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Comunicação, Liderança e

Tomada de Decisão em Saúde

Aula 5: Comunicação nas Relações


Interpessoais em Saúde
CONTEÚDO DA AULA

Comunicação em Equipes Multidisciplinares,


Interdisciplinares e Transdisciplinares;

Comunicação de Notícias Difíceis.


Tipos de Equipes de Saúde

Multidisciplinar: Multi = vários + disciplinas

Interdisciplinar: Inter = relação + disciplinas

Transdisciplinar: Trans = além + disciplinas


Equipe Multidisciplinar
Equipe Multidisciplinar

A multidisciplinaridade é um conjunto de disciplinas que trata,


simultaneamente, de uma dada questão, sem que os profissionais
implicados estabeleçam efetivas trocas entre si (ALMEIDA FILHO, 2005).
Equipe Multidisciplinar

Neste caso, cada especialista emprega sua metodologia, baseado em


suas hipóteses e teorias, sendo que o objeto em questão é visto sob
múltiplos pontos de vista, numa justaposição de conhecimentos; ou seja,
o mesmo tema é abordado sob ângulos variados, não existindo a
perspectiva de síntese.
Síndrome
de Burnout Equipe Multidisciplinar
Clínico Geral Psicólogo
(Baixa de Ferro no (Transtorno
Sangue) Personalidade Borderline)

Psiquiatra
(Transtorno de Humor
“Bipolaridade”)
Equipe Multidisciplinar

O trabalho multiprofissional consiste no estudo de um objeto por


diferentes disciplinas, sem que haja convergência entre os conceitos e
métodos.
Equipe Interdisciplinar
Equipe Interdisciplinar

Em uma equipe interdisciplinar há possibilidade de troca de


instrumentos, técnicas, metodologia e esquemas conceituais entre as
disciplinas. Assim, trata-se de um diálogo que leva ao enriquecimento e
transformação das disciplinas envolvidas.
Equipe Interdisciplinar
Segundo Almeida Filho (2005), interdisciplinaridade implica na interação de
diferentes disciplinas científicas sob a coordenação de uma delas.

Para Batista (2006) a interdisciplinaridade traz uma contribuição importante para a


produção científica contemporânea, na medida em que contempla as
intersubjetividades e o respeito às diferenças existentes diante de múltiplos olhares
e compreensões acerca de um determinado objeto.
Equipe Interdisciplinar
Médico

Psicólogo Psiquiatra

Assistente
Nutrólogo
Social
Equipe Transdisciplinar
Equipe Transdisciplinar
A transdisciplinaridade diz respeito a uma compreensão que transcende o âmbito de cada
disciplina e surge através da articulação que possibilita o surgimento de uma nova visão da
natureza e da realidade (SANTOS, 1995).

Inclui um tipo de conhecimento que vai além do conhecimento intelectual e racional, focando
do orgânico ao espiritual.
Comparativo
Equipe Multidisciplinar Equipe Interdisciplinar Equipe Transdisciplinar

Atenção fragmentada e Atuação articulada, Ainda pouco usada. Significa


isolada integrada e intencional a transcendência da integração
Trocas mínimas entre as Trocas de conhecimento, Inclusão do conhecimento de
diferentes áreas/disciplinas métodos e conceitos entre algo a mais, além do
áreas/disciplinas conhecimento dentro da
perspectiva intelectual e
racional. Do orgânico ao
espiritual
Comunicações informais Comunicações informais e Comunicação informais,
formais formais e para além dos muros
institucionais
Grupos de trabalho Trabalho em colaboração Uma nova visão da natureza e
individuais coletiva e uniforme da realidade. Consideração
Ex.: Psicologia, Psiquiatria, Ex.: Neuro+psicologia, dos aspectos
Neurologia etc. Psico+pedagogia etc. biopsicosocioespirituais do ser
humano Ex.: PICs
Comunicação de
notícias difíceis
O que são notícias
difíceis?
Segundo Buckman, notícias difíceis são “qualquer informação que altere de forma
drástica e negativa a visão do paciente sobre o seu futuro”.

