos atrás

O termo "carbonífero" vem da Inglaterra, em referência aos depósitos


ricos de carvão que ocorrem lá. As rochas do Carbonífero na Europa e no
leste da América do Norte consistem em repetidas sequências de calcário,
arenito, xisto e carvão. Estes depósitos de carvão ocorreram em todo o
norte da Europa, Ásia e meio-oeste e leste da América do Norte. O termo
"Carbonífero" é usado em todo o mundo para descrever esse período, mas
este foi separado em Mississipiano (Carbonífero Inferior) e Pensilvaniano
(Carbonífero Superior), nos Estados Unidos.

Os grandes depósitos de carvão do Carbonífero principalmente devem sua


existência a dois fatores. A primeira delas é o aparecimento de casca de
árvores e em particular a evolução da lignina da fibra da casca (Figura 26).
O segundo é o nível mais baixo do mar que ocorreu durante o Carbonífero,

25
em comparação com o período Devoniano. Isso permitiu o desenvolvimento
de pântanos e florestas de várzea extensas da América do Norte e Europa.
Postula-se que grandes quantidades de madeira e animais em decomposição
foram enterradas durante este período porque e bactérias, que podiam
digerir a lignina, ainda não tinham evoluído. Também foi observado que o
extensivo enterrio de material carbonáceo levou ao acúmulo de excesso de
oxigênio na atmosfera, resultando em concentrações deste elemento até
80% maior do que a de hoje. O aumento de oxigênio resultou no incremento
de queimadas, bem como na expressão do gigantismo de certos insetos e
anfíbios, cujo tamanho é limitado por sistemas respiratórios que, por sua
vez, são limitados em sua capacidade de difundir o oxigênio.

Figura 26: Paisagem terrestre do Carbonífero

O Carbonífero foi marcado pela formação progressiva do supercontinente


Pangea. Os continentes que hoje é o Hemisfério Norte deslocaram-se para o
Equador para formar a Laurásia e juntar-se à grande massa de terra do
hemisfério sul, chamada Gondwana. A colisão entre a Sibéria e a Europa
Oriental criou os montes Urais, enquanto a China foi formada através da
colisão de várias microcontinentes e Sibéria. A colisão entre Gondwana e
Laurásia conduziu à formação do cinturão dos Apalaches na América do
Norte e as Montanhas Hercinianas na Europa. Gondwana foi mudando para o
equador, enquanto os continentes se mudaram do leste para o oeste.

A relação entre as diferentes massas de terra, tais como a localização de


cada um dos continentes atuais em relação ao outro é determinado pela
comparação de antigos pólos magnéticos e a interpretação das zonas antigas
da atividade tectônica. O magnetismo das rochas é baseado no fato de que

26
certos tipos de rochas podem conter minerais ligeiramente magnéticos e
assim posicionarem-se de forma específica quando expostos a um campo
magnético. Quando uma rocha é depositada, como acontece durante uma
explosão vulcânica, estes minerais são livres para se orientar em qualquer
forma e, quando a rocha endurece, ficam presos a essa posição, registrando
assim a posição do campo magnético da Terra naquele momento. Massas de
terra colocadas próximas uma das outras são sujeitas ao mesmo campo
magnético; desta forma, os minerais das rochas são orientados na mesma
direção.

A quantidade de terra exposta ao ar aumentou durante o Carbonífero. Este


aumento é provavelmente devido à tectônica de placas e à espessura da
crosta. Esta tendência de aumento crescente de massas pode ser visto por
diferentes tipos de depósitos de rocha que são encontrados em locais
diferentes. O período Mississipiano foi marcado por depósitos marinhos, o
que leva à conclusão de que mares rasos cobriam grandes áreas, enquanto
que, no período Pensilvaniano, verificou-se uma tendência irregular, mas
progressiva, de elevação de massas, tornando dominante a formação de
ambientes continentais e marginais marinhos. Estas mudanças para um
ambiente menos marinhos levou à radiação terrestre que começou durante o
Carbonífero. Esta irradiação também ocorreu devido à tendência à secagem
devido à formação de grandes geleiras, a maioria das quais ocorreu no Pólo
Sul da época.

O início do Carbonífero é marcado por um clima mais uniforme, tropical e


úmido durante todo o ano, com estações sem muitas diferenças. Estas
observações são baseadas na comparação da morfologia de plantas fósseis
da época com plantas atuais. A morfologia das plantas do Carbonífero
lembra as plantas que vivem em zonas tropicais e subtropicais de hoje. Em
muitas delas faltam anéis de crescimento, sugerindo um clima uniforme.

Além de apresentar as condições ideais para a produção de carvão, alguns


dos principais eventos biológicos, geológicos e climáticos ocorreram durante
este tempo. Uma das maiores inovações evolucionárias carboníferas foi o
ovo amniótico, que permitiu uma maior exploração da terra por alguns
tetrápodes. O ovo amniótico permitiu aos antepassados dos pássaros,
mamíferos e répteis que se reproduzissem na terra, impedindo a dessecação
do embrião no seu interior. Houve também uma tendência de temperaturas
amenas durante o Carbonífero.

Muitos peixes habitavam os mares do Carbonífero, predominantemente


Elasmobrânquios (subclasse de Chondrichthyes ou peixes cartilaginosos, que

27
inclui os tubarões (Selachimorpha) e as raias (Batoidea)). Tubarões,
especialmente os Stethacanthids foram submetidos a uma radiação
evolutiva importante durante o Carbonífero. Acredita-se que esta radiação
evolutiva ocorreu porque o declínio da placodermos no final do período
Devoniano tenha feito com que muitos nichos ambientais ficassem
desocupados, permitindo que novos organismos evoluíssem e os
preenchessem.

As altas concentrações de oxigênio permitiram aos artrópodes crescer até


2,6 metros de comprimento, como o milípede-Arthropleura, o maior
invertebrado de terra conhecido de todos os tempos. Entre os grupos de
insetos estão os grandes predadores Protodonata (griffinflies), entre os
quais Meganeura, um inseto gigante do tipo de uma libélula, com uma
envergadura de 75 cm - o maior inseto voador que já vagou pelo planeta.
Arthropleura foi extinto no início do período Permiano, quando o clima úmido
começou a secar, destruindo as florestas tropicais do Carbonífero, e
permitindo a desertificação característica do Permiano.

Figura 27: Meganeura - Tipo de libélula do Carbonífero Tardio que apresentava


envergadura de 75 cm.

Anfíbios Carboníferos foram diversos e comuns no meio do período, mais do


que eles são hoje, sendo que alguns tinham até 6 metros de comprimento, e
totalmente terrestres. Quando adultos, tinham pele escamosa. Eles
incluíram um número de grupos de tetrápodes classificados nos primeiros
livros como Labyrinthodontia. Estes tinham corpos longos, a cabeça coberta
com placas ósseas e membros, em geral, fracos ou pouco desenvolvidos. Os
maiores tinham mais de 2 metros de comprimento e foram acompanhados
por um conjunto de pequenos anfíbios, incluindo Lepospondyli, muitas vezes
com apenas cerca de 15 centímetros de comprimento. Alguns anfíbios do
Carbonífero foram aquáticos e viveram em rios (Loxomma, Eogyrinus,
Proterogyrinus), outros podem ter sido semi-aquáticos (Ophiderpeton,

28
Amphibamus, Hyloplesion) ou terrestres (Dendrerpeton, Tuditanus,
Anthracosaurus).

Os amniotas apareceram no meio do Carbonífero e se dividiram em


Sauropsideos e Sinapsídeos. Os primeiros foram divididos em Anapsídeos
(contém o grupo das atuais tartarugas) e Diapsídeos (grupo de vertebrados
terrestres que inclui os lagartos, crocodilos e aves; além de inúmeras
ordens de répteis pré-históricos incluindo dinossauros, pterossauros,
plesiossauros, notossauros, rincossauros, prolacertiformes e aetossauros),
enquanto que os Sinapsídeos evoluíram para a formação dos mamíferos. No
Carbonífero, somente os primeiros Sauropsídeos e Sinapsídeos apareceram.

