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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA

CENTRO DE CIÊNCIAS AGROVETERINÁRIAS


DEPARTAMENTO DE SOLOS

CIÊNCIA DO SOLO

JAIME ANTÔNIO DE ALMEIDA

JACKSON ADRIANO ALBUQUERQUE

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1. ROCHAS DA LITOSFERA

 MAGMÁTICAS
 METAMÓRFICAS
 SEDIMENTARES
 MAGMÁTICAS

Origem: consolidação (solidificação) do magma (~lava)

Intrusivas - magma consolida no interior da crosta


Extrusivas - magma consolida sôbre a superfície da crosta
Hipabissal - magma consolida próximo à superfície (fendas)

Intrusivas
Magma no interior da crosta, confinado ---> resfriamento lento ---> formação de cristais
grandes ---> textura fanerítica (macrocristais)

Exemplos: Granito (ácida) Gabro (básica)

Extrusivas
Magma sobre a superfície ---> resfriamento rápido ---> formação de cristais pequenos --
-> textura afanítica (microocristalina)

Exemplos: Basalto (básica) Riolito (ácida)

METAMÓRFICAS
Metamorfismo de rochas pré-existentes

Agentes: pressão e temperaturas elevadas


 
- litostática - dissolução seletiva de minerais
- unidirecional - disposição preferencial dos
minerais
Características:
Rochas originais alteram constituição e morfologia

Exemplos:

1 - Argilominerais transformam-se em micas


Argilito (sedimentar)---> Micaxisto (metamórfica)
(Neogênese de minerais por temperatura elevada)

2 - Transformação de granito em gnaisse


(Alguns minerais do granito transformam-se em biotita, que concentra-se em faixas de xistosidade, exemplo da
biotita-gnaisse)

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3 - Outros
Mármore- metamorfismo de calcários
Gnaisses e migmatitos - metamorfismo de granitos, com minerais em faixas no 1 e em bandas no 2.
Xistos- metamorfismo de granitos ou rochas sedimentares
Quartzito - metamorfismo de arenitos

SEDIMENTARES
Originadas por processos de sedimentação

Sedimentos químicos
orgânicos
clásticos (fragmentos)

Clásticas
Fragmentos de rochas pré-existentes, unidos por um cimento ---> diferentes tamanhos

Argilito - Siltito - folhelho - arenito - conglomerados

Origem: Erosão ---> transporte ---> deposição --->


 ---> consolidação

vento, água

Características comuns:
Rochas estratificadas em camadas: plano-paralela,
cruzada

Químicas e Orgânicas
Calcários, Apatita Carvão

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2. A LITOSFERA

Denomina-se litosfera a parte externa consolidada do Planeta Terra, também denominada de


Crosta Terrestre. Nas regiões continentais é formada basicamente por duas zonas, uma superior,
denominada SIAL, onde predominam rochas ricas em silício e alumínio, como o granito, e uma
inferior denominada SIMA, onde predominam rochas ricas em silicatos de magnésio e ferro, como o
basalto. Na figura 01, é mostrada uma representação esquemática das principais camadas que compõe o
Globo Terrestre:

Figura 01: Características e constituição do Globo Terrestre.

A espessura da litosfera (SIAL + SIMA) varia, nos continentes, de 35 a 50 km. Vários indícios
levam a crer que grande parte do substrato dos oceanos seja constituído basicamente pelo SIMA, ou
seja, por rochas de constituição semelhante à do basalto. Abaixo da litosfera ocorrem outras camadas
mais espessas, como o manto e o núcleo, cujos constituintes são mantidos a temperaturas muito
elevadas e onde predominam elementos mais pesados. Há um aumento da temperatura e da densidade
da crosta em direção ao núcleo, cuja constituição pressuposta é de níquel e ferro (NIFE).
No manto superior, entre as profundidades de 50 a 250 km, situa-se uma região muito quente,
em que as rochas se encontram próximo ao estado de fusão. Esta zona constitui a fonte dos magmas
(rochas fundidas móveis), que penetram na crosta terrestre através de intrusões ou fendas, ou
derramam-se sobre a superfície através dos fenômenos de vulcanismo.
A composição química estimada para a parte superior da litosfera, abrangendo cerca de 10 a 15
km superficiais da crosta terrestre, consta do quadro 01. Estes dados, é óbvio, representam valores
médios dos elementos presentes nos diversos grupos de rochas.

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QUADRO 01. Composição média estimada dos elementos da parte superior da Litosfera
.
ELEMENTO ABUNDÂNCIA
ppm %
O 465000 45,60
Si 273000 27,30
Al 83600 8,36
Fe 62200 6,22
Ca 46600 4,66
Mg 27640 2,76
Na 22700 2,27
K 18400 1,84
99,01%
Ti 6330 0,63
H 1520 0,15
P 1120 0,11
Mn 1060 0,10
100 %
F, Ba, Sr, S, 100 - 550
C, Zr, V, Cl, Cr

ELEMENTO ABUNDÂNCIA
ppm %
Ni, Rh, Zn, Nd, La, Y, Co, Cu
Sc, Nb, N, Ga, Li, Pb 10 – 100
Pr, B, Th, Sm, Gd, Hf, Br, U, Mo,
Sn, Be, As, Ho 1 – 10
Hg, An 0,1

FONTE: Fortescue, 1980.


Os elementos assinalados em negrito são considerados essenciais as plantas.

Observa-se que 08 elementos (O, Si, Al, Fe, Ca, Mg, Na, K) constituem aproximadamente 99%
da litosfera, sendo, portanto os constituintes mais comuns nos minerais formadores das rochas. Outro
dado importante é de que de todos os elementos considerados essenciais às plantas (C, H, O, N, P, K,
Mg, S - Macronutrientes, e o B, Cl, Cu, Fe, Mn, Mo, Zn - Micronutrientes, mais o Co que é essencial
na simbiose Rhizobium-leguminosas), a maioria deles provém da intemperização das rochas. Apenas o
C, H, e o O são incorporados às plantas através do CO 2 e da água, e o N que é incorporado ao solo
principalmente através da fixação biológica.

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É evidente que a concentração e distribuição dos elementos nas rochas varia enormemente
conforme o tipo de rocha considerada. Assim, uma rocha calcária conterá um alto conteúdo de cálcio e
magnésio. Um arenito conterá alto conteúdo de silício e muito baixa proporção dos demais elementos.
A crosta terrestre é constituída de diferentes tipos de rochas, as quais, segundo sua origem,
diferenciam-se em três grupos fundamentais: as rochas magmáticas, as metamórficas e as
sedimentares.
As rochas de origem magmática e metamórfica constituem cerca de 95% do volume total da
crosta, porém ocupam apenas 25% da sua superfície, enquanto que as sedimentares ocupam em volume
apenas 5%, porém cobrem aproximadamente 75% da superfície da Terra.

A. ROCHAS MAGMÁTICAS OU ÍGNEAS

Originam-se da consolidação ou solidificação do magma e por isso são consideradas de origem


primária. Delas derivam-se por vários processos as rochas sedimentares e as metamórficas.
Na medida em que o magma vai se resfriando, alguns elementos se unem para formar cristais.
Os primeiros minerais que sofrem cristalização são a OLIVINA e a ANORTITA, por exemplo, e
conforme a temperatura vai baixando outros minerais vão sendo cristalizados. Estes minerais
inicialmente ficam nadando na massa viscosa do magma até que a temperatura fique suficientemente
baixa para que todos os minerais se formem. Um dos últimos minerais a cristalizar é o quartzo, que
normalmente preenche os interstícios (espaços) existentes entre os demais minerais já cristalizados.
Quanto maior for o tempo de resfriamento do magma, maior é a possibilidade de se formarem cristais
grandes. Quando o resfriamento é rápido, não há tempo suficiente para ocorrer a polimerização (união)
de vários elementos, e por isso formam-se cristais muito pequenos.
Quando o magma não extravasa à superfície, consolidando-se no interior da crosta, a alguns
quilômetros de profundidade, forma as rochas magmáticas INTRUSIVAS, PLUTÔNICAS ou
ABISSAIS, cujos exemplos mais comuns são o granito (ácida) e o gabro (básica); neste caso o
resfriamento do magma ocorrerá lentamente, havendo tempo para o desenvolvimento de cristais
maiores e bem definidos, formando uma textura fanerítica, (ou macrocristalina) geralmente
equigranular. O melhor exemplo de rochas formado por este processo é o granito, no qual podem ser
observados a olho nú os cristais grandes de quartzo, feldspato, mica (claros) e anfibólio (escuro).
Em outras circunstâncias o magma pode extravasar à superfície, através de fendas ou pela
cratera de vulcões, formando as rochas magmáticas EXTRUSIVAS, VULCÂNICAS ou EFUSIVAS,
cujos exemplos mais comuns são o riolito (ácida) e o basalto (básica); neste caso, como o magma,
inicialmente mantido a altas pressões e temperaturas entra em contato brusco com um ambiente de
temperaturas bem mais baixas (a atmosfera), o resfriamento do magma ocorrerá rapidamente, não
havendo tempo para formação de cristais bem definidos, formando-se uma textura afanítica ou
microcristalina, onde os cristais não são macroscopicamente visíveis. Quando o resfriamento é muito
rápido, os cristais são tão pequenos que se forma uma textura vítrea. Por vezes, pode-se observar
alguns cristais esparsos numa massa afanítica, que representam o início da cristalização de alguns
minerais que não se desenvolveram totalmente pela rápida consolidação do magma. No interior de
câmaras magmáticas mais superficiais, pode ocorrer a formação de cristais grandes, bem definidos,
denominados fenocristais, e neste caso quando o magma extravasa à superfície solidifica-se
rapidamente, ficando os fenocristais bastante realçados na massa vítrea. Denomina-se porfirítica a
textura resultante deste processo (exemplo: riolito pórfiro).

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Um grupo intermediário entre as rochas extrusivas e intrusivas é representado pelas rochas
magmáticas HIPAABISSAIS. Neste caso o magma solidifica-se próximo a superfície, mas sem
extravasar sobre a mesma. A cristalização neste caso é igualmente rápida, e formam-se geralmente
rochas com textura microcristalina, tais como o diabásio. Estas rochas normalmente ocorrem como
“intrusões” ou “veios” no interior das outras rochas já solidificadas. Quando essas intrusões ocorrem de
forma perpendicular à superfície recebe a denominação de diques e quando são paralelas à mesma são
chamadas de sills. Nas imediações de Camboriú e no interior da Ilha de Santa Catarina são muito
comuns os diques de diabásio(rocha escura) no interior de fendas no granito ou no gnaisse (rochas
claras).

B. COMPOSIÇÃO MINERALÓGICA DAS ROCHAS MAGMÁTICAS


Apesar da grande diversidade de minerais que compõem as rochas, são poucos aqueles que
realmente tomam parte essencial das mesmas. São chamados de minerais essenciais aqueles que
ocorrem em maior proporção nas rochas, e de minerais acessórios aqueles que ocorrem em pequena
quantidade. Os principais minerais essenciais das rochas são os feldspatos, quartzo, piroxênios,
anfibólios, olivinas e as micas, sendo que a proporção em que ocorrem nas rochas, permite, auxiliado
por um conjunto de outras características, classificá-las. Os termos leucocrático, melanocrático e
mesocrático são utilizados para designar a proporção entre os diversos grupos de minerais presentes na
rocha.
Denomina-se leucocrática um rocha na qual predominam minerais de coloração clara, como os
feldspatos, quartzo e muscovita (gr. leukos = branco); tem-se como exemplo o granito e riolito. Chama-
se melanocrática (gr. melanos = preto) quando predominam minerais escuros (mais de 60%) como os
anfibólios, piroxênios e biotita; têm-se como exemplo o basalto, o diabásio e gabro. O termo
mesocrático é utilizado para designar rochas intermediárias entre as duas anteriores, com cerca de 30 a
60% de minerais escuros.

COMPOSIÇÃO QUÍMICA DAS ROCHAS MAGMÁTICAS


A composição química das rochas é dada pela proporção entre os diversos elementos que
compõe as mesmas, geralmente expressos na forma de óxidos (SiO2, Al2O3, CaO, MgO, etc). Uma
classificação comum das rochas magmáticas é baseada nos teores de SiO2.
Diz-se que uma rocha é ÁCIDA quando os teores de SiO2 são superiores a 65%,
INTERMEDIÁRIA quando entre 52 e 65%, BÁSICA quando entre 45 e 52% e ULTRABÁSICA
quando os teores são inferiores a 45%. Estes termos nada tem a ver com a concentração de íons H.
Porém são de uso clássico em Petrologia (ciência que estuda as rochas).
Os termos ácidas, básica, etc., embora não indiquem características de acidez ou alcalinidade
das rochas, são normalmente um indicativo da sua riqueza química em minerais essenciais que
contenham elementos básicos, como Ca, Mg, Na, K e Fe. Quanto maior for o conteúdo destes, maior é
a possibilidade de se formarem solos quimicamente férteis, com pH alto.
O raciocínio para este entendimento é o seguinte: quanto maior for a proporção de sílica,
expressa como SiO2, menor será a proporção dos demais óxidos, tais como FeO, MgO, CaO, K2O, etc.;
portanto, quanto mais sílica, mais ácida será a rocha, sua coloração será mais clara, devido a menor
quantidade de minerais ricos em ferro, e também menor será sua riqueza em minerais que contêm Ca e
Mg. Tais rochas, que podem ser exemplificadas pelo granito e pelo riolito, darão origem quase que
invariavelmente a solos pobres. Já as rochas pobres em Si0 2, como o basalto, o diabásio, o gabro, tem

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mais Fe e por isso são mais escuras, sendo igualmente mais ricas em minerais que contêm Ca e Mg.
Neste caso podem dar origem a solos muito férteis.
Com base na mineralogia e na composição química, expõe-se, de maneira sucinta, os principais
tipos de rochas magmáticas e suas características no quadro 2.

C. QUADRO 2. Principais tipos de rochas magmáticas

ÁCIDAS INTERMED. BÁSICAS ULTRABÁSICA


SiO2 > 65% SiO2 52-65% SiO2 45-52% SiO2 < 45%

MINERAL Ortoclásio, Quartzo, Ortoclásio, Plagioclásio Plagioclásio cálcico, Olivina, Piroxênio


ESSENCIAL Plagioclásio Sódico, Sódico, Biotita, Piroxênio
Mica. Anfibólio ou Piroxênio
MELANOCRÁTICA
MELANOCRÁTICA
LEUCOCRÁTICA MESOCRÁTICA

INTRUSIVA GRANITO, SIENITO-LEUCO GABRO PERIDOTITO


PEGMATITO DIORITO-MESO
HIPABISSAL GRANITO, SIENITO, DIABÁSIO
PÓRFIRO PÓRFIRO-LEUCO,
DIORITO,
PÓRFIRO-MESO
EXTRUSIVA RIOLITO FONOLITO-MESO, BASALTO
ANDESITO

D. ROCHAS SEDIMENTARES
São formadas a partir dos produtos de intemperização de quaisquer outros tipos de rochas, os
quais através dos processos erosivos podem ser transportados e posteriormente depositados ou
precipitados em quaisquer ambientes de sedimentação; estes podem ser constituídos por um lago, uma
lagoa, um rio ou mesmo o próprio mar. Por isso fala-se normalmente em rochas sedimentares de
origem lacustre, fluvial ou marinha. Os principais agentes de transporte são a água e o vento. A
composição química e física das rochas sedimentares é muito variável, estando intimamente
relacionada com as características do material que deu origem ao sedimento.
Distinguem-se basicamente três tipos de sedimentos: clásticos, químicos e orgânicos.
Os sedimentos clásticos são formados por fragmentos de rochas pré-existentes, que podem ser
de diâmetros muito diferentes: psefitos, quando predominam seixos, ou seja, grãos maiores que os da
areia (maior que 2mm de diâmetro); psamitos, quando predominam grãos do tamanho da areia (entre
2 e 0,02mm de diâmetro) e pelitos, quando predominam grãos com diâmetro menor do que da areia
(menor que 0,02mm). Os sedimentos clásticos podem apresentar muitas classes de tamanho de grãos
misturados, devendo-se na classificação da rocha observar qual a fração é predominante.

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Dentre as rochas sedimentares grosseiras (psefitos) temos como exemplo básico os
CONGLOMERADOS, denominação utilizada para as rochas nas quais predominam os seixos, unidos
por um cimento, que normalmente é a argila, calcário ou óxidos de ferro.
Dentre as psamíticas, temos os ARENITOS e os ARCÓSIOS, em ambos prevalecendo
frações do diâmetro da areia, consolidadas por um cimento qualquer. Os grãos que formam o arenito
são geralmente constituídos por quartzo, porém podem ser de qualquer outro mineral (feldspatos,
micas, etc.), desde que possuam o diâmetro da areia. Sua coloração é bastante variável, podendo ser
vermelho, amarelo, acinzentado, etc. O arcósio é um tipo especial de arenito com grande quantidade
de feldspatos.
As rochas sedimentares de granulação fina (pelíticas) mais comuns são o ARGILITO,
FOLHELHO e o SILTITO.
Os ARGILITOS e os FOLHELHOS caracterizam-se por apresentar granulação
extremamente fina, pelo predomínio da fração argila (diâmetro menor do que 0,002mm = 2), sendo
por isto untuosos ao tato (sedosos) . Sua coloração pode ser cinza, preta, amarela ou avermelhada. O
folhelho diferencia-se do argilito por apresentar uma esfoliação característica, formando extratos finos
e paralelos.
Os SILTITOS são rochas sedimentares de granulação intermediária entre o arenito e o argilito
(0,05 até 0,002mm de diâmetro) e apresentam igualmente coloração muito variável. À campo, os
siltitos apresentam aspereza quando atritados entre os dentes, o que é um critério útil para diferenciá-
los dos argilitos, que não são ásperos ao dente.
Uma feição muito comum à maioria das rochas sedimentares de origem clástica é a
DISPOSIÇÃO EM CAMADAS, formando estratos finos e paralelos, muitas vezes de coloração
diferente. Esta estratificação pode ser plano - paralela, como na maioria dos casos em que as rochas
são formadas em ambiente lacustre ou marinho, ou pode ser cruzada, como na maioria das rochas
formadas em ambiente eólico ou fluvial.
Os sedimentos de origem química são originados pela precipitação de compostos químicos em
solução, graças à diminuição da solubilidade destes compostos. Muitos destes sedimentos são de
origem marinha. O processo de sua formação pode ser exemplificado nos estuários costeiros, com
grande quantidade de carbonatos dissolvidos na água. O recuo do mar ou a evaporação da água no
estuário provoca aumento na concentração dos carbonatos, que quando atingem o seu produto de
solubilidade podem precipitar formando uma rocha como a ARAGONITA . A PIRITA (sulfeto de
ferro) e as FOSFORITAS constituem outros exemplos de rochas sedimentares de origem química.
GIPSITA (gesso-CaSO4) e HALITA (NaCl) também formam-se por esse processo,
Os sedimentos orgânicos são formados pelo acúmulo de restos orgânicos vegetais e animais,
geralmente em ambientes saturados com água. Destacam-se aqui diversos tipos de CALCÁRIOS e o
CARVÃO MINERAL.

E. ROCHAS METAMÓRFICAS
As rochas magmáticas e sedimentares, em sua condição natural estáveis, podem se tornar
instáveis frente a modificações na pressão, elevação da temperatura, ou presença de forte atrito, dando
origem a rochas com características diferentes, as metamórficas.
A temperatura constitui um dos fatores mais importantes nos processos metamórficos. Abaixo
de 200 C, as reações químicas são muito lentas; entre 800 e 1000 ºC, a rocha se funde. Deste modo o

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metamorfismo termal ocorre entre as temperaturas de 200 e 800 ºC. O calor pode ser gerado
naturalmente pelo aumento da temperatura em profundidade, ou a partir das câmaras magmáticas, que
irão afetar a rocha encaixante (rocha que circunda o magma). Este calor gera o Metamorfismo de
contato, que ocorre nas adjacências das grandes massas ígneas. Ao redor do contato desenvolve-se uma
auréola de metamorfismo cujas dimensões dependem do tamanho da massa ígnea e da natureza da
rocha encaixante.
O metamorfismo devido a pressão pode ser de dois tipos : a pressão uniforme ou hidrostática
(litostática) e a pressão direcional.
A pressão hidrostática (ou litostática) se deve ao próprio peso do material sobrejacente sobre as
rochas no interior da crosta.
A pressão direcional se deve aos esforços tectônicos, que provocam pressões direcionais sobre
determinados locais das rochas. As principais características destas rochas são a estrutura xistosa, onde
minerais de forma lamelar se dispõe em estratos finos e paralelos dando um aspecto folheado à rocha.
Esta estrutura é característica dos XISTOS, mas também pode ocorrer nos gnaisses. A estrutura
gnáissica é representada pela alternância de faixas xistosas e granulosas. É característica dos
GNAISSES. Muitas vezes as rochas metamórficas apresentam faixas em forma de bandas, onde se
concentram determinados tipos de minerais. Isto é comum nos MIGMATITOS, que ocorrem
normalmente associados aos gnaisses.
Como exemplos principais de rochas magmáticas, tem-se:
GNAISSE - rocha geralmente clara, de textura cristalina,com faixas de xistosidade, formada
geralmente pela alteração do granito ou do riolito.
MIGMATITO - rocha de textura cristalina, bandeada, possuindo uma parte granítica e outra
xistosa.
MICAXISTOS - rochas metamórficas de granulação fina e laminada, constituída
essencialmente de micas, quartzo e argilas.
ANFIBOLITO - rocha escura, rica em minerais do grupo dos anfibólios (horblenda), originada
do metamorfismo de basalto ou gabro.
QUARTZITO - rocha clara, extremamente dura, originada do metamorfismo de arenitos.
MÁRMORE - rocha de coloração muito variável, bandeada, originada do metamorfismo de
calcários.
ITABIRITO - variedade de quartzito, rico em hematita (prinicpal minério de ferro, comum em
Minas Gerais).

Na figura 2, é representado um esboço geológico do Estado de Santa Catarina, procurando-se


destacar os principais tipos de rochas encontradas nas várias províncias geológicas do estado.
Observa-se que aproximadamente 50% do Estado de Santa Catarina é recoberto por rochas
oriundas do derrame de lavas, portanto, são rochas ígneas extrusivas, onde predominam o BASALTO
(rocha básica) e os RIODACITOS (rochas intermediárias) . Estas rochas pertencem à Formação Serra
Geral, de idade Juro-Cretácea, cujos derrames ocorreram entre 65 e 135 milhões de anos em toda a
Região Sul do Brasil, através de fissuras na crosta.

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Na face leste do contato entre o basalto e as rochas sedimentares, próximo às escarpas, ocorre
uma faixa estreita e contínua onde ocorre o ARENITO da Formação Botucatu, que normalmente dá
origem a solos de textura grosseira.
Outro grupo expressivo de rochas em Santa Catarina são os SILTITOS, ARGILITOS e
FOLHELHOS das Formações Irati, Estrada Nova, Rio do Rastro, etc., que ocorrem numa faixa desde
Lauro Müller até Canoinhas e São Bento do Sul, passando por Lages, Rio do Sul e Santa Cecília.
Normalmente estes tipos de rochas dão origem a solos de textura argilosa e pouco profundos, sendo de
fertilidade natural muito baixa.
Também ocupando áreas expressivas, ocorrem os GRANITOS, GNAISSES e
MIGMATITOS nas imediações de Criciúma, Morro da Fumaça, Rancho Queimado, Florianópolis,
Camboriú, Joinville, etc., que normalmente dão origem a solos de textura cascalhenta em relevo
acidentado. A fertilidade natural destes solos é quase sempre baixa.
Áreas com XISTOS e FILITOS ocorrem principalmente na região próximo a Brusque, e dão
origem a solos mais argilosos e quimicamente pobres.
Ao longo da faixa litorânea, e nos vales mais abertos da Bacia Atlântica, ocorrem também
SEDIMENTOS RECENTES, de origens eólica, coluvial ou aluvial. Os sedimentos de origem
coluvial e aluvial as vezes dão origem a solos de boa fertilidade natural, como os que ocorrem nas
imediações de Jacinto Machado e Meleiro, e ao longo dos rios Tubarão, Itajaí - Açu e outros. Os
sedimentos arenosos de origem eólica que ocorrem próximo ao litoral dão origem, invariavelmente, a
solos arenosos e pobres.

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Figura 2 : Esboço geológico do Estado de Santa Catarina.

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3. INTEMPERISMO DE ROCHAS

O intemperismo pode ser entendido, de maneira simples, como o “colapso ”, “desintegração” ou


“desagregação” das rochas . Mais precisamente, ele é definido como o “conjunto de processos operantes
sobre a superfície da crosta, que causam a decomposição das rochas e de seus minerais constituintes,
graças à ação dos agentes atmosféricos e biológicos”. Ressalta-se, desde já, a importância do clima e
dos organismos vivos como fatores de intemperização das rochas.
O intemperismo é um processo intimamente relacionado com a vida vegetal e animal na terra,
visto que as plantas necessitam uma série de elementos essenciais à sua sobrevivência,e a maioria deles
em última instância são colocados à sua disposição pela intemperização dos minerais constituintes das
rochas.
Costuma-se fazer distinção entre dois tipos de intemperismo: o físico e o químico . Ambos
ocorrem simultaneamente durante a intemperização das rochas, porém apenas por questão didática, eles
são comentados a seguir separadamente.

A. INTEMPERISMO FÍSICO
Compreende-se por intemperismo físico o conjunto de processos físicos ou mecânicos que
promovem a desagregação ou desintegração das rochas, sem alterar a composição química de seus
minerais. Em outras palavras, seria uma fragmentação física da rocha em pedaços menores.
O processos de intemperização física se dão principalmente pelo alívio de pressão, pela ação da
radiação solar, do vento e por ação mecânica das raízes, como veremos a seguir :

1- ALÍVIO DE PRESSÃO: constitui um dos fatores iniciais de desagregação das rochas.


Mantidas a altas pressões no interior da crosta terrestre, as rochas quando são expostas à superfície em
contato com a atmosfera, seja por levantamentos da crosta ou por erosão geológica das camadas
superiores, sofrem um alívio da pressão, que irá se traduzir por aumento na sua instabilidade,
produzindo fendilhamentos ou descascamento superficial.

2- AÇÃO TÉRMICA DA RADIAÇÃO SOLAR: a luz solar incidente sobre o manto


rochoso provoca o seu aquecimento durante o dia, havendo um conseqüente resfriamento à noite.
Grande parte das rochas é constituída de vários minerais, que apresentam diferentes coeficientes de
dilatação térmica. Abaixo são dados alguns exemplos do aumento do coeficiente de dilatação linear de
alguns minerais e rochas, para aumentos de 1ºC na temperatura, segundo Leinz & Amaral:
Arenitos : 5 - 20  /metro linear
Granitos : 5 - 22 µ /metro linear
Feldspatos : 1,5 - 18 µ /metro linear 1 = 0,001mm
Quartzo : 8 - 14 µ /metro linear

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As variações na temperatura das rochas são responsáveis, portanto por fenômenos de expansão e
contração micrométricos, que causam, entretanto, com o passar dos séculos, o seu enfraquecimento. A
variação da temperatura nas rochas é cerca de 1,5 a 2,5 vezes superior a da atmosfera, sendo que as
rochas de coloração escura aquecem mais que as claras. Ao atingir um estado denominado de “fadiga”
da rocha, os minerais se desagregam e se reduzem a pedaços menores. Os principais efeitos desse
processo são o fendilhamento e esfoliação, que acabam tornando o material mais susceptível à ação do
intemperismo químico, na medida em que, pela fragmentação, permitem aumentar a superfície de
contato e a entrada de água.

