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Geoquímica de elementos maiores e vestigiais

Através da composição química das rochas ígneas é possível decifrar os processos que
controlaram a génese e evolução dos magmas que lhes deram origem.

Como se referiu anteriormente, os podem ser subdivididos em três acordo com a sua
abundância:

 elementos maiores,
 elementos menores,
 elementos traço (elementos vestigiais)

COMPORTAMENTO DOS ELEMENTOS MAIORES EM ROCHAS ÍGNEAS

Através da análise do comportamento dos elementos maiores em associações de rochas


ígneas é possível:
 verificar se as rochas estão genéticamente relacionadas, i.e., se
derivaram do mesmo magma parental;
 determinar os principais tipo de processos petrogenéticos envolvidos na
diversificação e evolução desses magmas;
 classificar as rochas e identificar a associação magmática a que pertencem;
 caracterizar os magmas parentais e determinar a natureza das rochas-fonte.
As análises químicas de rochas pertencentes a uma dada província magmática, estrutura
vulcânica ou complexo intrusivo mostram, em geral, uma variação significativa nas
concentrações de elementos maiores.

Uma das maneiras de representar este tipo de variações consiste em traçar


DIAGRAMAS DE VARIAÇÃO QUÍMICA.

As mudanças composicionais observadas estão frequentemente relacionadas com


modificações progressivas da composição de um magma original (magma parental).

CLASSIFICAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DE SÉRIES MAGMÁTICAS

A utilização de diagramas de elementos maiores para efeitos de classificação tem


particular relevância no caso das rochas vulcânicas porque a sua classificação com base
em critérios mineralógicos é pouco exequível devido à textura afanítica e/ou vítrea que
as caracteriza.

O diagrama TAS é um dos diagramas mais usados para classificar este tipo de rochas.
Como se referiu anteriormente, com base nos diagramas (Na2O+K2O) vs. SiO2 e AFM,
é possível também identificar a série ou série magmáticas em que se filiam conjuntos de
rochas espacial e temporalmente associadas.

Diagrama TAS para uma série toleítica (círculos azuis), uma série alcalina
(círculos amarelos) e uma série peralcalina (círculos encarnados). A linha a
tracejado separa o campo das rochas alcalinas do campo das rochas subalcalinas.

PRINCIPAIS SÉRIES MAGMÁTICAS E AMBIENTE GEOTECTÓNICO

Com base nos diagramas (Na2O+K2O) vs. SiO2 e AFM, é possível identificar as
seguintes séries magmáticas.
A - K2O + Na2O
F - FeO + Fe2O3
M – MgO
SÉRIES MAGMÁTICAS E AMBIENTE GEOTECTÓNICO

Existem importantes diferenças entre estas séries em termos da sua relação com os
principais ambientes geotectónicos.
CLASSIFICAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DE SÉRIES MAGMÁTICAS

Os basaltos das cristas médias oceânicas – N-MORB - são toleítos olivínicos com teores
baixos de K2O (< 0.2%) e de TiO2 (< 2.0%). Resultam da fusão parcial do manto
lherzolítico empobrecido.

Os basaltos das ilhas oceânicas – OIB – estão normalmente associados a “hot spots”
(plumas térmicas) e formam-se em ambientes intraplaca oceânica. De acordo com o seu
quimismo, podem distinguir-se 2 séries principais de magmas OIB:

• Séries toleíticas derivadas de um magma parental basáltico toleítico

• Séries alcalinas derivadas de um magma parental basáltico alcalino

A génese dos magmas OIB pode ser extremamente complexa e envolver diferentes
regiões do manto.

Contudo, as características geoquímicas destes magmas apontam para uma origem por
fusão parcial de reservatórios mantélicos enriquecidos relativamente aos dos N-MORB.

Os basaltos continentais – CFB – formam grandes províncias de basaltos (LIP) e estão


normalmente associados a “rifts” e “hot spots” de ambientes intraplaca continental.

Do ponto de vista geoquímico, os magmas CFB parecem resultar de reservatórios


mantélicos ainda mais enriquecidos do que os dos OIB.

Esse enriquecimento do manto pode ter resultado dos fluidos libertados durante os
processos de subducção ou de contaminação crustal.

As séries magmáticas características de ambientes de convergência de placas são:

 Séries toleíticas (magma parental: Basalto Toleítico)


 Séries alcalinas (magma parental: Basalto Alcalino)
 Séries calco-alcalinas (magma parental: Basalto rico em Alumina)

COMPORTAMENTO DOS ELEMENTOS TRAÇO EM ROCHAS ÍGNEAS


Os elementos em traço, ou vestigiais, ou oligoelementos, são definidos como estando
presentes nas rochas em concentrações inferiores a 0,1% de peso, ou seja, menores que
1000 partes por milhão (ppm).
A maioria dos elementos vestigiais não forma os seus próprios minerais, sendo
incorporados na estrutura dos minerais comuns na rocha substituindo os elementos
maiores.

