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Comunicação terapêutica e
relacionamento terapêutico
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
O papel da enfermagem ganhou notoriedade nos últimos anos e isso
se deve ao fato de que o papel do enfermeiro não se restringe a exe-
cutar técnicas e procedimentos, mas sim na proposta de cuidados mais
abrangentes.
Os cuidados de enfermagem fazem parte de um contexto maior,
chamado sistematização da assistência em enfermagem (SAE). A SAE
é um instrumento importante que subsidia um processo assistencial
que contribui para uma prática segura e de qualidade. Ela inicia com a
coleta de dados e anamnese do paciente para posterior exame físico,
levantamento de diagnósticos de enfermagem, prescrição de cuidados
e avaliação dos cuidados prescritos (TORRES et al., 2011).
Como podemos notar a primeira fase desse importante processo de
cuidar tem início com a coleta de dados e anamnese. Essa fase é fun-
damental, pois a partir dela o enfermeiro irá elaborar seus diagnósticos
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Não se esqueça de que enfermeiros são pessoas e, como qualquer ser humano, podem
experimentar sentimentos de raiva, tristeza, desprezo e incapacidade. Se faz necessário
estar atento e procurar sessões de supervisão com outros profissionais da saúde, a fim
de compreender seus sentimentos e evitar reações inadequadas com o cliente (por
exemplo, alimentar a dependência do cliente nos seus cuidados).
José, 22 anos, está internado na enfermaria psiquiátrica do hospital geral com diag-
nóstico de episódio maníaco agudo. Por conta do transtorno, ele se encontra hiper-
sexualizado e resistente em seguir as normas do hospital. Ele busca contato frequente
com a enfermeira, segura sua mão, coloca a mão em sua cintura, solicita que ela o
acompanhe até o quarto e expressa desejo de relacionamento íntimo.
Nessa situação é fundamental que a enfermeira estabeleça limites claros, evitando
assim o escalonamento do comportamento de José. A enfermeira deve solicitar que
ele se afaste sempre houver a invasão seu espaço íntimo, assim como o impedir de a
tocar de forma inapropriada. Deve-se reafirmar seu papel profissional e os limites da
relação enfermeira-cliente. Ainda que a privacidade seja importante, ela não deve ficar
a sós e isolada com esse cliente enquanto não ocorrer melhora clínica.
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Transferência e contratransferência
Transferência e contratransferência são termos cunhados por Freud ao longo
do processo de desenvolvimento da psicanálise (TIMO; RIBEIRO, 2017).
Uma vez incorporados, esses conceitos se tornam ferramentas para o enfer-
meiro compreender melhor o cliente e as reações despertadas por ele.
A transferência se refere a um fenômeno quando o cliente, de forma in-
consciente, desloca para o enfermeiro um sentimento desenvolvido por outra
pessoa no passado. Normalmente, mas não obrigatoriamente, esse sentimento
foi originalmente vivenciado na infância do cliente com relação aos seus pais.
Tal sentimento pode ser das mais variadas naturezas, como: raiva, hostilidade,
afeto, desprezo, etc. Alguma característica do enfermeiro faz com que o cliente,
de forma inconsciente, se lembre da pessoa com a qual vivenciou a situação
do passado. Características de personalidade, vestimenta, o próprio papel
de autoridade ou o papel de assistente do enfermeiro irão ativar a memória
afetiva do cliente e este irá revivenciar o sentimento do passado (TIMO;
RIBEIRO, 2017).
Por exemplo, um cliente que vivenciou situações de dependência excessiva
com sua mãe pode demonstrar passividade, afeto excessivo e expectativas
irrealistas diante de uma enfermeira com timbre de voz semelhante ao de
sua mãe. Já outro cliente pode demonstrar hostilidade e resistência ao seguir
orientação de um enfermeiro cujo cabelo relembra o de seu pai que o maltra-
tava na infância. Diante de uma situação de transferência, o enfermeiro deve
realizar seu trabalho no sentido de separar o presente do passado, auxiliando
o cliente a identificar a transferência e criar um significado original para a
atual relação enfermeiro-cliente (TOWNSEND, 2014).
Já a contratransferência se refere ao sentimento desenvolvido pelo enfer-
meiro em relação aos sentimentos de transferência do cliente. O profissional de
saúde também pode ter sentimentos não resolvidos quanto a entes significativos
do passado e manifestá-los na relação profissional (TIMO; RIBEIRO, 2017).
Por exemplo, o enfermeiro pode se sentir especialmente poderoso e especial
diante de um cliente excessivamente dependente, alimentando, assim, a falta de
atenção da mãe omissa de sua própria infância. Nessa situação, o profissional
pode alimentar os sentimentos de dependência do enfermo, assumindo um
papel de conselheiro, dando atenção especial ou permitindo regalias. Esse
mesmo enfermeiro citado pode sentir raiva e ansiedade diante de um cliente
que ignora as orientações prestadas, revivenciando, assim, os momentos em
que sua mãe o ignorava.
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Leituras recomendadas
CAMPOS, C. A comunicação terapêutica enquanto ferramenta profissional nos cuidados
de enfermagem. PsiLogos, Amadora, v. 15, n. 1, p. 91-101, jun. 2017. Disponível em: https://
revistas.rcaap.pt/psilogos/issue/view/857. Acesso em: 23 maio 2019.
INSTITUTO BRASILEIRO PARA SEGURANÇA DO PACIENTE. Propor novas perspectivas é
papel da enfermagem na comunicação com o paciente. [S. l.: s. n.], 2017. 1 vídeo (5 min).
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Rsleyj1g4Rs. Acesso em: 25 ago. 2011.