Figura 28: Pederpes, tipo de anfíbio conhecido como o mais primitivo quadrúpede do
Carbonífero.

Figura 29: Hylonomus, o primeiro réptil Sauropsídeo, apareceu no Carbonífero.

Figura 30: Petrolacosaurus, o primeiro réptil Diapsida conhecido, viveu durante o


Carbonífero tardio.

29
Figura 31: Archaeothyris foi um réptil primitivo mamífero, o mais antigo e
incontestável Sinapsídeo conhecido.

No Carbonífero Médio, um evento de extinção ocorreu provavelmente


causado por alterações climáticas. Um evento de extinção menos intensa
também ocorreu no final do Carbonífero.

30
O PERÍODO PERMIANO
De 290 a 248 milhões de anos atrás

O período permiano foi o último período da era paleozóica. A distinção


entre os Paleozóico e o Mesozóico é feita no final do Permiano, em
reconhecimento à maior extinção registrada na história da vida na
Terra. Isso afetou muitos grupos de organismos em diferentes
ambientes, mas afetou as comunidades marinhas com mais intensidade,
causando a extinção da maioria dos invertebrados marinhos da época.

Alguns grupos sobreviveram à extinção em massa do Permiano em


números extremamente diminuídos, mas eles nunca voltaram a atingir o
domínio ecológico que tiveram antes, abrindo o caminho para um outro
grupo de vida marinha. Ao todo, o Permiano foi a última hora para
alguns organismos e um ponto crucial para os outros e a vida na terra
nunca mais foi a mesma novamente.

Em terra, uma extinção relativamente menor dos sinapsídeos e


diapsídeos abriu o caminho para outras formas de vida dominarem,
levando ao que tem sido chamado de a "Era dos Dinossauros".

As coníferas modernas, as gimnospermas mais conhecidas de hoje, que


possuem embrião enclausurado dentro da semente, primeiro apareceram
nos registros fósseis do Permiano.

A geografia global do Permiano incluía áreas enormes de terra e água.


Até o início do Permiano, o movimento das placas da crosta da Terra
haviam quase completado sua junção. Eles foram fundidos em um
supercontinente conhecido como Pangea. Muitos dos continentes eram
em forma idênticos ao que são hoje, sendo somente a Ásia quebrada no
momento, se localizando na porção norte do pólo sul. A Terra era
ocupada por um único oceano, conhecida como Pantalassa, com um mar
menor ao leste da Pangea conhecido como Tethys.

31
Figura 32: Visão global do oceano e da grande massa de terra no período Permiano.

O agrupamento da grande massa de Terra durante o período permiano


permitiu que o clima durante esse período fosse mais seco, uma vez que
houve o desaparecimento dos mares internos. Esses mares permitiam que a
umidade levada pelos ventos chegasse ao interior das terras. Logo, houve a
formação de grandes porções desérticas que dificultou a sobrevivência de
seres vivos.

A flora foi caracterizada pelo surgimento e pela proliferação das


gimnospermas, organismos vegetais mais simplificados, se comparados as
angiospermas, as quais se diversificaram no período Cretáceo. Outras
plantas comuns da época incluem cicadáceas e as chamadas samambaias com
sementes; destas, se destaca o gênero Glossopteris.

O clima seco reduziu as vastas coberturas vegetais que surgiram durante o


período Carbonífero. Dessa forma, houve uma queda dos níveis de oxigênio
para taxas iguais ou menores que a atual.

Na fauna, destacou-se o maior desenvolvimento e diversificação dos


répteis, que passaram a dominar definitivamente o mundo terrestre,
atingindo grande porte (ex. Moschops) e o topo da cadeia alimentar (ex.
Dimetrodon); e a decadência dos artrópodes gigantes, que se extinguiram
neste período provavelmente pela queda da taxa de oxigênio.

Com a queda do nível de oxigênio da atmosfera, os artrópodes terrestres já


não podiam manter o grande porte. No permiano ainda não existiam
lissanfíbios (anfíbios modernos), mamíferos, tartarugas, lepidossauros
(lagartos), pterossauros nem dinossauros, mas os ancestrais de todos estes
grupos já existiam e vieram a evoluir durante o Triássico.

32
Os répteis dessa época são mais próximos taxonomicamente dos mamíferos
atuais do que dos répteis que são conhecidos hoje, o que evidencia uma
ancestralidade surgida nessa período. Um exemplo de réptil permiano
marinho é o Mesosaurus, cujos restos fossilizados foram encontrados na
América do Sul (sul do Brasil) e na África, o que fortalece a teoria da
Deriva Continental.

Na fauna terrestre do período, se destaca um grupo de répteis que se


acredita terem sido os ancestrais dos mamíferos e, inclusive,
compartilhavam mais características com estes do que com os répteis
atuais, os Sinapsídeos, classe extinta que se dividia em duas ordens
(Pelycosauria e Therapsida). Os pelicossauros, mais primitivos, se
extinguiram ao final do período, enquanto os terapsídeos sobreviveram à
extinção massiva do final do Permiano.

Os pelicossauros foram o primeiro grupo de Amniotas bem sucedidos,


espalhando e diversificando-se até que se tornaram os animais terrestres
dominantes no fim do Carbonífero e início do Permiano. Eles foram
corpulentos, de sangue frio e tinha pequenos cérebros. Eles foram os
maiores animais terrestres de seu tempo, com até 3 metros de
comprimento. Alguns grupos de pelicossauros duraram até o final do
Permiano, mas a maior parte se tornou extinta antes do fim do Permiano.

Os terapsídios apareceram durante a primeira metade do Permiano e


passaram a se tornar os animais terrestres dominantes. De longe, os mais
diversos e abundantes animais do Permiano Inferior e Médio, incluíam
herbívoros e carnívoros, indo de pequenos animais do tamanho de um rato
(por exemplo: Robertia), a volumosos grandes herbívoros de uma tonelada ou
mais em peso (por exemplo: Moschops).

Nas águas doces, havia anfíbios gigantes e no mar, tubarões primitivos,


moluscos cefalópodes, braquiópodes, trilobitas (embora estes já houvessem
se tornado bem raros) e artrópodes gigantescos conhecidos como
escorpiões marinhos. As únicas criaturas voadoras do período eram insetos
(ex.: Meganeuropsis permiana).

Abaixo seguem alguns exemplos de organismos que viveram durante esse


período.

33
Figura 33: Mesosauro – Réptil aquático (1m).

Figura 34: Ervops megalocephalus – Anfíbio primitivo (3m).

Figura 35: Dimetrodon mirelli – Réptil pelicossauro (3-4m).

Figura 36: Antheosaurus magnificus – Réptil terapsídeo (5-6m).