Outra definição é a utilizada por Ptacek: “Qualquer informação que resulte em um


déficit cognitivo, comportamental ou emocional na pessoa que recebe a notícia e
que persiste por algum tempo após ter sido dada”.
O que são notícias
difíceis?
A gravidade percebida depende do índice de suspeição (antecipação do
diagnóstico) da pessoa em relação à notícia comunicada, de como ela se sente
fisicamente, das suas experiências de vida individuais, da sua personalidade, da
questão científica e do apoio social disponível.

A comunicação de notícias difíceis é uma competência necessária para o exercício


da prática clínica para diferentes profissionais da saúde.
O que são notícias
difíceis?
Exemplos de notícias difíceis:

Diagnósticos oncológicos;
Diagnósticos positivos para HIV;
Diagnósticos de transtornos mentais;
Comunicação de falecimento para familiares.
Aspectos da Comunicação de
Notícias Difíceis
Fatores dos Profissionais de Saúde

1. Dizer a verdade: Historicamente, era muito frequente no século passado (e


ainda hoje) que os médicos omitissem a verdade do paciente, já que o
prognóstico reservado era considerado desumano e lesivo.

A partir do final do século passado, essa prática mudou: estudos com médicos
demonstram que 90% deles afirmam revelar o diagnóstico, enquanto estudos com
pacientes mostram que 85 a 90% deles querem saber o seu diagnóstico.
Aspectos da Comunicação de
Notícias Difíceis
Fatores dos Profissionais de Saúde

2. Evolução dos modelos de comunicação: Os modelos de comunicação se


modificaram nos últimos anos, passando de um modelo paternalista tradicional
para uma abordagem centrada na pessoa, na qual o paciente tem maior
autonomia e empoderamento, bem como uma participação ativa no seu
processo terapêutico.

Ex.: CA x Câncer
Aspectos da Comunicação de
Notícias Difíceis
Fatores dos Profissionais de Saúde

2. Desafios do Profissional de Saúde: Medo do desconhecido e do não aprendido;


Medo da reação emocional do paciente e familiares; Medo de deixar o paciente
sem esperanças; Medo de não saber todas as respostas; Medo pessoal da
morte e doenças; Medo de expressar emoções; Medo de ser culpado.

Etapas do Luto: 1) Negação e isolamento; 2) Raiva; 3) Barganha; 4) Depressão; 5)


Aceitação (KUBLER-ROSS, 2000)
Quem deve dar a notícia difícil?
Segundo Dohms e Gusso (2021), habitualmente, quem dá a notícia difícil é o
médico responsável pelo paciente, com quem este tenha estabelecido uma
relação de confiança e que esteja disponível para responder as questões
colocadas após a tomada de conhecimentos.

Para fazer a comunicação da notícia difícil, é necessário um local privativo e


confortável, com todos os presentes sentados; caso a conversa ocorra com o
paciente acamado, é preciso fechar as cortinas da enfermaria. É muito
importante saber administrar o tempo disponível para a comunicação e evitar
interrupções. A presença de familiares deve ser discutida com o paciente,
respeitando o direito da autonomia.
Protocolo para notícias difíceis
Alguns grupos profissionais publicaram diretrizes de consenso sobre como dar
notícias difíceis, porém poucas delas são baseadas em evidências científicas.
As recomendações pretendem servir como um guia geral, e não como um
protocolo rígido.

O protocolo mais conhecido e utilizado em saúde é o SPIKES, criado


inicialmente para comunicação de câncer. Ele consiste em seis passos.

Outros protocolos: CLASS; Buckman.


Protocolo SPIKES
O primeiro passo é o S (setting up the interview/configurar a entrevista), ou seja, a
preparação.

• Preparar-se emocionalmente antes de chamar o paciente e/ou familiares e


organizar o tempo disponível para a comunicação.

• Deve-se preparar um ambiente acolhedor e privativo, evitando-se


interrupções.

• O local deve ser adequado, evitando que a comunicação seja feita no


corredor ou via telefone, preferindo-se sempre que possível a comunicação
pessoal.
Protocolo SPIKES
O primeiro passo é o S (setting up the interview/configurar a entrevista), ou seja, a
preparação.

• É possível envolver pessoas importantes, se este for o desejo do paciente.

