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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (UFRN)

CENTRO DE CIENCIAS EXATAS E DA TERRA (CCET)


DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA (DGEO)
GEO0320 - SEDIMENTOLOGIA

ROCHAS FERRUGINOSAS

DOCENTES: MARCELO GUSTAVO SILVA SILVA


MARIA ELOIZA DO NASCIMENTO
MARIANA IZABEL TOMAZ DE LIMA
MATHEUS DIAS OLIVEIRA

DISCENTE: FRANCISCO PINHEIRO LIMA FILHO


1. ROCHAS FERRUGINOSAS
São rochas químicas com teor de Fe acima de 15%, sendo este de origem primária
(deposicional ou digenética). O ferro se apresenta na forma de minerais como limonita,
goethita, magnetita, siderita, chamosita, greenalita, pirita e marcasita. As duas principais
categorias são as Formações Ferríferas Bandadas de idade Pré-cambriana e os
“Ironstones” do Fanerozóico. São de enorme importância comercial, pois a fonte maciça
do Ferro utilizado na indústria provém destas rochas, sobretudo dos BIFs (PROTHERO
& SCHWAB,1996).

1.1 Gênese
As rochas iniciais na Terra foram as rochas vulcânicas, que sofreram
intemperismo e tornaram-se sedimentares, passando pelo metamorfismo. Ao longo do
tempo, a queda de meteoritos trouxe gotículas de água, que foram formando lagos e em
seguida os oceanos. No proterozóico inferior, ocorriam chuvas ácidas, causadas pela
atmosfera anóxica e a concentração de CO2, que intemperizavam ainda mais ainda as
rochas, fazendo com que os minerais pesados das rochas metamórficas e ígneas fossem
levados para os oceanos, os tornando saturados de metais. Como não havia organismos
vivos nos oceanos, que pudessem usar a sílica, houve uma grande concentração da mesma
na água (PROTHERO & SCHWAB, 1996)
A grande oxigenação é um evento que ocorreu no Proterozóico inferior,
caracterizado biologicamente pelo predomínio de organismo procarióticos, ou seja,
retiram oxigênio da matéria inorgânica, óxido, principalmente de ferro, e permitiam uma
alta concentração desse elemento no oceano (RAPOSO, 1996). Esses organismos
surgiram, provavelmente, em zonas fóticas (parte de um ecossistema aquático que recebe
luz suficiente para realizar fotossíntese) das águas próximas à costa, onde a combinação
de intemperismo continental e ressurgência de correntes profundas contendo um
componente hidrotérmico fornece Fe+2 e nutrientes (BEKKER et.al, 2010). Com a
proliferação desses organismos ocorre uma inversão na composição química da
atmosfera, deixando de ser anóxia para se tornar rica em oxigênio, transformando o Fe+2
em Fe+3, que é insolúvel, então foi depositado. No proterozóico inferior e médio, os
organismos eucariontes começam a predominar, assim a produção anômala de formações
ferríferas teria cessado. (RAPOSO, 1996).
A fonte de ferro também pode ser associada às atividades vulcânicas, pois a lava
e as cinzas, geradas pelo evento geológico, sofrem intemperismo e alteração, associada à
atividade hidrotermal, que seriam as fumarolas vulcânicas, assim fornecendo uma
quantidade considerável de ferro. Essa fonte é considerada para algumas formações de
ferro do Arqueano. Pode ser considerado, também, o intemperismo contínuo, pois ao agir
em um clima tropical úmido causa a liberação do ferro dos minerais máficos e pesados
das rochas ígneas, produzindo água subterrânea carregada com ferro e por consequência
um solo laterítico, assim através da erosão do solo o ferro é transportado para o mar
através do rio (TURCKER, 2001).
O retrabalho do solo através de um aumento relativo do nível do mar também
tornará o ferro disponível, sendo explicado pela teoria da “Terra Bola de Neve”. Essa
teoria propõe que durante o Neoproterozóico, os continentes encontravam-se na região
dos trópicos, onde o clima é quente e úmido, assim intensificando o intemperismo das
rochas silicáticas e causando um maior consumo do CO2. Com a diminuição do gás na
atmosfera, o efeito estufa diminui, por consequência a temperatura também e as geleiras
polares avançavam em direção às regiões tropicais. Como o gelo reflete a luz solar com
mais eficiência do que a água, a absorção de calor reduz, assim possibilitando condições
de temperatura que congelariam a Terra, com isso a troca de gases entre a água do mar e
a atmosfera foi interrompida, assim deixando as águas mais profundas anóxicas,
permitindo a concentração dos elementos expelidos de fumarolas hidrotermais em suas
formas reduzidas, sendo o Fe+2 um deles. A Terra permaneceu assim durante milhões de
anos, o intemperismo foi reduzido, ou seja, o carbono expelido por vulcões acumula-se
mais rapidamente do que foi consumido pelas atividades intempéricas. A maior
concentração de CO2 na atmosfera auxilia no efeito estufa, permitindo a absorção solar
da radiação, compensando a radiação perdida, refletida pelo gelo, assim a temperatura
alcança a o ponto de fusão do gelo. Então, ao final da glaciação ocorre re-oxigenação da
água do mar, deixando a água mais oxidante e transformando Fe+2 acumulodo em Fe+3.
(VILELA, 2010).