34
O final do período Permiano é marcado por uma extinção em massa de
proporções nunca antes vistas, onde 95% da vida na Terra desapareceu,
incluindo os trilobitas e os escorpiões marinhos. Esse evento é conhecido
como extinção Permo-triássica e foi considerada a maior registrada na vida
da Terra. Tal acontecimento afetou principalmente as comunidades
marinhas invertebradas, sobrevivendo alguns grupos como os amonites e
surgindo espaço para outros nesse habitat. Na terra, houve extinções em
menor proporção, sobrevivendo, por exemplo, os répteis terapsídeos.

Abriu-se, desta forma, o caminho para a Idade dos Dinossauros. A teoria


mais aceita para este evento é a existência de um enorme vulcanismo no que
hoje é a Sibéria e que durou cerca de 1 milhão de ano. Este vulcanismo
afetou a atmosfera terrestre, a quantidade de energia recebida pela terra,
entre outros, modificando sobremaneira as condições de vida sobre a
mesma.

35
ERA MESOZÓICA

O PERÍODO TRIÁSSICO
De 248 a 208 milhões de anos atrás

O período Triássico marca o início da Era dos Dinossauros (Mesozóica).


Dividido em “Inicial”, “Mediano” e “Tardio”. Isso ocorreu posteriormente à
grande extinção permiana, que se estima ter dizimado 95% da vida
terrestre. No início do período praticamente todos os continentes estavam
aglomerados em um supercontinente chamado Pangéia.

O clima nas bordas era razoável, com áreas verdes exuberantes, enquanto,
no interior, um imenso deserto árido existia. Áreas montanhosas sofriam
intensa erosão, a sedimentação específica gerada se entulhava nas áreas
mais baixas formando arenitos e folhelhos. O clima era muito mais quente
e seco e a temperatura média do planeta era quase o dobro da atual.
Até o período médio, as placas da África e Eurásia se romperam e um longo
braço do mar Tétis atingiu, pelo oeste, o que hoje são Alemanha e França,
submergindo ilhas principais locais, fazendo surgir os mares europeus e
interferindo na paisagem intercontinental. Mais tarde, houve uma ruptura
das placas, rasgando a África do Gondwana e havendo um arrastamento para
o oeste.

O aparecimento do réptil Lystrosaurus é aceito como inicio do período


Triássico. Lystrosaurus foi, de longe, o mais comum dos vertebrados
terrestres do Triássico precoce, representando cerca de 95% do total de
indivíduos em algumas sítios de fósseis. Tem sido freqüentemente sugerido
que ela tinha características anatômicas que lhe permitiram adaptar-se
melhor do que a maioria dos animais às condições atmosféricas que foram
criadas pelo grande evento de extinção Permiano-Triássico e que persistiu
até o início do Triássico - baixas concentrações de oxigênio e altas
concentrações de dióxido de carbono. No entanto pesquisas recentes
sugerem que esses recursos não eram mais pronunciadas no Lystrosaurus
que em gêneros que se extinguiram na grande extinção ou gêneros que
sobreviveram, mas em número muito menos abundante que os Lystrosaurus.

Após a extinção permo-triassica, com o decorrer do triássico, a vida volta a


se recuperar gradativamente. Diversas comunidades, com complexas

36
estruturas tróficas levaram cerca de 30 milhões de anos para se
restabelecerem.

Figura 37: Lystrosaurus

Anfíbios temnospondyl estão entre os grupos que sobreviveram à extinção


do Permo-Triássico, algumas linhagens de Trematosauros cresceram
lentamente no início do Triássico, enquanto que outros (por exemplo,
Capitosauros) mantiveram-se firmes durante todo o período. Acredita-se
que, nesse período, os répteis foram os animais predominantes (a maioria
dos fósseis terrestres dessa época são deles) e algumas formas evoluídas
voltam para o mar. Dentre a diversidade de répteis, também se acredita que
os primeiros dinossauros tenham aparecido nesse período. Mas
diferentemente daqueles dos períodos Jurássico e Cretáceo, em sua
maioria, eram bem menores e em sua maioria eram quadrúpedes.

Abaixo segue alguns exemplos de organismos que viveram durante esse


período.

37
Figura 38: Demastosuchus - não era um dinossauro.

Figura 39: O Erythrosuchus.

Figura 40: família dos ictiossauros - "Peixe-lagarto".

A flora no período triássico era predominante as gimnospermas, ou plantas


com sementes, que dominaram as regiões mais ao centro do continente, onde
o clima seco e árido desfavorecia o grupo de pteridófitas (plantas que ainda
dependem da água para se reproduzir) e criavam um novo ambiente para a
proliferação de plantas menos dependentes de água, como as coníferas.

Embora nas regiões costeiras ao continente, onde clima era mais ameno,
ainda houvesse predominância das samambaias gigantes, a tendência com o

38
decorrer da era mesozóica foi dessas serem substituídas por plantas mais
evoluídas e adaptadas ao panorama climático predominante na época.

Figura 41: Flora triássica.

Acredita-se que nesse período, os continentes estavam bem acima dos


níveis dos oceanos. Assim, os mares rasos não puderam se formar nessa
época. Entretanto, a separação entre “África” e “Europa” fez o nível do
oceano subir nessa localidade, provocando inundação nessas regiões (sul da
Europa e norte da África).

39
O PERÍODO JURÁSSICO
De 208 a 144 milhões de anos atrás

O jurássico foi o segundo dos três períodos geológicos da era mesozóica. Na


cadeia de montanhas do Jura (França) há muitas formações geológicas
típicas desse período e, por isso, em 1829, um geólogo francês que estudava
essas formações denominou o período de jurassique. O Jurássico é dividido
nas épocas Jurássica Inferior (ou Lias), Jurássica Média (ou Dogger) e
Jurássica Superior (ou Malm), da mais antiga para a mais recente.

O limite inferior do período é caracterizado pela mudança das condições de


sedimentação, que antes eram continentais e que passaram a ser marinhas,
já que o período se inicia com uma grande transgressão marinha, ou seja, o
nível dos oceanos sobe, e as águas invadem os continentes, formando
grandes mares intracontinentais (como o Mar Morto).

Essa invasão do mar através dos continentes provocou grandes alterações


no clima, favorecendo o desenvolvimento de novas espécies de animais e
vegetais terrestres, identificados nas mais de 100 zonas fósseis
encontradas no mundo.

No Brasil, o registro fóssil desse período é escasso, porque as condições de


sedimentação eram desfavoráveis à preservação dos mesmos. No entanto,
em termos de formações rochosas e de solos, há registros importantes,
como o derramamento basáltico ocorrido no sul do país e que veio a gerar
um solo muito fértil à agricultura daquele local.

No período Jurássico, a mesma deriva continental, que no final da Era


Paleozóica possibilitou a união dos continentes que formaram a Pangea, trata
agora de rompê-lo e separá-lo em blocos novamente. A quebra e separação
desses blocos continentais duraram aproximadamente 100 milhões de anos,
se estendendo por todo Jurássico e Cretáceo. A primeira grande "quebra"
separou a Pangea em 2 blocos: Laurásia (América do Norte+Europa+Ásia) e
Gondwana (América do Sul, África, Antártica, Austrália e Índia).

40
Figura 42: Jurássico Inferior (195 milhões de anos).

Esses dois grandes continentes foram se subdividindo em blocos menores, e


no final do Jurássico tínhamos quatro áreas continentais: Laurásia, Índia,
América do Sul + África e Austrália + Antártica. A separação total entre a
África e a América do Sul só ocorreu no final do Período Cretáceo, mas o
processo de separação começou no final do Jurássico, gerando uma grande
depressão ao longo do que hoje é a nossa margem continental. Essa
depressão foi entulhada de sedimentos, gerando seis bacias marginais:
Pelotas, Santos, Campos, Espírito Santo, Bahia Sul e Sergipe - Alagoas. É
nessas bacias que se armazenam os maiores depósitos de petróleo e gás do
Brasil.

