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Biologia PROFESSOR FLÁVIO LANDIM

ORIGEM DA VIDA – PARTE 2

O PRIMEIRO SER VIVO ERA


HETERÓTROFO OU AUTÓTROFO?
Os fósseis mais antigos já achados são representantes de dois
tipos de seres vivos: bactérias e cianobactérias (algas azuis),
ambos procariontes. O fato de eles serem procariontes acaba
se tornando muito lógico: se procariontes (células não dotadas de
membrana nuclear ou organelas membranosas) são formas celu-
lares mais simples que eucariontes (células dotadas de membra-
na nuclear e organelas membranosas), portanto devem ter surgi-
do primeiro. Quanto a isso não há discussões, mesmo porque os
ASSUNTOS DA AULA. fósseis eucariontes mais antigos têm cerca de 1,7 bilhões de anos
apenas.
Clique no assunto desejado e seja direcionado para o tema.
Entretanto, fósseis de bactérias e cianobactérias surgiram
aproximadamente no mesmo período. A diferença entre eles
• A origem da vida - Parte 2
é a mesma até hoje: bactérias em sua maioria são organismos
heterótrofos (do grego hetero, ‘diferente’ e trophos, ‘nutrição),
• Origem dos eucariontes a partir dos procariontes
ou seja, para conseguirem energia, necessitam de material
orgânico obtido no meio, para depois transformá-los através da
• Origem da multicelularidade
respiração aeróbica (dependente de O2) ou fermentação (respi-
ração anaeróbica). Já as cianobactérias são autótrofos (do grego
• Eras geológicas
auto, ‘próprio’), ou seja, não dependem de matéria orgânica do
meio, pois podem produzir sua própria matéria orgânica aproveit-
• Exabiologia ou astrobiologia: a possibilidade de vida fora da
ando-se da energia do meio para fabricá-las, basicamente através
Terra
do processo fotossintético, que aproveita a luz como energia.
Como existem algumas formas autótrofas de bactérias (sejam
elas fotossintetizantes ou realizadoras de quimiossíntese, pro-
cesso que se utiliza da energia de compostos inorgânico para a
fabricação de compostos orgânicos), a grande pergunta acaba
sendo: quem surgiu primeiro, os heterótrofos ou autótrofos?
2 B I O LO G I A

A HIPÓTESE co para produzir seu próprio alimento,


surgindo assim a fotossíntese (ou a Tome nota:
HETEROTRÓFICA DE
quimiossíntese) e os seres autótrofos.
OPARIN A fotossíntese teria liberado, por sua
Oparin acreditava, e afirmava em vez, oxigênio na atmosfera, permitin-
sua hipótese heterotrófica, que o do que surgissem organismos capazes
primeiro ser vivo deve ter sido um de aproveitá-lo em suas reações me-
heterótrofo fermentador. Os argumen- tabólicas para retirar energia dos ali-
tos utilizados para a defesa desta idéia mentos, surgindo assim a respiração
são vários: aeróbica, muito mais eficiente que o
processo fermentativo.
Observe bem que o oxigênio pre-
- Como havia matéria orgâni-
sente na atmosfera só surgiu no plane-
ca em abundância nos mares
ta devido à ação dos seres vivos, numa
primitivos, não haveria neces-
prova clara da influência dos seres vi-
sidade dos organismos serem
vos como modificador do ambiente.
autótrofos e fabricarem seu
próprio alimento, bastando re-
tirá-lo do meio.
- o processo fotossintético
é demasiadamente complexo
quando comparável com pro-
cessos como a fermentação,
sendo pouco provável que o
primeiro organismo já fizesse fo-
tossíntese.
- se a fotossíntese tivesse
surgido primeiro e os organis-
mos fossem autótrofos no início,
os heterótrofos não teriam razão
para surgir.
A HIPÓTESE AUTOTRÓFICA (HIPÓTESE
- para fazer respiração QUIMIOLITOAUTOTRÓFICA)
aeróbica, além do materi-
As fontes termais submarinas são ecossistemas aquáticos descobertos em
al orgânico, é necessário gás
1977 e existentes em grandes profundidades em regiões onde se abrem chaminés
oxigênio, ausente na atmosfera
vulcânicas no oceano. O ecossistema local se baseia na ação quimiossinteti-
primitiva, sendo impossível, pois,
zante de arqueobactérias extremófilas (quimiolitoautotróficas, onde lithós
fazer-se respiração aeróbica. As-
vem do grego ‘rocha’). Essas utilizam os gases de enxofre e compostos de ferro
sim, acredita-se que o primeiro
liberados pelas chaminés para a produção de energia.
ser vivo realmente tenha sido
um heterótrofo fermentador.

Com o tempo, a matéria orgânica


livre ficou escassa, e a atmosfera ficou Essa energia então é utilizada para a síntese de matéria orgânica, base para
rica em gás carbônico. Alguns organis- a alimentação de toda uma comunidade cujos consumidores são representados
mos para sobreviver em ambientes po- por animais como vermes anelídeos tubícolas gigantes, de até 1 metro de compri-
bres em alimento foram selecionados mento, e caranguejos albinos. As bactérias estão associadas simbioticamente aos
por utilizarem gás carbônico atmosféri- vermes.