1.2. Transporte
Para o transporte há três mecanismos considerados:
➢ Suspensão Coloidal: O hidróxido de ferro está presente nas águas superficiais
naturais, sendo altamente insolúvel, formando facilmente uma suspensão coloidal,
que na presença de matéria orgânica se estabiliza. O ferro pode ser transportado
dessa forma e precipitar no mar, através da floculação.
➢ Matéria Orgânica: Pode ser transportado através da absorção ou quelação em
matéria orgânica.
➢ Argilominerais: O ferro pode ser transportado como parte da estrutura da argila
ou pode ser liberado da argila e da matéria orgânica, depende do pH e do Eh da
água.
1.3. Fácies Mineralógicas

Silicato não Óxido magnetita Óxido Hematita


Sulfeto Carbonato Silicato Granular
Granular Bandada Bandada
Ardósia Rocha escura Rochas finamente
carbonática Rocha finamente finamente bandada acamadada ou
Rocha verde
piritica, escura bandada ou ou com bandas bandas
escuro maciça,
e finamente laminada Rocha verde irregulares. Rocha irregulares com
com bandamento
Litologia bandada ou consistindo em escuro e verde com camadas de camadas de
marcado por
laminada camadas claro laminadas magnetita, chert hematita
camadas de chert
(Raro alternadas de escuro, silicatos cristalina e chert
e magnetita.
encontrar carbonato e chert verdes ou silicatos cinza ou Jaspe
chert) +carbonatos avermelhado.
Silicatos de Silicatos de ferro
Principal
Carbonatos ricos ferro (Clorita, (Greenalita, Hematita
mineral de Pirita Magnetita
em ferro minnesotita e minnesotita, cristalina
ferro
Stilpnomelana) Stilpnomelana)
Minerais Carbonato Greenalita, Carbonato rico Greenalita,
Magnetita, Magnetita
Secundários de rico em ferro e minnesotita, em ferro e minnesotita,
hematita e (Carbonato)
Ferro greenalita Stilpnomelana, magnetita Stilpnomelana,
magnetita e carbonato rico carbonato rico em
hematita em ferro ferro, hematita e
pirita
Teor de Ferro
15-25 % 20-35% 20-30% 20-30% 25-30% 30-40%
metálico
Características Estrutura Altamente
Grafita Estilólitos Granulos Oolitica
distintivas. laminada magnética
Altamente Variável,
Ambiente de +- Redutor e +- +- Redutor e +- Altamente
redutor e Redutor tipicamente +-
Origem Oxidante Oxidante Oxidante
anaeróbico redutor.
2. FORMAÇÕES FERRÍFERA BANDADA VS IRONSTONE DO
FANEROZÓICO
Formações Ferríferas Bandadas (BIFs em inglês) são rochas sedimentares
químicas ricas em Fe e Si, com ambiente de precipitação marinho. Apresentando
bandamentos ou laminações de minerais ricos em Fe, chert (forma microcristalina de
SiO2) ou quartzo. Esses bandamentos podem ser classificados como macro, meso e micro,
variando de decimétrica a submilimétrica. (Ruchkys et al, 2015 apud Trendall &
Blockey,1970).
Pode ser divido em categorias baseadas nos tipos de rocha associadas,
características litológicas e condições do ambiente deposicional, as 2 principais são:
➢ Tipo Lago Superior: Caracterizado pela ampla distribuição durante o
Proterozóico, depositadas em um ambiente de plataforma continental “near-
shore”, estando associadas a dolomita, quartzito, folhelho preto carbonoso,