Figura 43: Jurássico Superior (152 milhões de anos).

41
As rochas do período jurássico são de grande utilidade para o homem. Isso
se deve principalmente a seu conteúdo de carvão mineral, sal e gesso,
fosfatos e jazidas de minerais metálicos, inclusive urânio. Mas,
indubitavelmente, o bem mineral mais importante é o petróleo, obtido em
horizontes jurássicos nos Estados Unidos, Canadá, México, Brasil, França,
Alemanha, Marrocos e Arábia Saudita.

O traço característico do jurássico foram os répteis, que não só


conquistaram os diversos ambientes continentais, como também o ar e os
mares. Os dinossauros, que possuíam cabeça relativamente pequena,
atingiram os maiores tamanhos jamais alcançados por outros animais
terrestres. Os mais gigantescos eram herbívoros e podiam ser bípedes ou
quadrúpedes - o diplodoco, por exemplo, do jurássico superior da América
do Norte, ultrapassava 25m de comprimento e pesava cerca de 20
toneladas. Esses dinossauros serviam de alimento para os carnívoros, todos
bípedes. As formas carnívoras tinham a cabeça grande, com poderosos
maxilares. O maior réptil carnívoro do jurássico foi o alossauro, com mais de
dez metros de comprimento.

Figura 44: Esqueleto de Alossauro.

Figura 45: Alossauro.

42
Figura 46: Diplodoco.

Durante o jurássico, o evento mais importante no reino animal foi o


aparecimento das aves, surgidas dos répteis, e dos primeiros mamíferos
verdadeiros.

Entre os que se adaptaram à vida nos mares, citam-se os ictiossauros, de


corpo semelhante ao dos peixes com nadadeiras, e os plesiossauros, répteis
marinhos de pescoço comprido e membros transformados numa espécie de
remo.

Figura 47: Plesiossauro (esquerda) e Ictiossauro (direita).

O clima quente e úmido no período jurássico provocado pela invasão dos


continentes pelo mar em ascensão fez com que as florestas se
proliferassem, o que fez a diversidade de plantas se tornar muito maior que
a do triássico. Além do surgimento de várias espécies, muitas surgidas
anteriormente, experimentaram uma grande evolução nesse período devido
à mudança do clima. Segue alguns exemplos de espécies que surgiram
durante esse período.
Solenopora: Alga vermelha que habitava os mares jurássicos, este fóssil
preservou as linhas de seu crescimento em vida.

43
Figura 48: Solenopora.

Iodites: Samambaia jurássica que é muito semelhante às atuais.

Figura 49: Iodites.

Coniopteris: Samambaia jurássica. Este fóssil teve suas folhas carbonizadas


pela compressão.

Figura 50: Coniopteris.

Cicadáceas: famosas por terem que conviver com os grandes dinossauros


eram comuns e estavam no momento auge.
Coníferas: as coníferas gimnospermas modernas se especializaram e
formaram grandes florestas no Jurássico incluindo várias espécies, algumas
atuais.

44
Figura 51: Coníferas.

   

ANGIOSPERMAS: Aceita-se que as angiospermas apareceram durante o


início do Cretáceo, mas evidências fósseis, porém, confirmam a presença das
mesmas no Jurássico, apesar de muito raras.

Figura 52: Silvianthemum: Flor que veio do jurássico, as primeiras angiospermas.

45
PERÍODO CRETÁCEO
De 144 milhões a 65 milhões de anos atrás

O Cretáceo é comumente conhecido por ser o último período da "Era dos


Dinossauros", contudo novas espécies de dinossauros se originaram nesse
período, como os primeiros Ceratopsian e dinossauros Pachycepalosaurid.
Também durante este tempo, encontram-se os primeiros fósseis de
inúmeros grupos de insetos, aves modernas e grupos de mamíferos, assim
como as primeiras plantas de floração.

A ruptura do continente Pangea, que começou a se dispersar durante o


Jurássico, continuou durante o Cretáceo. Isso levou a um aumento das
diferenças regionais em flora e fauna entre o norte e o sul do continente.

O fim do Cretáceo trouxe o fim de muitas espécies anteriormente bem


sucedidas e diversos grupos de organismos, tais como os dinossauros. A
extinção dessas espécies abriu espaço para a atuação de grupos de espécies
que tinham papéis secundários na fauna e flora características desta época.

Durante o Cretáceo, o Atlântico Sul se abriu. A Índia separou-se da parte


sul continental, avançando em direção ao norte de Madagascar em rota de
colisão com a Eurásia. Neste período, a América do Norte estava unida à
Europa, assim como a Austrália à Antártida.

Figura 53: Localização dos continentes.

46
No início do Cretáceo, as placas que compunham o supercontinente Pangea já
haviam se distanciado, ocasionando o processo de “rifting” e em meados do
período Cretáceo, a grande massa continental já havia se dividido em vários
continentes menores.

Quanto aos mamíferos, os monotremados tiveram sua primeira aparição


fóssil neste período, onde surgiu uma espécie de ornitorrinco primitivo. O
thylacodon era um mamífero marsupial, estes apareceram no meio do
Cretáceo e acredita-se que seus descendentes vivem atualmente na forma
dos gambás.

Surgiram também mamíferos com aspectos de roedores, e os primeiros


mamíferos placentários. O didelphodon, maior mamífero Cretáceo, possuía
um metro de comprimento, o que mostra o desenvolvimento deste grupo.

Um artrópode era a libélula cretácea, descendente das libélulas que


evoluíram no paleozóico. Os insetos estavam se adaptando à nova vegetação,
mas os antigos, como as libélulas, pouco mudaram.

Alguns exemplos de animais do período cretáceo:

Figura 54: didelphodon.

Figura 55: utahraptor.

Quanto à vegetação: palmeiras, pinheiros, sassafrás, laurel, ginkgo, palmito,


carvalho, magnólia, salgueiro, junco e outras plantas habitavam o mundo no
Cretáceo. As briófitas também habitavam esse período onde surgiram as

47
primeiras flores (angiospermas). A evolução das angiospermas foi ajudada
pelo surgimento de abelhas deste período.

O final do Cretáceo é marcado por uma das extinções em massa mais


famosas da história da vida na Terra. Este evento teve um enorme impacto
na biodiversidade da Terra e vitimou boa parte dos seres vivos da época.
Estima-se que cerca de 26% das famílias existentes e pelo menos 75% das
espécies foram vitimadas, tanto de organismos terrestres como marinhos.
As classes mais afetadas foram a dos répteis, a dos moluscos e também a
dos mamíferos. As vítimas mais famosas foram os dinossauros - apenas os
seus descendentes, os pássaros, sobreviveram. Na verdade, todos os
animais terrestres maiores do que cerca de 20 kg morreu.

Essa extinção é também conhecida por extinção k-T (fim do período


Cretáceo (K) e o início do período Terciário (T)), ou evento K-T, ou ainda
extinção K-PI. Registros mostram que o desaparecimento abrupto das
espécies que foram extintas coincide com um nível estratigráfico,
denominado nível K-T, rico em irídio, um elemento químico pouco abundante
na Terra. Diversas teorias tentam explicar a extinção K-T, sendo que a mais
aceita atualmente é a que justifica a catástrofe como sendo resultado da
colisão de um asteróide com a Terra.