3- AÇÃO MECÂNICA DA ÁGUA : um dos principais papéis da água está relacionado à


intemperização química das rochas, como veremos adiante. O principal efeito mecânico da água
relaciona-se ao congelamento. A água ao congelar-se, aumenta em cerca de 1/10 o seu volume, e ao
penetrar nos poros e fendas, ainda no estado líquido, após congelar-se imprime uma força expansiva
considerável, equivalente à uma pressão de 2.000 kg/cm. Quanto maior for o número de poros e fendas,
maior será a atividade destrutiva do gelo. Este processo é de pequena magnitude na situação do Brasil.

4 - AÇÃO MECÂNICA DOS VENTOS : os ventos, carregados de partículas grosseiras e


poeiras, atuam também na desintegração das rochas, provocando o desgaste erosivo das mesmas (ação
abrasiva). Determinadas formações rochosas, com aspecto de ruínas, como as que ocorrem na região de
Vila Velha-PR, são exemplos do produto deste processo. O vento exerce, além disso, uma ação erosiva,
removendo camadas superficiais não consolidadas.

5 - AÇÃO MECÂNICA DAS RAÍZES : a pressão exercida pelo crescimento das raízes no
interior das fendas na rocha pode ser de magnitude considerável, e tende a provocar o alargamento
destas, abrindo assim maior espaço para a intemperização química através da ação da água. Este
fenômeno é facilmente observável em áreas de solos rasos, que suportam as vezes uma vegetação
arbórea exuberante. A vegetação exerce, neste sentido, um papel acelerador no processo de
aprofundamento dos perfis do solo. A importância desse processo é extremamente importante nas
regiões tropicais e subtropicais, sob cobertura de florestas.

B. INTEMPERISMO QUÍMICO
O intemperismo químico pode ser definido como o “conjunto de processos químicos que atuam
na decomposição das rochas, promovendo uma alteração na composição química dos seus minerais”. Ou
seja, pelo intemperismo químico, os minerais da rocha são parcial ou totalmente dissolvidos,
transformando-se em outros.
O intemperismo químico é provocado pela reação química entre os minerais da rocha e as
soluções aquosas do meio circundante. O principal agente de intemperização química, portanto, é a
água, que ocorre no solo não como uma solução pura, inerte, mas contendo gases, sais ou mesmo ácidos
nela dissolvidos.

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Processos de intemperização química
1- Dissolução e hidrólise
Constituem os principais processos de decomposição química das rochas. O processo de
dissolução do gás carbônico na água pode ser exemplificado através da reação :
H2O + CO2 H2CO3 H+ + HCO3-

Observa-se que a reação é fortemente tendente para a esquerda, significando, portanto que a maior
parte da água não se dissocia. Uma pequena parte do CO 2, entretanto, combina-se com a água para
formar ácido carbônico, que se dissocia liberando íons H+ para a solução.

O processo de hidrólise pode ser entendido como a reação dos íons H + e OH- da água, com
os elementos ou íons dos minerais constituintes das rochas.
A reação geral de hidrólise para os aluminossilicatos, principais constituintes da maioria das
rochas da crosta terrestre, é mostrada a seguir :
------------------------------------------------------------------------------
Aluminissilicato + H20 + H+  Mineral de Argila + Cátion
-------------------------------------------------------------------------------
No exemplo, a fonte ácida é representada pelo ácido carbônico, porém poderia ser um ácido
orgânico qualquer. A água e o ácido carbônico reagem com o aluminossilicato, havendo com o passar do
tempo uma ruptura da rede cristalina do mesmo (as ligações químicas são rompidas). Silício, alumínio e
cátions são liberados para a solução após a decomposição do mineral . Sílica e alumínio podem
recombinar-se em solução formando um novo mineral (mineral de argila, por exemplo), cuja
composição química é diferente da do mineral que lhe deu origem. Os cátions em solução podem ser
lixiviados ou tomar outros destinos, como será visto adiante.

Fatores que influem na hidrólise


a- Natureza da água : a água saturada com os sais produzidos pela hidrólise precisa ser removida
do sistema, caso contrário a hidrólise cessa ou paralisa. Portanto, para que a hidrólise se processe
continuamente, há necessidade de que a água que circunda os cristais que estão sofrendo intemperismo
seja continuamente renovada. Isto ocorre normalmente nas regiões de clima úmido, formando solos
profundos. Nas regiões de clima mais seco, devido a deficiência de água para os processos de hidrólise,
nos curtos períodos em que ela ocorre, os sais produzidos tendem a se acumular no perfil, diminuindo
ou paralisando a hidrólise, e formando solos geralmente rasos.

b -Efeito do pH : os valores de pH da água durante as reações de hidrólise estão intimamente


associados s solubilidade do Al2O3, do SiO2 e do Fe2O3. Em geral, quanto maior for o conteúdo de
cálcio e magnésio dos minerais que estão sofrendo hidrólise, maior é o valor do pH da solução aquosa.
Portanto, rochas contendo minerais ricos em Ca e Mg, intemperizando-se num ambiente com lenta
remoção da água do sistema, favorecerão a manutenção de um pH alto.

15
Em valores de pH em torno de 10, tanto o Al2O3 como o SiO2 são bastante solúveis, e nestas
condições podem se formar respectivamente depósitos de bauxita (alumínio) e calcedonea (silício) .
Se a hidrólise estiver ocorrendo em valores de pH entre 5 e 6 (ambiente lixiviante), a
solubilidade de ambos os compostos será muito baixa. Quando a taxa de lixiviação é media, grande parte
do silício e das bases (Ca, Mg, K, Na) são removidos do ambiente, sobrando apenas uma quantidade de
Si e Al suficiente para formar minerais de argila do tipo 1:1, como a caulinita. A caulinita tem uma
estrutura composta por uma lâmina de silício e outra de alumínio, formando uma camada. A este
processo se dá o nome de monossialitização.
Em valores de pH próximo à neutralidade (7-8), a solubilidade do Al é ligeiramente superior à
do Si. Assim, se o clima for mais seco, vai haver menor lixiviação de Si em relação ao Al (sobra mais Si
que Al), os quais se recombinam para formar minerais de argila do tipo 2:1, como a montmorilonita.
Este argilomineral contém 2 lâminas de silício e uma de alumínio, formando cada camada. A este
processo se dá o nome de bissialitização.
Quando o pH é baixo (5-6) e o ambiente é fortemente lixiviante (climas extremamente úmidos e
quentes), o Si, sendo mais solúvel que o Al, tende a ser praticamente todo removido do sistema,
formando somente óxidos de Al, como a gibbsita, além de óxidos de Fe. A esse processo se dá o nome
de alitização.

Observa-se que várias situações podem ocorrer durante a decomposição de minerais das rochas,
com a possibilidade de serem formados diversos tipos de minerais. Algumas reações de intemperismo
químico, através da hidrólise, são mostradas a seguir :

K.AlSi3O8 + 2H+ + 9H2O  H4Al2Si2O9 + H4SiO4 + 2K+


Ortoclásio caulinita
K.AlSi3O8 + 2H+ + 9H2O  Al2O3 + H4SiO4 + 2K+
Prtoclásio gibbsita
Formam-se em climas quentes e úmidos; com lixiviação média, em soluções aquosas com pH
baixo, forma-se caulinita, e em ambiente que forte lixiviação, forma-se a gibbsita

K.AlSi3O8 + 2H+ + 12H2O  K.Al3Si3O10(OH)2 + 6H4SiO4 + 2K+


Ortoclásio ilita
Forma-se em climas úmidos, em soluções aquosas com pH um pouco mais alto

Na.AlSi3O8 + 6H+ + 28H2O  3Na.66Al2.66Si3.33O10(OH)2 + 14H4SiO4 + 6Na+


Albita montmorilonita
Forma-se em climas mais secos, em soluções aquosas com pH elevado e com pouca lixiviação

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Nos exemplos de reações de hidrólise mostradas anteriormente, não é necessário memorizar a
fórmula mínima dos minerais ou a seqüência das reações e sim entender o significado das mesmas, que
podem ser sumarizadas no seguinte:
“A maioria dos minerais da rocha - aluminossilicatos- é composta basicamente de silício,
alumínio e cátions, tais como o Ca, Mg, K, Na, etc. Durante as reações de hidrólise, num processo muito
lento, as ligações que unem os diversos elementos vão sendo paulatinamente rompidas pelo ataque
protônico dos íons H+ provenientes da água ou de ácidos orgânicos. O silício e o alumínio liberados nas
reações podem se recombinar em solução para formar ARGILOMINERAIS, ou o alumínio pode
precipitar em solução para formar um óxido, como a GIBBSITA, sendo que parte do silício pode
também ser lixiviado como H4SiO4. A maior parte dos cátions liberados é lixiviada se o ambiente é bem
drenado, porém parte deles pode ficar adsorvida (ligada) às cargas negativas dos argilominerais
formados . O TIPO de argilominerais ou óxidos formados vai depender das condições de drenagem do
local, do clima e do pH da solução durante as reações”.

2- Oxidação
Processo de decomposição química que envolve a perda de elétrons. Muitos elementos
constituintes das rochas podem ser oxidados (Fe e Mn, por exemplo), ao se combinar com o oxigênio.
Em relação ao ferro, comumente ele ocorre na rocha na forma reduzida (Fe2+). Ao iniciar-se o
processo de decomposição química através da hidrólise, o ferro é liberado para a solução ainda na forma
reduzida. Se o ambiente for bem drenado, o oxigênio está presente no sistema, e o ferro sofrerá oxidação
produzindo um novo mineral, por exemplo, a HEMATITA. Esta reação é exemplificada a seguir :

Fe2SiO4 + H2CO3 + 2H2O  2Fe2+ + 2HCO3- + 2OH-


Fayalita hidrólise

2Fe2++ + 4HCO3- + 1/2O2 + 2H2O  Fe2O3 + 4 H2CO3


Oxidação Hematita
No exemplo anterior o mineral FAYALITA sofreu hidrólise, liberando o ferro ainda no estado
reduzido para a solução. Este ferro reduzido, em contato com o oxigênio, oxidou-se para formar um
novo mineral, o óxido de ferro HEMATITA, que imprimirá uma coloração avermelhada ao material
intemperizado.
Quando o ferro dissolvido do mineral sofre oxidação num ambiente com maior presença de
água, poderá formar um óxido hidratado de ferro, como a GOETITA, que colorirá o material de marrom
ou amarelo.
Em geral quanto maior o conteúdo de minerais ferromagnesianos de uma rocha, maior é sua
velocidade de intemperização, ou menor sua resistência ao intemperismo. Rochas escuras, ricas em
olivinas ou biotita, por exemplo, são mais facilmente intemperizáveis do que rochas claras, ricas em
feldspatos e quartzo.

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3 - Redução
Processo de intemperização química que envolve o ganho de elétrons. Muitos elementos, em
condições de deficiência de oxigênio no sistema, podem sofrer redução, como é o caso de zonas da
rocha (fendas, p. ex.) ou do solo, quando sofrem confinamento de água por períodos prolongados.
Muitos compostos podem sofrer redução, tais como:
Fe3+  Fe2+
Mn3+ ou Mn4+  Mn2+

Durante as fases de confinamento de água, no primeiro caso pode haver redução dos óxidos de
ferro hematita ou goethita previamente formados. No segundo caso, poderá haver redução de óxidos de
Mn tais como hansmanita, pirolusita previamente formados, ou mesmo a redução do Mn de
determinados minerais das rochas. O significado prático da redução é que os compostos são dissolvidos,
liberando o Fe ou o Mn que ficarão solúveis e, portanto passíveis de serem mobilizados para outros
locais. Quando estes elementos encontram um ambiente oxigenado, podem sofrer reoxidação,
produzindo novos minerais. Casos comuns de reações de redução e oxidação nas rochas são dados pelos
seguintes exemplos:
Em rochas sedimentares, coloridas, é comum observar-se nas fendas a presença de zonas
descoloridas (cinzento-claras), que são fruto da remoção dos óxidos de ferro por reações de redução
(dissolução). O ferro solubilizado destes locais geralmente precipita (reoxida-se) em outro local,
formando nódulos ou concreções.
No basalto alterado, muitas vezes observa-se a formação de “capas” escuras sobre a superfície
externa do material intemperizado. Normalmente são formas oxidadas de Mn, que ali precipitaram
oriundas de Mn dissolvido de reações de redução dos minerais primários durante a intemperização da
rocha.

4- Hidratação e desidratação
Processo de decomposição química através do qual moléculas de água são adicionadas ou
removidas de um mineral, resultando na formação de um novo mineral. Um dos principais exemplos é
dado pela transformação reversível do Gesso (mineral hidratado) em Anidrita (mineral desidratado),
pela perda de moléculas de água de hidratação.

Destino dos cátions liberados durante as reações de intemperismo

Os cátions liberados da rede cristalina dos minerais durante os processos de decomposição


química podem tomar, em solução, vários destinos :
1- Uma parcela muito pequena irá permanecer na solução do solo, à disposição das plantas ;
2- Parte dos mesmos poderá ficar retido entre as camadas dos minerais de argila
(pouco),conforme indicado na figura 3:

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3- Parte deles poderá ficar adsorvido (aderido) à superfície dos minerais de argila, que
apresentam excesso de cargas negativas (figura 3). A maior ou menor capacidade de adsorção neste
caso, irá depender do tipo de mineral de argila formado e do teor de matéria orgânica do solo;
4- Parte dos mesmos será absorvido pelos vegetais;
5- A maior parte deles é normalmente perdida pelo processo normal de lixiviação. As perdas são
sempre mais acentuadas nas regiões de clima mais quente e úmido e quanto mais arenosa a textura do
solo.

Dadas estas considerações, deduz-se que, através do tempo geológico, existe uma tendência
geral de empobrecimento dos solos, nos quais passa a predominar a reação ácida, devido a forte ligação
dos íons H+ e Al3+ aos colóides do solo, enquanto que nos oceanos a reação tende a ser alcalina, por se
constituírem nos pólos naturais de captação dos sais.

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4. MINERAIS DO SOLO

O solo, como foi visto anteriormente, comporta uma série de definições. Entretanto, do ponto de
vista físico-químico-biológico, podemos considerá-lo como um SISTEMA, composto por 3 fases :
sólida, líquida e gasosa. A fase sólida é subdividida em dois componentes, um orgânico e outro
mineral. Nos interessará, neste capítulo, fazer uma abordagem acerca dos constituintes minerais que
compõe a fase sólida do solo, devido a sua importância como fonte de nutrientes para as plantas.
Classifica-se comumente os minerais do solo, de acordo com sua origem, em primários e
secundários.

MINERAIS PRIMÁRIOS

Os minerais primários do solo são herdados da rocha matriz ou do sedimento que formou ou teve
influência na formação do solo. Sua principal característica é de manterem a mesma composição
química que possuíam na rocha, porém, devido ao intemperismo físico, podem apresentar-se
fragmentados em pedaços menores.
Normalmente os minerais primários são encontrados dentro da fração mais grosseira dos solo,
ou seja, no cascalho ( entre 2 e 20mm), na areia ( entre 2 e 0,05mm) ou no silte ( entre 0,05 e
0,002mm). Os minerais mais abundantes nestas frações são geralmente o quartzo e os feldspatos, pelo
simples fato de predominarem na maioria das rochas ocorrentes na crosta, e por apresentarem maior
resistência à intemperização. Outros minerais primários, não menos importantes, porém ocorrendo em
quantidades menores nos solos são os piroxênios, anfibólios,micas, olivinas, etc.
A identificação dos minerais da fração grosseira do solo pode, portanto, fornecer informações
muito úteis sobre a reserva mineral do solo, e deste modo sobre sua potencialidade de liberar
nutrientes ao longo do tempo através da intemperização. Exemplificando: em muitos solos tropicais, o
processo de intemperização é drástico, fazendo com que os minerais primários de importância agrícola
estejam quase totalmente decompostos. Ficam como produtos finais no solo a argila, óxidos, e uma
fração areia constituída basicamente por quartzo, concreções argilosas e ferruginosas e magnetita, todos
de pequena importância no fornecimento de nutrientes às plantas; por outro lado, em solos mais jovens,
menos intemperizados, na fração areia ainda podem ser encontrados alguns minerais primários, como a
horblenda, feldspatos, augita, etc., que podem constituir uma reserva mineral importante de K, Ca, Mg,
Fe e Mn para o solo.
De todos os minerais do solo os SILICATOS formam o grupo mais importante, visto que
constituem cerca de 80% das rochas ígneas e metamórficas.
O advento dos raios X possibilitou estudar com detalhe a estrutura cristalina dos minerais, pois
se verificou que cada mineral, conforme o arranjo interno dos seus átomos, apresenta um grau de
difração do feixe de raios X característico de sua estrutura cristalina.

20
Todo silicato apresenta uma unidade estrutural comum, composta por um átomo de silício
rodeado de 4 átomos de oxigênio, delimitando um TETRAEDRO, cuja representação é mostrada nas
figuras a seguir :
Outras formas de representação desta estrutura são :

De acordo com a disposição interna dos elementos nas estruturas tetraedrais, os silicatos são
classificados em 6 grupos :

1- NESOSSILICATOS

Cadeias de tetraedros simples, unidos entre si por cátions :

Os principais representantes deste grupo são as OLIVINAS, comuns em rochas ígneas básicas
(basalto, diabásio, gabro, etc). Tem coloração verde oliva e formam uma série que vai da
FORSTERITA (Mg2SiO4) à FAYALITA (Fe2 SiO4), sendo de fácil intemperismo, por isso não
persistem no solo. O intemperismo das olivinas produz minerais de argila do tipo da montmorilonita e
óxidos de ferro.
As olivinas constituem fonte muito importante de Magnésio às plantas.

2- SOROSSILICATOS

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Sua estrutura é resultante da polimerização de tetraedros unidos 2 a 2 por um dos vértices, sendo
o excesso de cargas negativas balanceado por cátions, como o cálcio, o ferro e o zinco, que fazem
“pontes” entre os tetraedros.
Como exemplos de minerais deste grupo temos e EPÍDOTO e a HEMIMORFITA (silicato de
zinco), mas são se pequena importância agrícola, por representarem minerais de intemperização muito
difícil.

3- CICLOSSILICATOS
Apresentam estruturas nas quais os tetraedros se encontram unidos por um dos vértices
formando anéis de 3, 4 ou 6 tetraedros:

A TURMALINA é um mineral comum nos Pegmatitos (espécie de granito com cristais muito
grandes) e também como mineral acessório em gnaisses, xistos e calcários cristalinos. Sua importância
agrícola está relacionada à presença do Boro na sua estrutura, elemento essencial às plantas. Contudo é
um mineral dificilmente intemperizável.
4- INOSISSILICATOS
Apresentam estruturas em cadeias, que podem ser simples ou duplas, com número ilimitado de
tetraedros, onde há o compartilhamento de dois ou mais vértices :
CADEIA SIMPLES

Ex: Piroxênios (augita, p. ex.)

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CADEIA DUPLA

Ex: Anfibólios (horblenda, p. ex.)

Os piroxênios e anfibólios são minerais primários de forma prismática ou granular, coloração


escura e aparência muito similar.
Do grupo dos PIROXÊNIOS, o mineral mais importante do ponto de vista agrícola é a
AUGITA, cuja fórmula é :
Ca (Mg,Fe,Al) . (Si,Al)2O6
Sua coloração é verde escura à preta, sendo encontrada geralmente nas rochas ígneas básicas
(basalto, diabásio,etc). O intemperismo da augita produz normalmente minerais de argila, sendo os
cátions então liberados da estrutura cristalina. São fontes muito importantes de cálcio e magnésio aos
solos, principalmente porque intemperizam-se facilmente através da hidrólise.
OBS: os elementos Si e Al entre parêntesis na fórmula indicam que neste grupo de minerais
ocorre substituição isomórfica, o que aliado à presença do ferro na estrutura, são fatores de
instabilização do mineral, que por isso tem menor resistência ao intemperismo.
Do grupo dos ANFIBÓLIOS, o mineral mais importante é a HORNBLENDA, cuja fórmula é
:
(Na,Ca)2 (Mg,Fe,Al)5.(Si, Al)8O22. (OH)2
Sua ocorrência é mais ampla, pois além das rochas básicas citadas, é encontrada também nos
Sienitos, Gabros e nas rochas metamórficas como o Gnaisse, horblenda-xistos e anfibolitos.
São igualmente minerais de fácil intemperização, constituindo-se em fontes de cálcio e magnésio
aos solos.

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5- FILOSSILICATOS

São representados também por cadeias de tetraedros, dispostos ilimitadamente em várias


direções, formando lâminas :
O exemplo mais representativo de minerais primários deste grupo são as MICAS, e dentre os
minerais secundários encontram-se as ARGILAS SILICATADAS.
As micas que ocorrem nos solos são geralmente herdadas do material originário, sendo minerais
comuns em rochas ígneas, sedimentares ou metamórficas. Dois tipos de micas são mais comuns no solo,
a MUSCOVITA e a BIOTITA.
A fórmula geral das micas é :
K. (Mg,Fe)3. (OH,F)2.AlSi3O10
A MUSCOVITA é a mica de coloração clara (mica branca) e a BIOTITA é a mica de
coloração escura (mica preta). A coloração mais escura da biotita é devida ao seu maior conteúdo em
ferro, sendo mais facilmente intemperizável que a muscovita. Outros tipos de micas são a flogopita e a
celadonita.
O intemperismo das micas geralmente produz minerais de argila, liberando o potássio preso na
sua estrutura cristalina. Por este motivo as micas são fonte importante de potássio às plantas.

6- TECTOSSILICATOS

Apresentam estruturas atômicas tridimensionais, de difícil representação espacial. Todos os


oxigênios dos vértices são compartilhados com tetraedros vizinhos:

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QUARTZO : o quartzo é um exemplo de mineral primário altamente resistente ao
intemperismo, dada a ausência de substituições isomórficas durante a sua formação, e ao caráter forte
das ligações que unem os seus átomos (covalência), conferindo ao mineral um balanço de cargas nulo e
uma alta estabilidade. Sua fórmula mínima é :
(SiO2)nº
O quartzo é um mineral que ocorre na maioria dos solos, freqüentemente constituindo entre 50 e
95% da fração areia dos mesmos, e forma o chamado “esqueleto” do solo.
FELDSPATOS : são aluminossilicatos contendo K, Na e Ca (ocasionalmente bário) na sua
estrutura. Constituem, numa média, 60% em peso das rochas ígneas, e grande parte também das rochas
sedimentares.
Possuem a estrutura cristalina básica dos tectossilicatos, entretanto diferem do quartzo pelos
diferentes graus de substituição isomórfica de Si por Al que podem ocorrer no interior dos tetraedros
durante momento de formação do mineral.
Partindo-se, portanto do quartzo, cuja fórmula mínima é:
(SiO2)n0 ou (Si4O8)n0

- ocorrendo em torno de 25% de substituição isomórfica de Si4+ por Al3+, temos, por exemplo,
a formação dos minerais :
ALBITA - Na (Al Si3O8)
ORTOCLÁSIO - K (Al Si3O8)

- ocorrendo em torno de 50% de substituição isomórfica :


ANORTITA - Ca (Al2Si2O8)

A denominação feldspato é atribuída, portanto a uma série de minerais primários de composição


química variada, distinguindo-se basicamente dois grupos, os FELDSPATOS POTÁSSICOS e os
FELDSPATOS CALCO-SÓDICOS, também denominados de plagioclásios.

FELDSPATOS POTÁSSICOS - K. (Al, Si3O8) - incluem-se neste grupo uma série de minerais
como o ortoclásio, microclina e sanidina, sendo o ORTOCLÁSIO o mineral mais comum,
principalmente nas rochas magmáticas intrusivas, como o granito, e também nas metamórficas como o
gnaisse.

Os feldspatos potássicos são comuns na fração mais grosseira dos solos mais jovens,
constituindo-se em fonte importante de potássio às plantas, embora apresentem grande resistência ao
intemperismo.

O intemperismo destes minerais geralmente produz minerais de argila como a caulinita.

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FELDSPATOS CALCO-SÓDICOS OU PLAGIOCLÁSIOS - constituem uma série de
aluminossilicatos contendo sódio e cálcio na sua composição. Os principais termos da série são :
ALBITA (90% de Na e 10% de Ca)
OLIGOCLÁSIO
ANDESINA
 LABRADORITA
BITONITA
ANORTITA (90% de Ca e 10% de Na)
O sentido da seta indica uma diminuição no conteúdo de SÓDIO e um aumento no conteúdo de
CÁLCIO.

ALBITA: Na.(AlSi3O8) - plagioclásio contendo quase que exclusivamente sódio na sua


composição . Mineral de coloração clara, comum nas rochas magmáticas e metamórficas.

ANORTITA - Ca .(Al2Si3O8) - plagioclásio contendo quase exclusivamente cálcio na sua


composição . Mineral dominante nas rochas básicas e ultrabásicas. Nos derrames de lavas basálticas de
SC tem sido identificados em maior quantidade a LABRADORITA. São fontes muito importantes de
cálcio às plantas, principalmente porque são minerais facilmente imtemperizáveis.

FELDSPATÓIDES - termo genérico atribuído a um grupo de minerais semelhantes aos


feldspatos e de ocorrência comum nas rochas eruptivas mais recentes (Sienitos e fonolitos, por
exemplo). Os principais representantes deste grupo são a LEUCITA (fonte de potássio) e a
NEFELINA (fonte de sódio).

MINERAIS ACESSSÓRIOS DAS ROCHAS


Recebem esta denominação alguns tipos de minerais primários que ocorrem em pequenas
proporções nas rochas ou que são encontrados em zonas concentradas, formando jazidas. O
conhecimento das principais características destes minerais torna-se importante, porque podem
contribuir com alguns elementos essenciais às plantas a partir da sua intemperização ou serem
explorados industrialmente para a produção de adubos ou corretivos.

APATITA- mineral acessório de grande importância face ao alto conteúdo de fósforo que
encerra. As principais formas de apatita ocorrem como minerais de granulação fina em rochas ígneas e
metamórficas. Em alguns casos podem ocorrer também na forma de cristais maiores, principalmente nos
pegmatitos. No Brasil, encontram-se jazidas de apatitas (ou fosfato natural) de importância econômica
em Monteiro (PB), Ipirá (BA), Jacupiranga (SP), Araxá e Patos (MG) e Anitápolis (SC).

A forma mais comum é a FLUORAPATITA, cuja fórmula é :

Ca10 F2 (PO4)8 - fórmula simplificada.

Este material pode ser utilizado na agricultura em sua forma natural, pela simples moagem da
rocha fosfatada, constituindo assim os fosfatos naturais, ou após fazê-la reagir com ácidos, produzindo

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os chamados fosfatos solúveis (superfosfato simples, superfosfato triplo, MAP, DAP, etc.). Os fosfatos
naturais brasileiros tem-se mostrado pouco eficientes quando comparados aos solúveis, dada a sua
dissolução muito lenta no solo, principalmente nos primeiros anos subsequentes à sua aplicação.

PIRITA- (FeS2)- também denominado "ouro dos tolos", face à sua semelhança com este
minério. É encontrada como mineral acessório em rochas ígneas e metamórficas e também nas
sedimentares. Constitui fonte importante de enxofre e ferro, elementos essenciais às plantas.