Os elementos em traço cuja carga (valência) e/ou raio iónico não lhes permite ocupar
com facilidade os lugares vagos na estrutura cristalina dos minerais, tenderão a passar
para o “melt” durante os processos de fusão e permanecer no magma durante os
processos de cristalização.

Esses elementos são chamados elementos INCOMPATÍVEIS.

Os elementos em traço que são facilmente incorporados na estrutura cristalina dos


minerais são conhecidos como elementos COMPATÍVEIS.

Como é óbvio, um dado elemento traço pode ser compatível numa dada fase mineral e
incompatível noutra.

Define-se como COEFICIENTE DE PARTILHA de um elemento (KD) num mineral:

em que:

Cs – representa a concentração do elemento na fase mineral (sólido) e

Cl – corresponde à concentração do elemento no líquido com o qual o mineral está em


equilíbrio.

Como se infere directamente da equação, os elementos incompatíveis numa fase mineral


específica apresentam valores de KD <1 enquanto os elementos compatíveis se
caracterizam por valores de KD >1.

Desde o início da formação do planeta, os magmas extraídos do manto ascendem para a


superfície e transportam com eles um enriquecimento em elementos incompatíveis.

A crusta continental torna-se cada vez mais enriquecida em elementos incompatíveis.

O manto fica progressivamente mais empobrecido em elementos incompatíveis.


PROCESSOS DE DIFERENCIAÇÃO MAGMÁTICA

Durante a ascensão do magma até a superfície ou para porções mais rasas na crosta
podem se produzir uma série de processos de diferenciação magmática que variam a
composição do magma. Os principais mecanismos de diferenciação são:

(a) imiscibilidade de líquidos - consiste na separação de um líquido inicialmente


homogêneo em duas fases líquidas distintas composicionalmente. Em muitos processos
de fusão, a imiscibilidade dos líquidos resulta em um líquido rico em metais separado
de um líquido rico em fases silicatadas;

(b) cristalização fracionada - o magma primário pode conter cristais e quando estes
possuem uma densidade distinta do magma, e em condições favoráveis, pode-se
produzir a separação desses cristais, por acumulação na porção superior (os feldspatos,
por exemplo) ou no fundo da câmara magmática (olivinas, piroxênios, por exemplo).
Isto origina a segregação de determinados componentes minerais, variando a
composição do magma residual;

(c) assimilação - durante a ascensão em direção à superfície, o magma pode fundir


porções das rochas encaixantes e incorporá-las, variando assim a composição do magma
original; e

(d) mistura de magmas - ocorre fundamentalmente durante a residência em câmaras


magmáticas, como consequência do aporte de novas pulsos de magmas primários, que
variam a composição do magma ali acumulado.

Como consequência desses processos de diferenciação se originam os denominados


magmas diferenciados ou derivados, cuja composição pode ser muito diferente do
magma primário correspondente. Todos estes fatores (modo de formação, maior ou
menor ascensão na crosta, grau de diferenciação...) são os responsáveis pela grande
variedade de rochas ígneas que conhecemos.

COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS MAGMAS

A composição química de um magma é convencionalmente expressa em termos de


elementos maiores, menores e traços. Os elementos maiores e menores são expressos
como óxidos:
SiO2, Al2O3, FeO, Fe2O3, CaO, MgO e Na2O (elementos maiores); K2O, TiO2, MnO
e P2O5 (elementos menores). Elementos maiores são, por definição, aqueles com
abundâncias acima de 1% em massa, ao passo que elementos menores são aqueles entre
0,1 e 1% da massa.

Alguns elementos, tais como o Potássio (K) e o Titânio (Ti) estão presentes como
elementos de abundância menor em algumas rochas, mas podem atingir proporções de
elementos maiores em outras. Abaixo de 0,1% de massa, entra-se no domínio dos
elementos traço, sendo que a concentração desses elementos é convencionalmente
expressa em termos de ppm (partes por milhão). Os principais elementos traços
presentes no magma são: V, Cr, Ni, Rb, Sr, Y, Zr, Nb, Ba, La, Ce, Nd, Sm, Eu, Gd, Tb,
Yb, Lu, Ta, Hf, Th e U. Diversos óxidos e elementos voláteis (os gases) podem ser
adicionados a esta lista, entre os quais se destacam o H2O, o CO2, o SO2, o Cl e o F.

CONTROLES TECTÔNICOS SOBRE A GERAÇÃO DOS MAGMAS

A atual razão global de geração de magma de rochas ígneas plutônicas e vulcânicas é


em torno de 30 km3/ano. Geração de magmas em cordilheiras meso-oceânicas (limites
de placas tectônicas divergentes) contribui com 75% do volume, 20% do volume ocorre
em zonas de subducção (limites de placas tectônicas convergentes). Os 5%
remanescentes ocorrem em atividade magmática intraplaca dentro tanto de placas
continentais como oceânicas (vulcanismo intraplaca).

