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PROJETO MODELO PADRÃO

Aluna: Raquel Pereira Ribeiro

Disciplina: Bases Fisiológicas e evolutivas das emoções

Introdução

Segundo a International Association for the Study of Pain (Associação Internacional para Estudo da Dor -
IASP) dor é definida como “uma experiência sensitiva e emocional desagradável associada a uma lesão
tecidual real ou potencial, ou descrita nos termos de tal lesão.” (RAJA, 2020). A dor crônica é um grave
problema de saúde pública, pois causa incapacidade, piora na qualidade de vida e causa grandes impactos
financeiros no sistema de saúde. E é definida por dor persistente por mais de 3 meses e pode estar
relacionada a uma lesão tecidual crônica ou a uma lesão já tratada. Nesse caso, a dor perde sua função de
alerta, deixando de ser um sinal e passa a ser a própria doença. (COHEN, 2021)

De acordo com o relatório Survey on Chronic Pain (Pesquisa em Dor Crônica) de 2017 da Pain Alliance
Europe (Aliança Européia de Dor - PAE), a dor crônica afeta 20% da população adulta na Europa: são 95
milhões de pessoas que vivem com dores crônicas e os gastos são estimados em €300 bilhões. Em muitos
países, a condição subjacente mais frequente para dor crônica foi fibromialgia (média de cerca de 40%).
Outros problemas frequentemente mencionados foram de dor musculoesquelética como osteoartrose,
artrite ou reumatismo (6%), lombalgia (6%) e hipermobilidade predisposta geneticamente
(11%).(PAE,2017). Já, no Brasil, o levantamento mais recente sobre dor crônica é de 2021 e trata-se de uma
revisão sistemáricos de estudos epidemiológicos. Nessa revisão a taxa de prevalência da dor crônica foi de
23 a 76% (AGUIAR, 2021). Os principais grupos afetados pela dor crônica no Brasil são a população de baixa
renda, mulheres e idosos. Os principais tipos de dor crônica são dor nas costas, artrite reumatoide, dor de
cabeça e osteoartrite (SOUZA, 2017).

Na prática clínica, verificamos que, muitas vezes, o controle da dor é desafiador, apesar dos tratamentos
instituídos, e existem vários fatores que contribuem para com esse fato. Por exemplo, os profissionais de
saúde precisam ter melhor compreensão sobre o que é a dor e sobre todos os aspectos físicos, emocionais
e psíquicos envolvidos nessa experiência complexa, assim como conhecimento técnico para tratá-la.
Pacientes de dor crônica precisam ser ativos em seu tratamento e, muitas vezes, não conseguem, pois a
própria experiência de dor acarreta outras comorbidades como depressão e ansiedade, além da falta de
apoio dos familiares. Ainda, os próprios sistemas de saúde não possuem programas adequados para os
pacientes que convivem com dor. (CHEATLE, 2016)

A dor é multifacetada, pois, além de possuir aspectos biológicos (sensoriais), possui o fator emocional e
subjetivo que varia de indivíduo para indivíduo de acordo com a sua história de vida, crenças, memórias,
aspectos sociais e psíquicos. Dessa forma, o tratamento da dor é mais eficaz quando se utiliza uma
abordagem multidisciplinar e individualizada com seleção criteriosa de intervenções farmacológicas e não
farmacológicas com base em fatores da doença, características da dor, habilidades psicológicas de
enfrentamento e fatores de estilo de vida (PEIXOTO, 2016).
Assim, as intervenções baseadas em mindfulness surgem como uma abordagem a ser testada para o
manejo da dor crônica, pois acredita-se que elas exerçam os efeitos analgésicos, em pacientes com dor
crônica, através de vários mecanismos biocomportamentais. Esses efeitos podem ser, por exemplo,
melhorias na catastrofização da dor, flexibilidade psicológica, aceitação, capacidade de mudança afetiva à
discriminação sensorial de sensações que evocam dor e modulação descendente da via nociceptiva
(MAJEED ET ALL, 2017)

Objetivo

Avaliar é eficácia do MBCT - Mindfulness Basead Cognitive Therapy em comparação a Terapia Cognitivo
Comportamental (TCC) em pacientes com dor crônica em tratamento no Hospital das Clínicas, em Belo
Horizonte/MG.

Hipóteses:

O programa de MBCT será, no mínimo, tão eficaz quanto o programa TCC para melhorar a qualidade de
vida, e capacidade de aceitação; e tão eficaz quanto a TCC para reduzir catastrofização, ansiedade e
depressão em uma amostra de pacientes com dor crônica.

Desenho experimental:

Estudo paralelo de dois grupos (1:1), simples-cego, controlado, randomizado, comparando os tratamentos:

Grupo 1 - experimental - Mindfulness Basead Cognitive Therapy (MBCT)


Grupo 2 - controle: Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC)

Será realizado um ensaio clínico controlado randomizado com dois braços de tratamento em uma amostra
de pacientes com dor crônica do Hospital das Clínicas.

Ambas as intervenções terão 8 sessões, frequência semanal, duração de 2 horas e meia por sessão, e ambos
os programas serão conduzidos por especialistas clínicos.

Os investigadores avaliarão os níveis de ansiedade, depressão, catastrofização, interferência da dor,


intensidade da dor e qualidade de vida no início da intervenção, no final da intervenção e 6 meses de
acompanhamento. Os investigadores também aplicarão um questionário sociodemográfico no início da
intervenção para coletar dados sobre idade, sexo e características da dor.

Critério de inclusão:

Maiores de 18 anos.

Estar em tratamento no Hospital das Clínicas/MG por ter uma dor crônica com mais de 3 meses de duração,
independentemente da etiologia.