CARBONATOS (Ca, Mg CO3) – também minerais presentes em pequenas quantidades na


maioria das rochas. Quando ocorrem de forma concentrada em alguns tipos de rochas podem constituir
os chamados CALCÁRIOS ou mesmo uma rocha metamórfica como o MÁRMORE. Tanto nos
calcários quanto nos mármores, os minerais comuns são de dois tipos: a calcita (CaCO3) e a dolomita
(MgCO3). O termo CALCÁRIO, portanto, pode ser atribuído a qualquer tipo de rocha rica em
carbonatos, existindo, portanto, calcários de origem sedimentar, metamórfica ou mesmo magmática. Os
calcários agrícolas comerciais geralmente são de origem metamórfica ou sedimentar, e são do tipo
dolomítico, ou seja, com dominância de calcita, mas com proporções elevadas de dolomita, para evitar
desbalanço nos níveis de Ca e Mg no solo.

MINERAIS SECUNDÁRIOS DO SOLO


Os minerais secundários do solo resultam da decomposição ou alteração dos minerais primários,
dando origem a novos minerais, com composição química diferente do mineral que lhe deu origem.

Exemplos:

1- Feldspato + H2O + H+ ----------- Mineral de argila + Cátions

2- FeSiO4 + H2O + H+ --------------- Fe2+ (solução)

2Fe2+ + 3O -------------- Fe2O3 (óxido de ferro)


-K
3- Mica + H2O ---------------- Mineral de argila

No primeiro exemplo, a intemperização química do feldspato pela hidrólise, produz uma


"quebra" na estrutura cristalina do feldspato, liberando a sílica e o alumínio para a solução, que poderão
recombinar-se produzindo um mineral de argila (mineral secundário).
No segundo exemplo, o mineral primário fayalita é atacado pela hidrólise, liberando inicialmente
o ferro para a solução, na forma reduzida. Num ambiente bem drenado, o ferro oxida-se para formar um
novo mineral, a hematita ou a goethita (mineral secundário).

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No terceiro exemplo, o mineral primário (mica), embora não sofra dissolução, altera-se pela
perda gradativa do potássio da sua estrutura interna, transformando-se num argilomineral como a ilita ou
a vermiculita (minerais secundários).

Os minerais secundários de maior importância agrícola são:

 MINERAIS DE ARGILA OU ARGILOMINERAIS


 ÓXIDOS DE FERRO, ALUMÍNIO, SILÍCIO, TITÂNIO E MANGANÊS.
 MATERIAL AMORFO DO SOLO

C. MINERAIS DE ARGILA OU ARGILOMINERAIS

Os minerais de argila constituem-se, junto com a matéria orgânica, numa das frações mais ativas
do solo, afetando enormemente suas propriedades físicas e químicas.

O termo ARGILA é empregado na ciência do solo para designar uma determinada fração
granulométrica do solo, constituída por partículas de diâmetro inferior à 0,002mm (=2; 1 =
0,001mm) . É importante ter em mente que esta fração pode conter diversos tipos de minerais, sendo os
mais comuns os argilominerais, os óxidos de Fe, de Al, etc., e o material amorfo. Portanto, os minerais
secundários normalmente fazem parte da fração argila do solo.

Os minerais de argila apresentam forma cristalina definida, com um arranjo regular e sistemático
dos átomos dispostos em estruturas laminares compostas por tetraedros de silício e octaedros de
alumínio, os quais unidos entre si formam camadas. Vistos ao microscópio eletrônico, os cristais de
argilominerais apresentarão um aspecto de placas hexagonais, tubos ou flocos (vide figuras 6 e 9
adiante). Seu formato mais comum pode ser imaginado como de cristais de mica, extremamente
pequenas e de dimensões microscópicas.

Antigamente, pensava-se que os minerais de argila eram constituintes amorfos, porém, com o
advento dos raios X e da microscopia eletrônica, verificou-se que possuem estrutura cristalina
perfeitamente definida. Todos são constituídos por duas unidades estruturais básicas: o tetraedro de
silício e o octaedro de alumínio, cujas representações mais comuns são mostradas na figura a seguir:

Tetraedro de silício

Si (centro): 0,78 Å


O (vértices): 2,64 Å

28
Octaedro de alumínio

Al (centro): 1,14 Å


O (vértices): 2,64 Å

Cada mineral de argila é constituído por uma sucessão de tetraedros de silício e octaedros de
alumínio, formando lâminas, sendo desta forma classificados em:

A - BILAMINARES OU MINERAIS DE ARGILA DO TIPO 1:1

Compostos por uma lâmina de tetraedros de silício e uma de octaedros de alumínio, conforme
mostra a figura 4:

Figura 4: Seqüência das lâminas nos argilominerais 1:1


Exemplos: Caulinita, haloisita.
B - TRILAMINARES OU MINERAIS DE ARGILA DO TIPO 2:1

Compostos por duas lâminas de tetraedros de silício e uma de octaedros de alumínio, conforme
representado na figura 5:

Figura 5: Seqüência das lâminas nos argilominerais 2:1


Exemplos: Ilita, Vermiculita e Montmorilonita

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C-TETRALAMINARES OU MINERAIS DO TIPO 2:1:1 OU 2:2

Compostos por duas lâminas de tetraedros de silício e uma de octaedros de alumínio e uma de
octaedros de magnésio.
Exemplo: clorita.

D-MATERIAL AMORFO

Há uma disposição totalmente irregular dos tetraedros e octaedros, de tal forma que o mineral
não apresenta um arranjo sistemático dos seus átomos, sendo por isso amorfo ao raio X.

Exemplos: Mica com vermiculita, caulinita com esmectita, etc.

Observa-se das figuras anteriores, que cada uma das lâminas de tetraedros de silício e de
octaedros de alumínio apresentam-se unidas entre si compartilhamento átomos de oxigênio nos
vértices, formando assim o que doravante denominaremos de uma CAMADA. Cada cristal de argila
visto ao microscópio eletrônico é constituído por uma série destas camadas, que variam, nos minerais do
solo, entre 10 e 30.

Na figura 6, é mostrado um cristal de caulinita, visto ao microscópio eletrônico (ME). Cada


cristal destes é composto de várias camadas, que por sua vez são constituídas de lâminas.

Figura 6: cristais de caulinita vistos ao ME.

Uma das principais características dos minerais de argila é que podem apresentar, durante o
processo de sua formação, substituição dos íons Si e Al por outros íons no interior das lâminas, ao que
se denomina de substituição isomórfica.

A substituição isomórfica consiste na substituição de íons no interior das lâminas de tetraedros


e octaedros, sem alterar a forma do mineral. Os íons substituintes devem possuir tamanhos semelhantes,
porém podem apresentar valências diferentes.

Exemplos:

- o átomo central de silício (0,78Å) nos tetraedros, pode ser substituído, geralmente de forma
parcial, pelo alumínio;

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- o átomo central de alumínio (1,14Å) nos octaedros, pode ser substituído, parcial ou totalmente,
por átomos de:
Mg++ (1,56Å)

Fe++ (1, 16Å)

Fe+++ (1,34Å)

Mn++ (1, 82Å)

Numa situação ideal, onde todas as lâminas tertaedrais e octaedrais estivessem ocupadas
respectivamente pelo silício e pelo alumínio, teríamos um balanço de cargas NULO no cristal.

Na prática, entretanto, muitos minerais de argila apresentam substituições isomórficas em maior


ou menor grau, as quais ocorreram durante o processo de sua formação. O significado PRÁTICO destas
substituições é de que, ao variar a valência dos íons centrais, podem se originar cargas nos cristais,

como exemplificado a seguir:


Observa-se que a substituição dos cátions centrais por outros de menor valência, faz com que haja
deficiência de UMA carga positiva em cada tetraedro ou octaedro. Como essa substituição pode ocorrer
em vários tetraedros e octaedros, gera-se na CAMADA a deficiência de várias cargas positivas, e,
portanto a superfície do cristal fica carregada NEGATIVAMENTE. Esta situação é esquematicamente
mostrada na figura a seguir:

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Como todos os processos operantes na natureza tendem ao equilíbrio, esta deficiência de cargas
positivas (ou excesso de cargas negativas), deve ser satisfeita de alguma maneira, seja por um excesso
de cargas positivas na CAMADA contígua, ou por ADSORÇÃO (atração de cargas de sinal contrário)
de cátions à superfície do cristal. Através da substituição isomórfica originam-se, portanto as cargas
negativas permanentes dos minerais de argila, atraindo pelo menos parte dos cátions da solução do solo,
e com isso diminuindo as perdas por lixiviação.

Assim, quanto maior tiver sido a substituição isomórfica durante a formação dos minerais de
argila, maior será a sua quantidade de cargas negativas, e, portanto, esse tipo de minerais de argila
terá capacidade de reter muitos cátions, formando solos mais férteis. Se as condições do meio não
favoreceram grande substituição isomórfica durante a formação dos minerais de argila, estes terão pouca
carga negativa, retendo poucos cátions e com isso formando solos menos férteis.

A-MINERAIS DE ARGILA BILAMINARES OU DO TIPO 1:1


1- CAULINITA

Fórmula : Si4 Al4 O10 (OH)8

A caulinita é um mineral de argila formado pela sucessão de lâminas de tetraedros de silício e


octaedros de alumínio, conforme representado na figura 7:

Figura 7: Estrutura da caulinita, segundo Jackson


É o principal mineral de argila encontrado na maioria dos solos brasileiros, particularmente nos
mais intemperizados, como os Latossolos e Argissolos (antigos Podzólicos). Pode ser herdada do
material de origem, como é o caso de alguns solos desenvolvidos de rochas sedimentares, formada por
alteração de minerais primários, como os feldspatos e plagioclásios, ou produzida por alteração de
outros minerais de argila.

A distância entre a base do tetraedro de uma camada à outra (chamado espaçamento c) na


caulinita é de 7,2Å, o que delimita uma distância entre as camadas de 2,74Å, não possibilitando a
entrada de cátions e moléculas de água no seu interior. Por isso é considerada como um mineral de
argila não expansivo. Em função destas características, a adsorção de cátions e água restringem-se a área

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externa do mineral, conferindo-lhe uma pequena área superficial específica (ASE) quando comparada
com outros minerais de argila, em torno de 10 a 20 m2/g de argila.

A substituição isomórfica é muito pequena na caulinita, ocorrendo apenas nos chamados


tetraedros basais (tetraedros mais externos que formam o cristal). Essa pequena substituição isomórfica
constitui uma das razões de baixa capacidade de troca de cátions da caulinita, que varia de 3 a 15
meq/100g de argila.

Observada ao microscópio eletrônico, a caulinita apresenta-se em forma de placas hexagonais


(figura 6).

Nas regiões tropicais, onde o intemperismo é intenso, geralmente formam-se solos profundos e
quimicamente pobres. A caulinita é quase sempre o argilomineral predominante nestes solos, conferindo
aos mesmos uma baixa capacidade de retenção de cátions. Este fato explica a baixa fertilidade dos
mesmos, visto que os cátions úteis as plantas, liberados pela decomposição dos minerais primários,
tendo um pequeno número de cargas negativas (baixa CTC = baixo número de cargas negativas) onde
possam ser "segurados", são mais facilmente perdidos pelos processos de lixiviação. A manutenção de
níveis adequados de matéria orgânica nestes solos é imprescindível para um manejo adequado.

2- HALOISITA
Fórmula : Si4 Al4 O10 (OH)8 . 4H2O

A haloisita é um argilomineral cuja disposição das lâminas e camadas é semelhante a da

caulinita, distinguindo-se desta pela presença de moléculas de água entre as camadas, conforme é
mostrado na figura 8.
Figura 8: Estrutura da haloisita segundo Jackson

A presença das moléculas de água faz com que o espaçamento c da haloisita seja de 10Å, o que
permite diferenciá-la da caulinita. Em solos sujeitos a secas periódicas, a haloisita pode sofrer uma
desidratação irreversível, perdendo a água das entrecamadas, e com isso o espaçamento c cai para 7,4Å.
Na verdade, então, existem dois tipos de haloisita: a haloisita hidratada ou haloisita 10Å, e a haloisita
desidratada ou haloisita 7Å. A diferenciação entre caulinita e haloisita 7Å por difratometria de raios X
(DRX) é difícil, exigindo técnicas especiais.

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É muito freqüente em solos derivados de cinzas vulcânicas, de onde se deriva pela
intemperização de argilas amorfas, como a alofana. Portanto é um mineral de argila pouco comum na
maioria dos solos brasileiros. No Sul do Brasil, tem sido constatada sua presença em alguns solos
derivados de basalto, restrita aos horizontes mais próximos do contato com a rocha, onde os níveis de
umidade são geralmente mais altos.
A CTC da haloisita é um pouco maior do que a da caulinita (em torno de 20 meq/ 100g de
argila), devido a maior ocorrência de substituições isomórficas. Sua forma, ao microscópio eletrônico, é
caracteristicamente tubular (figura 9), mas também existem formas esféricas.

Figura 9. Cristais de haloisita, vistos ao ME.

B-MINERAIS DE ARGILA TRILAMINARES OU DO TIPO 2:1

Nos minerais de argila trilaminares a camada é constituída por duas lâminas de tetraedros de
silício, tendo entre elas uma de octaedro de alumínio (figura 5). No grupo encontram-se minerais que
apresentam expansividade entre as camadas, tais como a montmorilonita e vermiculita, e minerais não
expansivos como as micas e a ilita. A mica, embora seja um mineral primário, apresenta também uma
estrutura em camadas sendo muito similar a ilita. A expansividade dos argilominerais 2:1 é devida ao
caráter mais fraco das ligações entre as camadas, permitindo assim a entrada de água e cátions
internamente.

NÃO EXPANSIVOS

1- MICA E ILITA

FÓRMULA : X0, 75 (Si3,5 Al0,5) (Al1,55 Fe0,2 Mg0,25) O10 (OH)2 H2O
------------------- ------------------------------
Tetraedro octaedro
Da fórmula estrutural mínima da ilita, observa-se que parte das posições centrais dos tetraedros
foi ocupada pelo alumínio, e que parte das posições centrais dos octaedros foi ocupada pelo magnésio e

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pelo ferro. Ocorreu, portanto substituição isomórfica de íons durante o processo de formação da ilita. A
letra X indica presença de cátions, principalmente de potássio, entre as camadas.

A ilita é um mineral de argila que se forma geralmente a partir da hidratação das micas (por isso
é chamada também de mica hidratada), pela perda gradual de potássio da estrutura cristalina, conforme a
reação:
-K
-----------------------
MICA + H2O <-------------------- ILITA
+K

O mecanismo de alteração das micas se dá através da hidratação e abertura dos bordos laterais do
cristal de mica, formando ilita e depois vermiculita, conforme exemplo da figura 10:

Figura 10: Esquema de alteração das micas

A estrutura atômica da ilita assemelha-se à das micas, como a muscovita, conforme é mostrado
na figura 11:

Figura 11: Estrutura da muscovita, mostrando a presença dos íons K nas entrecamadas.

Observa-se que a distância da base de um tetraedro à base do tetraedro da camada contígua, é


fixa. e de 10Å. Como o potássio ocupa determinadas “cavidades” entre as camadas, isto impede a
entrada de água e limita a entrada de outros cátions. Este potássio é um “K-estrutural”. Por esses
motivos a ilita e a mica são considerados minerais “não expansivos”.

A ilita apresenta uma CTC relativamente baixa em relação aos demais argilominerais 2:1, sendo
em torno de 40 meq/100g de argila.

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A ilita ocorre geralmente nos solos mais jovens, principalmente naqueles derivados de rochas
que contenham alto conteúdo de micas, tais como os micaxistos, gnaisses, granitos e algumas rochas
sedimentares. No Brasil a maioria dos solos derivados destas rochas são altamente intemperizados
(velhos), e por isso é pequena a ocorrência de ilita nos solos.

EXPANSIVOS

1- VERMICULITA

As vermiculitas ocorrem principalmente nos solos mais jovens, principalmente nas regiões de
clima temperado, sendo formadas a partir do intemperismo ou alteração hidrotermal de micas. As
vermiculitas podem ser dioctaedrais (apenas 2/3 das posições centrais dos octaedros são ocupadas por
cátions) ou trioctaedrais (todas as posições centrais dos octaedros são ocupadas por cátions). A maioria
das vermiculitas identificadas nos solos são dioctaedrais
A formação da vermiculita se dá num ambiente em que haja uma quantidade significativa de
magnésio no sistema, havendo, pela perda gradativa de potássio na mica, uma ocupação de íons
magnésio hidratados nas entrecamadas do mineral, conforme mostra a figura 12:

Figura 12: Estrutura de uma vermiculita trioctaedral, segundo Jackson

A entrada de íons hidratados nas entrecamadas faz com que a distância entre a base do tetraedro
de Si de uma camada à outra (espaçamento c) não seja fixa neste argilomineral (10 a 15 Â), sendo esta
variação devida ao tipo de cátions presentes nas entrecamadas. Esta característica é que dá a propriedade
de expansividade do argilominearal, e permite diferencia-lo das micas e da ilita. Esta expansividade,
entretanto, é relativamente limitada, devido a alta carga negativa das suas camadas, sendo a vermiculita
menos expansível que a montmorilonita.

A vermiculita apresenta uma alta substituição isomórfica de Si por Al na lâmina tetraedral,


produzindo assim uma deficiência de cargas positivas que é apenas e parte compensada pelo excesso de
cargas positivas na lâmina octaedral. Disso resulta a geração de uma alta carga negativa nas camadas, e,
por conseguinte a sua CTC (capacidade de troca de cátions) é alta, da ordem de 100 a 120 meq/100g de

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argila. Isto faz com que os solos que contenham alta quantidade de vermiculita na fração argila,
retenham maior quantidade de cátions básicos, e com isso a sua fertilidade natural é normalmente alta.

Sua área superficial específica (ASE) também é elevada, da ordem de 600 a 800 m 2/g de argila.
Isto decorre do fato que, além da superfície externa do cristal, a vermiculita apresenta também
superfícies internas, entre camadas, que permitem a adsorção de cátions, água e compostos orgânicos.

Infelizmente a maioria dos solos brasileiros não contém vermiculitas puras, ocorrendo apenas em alguns
poucos solos, mais jovens. Entretanto, um tipo especial de vermiculitas, com polímeros de hidroxi-
alumínio nas entrecamadas, é de ocorrência bastante generalizada nos nossos solos, mesmo nos mais
intemperizados. As características deste tipo de argilomineral serão comentadas adiante.

Vermiculitas puras, provavelmente originadas de alteração hidrotermal, são encontradas no


Brasil na forma de jazidas, sendo então exploradas comercialmente para diversos usos industriais e
agrícolas, tais como isolante térmico, substrato para crescimento de plantas em vasos, etc.

2 - MONTMORILONITA

Figura 13: Estrutura da montmorilonita, segundo Jackson

A montmorilonita é um mineral do tipo 2:1, expansível, cuja estrutura atômica é mostrada na


figura 13:

Observa-se da figura 13 que o mineral é dioctaedral, e que o seu espaçamento c varia de 9,6 a
18Â, sendo, portanto mais expansivo que a vermiculita.

Além disso, os principais cátions presentes nas suas entrecamadas são o cálcio e o sódio,
hidratados, ao invés do magnésio da vermiculita.

A CTC da montmorilonita varia de 40 a 100 meq/100g de argila e, de sua fórmula estrutural,


pode-se concluir que a principal origem das cargas negativas é oriunda da substituição de Al 3+ por Mg2+
nas lâminas octaedrais . Isto faz com que a força de atração dos íons nas entrecamadas seja menor do
que na vermiculita, e, portanto daí o seu caráter mais expansivo.

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O caráter expansivo deste argilomineral permite que, além da água, possam penetrar também
cátions hidratados entre as camadas, tais como Na, K, Ca, Mg. Sua área superficial além da superfície
externa, possui também uma grande superfície interna para adsorção de íons.

A montmorilonita é um mineral de argila característico dos solos mais jovens, pouco evoluídos,
tais como o Brunizens e o Vertissolos. Nos Vertissolos, por exemplo, a montmorilonita é quase sempre
o mineral de argila predominante. Por isso são solos que apresentam propriedades de expansão e
contração da massa do solo muito acentuadas, e formam fendas muito profundas quando secos. O
preparo destes solos é difícil, exigindo um estado de umidade ideal para serem trabalhados. Se muito
seco formam torrões extremamente duros, se muito molhados tendem a ser facilmente compactados e
aderem fortemente ao maquinário agrícola, devido a sua alta plasticidade e pegajosidade.

A montmorilonita se forma nos solos pela intemperização de plagioclásios cálcicos, como a


anortita e a labradorita ou de piroxênios como a augita, desde que o ambiente de intemperização não
seja muito drástico. É o mineral de argila predominante nos solos férteis das regiões de clima mais seco
(semi-árido do Nordeste e Campanha do RS).

Os cristais de montmorilonita, vistos ao microscópio eletrônico, geralmente tem forma irregular,


e suas dimensões são muito reduzidas, normalmente com diâmetro inferior à 0,1 .

C- MINERAIS DE ARGILA DO TIPO 2:1: 1 OU 2:2

1- CLORITA

As cloritas apresentam estruturas do tipo 2:1 semelhante às micas, porém com uma lâmina
adicional de brucita (octaedro de magnésio), formando a seqüência de lâminas exposta na figura 14:

Observa-se que a lâmina de octaedros de magnésio é contínua mas não faz parte da camada 2:1,
formando, portanto uma seqüência que é melhor caracterizada como do tipo 2:1: 1.

O espaçamento c da clorita é fixo e de 14Å, não sendo, portanto um mineral expansível.

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Ocorrem substituições isomórficas de Si4+ por Al3+ nos tetraedros, criando assim cargas
negativas que são compensadas por substituições de Mg2+ por Al3+ ou Fe3+ ao nível dos octaedros na
lâmina de brucita. Disso resulta um balanço final de cargas praticamente nulo nos cristais da clorita, que
por isso apresenta uma CTC muito baixa ou mesmo nula.

As cloritas verdadeiras formam-se geralmente por alteração hidrotermal das micas do tipo
biotita, e não são comuns nos solos. As cloritas de solo originam-se do intemperismo das micas e por
isso apresentam muitas variações em relação ao tipo ideal.

ARGILOMINERAIS 2:1 COM POLÍMEROS DE Al ENTRECAMADAS

Muitas vermiculitas e montmorilonitas podem ter sofrido, após a sua formação, intercalação com
polímeros de hidróxi-alumínio nas entrecamadas. Estes polímeros são hidróxidos de Al, com vários
átomos de Al polimerizados formando uma molécula grande, e apresentam carga positiva. Em
ambientes mais ácidos, estes polímeros penetram nas entrecamadas dos argilominerais 2:1 diminuindo
sua expansividade e reduzindo drasticamente a CTC do mineral original.

Figura 15: Representação simplificada da estrutura dos argilominerais 2:1 com “ilhas” de polímeros de
hidroxi-Al entre camadas.

Diferentemente das cloritas, onde os octaedros de magnésio formam uma lâmina contínua, nestes
argilominerais os polímeros formam como que "ilhas" nas entrecamadas, conforme é esquematicamente
mostrado na figura 15:

Erroneamente, estes argilominerais tem sido denominados na literatura por termos tais como:
clorita aluminosa, clorita secundária, minerais cloritizados, etc.

É possível, utilizando técnicas complexas, identificar as características do mineral original, e


neste caso a denominação mais apropriada seria, por exemplo:

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VERMICULITA COM POLÍMEROS DE HIDRÓXI-Al ENTRECAMADAS
ou
MONTMORILONITA C/ POLÍMEROS DE HIDRÓXI-Al ENTRECAMADAS

Estes argilominerais são bastante comuns nos solos brasileiros, embora ainda sejam pouco
estudados. É possível que sejam responsáveis em parte pelo tamponamento do pH dos solos ácidos, por
fenômenos de retenção de fosfatos (nas cargas positivas dos hidróxidos) e por fenômenos de fixação
parcial de potássio entre as “ilhas” nas entrecamadas. De qualquer forma apresentam expansividade
reduzida e baixa CTC em relação aos seus correspondentes puros.

D-MATERIAL AMORFO

Estes minerais se caracterizam por não apresentar forma perfeitamente definida. São amorfos ao
raio X e a microscopia eletrônica. Não existe, como nos demais minerais de argila, um arranjo
sistemático dos tetraedros de Si e octaedros de Al, que neste caso se dispõe de maneira totalmente
irregular.

As ALOFANAS e a IMOGOLITA são o exemplo típico deste tipo de minerais, que se formam
em solos derivados de cinzas vulcânicas, como os da Cordilheira Andina, ou do Japão.

As alofanas são materiais porosos, de grande área superficial específica e apresentam muitos
compostos de Fe e Mn agregados. Em regiões úmidas, devido a esta alta porosidade, os cátions são
facilmente lixiviados originando solos pobres. Além disso, devido a sua grande área superficial
apresentam alto potencial de fixação de fosfatos.

E - MINERAIS INTERESTRATIFICADOS

Muitos argilominerais que se formam no solo representam produtos parciais de um processo de


síntese e por isso podem apresentar características que são comuns a dois ou mais minerais de argila.
Estes minerais são denominados de INTERESTRATIFICADOS e representam, pois MESCLAS de
vários minerais de argila, tais como:

Micas com vermiculitas, vermiculitas com montmorilonitas, caulinitas com montmorilonitas, etc.
São muito comuns nos solos, mas sua identificação é difícil.

MINERAIS DE ARGILA REAIS, DO SOLO.

Os minerais de argila do solo podem diferir apreciavelmente dos tipos ideais citados
anteriormente. Usualmente apresentam menor ordenamento estrutural e tem dimensões menores do que
os minerais puros.

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Muitos destes argilominerais apresentam-se "capeados" por óxidos de ferro e alumínio no solo, o
que pode diminuir drasticamente as suas propriedades de expansão e contração e também sua
capacidade de troca de cátions. De qualquer forma, os tipos ideais estudados servem como padrões de
referência e correspondem em linhas gerais a uma aproximação daquilo que pode ocorrer no solo.

ÓXIDOS E HIDRÓXIDOS DE FERRO E ALUMÍNIO


A designação "óxido" pode ser atribuída não somente aos óxidos puros, quimicamente falando,
mas também aos hidróxidos e óxidos hidratados em geral. Muitos deles possuem forma cristalina
definida, e outros são amorfos, como veremos a seguir.

ÓXIDOS DE FERRO

O ferro ocorre nas rochas geralmente na forma reduzida (Fe 2+), como constituinte de muitos
minerais primários tais como a biotita, os piroxênios, anfibólios e as olivinas. O intemperismo destes
minerais libera o ferro inicialmente na forma de precipitados amorfos, com alto grau de hidratação (géis
de ferro hidratados). Estes com o passar do tempo podem oxidar-se, perdendo paulatinamente água de
hidratação, até adquirirem forma cristalina definida. Esta reação é exemplificada a seguir:

intemp. - H2O
Fe++ na rocha -------> Géis de Fe++ -------> Fe+++ cristalino
hidratados (hematita, p. ex.)

Característica comum à maioria dos óxidos de ferro é o fato de serem ANFÓTEROS, ou seja,
podem apresentar cargas positivas ou negativas de superfície, dependendo do pH do meio. Em geral, na
faixa normal de pH da maioria dos nossos solos (ácidos), os óxidos de ferro apresentam cargas
POSITIVAS de superfície e por isso constituem-se em sítios importantes de adsorção de ÂNIONS,
notadamente de fósforo nos solos.