também com conglomerados e argilitos e menores quantidades de rochas
vulcânicas, tufa e derrames. As rochas possuem textura típica composta por
grânulos e oolitos, ambos por cherte e minerais de Fe, estando praticamente
ausente de material clástico. Suas camadas se estendem por centenas de km na
margem de bacia geosinclinal. E sua espessura varia de dezenas a centenas de
metros. (Gross, 1965).
➢ Tipo Algoma: está associado a rochas vulcânicas (pillow lavas, derrames, tufos,
piroclásticas) e grauvacas, sendo ambiente marinho e formados próximos a zonas
de vulcanismo e processos hidrotermais associados a este. Formado por
bandamentos finos a laminações com intercalações de jasper ou chert ferruginoso,
hematita e magnetita. Textura oolitica ou granulares não ocorrem, com exceção
nas fanerozóicas (Gross,1965). Geralmente sua espessura varia em dezenas de
metros e algunas dezenas de km em extensão. (Bekker et al, 2010).
➢ Tipo Rapitan: Segundo Misra (2000), o tipo Rapitán possui idade do Paleozóico
Inferior, associado a clastos grossos, incluindo alguns de origem glaciogênica, e
foram depositados em bacias tipo rifte de margem continental. De acordo com
Klein (1993), os minerais associados são principalmente hematita-quartzo com
traços de magnetita e contém intercalações de conglomerado, arenito e folhelho,
além disso possui espessura entre 100-120 m.
A deposição dos “Ironstones” Fanerozóicos foram restritos ao Ordoviciano-
Devoniano e Jurássico-Paleógeno, com picos durante o Devoniano e Jurássico.
Geralmente, possuem 2 m de espessura e se estendem por mais de 1000 km. Sua
característica principal é a presença de oólitos compostos de Fe e Oxihidroxidos (goethite
and limonita), silicatos de Fe (chamosita e berthierite) e menor quantidades de SiO2
amorfa.(Bekker et al, 2010)
Os teores de ferro teriam sido elevados durante a lateritização de rochas pré-
existentes em um clima mais úmido e quente, que por adsorção irá formar oólitos e
pisólitos. Essa lateria seria erodida e transportada em períodos de transgressão e regressão
marinha para ambientes marinhos rasos onde seria retrabalhada e diageneisada para
formar estas rochas.

3. TIPOS DE ROCHAS FERRUGINOSAS


Segundo Kimberley (1989) não é possível classificar devidamente as rochas
ferruginosas, pois, existem inúmeras definições e algumas destas entram em conflito com
definições mais aceitas no meio acadêmico. As principais formas de classificação são
pela idade e textura.
As rochas existentes são divididas em ”Iron-Formation” comumente laminadas
com cherte , com exceções, de idade pré-cambriana e “Ironstones” que não possuem
laminações de chert e ocorrem do final do neo-proterozóico até o fanerozóico. Em
diversos locais do mundo essas rochas adquirem nomes regionais para suas
identificações, como: Itabirito (Brasil), Hematita quartzito bandado (India), Taconito
(USA) e Quartzito bandado (Escandinávia). As rochas ferruginosas podem ser, também,
Folhelhos preto e calcários carbonosos.

