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Novos Direitos e Genética:

cadeia de custódia e DNA de toque

Rodrigo Grazinoli Garrido


Biomédico; MSc; DSc
Perito Criminal – 1ª Classe
Professor FND/UFRJ e PPGD/UCP
LEI Nº 13.964, DE 24 DE DEZEMBRO DE 2019
Aperfeiçoa a legislação penal e processual penal.
Cadeia de Custódia Art 158-A a F
Antecedentes nacionais:

PORTARIA SENASP Nº 82, DE 16 DE JULHO DE 2014 (DOU de 18/07/2014)

Estabelece as Diretrizes sobre os procedimentos a serem observados no


tocante à cadeia de custódia de vestígios.
Cadeia de Custódia
Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito,
direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

Art. 158-A. Considera-se cadeia de custódia o conjunto de todos os procedimentos


utilizados para manter e documentar a história cronológica do vestígio coletado em locais
ou em vítimas de crimes, para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu
reconhecimento até o descarte.
§ 1º O início da cadeia de custódia dá-se com a preservação do local de crime ou com
procedimentos policiais ou periciais nos quais seja detectada a existência de vestígio.
§ 2º O agente público que reconhecer um elemento como de potencial interesse para a
produção da prova pericial fica responsável por sua preservação.
§ 3º Vestígio é todo objeto ou material bruto, visível ou latente, constatado ou recolhido,
que se relaciona à infração penal.
Cadeia de Custódia
Integridade dos vestígios materiais -
Refere-se à preservação das características
e propriedades originais dos vestígios
coletados. Neste caso, estão incluídos
todos os processos para identificar e
proteger evidências que por sua natureza
são frágeis ou perecíveis em curto espaço
de tempo.
Cadeia de Custódia

Rastreabilidade (mesmidade) do vestígio material - Refere-se à garantia


de que a prova citada em todo o processo é a mesma daquela que foi
originalmente coletada no exame de corpo de delito.
Na prática, assegura que a prova material associada à determinado réu
ou dinâmica criminal tenha sido aquela originalmente manuseada pelos
peritos em suas análises. Garantir que não haja possibilidade de mistura
ou inserção abusiva de provas ao longo do rito processual. Além de
conhecer o iter da prova.
Cadeia de Custódia
Local de Crime: área física onde ocorreu um fato - não esclarecido até então - que apresente características ou
configurações de um delito.

1. Da ocorrência à chegada do primeiro agente público (art. 158-A, § 2º);

2. Do agente público à chegada da autoridade policial (art. 6º, I e VII);

3. Da autoriadde policial à chegada do perito (art. 158).


Cadeia de Custódia
Agente Público

Código Penal
Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais,
quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo,
emprego ou função pública.

§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo,


emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para
empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a
execução de atividade típica da Administração Pública.
Cadeia de Custódia
Art. 158-B. A cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas seguintes etapas:

I - reconhecimento:
II - isolamento:
III - fixação:
IV - coleta:
V - acondicionamento:
VI - transporte:
VII - recebimento:
VIII - processamento:
IX - armazenamento:
X - descarte:
Cadeia de Custódia
Art. 158-C. A coleta dos vestígios deverá ser realizada preferencialmente por
perito oficial, que dará o encaminhamento necessário para a central de custódia,
mesmo quando for necessária a realização de exames complementares.

§ 1º Todos vestígios coletados no decurso do inquérito ou processo devem ser


tratados como descrito nesta Lei, ficando órgão central de perícia oficial de
natureza criminal responsável por detalhar a forma do seu cumprimento.

§ 2º É proibida a entrada em locais isolados bem como a remoção de quaisquer


vestígios de locais de crime antes da liberação por parte do perito responsável,
sendo tipificada como fraude processual a sua realização
Cadeia de Custódia
Art. 158-D. O recipiente para acondicionamento do vestígio será determinado pela natureza

do material.

§ 1º Todos os recipientes deverão ser selados com lacres, com numeração individualizada, de forma a garantir a inviolabilidade e a
idoneidade do vestígio durante o transporte.

§ 2º O recipiente deverá individualizar o vestígio, preservar suas características, impedir contaminação e vazamento, ter grau de
resistência adequado e espaço para registro de informações sobre seu conteúdo.

§ 3º O recipiente só poderá ser aberto pelo perito que vai proceder à análise e, motivadamente, por pessoa autorizada.

§ 4º Após cada rompimento de lacre, deve se fazer constar na ficha de acompanhamento de vestígio o nome e a matrícula do
responsável, a data, o local, a finalidade, bem como as informações referentes ao novo lacre utilizado.

§ 5º O lacre rompido deverá ser acondicionado no interior do novo recipiente.


Cadeia de Custódia - FAV
Cadeia de Custódia
Art. 158-E. Todos os Institutos de Criminalística deverão ter uma central de custódia destinada à guarda e controle dos vestígios, e sua gestão deve ser
vinculada diretamente ao órgão central de perícia oficial de natureza criminal.

§ 1º Toda central de custódia deve possuir os serviços de protocolo, com local para conferência, recepção, devolução de materiais e documentos,
possibilitando a seleção, a classificação e a distribuição de materiais, devendo ser um espaço seguro e apresentar condições ambientais que não
interfiram nas características do vestígio.

§ 2º Na central de custódia, a entrada e a saída de vestígio deverão ser protocoladas, [...]