Diversas formas de óxidos de ferro podem ocorrer nos solos:

a) HEMATITA:  Fe2O3

Representa a forma oxidada e desidratada do ferro.

A hematita ocorre misturada a várias frações granulométricas do solo, principalmente associada


aos minerais de argila. Os cristais de hematita, vistos ao microscópio eletrônico, apresentam forma
hexagonal, porém são de dimensões muito menores do que os dos minerais de argila.

A estrutura atômica da Hematita é resultante da polimerização de átomos de ferro, coordenado


com 6 (seis) oxidrilas, com o ferro ocupando o centro de cavidades octaedrais.

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Constituí um mineral secundário muito comum nos solos mais intemperizados das regiões
tropicais e subtropicais, desde que sejam bem drenados e não possuam teores muito elevados de matéria
orgânica. Estas condições favorecem uma rápida oxidação, desidratação e cristalização dos géis de ferro
liberados pelo intemperismo das rochas.

A hematita imprime uma coloração tipicamente avermelhada aos solos, mesmo quando ocorre
em pequenas quantidades.

b) GOETITA:  FeOOH

Representa a forma oxidada e hidratada do ferro.

A goethita pura ocorre na forma de cristais com formato acicular (agulhas), com o ferro
ocupando também o centro de cavidades octaedrais. As goethitas de solo geralmente apresentam
formato aproximadamente isodimensional. É o óxido de ferro mais comum na maioria dos nossos solos.

Fatores que favorecem a formação de goethita no solo estão normalmente associados a materiais
de origem pobres em ferro e climas úmidos, onde os solos tenham certa restrição de drenagem,
induzindo a manutenção de um maior tempo de residência da água no solo (a goethita é um óxido
hidratado). Da mesma forma, climas mais frios, por propiciarem maior acúmulo de matéria orgânica,
exercem uma tendência a formação de goethita em detrimento da hematita. Por tal motivo, geralmente
os solos das regiões de altitude são amarelados.

A goethita imprime uma coloração tipicamente brunada ou amarelada aos solos.

A goethita apresenta cargas positivas no pH normal dos solos ácidos, e, além disso, devido ao
menor tamanho dos cristais em comparação com a hematita, tem uma maior A.S.E. e por isso apresenta
uma maior capacidade de absorção de ânions (fosfato, p. ex.).

c) LEPIDOCROCITA:  FeOOH

Constitui um isômero da goethita, sendo sua ocorrência mais restrita às regiões de clima
temperado úmido ou em solos hidromórficos, sujeitos a ciclos alternados de oxidação e redução.

Em ambiente alagado, a maior parte do ferro encontra-se na forma reduzida (Fe+2), quando então
é mais solúvel. Através do aerênquima de plantas adaptadas a condições de hidromorfismo, há
transporte de oxigênio da parte aérea até a zona radicular, criando-se condições locais de oxidação. Parte
de ferro então poderá ali oxidar-se, produzindo a lepidocrocita, que imprime coloração alaranjada em
manchas ao solo.

d) MAGNETITA (Fe304) e MAGHEMITA ( Fe203)

São formas magnéticas dos óxidos de ferro. Ocorrem geralmente como concreções na fração
areia dos solos altamente intemperizados (latossolos) derivados de rochas ricas em ferro, como o basalto

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e o diabásio. Sua ocorrência pode ser constatada a campo por um teste efetuado com imã comum no
material seco e pulverizado. Sua presença serve como indicativo de solos com avançado estágio de
intemperização e, além disso, quando ocorre em grandes quantidades no solo serve como critério de
diferenciação entre os solos da classe Latossolo Vermelho e Latossolo Vermelho férrico a campo.

e) FERRIDRITA

Considerada uma forma oxidada de ferro de baixa cristalinidade. Forma-se geralmente em


ambientes alagados, ou com restrição temporária de água, em determinados “sítios” (locais) do solo
onde ocorre a presença de oxigênio aprisionado, como, por exemplo, ao redor das raízes de plantas que
crescem em banhados ou mesmo em canais de drenagem, onde pode ocorrer oxigênio dissolvido na
água. O Fe reduzido (Fe2+), dissolvido na água destes ambientes, ao encontrar locais com oxigênio, se
oxida, formando a ferridrita, que tem uma cristalização muito pobre. É muito comum sua presença ao
redor das raízes de plantas de banhados ou mesmo do arroz, quando irrigado por inundação, e também
nas “manilhas” e nos canais de drenagem, formando uma “nata ferruginosa”. Quando em altas
quantidades ao redor das raízes do arroz, podem causar “toxidez por excesso de ferro”, ou desequilíbrios
nutricionais devido a dificuldade da planta absorver os demais nutrientes, sintoma este conhecido como
“bronzeamento” do arroz.

ÓXIDOS DE ALUMÍNIO

Os óxidos de alumínio do solo originam-se da decomposição do aluminossilicatos, principais


constituintes da maioria das rochas.

O intemperismo dos aluminossilicatos promove a liberação do alumínio para a solução do solo,


quando então pode sofrer várias transformações. Numa fase inicial, é encontrado na forma de géis
amorfos, como polímeros, com muita água de hidratação, e com o passar do tempo podem adquirir
forma cristalina definida (Gibbsita, p. ex.). Esta reação é exemplificada a seguir:

intemperismo -H2O
Aluminossilicato ------------> Géis de Al ------> Gibbsita
(Amorfos) (Óxido de Al cristalino)

As diversas etapas que envolvem a formação de um óxido de alumínio cristalino, como a


Gibbsita, são, entretanto muito complexas, tendo em vista as diversas reações que podem ocorrer após a
sua liberação dos minerais primários.

Identificam-se basicamente três formas de alumínio nos solos:

- Monômeros de alumínio

- Polímeros de alumínio, amorfos.

- Polímeros de alumínio, cristalinos (Gibbsita).

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MONÔMEROS DE ALUMÍNIO

As formas monoméricas de alumínio, também denominadas trocáveis, são consideradas toxicas


à maioria das culturas e constituem-se, além disso, em fontes de acidificação dos solos. São encontrados
em valores de pH baixo nos solos (<5,5).

O alumínio em solução encontra-se em coordenação octaédrica, rodeado por seis


moléculas de água, conforme representado a seguir:

Fórmula:[ Al (H2O)6] 3+

Com o aumento do pH o alumínio pode hidroxilar-se, diminuindo suas cargas positivas,


conforme as reações:

Al(H2O)3+6 + OH- -------> Al(OH)5(H2O)2+ + H+


<-------

Al(OH)5(H2O)2+ + OH- -------> Al2(OH)4(H2O)+ + H+


<-------

Al(OH)4(H2O)+ + OH- -------> Al(OH)3(H2O)o + H+


<------- Pouco solúvel -precipita-

Estas formas são denominadas de parcialmente hidroxiladas e quando o pH atinge a faixa dos 5,5
o alumínio precipita, passando para uma forma insolúvel onde deixa de ser tóxico.

É importante ressaltar que as formas monoméricas do Al estão em equilíbrio com as demais


formas presentes no solo, sendo as únicas consideradas tóxicas para as plantas. Os polímeros amorfos, e
a Gibbsita, pelo grande tamanho das suas moléculas, não são absorvidos pelos vegetais.

POLÍMEROS DE ALUMÍNIO, AMORFOS.

Algumas formas parcialmente hidroxiladas do alumínio, dependendo de certas condições do


meio, podem POLIMERIZAR-SE, sendo este processo maior quanto maior for a carga superficial do
monômero. A polimerização consiste na união de várias moléculas de alumínio parcialmente
hidroxilado formando conjuntos maiores, em forma de anéis com 6, 12, 18 ou mais íons alumínio.

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Polimerização
Exemplo: 6[Al(OH)2(H2O)4]+ --------------> Al6(OH)12 6+ . (H2O)4

Uma representação esquemática da molécula é mostrada na figura a seguir:

Observa-se que o polímero amorfo, neste caso com 6 átomos de alumínio, apresenta carga
POSITIVA, e portanto poderá ser atraído pela carga negativa do mineral de argila e ao mesmo tempo
adsorver ÂNIONS.
Estes polímeros se caracterizam por serem amorfos ao Raio X, e por apresentarem carga
superficial positiva. Muitas destas formas encontram-se formando complexos com a matéria orgânica
do solo ou ficam intercaladas entre lâminas de certos minerais de argila, como foi visto
anteriormente. Nas determinações normais dos teores de alumínio no solo estas formas não são
detectadas, e por isso na sua maior parte não são consideradas formas trocáveis. Por outro lado não são
identificadas como formas tóxicas do alumínio. Apesar disso, exercem efeitos muito importantes no
tamponamento do pH dos solos, e na adsorção de ânions.

POLÍMEROS DE ALUMÍNIO, CRISTALINOS.

Os polímeros de alumínio podem com o passar do tempo e das condições do meio, adquirir uma
forma cristalina definida, formando, por exemplo, a Gibbsita. A seqüência de reações necessárias para a
formação de um oxido de alumínio como a Gibbsita, envolvem o aumento da cadeia de átomos de
alumínio, com polímeros de 6, 10, 24 e mais anéis de alumínio, havendo redução paulatina da carga
positiva por átomo de alumínio, até se chegar a uma situação de neutralidade, após um longo período de
"amadurecimento" do óxido. Estas reações são mostradas na figura a seguir:

POLÍMEROS AMORFOS POLÍMERO


CRISTALINO
(GIBBSITA)

45
Al6(0H)126+  Al10(0H)228+  Al24(0H)6012+  n[Al(0H)3]
.12 H20 .16 H20 .24 H20
(1+/Al) (0,8+/Al) (0,5+/Al) (0+/Al)

Figura: Polimerização dos íons hidroxi-alumínio até formar um polímero cristalino, como a
Gibbsita.

A GIBSITA é um óxido de alumínio encontrado na fração argila de diversos solos altamente


intemperizados das regiões tropicais. Nas condições tropicais, onde as precipitações pluviométricas são
altas e a temperatura média é também alta, ocorre intensa lavagem da sílica liberada durante a
intemperização dos minerais primários, criando condições favoráveis à precipitação do alumínio na
forma de Gibsita. Em solos do Brasil Central, particularmente nas áreas de Cerrado, a Gibbsita é
geralmente o óxido de alumínio predominante, sendo que as formas trocáveis (monômeros) ocorrem em
baixos teores.

Em solos ácidos da região Sul do Brasil ocorre pouca Gibbsita. Por outro lado, são altos os teores
de alumínio trocável e, às vezes, alta também a quantidade de polímeros amorfos.

Estas diferenças têm sido explicadas em função da intensidade das reações de intemperismo nas
duas regiões. Na região Sul o grau de intemperização dos solos parece ter sido comparativamente menor
que nos solos do Brasil Central, e por isso a lavagem da sílica foi menos acentuada, criando condições
mais favoráveis para que a sílica e o alumínio se combinassem para formar minerais de argila, como a
caulinita. No Brasil Central, devido a lavagem da sílica ter sido mais intensa, pela maior intensidade do
intemperismo, formou-se ambiente mais propício à precipitação do alumínio na forma de Gibbsita.

BIBLIOGRAFIA CITADA E CONSULTADA:

1. GEOLOGIA GERAL
Viktor Leinz & Sérgio Estanislau do Amaral. Cia. Editora Nacional, 1978.

2. QUÍMICA DE SUELOS. CON ÊNFASIS EN SUELOS DE AMERICA LATINA. Hans Fassbender.


Instituto Interamericano de Ciências Agrícolas de La OEA, 1975.

46
3. CHEMISTRY OF THE SOIL, CAPÍTULO: CHEMICAL COMPOSITION OF SOILS, de M. L.
Jackson, 1964.

4. MANUAL DE EDAFOLOGIA Edmar J. Kiehl, Ed Agronômica Ceres, 1978.

5. Apostila do Curso de Pós Graduação em Solos da UFRGS, disciplina de Química do Solo. Nestor
Kampf.

47
ARGILOMINERAIS 1:1

Formados pelo empilhamento sucessivo de camadas compostas por l lâmina de tretraedros de


Silício e 1 lâmina de octaedros de Alumínio.

D. SERPENTINA

Trioctaedral, octaedros ocupados por Mg, Fe e Al


Dimensões maiores do que os da fração argila
Rara nos solos
Rochas ultrabásicas  intemperizam direto para esmectitas

E. CAULINITA

Dioctaedral (2/3 ocatedros ocupados por Al)


Espaçamento basal fixo (~7,2Å) – não entra água nem cátions entrecamadas
Ligações entrecamadas por pontes de H, ou eletrostática, segundo alguns autores

Caulinitas de solo: empilhamento desordenado das camadas (> desordem estrutural)


(resulta picos mais largos, assimétricos e menos intensos à DRX)

Propriedades químicas: carga permanente ou dependente do pH?

CTC citada: 3 – 15 meq/100g


CTC real: 1 – 8 meq/100g (permanente)

1 substit. de Si por Al para cada 400 tetraedros pode gerar 2 meq CTC

Dúvidas CTC: impurezas na análise, presença interestratificados 1:1 + 2:1

Ormsby et al (1962): CTC f ASE 1,7 ±0,54 meq/100g (fração 44-10)


4,17 ±0,35 meq/100g (fração 0,5-0,25)

Arestas tem carga variável: pH baixo predominam cargas positivas (Si-OHH+)

Identificação:

ME: Morfologia em placas hexagonais, por desgaste elípticas ou circulares

DRX:
1 - lâmina orientada (favorece deposição paralela das placas, e consequentemente, expressa melhor
medida do espaçamento c)

48
d 001 = 7,15Å (intensidade 100%)
d 002 = 3,56Å (intensidade 70%)
2 - pó
d 001 = 7,15Å
d 002 = 3,56Å
d 020 = 4,46 Å

Caulinitas desordendas: d 020 > d 001

Ocorrência:
Argilomineral dominante na maioria dos solos das regiões tropicais e subtropicais
Climas quentes e úmidos favorece
Forma-se a partir da alteração de vários tipos de minerais (micas, feldspatos, olivinas,
piroxênios, plagioclásios, etc)

Condições favoráveis à formação:


Lixiviação intensa de bases, pH baixo, dessilicação parcial (perda Si)
 monossialitização

HALOISITA

Mesma camada básica 1:1, com 2 modificações principais:

A – Forma pouco hidratada, similar à caulinita, com espaçamento basal


~7,4Å
B – Forma hidratada, c/ 2 moléculas de água por unidade de fórmula,
com espaçamento basal de 10Å
forma instável, desidratando irreversivelmente p/ 7,4Å

Propriedades químicas:

CTC citada: 10-20 meq/100g


CTC real: 9-10 meq/100g

Identificação:

ME: Haloisitas 7 e 10Å são tubulares ou esféricas


Caulinitas – placas hexagonais

DRX: difícil diferenciar da caulinita de haloisita na forma 7Å

1- Caulinita ordenada (boa cristalinidade):


Picos 7,2 e 3,6Å maiores que pico 4,46Å
Haloisita 7Å:

49
Pico 4,46 maior que 7,2 e 3,6, estes largos e assimétricos
2 – Caulinita desordenada (baixa cristalinidade):
Picos 7,2 e 3,6 podem ser = ou menores que 4,46, confundindo com
haloisita 7Å

Testes com compostos orgânicos: Formamida e Hidrazina

Haloisitas 7Å normalmente expandem a 10-12Å


Caulinitas desordenadas de solo não expandem

Ocorrência:
Alteração de vidros vulcânicos e feldspatos – solos de cinzas vulcânicas
Pouco frequente em solos do Sul doBrasil:
Horiz. C e Cr de alguns solos de Basalto no RS e SC
Solos da Campanha RS basalto
Solos de fonolito de Lages(?)

5. ARGILOMINERAIS 2:1

Diferenciam-se entre si por:

- Tipo e grau de substituição isomórfica


- Tipo de íons hidratados, polímeros ou lâminas nas entrecamadas
- Espaçamento entrecamadas

PIROFILITA e TALCO

Pirofilita : dioctaedral – tetraedros só contém Si


2/3 dos octaedros contém Al
Produto da alteração hidrotermal de feldspatos

Talco : trioctaedral – tetraedros contém Si


Octaedros (3/3) contém Mg
Produto alteração rochas ultrabásicas em altas temperaturas

Em ambos:

Carga líquida resultante é NULA


Não tem cátions entrecamadas
Não tem expansividade (espaçamento c fixo: 9,2/9,3Å)

50
Ligação entre as camadas por forças eletrostáticas e van der Waals
Usados como minerais MODÊLO

MICAS
Camada 2:1 similar ao talco e pirofilita
25% de Substituição Isomórfica de Si por Al nos tetraedros
resulta alta carga negativa na camada (x=1,0 = carga máxima
comparada aos demais argilominerais 2:1)

Alta carga negativa é compensada por cátions alcalinos (K+) nas entrecamadas.
Espaçamento c é fixo em torno de 10Å

Pode haver substituição parcial de Al por Mg, Fe e Mn nos octaedros


(>na biotita)

Micas dioctaedrais: Muscovita (~10% K20)

Micas trioctaedrais: Biotita (~7% K20)

Biotitas intemperizam mais facilmente que Muscovitas:

Atração do K na entrecamada da Biotita é menor do que na Muscovita, devido a maior repulsão do H da


oxidrila ligada ao octaedro, que aponta na direção do K da entrecamada. Na muscovita o H da oxidrila está
orientado na direção do octaedro vago, havendo menor repulsão e maior atração do K.

Tanto Biotitas como Muscovitas podem alterar-se produzindo micas dioctaedrais no solo (Ilitas).

Micas da fração argila (ILITAS)

São quase sempre dioctaedrais

Tem aproximadamente 25% menos de K que as micas puras

CTC 10-15 meq/100g


Literatura: 20-40 meq/100g (presença interestratificados ilita-esmectita ou
ilita-vermiculita)

Identificação: na fração argila do solo


DRX: picos à 10 (maior) e ~5,0Å que não se modificam por aquecimento ou
tratamentos de expansão

51
Ocorrência:
Comum em solos derivados de granitos e rochas sedimentares pelíticas

Em SC: Rio do Sul, Pouso Redondo, Lages em pequenas quantidades.

Intemperismo das Micas:


+Mg
Mica + H20  Ilita + K+  Vermiculita + K+
-K -K

Micas da fração argila (ilitas) liberam muito pouco K

VERMICULITA

Camadas 2:1 similares às das Micas, porém com muito pouco K e maior quantidade de
cátions hidratados nas entrecamadas.

Vermiculitas podem ser: Dioctaedrais (derivadas de Muscovitas)


Trioctaedrais (derivadas de Biotitas e Flogopitas)

Trioctaedral é mais conhecida (cristais macroscópicos, jazidas), porém


menos frequente nos solos.
Em solos predominam as dioctaedrais, cristais pequenos, mais difícil isolar e
estudar.

Composição e propriedades químicas: depende da mica da qual se origina

São diferentes das micas porque carga na camada é menor

Micas x= -1,0 Vermiculitas= -0,6/-0,9

Alta substituição isomórfica nos tetraedros (Si4+ por Al3+)


Menor nos octaedros (Mg2+ por Fe3+) cria carga positiva

Resulta ainda alta carga líquida negativa na camada, por isso

52
CTC = 80 –200 meq/100g

Altíssima ASE: varia de 500 a 700 m2/g (Área externa + áreas internas, nas
entrecamadas – sítios de adsorção)

Cátions entrecamadas : principalmente Mg hidratado


(Ca, Na, K em baixa proporção)

Expansividade:
Espaçamento c varia de 10-15Å, dependendo do cátion entrecamadas
e grau de hidratação.

Menor expansividade que Esmectitas: maior energia de ligação do Mg


nas entrecamadas, devido à maior proximidade desse cátion com a carga negativa
de origem tetraedral.

Identificação:
DRX Sat. Argila com K, seca ao ar: c=10Å
Sat. Argila com Mg, seca ao ar: c~ 14Å
Sat com Mg+Glicerol, seca ao ar: c= 15Å
Origem e Ocorrência:

Sempre alteração de Micas, por isso somente presente em solos derivados de


rochas ou sedimentos contendo Micas (Granitos, Gnaisses, Xistos e Rochas
Sedimentares Pelíticas).
Incomum, portanto em solos de basalto e outras rochas básicas.

Não é comum em solos brasileiros, na forma pura. Tem sido encontrada em


solos de gnaisse do Semi-Árido NE.

A maioria encontrada nos solos tem polímeros de hidroxi-Al entrecamadas


(vide)  diminui CTC e expansividade

ESMECTITAS

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Estrutura em camadas 2:1 similar às Micas e Vermiculitas, porém com menor
carga negativa nas camadas.

F. Mica x=-1 Ilita x= -0,7/-0,9 Vermiculita x= -0,6/-0,9 Esmectita x=-0,2/-0,6

Porquê CTC ilita < CTC vermic/esmect.?

Esmectitas de solo são dioctaedrais

3 tipos no solo: Montmorilonita, Beidelita e Nontronita

Composição e propriedades químicas:

Montmorilonita:
Substituição de Si4+ por Al3+ nos tetraedros é menor que na Vermiculita
Substituição de Fe3+ por Mg2+ ou Fe2+ gera maior carga negativa nas lâminas
octaedrais. Disso resulta:

CTC= 70-130 meq/100g (menor que vermiculitas)

Maior Expansividade (10-20Å): menor atração dos cátions


Entrecamadas devido maior distância à carga negativa nos octaedros.

Cátions entrecamadas: principalmente Ca e Na hidratados


(Vermiculita é Mg)

Beidelita e Nontronita: subst. Parcial de Si por Al nos tetraedros


Beidelita: 2/3 octaedros com Al
Nontronita: predomina Fe3+ octaedral
Propriedades:

Alta ASE (500-700 m2/g)


Solos com predomínio de Montmorilonitas são altamente expansíveis
(Racham quando sêcos)
Alta plasticidade e pegajosidade
Más propriedades físicas:
Compactam-se com facilidade
Argila dispersa facilmente (>suscept. Erosão, apesar argilosos)

54
Difícil preparo do solo (faixa de umidade muito estreita)
muito molhado – difícil arar e gradear
Muito sêco – torrões grandes
Slickenside/microrelevo Gilgai

Formação e Ocorrência:

Solos pouco intemperizados, jovens, principalmente derivados de rochas


básicas (Brunizéns, Vertissolos, alguns Planossolos, Gleis, Litólicos e Cambissolos).
No vertissolo é argilomineral dominante.

Esmectitas formam-se a partir da alteração de feldspatos, olivinas,


piroxênios, anfibólios e plagioclásios, em ambientes com baixo fluxo lixiviante,
garantindo manutenção de cátions básicos, alto pH e baixa lixiviação de silício,
favorecendo  bissialitização

Comum em solos pouco intemperizados da Campanha do RS, em solos jovens de


Encostas Basálticas, e em solos do Semi-Árido NE (solos mais férteis).

VERMICULITA E ESMECTITA COM POLÍMEROS HIDROXI-


ENTRECAMADAS

Incluem-se nesse grupo argilominerais de camada 2:1 com “núcleos” de polímeros de hidroxi-Al
disseminados entre as camadas.

Polímeros de hidroxi-Al são “amorfos”, constituídos por hidróxidos de Alumínio polimerizados,


formando moléculas com pequeno grau de ordenamento estrutural (amorfos), de dimensões menores, p.
ex., do que cristais de Gibbsita, mas com alta carga positiva.

Frequentemente identificados em solos de regiões tropicais e subtropicais, em proporções as vêzes bem


expressivas (5-20% dos argilominerais da fração argila)

Argilominerais 2:1 puros não são comuns em solos mais intemperizados


 termodinâmicamente instáveis

55
Em condições de intemperismo ácido, há grande liberação de Al, que pode assumir formas
trocáveis (monômeros) ou polimerizar formando moléculas maiores  Por sua carga positiva,
polímeros podem penetrar nas entrecamadas de argilominerais 2:1, neutralizando grande parte da
suas cargas negativas.

Argilominerais 2:1 com polímeros entrecamadas, após formados, têm alta estabilidade
termodinâmica, persistindo junto com caulinita.

 Bloqueio da carga negativa pelos polímeros, reduz drásticamente CTC e


expansividade em relação aos correspondentes puros.

 Dependendo da quantidade, e do grau de intercalação das entrecamadas com


polímeros, entretanto, podem aumentar significativamente a CTC e expansividade quando
comparados à um solos essencialmente caulinítico.

 Vide maior CTC dos Latossolos subtropicais


 Vide alta capacidade de contração/expansão dos mesmos.

Identificação:

DRX  Ambos por picos em torno de 14Å (Mg) que não contraem totalmente a 10Å
(11-12Å) qdo. Amostra saturada com K é aquecida a 350 ºC, e tampouco expandem após adição
de glicerol (Verniculita pura expande para 15/15,5 e esmectita expande para 17/18Å.

Diferenças com Cloritas puras:


Cloritas tem lâmina octaedral contínua (e não “ilhas” de polímeros) nas entrecamadas.
Cloritas tem pico a 14Å que não contrai ou expande com tratamento
Para identificar origem (Vermiculita ou Esmectita):
Remover polímeros de Al com solução de citrato de sódio.
Saturar amostras separadas, com K e Mg:
Aquecer amostras com K e verificar quanto contrai
Adicionar Glicerol ou etileno glicol na amostra sat. c/ Mg:
Expansão a 15/15,5Å  Vermiculita
Expansão a 17/18Å  Esmectita

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Propriedades destes argilominerais:
1 – Maior CTC na fração argila (menos que as formas puras)
2 – Maior expansividade?
3 – Maior retenção de K entrecamadas?
4 – Maior capacidade de fixar P (nos polímeros)?
5 – Aumenta capacidade de tamponamento de acidez do solo
(maior exigência de calcário)?

CLORITAS
Camada 2:1 com lâmina adicional de octaedros de Al (lâmina gibbsita) ou de Mg (lâmina
brucita)  por isso 2:1:1

2 tipos:  Clorita Aluminosa (lâmina adicional gibbsita)


 Clorita Magnesiana (lâmina adicional brucita)
Características:
Carga negativa na lâmina tetraedral (subst. de Si p/ Al) é compensada por excesso de
carga positiva na octaedral (Mg p/ Al, p. ex.)
 Carga líquida no cristal é NULA ou muito baixa
(CTC nula ou muito baixa)

Não é comum nos solos brasileiros, com raras exceções.

57
RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DOS PRINCIPAIS ARGILOMINERAIS

Estrutura Comportamento Espaç C Ao Entre camadas SI CTC ASE


cmolc/100g m2/g
CAULINITA Si4 Al4 O10 (OH)8
1:1 NÃO Exp 7.24 2.74 Si – Al tetra 3-15 7-30
HALOISITA Si4 Al4 O10 (OH)8. 4H2O
1:1 Expansiva 10,25 hidrat 7,4 desidr Si – Al tetra 20

Estrutura Comport Espaç C Entre camadas SI CTC ASE


o
A cmolc/100g m2/g
ILITA X0,75 (Si3,5 Al0,5) (Al1,55 Fe0,2 Mg0,25) O10 (OH)2.H2O
2:1 NÃO 10 Si – Al tetra 10-40 65-
Expansiva 100
VERMICULITA [Mg (H2O) 6] n/2 (Mg Fe++)3 (Si4-n Aln) O10 (OH)2)
2:1 Expansiva 10 K-15 variável Si – Al tetra 100-150 600-
Mg 800
MONTMORILONITA (Na x (Al 2-x Mgx) (Si4) O10 (OH)2)
2:1 Expansiva 10 K-20 variável Al – Fe++ 80-150 600-
+++
Mg Fe octa 800
CLORITA [Al Mg2 (OH)6] (Mg3) (Si3 Al) O10 (OH)2
2:1:1 NÃO 14 Si – Al tetra nula-baixa
Expansiva

58
6. COR DO SOLO

A cor do solo é uma das características mais fáceis de serem percebidas a olho nu. Sendo nesse
motivo utilizada para caracterizar, identificar e classificar solos.