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PR O FE S S O R L A N D I M 3

A geologia de uma fenda hidrotermal

Alguns pesquisadores defendem que a vida teria surgido nessas condições que, acredita-se, lembram a Terra primitiva,
onde devem ter sido abundantes. Essa ideia, conhecida como hipótese quimioautotrófica, explica a origem da vida de
modo bem diferente de Oparin.
As altas temperaturas geradas pelas chaminés vulcânicas submarinas entram em contraste com o frio do oceano
a grandes profundidades. Isso gera um gradiente de temperatura que facilita a ocorrência de reações químicas.
Para os defensores da hipótese quimioautotrófica, essas condições possibilitariam o surgimento de compostos orgânicos a
partir de substâncias inorgânicas dissolvidas na água. Se depender dessa hipótese, esqueça relâmpagos incidindo sobre os
gases da atmosfera primitiva e gerando moléculas orgânicas simples no ar; as primeiras moléculas orgânicas já teriam sido
geradas na água. As chaminés, por exemplo, liberam gases como o H2S, que supriria o lugar do gás hidrogênio (cuja
presença na atmosfera primitiva em grandes quantidades é atualmente questionada).
Um outro argumento dos defensores dessa hipótese é que a fonte de energia para os primeiros organismos se basearia
numa reação bastante simples para as condições existentes nas fontes termais. A produção de energia a partir da reação
do H2S com os compostos de ferro possibilitaria a fácil produção de novas moléculas orgânicas, como os organis-
mos quimiossintetizantes que existem hoje próximos às fontes fazem.
Um outro forte ponto a favor da hipótese autotrófica é que o fundo do mar seria um nicho bem mais confortável e seguro
para o surgimento da vida do que a superfície dos mares primitivos rasos onde Oparin defendia que a vida surgiu. O registro
geológico aponta para uma frequente queda de meteoros e cometas na Terra primitiva, o que deve ter causado uma
série de extinções em massa nos primórdios da vida. Um meteorito que caísse no mar levaria à evaporação da água e con-
sequente morte dos seres lá existentes. Um outro aspecto é que, devido à ausência de oxigênio na atmosfera primitiva,
também não haveria camada de ozônio, impossibilitando a vida nas regiões mais superficiais dos oceanos, mais
exposta às radiações ultravioleta.
A origem da vida próxima às chaminés vulcânicas, e, portanto, em grandes profundidades, possibilitaria uma
proteção contra os impactos com meteoros e a forte incidência da radiação UV.

ORIGEM DOS EUCARIONTES A PARTIR DOS PROCARIONTES


A primeira forma de vida, como já mencionado, deve ter sido uma célula procariótica. Células procarióticas são notada-
mente simples em termos organizacionais, e caracterizadas, dentre outras coisas, por:

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- ausência de núcleo organizado (ausência de carioteca);


- ausência de organelas membranosas (sistema de endomembranas: retículo endoplasmático, complexo
de Golgi, lisossomos, peroxissomos, mitocôndrias, plastos, etc);
- ausência de citoesqueleto;
- presença de ribossomos 70S (ao contrário dos ribossomos 80S das células eucarióticas);
- presença de cromossomo único com DNA desnudo (não associado a proteínas histonas) e circular (ao
contrário das células eucarióticas, que possuem vários cromossomos com DNA associado a proteínas his-
tonas e em cadeia aberta).

A transição das células procarióticas para as eucarióti-


cas envolveu um conjunto de fenômenos que, acredita-se,
se processaram através de duas aquisições principais: car-
ioteca/sistema de endomembranas e mitocôndrias/
plastos.

A HIPÓTESE DE ROBERTSON E
A ORIGEM DA CARIOTECA E DO
SISTEMA DE ENDOMEMBRANAS
Com a membrana livre de funções oxidativas, uma vez
que as mitocôndrias já estariam realizando esses processos, Origem da célula eucariótica pelas hipóteses
novas estruturas puderam se formar. Segundo a hipótese da simbiose e de Robertson
de Robertson, a membrana plasmática da célula procarióti-
ca teria começado a sofrer evaginações e invaginações, A HIPÓTESE DA SIMBIOSE (HIPÓTESE
projeções para fora e para dentro, aumentando seu volume, DA ENDOSSIMBIOSE SEQUENCIAL
mas também sua área de superfície. Essas projeções teriam DE LYNN MARGULIS) E A ORIGEM DE
originado as organelas (sistema de endomembranas) e
MITOCÔNDRIAS E CLOROPLASTOS
a carioteca, restringindo o material genético à região cen-
tral da célula, agora constituindo um núcleo verdadeiro. Algumas bactérias realizam fotossíntese usando como
Isso possibilitou à célula assumir dimensões maiores, uma fonte de hidrogênios para reduzir o gás carbônico a
vez que as membranas do sistema de endomembranas pos- molécula de H2S, num processo que libera enxofre (S) como
sibilitaram uma compensação para a redução na relação subproduto. Com o surgimento do processo de fotossíntese
superfície/volume advinda do aumento de tamanho (ver com fotólise da água em cianobactérias, gás oxigênio (O2)
adendo sobre Lei de Spencer). começou a ser liberado em grandes quantidades.
As evidências da hipótese de Robertson são a com- De início, esse gás não se acumulou na atmosfera, pois
posição química idêntica de membrana plasmática, teria reagido com o ferro livre (Fe++) abundante nos oceanos
organelas membranosas e carioteca, o que sugere que primitivos para formar óxidos de ferro, dando origem a
tiveram origem comum, e a continuidade existente en- depósitos de minérios como a hematita. Quando esse ferro
tre essas três estruturas. Inclusive, o retículo endo- livre se esgotou e assumiu todo a forma de óxidos de ferro,
plasmático é o responsável pela formação da cariote- gás oxigênio livre pôde começar a se acumular nos oceanos
ca após a divisão celular nas células atuais. O fato de e na atmosfera. Registros geológicos mostram que esse
a carioteca ser uma membrana dupla também pode ser acúmulo de oxigênio começou a ocorrer há cerca de
explicado pela sua origem na evaginação da membrana 2,5 bilhões de anos, saindo de uma atmosfera sem oxigê-
plasmática. nio para a atual concentração de cerca de 21% de O2.

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Acúmulo de O2 na atmosfera ao longo tempo.

