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ENTREVISTA INTERVENTIVA: PARTE III

PRETENDE FAZER PERGUNTAS LINEARES, CIRCULARES,


ESTRATÉGICAS OU REFLEXIVAS?

Karl Tomm M.D.


Fam Proc 27: 1-15, 1988

Cada pergunta feita pelo terapeuta parece incorporar alguma intenção e


partir de certas bases. Algumas perguntas têm o objetivo de orientar o
terapeuta sobre a situação e experiência do cliente; outras têm o objetivo de
provocar mudanças terapêuticas. Algumas são baseadas em hipóteses lineares
sobre o fenômeno que está sendo observado; outras em hipóteses circulares.
As diferenças entre essas perguntas não são triviais, elas tendem a causar
efeitos diversos. Este artigo explora estes temas e oferece maneiras para se
distinguir quatro grupos de perguntas.
Da perspectiva de um observador, terapias são essencialmente
conversas. Entretanto, não são conversas comuns. Conversas terapêuticas são
organizadas pelo desejo de aliviar a dor e o sofrimento mental e produzir a
cura. Elas acontecem entre terapeutas e clientes num contexto onde está
acordado que o terapeuta irá contribuir intencionalmente para gerar
mudanças nas experiências e comportamento problemáticos dos clientes.
Apesar de que outras conversas possam ter um efeito terapêutico (por
exemplo, discussões pessoais entre membros da família, amigos, colegas de
trabalho, conhecidos e até estranhos), não seriam consideradas como “terapia”
a não ser que houvesse um acordo de que um participante aceitasse a
responsabilidade de guiar a conversa para que fosse terapêutico para o outro.
Portanto, um terapeuta sempre assume um papel para a cura. Este papel
inclui um compromisso de ajudara as pessoas a lidar com seus problemas
pessoais e dificuldades interpessoais.
A posição do terapeuta numa conversa terapêutica não só implica em
responsabilidades especiais, mas também confere privilégios especiais. Um

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exemplo deste último é que um terapeuta pode questionar o cliente sobre sua
vida particular e pessoal. Ao fazer isso ele expõe as vulnerabilidades do cliente.
Consequentemente existe um potencial para mais trauma paralelo ao
da cura. A maneira pela qual este questionário é feito é que fará a diferença.
Alguns padrões da conversa podem ser mais terapêuticos do que outros. Um
dos fatores que contribuem para esta variação é a natureza da pergunta que é
feita.
Durante uma conversa que tenha a pretensão de ser curativa, o
terapeuta contribui com afirmações e perguntas. Em geral, afirmações
apresentam temas, posições ou visões, enquanto perguntas chamam temas,
posições ou visões. Em outras palavras, perguntas chamam respostas,
enquanto afirmações as fornecem. Ao mesmo tempo, entretanto, estas
características não são excludentes, perguntas e afirmações se sobrepõem. Por
exemplo, perguntas podem ser feitas em forma de afirmações. “Você deve ter
tido uma razão para vir me ver”. “A maioria das pessoas vem porque algo as
preocupa profundamente”. Alternadamente, afirmações podem surgir em
forma de perguntas: “Não é interessante que você tenha chegado tarde de
novo?”, “ Por que você não saiu mais cedo, quando você sabia que o tráfego
estaria terrível?”. Apesar disso, parece razoável esperar que a forma lingüística
dominante do terapeuta tenha um efeito importante na natureza e direção da
conversa.
Parece haver algumas vantagens para o terapeuta que usa mais
perguntas, especialmente nas fases iniciais e no meio de uma entrevista. Uma
delas é a maior garantia de uma conversa centrada no cliente. As percepções,
experiências, reações, preocupações, metas e planos do cliente tomam o palco
central. Se o terapeuta responde às respostas do cliente com mais perguntas,
as experiências e crenças do terapeuta permanecem num papel de apoio na
conversa. Portanto, quando o equilíbrio favorece perguntas sobre afirmações,
o “trabalho” da sessão é centrado naturalmente no cliente e não no terapeuta.
Outra vantagem é que as perguntas, mais que as afirmações, continuem um
convite mais forte para que o cliente se engaje na conversa. A forma
gramatical de uma frase que gera uma pergunta levanta a expectativa de uma
resposta. A cadência, o tom e a pausa na fala do terapeuta aumentam a
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expectativa de uma resposta. Quando o terapeuta também passa um
compromisso com a escuta, ao ouvir a resposta do cliente, a expectativa fica
ainda maior. Portanto, através de perguntas, o cliente é trazido para um
diálogo com o terapeuta.
Na verdade, até clientes reservados ou calados acham difícil manter o
silêncio quando perguntas são feitas a eles. Mais uma vantagem em fazer
perguntas é que os clientes soam estimulados a pensar sobre seus problemas.
Isto favorece sua autonomia e assegura uma sensação de conquista pessoal
quando ocorre uma mudança terapêutica, em vez de induzir dependência ao
“conhecimento” do terapeuta.
Existem, entretanto alguns limites na predominância de perguntas
sobre afirmações. Um terapeuta pode se esconder atrás deste questionamento
sem fim e não entrar na relação como uma pessoa real. Isto poderia ser uma
grande desvantagem ao limitar o desenvolvimento de uma aliança terapêutica.
Os clientes necessitam ver o terapeuta como alguém coerente o íntegro para
que possam confiar. Para isso, o terapeuta tem que fazer afirmações de
tempos em tempos posições sobre certos temas (mesmo que seja uma posição
de não tomar posição, tal como “o casal deve se separar ou continuar junto”}.
Ainda mais, a expectativa de uma resposta pode ser percebida como uma
demanda, e se tornar uma imposição. Algumas perguntas podem ser
extremamente ameaçadoras. Uma longa série de perguntas pode ser percebida
como um interrogatório ou castigo. Estas possibilidades levantam a
necessidade do terapeuta monitorar constantemente a conversa, e mudar para
afirmações quando suas perguntas se tornarem contra-terapêuticas. Por outro
lado, podemos lidar com estas dificuldades, mudando o tipo de pergunta que
está sendo feita.