A cor do solo é resultante da interação da radiação solar com as partículas orgânicas ou minerais
do solo, sendo influenciada também pelo conteúdo de umidade da amostra. Quanto maior o conteúdo de
água no solo, maior será a absorção da luz incidente sobre a amostra, que passa a adquirir uma
tonalidade mais escura.

A cor do solo é usada como critério indireto para avaliar as condições de drenagem interna,
estimar o conteúdo de matéria orgânica e para inferir sobre as possíveis formas de óxido de ferro
presentes. Além disso, é usada também para classificar o solo dentro de um sistema taxonômico. Na
classificação brasileira, várias classes de solo são qualificadas em função da cor como pôr exemplo:
podzólico vermelho-amarelo, brunizém, latossolo vermelho escuro, bruno não Cálcico, etc.

Principais agentes responsáveis pela cor

Os agentes responsáveis pela impressão da cor no solo são pigmentos existentes no mesmo, sendo
os mais importantes; óxidos de ferro e a matéria orgânica.

Solos arenosos geralmente são pobres em ferro e matéria orgânica. A ausência ou pouca
quantidade desses pigmentos faz com que tais solos tenham cor clara, conseqüência da excessiva
quantidade de grãos de quartzo presentes.

Já os solos argilosos possuem maior quantidade de óxidos de ferro e matéria orgânica, sendo pôr
isso mais pigmentados.

A matéria orgânica tende a imprimir uma coloração escura ao solo, sendo este efeito maior, quanto
maior for a quantidade de matéria orgânica presente. Os óxidos de ferro podem imprimir colorações
desde amarelas, brunadas, avermelhadas ou pretas até certos horizontes ou camadas do mesmo,
dependendo da forma (goethita, hematita, magnetita) em que ocorrem no solo.

Durante muito tempo, vários livros texto de solo disseminaram a idéia de que os solos seriam tanto
mais vermelhos quanto maior fosse o teor (quantidade) de ferro. Presentemente, sabe-se que é a forma
do(s) óxido(s) que determinam a cor. Solos com altos e muitos baixos teores de ferro podem ser
amarelados, vermelhos ou brunados.

Informações gerais dadas pela cor

Cores claras ou esbranquiçadas - Cores claras são típicas no horizonte A de solos pobres em
matéria orgânica e arenosos, devido as altas quantidade de quartzo presentes. Podem também ocorrer no

59
horizonte superficial E de certos tipos de solo tais como os podzois e os planossolos, cuja seqüência
respectivamente, é: A/E/Bh e A/E/Bt. Cores esbranquiçadas podem ser devida a presença de caulim
(mineral de argila= caulinita), ou carbonatos; nestes casos tais cores ocorrem normalmente em
horizontes mais profundos, ou na própria rocha.

Cores escuras - indicam normalmente a presença de altas quantidades de matéria orgânicas,


sendo essas características no horizonte A. Em certos solos, entretanto, podem ocorrer horizontes
escuros subsuperficiais, tais como no horizonte Bh dos solos da classe podzol, segundo a seguinte
seqüência: A (escuro) / E (claro) / Bh (escuro). Deposições de óxido de manganês sobre superfície de
agregados estruturais também podem formar manchas escuras, as quais são facilmente distinguida da
matéria orgânica à campo utilizando-se teste com água oxigenada 30 volumes (deposições de Mn
causam fervilhamento rápido e intenso durante o teste, o que não ocorre com a matéria orgânica).

Cores amareladas ou brunadas (marrom) - são devidas ao predomínio de óxido de ferro na


forma de Goethita no solo, sendo normalmente indicativas de uma condição de drenagem durante a
formação do solo, provocando uma oxidação lenta do ferro liberando nas reações de intemperismo.
Comumente tais cores são mais típicas no horizonte B ou C do solo; no horizonte A esta cor fica
mascarada pelo efeito pigmentante escuro da matéria orgânica.

Cores Avermelhadas - são devidas a presença de expressiva quantidade de óxidos de ferro na


forma de Hematita (lembra hemoglobina, pigmento que da cor vermelha ao sangue), Sendo indicativa
de uma condição de boa drenagem do solo. Mesmo quando ocorre em proporção ligeiramente inferior à
goethita, a hematita já colore o solo fortemente de vermelho, devido a seu maior poder de pigmentação.
Solos ricos em ferro na forma de hematita apresentam-se vermelhos mesmo nos horizontes superficiais
ricos em matéria orgânica, mascarando sua quantidade.

Cores Vermelho-Amareladas - são indicativas da presença de misturas de óxidos de ferro na


forma de hematita e goethita.

Cores acinzentadas - são cores típicas de horizontes ou camadas de solos que sofreram processos
de gleização. Ocorrem em ambientes encharcados com estagnação de água, nos quais os óxidos de ferro
são solubilizados através de processos de redução (Fe3+  Fe2+), sendo parcial ou totalmente removidos
do sistema, restando as cores acinzentadas das frações argila, silte ou areia, isentas ou com muito
pequena quantidade de óxidos . Cores acinzentadas são indicativas por tanto de condições de má
drenagem do solo.

Cores mosqueadas ou variegadas- ocorrem na forma de “manchas” amareladas ou vermelhas


normalmente numa matriz acinzentada, ou “manchas” avermelhadas numa matriz amarelada, sendo
indicativas de uma condição de estagnação temporária de água em algum horizonte ou camada do perfil
do solo. As cores mosqueadas ou variegadas ocorrem devido a oscilação do lençol freático; no período
de enxarcamento temporário o ferro sofre redução, migrando em solução para “zonas”onde existe
oxigênio, sendo ali reoxidado e repreciptado na forma de óxidos (quando na forma de hematita produz
manchas vermelhas e quando na forma de goethita produz manchas amarelas). Nestes casos se pode
perceber em alguma parte do perfil manchas acinzentadas, de onde os óxidos de ferro foram
solubilizados .

60
Determinação da Cor do Solo

A cor do solo é determinada numa Tabela de Cores, de uso universal, denomida Carta de cores
Munsell para solos (munsell Soil Color Chart) através dos somatórios dos seguintes componentes:

MATIZ VALOR CROMA

O MATIZ, refere-se ao nome da cor e é obtido através de diferentes proporções de misturas de


vermelho com amarelo.
O matiz está representado na porção superior direita da carta de cores por símbolos, e varia de 10R
(red=vermelho) até o 5Y (yellow=amrelo) .
Por exemplo: o 5R representa 100% de vermelho e 0% de amarelo; o 5Y indica 100% de amarelo
e 0% de vermelho; o 7,5Y idica 37,5% de vermelho e 62,5% de amarelo.

O valor se refere ao brilho ou tonalidade da cor, e varia normalmente de 2 eté 8. Esta tonalidade é
obtida por diferentes proporções de misturas de branco com preto em cada matiz. O valor 2 por exemplo
indica 20% de branco com 80% de preto.
O valor cresce de baixo para cima na carta e está situado na margem esquerda de cada “página”
(matiz) da carta.

O croma reflete a intensidade ou pureza da cor, e refere-se a contribuição de matiz na cor. Varia
normalmente de 0 até 8, crescendo da esquerda para a direita na margem da página interior da carta.
Na página seguinte veja um exemplo de uma „pagina‟da carta, para o matiz 5,0 YR:

A cor do solo deve sempre ser anotada:

-Nos estados úmido e seco para os horizontes A, E, AB, e BA..


-Pelo menos no estado úmido para os de mais horizontes.

As determinações nos estados úmido e seco nos horizontes superficiais e transicionais tem por
obbjetivo permitir posteriormente a classificação do horizonte diagnóstico de superfície do solo, para
finalidade de classificação do solo num sistema taxônomico.

A sequência dos parametros de cor determinados na carta é sempre a seguinte: Matiz, valor e
croma, usando-se a seguinte notação (exemplo):
2,5YR 3 / 4
Matiz valor croma

61
62
7. ESTRUTURA DO SOLO

INTRODUÇÃO

A estrutura do solo refere-se ao modo como estão arranjadas as partículas individuais do solo
(areia + silte + argila + húmus), formando unidades maiores com forma, tamanho e grau de resistência a
raptura diferenciados, conforme o tipo de solo, horizonte ou sistema de manejo empregado.

É uma característica extremamente importante do ponto de vista agrícola, uma vez que vários
processos físicos, químicos e biológicos são direta e indiretamente afetada pela mesma.

DEFINIÇÕES

A estrutura do solo comporta uma série de definições.

“Refere-se a aglutinação e arranjamento das partículas solidas do solo em unidades compostas,


separadas entre si por planos de fraqueza”.

“Conjunto resultante da agregação das partículas sólidas do solo em unidades maiores, com
formas definidas”.

“União das partículas sólidas do solo formando agregados ou unidades estruturais”.

Mais importante que uma definição precisa da estrutura, é compreender que a mesma é resultante
da aglutinação das partículas unitárias minerais do solo, juntamente com a matéria orgânica. Nesta
aglutinação interagem processos físicos, químicos, físico-químicos e biológicos através dos quais se
formam os agregados de partículas, com formas e tamanhos definidos, as quais comportando-se como
porções individualizadas, independentes, são também chamadas unidades estruturais.

Enquanto TEXTURA é uma característica estável do solo, que depende fundamentalmente das
características do material originário (todo solo franco argilo arenoso terá sempre esta mesma classe
textutural), a ESTRUTURA do solo é uma característica dinâmica, isto é, alterável pelas práticas de
uso agrícola e manejo dado ao solo.

É importante não confundir estrutura (na forma de agregados ou unidades estruturais) com
torrões e fragmentos de terra.
Torrões ou fragmentos referem-se a um volume qualquer de terra retirado de um determinado local
através do uso de uma pá, picareta ou arado, onde a forma e tamanho da unidade retirada é artificializada
pelo equipamento utilizado. Já a estrutura, apresenta os agregados separados entre si por planos
naturais de fraqueza.

AVALIAÇÃO DA ESTRUTURA À CAMPO


No campo, a avaliação da estrutura pode ser utilizada com a finalizada prática de observar a
qualidade estrutural do solo, se está bem agregado ou mais solto, se as unidades estruturais tem

63
tamanho apropriado, se o solo está sofrendo encrostamento superficial, se está muito compacto, ou se
está fofo e arejado para proporcionar um bom ambiente para a planta.

Podemos avaliar também a estrutura do solo no campo descrevendo todos os seus atributos, para
cada horizonte do perfil, de forma a permitir a classificação do solo dentro de um sistema taxonômico.
Neste sentido, uma das alternativas mais comuns durante a descrição, é a de retirar um bloco de terra de
cada horizonte, com o solo ligeiramente mais seco do que úmido, e procurar separar os e agregados
estruturais vagarosamente segundo os seus planos naturais de fraqueza, até se chegar a uma
individualização das unidades estruturais onde não é mais possível separar a unidade sem “quebrar” o
agregado.

A menor unidade estrutural, para cada tipo de estrutura, que preserva suas características naturais,
é denominada de PED.
A este tipo de avaliação denominamos de macroestrutura, uma vez cada unidade comporta ainda
arranjamentos de unidades internas que configuram a microestrutura.
Na avaliação da macro estrutura, após a individualização das unidades estruturais, define-se a
forma, tamanho e grau de desenvolvimento.

64
CLASSIFICAÇÃO DA ESTRUTURA

1-QUANTO A FORMA

TIPO FORMA APARÊNCIA OCORRÊNCIA


Granular Grânulos (esférica, horizonte A1 e Ap
pouco porosa)

Grumosa Grânulos (esférica, idem,


muito porosa) particularmente em
solos ricos em
MO/férteis

Laminar Laminar Horizonte C


Horizontes compact.
Rochas sedim. Alt.

Blocos Angulares Forma Cúbica Típica do horizonte


B.

Blocos Forma Cúbica Típica do horizonte


Subangulares (vértices + B também podendo
arredondados) ocorrer no A, em
solos mal manej.

Prismática Prismas Horizonte Bg, de


(paralelepípedos) solo mal drenado.

Colunar Colunas Horizonte Bg, de


solo mal drenado
com excesso de
sódio.

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QUANTO AO GRAU DE DESENVOLVIMENTO

O grau de desenvolvimento refere-se ao grau de eficiência com que as partículas estão unidas
formando os agregados. Podem estar soltas, fraca, mediante mediante ou fortemente unidas entre si.
Desta forma distingue-se duas situações que são caracterizadas como de ausência de estrutura : num
primeiro caso quando as partículas primárias individuais estão totalmente soltas, não formando
agregados; neste caso é referida como grãos simples (caso de horizonte E arenosos, ou áreas de dunas);
num segundo caso, quando ocorre uma aglutinação geral de todo o material, de tal forma a não tornar
possível individualizar partes, sendo então denominado maciço ou massivo.

A avaliação do grau de desenvolvimento da estrutura é feita verificando-se sua estabilidade e


resistência ao manuseio, quando manipulada entre as mãos, conforme a proporção de material que
permanece agregado e as porções que ficam soltas (desagregadas).

Em ordem crescente de agregação, tem-se os seguintes graus de desenvolvimento.

GRÃOS SIMPLES: ausência de estrutura, pôr falta de agregação. O material não tem coerência,
é solto. Exemplo do horizonte A de areias quartzozas, horizontes E arenosos, e horizontes A arenoso
Podzólicos abrúpticos.
FRACA: partículas pouco agregadas, com unidades estruturais pouco definidas, e planos de
fraqueza dificilmente delimitados.
Ao manusear-se o solo, observa-se pequena quantidade de unidade estruturais intactas, sendo a maioria
da terra desfeita. Exemplo no horizonte A de Podzólicos de textura média tendendo a arenosa, com
pouca matéria orgânica.

MODERADA: Unidades estruturais melhor formadas e individualizadas, porém não podem ser
facilmente nem totalmente destacáveis umas das outras. Ao serem manuseadas, muitas unidades
estruturais apresentam-se bem individualizadas e resistentes, enquanto que outras apresentam-se
desfeitas. São típicas do horizonte B de certos solos mais argilosos, porém com baixa CTC.

FORTE: Alta coesão interna dos agregados estruturais, com planos de separação bem definidos
entre os mesmos. Forma bem definida e unidades bem individualizadas; praticamente não ocorre
material desagregado. Ë comum na estrutura grumosa do horizonte A, na estrutura em blocos no
horizonte B argiloso de solos com CTC alta (argilominerais 2:1), bem como em brunizéns e terras roxas
estruturadas. Ocorre também na estrutura prismática do horizonte B de solos com excesso de sódio.

MACIÇA: apresenta uma coerência uniforme de todo o material constitutivo do solo, formando
uma “massa” homogênea, sem chegar a formar agregados estruturais individualizados. Típica do
horizonte C argiloso de solos mal drenados (de baixada), podendo ocorrer também em horizontes
compactados.

QUANTO AO TAMANHO

Dependendo do tipo as unidades estruturais apresentam dimensões que variam de 1 a 100mm.

Assim, pôr exemplo, a estrutura granular comporta 5 classes de tamanho:

66
Muito pequena: Agregados < 1mm
Pequena: Agregados entre 1 e 2mm
Média: Agregados entre 2 e 5mm
Grande: Agregados entre 5 e 10mm
Muito grande: Agregados > 50mm

A estrutura em blocos comporta também 5 classes de tamanho, com limites diferentes de


diâmetro:

Muito Pequena: Agregados < 5mm


Pequena: Agregados com 5 a10mm
Média: Agregados com 10 a 20mm
Grande: Agregados com 20 a 50mm
Muito Grande: Agregados > 50mm

Todas estas características são avaliadas no campo, empregando-se com material básico o Manual
de Descrição e Coleta do Solo no campo, editado pela sociedade brasileira de ciências do solo
(LEMOS & SANTOS, 1884).

AVALIAÇÃO DE ESTRUTURA EM LABORATÓRIO

A avaliação de estrutura em laboratório é feita usualmente utilizando-se procedimentos mecânicos


de peneiramento a seco ou peneiramento com o silo molhado. Todos estes métodos são artificiais, e
buscam, de certa forma avaliar certos aspectos da qualidade estrutural do solo. O princípio destes
métodos é de que, para uma boa qualidade os agregados devem apresentar tamanho suficientemente
grande para resistir ao transporte e estabilidade suficiente para resistir a desagregação pelos
implementos ou pelo impacto das gotas de chuva.

O método do peneiramento a seco consiste em agitar uma determinada porção de terra seca, com
peso inicial conhecido, num conjunto de peneiras com diâmetro de malha diferentes. O peneiramento
molhado consiste em introduzir uma porção de solo úmido num conjunto de peneiras, que são
mergulhadas numa “banheira” com água, e agitadas lentamente num movimento
ascendente/descendente. Ao final, cada fração de agregados retido em cada malha é pesado, calculando-
se a proporção de diâmetros para cada fração em relação ao total, bem como a quantidade de terra
desfeita. Embora seja um método artificial, permite avaliar, principalmente para um
mesmo tipo de solo, diferenças na qualidade estrutural eventualmente existentes em diferentes sistemas
de manejo ou preparo do solo.

IMPORTÂNCIA DA ESTRTURA

A estrutura é um dos fatores essenciais ao desenvolvimento das plantas. Podemos sem dúvidas
afirmar que, se o pH é um termômetro das condições químicas do solo, a estrutura é o termômetro das
condições físicas.

Assim, solo mal estruturado é solo fisicamente degradado.

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A estrutura influi direta ou indiretamente em muitas propriedades do solo, que afetam o
desenvolvimento das plantas:

a) Influi na penetração e desenvolvimento de raízes;


b) Na drenagem do excesso de água e na adequada retenção da umidade;
c) Numa aeração eficiente, importante não só para o desenvolvimento das raízes como também
para os organismos vivos do solo;
d) Na resistência do solo à erosão, hídrica ou eólica;
e) Na resistência ao trabalho mecânico;
f) Na disponibilidade e mobilidade dos nutrientes, etc.
Quais as características desejáveis de uma boa estrutura?

1) Deve permitir uma drenagem eficiente do excesso de água para o interior do solo, retendo em
contrapartida uma quantidade suficiente de água nos micro poros (armazenamento)
2) Deve permitir uma aeração eficiente no solo, ou seja, garantir uma boa quantidade de poros
grandes (macroporos).
3) Facilitar a penetração do sistema radicular, o que também é garantido pela presença de uma
quantidade adequada de macroporos.
4) Ter agregados suficientemente estáveis, para resistir ao impacto dos agentes desagregadores
(chuva ou implementos).
5) Ter uma percentagem maior de agregados de tamanhos grandes para resistirem ao transporte
pela água ou pelo vento.
6) Possuírem forma adequada para facilitarem o trabalho mecânico.
Qual então a melhor estrutura do ponto de vista agrícola?

Quanto a forma, a melhor estrutura é a do tipo granular, seja granular propriamente dita, ou
grumosa, uma vez que é uma estrutura cujo o arranjo das unidades estruturais propcia um menor
número de ponto de contato entre os agregados, e com isso é a que garante uma maior porosidade
total.

Entre as unidades estruturais, ou seja, entre um grânulo e outro, ocorrem os poros grandes
(macroporos), responsáveis pela drenagem do excesso de água e pela aeração do sistema solo. Como a
estrutura granular a a que geralmente tem a maior porosidade interna, na forma de microporos, também
possui boa capacidade de armazenamento de água. É nestes poros internos do grânulo que as raízes
secundárias penetram em busca de água e nutrientes .

Além da forma granular, é importante que os agregados estruturais possuam tamanho


suficientemente grandes, da ordem de 2 a 5 mm para manter uma adequada porosidade e de certa forma
serem mais resistentes ao transporte pela enxurrada. Pôr outro lado é importante salientar que do ponto
de vista da capacidade de resistência ao transporte, grânulos maiores do que o limite citado são mais
eficientes.

68
GÊNESE DA ESTRUTURA

A gênese dos agregados estruturais do solo envolve uma sequência de pelo menos duas etapas:

1ª etapa: aproximação entre as partículas individuais do solo. Esta etapa do processo é


viabilizada pelo pisoteio dos animais, pelo crescimento das raízes, pela movimentação dos componentes da
fauna e pelos ciclos de umedecimento e secamento do solo, que promovem expansão e contração da massa
do solo. A aproximação é influenciada também pelos processos de floculação dos colóides, ou seja pela
aglomeração de partículas de argilominerais e óxidos de ferro devido a presença de cargas negativas e
positivas interagindo com os íons presentes no solo.

2ª etapa: formação dos agregados em si. Não basta que as partículas estejam aglomeradas, é
necessário que existam substâncias que promovam uma adequada cimentação entre elas, de tal forma a
permitir a manutenção de agregados suficientemente estabilizados. Esta etapa é garantida pela presença de
substâncias cimentantes, sejam de origem mineral ou orgânica.

FATORES E AGENTES RESPONSÁVEIS PELA AGLOMERAÇÃO E CIMENTAÇÃO DAS


PARTÍCULAS E FORMAÇÃO DOS AGREGADOS ESTRUTURAIS

ARGILA: A presença da argila por si só é um fator de aglomeração entre as partículas. A argila


forma "pontes" entre os grãos maiores do solo, promovendo sua cimentação. A agregação cresce
normalmente em função do teor de argila do solo. Solos arenosos possuem fraca agregação, devido a falta
de componentes com comportamento coloidal.

CÁTIONS TROCÁVEIS: A presença de cátions trocáveis influencia diretamente os


processos de dispersão e floculação dos colóides. Cátions que promovam maior floculação dos colóides
favorecem os processos de agregação, embora a floculação em si não seja sinônimo de boa agregação.
Al3+, Ca2+, Mg2+ constituem, nesta sequência, os cátions mais importantes na floculação dos colóides. Isto
quer dizer, por exemplo, que mesmo nos solos ácidos, ricos em matéria orgânica e alumínio trocável, o
alumínio participa muito eficazmente no processo de floculação dos colóides, mais do que o cálcio e o
magnésio.
Isto tem implicações práticas muito importantes, visto que o calcário, quando aplicado
em doses muito altas em solos excessivamente ácidos, pode diminuir o estado de agregação das partículas,
podendo em certos casos causar aumento na dispersão. Existem alguns resultados de pesquisa mostrando
que o aumento da argila dispersa em água provocado pela calagem pode causar deterioração na qualidade
estrutural do solo, visto que esta argila, mais livre (dispersa), pode migrar mais facilmente obstruindo poros
maiores na camada superficial.
Na maioria dos casos, entretanto, a calagem propicia melhoria na qualidade estrutural,
visto que, em eliminando os efeitos tóxicos do alumínio, propicia melhor desenvolvimento das plantas, o
que se reflete em aumento na taxa de reposição dos resíduos orgânicos, que quando incorporados ou
mantidos na superfície do solo, após serem decompostos pelos microorganismos, fornecem maior
quantidade de substâncias cimentantes, que agem favoravelmente na estabilização dos agregados
estruturais.

69
Altas concentrações de sódio, ao contrário, favorecem grande dispersão das argilas,
promovendo degradação da qualidade estrutural do solo. Exemplo disso são os solos Sódicos (Solonetz e
Solonetz Solodizado), que apresentam estruturação muito pobre.
Já os solos Salinos normalmente apresentam boa estruturação, visto que os sais são
importantes agentes floculantes do solo.

ÓXIDOS DE FERRO - Os óxidos de ferro são importantes agentes estabilizadores


dos agregados estruturais. A deposição de óxidos de ferro sôbre a superfície das argilas floculadas causam
uma cimentação muito eficiente dos agregados, mas sua participação é mais efetiva apenas na formação de
microagregados. Latossolos aergilosos, particularmente, apresentam alta estabilidade estrutural (alto grau
de floculação), devido a cimentação exercida pelos óxidos de ferro. Os microagregados, nestes solos, estão
fortemente cimentados, funcionando como se fossem “graos de areia”, tornando estes solos porosos e
permeáveis. Apesar da alta estabilidade, seus agregados podem não apresentar tamanhos suficientemente
grandes para resistir à fenômenos de transporte por ação da água, tornando tais solos bastante susceptíveis á
erosão hídrica.

CICLOS DE UMEDECIMENTO E SECAMENTO - O umedecimento da


massa do solo geralmente provoca expansão das unidades estruturais, ou dos próprios argilominerais, pela
entrada de moléculas de água nas entrecamadas de minerais expansíveis (2:1). Estes efeitos são
particularmente importantes em solos argilosos. Durante o secamento, a massa do solo se contrai,
promovendo a formação dos planos naturais de fraqueza (clivagem) entre os agregados estruturais. São
portanto importantes agentes responsáveis pela formação de macroporos, poros maiores normalmente
situados entre os agregados estruturais.

ÁGUA - A água é um fator essencial na formação dos agregados, seja por promover a
expansão antes referida, como também pode atuar negativamente causando dispersão e desagregação das
partículas, promovendo a erosão. Em solos de clima temperado, durante o inverno, o congelamento dos
horizontes superficiais do solo pode promover uma expansão da massa do solo (a água ao congelar aumenta
em cerca de 1/10 o seu volume), que ao secar aumenta a estabilidade dos agregados. Isto tem efeitos
práticos importantes pois promove uma auto-granulação natural do solo. Em climas tropicais este fenômeno
não se verifica, e como a energia dos processos erosivos é maior, isto faz com que o manejo da matéria
orgânica se torne mais importante na estabilização dos agregados estruturais do solo.

MATÉRIA ORGÂNICA
A matéria orgânica é um dos fatores mais importantes na estabilização dos agregados, podendo
sua participação influenciar nesta de diferentes maneiras:

AÇÃO DOS MICROORGANISMOS


A flora microbiana do solo participa ativamente nos processos de agregação, através da
presença dos fungos, bactérias e actinomicetos.

70
Efeito direto: após a incorporação da matéria orgânica ao solo, inicia-se o processo de
decomposição pelos microorganismos. A proliferação dos fungos atua na agregação de maneira direta, pois
sua extensa rede de hifas e micélios envolve as partículas ou agregados estruturais do solo, conforme é
mostrado na figura a seguir:

A duração deste efeito, entretanto, pode ser pequena, pois na medida em que vai
diminuindo a quantidade de substratos orgânicos, outros microorganismos, particularmente as bactérias,
decompõem as cadeias carbônicas das hifas e micélios, utilizando-as como fonte de energia, minimizando
os efeitos antes referidos. Isto quer dizer que, para que os efeitos dos fungos na agregação sejam
significativos, é necessária a adição frequente de resíduos orgânicos.

Efeito indireto: os efeitos mais importantes dos microorganismos na agregação são indiretos.
Durante a decomposição da matéria orgânica pelos microorganismos, são sintetizados vários compostos
orgânicos, alguns dêles muito eficazes na agregação das partículas, principalmente polissacarídeos. Tais
compostos também são referidos como mucilagens, constituindo-se nos mais importantes agentes de
estabilização dos agregados em solos onde a taxa de adição de resíduos orgânicos seja alta. Da
mesma forma que os fungos, o efeito destes polissacarídeos é temporário, pois estes compostos, sendo de
fácil decomposição podem ser novamente reutilizados pelos microorganismos como fontes de energia. Em
sistemas de plantio direto, onde os resíduos são mantidos sôbre a superfície do solo, este efeito pode ser
mais duradouro, visto que o material orgânico vai sendo decomposto mais lentamente, sempre liberando
mucilagens. O húmus também participa dos processos de agregação de forma bastante efetiva, e seu efeito
é mais duradouro, visto que se constitui numa fração do material orgânico muito resistente à decomposição
pelos microorganismos.