O acúmulo de oxigênio na atmosfera resultou numa aconteceu com os anaeróbicos restritos? A eles, sobraram
importante mudança ecológica na época. Como o gás três alternativas: se extinguirem (essa não é a mais legal,
oxigênio é um agente oxidante poderosíssimo, muitos mi- com certeza), ocuparem nichos sem oxigênio (como alguns
croorganismos não tinham como se proteger de sua ação, fazem até hoje, em certas áreas do solo, nos intestinos de
que acabava sendo letal muitas vezes. Até hoje o O2 é animais como você e eu, e daí por diante), ou se associarem
venenoso para vários organismos (ditos anaeróbicos aos aeróbicos. É aí que entra a hipótese da simbiose de
restritos), incapazes de degradar radicais livres de oxigênio Lynn Margulis.
que oxidam suas moléculas constituintes. Naquela época, Segundo essa idéia, alguns microorganismos anaeróbi-
muitas espécies de bactérias devem ter sido extintas com os teriam englobado seres aeróbicos sem, entretanto, di-
uma mudança tão radical nas condições ambientais plan- geri-los; muito pelo contrário, os anaeróbios passaram a se
etárias. A bióloga Lynn Margulis denominou esse episódio associar mutualisticamente com os aeróbios englobados,
de extinção em massa de "holocausto do oxigênio" (nome presos dentro de seus citoplasmas (daí o nome "endossim-
dramático, mas bem aplicado: holocausto vem do grego ho- biose" ou "endomutualismo"). A célula maior anaeróbica
lokáuston e designa uma forma de sacrifício em que a víti- fornecia proteção à célula menor aeróbica, que em troca
ma era queimada, oxidada como os microorganismos sob a protegia a célula maior da ação tóxica do oxigênio e ainda
ação do oxigênio...). aumentava a eficiência do seu metabolismo energético. Es-
Muitos organismos foram também beneficiados por essa sas bactérias aeróbicas associadas teriam se incorporado
mudança ambiental. Isso porque muitas espécies de bac- permanentemente à célula anaeróbica maior e dado origem
térias da época desenvolveram mecanismos para utilizar o às mitocôndrias.
oxigênio numa degradação mais completa e energetica- Em algumas células, teria havido também o englobamen-
mente rentável da matéria orgânica. Até então, os organis- to de cianobactérias, numa associação onde os microor-
mos fermentadores só conseguiam oxidar a glicose parcial- ganismos englobados teriam se tornado plastos.
mente, até ácido láctico ou álcool etílico, por exemplo. Com Atualmente, mitocôndrias e plastos não podem ser
o auxílio do oxigênio e de toda uma maquinaria enzimática considerados formas de vida independentes, uma vez
desenvolvida na membrana plasmática da célula, a glicose que não conseguem se manter sozinhos fora da célula. De
passou a se inteiramente oxidada a CO2 e água, num pro- algum modo, parte dos genes essenciais à manutenção
cesso de respiração aeróbica bem mais proveitoso. Particu- dessas organelas está hoje no núcleo da célula eucariótica,
larmente uma dobra (invaginação) da membrana plasmática o que confere essa interdependência.
bacteriana denominada mesossomo começou a acumular
enzimas próprias para a realização da cadeia respiratória, Embasamento para a hipótese da simbiose
principal fase do metabolismo aeróbico da glicose. - Deve-se observar que mitocôndrias e plastos são es-
Num ambiente com oxigênio, a competição favorecia truturas bem parecidas. Ambos possuem duas membranas,
claramente os seres aeróbicos, mais eficientes em proces- sendo a interna dobrada (para formar cristas mitocondriais
sar seu alimento e capazes de degradar metabólitos tóxicos ou lamelas), ambos possuem DNA, RNA e ribossomos. O
de oxigênio que lhes pudessem ser prejudiciais. E o que mais interessante é que o DNA dessas organelas não é o

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mesmo do núcleo, sendo inclusive circular e não associado a proteínas (o cromossomo eucariótico é filamentar e associado
a proteínas, a histona). Além disso, esse DNA sem proteínas (dito desnudo) possui genes diferentes daqueles dos cromosso-
mos. Os ribossomos são diferentes daqueles encontrados no citoplasma. Essas características são semelhantes às de células
procarióticas. Na bactéria, há invaginações de membrana, denominadas mesossomos (com função de realizar a cadeia respi-
ratória) e lamelas (que abrigam os pigmentos fotossintetizantes), análogas a cristas mitocondriais (com função de realizar a
cadeia respiratória também) e lamelas (que abrigam os pigmentos fotossintetizantes também). O DNA da bactéria é circular e
não associado a proteínas (desnudos), como o DNA mitocondrial e dos plastos. Por fim, os ribossomos de procariontes (ditos
70S), menores que os de eucariontes (ditos 80S), são idênticos aos mitorribossomos e ribossomos de plastos (também ditos
70S).
Células procarióticas
Células eucarióticas Mitocôndrias e Plastos
(bactérias e cianobactérias)

Associado a histonas, em Desnudo (não associado Desnudo (não associado


DNA cadeia aberta, e organizado a histonas), circular e em a histonas), circular e em
em vários cromossomos cromossomo único cromossomo único

Ribossomos 80S 70S 70S

Invaginações Cristas mitocondriais para a cadeia


Mesossomo para a cadeia respiratória;
respiratória em mitocôndrias; lamelas para
de membrana Sistema de endomembranas lamelas ou cromatóforos para acumular
plasmática acumular pigmentos fotossintetizantes
pigmentos fotossintetizantes
em plastos

- Outro argumento é que mitocôndrias e cloroplastos possuem síntese protiica e autoduplicação independentes daquela
da célula, controladas pelos seus próprios DNAs.
- Vale lembrar também que mitocôndrias são a exceção à universalidade do código genético, o que também é um forte
indício da sua origem externa à célula.
- A presença das duas membranas é outro argumento: a membrana externa de mitocôndrias e plastos teria tido origem na
própria membrana do fagossomo de quando a bactéria teria sido fagocitada; a membrana interna teria tido origem na membra-
na plasmática da bactéria. Inclusive, as proteínas da membrana externa são codificadas pelo DNA nuclear, e as da membrana
interna, pelo DNA mitocondrial ou do plasto.
- Atualmente existem alguns protozoários, como o Pelomyxa palustris que não possuem mitocôndrias, havendo em seu
lugar bactérias aeróbicas endomutualísticas. Da mesma maneira, o Cyanophora paradoxa não apresenta cloroplastos, mas
cianobactérias endomutualísticas com a mesma função.

