Você está na página 1de 6

5º MÓDULO - EFEITO DOS INSETICIDAS NO AMBIENTE

Os primeiros relatos do uso de substâncias e técnicas para o controle de insetos


remontam à Grécia antiga, bem como aos romanos e chineses, há mais de 3.000 anos.
Esses povos observaram o efeito de alguns sais inorgânicos no combate aos insetos
durante as colheitas. Em escrituras gregas e romanas, há menção do uso de arsênico e
fumaça de enxofre para controlar pulgões nas plantações de trigo (COLBORN, 2002;
CARSON, 2010).

No entanto, o uso em grande escala, com a produção comercial desses


químicos, se deu no século XIX, graças à expansão agrícola. Estudos foram primordiais
para o desenvolvimento de inseticidas cada vez mais eficientes. O caso emblemático
não poderia ser outro: o diclorodifeniltricloretano, ou simplesmente, DDT (COLBORN,
2002).

Em 1939, o suíço Paul Hermann Muller descobre a molécula de DDT que desde
o princípio, apresentou um poder extraordinário de extermínio das pragas, o que
permitia até mesmo aplicações de pequenas quantidades com a persistência no
ambiente por vários meses. Dada sua potencialidade, tanto o DDT como outros Tal
descoberta, valeu-lhe o Prêmio Nobel de Medicina, em 1948. Seu uso foi expandido e
disseminado no mundo todo, incluindo campanhas de saúde pública e no controle
inseticidas derivados, passaram a ser consumidos continuamente, e substituíram
técnicas até então naturais.

Tudo parecia funcionar de maneira perfeita, até que, anos depois, o DDT
passou de mocinho a vilão. Além de induzir o processo de seleção natural de insetos
resistentes à molécula – o que diminuía sua eficiência e favorecia a persistência de
insetos mais fortes no ambiente –, doenças e problemas ambientais foram associadas
ao mesmo.

Um dos efeitos mais danosos diagnosticados foi o da biomagnificação, isto é, o


acúmulo do produto nos tecidos dos seres vivos constituintes de uma cadeia alimentar
(COLBORN, 2002). Em 1972, o DDT foi oficialmente banido de vez.

Porém, durante as décadas de 1950-1960, a mundo seria acometido por outra


revolução que mudaria o curso da humanidade: a Revolução Verde, que protagonizou
a modernização da produção agrícola, com o propósito de aumentar a produtividade,
o que incluía o uso massivo de novas substâncias químicas, com a promessa de serem
mais seguras à população e menos danosas ao ambiente. Em partes esse objetivo foi
alcançado, mas até hoje questiona-se a sustentabilidade do projeto, uma vez que foi

1
baseado na adoção de monoculturas com uso em grande escala de fertilizantes,
agrotóxicos e insumos de alto custo, além do efeito negativo ao meio ambiente
decorrentes do avanço das fronteiras agrícolas.

Tais efeitos são visíveis e contestáveis até hoje. Um dos principais é justamente
o uso indiscriminado dos inseticidas. As evidências do desequilíbrio ambiental que
esses químicos causam são inúmeras, tanto no ar, no solo e na água. E mais
recentemente, com a pressão dos ambientalistas e dos próprios consumidores, surgem
estudos que comprovam efeitos danosos diversos sobre a saúde humana e animal
(FARIA, 1999; GIRARDI, 2002; ESTRABROOK , 2011; COIMBRA, 2012; MELLO, 2012;
ELIAS, 2013).

Uma das preocupações se dá justamente pela perda e dispersão dos produtos


durante a aplicação, uma vez que de 10% a 70% se perde no ar e contamina áreas
vizinhas. Além disso, o fato dos inseticidas não serem tão seletivos, pode matar
espécies benéficas, como predadores naturais de insetos e agentes polinizadores
(ALVES, LOPES, 2008).

A morte de animais e pessoas envenenadas pela ingestão direta dos químicos,


ou via alimento contaminada também é um agravante. Intoxicações por agrotóxicos
são um dos problemas de saúde pública mais graves no mundo. O efeito no corpo
humano afeta o sistema nervoso, pele, pulmões e podem, inclusive, levar à morte.
Casos de depressão, cefaleia, irritabilidade, nervosismo, convulsões, infertilidade e
câncer, também são atribuídos diretamente ao contato com essas substâncias
químicas (FARIA, 1999; GIRARDI, 2002; ESTRABROOK , 2011; COIMBRA, 2012; MELLO,
2012; ELIAS, 2013).

Nascimento de crianças prematuras e com anomalias são comuns,


principalmente aos trabalhadores que ficam expostos aos produtos (ESTRABROOK,
2011; COIMBRA, 2012; MELLO, 2012; ELIAS, 2013).