3.1. Idade
Como as ocorrências primordiais das formações ferríferas ocorreram antes do
grande evento de oxigenação da atmosfera podem ser divididas em quatro períodos
principais de formação: meso-arqueano, neo-arqueano, paleo-proterozóico e neo-
proterozóico ao fanerozóico.

3.2. Textura
Para diferenciação textural existem duas divisões principais de acordo com
GROSS (1980) e BEKKER et al (2010):
Banded Iron Formation” (BIF) Formações de Ferro Bandadas, são rochas
caracterizadas por finos acamamentos laminares de escala milimétrica e centimétrica de
grande espessura e extensão, provenientes de lamas ricas em ferro depositadas em bacias
oceânicas. Estes sedimentos se alternam em camadas de precipitações químicas por
floculação de coloides de finas partículas de sílica e oxido de ferro em lamas.
“Granular Iron Formation” (GIF) Formações de Ferro Granular, são rochas
clásticas de preservação predominante em bacias paleo-proterozóicas oriundos do
retrabalhamento de rochas peliticas ricas em ferro, indicando erosão e deposição de
sedimento intrabacia. Estes sedimentos apresentam influencia de fluxos trativo e
oscilatório com estratificações cruzadas e estratificação cruzada hummocky em
abundancia indicando que os depósitos de plataforma oceânica foram atingidos por
tempestades, com extensões mais limitadas que os BIF’s.
“Ironstones” Rocha Ferruginosa Fanerozóica de ambiente redutor de plataforma
oceânica rasa com textura oolitica predominante e sem a existência de acamamentos,
diversos modelos deposicionais foram cogitados, mas não existe consenso sobre a
principal origem desses tipos de rocha.

4. TIPOS DE DEPÓSITOS
Segundo Schobbenhaus & Silva Coelho (1986), os depósitos ferruginosos são
divididos em quatro tipos: os sedimentares acamadados, os relacionados a atividades
ígneas, os formados por soluções hidrotermais e os resultantes de alteração e acumulo em
superfície.

4.1. Depósitos sedimentares acamadados


Segundo Schobbenhaus & Silva Coelho (1986), principais depósitos desse tipo
são as formações ferríferas bandadas (Banded Iron Formation – BIF). Ocorrem
principalmente nas rochas pré – cambrianas, e são as maiores reservas mundiais de ferro.
Rocha laminada, composta de camadas alternadas de sílica e hematita – magnetita, além
de carbonatos e silicatos de ferro. O teor de ferro pode variar de 20% a 35%, chegando
até a 55%.

4.2. Itabiritos do Arqueano


Formaram-se numa época característica por processos de cratonização
progressiva predominantemente relacionada a atividades vulcânicas submarinas. As
atividades vulcânicas e os processos de solução posteriores geraram uma concentração de
diversos metais, como ouro, níquel, manganês e ferro. As condições estáveis da crosta no
Proterozóico Inferior formaram grandes bacias marginais rasas, que absorveram
sedimentos clásticos em longos lapsos. Soluções de ferro mobilizadas de diversas fontes
alcançaram o mar e posteriormente se precipitaram na plataforma continental em fáceis
diferentes: fáceis carbonática, fáceis oxido ou fáceis silicática, e raramente em forma de
sulfetos. Essas variações dependeram da profundidade da bacia sedimentar. Na maioria
dos depósitos foram enriquecidos posteriormente.