O núcleo deve ter surgido antes das mitocôndrias


Para o surgimento de mitocôndrias de acordo com a hipótese da simbiose, deve ter havido fagocitose de bactérias, o que
é realizado por um citoesqueleto que leva à emissão de pseudópodes. O problema é que os movimentos proporcionados pelo
citoesqueleto podem levar a danos no DNA, a não ser que este esteja protegido, como pela presença de uma carioteca.
Assim acredita-se que a carioteca surgiu antes das mitocôndrias, protegendo o DNA contra lesões proporcionadas pelo
movimento do citoesqueleto na emissão dos pseudópodes para o englobamento de bactérias por fagocitose.

Tome nota:

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ORIGEM DA Dificuldades trazidas pela multicelularidade


Como desvantagens, pode-se citar o fato de que o organ-
MULTICELULARIDADE ismo pluricelular necessita de muito mais nutrientes. Além
disso, ele deve ter uma intrincada rede de comunicação e
Provavelmente, os organismos pluricelulares surgiram a controle entre suas células para haver uma harmonia entre
partir de colônias de organismos unicelulares. Esses seriam elas. Deve haver também eficientes mecanismos para aqui-
organismos independentes que teriam se associado para sição, transporte e eliminação de substâncias envolvidas
conseguir uma melhor adaptação ao meio ambiente. Te- no metabolismo. Essas dificuldades foram superadas com
ria vindo então uma divisão de trabalho dentro da colônia, o aparecimento da especialização celular, dos tecidos, dos
com organismos especializados em reprodução, defesa, ou órgãos e dos sistemas nervoso, endócrino, circulatório, etc.
outra função qualquer. Até esse ponto, pode-se caracterizar
esta estrutura como uma colônia de organismos unicelu-
E OS VÍRUS?
lares independentes porque, ao retirar-se uma célula da Uma vez que vírus necessitam de uma célula para se
associação e isolá-la, mesmo sendo ela razoavelmente es- replicarem, é pouco provável que tenham surgido antes
pecializada, ela será capaz de sobreviver. A transição desta da célula e esperado que ela surgisse para poderem se re-
colônia de organismos unicelulares para um organismo plu- produzir. É mais provável que os vírus tenham surgido
ricelular veio a partir do momento que uma célula retirada a partir de porções de ácidos nucléicos desgarrados
da associação está tão especializada e dependente das de uma célula, contendo genes capazes de codificar
demais que é incapaz de sobreviver sozinha: está-se agora a sua autoduplicação e a síntese de uma cápsula pro-
diante de um organismo pluricelular. teica para a proteção desse material genético. Como
O fato de um organismo ser pluricelular traz vantagens e não possuiriam aparelhagem enzimática para expres-
desvantagens em relação a ele ser unicelular. sar esses genes, necessitariam do aparato metabólico
de uma célula hospedeira para essa replicação. Com o
Vantagens da multicelularidade tempo, devem ter surgido nos vírus genes para maximizar
Como vantagens, pode-se citar: a expressão de seus genes, inclusive prejudicando a ex-
- Maiores chances de sobrevivência (se o organismo pressão dos genes da célula hospedeira.
unicelular perder uma célula, ou seja, sua célula única, ele Modernamente, alguns estudiosos suspeitam que, talvez,
morre; o organismo pluricelular pode perder várias células e vírus de RNA sejam resquícios do mundo do RNA.
ainda assim sobreviver normalmente); Neste mundo pré-biótico, onde não havia células a serem
- Facilidade na manutenção da homeostase (o organis- parasitadas, esses vírus utilizariam as enzimas e a energia
mo unicelular obrigatoriamente vive na água, e está sujeito química do próprio caldo primordial para se replicarem.
às condições físico-químicas dessa água, como tempera- Com o surgimento das células, essa matéria orgânica livre
tura e pH, por exemplo, não tendo como controlar esses fa- no caldo primordial teria se esgotado, uma vez que teriam
tores; o organismo pluricelular pôde desenvolver uma série sido consumidos e/ou sido incorporados às primeiras formas
de mecanismos homeostáticos que lhe permite manter de vida. Com esse esgotamento, os vírus teriam passado a
temperatura e composição química bem distintas do meio parasitar e usar o metabolismo das células em seus proces-
ambiente, adequando-se a uma série de variações ambien- sos de replicação.
tais); É bem possível que as duas ideias sejam corretas e vírus
- Facilidade de locomoção e aquisição de nutrientes (o tenham surgido a partir desses dois processos.
organismo unicelular, por ter dimensões reduzidas, tem cer-
ta dificuldade de procurar alimento, podendo mesmo mor- CRONOLOGIA DA HISTÓRIA DA VIDA
rer de fome a poucos centímetros de uma fonte de alimento,
pois esta distância será relativamente enorme para ele). Breves comentários sobre radioatividade
- Proteção contra predadores, uma vez que, quanto Átomos são formados por três partículas essenciais:
maior o organismo, menor a probabilidade de ser atacado elétrons, prótons e nêutrons (é nada...). Como todo mundo
por um inimigo natural. sabe (espero...), prótons e nêutrons estão localizados numa