O equilíbrio entre perguntas e afirmações varia entre as diferentes


Escolas, por exemplo, o Grupo de Milão faz muitas perguntas, enquanto que
linhas Estratégica e Estrutural se apóiam mais em afirmações. Entre as
variáveis que influenciam o equilíbrio entre perguntas e afirmações numa
sessão estão a orientação teórica e o estilo pessoal do terapeuta, o tipo de
problema, crença, expectativa e interações apresentadas pelo cliente e o
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padrão de interação que se desenvolve entre eles. Até onde sei, os efeitos deste
equilíbrio ainda não foram explorados sistematicamente na pesquisa de
terapia de família e casal.
Apesar deste artigo se concentrar em perguntas e nas diferenças entre
elas, não tem a intenção de defender que o terapeuta só deva fazer perguntas.
Quando o cliente não se dá conta de informações básicas, ou não tem o
conhecimento para responder com coerência, é apropriado que o terapeuta
forneça respostas. Afirmações do tipo “se-entao”, que clarificam o processo
mental, podem contribuir para a compreensão de eventos importantes da
família. Por exemplo, se os pais exigem constantemente que o filho conte tudo,
eles ensinam ás vezes a criança a mentir. A criança pode aprender a inventar
qualquer resposta que satisfaça á necessidade dos pais de uma resposta
imediata. Às vezes o meio mais eficaz de despertar questionamentos na mente
do cliente e de aprimorar sua capacidade de fazer descobertas por si mesmo
são afirmações irônicas e improváveis do terapeuta.
Cada pergunta incorpora alguma intenção. Conscientemente ou não, o
terapeuta tem algum propósito ao fazer uma pergunta. Esta intenção ou
propósito parte da postura de “estrategizar” que guia o terapeuta a todo o
momento em sua tomada de decisão. A intenção mais comum atrás das
perguntas feitas pelo terapeuta é descobrir algo sobre os clientes ou a situação
em que se encontram. Usando perguntas, o terapeuta convida o cliente a
partilhar seus problemas, experiências e expectativas. A intenção imediata em
perguntar é desenvolver a compreensão do terapeuta. As perguntas são
escolhidas para levantar respostas que permitam ao terapeuta “falar a mesma
língua” do cliente, entender sua experiência e gerar explicações clínicas que
possam ajudá-lo. As perguntas são escolhidas para apoiar a postura
conceitual do terapeuta quanto à circularidade e a hipotetizar. Os membros
da família respondem de acordo com a compreensão que possuem. Não é
esperado que eles mudem como resultado destas perguntas. Em outras
palavras, durante este questionamento o foco de mudança é o terapeuta e não
a família. A meta deste momento é que o terapeuta se oriente sobre a situação
e as experiências dos membros da família. À medida que o terapeuta obtém
impressões e imagens a partir das respostas verbais e não-verbais da família,
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mais perguntas são feitas para preencher os “buracos”, clarificar
ambigüidades e resolver dúvidas na mente do terapeuta. Portanto, na fase
inicial de uma sessão, o terapeuta faz de orientação.
Entretanto, ao investigar a situação do cliente, aparecem oportunidades
para intervenções terapêuticas. O terapeuta enxerga um “bom momento” ou
uma “abertura” na conversa para influenciar as percepções ou crenças da
família. Em outras palavras, a situação facilita uma ação do terapeuta que
pode capacitar os membros da família a mudarem seus pontos de vista e
consequentemente seu comportamento. O terapeuta pode parar de fazer
perguntas e fazer algumas afirmações. Mas se ele decide continuar com as
perguntas, pode tirar vantagens desta oportunidade, introduzindo
intervenções terapêuticas na forma de perguntas. Na verdade, existem muitas
razões para se preferir fazer uso de perguntas para se influenciar o cliente, em
vez de recorrer a afirmações. O terapeuta então formula perguntas de
influencia, o tipo de pergunta que pode deflagrar mudanças terapêuticas.
Neste caso, o foco de mudança é o cliente ou família, não mais o terapeuta.
Isto não quer dizer que ele não esteja aberto a mudanças em suas
compreensões como resultado das respostas do cliente. Ao contrário o
terapeuta sempre se mantém aberto à mudança depois de uma pergunta de
influência, senão a pergunta se torna apenas uma retórica. Entretanto, esta
mudança no terapeuta é secundária em relação à sua intenção principal ao
formular aquela pergunta em particular.
Portanto, uma dimensão básica para diferenciar perguntas é uma
escala que se refere ao foco de mudança atrás da pergunta. Num extremo da
escala está uma intenção predominante de orientação, para mudança em si
mesmo e no outro extremo está uma intenção predominante de influência,
para mudanças em outro. Perguntas de orientação são utilizadas para
levantar respostas que alterem as percepções e compreensões do terapeuta,
enquanto que perguntas de influência são utilizadas para deflagrar uma
resposta que altere as percepções ou compreensões da família. É claro que
qualquer pergunta tem intenções misturadas e pode estar em qualquer ponto
da escala. Esta distinção entre perguntas de orientação e perguntas de