4.3 depósitos do Proterozóico Superior


Podem ser formados de diferentes maneiras. Concentra – se em dois modelos
genéticos: tipo Algoma (contribuições vulcânicas) ou formação sob condições glaciais.
As formações ferríferas ao leste da Rússia são associadas com rochas vulcânicas,
enquanto que os depósitos do Grupo Rapitan (NW do Canadá) e Urucum relacionam – se
com sedimentação glacial.

5. EXEMPLOS NO BRASIL E NO MUNDO

5.1 No Brasil

5.1.1 Grupo Jacadigo – Mato Grosso do Sul

Segundo Vilela et al. (2010), o grupo Jacadigo inclui a Formação Urucum, na


base, e a Formação Santa Cruz, no topo, com os minerais de ferro contido nessa última.
A Formação Urucum é composta por conglomerados, siltitos e arenitos. A Formação
Santa Cruz é subdividida em inferior, com um horizonte manganesífero e arenito
ferruginoso contento clastos pingados, e superior, com quatro horizontes manganesíferos
recobertos por uma camada homogênea de formação ferrífera bandada hematítica.
Mineralogicamente, as amostras de FFB são compostas principalmente por hematita e
jaspe criptocristalino, com carbonato subordinado. O reflexo dessa mineralogia simples
é a composição dos elementos maiores, basicamente SiO2 (20 a 40%) e Fe2O3 (28 a
70%).
Segundo Klein & Ladeira (2004), a sucessão rica em ferro é resultado de uma
sedimentação de origem glácio-marinha, devido à presença de clastos pingados, e fonte
hidrotermal de oceano profundo, mas muito mais diluída que nos períodos mais antigos.
5.1.2 Depósitos de ferro da Serra do Carajás – Pará

Segundo Silva et al. (2014), os depósitos de ferro com alto teor (> 65% Fe) são
hospedados por uma sequência de formações ferríferas bandadas, denominadas de
jaspilitos, de 100 a 400 m de espessura, cortadas por diques e sills de rochas máficas. Os
jaspilitos (Formação Carajás, Grupo Grão Pará, Supergrupo Itacaiúnas) ocorrem
intercalados entre unidades metavulcânicas máficas, inferior e superior, do Grupo Grão
Pará. Na Serra do Norte, os jaspilitos são rochas finamente laminadas, com estrutura
plano-paralela, constituídas por bandas alternadas de quartzo microcristalino e de jaspe
vermelho com hematita esferulítica, maghemita, martita e, subordinadamente, magnetita.
Apresentam estruturas deposicionais preservadas, tais como estruturas de escavação e
preenchimento e esferulitos/grânulos de provável origem orgânica. A composição
isotrópica do ferro dos jaspilitos indicam formação em ambiente marinho a partir de águas
de ressurgência. O trend de enriquecimento relativo em ETRL e anomalia positiva de Eu
são indicativos de associação com fumarolas hidrotermais e soluções de fundo oceânico.
Os valores altamente positivos de 57Fe poderiam ser explicados por oxidação parcial do
Fe2+ aq na superfície do oceano, subsequente à ressurgência hidrotermal de águas
marinhas anóxicas e profundas. Isso teria resultado na formação de hidróxidos de Ferro e
sua conversão para hematita na zona fótica, mais rasa e oxidada, em um processo sazonal.