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8 biologia

região do átomo denominado de núcleo. Muitas vezes, o a idade da amostra. Novamente, lá vão exemplos (lembre-se
arranjo desses prótons e desses nêutrons no núcleo atômi- nesses exemplos que a meia-vida do U-238 é de 4,47 bil-
co é muito instável, e o núcleo acaba por desabar sobre si hões de anos, certo?):
mesmo. Nesse processo, energia é liberada juntamente com - Qual a idade de uma rocha que possui 50% de urâ-
uma ou mais partículas de prótons ou nêutrons, o que se nio-238 e 50% de chumbo-206 em sua composição? A
convencionou chamar de radiação. Elementos químicos cada meia-vida, 50% do urânio de uma amostra se converte
que possuem essa instabilidade atômica em seu núcleo em chumbo. Assim, se há 50% de chumbo na amostra, a ro-
apresentam uma propriedade denominada de radioativi- cha deve ter a idade da meia-vida do U-238, ou seja, 4,47
dade. bilhões de anos. Essa foi fácil.
Com a perda de partículas atômicas durante a emissão - Qual a idade de uma rocha que possui 25% de urâ-
de radiação, prótons podem ser perdidos por um elemento, nio-238 e 75% de chumbo-206 em sua composição? De
que acaba então se transformando em um outro elemen- 100% de U-238 para 50% de U-238 (a quantidade de urâ-
to, num processo denominado decaimento. Por exemplo, nio-238 foi dividida pela metade), uma meia-vida se passou;
o urânio-238 emite radiação e perde partículas nucleares, de 50% de U-238 para 25% de U-238 (a quantidade de urâ-
decaindo em tório-234, que por sua vez emite radiação e nio-238 foi dividida pela metade de novo), outra meia-vi-
decai em protactínio-234, que por sua vez emite radiação da se passou. Da amostra inicial para a amostra final, duas
e decai em outro composto e assim sucessivamente. Ao fim meias-vidas se passaram, totalizando 2 X 4,47 bilhões = 8,94
de uma cadeia de 13 elementos que decaem um no outro, bilhões de anos.
a partir de urânio-238 obtém-se chumbo-206, que não é Alguém pode pensar que esse método não é seguro
mais radioativo. porque a rocha original já possuía urânio e chumbo, mas
Não é possível prever quando um determinado átomo dados geológicos nos mostram que não há rochas original-
radioativo vai decair. Um grupo de átomos radioativos, en- mente formadas com essa composição; rochas que possuam
tretanto, obedece a leis estatísticas: se num certo período esses dois elementos simultaneamente devem ter possuído
de tempo, um elemento radioativo tem uma chance de X% originalmente somente U-238, e o Pb-206 surgiu pelo decai-
de decair, é de se esperar, que ao longo desse mesmo perío- mento. Entretanto, deve-se levar em conta a possibilidade
do de tempo, X% dos átomos radioativos em uma amostra de a amostra ter sido contaminada pela entrada ou saída de
tenham perdido sua radioatividade e decaído. átomos desses elementos, de modo que é interessante que
A emissão de radioatividade, então, ocorre a um ritmo a amostra original esteja isolada, beleza?
constante, que varia de acordo com o elemento químico Vários elementos radioativos podem ser usados nesse
radioativo em questão. cálculo: urânio-238 (de meia-vida de 4,47 bilhões de anos),
potássio-40 (de meia-vida de 1,3 bilhões de anos), urâ-
O tempo para um determinado composto perder nio-235 (de meia-vida de 704 milhões de anos) etc. Para
metade de sua radioatividade, ou seja, para que meta- uma precisão maior, numa rocha que possua mais de um
de dos átomos radioativos de uma amostra decaia elemento radioativo, pode-se processar a datação a par-
para um outro tipo de átomo é chamado de meia-vida. tir de mais de um composto. Esses compostos radioativos
funcionam então como “relógios radioativos”. O mais usa-
do deles é o relógio de urânio-chumbo, que calcula a
Por exemplo, a meia-vida do urânio-238 é de 4,47 bil- idade das rochas pelo decaimento de urânio-235 em
hões de anos. Isso quer dizer que, em 4,47 bilhões de anos, chumbo-207.
50% de uma amostra de urânio-238 terá decaído em chum-
bo-206. Onde antes havia somente urânio-238, haverá ag- A idade da Terra
ora 50% de chumbo-206. Simples, né? As rochas mais antigas já encontradas na Terra têm cer-
ca de 4,04 bilhões de anos. Essa idade foi calculada a partir
Calculando a idade de rochas de amostras de urânio e chumbo aprisionadas em deter-
Conhecendo a meia-vida de um elemento radioativo e a minados tipos de rochas que funcionam como uma cela,
proporção desse elemento em uma amostra, pode-se cal- impedindo a saída ou entrada de átomos que poderiam
cular a quanto tempo ele está decaindo, de modo a se obter prejudicar sua datação.

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Entretanto, o cálculo da idade de meteoritos (que C-12 (preferencialmente incorporado pela matéria viva), a
são na verdade resquícios da origem do Sistema So- rocha deve ter se formado a partir de seres vivos; se há uma
lar), aponta para uma datação mais antiga para o Siste- alta proporção de carbono-13 do que a da matéria orgânica,
ma Solar e consequentemente a Terra, sendo a idade sua origem não é orgânica.
calculada em cerca de 4,55 bilhões de anos. Essa dif- Rochas que surgiram antes da origem da vida na Terra
erença pode ser explicada pelo fato de que possivelmente são facilmente reconhecidas pela maior proporção de C-13.
as rochas presentes na origem da Terra foram destruídas As rochas mais antigas que apresentam uma maior
ao longo da história geológica do planeta e substituídas proporção de C-12, mostrando sua origem a partir
por outras. Mesmo as rochas de 4,04 bilhões de anos são da ação de organismos vivos, foram encontradas na
uma excentricidade, sendo encontradas atualmente em Groenlândia e datadas em cerca de 3,85 bilhões de
somente algumas regiões do planeta, e com certa dificul- anos pelo relógio urânio-chumbo, sendo a mais antiga
dade; rochas mais antigas não devem mais existir devido evidência de vida na Terra.
a fenômenos geológicos. A datação de meteoritos é então Alguns microorganismos como cianobactérias formam
mais confiável, pois eles não passaram por nenhuma per- colônias que podem assumir grandes dimensões em cer-
turbação geológica desde a origem do Sistema Solar e da tos ambientes aquáticos ricos em nutrientes. Para manter
Terra, o que poderia levar a uma margem de erro bem maior as colônias unidas, seus membros produzem substâncias
na datação. pegajosas, às quais podem aderir partículas minerais do
meio. Esse conjunto formado pelas colônias de ciano-
A idade dos primeiros seres vivos bactérias e pelos minerais acumulados pode dar ori-
A imensa maioria dos fósseis existentes atualmente é de gem a rochas sedimentares conhecidas como estro-
estruturas mineralizadas, que têm melhores condições de matólitos (do grego stroma, ‘cama’, e lithós, ‘rocha’).
se manterem íntegros (pelo menos parcialmente) ao longo
dos anos. Os primeiros seres vivos, no entanto, devem ter
sido organismos unicelulares, microscópicos, sem estru-
turas mineralizadas que pudessem deixar vestígios. Como
calcular então a idade das primeiras formas de vida?
Toda matéria orgânica possui carbono em sua estrutu-
ra (é nada, de novo...). Entretanto, também há compostos
inorgânicos com carbono (poxa, que comentários brilhan-
tes...). Quando os seres vivos incorporam carbono, eles o
fazem normalmente na forma do isótopo de carbono-12,
mais comum, em detrimento do isótopo de carbono-13,
que aparece na natureza devido à ação de estruturas não Estromatólitos
vivas, como por erupções vulcânicas (o carbono-14, outro
isótopo natural e radioativo, é bem mais raro que os dois Os estromatólitos mais antigos de que se tem notícia
já citados). Assim, em processos de fotossíntese e quimi- atualmente, datados pelos relógios radioativos, são encon-
ossíntese, a matéria orgânica gerada tem proporção maior trados na Austrália e na África do Sul e têm cerca de 3,5
de C-12 em relação ao C-13 do que ocorre na matéria não bilhões de anos, correspondendo aos fósseis mais antigos
viva. Como essa matéria orgânica vai sendo transferida ao conhecidos.
longo da cadeia alimentar para animais e demais organis-
mos heterótrofos, essa alta proporção vai sendo mantida. A idade dos primeiros seres eucariontes
Em estruturas não vivas, a proporção de C-13 é mais alta do O colesterol é um composto químico encontrado na
que na matéria não viva. membrana plasmática de alguns tipos de células, como as
Algumas rochas, como o calcário (CaCO3), podem ter células animais, mas ausente em células vegetais e célu-
origem através de organismos vivos ou em processos total- las procarióticas. A partir do colesterol, toda uma classe
mente abióticos. É possível identificar essa origem pelos te- de moléculas, denominadas de esteroides, é produzida.
ores dos isótopos de carbono: se há uma alta proporção de Aliás, na natureza, colesterol e esteroides são substâncias