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influência é apenas é apenas um convite para que os terapeutas descubram
suas intenções durante o processo de estrategizar sobre o que perguntar.
Uma outra dimensão importante para diferenciar perguntas se refere às
diferentes teorias sobre a natureza do fenômeno mental e o processo
terapêutico. Para razoável assumir que existe uma rede de teorias e
suposições na mente do terapeuta que fundamenta suas perguntas. Durante
a sessão estas teorias e suposições ficam inconscientes. Elas podem,
entretanto, ser trazidas para a consciência e modificadas numa ou outra
direção. Em outras palavras, estas teorias também podem ser colocadas
numa escala. Num extremo da escala estariam as teorias lineares ou de
causa-e-efeito, e no outro, as teorias circulares ou cibernéticas.
A distinção entre “linear” e “circular” foi importada para terapia de
família do trabalho pioneiro de Bateson em sua exploração da natureza da
mente. Desde então, uma rica rede de idéias, conceitos e associações giraram
em torno desta distinção. Estas idéias permeiam agora a literatura em terapia
de família. Teorias lineares tendem a ser associados a reducionismo,
determinismo causal, atitudes de julgamento e atitudes estratégicas. Teorias
circulares são associadas ao holístico, princípios interacionais, atitudes
neutras e atitudes sistêmicas. Estas associações não implicam
necessariamente numa identidade ou isomorfismo dentro de cada grupo de
conceitos. Nem implicam que teorias lineares e circulares sejam mutuamente
exclusivas. As distinções entre linear e circular podem ser consideradas como
complementares e não apenas como e/o, e devido a isso estas teorias e suas
associações podem se sobrepor e enriquecer uma à outra. A maioria dos
terapeutas internalizam estes conceitos em algum nível e, provavelmente,
operam com ambas as idéias, mas de maneiras, consistências e tempos
diferentes. Apesar destas teorias e suposições exercerem um efeito
inconsciente, ainda tem um efeito significativo na natureza das perguntas.
Portanto, esta segunda dimensão acrescenta profundidade na compreensão
das diferenças entre as perguntas.
Uma intersecção destas duas dimensões básicas (intenção do terapeuta
e teorias do terapeuta) forma quatro quadrantes que podem ser usados para
diferenciar quatro tipos básicos de perguntas. Isto está indicado na figura 1. A
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linha horizontal representa o grau da intenção do terapeuta, se está em
direção a mudar o self ou mudar o outro. A linha vertical representa o grau
das teorias do terapeuta sobre os processos mentais: linear ou circular. Se o
terapeuta assume que os eventos que estão sendo explorados ocorrem de uma
maneira linear ou de causa-e-efeito, as perguntas de orientação irão refletir
isto e podem ser consideradas como “perguntas lineares”. Se o terapeuta
assume que os eventos são circulares, repetidos e cibernéticos, as perguntas
de orientação são chamadas de “perguntas circulares”. Se o terapeuta assume
que é possível influenciar outros diretamente através de informações ou
interações de instrução, as perguntas de influência podem ser consideradas
como “perguntas estratégicas”. Se o terapeuta assume que só é possível
influenciar através da perturbação de processos circulares existentes na
família, as perguntas de influência são consideradas como “perguntas
reflexivas”. Algumas perguntas refletem graus diferentes de linearidade e
circularidade e variam de intenção, por isso podem estar em qualquer ponto
do diagrama. Entretanto, algumas perguntas se encontram num quadrante
específico. Por exemplo, os tipos comuns de perguntas que definem os
problemas, ou os explicam, tendem a refletir um questionamento linear.
Perguntas de diferenças e uma série de perguntas sobre o comportamento
sugerem exploração de um processo circular. Perguntas orientadas para o
futuro e baseadas na perspectiva do observador tendem a ser reflexivas. Tipos
e seqüências diferentes de perguntas têm efeitos diferentes na conversa
terapêutica. Por exemplo, a maneira como um evento histórico específico é
relatado pelo cliente é influenciado pelas palavras e tom das perguntas do
terapeuta. Uma pergunta linear convida a uma descrição linear, enquanto que
uma pergunta circular estimula uma descrição circular.

