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SÍNTESE REFLEXIVA
Arganil, 2023
Segundo Potter & Perry a comunicação é um processo vitalício de aprendizado. Os
enfermeiros fazem a íntima jornada com os pacientes e suas famílias desde o milagre
do nascimento até o mistério da morte. Como enfermeiro, você se comunica com os
pacientes e seus familiares para desenvolver relacionamentos significativos
(Potter et al., n.d.)
. Ainda mencionado por Rita Fonseca na sua Tese de mestrado
(Fonseca, 2012, p. 31)
a comunicação está inerente ao ser humano desde a sua conceção até ao
términus da vida. Este comunica com o mundo que o envolve através de expressões,
sentimentos, comportamentos e atitudes. A “comunicação é um dos aspetos mais
importantes do nosso comportamento, pois o ser humano é afetado pela comunicação
que estabelece com os outros, a todo o momento” (Stefanelli, 1987:107). Desta
forma, a comunicação é encarada e sustentada como sendo um processo de criação e
de recriação de informações, de partilha, que permite a interação de sentimentos e
emoções entre as pessoas. Em qualquer situação social, a comunicação pode ser
transmitida de maneira consciente ou inconsciente, através do comportamento verbal
ou não-verbal, ou pela maneira de agir de cada interveniente (Phaneuf, 2005).
Segundo a Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE), a
comunicação é definida como: “Comportamento interativo, dar e receber informação
utilizando comportamentos verbais e não-verbais face a face ou com meios
tecnológicos ou não sincronizados” (Cipe_2015, n.d., p. 47) .
A comunicação é fundamental nas profissões relacionadas com a área da saúde, pois
estas são, por excelência, profissões de relação, que implicam interações constantes
com utentes e suas famílias, cuidadores, equipas de saúde a diferentes níveis
hierárquicos da instituição, profissionais de outros serviços e profissionais de outras
instituições (Sequeira, n.d.). Desta forma, é impossível ao individuo não comunicar
por muito esforço que o mesmo faça, existem sempre interações sejam elas verbais
ou não verbais, silêncios que provocam interpretações no outro.
Como afirma Bicho referenciando Teixeira, na sua tese de mestrado (Bicho, 2013)
“de facto, a comunicação em saúde inclui mensagens que podem ter diferentes
finalidades e objetivos, tais como: promover e educar para a saúde; evitar riscos e
ajudar a lidar com ameaças para a saúde; precaver doenças; sugerir mudanças de
comportamento; prescrever exames de rastreio; informar sobre a saúde, doenças e
exames médicos; prescrever medicamentos; recomendar medidas preventivas e
atividades de autocuidados em indivíduos doentes (Teixeira, 1996)”.
Considerando que os processos comunicacionais em saúde apresentam uma
importância elevada na transmissão de informação entre o profissional e o utente,
esta tem de ser efetuada de forma consistente, concisa e de fácil compreensão para
que seja qual for o objetivo pretendido, influencie os comportamentos do individuo e
provoquem no mesmo uma mudança favorável para as intervenções desejadas.
Segundo Joana Vala (Vala, n.d.) que cita Costa (2014) a comunicação de más
notícias é considerada pelos profissionais de saúde uma tarefa difícil. Por isso, tem
havido desenvolvimento nas investigações dos últimos anos, revelando-se pertinente
a sistematização dos estudos desenvolvidos, nomeadamente os que dizem respeito às
intervenções que os profissionais de saúde devem ter em conta.
A comunicação por si só apresenta dissemelhantes dificuldades, outrossim a
comunicação de más noticias requer uma concentração e um cuidado durante todo
processo por parte dos profissionais visto que o tema transmitido será sensível.
Segundo Longuinho e Silva (Silva, 2015) “A comunicação de uma notícia difícil é
uma prática comum de prática clínica diária para quem realiza cuidados de saúde.
Para pacientes e familiares, este diálogo tem um impacto duradouro sobre a sua
perceção da qualidade do atendimento, a sua capacidade de enfrentamento e seu
processo de luto”. Assim sendo, entendo que má notícia seja toda e qualquer uma
que, que afete gravemente a visão de um indivíduo sobre o seu futuro, e que desta
forma altera o percurso “normal” que havia sido predefinido pelo individuo.
Assim sendo, entendo que a comunicação em saúde tem por norma tendência a ser
difícil, pois na generalidade esta conotada com notícias que não são agradáveis e que
provocam sofrimento. Cabe ao enfermeiro capacitar-se de técnicas que possam tornar
esta comunicação mais fácil e mais eficiente, a mesma requere habilidade e
competência. O equilíbrio emocional e autocontrolo, disposição para cumprir ações
orientadas, capacidade física e mental para a atividade, iniciativa, facilidade de
comunicação e capacidade para trabalhar em equipa são características que a meu
ver, que os enfermeiros devem possuir para que possam executar adequadamente
todo este processo comunicacional.
Cada individuo ou família tem a sua dinâmica própria, histórias passadas que podem
transformar aquele momento numa verdadeira montanha-russa de emoções e reações,
consequentemente, a preparação de todo o processo é essencial para que seja
minimizado o processo. Desta forma a comunicação de más notícias deve ser
adequada a cada pessoa, de acordo com a sua individualidade respeitando as
necessidades do doente e da sua família. Sob outra perspetiva, necessitamos de
avaliar igualmente se o individuo/ família pretende ou não saber a totalidade da
informação, dado que possuem o direito de não serem informados de tudo o que esta
a acontecer ou do que possivelmente irá acontecer.
Não podemos esquecer que a comunicação de más notícias perturba tanto quem esta
a informar como quem está a ouvir, o que pode gerar tanto nos profissionais de saúde
como nos doentes/ famílias medos, ansiedades, sentimentos de inutilidade, de
desconforto e desorientação que tem de ser bem trabalhados para não se tornarem
debilitantes.
A relevância desta reflexão prende-se com a necessidade de comunicarmos de forma
correta, sensata e cordial com o utente e os seus familiares. Abordando de forma
clara e sucinta o assunto que nos levou a ter aquela referida conversa. Detemos
conhecimento suficiente para aferir que nem sempre a compreensão acompanha a
audição, posto isto podemos afirmar que existe algum desfasamento na compreensão
e assimilação de toda a informação recebida naquele momento. Contudo, temos de
demonstrar competência e à vontade para responder às perguntas que nos forem
direcionadas e igualmente prestarmos apoio com a nossa atenção e/ou o nosso
silêncio, quando nos mostramos disponíveis para ouvir os desabafos ou o simples
chorar numa altura de angústia por parte do utente/familiar.
cipe_2015. (n.d.).