§ 3º Todas as pessoas que tiverem acesso ao vestígio armazenado deverão ser identificadas e deverão ser registradas a data e a hora do acesso.

§ 4º Por ocasião da tramitação do vestígio armazenado, todas as ações deverão ser registradas, [...]

Art. 158-F. Após a realização da perícia, o material deverá ser devolvido à central de custódia, devendo nela permanecer.

Parágrafo único. Caso a central de custódia não possua espaço ou condições de armazenar determinado material, deverá a autoridade policial ou
judiciária determinar as condições de depósito do referido material em local diverso,[...]
Resultados da Quebra da Cadeia de Custódia
Aury Lopes Jr. (2018, p. 414): Badaró (2018, p. 535-536):

“deve ser a proibição de valoração “(...) as irregularidades da cadeia de


custódia não são aptas a causar a
probatória com a consequente
ilicitude da prova, devendo o problema
exclusão física dela e de toda a
ser resolvido, com redobrado cuidado
derivada”
e muito maior esforço argumentativo,
no momento da valoração
A quebra seria capaz de gerar nulidade para o processo??
Nenhum ato será declarado nulo se dele não resultar evidente prejuízo para a defesa ou
acusação (art. 563 do CPP)
Resultados da Quebra da Cadeia de Custódia
Resultado:

A quebra da cadeia de custódia é majoritariamente submetida ao poder judiciário em dois casos:


TJ/RJ - 2021 - pesquisa com
• apreensão de drogas no crime de tráfico;
p a l a v r a c h a v e “c a d e i a d e
• apreensão de mídias ou dispositivos eletrônicos independentemente do crime.
custódia”:
• 72 resultados • Em 2 julgados, houve absolvição do acusado por falha na coleta de vestígios com a respectiva quebra
da cadeia de custódia, que teria contaminado a comprovação da materialidade do delito. Na maioria,
• Desses, 33 deles abordaram as Câmaras Criminais se posicionaram no sentido de que a quebra da cadeia de custódia não afasta a
a questão da cadeia de materialidade do crime de tráfico de drogas.

custódia da prova. • Com relação à cadeia de custódia de dispositivo eletrônico, a maioria dos julgados abordou a
inviolabilidade da prova quando da sua apreensão, com disponibilidade apenas de parte de conversas e
ausência de conteúdo íntegro . Todavia, não houve nenhum julgado que revertesse a decisão
condenatória de primeiro grau com esse fundamento
Importância da Cadeia de Custódia para as
Evidências Biológicas (sangue, esperma, pelos,
células epiteliais...)
• Degradação e Contaminação do
material biológico

• U t i l i za ç ã o d e q u a nt i d a d e s
exíguas na identificação
Humana por DNA
DNA Forense
DNA Forense
DNA Forense
DNA Forense
DNA Forense
DNA Forense
DNA Forense
DNA Forense
BNPG - LEI Nº 12.654, DE 28 DE MAIO DE 2012 e
LEI Nº 13.964, DE 24 DE DEZEMBRO DE 2019
Art. 4º A Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de Execução Penal), passa a vigorar com as seguintes alterações:

‘Art. 9º-A. O condenado por crime doloso praticado com violência grave contra a pessoa, bem como por crime contra a vida,
contra a liberdade sexual ou por crime sexual contra vulnerável, será submetido, obrigatoriamente, à identificação do perfil
genético, mediante extração de DNA (ácido desoxirribonucleico), por técnica adequada e indolor, por ocasião do ingresso no
estabelecimento prisional.

§ 4º O condenado pelos crimes previstos no caput deste artigo que não tiver sido submetido à identificação do perfil genético
por ocasião do ingresso no estabelecimento prisional deverá ser submetido ao procedimento durante o cumprimento da pena.

[...]

§ 8º Constitui falta grave a recusa do condenado em submeter-se ao procedimento de identificação do perfil genético.” (NR)
BNPG - Rede Integrada de Bancos de Perfis
Genéticos
DNA de Toque - Relação entre a Papiloscopia e a
Genética Forense
• Princípio de Edmond Locard (LOCARD, 1923);

• Em 1997 que Van Oorschot e Jones comprovaram ser viável a análise de material genético proveniente do
contato estabelecido entre indivíduo e superfície – DNA de toque

O DNA de contato é obtido a partir de células epiteliais deixadas em superfícies tocadas. Virtualmente, seria
possível obter material genético de uma variedade de materiais, como guimbas de cigarro, documentos,
ferramentas, vestes, luvas, óculos, relógios, volantes, espelhos e câmbio de veículos ou, ainda, maçanetas e trincos
de portas e janelas. A possibilidade de se obter perfis genéticos parciais ou completos a partir dessas coletas
guarda relação com a quantidade e qualidade do DNA obtido (GIOVANELLI, 2020).
Exemplos do uso de DNA de Toque
DNA de Toque - Cuidados
A análise de material genético extraído de vestígios apresenta maiores chances de falha por fatores como:

• transferência indireta;

• contaminação da amostra;

• existência de misturas;

• deterioração do material;

• existência de quantidade de células insuficientes para análise segura;

• manipulação de dados;

• falha humana;

É preciso seguir exaustivamente as normativas de garantia da Cadeia de Custódia e estabelecer Protocolos Operacionais Padrões para
as coletas em locais de crime e objetos, bem como nas análises laboratoriais e interpretação de resultados

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