Existem mais de dez teorias sobre as causas da extinção K-T, mas nenhuma
se mostra completamente irrefutável e consensualmente reconhecida pela
comunidade científica atual. Entre elas, tem-se:

Impacto de Asteróide com a Terra: Essa idéia evoluiu e atualmente


desponta como a melhor teoria para explicar o fim dos dinossauros. O
primeiro indício surgiu com a descoberta de uma fina camada de irídio nas
rochas que se formaram no fim do período Cretáceo. O irídio é um elemento
raro no planeta Terra, mas é encontrado com freqüência em asteróides e
cometas. A segunda evidência veio com a descoberta de uma enorme cratera
soterrada em Chicxulub, na Península de Yucatán, no México, formando o
que hoje é chamado a cratera de impacto de Chicxulub e medindo cerca de
180 quilômetros de diâmetro.

A colisão do asteróide com a Terra desencadeou uma série de tragédias


ecológicas. Com o impacto, alguns detritos foram arremessados até o espaço
e entraram na órbita da Terra, onde ficaram por algum tempo e só depois
caíram. Os incêndios em escala global e a liberação de grandes quantidades
de gás carbônico (CO2) na atmosfera causaram o efeito estufa. Com o calor,
as moléculas de nitrogênio e oxigênio se quebraram e se combinaram com o

48
hidrogênio formando o ácido nítrico (HNO3). Sucederam-se então longos
períodos de chuva ácida, prejudicando ainda mais a vida terrestre. Paralela
e consecutivamente, o aumento da acidez e da temperatura dos oceanos
afetou gravemente os ecossistemas marinhos.

Chuva de Cometas (não de asteroide): Vários paleontólogos e cientistas


acreditam nesta hipótese devido ao fato de as crateras já encontradas
provenientes de impactos no fim do Cretáceo serem datadas de muitos
milhares de anos antes da extinção definitiva dos dinossauros, o que os leva
a crer que o que causou a extinção K-T (ou, ao menos, o que concluiu a
extinção) não tenha formado uma cratera. Se foi um cometa e não um
asteróide, existe uma grande possibilidade de este ter explodido
violentamente na atmosfera antes de tocar o chão.

Vulcanismo Maciço: Uma outra teoria justifica a extinção K-T como


resultado de intensas e duradouras erupções vulcânicas ocorridas há 65,5
milhões de anos na faixa de terra que forma hoje o Planalto de Deccan, no
centro da Índia. Tais erupções teriam prosseguido por milhares de anos,
tempo suficiente para que verdadeiros mares de lava basáltica fossem
expelidos através da crosta terrestre, envenenando toda a atmosfera
terrestre, impedindo que a luz solar alcançasse a superfície do planeta e,
assim, provocando a extinção em massa.

Alterações Climáticas: Outra teoria divergente advoga uma violenta


alteração climática como agente desencadeador do processo de extinção.
Caracterizada por uma queda acentuada na temperatura global e pela
inundação de longas áreas de terra, essa alteração climática teria causado a
morte súbita de espécies vegetais e animais intolerantes a mudanças no
clima. Já as inundações, forçaram centenas de espécies a migrar para novas
áreas que, na maioria das vezes, não se enquadravam no modelo de habitat
ao qual essas espécies estavam adaptadas.

Existem várias outras teorias, como “desequilíbrio na teia alimentar”,


“superpopulação” e “Evolução fracassada”, porém estas não serão citadas
neste trabalho. Seja qual for a sua causa, o que de fato conclui-se é que
este evento de extinção em massa marca o fim do Cretáceo e do Mesozóico.

49
A ERA CENOZÓICA
65 milhões de anos até o presente

O Cenozóico é a mais recente das três grandes subdivisões da história da


vida e abrange cerca de 65 milhões de anos, a partir do final do Cretáceo e
da extinção dos dinossauros até o presente. O Cenozóico é às vezes
chamada de Idade dos mamíferos, porque os maiores animais terrestres
passaram a ser os mamíferos durante esse tempo. Este é um termo
impróprio, por diversas razões. Em primeiro lugar, a história dos mamíferos
começou muito antes do início do Cenozóico. Em segundo lugar, a diversidade
da vida durante o Cenozóico é muito mais ampla, de forma que esta poderia
ser chamada de "Idade das Angiospermas" ou "Idade dos Insetos" ou a
"Idade dos peixes teleósteos".

O Cenozóico é dividido em dois principais períodos: Terciário e Quaternário.


A maior parte do Cenozóico é o terciário, de 65 milhões de anos atrás até
1,8 milhões de anos atrás. O Quaternário inclui somente os últimos 1,8
milhões de anos.

O termo Terciário e Quaternário tem uma história interessante. Em 1760 e


1770, um geólogo chamado Giovanni Arduino foi estudar as rochas e
minerais da Toscana. Ele classificou as montanhas de acordo com o tipo de
rochas que ele encontrou nelas. Xistos sem registros fósseis, granitos e
basaltos (todas as rochas vulcânicas) que formavam os núcleos de grandes
montanhas chamou primitivo. Rochas calcáreas e de argila ricas em fósseis
encontradas nos flancos das montanhas sobre as rochas primitivas foram
chamadas Secundárias. Finalmente, havia um outro grupo de rochas
fossilíferas de calcários e arenitos sobre as rochas Secundárias, formando
o sopé das montanhas, que Anduino chamou de Terciárias. No início, então,
terciário referia-se a um certo tipo de rocha encontrada na região da
Toscana. Mais tarde, porém, os geólogos utilizaram os fósseis encontrados
em rochas do Terciário para reconhecer as rochas da mesma idade em
outros lugares.

50
O PERÍODO TERCIÁRIO
65 a 1,8 milhões de anos

O nome atribuído ao Período “Terciário” é um nome informal utilizado para


denominar os Períodos oficiais denominados Paleogeno e Neogeno.

O período terciário foi a época em que surgiram as montanhas e durante o


qual a face do planeta assumiu sua forma atual. Os movimentos sísmicos
então registrados provocaram o surgimento das grandes cadeias de
montanhas que conhecemos hoje: os Andes, os Alpes, o Himalaia e a cadeia
de vulcões localizada na região ocidental da América do Norte. A fase final
da orogenia de Laramide nas Montanhas Rochosas também ocorreu nesse
período.

A evolução da vida vegetal registrada no terciário mudou a face da Terra.


As angiospermas, grupos de plantas com as sementes encerradas no
pericarpo superaram as gimnospermas, vegetais que se caracterizam pelos
óvulos e sementes a descoberto, dominantes na era mesozóica.
Aparentemente, as angiospermas surgiram na região que é hoje o Sudeste
Asiático e se espalharam rapidamente pelo mundo, atingindo o Ártico e a
Antártica, que então não eram cobertas por gelo. O mais importante
desenvolvimento biológico do terciário foi a evolução dos mamíferos, entre
os quais, os placentários e os marsupiais surgiram durante o cretáceo e se
disseminaram aceleradamente no início do terciário.

O movimento das massas continentais teve grande influência no


desenvolvimento dos marsupiais. A Austrália permaneceu isolada durante a
maior parte do terciário e a população de marsupiais evoluiu sem qualquer
competição, diversificando-se em várias formas e ultrapassando várias
etapas evolutivas. À América do Sul, chegaram não apenas os marsupiais,
mas também alguns grupos de mamíferos placentários. Se estes tiveram
maior desenvolvimento, aqueles também evoluíram.