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QUATRO TIPOS DE PERGUNTAS

PERGUNTAS LINEARES

São formuladas para orientar o terapeuta na situação do cliente e são


baseadas em teorias lineares sobre a natureza do fenômeno mental. A
intenção atrás destas perguntas é a investigação. O terapeuta age como um
investigador ou detetive tentando resolver um mistério. As perguntas básicas
são: “Quem fez o que? Onde? Quando? e Por que?”. A maioria das sessões
começa com pelo menos algumas perguntas lineares. Isto é necessário para
“join” (juntar) a família em suas visões lineares típicas da situação.
Questionando desta maneira o terapeuta tende a adotar uma postura
reducionista, ao tentar determinar a causa específica do problema. São feitos
esforços para separar as coisas, para que a origem do problema fique
eventualmente mais delineada.
Por exemplo, o terapeuta pode começa a sessão com uma seqüência de
perguntas de orientação linear como a que se segue; “Que problemas
trouxeram você aqui hoje?” (E mais a depressão); “Quem fica deprimido?”
(Meu marido); “ O que faz você ficar tão deprimido?” (Eu não sei); “Você tem
dificuldade em dormir?” (Não); “Você engordou ou emagreceu?” (Não); “Você
tem algum outro sintoma?” (Não); “Alguma doença recente?” (Não); “Você tem
pensamentos mórbidos?” (Não); “Você está chateado com alguma coisa?” (Não);
“Deve ter alguma coisa te chateando, o que poderia ser?” (Realmente não sei);
“Por que você acha que seu marido fica deprimido?” (Eu também não sei, ele
não se motiva para nada, fica na cama o dia todo); “Há quanto tempo ele está
tão deprimido?” (Três meses, ele quase não sai da cama há três meses);
“Aconteceu alguma coisa que deu início a isso?” (Não me lembro de nada em
particular); “Alguém tenta anima-lo?” (Não muito); “Por que não?” (Bem, eu me
encho depois de um tempo); “Você fica muito frustrada?” (Um pouco); “Há
quanto tempo você está frustrada com ele?”; e assim por diante.
A postura teórica de hipótese linear contribui para os temas e os focos
que geram este tipo de perguntas. Perguntas lineares sobre os problemas,
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tendem a passar uma atitude crítica de que alguma coisa está errada no
indivíduo e não devia ser desse jeito. Isto frequentemente evoca culpa,
verginha e defesa na família ou no cliente. Como geralmente, as pessoas não
gostam de assumir culpas, estas perguntas podem estimular os membros da
família a ficarem mais críticos entre si.

