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Faculdade de Ciências

Departamento de Geologia

Disciplina: Petrografia

Aula 1
Petrografia - Introdução
1

Maputo, Fevereiro de 2024


Mestre Hernani Nhatinombe
Conteudos:
Parte I- Rochas Ígneas ou magmáticas
 Magma e rochas ígneas

 Classificação mineralógica de rochas ígneas


 Classificação geoquímica de rochas ígneas

 Séries magmáticas

 Microscopia de rochas igneas

 Teste 1

Parte II- Rochas Metamórficas


 Factores e tipos de metamorfismo

 Classificação de rochas metamorfismo, quanto T, P e ambiente


tectónico
 Fácies metamórficas e geotectónica

 Microscopia de rochas metamórficas


 Teste 2

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 Objectivos da cadeira:
 Conhecer os princípios e métodos de

classificação de rochas ígneas e


metamórficas;
 Dominar os métodos de observação e

descrição de rochas ígneas e metamórficas;


 Identificar macro- e microscopicamente as

rochas ígneas e metamórficas;

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 Philpotts, A.R. (1990). Principles of igneous and Metamorphic Petrology.
Prentice Hall, London.
 Mackenzie, W.S., Donaldson, C.H.,Guilford, C. (1984). Atlas of Igneous
rocks and their textures. LONGMAN, London.
 Mackenzie, W.S., Donaldson, C.H., Guilford, C. (1984). Atlas of
Metamorphic rocks and their textures. LONGMAN, London.
 Barker, A. 2014. A Key for Identification of Rock-forming Minerals in
Thin-section. Deer, W. A., Howie, R. A. and Zussman, J. 2013. THE
ROCK-FORMING MINERALS. 3rd Ed. Longman Group UK Limited,
London.
 Nesse, W. D. 2013. INTRODUCTION TO OPTICAL MINERALOGY. 4th
Ed. Oxford University Press, New York.
 Donna L. Whitney and Bernard W. Evans. 2010. Abbreviations for names
of rock-forming minerals. American Mineralogist, Volume 95, pages 185–
187.
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 Conceitos
 Composição Química do Magma
 Como São Gerados os magmas?
 Propriedades Físicas
 Formação de rochas ígneas

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 A Petrografia é um ramo da Petrologia cujo objecto é a
descrição das rochas e a análise das suas características
estruturais, mineralógicas e químicas.
 Distingue- se da petrologia, disciplina que se interessa pelos
mecanismos físicos, químicos e biológicos que formam e
transformam as rochas.
 Baseia-se fortemente em observações feitas com o
microscópio petrográfico, mas as observações em
campo/afloramentos e com a lente da mão (lupa) são
também importantes.

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Conceitos
A descrição petrográfica de uma rocha:
i. Identificação de minerais e, se possível, determinação
das suas composições;

i. Determinar relações texturais entre os grãos. Não só


ajudam para classificação, mas fornecem evidências
dos processos activos durante a formação da rocha;

i. Classificação da rocha com base nas percentagens do


volume de vários minerais formadores de rochas.

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Magma
O Magma é a rocha fundida (ou parcialmente fundida) da qual a rocha
ignea é formada. É contituida geralmente por fusão silicatada, embora
fusões carbonáticas e sulfetadas também ocorram.

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Composição do magma
 A fase líquida dos magmas é formada por silicatos fundidos
(com poucas excepções, exemplo dos magmas carbonatíticos)
com proporções variadas de catiões (Si, O, Mg, Fe, Ca, Na, K,
Ti entre outros) junto com iões metálicos (Fe2+, Fe3+, Mg2+,
Na+ entre outros).

 A fase sólida pode ser constituída por cristais que formam-


se inicialmente a partir do próprio líquido ou serem
incorporados no magma (xenocristais), junto com fragmentos
de rochas (xenólitos) incorporados durante a ascensão em
direcção as porções superiores da Terra.

 A fase gasosa inclui vapor de água, dióxido de carbono,


dióxido de enxofre e muitos outros.
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Ascensão
do magma

Câmara magmática – espaço


ocupado pelo magma no interior
da Terra.
Gabro

Basalto
Câmara magmática

Quando o magma excende à


superfície passa receber a
designação de lava.
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 Magma primário (primitivo ou parental)
– magma cuja composição não sofreu
modificações desde a sua geração.
 Magma secundário – magma resultante de
diversos processos que modificaram a sua
composição química original (exemplos:
contaminação, refusão, cristalização
fraccionada).

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 Formação de magmas primários e secundários

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Curva de solidus – T de começo de
fusão ou, então, do final da
cristalização de um magma.
Curva de liquidus – T onde começa a
cristalização de um magma ou, então,
a fusão total de uma fonte sólida.