Flora. A característica fundamental da era cenozóica foi a expansão da


flora de angiospermas, principalmente do tipo tropical, como mostram os
vários fósseis descobertos de folhas e frutos que pertencem a famílias
como a das palmeiras e das magnoliáceas. As coníferas experimentaram
redução em suas áreas de distribuição, embora no hemisfério norte se
tenham conservado extensas florestas dessas árvores. Também se
desenvolveram as plantas herbáceas superiores, que ocuparam áreas amplas

51
e deram origem às pradarias, freqüentadas por mamíferos ungulados. Na
Europa, o aumento da temperatura durante o eoceno fez com que ali se
disseminassem diversas espécies de famílias tropicais, como as palmeiras,
enquanto no norte subsistiam as formações de coníferas.

Fauna. Durante as três primeiras épocas do período terciário (paleoceno,


eoceno e oligoceno), a abundância de foraminíferos foi tamanha,
especialmente do gênero dos numulitídeos, que o eoceno também é
conhecido como "época numulítica". Por serem fósseis característicos de
uma determinada época geológica, esses animais são extremamente úteis
para a realização de perfis estratigráficos (estudos para determinar as
seqüências das rochas na crosta terrestre). No oligoceno, os numulitídeos
desapareceram. Suas carapaças foram depositadas no fundo dos oceanos e
formaram espessas camadas de sedimentos calcários. A fauna marinha
também era composta de crustáceos e moluscos, principalmente
gastrópodes (concha univalve em espiral) e bivalves (concha formada por
duas partes que se fecham uma sobre a outra como tampas).
No que se refere aos invertebrados terrestres, experimentaram notável
expansão os insetos, dos quais foram encontrados muitos restos
preservados em âmbar, material procedente da resina das coníferas
posteriormente endurecida e fossilizada.

Em princípio pequenos, os mamíferos, livres da pressão dos grandes répteis,


aumentaram de tamanho. Surgiram, assim, corpulentos proboscídeos
(animais dotados de tromba) como os mastodontes (com quatro presas). Os
artiodáctilos primitivos foram substituídos pelos ruminantes de chifres
ocos (antílope, boi) ou maciços (girafa, cervo), hipopótamos e suídeos
(porco). Os cavalos primitivos evoluíram na América do Norte, e, no Egito,
surgiu a primeira forma conhecida de macaco. Os mais antigos hominídeos
conhecidos até o fim do século XX e que viveram há cerca de seis milhões
de anos foram encontrados no noroeste da África

Figura 56: animais corpulentos proboscídeos (dotados de tromba).

52
Figura 57: animais corpulentos proboscídeos (dotados de tromba).

Figura 58: animais mastodontes (com quatro presas).

53
O PERÍODO QUATERNÁRIO
Últimos 1,8 milhões de anos (a partir de 2009, 2,588 MA)

O Quaternário é dividido em dois períodos: Pleistoceno e Holoceno. Em


2009, a União Internacional das Ciências Geológicas (IUGS) confirmou uma
mudança no tempo para o período Pleistoceno, mudando a data de 1,8 para
2,588 milhões de anos antes do presente.

Figura 59: O globo terrestre no Paleoceno

O pleistoceno foi o período quaternário que ocorreu entre 1,8 milhões a


11.000 anos atrás. Os continentes modernos apresentam, essencialmente, as
posições que tinham durante o Pleistoceno, com as placas nas quais eles se
assentam tendo provavelmente movido não mais que 100 km em relação ao
outro desde o início do período.

Enquanto a terra não mudou muito no Pleistoceno, o clima durante esta era
mudou significativamente. O Pleistoceno começou com camadas de gelo polar
muito maiores que as atuais, em alguns períodos abrangendo grandes áreas
da América do Norte, Europa e Ásia, o que é chamado comumente de Era do
Gelo.

A biologia pleistocênica era moderna, pois muitos gêneros e espécies de


coníferas pleistocênicas, musgos, plantas flores, insetos, moluscos,
pássaros, mamíferos e de outros seres vivos sobrevivem até hoje. Contudo o

54
pleistoceno foi caracterizado também pela presença de mamíferos e de
pássaros gigantes. Mamutes e seus primos os mastodontes, búfalos, tigres
dente de sabre e muitos outros mamíferos grandes viveram no pleistoceno.
No fim do pleistoceno, todas estas criaturas foram extintas.

Mamíferos gigantes do Pleistoceno

Figura 60: Megatherium- Preguiça gigante

Figura 61: Tigre dentre de Sabre

55
Figura 62: Mamute Figura 63: Mastodonte

Foi durante o pleistoceno que ocorreram os episódios mais recentes de


glaciações, ou de idades de gelo. Muitas áreas de zonas temperadas do
mundo foram alternadamente cobertas por geleiras durante períodos frios
e descoberta durante os períodos interglaciais mais quentes em que as
geleiras recuaram.

O fim do Pleistoceno corresponde ao recuo da última invasão glacial


continental. Também coincide com o final do Paleolítico, ou idade da pedra
lascada.

56
Homo erectus

Figura 64: Ilustrações do Homo erectus

O Homo erectus surgiu a aproximadamente 1,8 milhões de anos atrás, tendo


sido descobertos fósseis do mesmo desde a África (local onde se acredita
que apareceu primeiro) até a Indonésia na Oceania, Ásia e Europa. Com a
altura de um homem moderno e um cérebro do tamanho da metade do nosso
o Homo erectus era bem inteligente e dominava o uso de uma das mais
importantes ferramentas que o homem já teve: o fogo. Com tudo isso, já era
possível manter uma estrutura social complexa e viver agrupados em
comunidades.

O uso do fogo distinguiu o Homo erectus de todas as espécies que haviam


surgido antes, ossos carbonizados de animais foram encontrados em sítios
arqueológicos em muitos lugares. Essa espécie foi tão bem sucedida que só
foi extinta provavelmente pelo Homo sapiens ou o humano atual mais ou
menos 50 mil anos atrás. Os Homo erectus que migraram para a Europa
passaram por adaptações ao frio e acredita-se deram origem ao Homo
neanderthalensis, enquanto os Homo erectus que se mantiveram na África
tiveram que enfrentar muitas Eras Glaciais e tiveram que se adaptar a elas,
acredita-se que assim se deu a origem do Homo sapiens.

57
Homo sapiens neanderthalensis - Homem de Neanderthal

Figura 65: Ilustrações do Homem de Neanderthal

O Homo sapiens neanderthalensis, cujo nome lembra o local onde foi


encontrado, surgiu há aproximadamente 200 mil anos atrás. Originado
possivelmente dos Homo erectus que se adaptaram ao clima frio da Europa,
seu cérebro era de tamanho igual ao nosso, sua garganta era projetada para
a fala, possuíam uma linguagem própria, viviam em grupos familiares
formados de 8 a 25 pessoas no máximo, seu corpo era mais baixo, mais
forte e mais atarracado que o nosso (bem adaptado ao clima frio em que
viviam), eram inteligentes, enterravam seus mortos e sua população era algo
em torno 100 mil pessoas.

Tendo alimentação constituída por 85% de carne, os Homo neanderthalensis


tinham uma vida agitada e cheia de riscos. Sua caça se baseava no combate
corpo a corpo, com metade de suas crianças não chegando aos 12 anos e 4 a
cada 5 homens não chegando aos 40 anos.
58
Possuíam basicamente 6 tipos de ferramentas, raspadeiras ( para
confeccionar vestimentas ), machadinhas, facas ( que também eram usadas
como pontas de lanças ), lâminas (que eram mais afiadas que bisturis
cirúrgicos ) e lanças ( feitas com galhos ).