PERGUNTAS CIRCULARES

Estas também são formuladas para orientar o terapeuta na situação do


cliente, mas são baseadas em teorias circulares sobre a natureza do fenômeno
mental. A intenção atrás destas perguntas é de exploração. O terapeuta age
mais como um explorador, pesquisador ou cientista que busca uma nova
descoberta. As suposições que orientam estas perguntas são interacionais e
sistêmicas. O terapeuta assume tudo que está conectado com todo o resto. As
perguntas são formuladas para levantar os “padrões que conectam”, pessoas,
objetos, ações, percepções, idéias, sentimentos, eventos, crenças, contextos,
etc., em circuitos cibernéticos que se repetem.
Portanto, um terapeuta sistêmico começa a sessão de uma forma
diferente: “Como é que estamos juntos hoje?” (Eu liguei porque estou
preocupada com a depressão do meu marido); “Quem mais está preocupado?”
(As crianças); “Quem você acha que se preocupa mais?” (Ela); “Quem você
acha que menos se preocupa?” (Ela reclama muito, mais sobre dinheiro e
contas); “O que você faz quando ela te mostra que está preocupada?” (Eu não
a chateio, guardo para mim mesmo); “Quem vê a sua esposa se preocupando
mais?” (As crianças, elas falam muito sobre isso); “Vocês concordam crianças”
(Sim); “O que o seu pai faz quando vocês e sua mãe conversam?” (Ele
normalmente vai para a cama); “E quando o seu pai vai para a cama, o que a
sua mãe faz?” (Ela fica ainda mais preocupada); e assim por diante. Estas
perguntas tendem revelar padrões circulares repetidos que conectam
percepções e eventos. Elas tendem a ser mais neutras e receptivas. As
respostas geradas pelos membros da família também não são julgadas.
Perguntas circulares são caracterizadas por uma curiosidade geral
sobre a possibilidade de uma ligação entre os eventos, que inclui o problema,
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em vez de uma necessidade de conhecer as origens do problema. Se o
terapeuta tiver estabelecido uma orientação cibernética batesoniana sobre os
processos mentais e tiver desenvolvido uma postura de hipóteses circulares,
“perguntas de diferenças” e “perguntas contextuais”, foram associadas aos
padrões de simetria e complementaridade de Bateson.

PERGUNTAS ESTRATÉGICAS

Estas são formuladas para influenciar a família de uma determinada


maneira, e são baseadas em teorias lineares sobre a natureza do processo
terapêutico. A intenção atrás destas perguntas é corretiva. O terapeuta
assume que é possível uma interação instrutiva. Ele age como um professor,
instrutor ou juiz, dizendo aos membros da família onde eles erraram, e como
deviam se comportar (mesmo que indiretamente através de perguntas).
Baseando em hipóteses formuladas sobre a dinâmica da família, o terapeuta
chega à conclusão que algo está “errado”, e através de perguntas estratégicas
tenta mudar a família, isto é, tenta faze-la pensar ou se comportar da maneira
que ele pensa serem mais “correta”. Esta diretividade do terapeuta pode não
ser aberta porque a afirmação corretiva é camuflada em forma de pergunta,
mas mesmo assim passa pelo conteúdo, contexto, tempo e tom. Algumas
famílias se sentem ofendidas com este tipo de pergunta, mas outras as acham
compatíveis com seus padrões de interação.
È difícil dar exemplos de perguntas de influência porque as hipóteses
envolvidas as situação problemática são necessárias para formulá-las. Mas,
continuando com a família hipotética de nossos exemplos, o terapeuta poderia
tentar influenciar o casal perguntando: “Por que você não fala com ele sobre
suas preocupações, em vez de falar com as crianças?” (Ele não me ouve e fica
na cama); “Você não gostaria de parar de se preocupar com ele?” (Claro, mas o
que eu faço com ele?); “O que aconteceria se na próxima semana, toda manhã
às 8:00, você sugerisse a ele assumir alguma responsabilidade?” (Não vale a
pena o esforço); “Você não está disposto a tentar mais?” (Eu estou cansada.
Ele não vai se mexer e vai me frustrar ainda mais); “Você pode ver como seu
isolamento deixa sua esposa frustrada?” (O que quer dizer?); “Você não vê
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como ir para cama todo o dia, em vez de falar do que o chateia, está
perturbando a sua família?” (Bem, eu...); “Este hábito de dar desculpas é
novo?” (Não sabia que tinha um); “Quando você vai tomar conta da sua vida e
procurar um emprego?”; e assim por diante.
Fica claro através desses exemplos que ao fazer perguntas estratégicas,
o terapeuta está impondo seus pontos de vista do que “deveria ser” à família.
Às vezes, uma direção ou confrontação é necessária para mobilizar um
sistema “empacado”, mas esta dose em excesso pode arriscar uma ruptura na
aliança terapêutica.