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10 biologia

encontradas unicamente em seres vivos, e somente em Cambriano foi designado pelos estudiosos do século XIX
eucariontes, nunca em procariontes. Amostras de xisto como o período em que os registros fósseis começam a sur-
extraídas de formações na Austrália e datadas de cer- gir nas rochas (naquela época, não havia métodos adequa-
ca de 2,7 bilhões de anos pelo relógio urânio-chumbo dos para o reconhecimento de fósseis do período Pré-Cam-
apresentaram esteroides em sua composição, o que briano).
representa a mais antiga evidência da existência de Foi no início do Cambriano que a imensa maioria dos atu-
seres eucariontes, únicos capazes de produzir esses ais grupos animais surgiu, num evento que ficou conhecido
compostos. como a “explosão do Cambriano”. Todos os grupos que apa-
Os mais antigos fósseis de eucariontes, entretanto, só receram eram aquáticos, mas neles já se reconhece a maio-
aparecem há cerca de 1,2 bilhões de anos. ria dos grupos de invertebrados e os primeiros cordados.
Há cerca de 500 milhões de anos, algas modificadas para
A idade dos primeiros seres multicelulares suportarem as condições de ambientes secos começaram
Os mais antigos organismos multicelulares a deixarem a colonizar a terra firme, de modo que por volta de 450
registros não tinham forma reconhecível dentre os gru- milhões de anos atrás, plantas vasculares e artrópodes já
pos modernos de organismos, sendo representados nos tinham representantes instalados fora de ambientes aquáti-
fósseis por pequenas estruturas semelhantes a espirais cos.
com idade calculada em cerca de 1,8 bilhão de anos.
Os primeiros seres pluricelulares reconhecíveis deixaram
Tome nota:
fósseis cuja estrutura se assemelha à de organismos do
atual grupo das rodofíceas (algas vermelhas), que por
isso são consideradas o mais antigo grupo de organis-
mos multicelulares dentre os atualmente existentes, com
idade estimada em cerca de 1,2 bilhões de anos.

A diversificação da vida
Há cerca de 575 milhões de anos, começa a aparecer
no registro fóssil organismos que podem começar a ser
considerados animais, apesar de não se assemelharem
muito aos atuais representantes desse grupo. Essas cria-
turas são conhecidas como fauna ediacariana, uma vez
que foram encontrados numa região da Austrália conheci-
da como Ediacara. Entre esses ediacarianos, encontram-se
organismos semelhantes às atuais esponjas, sem organi-
zação tecidual, e às atuais águas-vivas, seres dotados de
dois folhetos embrionários, ectoderme e endoderme, e, por
isso, denominados diblásticos. Muitos organismos da fauna
ediacariana, entretanto, não podem ser classificados dentro
dos grupos modernos.
Em rochas de idade calculada em cerca de 550 milhões
de anos, começam a aparecer rastros que devem ter sido
gerados por animais rastejantes, e, portanto, com músculos.
Para que haja músculos, um terceiro folheto embrionário,
além de ectoderme e endoderme, denominado mesoderme,
deve estar presente, de modo que organismos triblásticos
devem ter surgido pelo menos nessa época.
Todo o período geológico compreendido antes de 535
milhões de anos é denominado Pré-cambriano. O período

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pr o f e s s o r l a n d i m 11

ERAS GEOLÓGICAS

Eventos
Milhões de biológicos
Era Período Época
anos atrás importantes
Dispersão do Homo sapiens moderno pelo pla-
Holoceno (recente) 0 – 0,01 neta e aparecimento da civilização humana.

Quaternário
Surgimento do Homo sapiens moderno; extinção
Pleistoceno 0,01 – 2 de mamíferos de grande porte (megafauna) em
Cenozoica

várias regiões.

Plioceno 2–6 Surgimento dos hominídeos.


Terciário
Mioceno 6 – 24 Expansão de campos e regressão de florestas.

Oligoceno 24 – 37 Surgimento dos macacos antropóides.

Surgimento das ordens modernas de mamíferos e


Eoceno 37 – 58 expansão das aves.