AÇÃO DA FAUNA
A fauna do solo, representada principalmente pelos cupins, formigas e minhocas, afeta a estrutura
de várias maneiras. Em primeiro lugar, por atuar na trituração prévia da matéria orgânica, facilitando sua
decomposição pelos microorganismos. Em segundo lugar, porquê sua movimentação no solo promove a
formação de canais e galerias, que aumentam a quantidade de poros grandes no solo. Particularmente no
tocante às minhocas, estas ingerem terra junto com restos vegetais, que ao passarem através do trato
digestivo, sofrem transformações importantes. As fezes das minhocas são mais ricas em nutrientes, em
carbono e tem CTC mais alta que o solo ao redor, visto que no tubo digestivo das minhocas existe uma flora
microbiana muito rica, que decompõe parcialmente a matéria orgânica, liberando nutrientes, que são apenas

71
em parte aproveitados pela mesma. Tais propriedades das minhocas tem sido aproveitadas pelos
agricultores para a produção do chamado "húmus" de minhoca.
Em sistemas de cultivo mínimo e plantio direto, onde os restos vegetais são deixados
sôbre a superfície do solo na forma de cobertura morta, tem-se observado um desenvolvimento muito
intenso dos componentes da fauna, principalmente das minhocas e roedores, cujos efeitos sôbre a melhoria
da estrutura tem sido expressivos, notadamente com relação às minhocas.

AÇÃO DAS RAÍZES

As raízes ao se desenvolverem no solo, promovem compressão das partículas e dos


agregados estruturais, aumentando a sua estabilidade. Além disso, após sua morte, formam canais
importantes para a passagem de água, aumentando também a porosidade do solo.

72
ESTABILIDADE DE AGREGADOS
INTRODUÇÃO
Qualquer determinação da distribuição de tamanho dos agregados é também, de certa
maneira, uma determinação da estabilidade de agregados. A razão disto é que alguma força é necessária
para desintegrar a massa do solo em agregados, e os agregados, ainda intactos, são aqueles em que as
partículas primárias apresentam uma coesão suficientemente forte para serem estáveis contra a força
aplicada. As forças envolvidas em estudos de estabilidade e tamanho de agregados, são geralmente, (1)
forças de impacto e cisalhamento aplicadas na coleta e preparo das amostras, (2) forças de impacto e
abrasivas a tamizagem e/ou (3) forças envolvidas no processo de entrada de água nos agregados.
Estas forças podem em geral serem relacionadas ao (1) cultivo, (2) erosão (água e vento) e
(3) umedecimento do solo. Apesar que as forças usadas em laboratório possam simular aquelas que
ocorrem no campo, não se pode dizer que as forças usadas no laboratório sejam uma repetição do que
ocorre no campo. Consequentemente, a relação entre as distribuições dos tamanhos de agregados no
campo e no laboratório é empírica. Reconhecendo o empirismo envolvido em relacionar o tamanho de
agregados ao fenômeno de campo, muitos pesquisadores decidiram usar em lugar da distribuição do
tamanho de agregados, a estabilidade de agregados como um índice de estrutura do solo no campo. As
bases para estas decisões tem sido (1) que um procedimento muito mais simples, envolvendo apenas um
tamanho de agregados, pode ser usado nas análises de estabilidade, (2) que os resultados da análise de
estabilidade são altamente correlacionadas com o fenômeno de campo, ou (3) que a habilidade dos
agregados em resistirem a ação das forças, ação continuada ou crescente, é importante para a solução do
problemas em estudo.
A ocorrência de poros grandes (macroporos) no solo favorecem uma alta capacidade de
infiltração e uma adequada aeração para o crescimento das plantas. Imediatamente após o cultivo, a
maioria dos solos contém uma abundância destes poros grandes. A permanência dos mesmos depende
da estabilidade dos torrões e agregados. Diversos fatores podem ter influência na desintegração do
material.
Na determinação da estabilidade dos agregados, quantidades conhecidas de um
determinado tamanho (ou tamanhos) de agregados são comumente obtidas. Os agregados são
submetidos às forças desintegradoras destinadas a simular algum fenômeno importante que ocorre no
campo. A extensão da desintegração é medida pela determinação da porção (em massa) dos agregados

73
que são desfeitos em agregados ou partículas primárias menores que um determinado tamanho
previamente selecionado. Esta determinação é feita por tamizagem ou sedimentação. Como as forças de
interesse variam desde a erosão eólica ao rompimento do agregado pelo umdedecimento, não há um tipo
de força desintegradora que possa ser recomendada para todos os objetivos.

PRINCIPIOS:
Desintegração dos agregados pela água:
O fluxo da água sobre a superfície do solo proporciona a energia pela qual as partículas
individuais e grupos de partículas podem ser destacadas e transportadas. As partículas sólidas na água,
em movimento, proporcionam uma ação abrasiva que muito auxilia no efeito desintegrador da água.
Muito menos óbvia do que a ação descrita, mas provavelmente de maior significância em
muitos casos, são as diversas maneiras em que a água promove a desintegração dos agregados.
Quando do umedecimento dos agregados pela água, muitas das substâncias cimentantes se
tornam fracas, mais flexíveis ou elásticas, e na realidade se dissolvem em alguns casos. Isto enfraquece
o agregado, que pode se desfazer pela gravidade e pelo peso do material que o sobrepõem.
A água entre as superfícies minerais muito próximas tem energia livre menor do que a
água livre. Consequentemente, a água tende a ter mais movimento entre as superfícies minerais. A
entrada de água entre as partículas provoca afastamento. Isto pode resultar no rompimento de alguns ou
todos os ligamentos que mantém as partículas formando agregados, e em conseqüência desintegram o
agregado. No processo de umedecimento, um lado do agregado pode se umedecer e expandir (dilatar)
enquanto o outro lado pode permanecer ainda seco. Esta dilatação causa, às vezes, fraturas
imediatamente atrás da frente de umedecimento, enfraquecendo o agregado.
Quando o ar é preso dentro do agregado durante o umedecimento, ocorre a compressão do
mesmo a medida que a água entra no agregado por capilaridade. No momento em que a estrutura se
torna suficientemente fraca pelo umedecimento ocorre a expansão aparentemente explosiva do ar,
causando a desintegração do agregado. Estas explosões em miniatura causam a maior porção de
desintegração dos agregados na superfície do solo quando o mesmo é inundado e são, desta maneira,
amplamente responsáveis pela ocorrência de crostas na superfície. O material do solo, abaixo da
superfície, umedece-se lentamente de um lado e sob tensão e, consequentemente, há muito pouco
aprisionamento de ar envolvido no umedecimento dos agregados na massa do solo.

74
Seleção da Força Desintegradora:

Quando o objetivo do trabalho é o de investigar a resistência do solo à erosão pela água, as


forças envolvidas no campo podem ser simuladas em parte pela aplicação de forças abrasivas para
umedecer a amostra em laboratório. A tamizagem sob água por tempos sucessivamente longos foi
utilizada por RUSSEL & FENG (1947) para determinar a resistência dos agregados à abrasão
continuada. Eles usaram um método de umedecimento por imersão para simular as forças
desintegradoras encontradas em condições de inundação e erosão laminar. No caso de erosão em sulcos
o umedecimento das camadas adjacentes à superfície seria sob tensão. Umedecimento a vácuo ou sob
tensão pode ser mais aplicável se a erosão em sulcos está sendo estudada.

A erosão do solo pelo vento ocorre quando o solo seco, por esta razão, para simular o
fenômeno de campo, os estudos de laboratório são feitos com solo seco. CHEPIL (1958) mostrou que a
estabilidade mecânica dos agregados ou torrões secos é um bom índice da habilidade dos solos em
resistirem a erosão eólica. A estabilidade mecânica do solo contra a abrasão pela ação do vento pode ser
determinada pela tamizagem continuada da amostra, com avaliação do tamanho dos agregados
periodicamente.
Quando se deseja investigar a formação de crostas superficiais, as técnicas de laboratório
podem proporcionar a que entrem em jogo o efeito do ar aprisionado na desintegração dos agregados
sob umedecimento rápido. Este meio de integração dos agregados é sabido ser um fator importante na
formação de crostas superficiais. A imersão direta do solo seco, seguida da tamizagem sob água,
proporcionariam uma combinação razoável de técnicas de laboratório para simular forças importantes
envolvidas no fenômeno do campo. A técnica do umedecimento sob vácuo não permitiria que o ar
aprisionado viesse a desempenhar um papel importante na desintegração dos agregados. Se o impacto da
gota da chuva é considerado na desintegração dos agregados da superfície sob condições de campo, um
método de umedecimento em que se simula a chuva é desejável.
Como colocado na introdução, o tipo mais comum de desintegração de agregados em
solos cultivados ocorre no seio da massa do solo como desmantelamento durante o primeiro
umedecimento após o cultivo. Este umedecimento ocorre sob tensão, e por isso, umedecendo a amostra
sob tensão pareceria ser o melhor método de umedecimento do solo para simular as forças envolvidas no
tipo mais comum de desintegração de agregados. Entretanto, o umedecimento sob tensão é um processo

75
que consome muito tempo e, quando este método de umedecimento é usado, os resultados das análises
de estabilidade dos agregados não são, às vezes, suficientemente reproduzíveis (KEMPER & KOCH,
1965). O umedecimento sob vácuo, com água livre de ar evita o aprisionamento de bolhas de ar dentro
do agregado. Com umedecimento sob vácuo tem-se conseguido resultados mais reproduzíveis do que
com umedecimento sob tensão. Os resultados são altamente correlacionados e apresentam quase os
mesmos valores médios que aqueles obtidos quando os agregados são umedecidos sob tensão. Os
resultados são altamente correlacionados e apresentam quase que os mesmos valores médios, e aqueles
obtidos quando os agregados são umedecidos sob tensão. Com base com que discutimos e em razão da
importância e ocorrência comum da desintegração quando os agregados estão sendo umedecidos sob
tensão sugere-se o uso do método de umedecimento sob vácuo.

Correção para a Areia

As partículas mais grosseiras da fração areia tem de ser diferenciadas dos agregados se
estimativas significantes da estabilidade dos agregados desejam ser obtidas. Melhores correlações entre
estabilidade de agregados e argila, matéria orgânica, etc.; são obtidas, e desvios padrão mais baixos
ocorrem quando a areia maior que 0,2 mm (60 mesh) não é considerada como agregados. O
procedimento padrão para calcular a percentagem de estabilidade de agregados é o seguinte:

% E.A.= 100 [(peso agregados + areia)] - (peso areia)]/


peso da amostra - peso da areia

Desde que somente as partículas de areia, de tamanho maior que 0,25 mm, são retiradas na
peneira no procedimento que vamos seguir, termo "areia" na equação acima se refere às partículas de
areia maior que 0,25 mm.
O procedimento para determinação do peso da areia envolve o re-uso do material que resta
sobre a peneira após a tamizagem sob água. Após ter sido determinado o peso seco deste material,
coloca-se novamente sobre a peneira para tamizagem sob solução dispersante. O hexametafosfato de
sódio é muito efetivo na substituição do Ca++ pelo Na+ em solos inicialmente saturados com Ca++. A
maioria dos solos saturados com Ca++ dispersam completamente quando tratados por 5 minutos.
Somente a areia maior que 0,25 mm resta sobre a peneira após a dispersão completa do material. O

76
hidróxido de sódio é um bom agente dispersante em solos que contenham grandes quantidades de íon
hidrogênio.

REFERENCIA:

CHEPIL, W.S. 1958. Soil conditions thest influence wind erosion. U.S. Dept. Agriculture
Tech. bull. 1985.

KEMPER, W.D. 1965. Aggregate stability. In: BLACK, C.A. Methods of soil analysis -
Part 1 - Madison, Wisc., ASA, p. 511-515.

KEMPER, W.D. & KOCH, E.J. 1965. Aggregate stability of soils from the western
portions of the United and Canada. U.S. Dept. Agriculture Tech. Bull (in process).
RUSSEL, M.B. & FENG, C.L. 1947. Characterization of the stability of soil aggregates.
Soil Science, Baltimore, Md. 63 ( ): 299-304.

77
TEXTURA

A observação atenta de uma porção de solo revela que este tem partículas sólidas de
tamanho variável.
O termo textura, em ciência de solo, refere-se a “proporção relativa dos diversos grupos
de partículas sólidas do solo, distribuídas pôr classe de tamanho”.
Basicamente, refere-se a porção de areia, silte e argila existente numa amostra de solo,
que poderão configurar uma textura arenosa, franco-argilosa, muito argilosa, etc.
A textura depende da proporção dos constituintes mineralógicos presentes, e este pôr sua
vez irão refletir as características do material originário do solo. Exemplo: solo de textura arenosa são
normalmente derivados de rochas ou sedimentos inconsolidados de origem arenosa; solo argilosos
podem ter sido desenvolvidos de rochas sedimentares de granulação fina (argilitos), ou formados pôr
intemperismo de minerais primários pouco resistentes gerando grande quantidade de argilominerais e
óxidos.
Constata-se portanto, que a textura é uma característica inata e instável do solo, não se
alterando mais ao longo do tempo.
A denominação atribuída aos vários de tamanho das partículas sólidas varia ligeiramente
conforme a classificação utilizada, sendo as mais comuns as seguintes:

1. INTERNACIONAL (ATTERBERG)
AREIA GROSSA
AREIA FINA
SILTE
ARGILA

2. USDA
AREIA MUITO GROSSA
AREIA GROSSA
AREIA MÉDIA
AREIA FINA
AREIA MUITO FINA

78
SILTE
ARGILA

3. BRASILEIRA
AREIA GROSSA: 2,0 - 0,2 mm
AREIA FINA: 0,2 - 0,05 mm
SILTE: 0,05 - 0,002 mm
ARGILA:
0,002 mm

As demais frações granulométricas do solo com seus respectivos intervalo de diâmetro são os seguintes:

CASCALHO : 2 - 20 mm
CALHAUS: 20 - 100 mm

MÉTODOS DE DETERMINAÇÃO DA TEXTURA E CLASSES TEXTURAIS


1. NO CAMPO

Consiste em umedecer uma amostra de solo e ir trabalhando-a entre os dedos, verificando a sensação
que a amostra oferece ao tato, em termos de aspereza, sedosidade ou plasticidade, conforme indicado no
quadro abaixo:

FRAÇÃO GRANULOMÉTRICA
Diametro de DE PARTÍCULAS (mm)

SENSAÇÃO AO TATO
AREIA
SILTE
ARGILA

ASPEREZA. Não tem plasticidade ou pegajosidade, quando molhada; apresenta-se como GRÃOS

79
SIMPLES quando seca.
SEDOSIDADE (talco). ligeiramente plástica mas não pegajosa, quando molhada.
SEDOSIDADE. Plástica e pegajosa quando molhada.

O grande problema neste tipo de avaliação é que as partículas encontram-se misturadas,


havendo portanto um confundimento das sensações, o que dificulta a estimativa da proporção de cada
fração. Neste caso, é necessário que o operador já tenha uma boa experiência de campo, e/ou que tenha
realizado treinamento com amostras de composição granulométrica bastante variável. Outro aspecto
importante, é que muitos solos apresentam agregados estruturais muito pequenos que não se desfasem
facilmente pelo manuseio da amostra entre os dedos, e pôr isso dão impressão de areia. Neste caso, é
necessário símbolo 34 \f "MS LineDraw" \s 12
Trabalhar a amostra pôr mais tempo até que sejam desfeitos.

Uma classificação SIMPLIFICADA da textura, que é normalmente utilizada nos trabalhos de campo,
para fins de classificação de solo, é a seguinte:

Textura Arenosa: mais de 85% de areia e menos de 15% de argila


Textura Média: 15 a 35% de argila
Textura Argilosa: 35 a 60% de argila
Textura Muito Argilosa: mais de 60% de argila

MASCARAMENTO DA TEXTURA
Existem muitos fatores que causam o mascaramento da textura do solo nas avaliações de
campo, e que podem levar a uma interpretação errônea da classe textural do solo, dentre eles:
o teor de matéria orgânica: a matéria orgânica tende a tornar os solos argilosos menos
plásticos e pegajosos, o que embora seja uma característica desejável do ponto de vista agrícola, pôr
outro lado dá impressão de que o solo tenha menos argila do que realmente possui.

já em solos arenosos, a matéria orgânica tende a aumentar ligeiramente a característica de


plasticidade e pegajosidade, podendo imprimir uma sensação de que o solo seja mais argiloso.
o tipo de argilomineral: solos com argilominerais 2:1 são naturalmente mais plásticos e

80
pegajosos do que aqueles com predomínio de caulinita. Comparando-se, pôr exemplo, dois solos com
mesmo teor de argila (40%), o solo com montmorilonita parecerá mais argiloso do que o caulinítico.
a estrutura do solo: alguns solos, em particular os latossolos, apresentam agregados
granulares fortemente desenvolvidos, e principalmente quando secos, se não forem intensamente
manuseados, darão a impressão que o solo tem muita areia, pois os agregados não se desfazem
facilmente.
a proporção areia grossa e fina: em solos com teores de argila maiores ou iguais a 40%, é
mais difícil perceber a sensação da areia fina ou muito fina, conduzindo a interpretação que o solo é
mais argiloso; ao contrário, quando ocorre areia grossa ou muito grossa, a sensação da areia é
geralmente supervalorizada, dando impressão de um solo com muita areia.

NO LABORATÓRIO
Os métodos mais comumente utilizados para se proceder a análise granulométrica no
laboratório são a contagem microscópica, o peneiramento mecânico e os métodos baseados na
velocidade de sedimentação das partículas.
Os métodos da contagem microscópica é pouco utilizado, devido ao fato de ser muito
demorado e trabalhoso, e ineficiente na separação de partículas com diâmetro inferior a 0,2 micra.

PENEIRAMENTO MECÂNICO
O peneiramneto mecânico é utilizado para a separação de frações com diâmetro maior do que o do silte (
símbolo 62 \f "MS LineDraw" \s 12
0,05mm), sendo normalmente utilizado para a separação das frações areia e cascalho do solo.
Uma das peneiras comerciais mais utilizadas é a de 0,053mm, que separa a fração areia das frações silte
e argila.
Para a separação de frações com diâmetro inferior ao da areia, outros métodos são necessários.

MÉTODOS BASEADOS NA VELOCIDADE DE SEDIMENTAÇÃO DAS PARTÍCULAS

Os métodos para a separação do silte e da argila mais comumente empregados baseia-se na lei de
Stokes, que permite determinar a velocidade de sedimentação de partículas num meio líquido e também
o tempo em que ocorre a sedimentação de partículas num meio líquido e também o tempo em que ocorre

81
esta sedimentação. A formulação utilizada para estes cálculos é a seguinte:

t(seg) =
incorporar Equation.2
Vi = viscosidade da água (=0,01010 poises)
h = altura da queda da partícula, em cm
dp = densidade das partículas (2,65 g/cm3)
da = densidade da água (1 g/cm3)
g = aceleração da gravidade (980 cm/s2)
r = raio da partícula consolidada, em cm

O princípio evolutivo nesta determinação é o de que partículas de areia, silte e argila, após terem sido
totalmente individualizadas e colocadas numa proveta ou frasco vertical, começarão a sedimentar no
fundo do frasco em tempos definidos, as maiores sedimentando rapidamente, e as menores levando mais
tempo.

Assim para uma partícula de diâmetro de 0,002mm (limite entre o silte e a argila) e estipulando-se uma
altura de 10 cm apartir da superfície da proveta esta partícula levará aproximadamente 8 horas para
percorrer esta distância; do mesmo modo, no tempo de 8 horas, todas as partículas com diâmetro
maiores do que 0,002mm já terão ultrapassados a marca dos 10 cm ficando somente a argila nos 10 cm
superficiais (vide figura a seguir).

FIGURA

No exato tempo de 8 horas, se introduzirmos vagarosamente uma pipeta na marca dos 10 cm, o volume
da suspensão retirada, conterá somente argila, que poderá ser seca em estufa, pesada em balança
analítica e calculada a percentagem de argila contida na amostra total. Procedimento semelhante poderá
ser utilizado para a determinação de outras frações granulométricas. Este método é conhecido como
MÉTODO INTERNACIONAL DA PIPETA, sendo considerado muito preciso e adotado
principalmente em trabalhos de pesquisa.

82
Com base no mesmo princípio exposto anteriormente, é possível estimar com bastante precisão a
quantidade de determinadas frações granulométricas do solo, utilizando-se medidas da densidade da
suspensão a tempos definidos.

Boyoucus, em 1924, desenvolveu um densímetro especial para análises granulométricas de solos, que é
graduado para medidas de concentração de 0 a 50 g/l. Quanto maior é a concentração de determinadas
frações na suspensão, maior resistência este oferecerão a descida do bulbo do densímetro, e portanto
maior será a leitura medida. Para a determinação da argila, pôr exemplo, usa-se um tempo de 2 horas
para fazer a leitura do teor de argila, e de 40s para a determinação dos teores de silte + argila (neste caso
toda a fração areia já terá sedimentado no fundo do frasco). Este método é conhecido como MÉTODO
DO DENSÍMETRO ou MÉTODO DE BOYOUCUS, sendo o mais utilizado na maioria dos laboratório
do Brasil, pôr sua participasse e boa precisão.

Fatores que influenciam os resultados da análise granulométrica

Para que se tenha resultados confiáveis durante a determinação das frações granulométricas do solo,
particularmente das frações silte e argila, é necessário reduzir ao mínimo a influência de uma série de
fatores que interferem na determinação da textura.

Dois aspectos são fundamentais: individualizar as partículas, e em seguida promover uma adequada
dispersão da amostra de solo.

Individualizar as partículas significa separar as partículas em unidades individuais, considerando que


partículas unitárias de argila, silte e areia encontram-se normalmente unidas, formando agregados. Esta
etapa normalmente é conseguida agitando-se a amostra de solo junto com uma bola de acrílico, ou
agitando-se com uma quantidade conhecida de areia. O entrechoque mecânico das partículas provoca a
separação das mesmas. Se esta etapa não for adequadamente conduzida, durante a separação da areia já
se observará a presença de alguns agregados de partículas não desfeitas no fundo da peneira, causando
superestimação da fração areia.

Promover a dispersão da amostra significa manter as frações mais finas, com comportamento coloidal,

83
dispersas numa fase aquosa. Isto é particularmente importante na correta determinação da fração argila
do solo.

As partículas de argila, após individualizadas, poderão novamente agrupar-se em solução, formando


flóculos, devido a existência de cargas elétricas e íons adsorvidos na sua superfície. Neste caso, os
flóculos poderão comportar-se como partículas mais pesadas, e sedimentar junto com a fração silte,
promovendo uma superestimação deste e uma subestimação do valor real de argila do solo. Para evitar
isso, utiliza-se uma substância DISPERSANTE, que normalmente é uma solução de NaOH 1N ou
hexametafosfato de sódio.

A adição da solução de hidróxido de sódio eleva o pH da solução a valores em torno em torno de 8 - 10;
sendo um cátion monovalente, e adicionado a uma alta concentração, desloca outros cátions di e
trivalentes na superfície dos colóides, passando a ocupar o seu lugar, como o sódio apresenta um grande
número de moléculas de água de hidratação, fica com um raio iônico efetivo bem maior que os demais
cátions, diminuindo a carga líquida positiva na superfície dos colóides e aumentando com isso a
REPULSSÃO entre as partículas de argila, que entram em movimento browniano no seio da suspensão
pôr tempo prolongado, permanecendo dispersas. Isto permite a determinação da argila pelo método da
pipeta ou do densímetro.

Outros fatores que influenciam na determinação da textura são o teor de matéria orgânica e o teor de
óxidos de ferro da amostra, particularmente em solos argilosos.

Solos com muita matéria orgânica apresentam-se normalmente bem agregados, e caso a matéria
orgânica não seja previamente eliminada poderá causar uma subestimação no resultado da argila; para
solos com mais de 5% de matéria orgânica, recomenda-se fazer um pré-tratamento da amostra com água
oxigenada;

- solos com altos teores de óxidos de ferro (+ de 12%) apresentam normalmente microagregados
fortemente estabilizados, que não se desfazem facilmente durante as etapas da análise granulométrica;
neste caso são indicados alguns pré-tratamentos para sua eliminação antes de proceder-se a
determinação da fração argila.

84
ARGILA TOTAL E ARGILA NATURAL

Argila total - refere-se ao total da argila obtido na análise granulométrica, usando-se dispersantes
químicos tais como o NaOH;

Argila natural ou dispersa em água - refere-se ao teor de argila obtido na análise granulométrica,
usando-se como dispersantes apenas a água (sem NaOH).

Em trabalho de caracterização de tipos de solo, costuma-se efetuar os dois tipos de determinação.

Alguns solos, como o da classe do Pdozólicos, costumam apresentar teores de argila dispersa em água
elevados, indicando uma tendência natural que possuem a perder argila para dos horizontes superiores
para os inferiores (apresentam horizonte B com acúmulo de argila - B textural); outros solo como os
Latossolos, ao contrário apresentam agregados estruturais fortemente estáveis em água, praticamente
não apresentando argila dispersa em água (toda argila flocula quando não se utiliza dispersante
químico). Apresentam muito pequeno incremento de argila em profundidade.

GRAU DE FLOCULAÇÃO

O grau de floculação é um índice, que avalia a tendência da fração argila estar floculada ou não:

GF =
incorporar Equation.2
Onde: AT = argila total e AN = argila natural

A avaliação do grau de floculação do solo permite indiretamente interpretar sobre o grau de estabilidade
dos agregados estruturais do solo: alto GF indica alto grau de estabilidade dos agregados, ou seja,
praticamente toda a argila encontra-se floculada em água.

Exemplo:

85
1 - Horizonte B de Latossolo
AN = 0%
AT = 60% GF = 100% (toda a argila floculada)

2 - Horizonte A de Podzólico
AN = 20%
AT = 25% GF = 20% (muita argila dispersa em água)

CLASSE TEXTURAIS DO SOLO

Cada solo é constituído de diferentes proporções de areia, silte e argila, conferindo ao mesmo uma
textura mais arenosa, mais argilosa, mais siltosa ou com proporções similares das três frações. A
percentagem de ocorrência de cada fração na mistura determina a chamada classe textural do solo.

A definição da classe textural do solo é obtida no TRIÂNGULO TEXTURAL, adotado pela Sociedade
Brasileira de Ciências do Solo:

FIGURA

Observa-se que em cada um dos vértices deste triângulo tem-se as variações extremas de classe textural
do solo (arenoso, siltoso e muito argiloso) e próximo ao centro do triângulo temos a classe de textura
franco.

86
INFLUÊNCIA DA TEXTURA NAS PROPRIEDADES FÍSICAS DO SOLO

A textura influencia, direta ou indiretamente em muitas propriedades físicas do solo. Processos de


agregação, retenção de água, manifestação de consistência e resistência mecânica envolvem
essencialmente fenômenos de superfície, estando relacionados portanto a presença de partículas com
diâmetro pequeno, portanto, melhor agregado será o solo, maior sua capacidade de retenção de água e
maior será sua resistência a operações de preparo.