PERGUNTAS REFLEXIVAS

Estas têm a intenção de influenciar o cliente de uma forma indireta, e


estão baseadas em teorias circulares sobre a natureza do processo
terapêutico. A intenção atrás destas perguntas é facilitadora. Os membros da
família são considerados indivíduos autônomos que não podem ser
direcionados. Portanto, o terapeuta atua como um guia, ou supervisor,
encorajando os membros da família a mobilizarem seus próprios recursos de
solução de problema. Uma idéia importante neste tipo de raciocínio é de que o
sistema terapêutico é evolutivo e o que o terapeuta faz é deflagrar atividades
reflexivas no sistema de crenças existentes da família. O terapeuta interage de
uma maneira que abre espaço para que a família veja novas possibilidades e
evolua no seu próprio ritmo.
Dentro deste cenário, o terapeuta poderia perguntar: “Se você contasse
a ele quão preocupada você está e como isto a chateia, o que você acha que ele
faria?” (Não tenho certeza); “ Vamos imaginar que ele está sentido com alguma
coisa, mas não quer te falar com medo de te magoar, como você poderia
convence-lo de que é forte o suficiente para ouvir?” (Acho que eu teria que
dizer isso a ele); “Se algo não estivesse bem resolvido entre vocês, quem seria o
primeiro a pedir desculpas?” (Ela nunca pede desculpas!); “Você ficaria
surpreso se ela admitir ou reconhecer neste momento algum erro dela, quanto
tempo você levaria para perdoá-la por não faze-lo?” (Humm...); “Se esta

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depressão desaparecesse de repente, em que a vida de vocês seria diferente?” e
assim por diante.
Estas perguntas são reflexivas na medida em que são formuladas para
fazer a família refletir sobre as implicações de suas percepções e ações atuais e
considerar novas opções. Apesar de também influenciar a família numa
direção terapêutica, este tipo de pergunta é mais neutro e respeita a
autonomia da família. Desenvolver a capacidade de manter uma postura de
neutralidade aumenta a probabilidade de que uma pergunta de influência seja
reflexiva em vez de estratégica.
O que falta em todos esses exemplos é o tom emocional usado na
formulação das perguntas. As diferenças entre esses grupos ficariam ainda
mais evidentes se estivessem presentes a cadência, tom e comportamentos
não-verbais do terapeuta. O que é enfatizado aqui é que a diferenciação destas
perguntas não depende da estrutura sintática do ou conteúdo semântico.
Depende sim, das intenções e teorias do terapeuta ao decidir usá-las. Na
verdade, as mesmas palavras poderiam constituir uma pergunta linear,
circular, reflexiva ou estratégica. Por exemplo, se o terapeuta pergunta ao
filho: “O que a sua mãe faz quando seu pai chega tarde e o jantar já esfriou?”
apenas para descobrir como a mãe reage quando o pai a provoca. Isto seria
pergunta de orientação linear. Se fosse uma parte de uma seqüência de
perguntas de comportamento (que se seguiria por outra: “E o que o seu pai faz
quando sua mãe grita com ele?”), para explorar a interação circular entre os
pais, seria uma pergunta de orientação circular. Se aquela pergunta é feita
para levar os pais a observar seu próprio comportamento, seria uma pergunta
reflexiva. Se é feita porque o terapeuta antecipou o que a criança responderia e
queria esta informação para confrontar a mãe ou o pai, seria uma pergunta
estratégica. Portanto, as mesmas palavras podem significar coisas diferentes
numa mesma sessão. Geralmente, é a postura emocional do terapeuta ao fazer
a pergunta que faz a diferença no que os clientes vão ouvir. Estas emoções
são, por sua vez, associadas às intenções e teorias do terapeuta.