Diversificação dos mamíferos e das angiospermas;


Paleoceno 58 – 66 surgimento dos primeiros primatas (prossímios).

Extinção dos dinossauros, surgimento dos mamíferos placentários e


Cretáceo 66 – 144 das plantas angiospermas.
Mesozoica

Jurássico 144 – 208 Apogeu dos dinossauros; surgimento dos ancestrais das aves modernas.

Surgimento dos dinossauros, dos mamíferos e das plantas gimnosper-


Triássico 208 – 245 mas dos grupos das cicas e ginkgos.

Diversificação dos répteis e declínio dos anfíbios; surgimento das plantas gimnosper-
Permiano 245 – 286 mas coníferas e da maioria das ordens modernas de insetos.

Diversificação dos anfíbios; surgimentos dos répteis; expansão dos insetos e de plan-
Carbonífero 286 – 360
Paleozoica

tas pteridófitas que deram origem às reservas de carvão mineral.

Surgimento das primeiras plantas com sementes, dos anfíbios e dos insetos; abundân-
Devoniano 360 – 408 cia de moluscos e trilobitas.

Surgimento das plantas vasculares em ambiente de terra firme e dos peixes com
Siluriano 408 – 438 mandíbula.

Continuidade da diversificação das algas e grande expansão dos invertebrados e dos


Ordoviciano 438 – 505 peixes sem mandíbula.

Diversificação das algas e dos invertebrados, com aparecimento de animais dotados


Cambriano 505 – 570 de esqueleto.

700 Origem provável dos seres vivos pluricelulares.


ou Proterozoica

Pré-Cambriano 2000 Origem provável dos eucariontes.


Arqueozoica

(de 570 milhões a 4,6


bilhões de anos atrás) 3500 Origem provável da vida (células procarióticas).
4500 Origem provável da Terra.

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12 biologia

A partir da análise de fósseis, geólogos organizaram uma Linha do tempo


cronologia para a história da Terra desde seu surgimento. Uma provável linha do tempo para o surgimento da vida e
O tempo de existência do nosso planeta, chamado de tem- dos vários tipos de célula é mostrada abaixo:
po geológico, é dividido em 4 longos intervalos de tempo
denominados de eras geológicas. Cada era geológica é 4,55 bilhões de anos – origem da Terra
marcada por eventos marcantes no registro fóssil, como a ฀
abundância de um tipo em particular de fóssil ou o surgi- 3,85 a 3,5 bilhões de anos – primeiro ser vivo, procarionte
mento ou desaparecimento de determinado grupo de seres ฀
vivos. Uma era geológica se divide em períodos geológicos. 2,7 a 1,2 bilhões de anos – primeiro eucarionte unicelular
A transição entre períodos ou entre eras é marcada ฀
por episódios de extinção em massa que alteram sig- 1,8 a 1,2 bilhões de anos – primeiro eucarionte pluricelular,
nificativamente o registro fóssil entre períodos ou eras provavelmente semelhante às algas vermelhas
subsequentes. ฀
575 milhões de anos – primeiros animais
As quatro eras geológicas são, em sequência: ฀
- A Era Pré-Cambriana ou Arqueozoica é caracteriza- 530 milhões de anos – explosão do Cambriano e origem da
da principalmente pela escassez de registro fóssil. Ela vai do maioria dos grupos de animais
surgimento da Terra até 570 milhões de anos atrás, quando ฀
há um grande aumento na diversidade do registro fóssil. 450 milhões de anos – origem das plantas vasculares
- A Era Paleozoica (do grego paleos, ‘antigo’, ‘velho’)
começa com o período Cambriano, na qual, com a chama- EXOBIOLOGIA OU
da “explosão do Cambriano”, a diversidade de vida na Terra
ASTROBIOLOGIA: A
explode; fósseis começam a se tornar bem mais abundan-
tes. Ela termina com o fim do período Permiano, em que uma
POSSIBILIDADE DE VIDA FORA
grande extinção elimina uma grande parte das formas de DA TERRA
vida então existentes, há aproximadamente 245 milhões de
anos atrás. Condições para a vida
- A Era Mesozoica (do grego mesos, ‘meio’) começa com Para haver vida tal qual a conhecemos, são necessárias
o período Triássico, marcante pelo surgimento dos dinos- água no estado líquido e uma atmosfera dotada de CO2 e
sauros e dos primeiros mamíferos. No seu segundo período, não muito espessa, a fim de que a luz possa atravessá-la e
denominado período Jurássico, os dinossauros entram em atingir os organismos produtores. A luz não é obrigatória
seu apogeu. Ela termina ao fim do período Cretáceo, onde devido à existência de microorganismos quimiossinteti-
surgem e as angiospermas, com a queda de um grande as- zantes. Os condições para que um planeta abrigue vida
teroide que extermina também grande parte das formas de são:
vida, inclusive os dinossauros, há cerca de 65 milhões de - Distância adequada do Sol de maneira a apresen-
anos. tar temperaturas suficientemente amenas para possuir
- A Era Cenozoica (do grego cenos, ‘recente’) se estende água líquida. Planetas muito próximos são muito quentes
de 65 milhões de anos atrás aos dias atuais. Ela se divide e a água, se presente, estaria como vapor; planetas muito
em dois períodos, o período Terciário e o período Quater- distantes são muito frios e a água eventualmente presente
nário, cada um deles se subdividindo em épocas geológi- estaria como gelo. Chama-se de zona de habitabilidade a
cas. A época geológica atual é chamada simplesmente de distância para a estrela que permite a um planeta apresen-
época recente. Os hominídeos surgem na época Plioceno tar temperatura adequada para a existência de água líquida.
do período Terciário, enquanto a espécie humana em par- - Tamanho adequado a fim de possuir uma
ticular aparece na época Pleistoceno do período Quater- gravidade mediana para manter uma atmosfera, mas
nário. O momento atual em que nós vivemos se iniciou há sem uma pressão atmosférica exagerada. Planetas
cerca de 11 mil anos, com o fim da última Era Glacial, e é de- pequenos apresentam uma atração gravitacional insufici-
nominado de época Holoceno do período Quaternário. ente para manter uma atmosfera adequada, pois os gas-