Nas cordilheiras meso-oceânicas a produção de magmas é dominada por ascensão


passiva são basálticos em composição e os controles primários sobre a geração do
magma são a temperatura da pluma astenosférica e a composição do manto.

Magmas gerados em cordilheiras meso-oceânicas são menos evoluídos e mais simples,


consistindo quase inteiramente de basaltos toleíticos com variações dependendo da
razão de espalhamento do fundo oceânico. Cordilheiras meso-oceânicas com rápidas
razões de espalhamento do fundo oceânico sofrem poucos processos de diferenciação
devido a presença de grandes câmeras magmáticas e são caracterizadas por pulsos de
magma relativamente homogêneos. Por outro lado, cordilheiras meso-oceânicas com
lentas razões de espalhamento do fundo oceânico possuem pequenos e descontínuos
reservatórios de magmas que sofrem mais extensos processos de diferenciação,
produzindo uma ampla variação de tipos basálticos.
Em zonas de subducção, tanto continentais como oceânicas, a geração de magmas é
controlada por um processo que envolve a interação de fluídos (principalmente H2O)
liberados pela placa que está sendo subduzida com o manto sobrejacente (fusão por
variação na composição química dos fluídos do sistema). Magmas produzidos através
desse processo são hidratados. A quantidade de água que é incorporada no magma
depende da pressão e da temperatura. A solubilidade da H2O no magma é extremamente
pequena em pressões superficiais, mas aumenta dramaticamente com o aumento da
pressão. Em ambiente de subducção estão presentes também magmas gerados por
descompressão. Ambos os tipos de magmas (gerados por descompressão e hidratados)
ascendem dentro de crosta continental ou oceânica, onde eles resfriam e sofrem
cristalização fracionada. O magma quente interage quimicamente com a crosta. Estes
processos produzem uma grande variação na composição química dos magmas
originados em margem convergentes. Os magmas resultantes variam em composição
desde basálticos, passando por andesíticos, até ríolíticos.
Suítes vulcânicas de arco de ilhas variam de acordo com a espessura e composição da
litosfera oceânica sobrejacente. No início de desenvolvimento de um arco de ilha
oceânico, magmas derivados do manto não são de uma maneira geral obstruídos durante
sua ascensão devido a pequena espessura da crosta oceânica, resultando na erupção de
basaltos toleíticos e andesitos basálticos muito fluídos. Quando o arco desenvolve-se
mais, a crosta oceânica torna-se mais espessa e começa a atuar como um filtro, fazendo
com que o magma primário fique armazenado em uma série de câmaras magmáticas
interconectadas em uma posição crustal mais superficial. A ascensão do magma,
particularmente dentro do centro do arco vulcânico, é um processo lento e caprichoso
onde processos de diferenciação magmática começam a atuar, gerando magmas cálcio-
alcalinos e mais intermediários, tais como andesitos.
Ao longo de margens continentais convergentes a situação é mais complexa ainda,
grandemente devido a passagem dos magmas cálcio-alcalinos através da crosta
continental espessa, com a mais notável diferença em relação aos arcos de ilhas
oceânicos sendo a maior abundância de magmas mais ricos em sílica (dacitos e riolitos).
Vulcões intraplaca oceânicos erupcionam tanto magmas toleíticos como alcalinos.
Grandes ilhas oceânicas mostram uma seqüência evolucionária comum, desde um
estágio inicial toleítico no qual são construídos os vulcões do tipo escudo até uma fase
mais tardia alcalina, que muitas vezes sucedem períodos prolongados de calmaria
(dormência), como por exemplo no Havaí. Produtos eruptivos iniciais (toleíticos)
presumidamente representam fusões parciais relativamente não contaminadas da fonte
da pluma mantélica, enquanto que os produtos mais tardios (alcalinos) refletem
pequenos graus de fusão parcial da litosfera oceânica. Magmas mais alcalinos possuem
concentrações mais elevadas de elementos voláteis, e consequentemente possuem
minerais hidratados (por exemplo, anfibólio), e assim as erupções são mais explosivas.
Vulcanismo em regiões de riftes continentais mostram dois membros finais que
refletem a evolução dessas estruturas: riftes ativos vulcanicamente são caracterizados
por atividade
magmática mais volumosa, elevadas razões de extensão crustal, basaltos
moderadamente
alcalinos e distribuição bimodal de tipos de magmas básicos e ácidos; riftes passivos
possuem localmente centros vulcânicos alcalinos e são caracterizados por relativamente
pequenos volumes de produtos erupcionados, baixas razões de extensão crustal,
atividade vulcânica descontínua e um amplo espectro de magmas basálticos alcalinos e
também de magmas composicionalmente mais diferenciados.

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