Há aproximadamente 35 mil anos o Homo sapiens chegou à Europa vindo da


Ásia. No início, havia uma coexistência pacífica e até benéfica para os
Homens Neandertais, que aprenderam com o Homo sapiens. Entretanto,
mais e mais Homo sapiens chegavam à Europa e isto começou a gerar
conflitos, dando início ao processo de extinção dos Homens Neandertais,
que há aproximadamente 27 mil anos entraram em extinção.

Homo sapiens sapiens

Figura 66: Ilustrações do Homo sapiens sapiens

O Homo sapiens (nossa espécie) surgiu há aproximadamente 150 mil anos


atrás, possivelmente na África, como resultado de adaptações de Homo
erectus ao meio em que eles viviam. Desde então o Homo sapiens vem
evoluindo e aumentando seu número, extinguindo todas as espécies que se
opõem a ele, se tornando o "animal" dominante do planeta.

59
A "Invasão Humana" tem início há 100 mil anos atrás. A cerca de 70 mil anos
atrás, o Homo sapiens chegou ao Oriente Médio, a 50 mil anos atrás, chegou
à Ásia, tendo início o processo de extinção do Homo erectus. Há 40 mil anos
atrás o Homo sapiens chegou à Europa e lá ficou conhecido como Homem de
Cro-Magnon. A cerca de 35 mil anos atrás, entrou em contato com o Homem
de Neandertal, tendo início uma série de conflitos, nos quais quase sempre o
Homo sapiens vence. Há 28 mil anos, a população de Homens Neandertais
diminui drasticamente e há 27 mil anos atrás os Homens Neandertais foram
extintos.

O Homo sapiens continuou sua dominação do planeta extinguindo diversas


espécies e populando o planeta. Há 20 mil anos atrás tem-se início uma nova
Era Glacial, que possibilitou a formação de uma ponte entre a Rússia e o
Alasca, possibilitando que, a 15 mil anos, o Homo sapiens chegasse à América
do Norte, e a 13 mil anos, à América do Sul.

Deve-se observar, entretanto, que a colonização das Américas não é


consenso entre pesquisadores. A área de maior concentração de sítios pré-
históricos do continente americano encontra-se no Parque Nacional Serra
da Capivara. Localizado no sudeste do estado do Piauí e considerado pela
UNESCO um Patrimônio Cultural da Humanidade, contém a maior quantidade
de pinturas primitivas sobre rocha do mundo. Estudos científicos confirmam
que a Serra da Capivara foi densamente povoada em períodos pré–históricos
e os artefatos encontrados apresentam o registro do homem há 50.000
anos.

Os Homo sapiens que ficaram no Oriente Médio, nessa época, começavam a


praticar a agricultura e posteriormente tem-se inicio as construções e os
grandes impérios, iniciando, assim, a história.

Glaciações no Terciário Superior e no Pleistoceno

http://zoo.bio.ufpr.br/diptera/bz023/aula_14_teorica.htm

A Terra tem sofrido oscilações periódicas de temperatura e clima, que


podem ser associadas à quantidade de radiação solar sobre a Terra. Estas
variações, em ciclos maiores de aproximadamente 300 milhões de anos,
também são influenciadas por outros fatores, como a órbita elíptica da
Terra em torno do Sol, inclinação do eixo de rotação da Terra e oscilação
desse eixo (Pough et al. 1993). As primeiras glaciações, ou as primeiras

60
"idades de gelo", ocorreram possivelmente há cerca de 250 milhões de anos
(Brown & Gibson 1983), quando a Gondwana esteve coberta por uma camada
de gelo espessa e relativamente ampla no final da era Paleozóica (entre o
Carbonífero-Permiano).

Durante a era Cenozóica, iniciou-se outra vez uma gradual redução da


temperatura e também um estabelecimento gradual de diferentes zonas
climáticas. O ápice desta diminuição de temperatura ocorreu no Pleistoceno,
nos últimos 2 milhões de anos, também chamada a "grande idade do gelo"
(Pielou 1992). Durante esse período, áreas extensas da América do Norte e
Eurásia foram periodicamente cobertas por grandes geleiras continentais.
Estas geleiras avançaram nos períodos glaciais e retraíram durante os
períodos interglaciais. Provavelmente, agora estamos em um período
interglacial. Obviamente, durante o período glacial, o nível do mar rebaixa-
se devido à grande quantidade de água convertida em gelo.
Conseqüentemente, pontes intercontinentais são formadas, como por
exemplo, a ponte de Bering, através do Mar de Bering unindo a Ásia com a
América do Norte.

Estes eventos ocorridos no Quaternário tiveram profundos efeitos na


distribuição de plantas e animais dentro dos continentes, causando a
diminuição ou mesmo extinção em muitos grupos, enquanto que outros se
moveram para novos habitats abertos.

Em um sentido geral, existem vários indícios mostrando que existiram


quatro períodos de muito frio no Hemisfério Norte no Pleistoceno, o
primeiro deles há 600.000 anos. Em todas estas épocas, as geleiras do
Ártico expandiram-se para as regiões de latitudes mais baixas da Eurásia e
América do Norte e, nas épocas mais quentes, as geleiras retraíram para o
Norte. A maioria dos autores discute apenas os episódios de glaciação no
Hemisfério Norte, porque cerca de 80% do gelo glacial global ocorreu
naquela região. Contudo, este é um fenômeno global e teve sua influência no
Hemisfério Sul.

Os nomes das glaciais na tabela a seguir mostram os nomes históricos, são


uma simplificação de um ciclo muito mais complexo de mudanças climáticas e
de terreno, e são geralmente mais usados. Estes nomes foram abandonados
em favor de dados numéricos, porque muitas das correlações foram
consideradas inexatas ou incorretas e mais de quatro grandes glaciais
foram reconhecidas desde que a terminologia histórica foi estabelecida.

61
Tabela 1: Nomes históricos das quatro maiores glaciações em quatro regiões do
planeta.

Region Glacial 1 Glacial 2 Glacial 3 Glacial 4


Alps Günz Mindel Riss Würm
North Europe Eburonian Elsterian Saalian Weichselian
British Isles Beestonian Anglian Wolstonian Devensian
Midwest U.S. Nebraskan Kansan Illinoian Wisconsinan

Os pesquisadores possuem dois tipos de evidências primárias para


reconstruir mapas de vegetação do Pleistoceno: a análise de pólen da flora
das regiões de interesse e a ocorrência, hoje em dia, de populações
disjuntas de espécies árticas. Algumas populações sobreviveram em climas
frios em altas elevações desde quando as camadas de gelo continentais
retraíram-se com os climas mais quentes.

As glaciações no Pleistoceno tiveram grandes efeitos nos níveis do mar. Na


época máxima de glaciação do Hemisfério Norte, quase 30% de toda a
superfície dos continentes estava coberta por uma camada de gelo e ocorria
gelo no mar em ambas as regiões polares. Como conseqüência desta grande
remoção de água livre no sistema global, houve uma queda acentuada do nível
do mar e de pluviosidade.