5.1.3 As formações ferríferas do Quadrilátero Ferrífero – Minas Gerais

Segundo Raposo (1996), as formações ferríferas no Quadrilátero Ferrífero se


distribuem desde o Arqueano até o Proterozóico Superior. As de maior importância
econômica são as do Grupo Nova Lima do Supergrupo Rio das Velhas, Arqueano
Superior e as da Formação Cauê do Grupo Itabira, Supergrupo Minas do Proterozóico
Inferior. As primeiras, pelas jazidas de ouro e as últimas, pelas jazidas de ferro. No Grupo
Nova Lima, predominam as formações ferríferas fácies óxido (subfácies magnetita) e
silicato com ocorrência subordinada das fácies carbonato e sulfeto. Entretanto, muitas
rochas com sulfeto foram geradas por deposição de sílica e sulfeto em ambiente de rochas
vulcânicas intermediárias a ácidas e posteriormente enriquecidos por soluções
hidrotermais em zonas de cisalhamento.
Raposo (1996) descreve atualmente as formações ferríferas do grupo Itabira como
itabiritos e hematita compacta. Alguns pequenos núcleos da magnetita foram preservados
no interior das hematitas, sugerindo que a maior parte dessas rochas era originalmente
formações ferríferas fácies óxido, subfácies magnetita, posteriormente oxidadas por
soluções hidrotermais durante os processos de deformação. Os minerais mais comuns nas
formações ferríferas arqueanas, além do quartzo, são a siderita, a ankerita, a dolomita
ferroana, a magnetita, a martita e, localmente, a clorita. A dolomita ferrosa e ankerita
podem ocorrer na base da Formação Cauê, associadas a níveis de cherte carbonático e
filito dolomítico. Os itabiritos apresentam dois padrões de assinaturas de elementos terras
raras distintos dos padrões mais comuns nas formações ferríferas arqueanas e mais
característicos de águas oceânicas com mais de 100 metros de profundidade.

5.2 No Mundo
5.2.1 Grupo Rapitan – Canadá

Segundo Vilela et al. (2010), o Grupo Rapitan é dividido em três subgrupos: o


Rapitan Inferior, Médio e Superior. Subgrupo Rapitan Inferior composto
predominantemente por argilito laminado de coloração roxa com intercalações de siltito
e arenito (localmente carbonático), e camadas de espessura variada de conglomerado
polimítico. No topo o argilito encontra-se em contato gradacional com formação ferrífera
composta por hematita e jaspe laminados. O Subgrupo Rapitan Médio é composto
principalmente por mixtito, roxo nos primeiros metros da base, passando para cinza para
o topo. A presença de clastos estriados indica transporte por geleira. O Subgrupo Rapitan
Superior, caracterizado por folhelhos escuros com siltitos intercalados e rocha
carbonática subordinada.

Segundo Young (1976) interpretou a deposição do grupo, sendo o Rapitan Inferior


tendo sedimentação distal de aguas calmas e a presença de icebergs, os clastos pingados
como indicadores dessa presença. O Subgrupo Rapitan Médio seria produto de um grande
fluxo de sedimentos carreados no degelo e o Subgrupo Rapitan Superior representaria
depósitos da transgressão pós-glacial.

A subdivisão estratigráfica proposta por Yeo (1981, 1984 apud Klein e Beukes
1993 apud Vilela et al 2010) para o Grupo Rapitan, da base para o topo: Formação Monte
Berg, composta essencialmente por mixtito; Formação Sayunei, formada por ritmito
siltoso com formação ferrífera no topo; e Formação Shezal, outra unidade de mixtito. A
formação ferrífera na Formação Sayunei está interdigitada lateralmente com rochas
siliciclásticas, com contatos bruscos, sugerindo deposição em condições diferentes para
a formação ferrífera e as rochas siliciclásticas. Segundo Vilela et al. (2010), a formação
ferrífera ocorre em principalmente na forma de formação ferrífera nodular (FFN), tendo
hematita fina com nódulos de jaspe dispersos. Menos freqüentemente pode ocorrer
formação ferrífera bandada nodular (FFBN) e formação ferrífera bandada (FFB). A
primeira variedade ocorre quando há alternância de bandas ricas em nódulos de jaspe com
bandas pobres, enquanto a segunda ocorre quando os nódulos de jaspe se juntam e
formam bandas de jaspe. Repetições cíclicas são observadas com gradação de FFN para
FFBN, a qual, por sua vez, grada para FFB.