As curvas de solidus representam o início da fusão, quando então coexiste o


líquido gerado pela fusão com os minerais ainda não fundidos. À medida que o
processo de fusão avança, a proporção líquido/sólido aumenta, até que, em uma
situação ideal, todos os minerais da rocha estejam fundidos. Nesse ponto o
sistema ultrapassa a linha de liquidus, passando a ser apenas fase líquida.
 Gradiente geotérmico
normal, abaixo dos
oceanos e abaixo do
continente, bem como
a linha dos solidus do
peridotito (composição
média do manto).
 Sob condições normais
o manto é sólido.

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A composição química do magma depende
basicamente de três principais factores:
1. composição da rocha fonte;
2. condições em que ocorreu a fusão e de
taxa da fusão;
3. história evolutiva do magma, desde seu
local de geração até seu alojamento na
crusta

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 A composição química de um magma é expressa em termos
de elementos maiores, menores e traços.
 Os elementos maiores e menores são expressos como
óxidos: SiO2, Al2O3, FeO, Fe2O3, CaO, MgO, Na2O,
K2O e TiO2 (elementos maiores), e MnO e P2O5 (elementos
menores).

 Elementos maiores são aqueles com abundâncias acima de


1% em massa, ao passo que elementos menores são
aqueles entre 0,1 e 1% da massa.
 Alguns elementos, tais como o Potássio (K) e o Titânio (Ti)
estão presentes como elementos de abundância menor em
algumas rochas, mas podem atingir proporções de
elementos maiores em outras.
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 Abaixo de 0,1% de massa, entra-se no domínio dos
elementos traço, sendo que a concentração desses
elementos é convencionalmente expressa em termos de
ppm (partes por milhão).
 Os principais elementos traços presentes no magma são: V,
Cr, Ni, Rb, Sr, Y, Zr, Nb, Ba, La, Ce, Nd, Sm, Eu, Gd, Yb,
Lu, Ta, Hf, Th e U.
 Diversos óxidos e elementos voláteis (os gases) podem ser
adicionados a esta lista, entre os quais se destacam o
H2O, o CO2, o SO2, o Cl e o F.
 Magmas de origem crustal (riolíticos, dacíticos ou
andesíticos) são ricos em O, Si, Al, Na, K e H, já os
magmas gerados no manto (basálticos) são mais ricos em
O, Si, Al, Ca, Mg e Fe.
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 Tipos de magmas: – silicatado (+ comum),
carbonatítico (CaO 30-50%, CO2 30-40%,
SiO2<20%) e sulfetado.

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Tipos de Magmas Silicatados Percentagem de SiO2
Ultrabásicos: ricos em Mg e Fe < 45%
Básicos: ricos em Mg, Fe e Ca 45 - 52%
Intermediários: ricos em Fe e Ca 52 - 63%
Ácidos: ricos em Si, K e Na Ácido: > 63%

Diagramas comparando
as composições médias
de magmas silicatados.

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21
Composições químicas de rochas representativas dos diferentes
tipos de magmas.

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23
 A geração de qualquer tipo de magma requer sempre a
fusão parcial (processo também conhecido por anatexia)
de um material fonte, sólido ou essencialmente sólido.

A integração de estudos geofísicos, petrológicos



(experimentos sob condições variadas de P, T),
geoquímicos e isotópicos mostra que as fontes possíveis de
magma são o manto superior (litosférico e astenosférico)
e crusta (continental e oceânica).

 Após sua geração por fusão parcial, o magma normalmente


tem uma evolução complexa (cristalização fracionada,
reação com encaixantes, contaminação crustal, dentre
outros) até formar as rochas como produtos sólidos finais.
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 A fusão não progride indefinidamente e nunca alcança 100%.
 O líquido de fusão (melt) tem menores densidade e viscosidade
em relação à sua fonte sólida, tornando-se, assim, fisicamente
instável; por isto, o líquido tende a escapar da região fonte.
 Acredita-se que até no máximo 40% de fusão ainda é possível
reter o líquido no local onde ele é gerado (caso de magmas
komatiíticos).
 A fusão ocorre em resposta à actuação de vários fatores:
 elevação da temperatura;
descompressão (fusão por alívio de pressão): a queda na

