Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ENTREVISTA E
ACONSELHAMENTO
PSICOLÓGICO
Comunicação
terapêutica
facilitadora
Claudia Marques Comaru
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
A comunicação terapêutica, que diz respeito ao fluxo de informações (e à compreen-
são da mensagem) entre paciente e psicólogo, pode ser facilitada pelas habilidades
em comunicação apresentadas pelo profissional de saúde. A partir da primeira
entrevista, podemos identificar o estabelecimento de relação interpessoal, o
desenvolvimento de diferentes tarefas que visam ao diagnóstico do paciente e
o compartilhamento de informações que orientam o planejamento terapêutico.
O ambiente onde a comunicação se realiza pode variar entre um hospital geral,
um consultório particular, uma organização não governamental, entre outros
espaços. Desse modo, diferentes fatores podem influenciar na qualidade da prática
profissional, como o estado emocional do terapeuta, o clima organizacional do
local onde ela acontece, o equilíbrio entre recursos e demandas para a realização
do trabalho, entre outros.
Nesse sentido, é importante que o psicólogo possa mobilizar conhecimentos e
habilidades que contribuam para o estabelecimento de um processo de comuni-
2 Comunicação terapêutica facilitadora
cação eficiente, por meio do qual o paciente possa perceber que o profissional de
saúde está integralmente vinculado a ele durante o atendimento/sessão. Assim, o
paciente pode falar o que sente sem ser interrompido em momento inadequado,
verbalizar suas expectativas com o processo terapêutico e compreender o conteúdo
da mensagem emitida pelo profissional de saúde.
Neste capítulo, você vai estudar as habilidades básicas do psicólogo para uma
escuta eficiente capaz de criar um ambiente facilitador para que a comunicação
se efetive. Além disso, vai conhecer a comunicação em fluxo, a comunicação
turbulenta e a boa escuta no âmbito da comunicação terapêutica. Também vai
ver entendimentos que nos permitem compreender, de certo modo, o que facilita
e o que lacuna a atividade desenvolvida pelo psicólogo. Por fim, vai estudar
possíveis erros que podem ser evitados na escuta terapêutica, como excesso
ou frieza de cumprimento, falta de atenção, falta de delimitação de entrevista,
afirmações carregadas de certeza precoce, postura de onipotência do psicólogo
e desconhecimento dos próprios limites.
A boa escuta
Uma estratégia que favorece o estabelecimento da boa escuta é, segundo
Carrió (2012), o apoio narrativo ou ponto de fuga: um momento da entrevista,
por exemplo, em que o psicólogo escolhe abrir o campo para a expressão
do paciente, mantendo a posição de motivador e apoiador. Nesse momento,
Comunicação terapêutica facilitadora 9
Interferências na comunicação
Alguns fatores podem prejudicar a efetividade da comunicação terapêutica
entre paciente e psicólogo. Bleger (2003) aponta a ansiedade como um ele-
mento que pode emergir tanto do paciente quanto do próprio psicólogo. A
consciência da intensidade e o curso da ansiedade ao longo da comunicação
é de suma importância para o psicólogo, pois a perda de controle desse
aspecto pode comprometer a realização da comunicação. O autor comenta a
importância da identificação da ansiedade (ou sua ausência), bem como sua
administração pelo profissional no cotidiano de trabalho: “Sem ansiedade
não se aprende, e com muita ansiedade também não. O nível ótimo é aquele
no qual a ansiedade funciona como um sinal de alarme” (BLEGER, 2003, p. 83).
Para o paciente, é inegável que uma situação que envolva conversar sobre
conteúdos íntimos com uma pessoa desconhecida por si só pode levar à
ansiedade. A confiança pode se estabelecer no decorrer da comunicação.
Com o aumento desta, a ansiedade tende a diminuir. Por parte do psicólogo,
os aspectos do paciente podem favorecer um aumento de ansiedade e de-
vem ser considerados. Sustentar a ansiedade pode ser importante caso a
comunicação esteja inserida no contexto do tratamento psicoterapêutico,
a depender das características emocionais do paciente e de sua história de
vida, aspectos a serem avaliados pelo psicólogo.
O encontro entre psicólogo e paciente pode evocar percepções que podem
atrapalhar o psicólogo: as projeções. Identificar no paciente aspectos seus
(sem se permitir lidar diretamente com isso) pode prejudicar a condução
da comunicação, seja no contexto da avaliação, seja no da psicoterapia. O
espaço da entrevista, por exemplo, não se configura como um espaço de
conflito. Portanto, os comportamentos e as emoções evocados pelo paciente
devem ser considerados no contexto do encontro, e o psicólogo não deve
personalizar a relação (BLEGER, 2003).
Os erros realizados durante a comunicação terapêutica, especificamente
em entrevistas, são definidos por Carrió (2012) como dos tipos técnicos e de
atitude. Os erros técnicos têm relação com a forma de conduta do psicólogo.
Veja a seguir.
Referências
BENJAMIN, A. A entrevista de ajuda. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
BLEGER, J. Temas de psicologia: entrevista e grupos. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
BRANCO, A. U. et al. A sociocultural constructivist approach to metacommunication in
child development. In: BRANCO, A. U.; VALSINER, J. (ed.). Communication and metacom-
munication in human development. Greenwich, CT: IAP, 2004. p. 3-32.
CARRIÓ, F. B. Entrevista clínica: habilidades de comunicação para profissionais de
saúde. Porto Alegre: Artmed, 2012.
CORMIER, S.; NURIUS, P. S. Interviewing and change strategies for helpers. Califórnia:
Thomson, Brooks/Cole, 2003.
FLEURY, M. T. L.; FLEURY, A. Construindo o conceito de competência. RAC — Revista de
Administração Contemporânea, v. 5, p. 183-196, 2001. Disponível em: https://www.scielo.
br/j/rac/a/C5TyphygpYbyWmdqKJCTMkN/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 15 set. 2021.
GONDIM, S. M. G.; BRAIN, F. R. M.; CHAVES, M. Perfil profissional, formação escolar e
mercado de trabalho segundo a perspectiva de profissionais de Recursos Humanos.
rPOT - Revista Psicologia: Organizações & Trabalho, v. 3, n. 2, p. 119-152, jul./dez. 2003.
Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rpot/v3n2/v3n2a06.pdf. Acesso em: 15
set. 2021.
ROGERS, C. R. Psicoterapia e consulta psicológica. São Paulo: Martins Fontes, 1979.
SILVA, M. T. V. C. S. A micro-análise da comunicação em psicoterapia: comparação
da psicologia clínica positiva com a terapia cognitivo-comportamental. 2008. 62 p.
Dissertação (Mestrado integrado em Psicologia) — Universidade de Lisboa, Lisboa,
2008. Disponível em: https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/702/1/17620_A_Mi-
cro_Analise_da_Comunicacao_em.pdf. Acesso em: 15 set. 2021.
Comunicação terapêutica facilitadora 13
Leitura recomendada
MAGALHÃES, P.; LUGARINHO, L. P.; PENELLO, L. M. (coord.). Comunicação de notícias difí-
ceis: compartilhando desafios na atenção à saúde. Rio de Janeiro: INCA, 2010. Disponível
em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/comunicacao_noticias_dificeis.pdf.
Acesso em: 15 set. 2021.