Taxa de infiltração e capacidade de retenção de água: a água fica adsorvida à superfície das partículas
sólidas essencialmente pôr forças devido a tensão superficial. A tensão superficial depende da ASE
(Área de Superfície Específica). Quanto menor o diâmetro das partículas, maior é a ASE e portanto
maior a expressão das forças devido a tensão superficial; a taxa de infiltração depende
fundamentalmente da proporção macro/microporos do solo, e em menor escala, do diâmetro das
partículas.

Solos arenosos, com predomínio de macroporos sobre os microporos, apresentam valores de taxa de
infiltração mais elevados, e possuem baixa capacidade de retenção de água, devido a predominância de
partículas grosseiras. Pôr isso, os solos arenosos são bastante permeáveis apresentam baixa capacidade
de armazenamento de água disponível para a planta. Na figura a seguir são mostradas as curvas de
infiltração de água num solo arenoso e num argiloso, e respectivos valores de umidade na capacidade de
campo.
taxa de infiltração Indica o momento (tempo)
(mm/h) em que a taxa de infiltração torna-se constante
Tempo

Estabilidade dos agregados estruturais e resistência à erosão: a fração argila é agente de estabilização
das partículas sólidas do solo, devido a ação exercida principalmente pelos óxidos e pelo húmus como
agentes cimentantes. Solos argilosos são naturalmente melhor agregados, e pôr isso resistem mais aos
processos de desagregação e transporte, tornando o solo mais resistente à erosão hídrica. Já os solos
arenosos, apresentam baixo grau de desagregação das partículas sólidas (estruturas mais “soltas”),
resistindo pouco aos fenômenos de desagregação e transporte, e sendo assim mais facilmente erodíveis.

87
Esforços de tração mecânica pelos implementos agrícolas. Solos arenosos, pôr apresentarem estruturas
mais “soltas”, exigem menor esforço de tração dos implementos pelo trator, porém podem ocasionar
maior desgaste das lâminas de arados ou grades; solos argilosos exigem normalmente maior esforço de
tração. É interessante notar que a terminologia solo leve (arenoso) e solo pesado (argiloso) refere-se
unicamente a menor ou maior resistência que oferecem às operações de preparo, não tendo nada a ver
com sua densidade. Ou seja, o solo leve do ponto de vista do preparo, é o solo arenoso, que possui
densidade aparente mais elevada.

INFLUÊNCIA DA TEXTURA NAS PROPRIEDADES QUÍMICAS DO SOLO

A textura é uma das características que mais influencia nas propriedades químicas do solo. Solos
essencialmente arenosos, pôr exemplo, apresentam baixa CTC (capacidade de troca de cátions) e CTA
(capacidade de trocas de ânions), devido a pequena proporção de frações coloidais. Já os solos argilosos
apresentam normalmente CTC e CTA mais elevada, devido a maior participação das frações coloidais,
que apresentam maior quantidade de cargas de superfície.

Do ponto de vista prático, isto tem implicação direta nos processos de lixiviação de nutrientes e nas
recomendações de adubação e calagem de um modo geral.

Dos nutrientes mais comumentes utilizados na agricultura, na forma de adubos, tem-se o N, o P e o K, e


adicionados através de calagem, tem-se o Ca e o Mg. As formas preferencialmente absorvidas pelos
vegetais são:

N (NO3) ALTAMENTE MÓVEL NO SOLO


P (H2PO4-, HPO4- -, PO4- - -) POUCO MÓVEL
K (K+) ALTAMENTE MÓVEL
Ca (Ca++) POUCO MÓVEL
Mg (Mg++) POUCO MÓVEL

Solos arenosos apresentam baixa capacidade de retenção de nutrientes, devido a sua CTC e CTA e

88
devido ao fato de serem solos muito permeáveis, o que favorece o processo de lixiviação dos nutrientes,
tanto dos cátions como dos ânions. Os nutrientes altamente móveis, como o N e o K, são muito mais
facilmente lixiviáveis em solos arenosos do que em solos argilosos exigindo normalmente maior
parcelamento das adubações. Mesmo em relação aos nutrientes pouco móveis no solo, como o P, Ca e o
Mg, sua mobilidade nos solos arenosos é bem maior do que nos solos argilosos, o que pode implicar, pôr
exemplo num menor efeito residual da calagem (o efeito da calagem se dá num tempo mais curto).

Em solos argilosos a capacidade de retenção de nutrientes é maior que nos arenosos, porém isto depende
também da mineralogia dos constituintes da fração argila do solo. Três solos argilosos, com mesmo teor
de argila (50% pôr exemplo), podem apresentar CTC muito diferente entre si: se no primeiro
predominam esmectitas (montmorilonita) a CTC pode ser de 24 meq/100g de TFSA; se no segundo
predominar a caulinita e os óxidos, a CTC pode ser mais baixa, da ordem de 8 a 10 meq/100g; e se o
solo for altamente intemperizado, predominando os óxidos de ferro e alumínio e com pouca caulinita, a
CTC pode ser quase tão baixa quanto num solo arenoso, da ordem de 2 a 3 meq/100g de TFSA.

89
Características físicas do solo em função da textura

Textura Arenoso Franco Franco Franco Argilo Argiloso


arenoso Argiloso Arenoso

Taxa Infiltração 2,5-25 1,3-7,6 0,8-2,0 0,25-1,5 0,03-0,5 0,01-0,1


cm/h 5 2,5 1,3 0,8 0,25 0,05

Ds 1,55-1,80 1,4-1,6 1,35-1,5 1,2-1,4 1,1-1,3 1,0-1,2


Mg,m-3 1,65 1,5 1,40 1,3 1,2 1,1

PT 32-42 40-47 43-49 47-51 49-53 51-55


% 38 43 47 49 51 53

CC 6-12 10-18 18-25 23-31 27-35 31-39


% 9 14 22 27 31 35

PMP 2-6 4-8 8-12 11-15 13-17 15-19


% 4 6 10 13 15 17

ADp = 4-6 6-10 10-14 12-16 14-18 16-20


CC-PMP 5 8 12 14 16 18

ADv = 6-10 9-15 14-20 16-22 18-23 20-25


(CC-PMP),Ds 8 12 17 19 21 23

90
CONSIDERAÇÕES SOBRE O MÉTODO DA PIPETA PARA DETERMINAR A TEXTURA

gd 2 (  p   l )
v
LEI DE STOKES
18
onde: Temp g/m.s mPa.s
 = velocidade de queda (m/s) da partícula de diâmetro d (m) 0 1,787 1,787
d= diâmetro da partícula (m) 10 1,308 1,3037
 = viscosidade do fluído (Pa.s =N.s.m-2 = kg.m.s.s-2.m-2 = kg.m-1.s-1) 20 1,002 1,0019
p = densidade da partícula (2.650 kg.m-3) 30 0,798 0,798
l = densidade do fluido (1.000 kg.m-3) 40 0,653 0,654
50 0,547 0,547

A Lei de Stokes é dependente de certas assunções simplificadoras descritas a seguir:

1- As partículas dever ser grandes em comparação com as do líquido para minimizar o efeito do movimento Browniano.
Em água isso ocorre com partículas maiores do que 1.10-6m.
2- O volume do líquido deve ser grande em comparação com o volume das partículas, para evitar o choque entre partículas
em queda.
3- As partículas devem ser rígidas, lisas e esféricas. Nesse particular é utilizado o termo diâmetro equivalente que é o
diâmetro de uma esfera do mesmo material que pode cair com a mesma velocidade com da partícula em questão.
4- Não deve haver deslizamento entre a partícula e o líquido com que o líquido oferece apenas resistência. Todas as
partículas tem a mesma densidade.
5- A velocidade de queda não pode exceder um limite crítico para evitar fluxo turbulento e a resistência de queda da

v
partícula é devido unicamente a viscosidade do líquido. Não há fluxo turbulento se:
 pr , onde: r é

o raio da partícula. Se a água tem uma temperatura de 25 graus centígrados e a densidade da partícula é de 2700 kg.m -3, o
máximo raio para fluxo não turbulento é de 0,4mm. Portanto a equação de sedimentação é aplicável para partículas com
diâmetro menor do que 80m.

LIMITAÇÕES DA LEI DE STOKES.


1- As partículas tem um diâmetro equivalente. Partículas não tem o mesmo formato. Goethita, Hematita, caulinita, quartzo.
2- A temperatura do fluído pode mudar durante a sedimentação das partículas, sendo que a taxa de queda varia
inversamente com a viscosidade do meio.
3- A densidade das partículas varia:
Húmus = 1.370 kg.m-3; Quartzo e Caulinita = 2.600 kg.m-3; Hematita = 5.200 kg.m-3.

91
Quadro - Classificação de peneiras pelo seu número, com abertura correspondente em micras,
milímetros e polegadas.

TAMANHO/ ABERTURA DA MALHA


NÚMERO MICRAS MILÍMETROS POLEGAGAS
1/4 ---- 6.350 0.2500
3 1/2 ---- 5.660 0.2230
4 4760 4.760 0.1870
5 4000 4.000 0.1570
6 3360 3.360 0.1320
7 2830 2.830 0.1110
8 2380 2.380 0.0932
10 2000 2.000 0.0787
12 1680 1.680 0.0661
14 1410 1.410 0.0555
16 1190 1.190 0.0469
18 1000 1.000 0.0394
20 840 0.840 0.0331
25 710 0.710 0.0280
30 590 0.590 0.0232
35 500 0.500 0.0197
40 420 0.420 0.0165
45 350 0.350 0.0138
50 297 0.297 0.0117
60 250 0.250 0.0098
70 210 0.210 0.0080
80 177 0.177 0.0070
100 149 0.149 0.0059
120 125 0.125 0.0049
140 105 0.105 0.0041
170 88 0.088 0.0035
200 74 0.074 0.0029
230 62 0.062 0.0024
270 53 0.053 0.0021
325 44 0.044 0.0017
400 37 0.037 0.0015

92
8. CONSISTÊNCIA DO SOLO
GÊNESE, MORFOLOGIA E CLASSIFICAÇÃO DO SOLO
Jackson Adriano Albuquerque e Jaime Antonio de Almeida

A consistência do solo é conceituada como o comportamento da massa quando submetido a uma


força ou pressão. Esta propriedade manifesta-se de maneira diferente conforme o grau de umidade do
solo. algumas formas de consistência são identificadas. Estas se manifestam dentro de uma faixa de
umidade. A amplitude destas faixas é variável e depende da granulometria do solo, da mineralogia, da
natureza dos íons adsorvidos e do teor de matéria orgânica.

CONSISTÊNCIA DO SOLO SECO.


A amostra de solo, é considera seca quando seu grau de umidade está em equilíbrio com a umidade do
ar. O solo apresenta então sua máxima tenacidade, com tendência a desmanchar-se em terra fina ou
fragmentos com arestas agudas quando uma força lhe é aplicada. Nota-se que o torrão demolido não se
refaz quando comprimido. Neste grau de umidade o solo apresenta dureza ou tenacidade. A
conseqüência da dureza do ponto de vista agronômico é a resistência à passagem ou penetração de uma
ferramenta no solo.
CONSISTÊNCIA DO SOLO ÚMIDO.
Refere-se à amplitude de umidade entre solo seco e capacidade de campo (aproximadamente). A
tendência do solo nesta amplitude de umidade é romper-se em grânulos de tamanho menor e não em
terra fina ou fragmentos. O rompimento se dá, em geral, ao longo dos planos de fraqueza que separam
os agregados. O limite superior de umidade é dado como sendo o da capacidade de campo apenas como
aproximação, pois não há informação suficiente para estabelecer um critério definitivo.
Nota-se que antes de se dar a ruptura há alguma deformação do torrão ou da massa de solo. Quando o
solo é pressionado se desfaz. A resistência ao esboroamento diminui com o aumento da umidade. A
precisão desta aproximação está relacionada à precisão em determinar a umidade em que se nota a
máxima friabilidade.
A amplitude de umidade em que os solos se apresentam friáveis é a amplitude em que o solo está em
condições ótimas para o trabalho com implementos agrícolas ou ferramentas. Há água suficiente entre
as partículas para diminuir o efeito cimentante de algumas substâncias, mas insuficiente para formar

93
filmes de água em torno das partículas de modo a atingir a faixa de umidade correspondente à
plasticidade.

CONSISTÊNCIA DO SOLO MOLHADO.


Neste grau de umidade duas formas são consideradas: Plasticidade e Pegajosidade.
a) Plasticidade- qualidade que apresenta o solo em mudar continuamente a forma sob a ação de
uma força aplicada, mantendo a forma adquirida quando cessa a ação desta força ou mesmo
quando a umidade é removida. A plasticidade é uma propriedade mecânica resultante da
pressão e deformação. A deformação da massa de solo depende da distância que as partículas
podem percorrer sem perderem a atração umas com as outras. É diretamente afetada pela
tensão superficial dos filmes de água em torno das partículas do solo. Por outro lado varia
com a forma e tamanho das partículas. Muitos trabalhos de pesquisa já mostraram que a
plasticidade é função da superfície e número de pontos de contato entre as partículas sólidas.
Por estas razões as areias não exibem plasticidade, enquanto que as argilas exibem alto grau
de plasticidade.
b) Pegajosidade - qualidade que apresenta o solo em aderir-se a outros objetos. Pode se
manifestar juntamente com a plasticidade ou a um conteúdo de umidade maior.
AVALIAÇÃO DA CONSISTÊNCIA.
A consistência do solo pode ser determinada a vários graus de umidade tanto a campo como no
laboratório. Com acréscimos de água desde o teor correspondente à terra seca ao ar até completa
saturação, os solos exibem consistências que variam com o aumento da umidade. Apresentam,
entretanto, dentro de uma determinada faixa de umidade, as formas de consistência correspondentes aos
diversos estados de umidade: seco, úmido e molhado. Assim será característico para um determinado
solo e amplitude da umidade em que exibe friabilidade; haverá também, para este mesmo solo, uma
faixa de umidade em que exibirá plasticidade.

94
As relações qualitativas entre grau de umidade, forma de consistência e propriedades, são dadas a
seguir:
UMIDADE
PROPRIEDADE SECO ÚMIDO MOLHADO
Consistência Duro Macio Plástico
Tenaz Friável Pegajoso
Coeso
Conseqüências do Forma-se torrões Condições ótimas para Solo empasta e adere
cultivo cultivo às ferramentas. Se
deforma
Características Torrão desfeito não se Torrão desfeito se Pode ser moldado
desfaz quando refaz quando
pressionado pressionado

Quando o solo se apresenta excessivamente molhado a massa de solo flui pela aplicação de uma força,
exibindo viscosidade.
O termo “empastar” tem alguma relação com compactação. Difere, entretanto, por significar
diminuição do volume ocupado pela massa do solo, ou seja, aumento da massa específica, resultante da
orientação das partículas finas.
Atterberg introduziu as chamadas “constantes de Atterberg” para a determinação dos pontos
limites entre os diversos graus de umidade do solo (estados de umidade), isto é, entre os estados úmido e
molhado e entre o estado molhado em que exibe plasticidade e o estado de umidade em que não mais
exibe plasticidade é caracterizada pelos teores de umidade correspondentes aos limites de plasticidade e
de liquidez. Estes limites são característicos para cada solo.
O limite inferior de plasticidade pode ser considerado como o grau de umidade (expresso em %
de água) no qual a massa de solo pode apenas ser rolada para formar um bastonete de aproximadamente
3 mm de diâmetro. Este ponto corresponde ao ponto em que o solo começa a apresentar plasticidade.
Corresponde a % de água acima da qual o solo “empasta” quando cultivado. A determinação do ponto
inferior de plasticidade é uma determinação rudimentar e muito sujeita a influência pessoal, porém, os
resultados obtidos podem ser duplicados por um operador com razoável precisão.

95
O limite superior de plasticidade é o conteúdo de umidade no qual a massa de solo quase flui. Os
filmes de água em torno das partículas se tornam mais espessos, a coesão diminui e a massa do solo flui
diante da ação de uma força. É também chamado limite de liquidez ou limite inferior de liquidez.
O número ou índice de plasticidade é a diferença entre o limite superior e o inferior de
plasticidade. É usado como índice de plasticidade.
Vários fatores afetam a plasticidade do solo e seus limites: conteúdo de argila, natureza dos
minerais do solo, composição química dos colóides, natureza dos catiônicos trocáveis e conteúdo de
matéria orgânica. A matéria orgânica diminui, digo, aumenta os limites de plasticidade na escala de
umidade. Um solo com mais matéria orgânica requer mais água para tornar-se plástico. Isto se deve à
alta capacidade de absorção da matéria orgânica (MO) é preciso que a MO esteja completamente
hidratada antes que se formem os filmes completos em torno das partículas minerais.
A plasticidade é característica dos solos argilosos. Solos arenosos não são plásticos e os
orgânicos tem plasticidade diminuída.
Solos que apresentam índice de plasticidade maior apresentam grande risco de “empastar”
quando trabalhados se o teor de água (umidade) é elevado. Os solos arenosos, em geral, apresentam a
consistência friável em uma ampla faixa de umidade. Sua plasticidade é nula ou ocorre em faixa de
umidade muito estreita. Os solos argilosos comportam-se de maneira oposta.
Há uma estreita correlação entre as constantes de Atterberg e a força necessária para trabalhar
um solo com implementos agrícolas.
Do ponto de vista agronômico há grande interesse em saber se, para um determinado grau de
umidade que o solo apresenta no campo, há condições de trabalho. Quando o solo está em condições
ótimas para aração, gradagem e cultivo de um modo em geral, diz-se que está em estado de sazão. Este
estado que corresponde a faixa de friabilidade, que pode ser determinado ou estimado de diversas
maneiras. Keen media a distribuição de torrões por tamanho no campo, por peneiramento direto. Os
russos recomendam o peneiramento em benzeno, outros medem a granulação e porosidade, buscando
aquele ponto em que a porosidade esteja dividida igualmente entre poros capilares e de aeração. Há um
grande número de resultados mostrando que a porosidade não capilar é uma boa indicação do estado de
sazão. Henin utiliza um penetrômetro para medir à resistência a penetração e assim poder estimar o
estado de sazão. Scott-Blair propõe usar compressibilidade: quanto mais o solo puder ser comprimido
(redução de volume) melhores são as condições para o cultivo.

96
9. REFERÊNCIAS
ATTERBERG - Ueber die physikalische Bodenum tersuchung. Int. Mitt. Bodenkinde. 1:7-9, 1911
DIE PLASTIZITAT DE TONE. Int. Mitt. Bodenk, 1:10-43, 1911.
BAVER, L. D. - The Atterberg constants. Jour. Am. Soc., 22:935-948, 1930.
CASA GRANDE; Notes on the design of the liquid limit device. Geothechnique, 8 : 84-91, 1958.
HENIN – Quelques resultants obtenus dans 1 étude des sols à 1‟aide de la sonde dynamométrique de
Demolon-Hénin. Soil Research, Vol. 5 n 1, 1936.
SCOTT-BLAIR – A new laboratory method for measuring the effects of land amelioration processes.
Trans. 6th Com. Intern. Soil Sci. (Zurich), Vol. B, p. 417-422, 1937. Também em Jour, Agr. Sci.
28:367-378.

97
10. PROPRIEDADES QUÍMICAS DO SOLO

Neste capítulo, serão abordados alguns aspectos acerca do comportamento químico do solo,
notadamente aquêles relacionados a origem das cargas, negativas ou positivas, existentes no solo,
uma rápida descrição do comportamento geral das fases sólida e líquida e do equilíbrio existente
entre as mesmas, a caracterização dos diferentes tipos de acidez do solo e finalmente a definição de
alguns parâmetros químicos úteis para a classificação dos solos de acordo com os critérios em vigor
no Brasil.

Embora tais conteúdos permitam inferir sobre aspectos gerais da FERTILIDADE DO SOLO,
não são suficientes para cálculos de quantidades de adubos (minerais e/ou orgânicos) necessários para
corrigir a fertilidade química do solo. Tal enfoque será dado em disciplinas específicas de fases
subsequentes do Curso denominadas Fertilidade do Solo I e II.

Serão abordados os seguintes tópicos:

1. Conceitos gerais
2 .Criação de cargas e tipos de cargas elétricas em solos
3. Acidez do Solo
4. Parâmetros químicos do solo

1. CONCEITOS GERAIS:

NUTRIENTES ESSENCIAIS: são aqueles nutrientes necessários para que as plantas possam
se desenvolver completamente. Na falta de apenas um deles, a planta não consegue completar o seu
ciclo. São em número de 16 (dezesseis) e dividem-se em:

MACRONUTRIENTES: são aqueles nutrientes essenciais absorvidos em


maiores quantidades pelas plantas.

C, H, O, N, P, K, Ca, Mg e S

Carbono é suprido via fotossíntese, H e O através da água e os demais são provenientes do solo.

MICRONUTRIENTES: são aqueles absorvidos em pequenas quantidades


pelas plantas.

B, Cl, Cu, Fe, Mn, Mo e Zn

Além desses, o Co também é considerado essencial, quando a planta depende da simbiose


Rhizobium + leguminosa para suprimento do N.

Como são absorvidos os nutrientes?

98
Sempre da solução do solo, na forma de íons com carga positiva (cátions) ou negativa
(ânions). Ou seja, os nutrientes absorvidos devem estar disponíveis na solução do solo, e na forma
iônica.

Exemplos:

N = NO3- ou NH4+ Cu = Cu2+


P = PO4---, HPO4-- ou H2PO4- Fe = Fe2+
K = K+ Cl = Cl-
Ca = Ca2+ Mn = Mn2+
Mg = Mg2+ Mo = MoO4-
S = SO4-- Zn = Zn2+
B = BO4-

Onde são encontrados os nutrientes no solo?

- Livres na solução (muito baixa concentração)

- Fazendo parte da fase sólida do solo (maiores quantidades):

 Adsorvidos às cargas dos colóides do solo


 Complexados pelo húmus ou ácidos orgânicos
 Fazendo parte da estrutura de compostos orgânicos

Os nutrientes em forma de cátions são atraídos pelas cargas negativas dos colóides.
Os nutrientes em forma de ânions são atraídos pelas cargas positivas dos colóides;

Alguns elementos, nutrientes ou não, encontram-se ligados à fase sólida do solo por
mecanismos de ligação que independem do tipo de carga dos colóides, dentre os quais destacam-se:
- elementos que formam complexos orgânicos ou quelados com o húmus ou com ácidos
orgânicos; Ex.: alguns micronutrientes, como o Cu, Fe, Zn e Al trocável
- elementos ligados por covalência. Ex.: caso do H nos radicais carboxílicos do húmus, por
exemplo;
- elementos que formam complexos de coordenação de esfera interna. Ex.: caso do fósforo,
“fixado” à superfície dos óxidos de Fe e Al.

O que são cátions ácidos e cátions básicos?

Cátions ácidos são aqueles que se comportam como ácidos, ou seja, que são capazes de
liberar prótons (H+):

Exemplos: H+
Al3+ [Al3+ + 3 H2O  Al(OH)3 + 3H+]

99
Cátions básicos: são aqueles que se comportam como bases.
Exemplos: Ca2+, Mg2+, K+ e Na+ (embora o Na não seja elemento essencial)

Como foi visto anteriormente, os elementos existentes no solo podem estar presentes como
cátions ou como ânions, portanto serão atraídos respectivamente pelas cargas negativas e positivas
dos colóides do solo. Daí a necessidade de entendermos quais os materiais do solo que possuem
essas cargas e como se originam.

2 . CRIAÇÃO DE CARGAS E TIPOS DE CARGAS ELÉTRICAS EM SOLOS

Diversos materiais do solo possuem cargas de superfície. Geralmente considera-se que as


frações mais grosseiras (cascalho, areia e silte) possuem muito pouca ou nenhuma carga, sendo
portanto inertes. As frações mais ativas, ou seja, com cargas, normalmente restringem-se às frações
mais finas (argila e silte fino). Nessa fração são geralmente encontrados ARGILOMINERAIS,
HÚMUS e ÓXIDOS, com algum MATERIAL AMORFO. A fração argila tem propriedades
coloidais, e como colóide, pode se apresentar numa fase SOL (solúvel, dispersa) ou GEL (pode
formar flóculos, gelatinosos).

A chamada FRAÇÃO COLOIDAL ou COMPLEXO COLOIDAL do solo é geralmente


composta de uma associação de Argilominerais + Óxidos + Húmus, sendo extremamente ativa, isto é,
capaz de atrair cátions, ânions, moléculas orgânicas e moléculas de água à sua superfície.

No complexo coloidal do solo, há os dois tipos de cargas elétricas de superfície, ou seja,


negativas e positivas. Entretanto, geralmente as cargas negativas predominam sobre as positivas, e
portanto tais solos terão maior capacidade de reter cátions .

A medida da quantidade de cargas negativas de um solo é uma estimativa da chamada


CAPACIDADE DE TROCA DE CÁTIONS.

As cargas do solo são classificadas em dois tipos principais:


Permanentes e
Dependentes do pH.

2.1. CARGAS PERMANENTES


São as cargas negativas naturais existentes nos minerais de argila, formadas durante os
processos alteração dos minerais primários e sua transformação em argilominerais.

Como vimos no capítulo dos minerais secundários, os minerais de argila possuem cargas
negativas nas superfícies externas ou internas do cristal. Vimos também que tais cargas são formadas
por processos de substituição isomórfica no interior das lâminas tetraedrais e octaedrais. São esses
tipos de cargas elétricas que são chamadas de permanentes.

100
Portanto, cargas permanentes são cargas formadas por processos de substituição isomórfica
de:

Si4+ por Al3+ nos tetraedos e de


Al3+ por Mg2+ ou Fe2+ ou Mn2+ nos octaedros
A substituição de um cátion tetravalente (Si) por um trivalente (Al) nos tetraedros, e a
substituição de cátions trivalentes (Al) por divalentes (Mg, Fe, Mn) nos octaedros, faz com que haja
déficit de carga positiva no local onde ocorreu a substituição, tornando o cristal carregado
negativamente. Esta substituição faz com que o argilomineral adquira a capacidade de atrair cátions
da solução externa do solo, para neutralizar aquela carga negativa, ou em outras palavras para suprir
aquele déficit de carga positiva ali existente. Este tipo de cargas é chamada de permanente, sendo
assim denominado porque é uma carga invariável, intrínseca do mineral, e que não se modificará,
independentemente se o pH do solo for mais alto ou mais baixo.

Outra consideração importante, é que quanto maior for a substituição isomórfica sofrida pelo
mineral de argila, maior será também a sua carga negativa permanente.

Minerais de argila do tipo 1:1, como a caulinita e haloisita, por exemplo, apresentam baixa
quantidade de cargas negativas permanentes, e portanto baixa CTC, devido ao fato de terem sofrido
pouca substituição isomórfica.

Caulinita = 3-10 meq/100 g de argila


Haloisita = 10-20 meq/100g de argila

Minerais de argila do tipo 2:1, tais como a ilita, vermiculita e montmorilonita, ao contrário,
apresentam alta quantidade de cargas negativas permanentes, e portanto CTC mais alta, devido a
mais alta substituição isomórfica que sofreram durante a sua formação.

Ilita = 20-40 meq/100 g de argila


Montmorilonita = 40-80 meq/100 g de argila
Vermiculita = 100-150 meq/100 g de argila

Para uma melhor visualização de onde se localizam esses tipos de cargas, são mostradas as
figuras à seguir, para minerais de argila tipo 1:1 e 2:1.