Capaz de entender e dar seu consentimento informado por escrito.


Níveis significativos de sofrimento relacionados à dor no início do tratamento, avaliados por entrevista
clínica e HADS (HADS-A ou HADS-D > ou = 8).

Pacientes que atendem aos critérios para Transtorno Adaptativo Misto, Transtorno Depressivo leve a
moderado ou Distimia, avaliados por entrevista clínica realizada por uma psiquiatra.

Critério de exclusão:

Deficiência intelectual ou deficiência cognitiva ou demência.

Conhecimento insuficiente da língua para compreender e participar do programa de intervenção.

Doença mental grave em estado agudo no momento do início da intervenção.

Abuso de substâncias nos últimos 6 meses.

Risco grave de suicídio ou homicídio, conforme avaliado pelo clínico avaliador.

Formação prévia em técnicas de mindfulness.

Métodos

A pesquisa terá como medidas de desfecho primário a interferência da dor e sofrimento


psicológico(sintomas de ansiedade e depressão) e medidas de desfechos secundários: intensidade da dor,
catastrofização, aceitação da dor e qualidade de vida). As variáveis de resultado foram selecionadas com
base nas recomendações do Initiative on Methods, Measurement, and Pain Assessment in Clinical Trials
(Iniciativa sobre Métodos, Medição e Avaliação da Dor em Ensaios Clínicos – IMMPACT)(Dworkin et al.,
2005).

Pesquisas anteriores semelhantes de intervenção em mindfulness mostrados tamanhos de efeito médios


a grandes (d = 0,5 a 1,1) para variáveis de desfecho primário, incluindo depressão, ansiedade, e
interferência da dor em comparação com a lista de espera e tratamento como condições usuais de
controle. Os cálculos do tamanho da amostra irão assumir um tamanho de efeito médio de 0,5 para
desfechos primários sondados individualmente e um poder de teste de 0,8. Ainda será calculado por um
estatístico o número de parcipantes a serem incluidos por grupo.

Todos os métodos e procedimentos do estudo serão submetidos a aprovação do Comite de Ética em


Pesquisa UFMG – COEP-UFMG e será registrado no clinicaltrials.gov.

Resultados esperados

Diversos estudos mostram que as intervenções baseadas em Mindfulnes são eficazes no tratamento de
diversos tipos de dor crônica, como a dor lombar, enxaqueca, dor de cabeça e dor musculoesquelética.
Essas intervenções podem aliviar a dor, e diminuir a interrupção nas atividades da vida diária. Elas também
ajudam a aliviar comorbidades como depressão e ansiedade, que são muito comuns em pacientes que
sofrem com dor crônica, e melhora na qualidade de vida. Além disso, as práticas de Minfulness podem
reduzir o medo relacionado à dor, hipervigilância a dor e incapacidade funcional em pacientes com dor
persistente (HILTON 2016; MCCLINTOCK ET ALL, 2019).

Portanto, é esperado que ao final desse estudo os participantes que recebram a intervenção MBCT relatem,
através dos questionários utilizados, redução igual ou maior da interferência da dor, dos sintomas de
ansiedade e depressão e da catastrofização em relação aos participantes que recebram a intervenção TCC.

Referências

Raja SN, Carr DB, Cohen M, Finnerup NB, Flor H, Gibson S, et al. The revised International Association for
the Study of Pain definition of pain: concepts, challenges, and compromises. Pain. 2020;23. doi:
10.1097/j.pain.0000000000001939

PEIXOTO, Sara Daniela Agra. Métodos não farmacológicos de controlo da dor. 2016. Tese de Doutorado.

Hilton L, Hempel S, Ewing BA, Apaydin E, Xenakis L, Newberry S, Colaiaco B, Maher AR, Shanman RM,
Sorbero ME, Maglione MA. Mindfulness Meditation for Chronic Pain: Systematic Review and Meta-analysis.
Ann Behav Med. 2017 Apr;51(2):199-213. doi: 10.1007/s12160-016-9844-2.

McClintock AS, McCarrick SM, Garland EL, Zeidan F, Zgierska AE. Brief Mindfulness-Based Interventions for
Acute and Chronic Pain: A Systematic Review. J Altern Complement Med. 2019 Mar;25(3):265-278. doi:
10.1089/acm.2018.0351

de Souza JB, Grossmann E, Perissinotti DMN, de Oliveira Junior JO, da Fonseca PRB, Posso IP. Prevalence of
Chronic Pain, Treatments, Perception, and Interference on Life Activities: Brazilian Population-Based
Survey. Pain Res Manag. 2017;2017:4643830. doi: 10.1155/2017/4643830.

Cheatle MD. Biopsychosocial Approach to Assessing and Managing Patients with Chronic Pain. Med Clin
North Am. 2016 Jan;100(1):43-53. doi: 10.1016/j.mcna.2015.08.007

Majeed MH, Ali AA, Sudak DM. Mindfulness-based interventions for chronic pain: Evidence and
applications. Asian J Psychiatr. 2018 Feb;32:79-83. doi: 10.1016/j.ajp.2017.11.025

Cohen SP, Vase L, Hooten WM. Chronic pain: an update on burden, best practices, and new advances.
Lancet. 2021 May 29;397(10289):2082-2097. doi: 10.1016/S0140-6736(21)00393-7

Dworkin et al. Core outcome measures for chronic pain clinical trials: IMMPACT recommendations. Pain.
2005 Jan;113(1-2):9-19. doi: 10.1016/j.pain.2004.09.012.
Aguiar et al. Prevalence of chronic pain in Brazil: systematic review. BrJP [online]. 2021, v. 4, n. 3,
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