• Se houver mais alguém na consulta, é preciso verificar se o paciente não se


importa que essa terceira pessoa esteja presente no momento da notícia.

• Nesta etapa, faz-se necessário alertar o paciente para o fato de que serão
dadas notícias difíceis, a fim de diminuir o choque que se segue à revelação
dos dados e facilitar o processamento da informação.
Protocolo SPIKES
O segundo passo é o P (assessing the patient’s perception/ avaliar a
percepção do paciente), ou seja, perceber o que o paciente sabe.

• É fortemente recomendado que o profissional use questões abertas e que


se crie uma imagem aproximada do que o paciente entende sobre a sua
situação médica.

• É possível que o paciente apresente um conhecimento muito catastrófico


do prognóstico.

• Nesta fase, é necessário corrigir as informações equivocadas e adequar as


notícias difíceis aos conhecimentos dos pacientes.
Protocolo SPIKES
O terceiro passo é o I (obtaining the patient’s invitation/obtendo abertura do
paciente), ou seja, determinar quanto o paciente quer saber.

• Embora a maioria dos pacientes expresse a vontade de saber toda a


informação acerca do seu diagnóstico, prognóstico e detalhes da doença,
alguns preferem não sabê-lo.

• É importante reconhecer que a recusa de informação é um mecanismo


psicológico de coping
Coping são válido
estratégias e manifesta-se
de defesa mais podem
que os indivíduos frequentemente nasde
fazer uso diante fases
iniciais e avançadas
situações adversas ouda doença. em
estressantes Caso o paciente
diferentes não
contextos. Ex.:pretenda saber
autocontrole,
detalhes sobre afastamento,
a sua doença, fuga e é preciso
esquiva oferecer-se
do assunto para responder às
entre outros.
questões que possam surgir no futuro ou prestar esclarecimentos à família.
Protocolo SPIKES
O quarto passo é o K (giving the knowledge and information to the patient/dar
conhecimento e informação ao paciente), ou seja, a partilha de informação.

• É essencial adequar o nível de compreensão e vocabulário.

• Deve-se falar com franqueza, evitando uma comunicação sem afeto e com
excesso de termos técnicos.

• Não se deve ter receio de utilizar as palavras “câncer” ou “morte”. Deve-se


fornecer a informação de maneira gradativa, em pequenas porções, e
confirmar periodicamente que o paciente compreendeu a informação, com
pausas para avaliar a reação dele, respeitando seu ritmo e possibilitando
que ele faça perguntas.
Protocolo SPIKES
O quinto passo é o E (adressing the patient’s emotions/abordando as
emoções do paciente), ou seja, responder às emoções dos pacientes.

• Nesta fase da comunicação, o profissional pode oferecer apoio e


solidariedade ao paciente por meio de uma resposta empática.
Por exemplo: “O que significa para você ser portador de HIV?”. Também é essencial facilitar a
É fundamental
•expressão tentar
dos pacientes identificar
e familiares a razão
sobre parada
o impacto aquela
notíciaemoção e entender
difícil: “Como as
se sente?”.
crenças do paciente sobre a notícia.
Nesta fase é preciso demonstrar que entende o paciente e se colocar à sua disposição:
“Conte comigo para enfrentar essa situação”. Oferecer respostas de reconhecimento e
sintonia afetiva é de grande importância.
Protocolo SPIKES
O sexto e último passo é o S (strategy and summary/estratégia e resumo), ou
seja, plano e seguimento.

• Antes de discutir um plano terapêutico, é preciso perceber se o paciente


está preparado para a discussão.

• É essencial neste momento uma comunicação assertiva, em que se


planejam ajuda de seguimento, planos para o futuro e se discutem
expectativas irrealistas.

• Antes de liberar o paciente, deve-se avaliar o estado emocional do paciente,


se há risco de suicídio (encaminhar PASM) e se ele está em condições de
voltar para casa sozinho ou se é preciso contatar alguém da família para
apoio.
“É mágico como a dor passa quando aceitamos a sua
presença. Olhemos para a dor de frente, ela tem nome e
sobrenome. Quando reconhecemos esse sofrimento, ele
quase sempre se encolhe. Quando negamos, ele se
apodera da nossa vida inteira” (Arantes, 2016)

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