5.2.2 Grupo Umberatana – Austrália

Segundo Lottermoser & Ashley (2000), o Grupo Umberatana é caracterizada por


diamictitos, siltitos laminados e quartzitos, intercalados por unidades ferruginosas e
dolomíticas.
Segundo Vilela et al. (2010), uma dessas unidades ferruginosas denominada
unidade ferruginosa de Braemar. Essa unidade é composta por diamictito com matriz
ferruginosa e rocha ferrífera laminada, sendo similares na presença de clastos. Pode
conter até seis lentes de rochas com ferro, que gradam para diamictito e siltito
encaixantes, com diminuição progressiva na quantidade de minerais de ferro, com
intercalações de dolomito e quartzito. Mineralogicamente, a matriz do diamictito e a
rocha ferrífera laminada têm granulação fina (<0,05 mm) e são essencialmente compostas
por magnetita, hematita e quartzo, com menor quantidade de muscovita, clorita, biotita,
carbonato, apatita, plagioclásio e turmalina.
Lottermoser & Ashley (2000) interpretam que as formações ferríferas da unidade
Braemar depositaram-se em períodos de transgressão, devido ao degelo em ambiente
glácio-marinho costeiro.

5.5.3 Bacia do Rio Tinto - Espanha

Segundo Amils & Fernández-Remolar (2014), a biomassa da bacia do Rio Tinto


está localizada nas rochas da superfície do leito do rio. Ocorrem precipitações minerais
de ferro significativas na superfície carregada negativamente dessas biomassas, gerando
precipitados de ferro, que crescem após os ciclos hidrológicos e se consolidam como
depósitos ricos em ferro elevados acima do rio atual na forma de terraços fluviais. A
evaporação sazonal da água do rio leva à precipitação de jarosita hydronium e
schwertmannita. Durante a estação chuvosa, a hidrólise dos sais de sulfato é adicionada
ao efeito da hidrólise do ferro, facilitando a precipitação de oxihidróxidos de ferro amorfo.
Os terraços mais antigos apresentam aumento da cristalinidade da goethita e sua
substituição pela hematita ao longo do tempo. A matéria orgânica não se preserva bem
nos sedimentos de Rio Tinto.

5.5.4 Greenstone Belt Isua – Groenlândia

Aoki et al. (2018) classificou petrograficamente as formações ferríferas bandadas


(FFBs) do Greenstone Belt Isua em quatro tipos: verde, branco, cinza e preto. FFBs do
tipo verde contem mais anfibólios e são enriquecidas em Co, Ni, Cu, Zn, Y, elementos
terras raras pesadas (ETRPs) e U. FFBs do tipo branco são predominantes no quartzo, e
têm menor conteúdo de transição e elementos terras raras (ETRs). Os FFBs do tipo cinza
contêm tanto quartzo quanto magnetita. Os FFBs do tipo preto são dominados por
magnetita e contêm elementos de transição de moderado a alto e conteúdo de elementos
terras raras (ETRs). Porém, correlações positivas dos teores de V, Ni, Zn e U com o
conteúdo de Zr sugerem que o envolvimento de materiais detríticos, vulcânicos e
exalativos influencia seu conteúdo. A evidência da influência significativa dos materiais
no conteúdo do elemento de transição, como o Ni nos FFBs, indica que os elementos
elementares da transição no oceano arqueano eram muito mais baixos do que o estimado
anteriormente. Foram reconstruídas as variações seculares do conteúdo de V, Co, Zn e U
de FFBs ao longo do tempo, que mostram que os teores de Ni e Co diminuíram enquanto
os teores de V, Zn e U aumentaram ao longo do tempo. As mudanças estratigráficas
indicam que uma razão entre o fluido hidrotermal e o componente da água do mar
gradativamente diminui através da deposição e sustenta as placas tectônicas de
Eoarqueano análogas às suas variações estratigráficas de sedimentos metálicos
atualmente e no Mesoarqueano.
6. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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