Os biogeógrafos e geólogos não chegam a uma conclusão sobre quanto o


nível do mar diminuiu no Pleistoceno. Alguns têm utilizado valores altos,
como por exemplo, 200 metros, porque isto seria suficiente para conectar
todas as maiores ilhas do sudeste da Ásia na linha de Wallace. Em
contraste, os geologistas quaternários têm encontrado valores que variam
de 80 a no máximo 110 metros, baseando seus cálculos no volume do gelo
estimado e nas várias estruturas geológicas submergidas, como terraços,
deltas e animais mamíferos terrestres fossilizados, localizados dentro dos
100 metros da superfície do mar. O abaixamento da superfície do mar em
100 metros permite a formação de pontes oceânicas entre grandes áreas,
como entre a Austrália, a Nova Guiné (Estreito Torres) e a Tasmânia
(Estreito Bass); entre a Sibéria e o Alasca (boa parte do Estreito de
Bering); e entre a Asia e muitas ilhas oceânicas (Brown & Gibson 1983).

62
Figura 67: Oscilações climáticas pleistocênicas e implicações no nível do mar.

Durante as glaciações ocorreu também uma extinção em massa de diversos


grupos, principalmente na América do Sul. Extinções em outros continentes
foram mais limitadas, talvez com exceção da Austrália. Aparentemente, na
África não ocorreram grandes extinções em massa nesse período.

Entretanto estas extinções não têm uma explicação universal. As extinções


foram súbitas ou graduais? Pequenos animais e plantas tornaram-se extintos
ao mesmo tempo? As extinções foram causadas por mudanças climáticas
e/ou geológicas ou foi a intensiva atuação de humanos primitivos que
resultou na extinção destes animais?

Uma das hipóteses aceitas atualmente, e discutida desde o século XVIII


(Price 1996), postula que populações de caçadores agressivos foram os
responsáveis pela extinção massiva de mamíferos herbívoros com mais de
50 quilos. Estes caçadores teriam entrado na América do Norte pela Ásia
atravessando o Estreito de Bering há cerca de 11.500 anos (Brown & Gibson
1983), colonizando a América e se espalhando para leste através da América
do Norte e para o sul, adentrando a América do Sul.

63
Estudos mais recentes (Guidon & Delibrias 1986, Bahn 1993, Guidon 1995,
Ab’ Saber 1995), no entanto, indicam que a ocupação da América do Sul por
humanos primitivos pode ter ocorrido a mais tempo do que postulado
anteriormente. Pesquisas arqueológicas em São Raimundo Nonato, Piauí,
indicam evidências de ocupação humana nessa região entre 44.000 e 48.000
anos atrás. Pressupondo-se que estas datações estejam corretas, a
ocupação de humanos na América do Sul teria ocorrido, no mínimo cerca de
40.000 anos antes, do que vem sendo aceito nas últimas duas décadas.

Os animais nativos não possuíam comportamentos defensivos adequados


contra estes novos predadores. Suprimentos abundantes de alimento
obtidos destes caçadores permitiam que as populações humanas se
mantivessem altas, mas havia necessidade constante de novas atividades de
procura por alimento.

As evidências que favorecem este cenário são de vários tipos:

1. As dos fósseis mostram que humanos pré-históricos e os grandes


mamíferos coexistiram nas Américas;

2. as extinções desta época não foram ao acaso e muitos dos maiores


animais - e não os menores - tornaram-se extintos durante o período de
12.000-10.000 anos AC;

3. Parece que as extinções dos grandes mamíferos começaram no norte e


prosseguiram rápida e sistematicamente para o sul. Finalmente, existe
correção de dados, através de simulações de computador, quando as datas
das últimas ocorrências das espécies são comparadas com a migração
humana para o sul (assumindo alta densidade da população) (Brown & Gibson
1983).

Como qualquer assunto controverso em biogeografia, existem muitas


explicações alternativas para a extinção dos mamíferos no Pleistoceno. Por
exemplo, este modelo de extinção pode ser falseado ou posto em dúvida,
pois diferentes tipos de animais e plantas tornaram-se extintos ao mesmo
tempo; ou por que as extinções já estavam em curso quando os caçadores
chegaram à região; que agressivos caçadores coexistiram com grandes
mamíferos durante longos períodos; que as populações de humanos nunca
tiveram grandes densidades; ou que extinções comparáveis em outros
continentes não foram impostas por caçadores (Brown & Gibson 1983).

64
Alguns autores colocam ainda que os caçadores foram instrumentos na
redução do tamanho das populações, mas a extinção já estava ocorrendo em
resposta a mudanças climáticas no final da época do gelo. Recentemente, o
paleontólogo Castor Cartelle Guerra (apud Ab’ Saber, 1995) descartou
qualquer possibilidade de que a extinção da megafauna tenha sido por obra
da ação dos humanos primitivos na América do Sul ou por ação mais
drástica, como por exemplo, a ação de meteoritos. O autor salientou que os
mamíferos brasileiros extintos por volta de 12.000-10.000 anos atrás, eram
especializados em alimentação herbívora e que as bruscas modificações
climáticas ocorridas entre 15.000 e 12.000 atrás, junto com a modificação
dos espaços ecológicos e das cadeias alimentares, foram os causadores do
desaparecimento seletivo da biota anteriormente existente na região (apud
Ab’ Saber 1995, Cartelle 1998).

Teoria de refúgios

Fonte: Ab'Sáber, A. O que é a Teoria dos Refúgios?


http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20080910135149AAha3XD. Acessado em
04/2011.

A teoria dos refúgios, como foi proposta para a América tropical por
Haffer (1969, 1974) e Vanzolini (1970, 1973; Vanzolini & Williams 1970),
enfatiza a multiplicação, extinção e migração de espécies animais em
pulsações, em resposta às mudanças climático-vegetacionais da Terra.

Originalmente, a teoria dos refúgios aplicada à biota das zonas tropical e


temperada foi admitida como referindo-se apenas ao Pleistoceno.
Entretanto, a teoria dos refúgios é aplicável à diferenciação biótica,
especialmente no domínio terrestre, também durante o Terciário e o
Mesozóico.

Trabalhando na Amazônia, Jürgen Haffer dedicou parte de seu tempo a


observações sobre os padrões de distribuição de pássaros em diferentes
quadrantes da região. E, através da publicação de seu estudo "Speciation in
Amazonian forest birds" (1969), detectou anomalias distributivas que
somente poderiam ser explicadas por mudanças climáticas, suficientemente
amplas para provocar retrações e re-expansões de florestas no espaço total
da Amazônia.

Ao mesmo tempo e convergentemente, Paulo Emílio Vanzolini atingiu depois


de anos de estudos sobre distribuição de lagartos na América Tropical a
conclusões que envolveram plenamente a idéia de refúgios, por ocasião de
climas secos, no entremeio dos espaços intertropicais. Nesse sentido, sua

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monografia "Zoologia sistemática, geografia e a origem das espécies" (1970)
também acolhe a teoria dos refúgios.

De acordo com a teoria, durante as glaciações, o clima da América do Sul se


tornava muito seco e as florestas iam se desaparecendo, até que se
restringissem a áreas isoladas de clima mais úmido. Desta forma,
populações vegetais e animais ficavam isoladas nos refúgios – locais onde as
condições ambientais eram mais propícias -, se diferenciando de maneira
diferente nos diferentes refúgios.

Durante fases climáticas mais propícias, o clima mais chuvoso possibilitava a


expansão dos refúgios até que as florestas se juntassem novamente,
permitindo a interação das espécies que haviam evoluído separadamente nos
refúgios.

Diversos ciclos de separação culminaram na especiação diferenciada de


muitos grupos animais e vegetais, possibilitando a variabilidade genética
presente na América tropical.

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