101
Uma das principais características das cargas negativas permanentes é de que ATRAEM
cátions da solução do solo, os quais são ADSORVIDOS às superfícies externas ou internas (n
dica, são cargas do solo que variam em magnitude conforme o valor do pH do mesmo. Pode-se citar
como exemplo as cargas dos óxidos de ferro e alumínio do solo, que em valores de pH baixo, ou seja
quando o solo é ácido, tem predomínio de cargas positivas de superfície, e portanto adsorvem
ânions. Quando o pH se eleva, na faixa próximo a 7,0, diminuem as cargas positivas da superfície,
aumentando as negativas, e o óxido passa a adsorver cátions. Por isso diz-se que os óxidos são
ANFÓTEROS.

Vários componentes do solo tem cargas dependentes do pH, sendo os principais:


Óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio
Húmus
Arestas quebradas dos minerais de argila

2.2.1 Óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio

Tais componentes do solo, como já vimos, tem geralmente dimensões muito pequenas e
comportamento coloidal, sendo constituídos de cristais microscópicos com formato hexagonal
(gibbsita e hematita, p. ex.) ou de agulhas ou sarrafos (goethita, p. ex.). Tais cristais são formados por
empacotamento de átomos de ferro ou alumínio em estruturas octaedrais, cujos vértices são ocupados
por oxigênio (O), oxidrilas (OH) ou moléculas de água (H20). São nestas superfícies externas dos
cristais que se desenvolvem as cargas positivas e/ou negativas nos óxidos.

Todos os óxidos e hidróxidos apresentam, ao mesmo tempo, cargas positivas e negativas na


sua superfície, podendo adsorver, respectivamente ânions e cátions.

Cada óxido e hidróxido puro, além disso, apresenta seu respectivo PONTO DE CARGA
ZERO (PCZ).

PCZ é definido como o valor de pH, para cada óxido e hidróxido, no qual o número de
cargas positivas é igual ao número de cargas negativas de superfície, resultando num balanço
de cargas NULO no cristal.
Em valores de pH acima do PCZ predominam as cargas negativas, e
Em valores de pH abaixo do PCZ predominam as cargas positivas.

Como o PCZ da maioria dos óxidos e hidróxidos de ferro se situa em valores de pH próximo
ou acima de 7,0, e como os valores de pH da maioria dos solos brasileiros se situa na faixa de 4,0 a
5,5/6,0, deduz-se que, na prática, em tais compostos predominam as cargas positivas, sendo que os
mesmos contribuem muito mais para a adsorção de ânions, tais como fosfatos (PO4---, HPO4--,
H2PO4-) e sulfatos (SO4--) do que de cátions.

O mecanismo de formação das cargas dependentes do pH nos óxidos e hidróxidos de ferro,


cujo exemplo é similar para os óxidos de alumínio, é mostrado na figura à seguir:

102
Em valores de pH baixo, à esquerda do exemplo, observa-se a formação de cargas positivas
na superfície do óxido, às expensas da adsorção de H+ aos grupamentos -OH :
Fe -OH + H+  Fe -OHH+

Em valores de pH alto, ou seja quando aumenta a concentração de oxidrilas na solução do


solo, geram-se cargas negativas de superfície, às expensas da dissociação do H dos grupamentos -
OH da superficie do óxido:
Fe-OH + OH-  Fe -O-

Consequência prática importante:

Quando fazemos a calagem do solo, p. ex., elevamos o pH, e com isso diminuímos as cargas
positivas e aumentamos ligeiramente as cargas negativas dos óxidos e hidróxidos do solo, porque o
pH dificilmente vai atingir valores maiores do que o valor do PCZ dos óxidos, onde as cargas
negativas predominariam. Portanto a calagem contribui pouco para aumentar a CTC do solo
(cargas negativas), mas pode reduzir substancialmente a capacidade de fixação de fósforo pelo
solo, o que é importante por deixar esse elemento mais disponível para as plantas.

2.2.2 - Húmus

A matéria orgânica do solo, através de sua fração mais ativa, o húmus, apresenta grande
quantidade de cargas dependentes do pH. Diferentemente dos óxidos e hidróxidos, que podem
apresentar tanto cargas positivas como negativas, as cargas dependentes do pH do húmus são
essencialmente negativas.

A parte mais ativa do húmus é representada por seus radicais carboxílicos e fenólicos. Além
desses, tem-se outros, menos importantes como amidas, imidas e aminas.

Devido a complexidade e grande variação das características de uma molécula de húmus,


mostramos, esquematicamente, uma das representações propostas para identificar uma molécula de
ácido húmico, onde estão destacados os radicais mais ativos: carboxílicos (R-COOH) e fenólicos (R-
-OH).

103
O PCZ do húmus ocorre em valores bem abaixo de 4,0. Portanto, em termos práticos, a
matéria orgânica sempre apresentará cargas negativas de superfície, contribuindo assim para a
adsorção de cátions.

Em valores de pH muito baixo (em torno de 4,0, p. ex.), a maioria das cargas negativas do
húmus estão inativas, ou seja, com o íon H neutralizando as cargas negativas nos radicais
carboxílicos (R-COOH) e fenólicos (R- OH).

As cargas negativas do húmus, entretanto, aumentam conforme aumenta o pH do solo:

O aumento do pH provoca dissociação dos íons H dos radicais carboxílicos e fenólicos da


matéria orgânica, segundo as seguintes reações simplificadas:

R-COOH + OH-  R-COO- + H2O

-OH + OH-  R- -O- + H2O

Fato importante a considerar é que nos radicais carboxílicos, devido ao seu pKa mais baixo, a
dissociação já começa a ocorrer a partir de pH em torno de 4,0. Logo, o aumento do pH a partir desse
valor aumenta expressivamente o número de cargas negativas da matéria orgânica.
Já nos radicais fenólicos, devido ao seu pKa mais elevado, a dissociação só irá ocorrer a
valores de pH em torno de 6,0.

Consequências práticas:

Quando aumentamos o pH do solo, pela calagem, por exemplo, aumentam as cargas negativas do
húmus. Conseqüentemente, a CTC do solo também aumenta, fazendo com que o solo tenha maior
capacidade de reter os cátions.

É por esse motivo que a aplicação de matéria orgânica, em altas quantidades, pode aumentar
significativamente a CTC do solo e sua capacidade de reter cátions. Além desse efeito benéfico da
matéria orgânica, o húmus também pode complexar elementos tóxicos para as plantas, como o
alumínio trocável.

A CTC do húmus é expressivamente mais alta que a CTC dos argilominerais:

104
CTC do húmus : 300-400 meq/100 g de húmus

CTC da vermiculita: 100-150 meq/100g de vermiculita

Particularmente nos solos das regiões tropicais, a CTC da fração mineral é geralmente baixa,
devido ao predomínio de caulinita e óxidos de ferro e alumínio. Daí a importância, nesses solos, de
manter ou aumentar os níveis de matéria orgânica, pois ela geralmente contribui muito mais para a
CTC total do solo do que a fração mineral.

No exemplo a seguir, obtido de uma pesquisa de RAIJ (1968) mostra-se alguns dados da
contribuição da matéria orgânica na CTC total de solos do Estado de São Paulo.

SOLO PROF. ARGILA M. ORG. CTC CTC devido à


MO
M.ORG. TOTAL
cm % % meq/100g TFSA %

Podzólico 0-6 5 0,78 2,2 3,2 69


Podzólico 0-15 6 0,60 2,1 3,3 64
Podzólico 0-14 12 2,52 8,2 10,0 82
Podzólico 0-16 19 2,40 6,0 7,4 81
Podzólico 0-12 13 1,4 2,7 3,7 73
Terra Roxa 0-15 64 4,51 15,0 24,4 61
Lat. Roxo 0-18 59 4,51 16,1 28,9 56
Lat.Ver.Esc 0-17 24 1,21 2,9 3,9 74

Observa-se que a matéria orgânica contribui com 60 a 80% das cargas negativas e portanto da
CTC dos solos.

2.2.3 Arestas quebradas de argilominerais


Os minerais de argila do solo, além das cargas negativas permanentes que possuem, também
apresentam cargas dependentes do pH, principalmente nas suas arestas quebradas externas.

Nas bordas externas das lâminas tetraedrais e octaedrais dos cristais de argila, existem
normalmente ligações tipo Si-OH e Al-OH expostas, que ficam em contato com a solução do solo.
Essas ligações tanto podem adsorver íons H da solução, como dissociar o H das ligações, conforme
o pH do meio que estão em contato.

Um esquema simplificado de formação das cargas dependentes do pH nas arestas quebradas


dos argilominerais é mostrado nas figuras à seguir.

Lâmina tetraedral
Si - Si - Si - Si - Si-OH + H+  Si - Si - Si - Si - Si-OHH+

105
Al - Al - Al - Al - Al-OH + H+  Al -Al -Al -Al -Al-OHH+
Lâmina octaedral

Em valores de pH baixo (abaixo de 6,0) as ligações Si-OH e Al-OH adsorvem íons H da


solução, formando ligações Si-OHH+ e Al-OHH+ gerando portanto cargas POSITIVAS de
superfície, que tenderão à adsorver ÂNIONS.

Em valores de pH maior do que 6,5/7,0, a diminuição da concentração de íons H+ e


consequente aumento dos íons OH- na solução do solo irá provocar a dissociação do H das ligações
Si-OH e Al-OH das arestas quebradas, gerando cargas NEGATIVAS de superfície, que tenderão a
adsorver CÁTIONS.

Si - Si - Si - Si - Si-OH + OH-  Si - Si - Si - Si - Si-O- + HOH

Lâmina tetraedral

Consequência prática:

As arestas quebradas tanto podem apresentar cargas positivas como negativas. Isto depende
do pH do solo. Se o pH for abaixo de 6,0 tenderão a predominar as cargas positivas. Para valores de
pH acima de 6,0 aumentam as cargas negativas e portanto a CTC do solo.

106
11. PARÂMETROS QUÍMICOS DO SOLO

As análises químicas usuais de solo envolvem normalmente determinações dos seguintes


parâmetros:

Carbono Orgânico e Matéria Orgânica


pH em água
pH em KCl
Ca, Mg trocáveis - extraídos com KCl 1N
Al trocável - extraído com KCl 1N
K e Na trocáveis - extraídos com acetato de amônio
H + Al extraíveis - extraídos com solução de acetato de cálcio lN tamponado a pH 7
P extraível com solução de ácido sulfúrico + clorídrico diluídos

Tais determinações normalmente são suficientes para uma caracterização química geral do solo.

Outros parâmetros, derivados destes, são necessários para uma caracterização química mais detalhada,
particularmente com objetivo de classificar taxonômicamente o solo.

Dentre esses parâmetros destacam-se:

SOMA DE BASES (S)


Refere-se ao somatório dos cátions metálicos básicos do solo, sendo expressa pela fórmula:

S = Ca + Mg + K + Na trocáveis
CAPACIDADE DE TROCA DE CÁTIONS (CTC)
A capacidade de troca de cátions refere-se a quantidade total de cátions que o solo tem condições de
adsorver à sua superfície, sendo equivalente a quantidade total de cargas negativas do solo.

É determinada pela soma dos cátions, básicos e ácidos, queo solo pode adsorver.

Como essa capacidade de adsorver cátions depende da quantidade de cargas negativas do solo, que por
sua vez depende do pH (existem como vimos cargas negativas permanentes e cargas dependentes do
pH), são definidos dois tipos de CTC, a CTC efetiva e a CTC a pH7.

CTC EFETIVA ou CTC a pH DO SOLO:


Refere-se a soma dos cátions metálicos básicos (S), mais o Al trocável

107
CTC ef = S + Al
Na determinação, tanto dos cátions básicos como do Al trocável, usa-se uma solução neutra de
KCl como extrator, que não modifica substancialmente o pH original do solo, e portanto não modifica o
total de cargas negativas.
A CTC efetiva é um parâmetro de cunho mais prático, agronomicamente falando.

CTC a pH 7,0
` Refere-se ao total de cargas negativas do solo que se desenvolve até o pH 7,0, sendo calculada
pelo somatório dos cátions metálicos básicos (S), mais o alumínio trocável (Al) e mais o hidrogênio que
se dissocia das cargas negativas até o pH 7,0.

CTC pH 7 = S + (H+Al)

SATURAÇÃO POR BASES (V%)

Indica quanto da CTC a pH 7 do solo está saturada por cátions metálicos básicos.

S
V (%) = ------------- x 100
CTC pH7
A saturação por bases é também um parâmetro prático muito importante porque revela, para cada
tipo de solo, quanto do total de suas cargas negativas está saturada (tomada) por cátions básicos.
Quanto maior for a saturação por bases de um solo maior será o seu pH, e portanto mais fértil
será o solo.
Existe uma relação direta entre pH e saturação por bases, ou seja, aumentando as bases o pH
também aumenta.

SATURAÇÃO POR ALUMÍNIO (m%)


Indica quanto da CTC efetiva do solo está ocupada (tomada) pelo alumínio trocável, sendo
expressa pela fórmula:
Al
m% = Al% = -------------- x 100

108
CTC ef
Esse é um parâmetro de cunho prático importantíssimo, pois revela, do total de cargas negativas
efetivas que o solo apresenta mo valor de pH que ele se encontra, quanto de alumínio existe em relação
às bases. Geralmente, índices de saturação por alumínio superiores à 20 % ja podem causar prejuízos ao
desenvolvimento das plantas. Em condições naturais, a maioria dos nossos solos apresenta índices de
saturação por alumínio superiores 80%, tornando a prática da calagem indispensável.

Com base na saturação por bases (V%) e na saturação por alumínio (m%), os solos, na
classificação brasileira, recebem denominações adicionais ao nome de cada classe, como por exemplo:

Latossolo Roxo eutrófico


Podzólico Vermelho-Amarelo distrófico
Cambissolo álico
Planossolo distrófico, etc..., tornando necesário definir tais termos.

EUTRÓFICO - indica saturação por bases igual ou superior a 50%, ou seja:


V > 50%

DISTRÓFICO - indica saturação por bases inferior a 50% e ao mesmo tempo saturação por
alumínio inferior a 50%, ou seja:
V < 50% e m < 50%

ÁLICO - indica saturação por alumínio superior a 50%, o que necessariamente também
implica em saturação por bases inferior a 50%, ou seja:

m > 50% (todo solo álico é distrófico)

109
12. ACIDEZ DO SOLO

ORIGEM DA ACIDEZ:

A acidez do solo origina-se naturalmente através dos processos de lixiviação que ocorreram
durante o processo de evolução dos solos, acarretando em perda continuada dos cátions metálicos
básicos - Ca, Mg, K e Na - e sua substituição paulatina por cátions ácidos, tais como o H + e o Al 3+.
Pela ação do homem, a acidez também pode ser causada pela adição de fertilizantes ácidos.

CONCEITOS BÁSICOS:

ÁCIDO: toda substância capaz de liberar prótons (H+), ou consumir base (OH-).

MEDIDA DA ACIDEZ:
A medida da acidez do solo é feita através da tomada do pH, que pode ser realizada através de
avaliação colorimétrica ou potenciométrica. O método potenciométrico é mais preciso, de fácil obtenção
e por isso o mais utilizado.

O pH fornece uma medida da concentração de íons H + existentes numa solução qualquer. No


solo, o pH fornece a concentração de íons H+ existentes na solução que envolve as partículas sólidas do
solo.

Como as concentrações de H+ da solução tem valores absolutos muito baixos, usa-se expressar
esses valores pequenos numa escala logarítmica, as escala de pH.

A ESCALA DE pH
A escala de pH varia de 0 a 14:

pH<7,0 pH=7,0 pH>7,0

[H+]>[OH-] [H+] =[OH-] [H+]<[OH-]


ÁCIDO NEUTRO ALCALINO

SIGNIFICADO DO VALOR DE PH

1
pH = - log [H+] = log ----

110
[H+]

pH = 6,0  [H+] = 0,000001 M de H+ / L = 10-6 M de H+ / L

1
pH = log ------- = log 106 = 6,0
10-6
pH = 5,0  [H+] = 0,00001 M de H+ / L = 10-5 M de H+ / L

1
pH = log ------- = log 105 = 5,0
10-5

Observa-se que como são concentrações extremamente baixas, a escala logarítmica de pH é mais
adequada, pois permite expressar esses baixos valores de H em números mais facilmente trabalháveis.
Constata-se também que para cada aumento de 10 x na concentração de íons H, há uma
diminuição de 1 (uma) unidade no valor do pH. Portanto, quanto MAIOR é a concentração de H, tanto
MENOR será o valor do pH e vice-versa.

Uma constatação importante, portanto, e que sempre deverá ser lembrada, é:

Baixos valores de pH indicam alta quantidade de íons H.


Altos valores de pH indicam menores quantidades de íons H.

O valor do pH, apesar de representar uma medida de quantidades relativamente pequenas


de íons H na solução, é um parâmetro agronômico extremamente importante, pois indica uma
acidez devida à íons H+ ATIVOS.

O pH governa a atividade dos microorganismos, a solubilidade de elementos tóxicos, tais


como o Alumínio trocável e a disponibilidade e elementos essenciais às plantas, tais como o
fósforo e muito micronutrientes.

O pH, assim, constitui um termômetro das condições químicas do solo.

Apesar dessa grande importância, não é possível, através da simples medida do pH


em água, calcular a quantidade de calcário necessária para corrigir a acidez do solo.

Porquê isso?
Exatamente porquê as quantidades pequenas de H+ na solução (acidez ativa) estão em
equilíbrio dinâmico com uma outra parcela muito, muito maior de outros íons H+ que estão
adsorvidos nas partículas sólidas do solo, ou seja a acidez de reserva ou acidez potencial, que
não deixa o pH mudar facilmente.

Se fôssemos calcular a quantidade de calcário necessária para neutralizar só os H ativos,


medidos pelo pH, chegaríamos a conclusão que não seria preciso aplicar mais do que 1000g (1

111
kg) de calcário por hectare na camada arável. Se fizermos isso, entretanto, veremos que o pH do
solo não se modificará absolutamente nada?!. O que acontece então?

Na verdade, como a acidez de reserva ou potencial é muitíssimas vêzes maior, quando


neutralizamos o H da solução, a fase sólida libera outros H para a solução, e a concentração de H
nesta praticamente não se modifica. Ou seja o pH praticamente não se altera.

Essa capacidade do solo em resistir a mudança do pH se chama PODER TAMPÃO


DE H DO SOLO.

O poder tampão de H depende do conteúdo de argila e de matéria orgânica do solo. Para


solos ácidos, o poder tampão é maior quanto mais argiloso e maior o teor de matéria orgânica.

TIPOS DE ACIDEZ DO SOLO


No solo, os íons hidrogênio podem ocorrer de várias formas:

1 - Como H+ “livre”na solução do solo;


2 - Como H+ ligado na fase sólida do solo (argilominerais, óxidos e húmus)
Neste caso, pode ocorrer como: H trocável - adsorvido
H ligado ao húmus - covalente
H ligado à óxidos - covalente
H proveniente da hidrólise do Al
Al3+ + 3H20  Al(OH)3 + 3H+

As quantidades de H na solução são muito pequenas, ao passo que as quantidades existentes na


fase sólida de solos ácidos são milhares de vêzes mais altas que o H da solução.

Entretanto, os H da fase sólida estão em permanente equilíbrio com os da solução, de tal forma
que se as quantidades de H da fase sólida são altas, serão igualmente altas na solução, e assim o valor do
pH será baixo.

Embora a medida do pH de uma solução de solo e de uma solução pura sejam feitas da mesma
maneira, ou seja, através da medida usando um potenciômetro ou peagâmetro, existem algumas
diferenças fundamentais.

Numa solução salina, por exemplo de KCl dissolvido em água, a medida do pH irá representar a
quantidade de íons H+ totais dissolvidos nessa solução.

Entretanto, quando misturamos água com uma certa quantidade de solo, uma parte pequena dos
+
íons H fica livre na solução do solo, ou seja, dissolvido nas películas de água mais distantes da
superfície das partículas sólidas, e uma grande parte de outros íons H + fica adsorvido (“aderido”) na
superfície dessas partículas.

112
Os íons H+ mais “livres” na solução do solo constituem a chamada acidez ATIVA .
Os íons H+ adsorvidos (“aderidos”) nas partículas constituem uma acidez de RESERVA,
também chamada de acidez POTENCIAL.

Portanto, no solo temos dois tipos de acidez: a ativa e a potencial.

ACIDEZ ATIVA: refere-se a concentração ou a atividade dos íons H+ presentes na solução do


solo. É medida através do pH.

ACIDEZ POTENCIAL: refere-se ao total de íons H presentes na fase sólida + os que ocorrem
na solução do solo, que é muito pequeno. Inclui portanto, o total de íons H (da solução e fase sólida)
mais o Al3+, que também é fonte de H, quando se hidrolisa.

13.

14. PRÁTICA: pH em Água e pH em KCl

Significado do pH:

o pH indica a atividade ( igual a concentração) dos íons H numa solução qualquer. Quando
medido num solo, indica a atividade de íons H na solução do solo. Diferente de um solução pura, onde
temos apenas íons dissolvidos, os íons na solução de um solo estão em equilíbrio com uma quantidade
muito maior de outros íons também ligados na fase sólida do solo. Assim, o pH do solo representa uma
medida da atividade (concentração) daqueles íons H que estão mais “livres” na solução. Como essas
quantidades são muito pequenas, costuma-se expressar seus valores numa escala logarítmica, a do pH.

pH = log __1___
[H+]
O pH é um termômetro das condições químicas do solo. Valores de pH muito baixo indicam
condições inadequadas para o crescimento vegetal. Pode existir muito Al trocável na solução inibindo o
desenvolvimento de raízes e a adequada absorção de outros nutrientes.
A atividade da maior parte dos microorganismos também é afetada pelo pH. Eles se desenvolvem
melhor em valores de pH acima de 5,5.

G. O pH em água e em KCl

O mais usual é determinarmos o pH usando água como solvente (pH em água). Mas também
podemos determinar o pH numa solução salina (KCl 1N ou CaCl2 0,01M). Ambos sempre vão
representar uma medida da atividade de íons H da solução do solo.

113
H. Porquê então determinar os dois valores?

Faz-se essa determinação por dois motivos principais:


a) para evitar o efeito de sais: quando você coleta uma amostra e deixa ela armazenada úmida
num saco plástico por longo tempo antes de analizá-la, os microrganismos continuam
decompondo a matéria orgânica e liberam nutrientes na forma de sais, que podem reduzir o
valor de pH real do solo. O pH em CaCl2, que é geralmente 0,6 unidades menor do que o pH
em água, nos nossos solos, não tem esse problema
b) para saber se o solo tem predomínio de carga líquida positiva ou negativa: para isso
usamos o conceito de pH (delta pH)

pH = pH KCl – pH H20

Quando o delta pH é negativo significa que os colóides do solo (argila, óxidos, M.O.) tem predomínio
de cargas negativas (neste caso o pHKCl é menor do que pH em água)

Quando o delta pH é positivo significa que os colóides do solo (argila, óxidos, M.O.) tem predomínio
de cargas positivas (neste caso o pH em água é menor do que o pHKCl)

I. É normal um solo ter predomínio de cargas líquidas positivas ou negativas?

1) A maioria dos solos tem predomínio de cargas líquidas negativas, e portanto o pH em KCl sempre é
MENOR do que o pH em água. Isto implica que mesmo que a CTC do solo seja baixa, os
argilominerais + a matéria orgânica estão contribuindo com maior quantidade de cargas
NEGATIVAS do que positivas na superfície dos colóides, e portanto o solo terá boas condições de
reter os CÀTIONS úteis para as plantas, tais como Ca, Mg e K. Isto é bom, e implica que existem
mais argilominerais do que óxidos de Fe e Al no solo.

2) Alguns solos entretanto, tem predomínio de cargas líquidas positivas, principalmente no horizonte
B, e portanto seu pH em KCl neste caso é MAIOR do que o pH em água. Isto implica que o solo
tem uma CTC muito baixa nesses horizontes, e geralmente os Óxidos de Ferro e de Alumínio irão
estar predominando sôbre os argilominerais do tipo caulinita. Nesse caso, o predomínio dos óxidos
(que tem mais cargas positivas) sôbre os minerais de argila irá resultar num balanço final em que
ainda vão predominar as cargas POSITIVAS
Solos desse tipo são extremamente desprovidos de bases (muito pobres).
No horizonte superfiicial, felizmente, esses solos tem balanço de cargas negativas, devido a maior
quantidade de matéria orgânica, que contribui com maior quantidade de cargas negativas.

114
Exemplos:
1 - Perfil Latossolo Vermelho Escuro – Brasília, DF
Horizonte Prof(cm) %Argila pH-H20 pHKCl Ca Mg K
meq/100g TFSA
A1

B2 100-120

Al H+Al CTCpH7 S V% C%
meq/100g TFSA

2 - Perfil Latossolo Bruno – Santa Catarina


Horizonte Prof(cm) %Argila pH-H20 pHKCl Ca Mg K
meq/100g TFSA

100-120

Al H+Al CTCpH7 S V% C%
meq/100g TFSA

115
FICHA DE DESCRIÇÃO DE PERFIL DE SOLO

A. DESCRIÇÃO GERAL

PERFIL: Gênese 2003/01


DATA: 12/05/2003
CLASSIFICAÇÃO: Cambissolo A Húmico Alico
UNIDADES DE MAPEAMENTO: Lages/UFSM/SUDESUL – 1973
LOCALIZAÇÃO (MUNICÍPIO, ESTADO E COORDENADAS): 6 Km BR 282, sentido Florianópolis, Rodovia 438 2
Km. Obs: dados a partir da sinaleira Rex.
SITUAÇÃO (DECLIVE E COBERTURA VEGETAL SOBRE O PERFIL): Do mais alto ao mais baixo, dividido em
três partes, estamos no terço inferior da encosta, com declividade semelhante a 12%. Campo nativo predomínio de gramíneas
tipo palha grossa.
ALTITUDE: 880 m
LITOLOGIA: Siltito
FORMAÇÃO GEOLÓGICA: Rio do Rastro
PERÍODO: Permiano (+/- 180 milhões de ano)
MATERIAL ORIGINÁRIO: Produto da alteração do siltito
PEDREGOSIDADE: Não pedregosa
ROCHOSIDADE: Não rochosa
RELEVO LOCAL: Ondulado
RELEVO REGIONAL: Forte ondulado (20 a 40%)
EROSÃO: Não detectável
DRENAGEM: Moderadamente drenado – possui zonas mosqueadas
VEGETAÇÃO PRIMÁRIA: Campo natural – araucária
USO ATUAL: Pastagem natural melhorada
CLIMA: Cfb úmido e frio
DESCRITO E COLETADO POR: Franchielli Motter

116
FICHA DE DESCRIÇÃO DE PERFIL DE SOLO

Espes Consistencia
Horiz Cor Úmido Cor Seca Textura Estrutura Poros Transição
cm Seca Úmida Molhada
35% Granular, Ligeiramente
Argila pequena a plástico,
A 0-51 10YR 3/4 10YR 4/2 Dura Friável Gradual
30% media, ligeiramente
Areia moderada pegajoso

AB 51-67 Gradual

BA 67-86 Clara

Prismática
que se desfaz
45% em blocos
5YR 4/4 5YR 5/4
Argila Subangulares Plástico
B 86-106 Bruno Bruno Dura Friável Gradual
30% e angulares, Pegajoso
Avermelhado Avermelhado
Areia pequena a
média,
moderada
40%
7,5 YR 5/8 7,5 YR 5/6 Argila Plástico
BC 106-126 Maciça Duro Friável Clara
bruno escuro bruno escuro 35% Pegajoso
Areia

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