Taxas de suicídio elevadas foram relatadas entre moradores e produtores rurais


de algumas regiões do Rio Grande do Sul que trabalhavam com a cultura de fumo e o
uso de inseticidas organofosforados (FARIA, 1999; GIRARDI, 2002).

São vários os relatos do efeito ambiental destrutivo dos inseticidas e


agrotóxicos. Nos anos 50, por exemplo, massas de pássaros se entulhavam em quintais
urbanos nos Grandes Lagos, após sofrerem com as pulverizações de químicos e
sofrerem espasmos convulsivos em função dos mesmos. Quando a morte não é
iminente, ocorrem comportamentos anormais dos animais adultos ou há dificuldades
na sobrevivência dos jovens, o que causa sério efeito ao longo do tempo (GILBERTSON,
1991).

2
Nos animais, e também nos humanos, vários agentes químicos sintéticos,
incluindo o DDT e dioxina podem, de alguma forma, atuar como o hormônio feminino
estrógeno, o que pode desenvolver casos de endometriose e a precocidade sexual
feminina. Além disso, pesquisas comprovara que a exposição de pássaros do sexo
masculino a esse mimético hormonal durante o desenvolvimento afetava o cérebro e o
sistema reprodutor, alterando permanentemente o comportamento sexual,
resultando na feminilização dos indivíduos (JACOBSON, 1985; JACOBSON, 1990a;
JACOBSON, 1990b, ARAIA, 2009). Dados similares também forma descobertas em
outras espécies animais, como peixes, crocodilos, pássaros e ursos.

Contaminações indiretas, através de água contaminada, por exemplo, também


são comuns e preocupantes (JOBLING, 2009). Casos ocorridos na Baixada Santista, na
década de 70, quando houve vazamento do lixo químico da Rhodia, contaminando a
água, o ar e o solo do local, ou mais recentemente com o caso Shell, em Paulínia,
interior de São Paulo, são exemplos do efeito catastrófico na saúde humana (BOCHINI,
2012).

A ingestão de alimentos igualmente contaminados com resíduo tóxicos mostra-


se igualmente prejudicial. Segundo um estudo feito em Detroit, o nível de
contaminação da mãe afeta o desenvolvimento do bebê, fazendo com que eles
nasçam mais cedo (prematuramente), pesem menos que o normal, podem ter a
cabeça com o tamanho menor e apresentam piores resultados no desenvolvimento
neurológico (JACOBSON, 1985; JACOBSON et al., 1990a; JACOBSON, 1990b).

Cabe a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) monitorar a presença


desses resíduos nos alimentos. De acordo com as análises, 28% dos alimentos
analisados em 2010 pelo Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos de
Alimentos (PARA) registraram a presença de agrotóxicos não autorizados ou níveis da
substância acima do permitido. As amostras com maiores irregularidades foram as do
pimentão (91,2% mostraram problemas), seguidas do morango (63,4%) e do pepino
(57,4%). De acordo com pesquisadores, esse consumo constante pode provocar
doenças crônicas e degenerativas, como o câncer (ELIAS, 2011; ACHCAR, 2012).

O lamentável nisso tudo é que o Brasil, prestes a se tornar líder mundial na


produção de alimentos, de acordo com o Conselho Nacional de Segurança Alimentar,
abusa de venenos que causam intoxicação crônica – calcula-se que o consumo
brasileiro seja de 5 litros por habitante por ano. Entre esses problemas destacam-se
doenças neurológicas, hepáticas, respiratórias, renais e casos diversos de câncer e
anomalias genéticas, tanto no agricultor que tem contato mais direto, como no
consumidor (ELIAS, 2011).

3
A preocupação é tamanha, que na Argentina, a Justiça julgou e condenou um
latifundiário e um piloto de avião que aplicaram glifosato nas plantações de soja em
uma área urbana com pouco mais de 5 mil habitantes, e desencadeou problemas de
saúde. De acordo com as pesquisas que subsidiaram os argumentos, de um total de
142 crianças examinadas moradoras da região, mais de 80% continham o produto
químico no organismo, e em altas quantidades. Isso sem contar os 202 casos de câncer
provocados pelo glifosato, dos quais 143 foram fatais em curto tempo. No prazo de um
ano também foram registrados 272 abortos espontâneos e 23 nascimentos que
apresentaram algum tipo de deformidade congênita (COIMBRA, 2012).

Em relação aos casos de câncer, alguns pesquisadores calculam que houve um


aumento de 1% ao ano nos índices de câncer de mama – que era estável até então – a
partir da Segunda Guerra Mundial, fase em que os químicos forma extensivamente
disseminados na cultura humana (COLBORN, 2002).