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es tenderiam a abandonar o planeta. Sem esses gases, químicas mediadas por enzimas (reações metabólicas), de
processos metabólicos seriam impossíveis e a incidência movimento mediado por reações químicas (uma vez que
de radiações letais como os raios ultravioleta impediria normalmente a natureza produz movimento por forças
a manutenção da vida. Planetas muito grandes têm uma físicas), de qualquer objeto ou instrumento complexo (os
atração gravitacional de tal modo intensa que a pressão seres vivos não apenas são organizados como também
atmosférica é muito alta. produzem organização: assim, ao encontrar num planeta
- Presença de grandes planetas próximos para des- inóspito um computador, por exemplo, seria um indício de
viar grandes corpos celestes como cometas e asteroi- vida, pois é um objeto muito complexo para ter sido forma-
des da órbita da Terra. Júpiter e Saturno, devido às suas do ao acaso na natureza).
grandes dimensões e atração gravitacional, protegem a Uma nova ciência tem chamado cada vez mais a atenção
Terra. da mídia nos últimos tempos: a Exobiologia ou Astrobio-
- Presença de um campo magnético capaz de pro- logia. Esta ciência envolve conhecimentos de várias áreas,
teger a atmosfera dos ventos solares, emissões de desde (obviamente) a Biologia até Astronomia, Geologia,
partículas eletricamente carregadas a partir do Sol. Física e outras disciplinas relacionadas à exploração es-
Esse campo magnético na Terra tem origem no núcleo do pacial. Isto porque a Exobiologia pesquisa simplesmente
planeta, a partir de correntes convectivas no núcleo der- a possibilidade de vida fora da Terra. Não que ela procure
retido de ferro. encontrar homenzinhos verdes em Marte ou coisa pareci-
da. O objetivo dela concentra-se em encontrar possíveis
Por que a Terra? microorganismos adaptados a condições ambientais bem
A Terra se encaixa perfeitamente nas condições ideais diferentes da Terra. Ou não.
para abrigar vida. Sendo o terceiro planeta a partir do Sol, Nos últimos anos, vêm sendo descobertos vários gru-
está na zona de habitabilidade da estrela, ou seja, uma pos de bactérias, e até protozoários e vermes, adaptados
distância tal que lhe permite possuis as temperaturas a condições extremas mesmo dentro do nosso planeta.
amenas necessárias para a existência de água líquida. Ten- São seres, batizados de extremófilos, que se baseiam
do dimensões medianas, abriga uma atmosfera adequada em mecanismos quimiossintéticos para produzirem seu
às necessidades dos organismos vivos. Além disso, a pre- alimento, sem necessidade de participação da luz em suas
sença de uma lua exercendo atração gravitacional equili- reações. Tais organismos vivem no solo em grandes pro-
bra a rotação do planeta, evitando prolongados períodos de fundidades (em condições de total ausência de luz e al-
exposição ao sol ou de não exposição ao sol, evitando dias tíssimas pressões), ou então próximos a chaminés vulcâni-
excessivamente longos (o que elevaria muito as temperatu- cas submarinas (onde estão expostos a alta temperaturas
ras) e noites excessivamente longas (o que diminuiria muito e gases de enxofre venenosos para a maioria dos seres),
as temperaturas). Por fim, a proximidade com planetas gi- ou então em lagos subterrâneos em áreas polares, como o
gantes como Júpiter e Saturno é também bastante impor- lago Volstok, alguns quilômetros abaixo da crosta gelada
tante: sua atração gravitacional desvia asteroides e cometas da Antártida.
da rota de colisão com a Terra. Tá bom, eu admito, nem sem-
pre isso dá certo. Foi a trombada com um corpo talvez do Algumas possibilidades
tamanho de Marte que arrancou um pedaço da Terra para Se existem seres nestas condições extremas na Terra,
formar a Lua. Mais recentemente, há cerca de 65 milhões porque não fora dela? Por enquanto, os principais candida-
de anos, um asteroide de cerca de 10 km de diâmetro caiu tos a abrigar possivelmente vida fora da Terra são:
na região de Chicxulub, no Golfo do México, e acabou com - Marte: Não muito distante do Sol (é o quarto plane-
os nossos amiguinhos dinossauros. Mas que sem a ajuda de ta, enquanto a Terra é o terceiro), possui temperaturas ra-
Júpiter e Saturno ia ser muito pior, pode acreditar... zoáveis (variando de - 100º C a 20 ºC), uma atmosfera com
CO2 abundante (que poderia ser a base para a produção
Como procurar indícios de vida de O2 numa eventual colonização de Marte, através de es-
Algumas evidências de vida num local inóspito seriam a tufas com plantas fazendo fotossíntese) e um relevo que
presença de água líquida, de moléculas orgânicas (princi- apresenta canais secos, que se acredita tenham sido um
palmente ácidos nucleicos e proteínas), de transformações dia rios, contendo, pois, água líquida. A grande questão at-

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14 biologia

ualmente seria onde esta água estaria atualmente, se no


subsolo ou nas calotas polares como gelo. Caso a água
Tome nota:
seja encontrada, as chances de encontrar formas de vida,
ainda que simples, são existentes. Em 1996, foi encontrado
na Antártida um meteorito formado por rocha comprova-
damente marciana, contendo fósseis de microorganismo
de vários milhões de anos de idade. Até hoje persiste na
comunidade científica uma discussão a respeito da pro-
cedência de tais bactérias. Seriam elas marcianas ou ape-
nas invadiram a rocha após sua caída em Terra?
- Europa e Io (luas de Júpiter) e Titã e Encelado (luas
de Saturno): Além da existência de moléculas orgânicas em
abundância, algumas dessas luas apresentam superfície
completamente coberta de gelo. Especula-se que abaixo
dessas camadas de gelo (que é isolante térmico) possa ha-
ver água líquida, e quem sabe então condições de vida.
Com a descoberta de planetas fora do Sistema Solar
(exoplanetas), as possibilidades se ampliam... Será mesmo
que nós não estamos sozinhos?...

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