pressão provoca uma diminuição do ponto de fusão das rochas; e
 adição de componentes voláteis ao sistema: provoca o
rebaixamento do ponto de fusão das rochas. 25
Tipos de Fusão Parcial
 Fusão em equilíbrio ou sequencial:
O líquido gerado na fusão reage e se re-equilibra
continuamente com o sólido residual (fonte) até o
momento em que ocorre extração do magma; a
composição química global do sistema permanece
constante até a segregação.
 Fusão fraccionada:
O líquido gerado é extraído do sistema imediatamente
após ser formado, impedindo o seu re-equilíbrio químico
com o sólido residual.
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O que causa a fusão parcial?
Factor-chave
Interseção do gradiente geotérmico com a curva de solidus do material.
Como isto ocorre?
 fusão por elevação de temperatura (anomalias térmicas na geoterma);
 descompressão adiabática (fusão por alívio de pressão, praticamente sem
perda de calor para a encaixante);
 magmas granitóides em zonas de subducção;
 abaixamento do solidus (e liquidus) pela adição de voláteis (ex.: fluidos
altamente aquecidos provenientes da litosfera subductante hidratam a
placa sobrejacente).
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Fusão por aumento da
Temperatura:
Não é um mecanismo muito actuante no
manto.
Está mais relacionado a efeito local dos
Hot Spot

Fusão por diminuição da Pressão:


Ascensão adiabática sem perda de
calor por condução.
É um dos principais processos.
Ocorre quando a rocha expandida
do manto alcança níveis mais
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superficiais.
Fusão em Zona de Subducção:
Nesta região o progresso aquecimento
resulta na liberação de fluídos, acima
da placa subductada.
Provoca um rebaixamento na linha do
solidus e sua fusão parcial.

Fusão por adição de voláteis


(especialmente H2O) :
Peridotito seco (dry) comparado
com várias experiências em
peridotitos saturados em H2O.
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Potenciais fontes de magmas:
1. Manto (litosférico/astenosférico)
2. Crosta
 O processo de fusão parcial de rochas do interior da
terra é o responsável pela geração de magmas.
Isso ocorre como resposta as novas condições de

estabilidade (P, T e X) as quais as rochas estão
submetidas. As principais fontes de calor para o
processo de fusão parcial são o calor residual do núcleo
e do manto, a radioatividade espontânea e os grandes
movimentos tectônicos.

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 Existe uma estreita relação entre a tectônica de placas e a
geração de magmas.
 Os magmas são gerados principalmente em dois ambientes
geológicos principais:

1. Limite de placas
divergentes e
2. Limite de placas
convergentes

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Distribuição geográfica das placas tectônicas da Terra. Os números representam as
velocidades em cm/ano entre as placas e as setas os sentidos do movimento.

32
Seção esquemática da Crosta/Manto (astenosfera/litosfera) indicando a localização
dos sítios formadores de magmas no modelo da Tectônica de Placas.

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Seção esquemática da Crosta/Manto (astenosfera/litosfera)
indicando a localização dos sítios formadores de magmas no
modelo da Tectônica de Placas.

A Vulvanismo de subdução (colisão de duas placas oceânicas


B Vulcanismo intraplaca oceânica (ponto quente)
C Vulcanismo de Vale de rift
D Vulcanismo de subdução (colisão de uma placa oceânica com uma placa continental)
E Vulcanismo intraplaca continental
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Diferentes contextos de formação de magmas

Cadeia montanhosa Cadeia montanhosa Arco de ilhas


vulcânica Ilha vulcânica vulcânicas

Litosfera

Astenosfera

1 Magma basáltico- resultante da fusão de uma rocha constituinte do manto


2 Magma riolítico- resultante da fusão de rochas da crosta terrestre
3 Magma andesítico- resultante da fusão de sedimentos oceânicos e da placa oceânica
4 Magma basáltico- resultante da fusão de uma rocha constituinte do manto, o peridotito
5 Magma basáltico- resultante da fusão de sedimentos oceânicos e da placa oceânica
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Consolidação dos magmas
Por consolidação, os magmas podem originar rochas ígneas extrusivas (basalto) e
intrusivas (granito)
As rochas ígneas extrusivas são formadas
quando o magma extravasa na superfície,
Extrusã onde rapidamente se resfria como cinza
o ígnea vulcânica ou lava e forma cristais minúsculos.
(lava)

A rocha resultante,
como este basalto, é
finalmente granulada
ou tem uma textura
vítrea.
Intrusão
ígnea

As rochas ígneas intrusivas cristalizam-


se quando o magma intrude massas de
rochas não fundidas na crosta terrestre

Os cristais grandes crescem


durante o lento processo de
resfriamento, produzindo
rochas de granulação grossa
como granito, mostrado aqui
como exemplo. 36
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As propriedades físicas são relevantes no
estudo do comportamento deformacional
dos materiais, a reologia.
Os principais factores que afetam o
comportamento reológico dos magmas
incluem a temperatura, a densidade e a
viscosidade.