Esses são alguns de tantos exemplos do efeito que os produtos químicos, sejam
eles denominados de agrotóxicos, pesticidas, inseticidas ou qualquer nome eu seja,
causa no ambiente e também na saúde humana. Muito se argumenta que não há uma
alternativa viável para se controlar e minimizar o efeito das pragas (agrícolas e
urbanas), senão o uso de produtos químicos, mesmo com todos os efeitos colaterais
que podem causar. Esse é um ponto de vista contraditório. Pesquisas indicam que há
sim formas eficientes e que não prejudicam o ambiente. O grande porém nessa
controvérsia é que exige um mudança de atitude e postura por parte da humanidade,
que no primeiro momento reluta em sair de seu estado de “normose”.

Com diz sabiamente José Alberto Gonçalves no livro Meio Ambiente - a vida em
jogo, (GONÇALVES, 2009) “resta saber até que ponto a humanidade estará disposta a
trocar parte de seu aparente conforto proporcionado pelas substâncias químicas por
uma vida mais saudável e segura, mas talvez com um pouco menos das comodidades
modernas”.

Fonte:https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/biologia/efeito-dos-inseticidas-no-
ambiente/45176

Todo composto químico capaz de combater insetos é denominado inseticida.


Os inseticidas são utilizados em lavouras, no combate de pragas que assolam as
plantações, em indústrias e também em residências.

4
No início, ao surgir a necessidade do uso de inseticidas, eram utilizadas
substâncias químicas altamente tóxicas, como o arsênio, o mercúrio e o tabaco.
Durante a Segunda Guerra Mundial, foram desenvolvidos diversos gases bélicos, e em
um desses foi possível observar um efeito tóxico contra insetos, daí surgem os
inseticidas. Em 1948, o cientista Paul Muller ganhou o Prêmio Nobel de Química por
ter descoberto o mais famoso inseticida de todos o tempos, o DDT (Dicloro Difenil
Tricloroetano).

Os inseticidas são comumente classificados de acordo com sua composição


química. Veja os principais grupos:

1. Organoclorados (DDT, BHC, HHC): são compostos orgânicos que apresentam


átomos de cloro em ligações covalente na cadeia. Trata-se de substâncias altamente
tóxicas, de grande poder de acumulo na cadeia alimentar, de toxidade crônica, ou seja,
seus efeitos se manifestam de forma lenta pelo organismo, insolúveis em água,
lipofílicos (afinidade com gorduras) e de caráter cancerígeno. Devido a tais poderes
maléficos, os organoclorados passaram a ter uso proibido há por volta de 30 anos, não
são mais produzidos no Brasil e em vários outros países.

2. Organofosforados (PARATHION, MALATHION, ORTHENE, BIDRIN): são ésteres


do ácido fosfórico. Menor teor de toxidez com relação aos organoclorados, porém, são
absorvidos pelo organismo humano através de todas as vias possíveis (respiratória,
gastrointestinal, dérmica, por membranas de mucosas). Não são cumulativos,
insolúveis em água, apresentam toxidade aguda (efeitos aparecem rapidamente no
organismo).

3. Carbamatos (CARBARYL, METHOMIL, FURADAN): são ésteres do ácido


carbâmico, muitas vezes sintetizados a partir de compostos organofosforados.
Apresenta toxidade aguda média, baixo acúmulo no meio ambiente, são insolúveis em
água, pouco absorvidos pelo organismo humano e bastante utilizados no controle de
insetos em estocagem de grãos.

4. Piretróides (RIPCORD, TALCORD, BELMARK): o nome vem do termo piretro


que são flores secas dotadas de pitetrina, substância que tem carácter inseticida. A
piretrina é oriunda de flores do gênero Chrysanthemum e é um éster do ácido
crisantêmico, e quando sintetizada, dá origem aos piretróides. Os piretróides são
aplicados no controle de moscas pretas, mosquitos da malária, baratas, percevejos e
pulgas. São solúveis em água e por isso altamente letal a espécies aquáticas.

Os inseticidas, de um modo geral, apresentam sérios efeitos ao homem e o


meio ambiente, visto que podem contaminar águas dizimando espécies que têm esse
ambiente como habitat. Seu uso comumente confere aos insetos certa resistência,

5
tornando necessárias aplicações cada vez maiores. O vegetal sofre alterações
metabólicas e estruturais, e o próprio ser humano também sente consequências,
sendo a principal delas, o câncer. O ideal é utilizar inseticidas que têm eficácia
comprovada mesmo quando aplicado em pequenas quantidades, não são tóxicos ao
homem, a outros animais e nem ao meio ambiente, econômicos, de fácil aplicação e
que apresentem baixo acúmulo na ambiente, como é o caso dos inseticidas naturais.

Referências:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Inseticida
http://marta.tocchetto.com/site/?q=system/files/Toxicologia+e+Seg+de+Laborat%C3%B3rio+-
+Unidade+5+-+Parte+1+-+Inseticidas.pdf

Fonte: https://www.infoescola.com/compostos-quimicos/inseticidas/

Você também pode gostar