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OS EFEITOS DAS DIFERENTES PERGUNTAS

Antes de discutir os diferentes efeitos destes tipos de perguntas, é


importante reconhecer a descontinuidade entre a intenção do terapeuta ao
formulá-las e seus efeitos nos clientes. Reconhecer e aceitar o espaço entre
intenção e efeito reduz a frustração, e leva o terapeuta a considerar cursos de
ação alternativos. Da perspectiva de um observador no processo terapêutico
(que é normalmente o terapeuta observando a si mesmo), existem dois pontos
onde ocorre descontinuidade. O primeiro é entre o que o terapeuta tem a
intenção de fazer e o que na verdade faz. Este espaço pode ser preenchido se o
terapeuta procura maior integração pessoal e desenvolve mais capacidade de
implementar suas intenções. O segundo é a descontinuidade entre o que o
terapeuta pergunta e como isto é ouvido pelos membros da família. Existe aqui
uma limitação absoluta. O ouvir e responder dos clientes são determinados
por sua própria autonomia biológica. Ao mesmo tempo, entretanto, estas
repostas não são arbitrárias; elas são deflagradas pelo que o terapeuta faz e
diz. Há muito que o terapeuta pode fazer para diminuir a diferença entre
intenção e efeito, ao tentar diminuir as diferenças lingüísticas com os clientes
a partir de uma postura de circularidade. Mas, no final, as intenções do
terapeuta ao formular perguntas específicas nunca garantem um efeito
específico nos clientes, nem uma maior precisão das palavras e do tom faria
isso. O que realmente acontece com a família depende de sua organização e
estrutura em cada momento. A importância de reconhecer e aceitar este
espaço entre intenção e efeito, entre a ação do terapeuta e as respostas do
cliente, não podem ser enfatizadas o suficiente. Os efeitos são sempre
imprevisíveis.
Apesar disso, o terapeuta pode e deve computar as probabilidades. Por
exemplo, é mais provável que clientes fiquem mais interessados em seu
padrão de interações através de perguntas circulares do que lineares, ou
sintam-se mais culpados por perguntas estratégicas do que reflexivas. Como o
terapeuta não pode adivinhar quais serão os efeitos de qualquer pergunta,
mas mesmo assim precisa escolher o que perguntar, estas escolhas são feitas
baseadas em efeitos antecipados. O terapeuta pode imaginar os prováveis,
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possíveis, improváveis e impossíveis efeitos de diferentes perguntas. Este
processo de antecipar é um aspecto importante da postura conceitual de
“estrategizar”. As generalizações que se seguem sobre os efeitos prováveis de
diferentes perguntas podem ser incorporadas aos hábitos inconscientes e
podem guiar o processo de decidir que perguntas fazer.

PERGUNTAS LINEARES

Essas tendem a ter um efeito conservador no cliente ou família. Como


os membros da família, antes de vir para a terapia, pensam sobre suas
dificuldades em termos lineares, não há muita novidade quando o terapeuta
os convida a articular seus pontos de vista (sobre o que aconteceu, quem
estava envolvido e como) com perguntas lineares. Os membros da família
respondem às perguntas, mas não se modificam. Existe um perigo em
perguntas lineares que é envolver a família ainda mais em percepções lineares
ao validar as crenças pré-existentes. Infelizmente, isto acontece mais freqüente
do que nos damos conta, enquanto conduzimos sessões de avaliação. O
entrevistador raramente se dá conta de que está ocorrendo um
enclausuramento de percepções e crenças patogênicas. É mais provável que
isto ocorra se, durante o curso do questionamento, o terapeuta não faz
perguntas (ou afirmações) que implícita ou explicitamente desafiem as crenças
anteriores da família. Um outro risco com perguntas lineares é que seu
pensamento reducionista tende a ativar atitudes críticas. Quando o terapeuta
levanta “a causa” do problema apresentado ou de uma situação indesejada,
automaticamente julgamentos negativos são dirigidos a ela, porque não se
quer o problema. Portanto, enquanto são necessárias perguntas lineares para
desenvolver um foco claro do problema, é preciso que o terapeuta se
mantenha atento aos seus potenciais perigos.