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 Temperatura
Medições directas das T em lavas
podem ser feitas tanto utilizando-se
uma sonda térmica inserida dentro do
fluxo de lava (ou de um lago de lava)
como utilizando-se um pirômetro óptico
(especialmente utilizado para medição
da T de fontes de lava).
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Estimativas de
temperaturas de erupção
típicas dos principais tipos
dos magmas (Cas &
Wright, 1988):

Estimativas de
temperaturas baseadas na
correspondência entre a
cor e a temperatura das
lavas:

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 Densidade
A densidade é diferente para cada tipo composicional, mas mostra
uma diminuição na densidade com o aumento da T.

A densidade é também dependente da P, aumentando em proporção


junto com a P confinante. A tabela abaixo mostra quatro medições de
densidade a diferentes T para três tipos de rochas vulcânicas
realizadas por Murase & McBirney, 1973 (in Cas & Wright, 1988).

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A densidade dos magmas torna-se um parâmetro
importante quando é considerada como um
comportamento do corpo de magma com respeito as
rochas fonte e o possível movimento dos cristais
dentro da câmara magmática.
 A densidade do magma acompanha o aumento de
pressão indicando a relativa compressibilidade do
líquido magmático.
 A diferença de densidade entre uma fase sólida
qualquer e o magma em que ele se encontra é um dos
fatores principais para se determinar a eficiência
dos processos de diferenciação magmática por
afundamento ou flutuação dos cristais.
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No caso, a densidade de óxidos, sulfetos e minerais silicatados ferromagnesianos é, de
uma maneira geral, bem maior que a de qualquer líquido silicatado, fazendo com que
esses minerais tendam a afundarem para a base da câmara magmática.

Por outro lado a densidade das


plagiocláses gira em torno daquela dos
magmas basálticos ou andesíticos.
Assim, elas devem afundar em magmas
dessas composições sob baixas pressões;
porém, sob pressões elevadas, podem
flutuar.

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 Viscosidade (resistência ao escoamento)
Segundo Williams & McBirney, 1979 (in Middlemost, 1985) a viscosidade é
a propriedade física mais importante dos magmas.
Ela é particularmente importante:
a) nos processos que separam os magmas desde as fases que
permanecem na região fonte;
b) na ascensão e posicionamento dos magmas;
c) na diferenciação magmática; e
d) na difusão dos elementos dentro do magma.
Viscosidade é a propriedade que todo fluido real oferece ao movimento
relativo de qualquer de suas partes; também é conhecido por atrito interno
de um fluido.
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 Dados de viscosidade são obtidos em estudo de lavas no
campo e também em estudos laboratoriais de materiais
naturais ou sintéticos.
 Estes estudos têm demonstrado que variações na
viscosidade dos magmas são principalmente derivadas de
mudanças na T e P, composição química, conteúdo de
voláteis, conteúdo de cristais e conteúdo de bolhas no
magma.
 Magmas ricos em SiO2 (dacitos, riolitos): possuem maior
grau de polimerização de tetraedros de sílica (SiO4)-4,
formando minerais com arcabouço tridimensional
(Quartzo, Feldspatos), provocando aumento de
viscosidade.

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 Magmas pobres em SiO2 (komatiitos, basaltos) possuem menor
grau de polimerização de tetraedros de sílica (SiO4)-4, formando
minerais com estrutura de nesossilicato (olivina, granada),
sorossilicato (allanita, epidoto), implicando menor viscosidade.

 A união de tetraedros de sílica e oxigênio é comumente


denominada de polimerização. Quanto mais sílica (SiO2) existir na
composição de um magma, mais polimerizado é este magma,
conseqüentemente, também mais viscoso.
 Estudos têm demonstrado que magmas riolíticos (72-75% de SiO2)
são mais polimerizados e viscosos que magmas dacíticos (65-71%
de SiO2) e andesíticos (53-64% de SiO2), e esses são mais
polimerizados e viscosos que magmas basálticos (45-52% de SiO2).

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 Magmas ultramáficos, por exemplo Komatiíticos, contém
menos sílica (< 45% de SiO2) que os magmas basálticos e,
portanto, são menos polimerizados e viscosos.
 A redução de viscosidade associada com variações de
densidade e de voláteis permitem movimentos de
convecção no interior de câmaras magmáticas e
consequente homogeneização de líquidos.
 Em resumo:
 Baixa viscosidade: magmas fluidos (derrames de
basaltos).
 Alta viscosidade: magmas de difícil escoamento (formam
domos ou cristalizam em profundidade - riolitos).
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 Relação entre viscosidade
e temperatura de algumas
rochas vulcânicas.

 Notar a alta viscosidade


para rochas ácidas
(riolito) em comparação
com as básicas (basalto
alcalino).

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