PERGUNTAS CIRCULARES

Perguntas circulares têm efeitos liberadores na família. Enquanto o


terapeuta faz perguntas, tentando identificar padrões para uma compreensão
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circular ou sistêmica da situação, os membros da família que ouvem as
respostas fazem suas próprias conexões. Portanto, eles podem se dar conta da
circularidade em seus padrões de liberação. A partir disso, eles podem se
“liberar” das limitações de seus pontos de vista anteriores e,
subsequentemente, encarar suas dificuldades de uma nova perspectiva. Por
exemplo, se através de perguntas de efeitos comportamentais o marido começa
a ver que não são só reclamações de sua esposa que ativam sua depressão,
mas que também sua depressão ativa as reclamações dela, ele pode se liberar
para agir de outra maneira, tem mais espaço para reconhecer que alguma
iniciativa construtiva de sua parte pode ativar uma resposta diferente dela. Ele
pode também aceitar mais e julgar menos as “respostas reclamadoras” dela. O
risco principal de perguntas circulares é que quando o terapeuta explora áreas
cada vez maiores de interação, o questionamento pode cair em domínios que
pareçam irrelevantes para as necessidades imediatas da família. Um outro
risco é que clínicos que estão aprendendo a usar perguntas circulares podem
usá-las de uma maneira muito estilizada. No total, entretanto, perguntas
circulares são mais passíveis de causar efeitos benéficos do que as lineares.

PERGUNTAS ESTRATÉGICAS

Estas tendem a ter um efeito restritivo na família. O terapeuta tenta


influenciar o cliente (de uma forma linear) a pensar ou fazer o que ele
considera mais saudável ou “correto”. As perguntas tentam restringir as
probabilidades de que pos membros da família continuem no mesmo caminho
problemático. Um efeito colateral comum é o de os membros da família se
sentirem culpados ou envergonhados por terem originalmente escolhido
aquele caminho. A restrição pode ser de duas formas: não fazer algo que o
terapeuta considera “errado” e contribui para o problema, ou fazer apenas o
que o terapeuta considera “certo” e que os ajudaria. Ambos tendem a confinar
as opções da família ao que o terapeuta considera melhor, encaixando ou não
a eles naquele momento. Estas perguntas tendem a ser manipuladoras e
controladoras. Em caso extremo, podem parecer com as perguntas que um
advogado faz ao examinar uma testemunha num julgamento. O advogado usa
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perguntas estratégicas para guiar, seduzir, intimidar, ou coagir a testemunha
a dizer exatamente o que ele quer que o júri ouça. Do mesmo modo o
terapeuta pode “forçar” o individuo a dizer o que o terapeuta quer ouvir, ou
quer que outros membros da família ouçam, mesmo que a pessoa não pense
daquele jeito. Devido à natureza coerciva das perguntas estratégicas, usá-las
em demasia pode ter efeitos contra-terapêuticos.
Por outro lado, usá-las ocasionalmente pode ser positivo no processo
terapêutico. Estas perguntas podem ser usadas para desafiar padrões de
pensamento e comportamento problemáticos sem recorrer a afirmações diretas
ou ordens. Se as palavras são escolhidas com cuidado, os clientes podem ser
confrontados com as limitações, restrições ou contradições em seu sistema de
crenças. As perguntas estratégicas podem ser usadas para levar a família a
reconhecer e abraçar uma solução óbvia.

PERGUNTAS REFLEXIVAS

Estas perguntas têm um efeito gerador na família. A intenção de


influenciar fica moderada pelo respeito à autonomia do cliente e, portanto, o
tom dessas perguntas fica mais suave. Os membros da família se sentem
convidados a imaginar novas alternativas, em vez de se sentirem empurrados
para elas. As perguntas tendem a abrir espaço para os membros da família
considerem novas percepções, novas perspectivas, novas direções e novas
opções. Elas também facilitam uma reavaliação das implicações problemáticas
das percepções e comportamentos atuais da família. Como consequência, os
membros da família geram novas ligações e novas soluções de seu próprio jeito
e em seu próprio tempo. Uma complicação das perguntas reflexivas é que
podem alimentar incerteza e confusão. Abrir uma variedade de novas
possibilidades sem proporcionar direções adequadas pode facilmente gerar
confusão. Mas esta confusão pode não ser necessariamente problemática para
o processo terapêutico. Dependendo da área da confusão, pode até ser muito
terapêutico. Por exemplo, quando certos membros da família “sabem a
verdade” ou “ têm todas as respostas” de uma maneira que os mantêm presos

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a padrões problemáticos e cegos a novas alternativas, a confusão pode ser
bastante libertadora.
Finalmente, eu gostaria de chamar a atenção para os possíveis efeitos
no terapeuta ao fazer tipos diferentes de perguntas. O terapeuta também é
influenciado pelas perguntas. Seu pensamento não é influenciado somente
pelas teorias e suposições levantadas durante a formulação das perguntas,
mas também pelas reações dos clientes ás perguntas. Perguntas lineares
tendem a alimentar ainda mais um pensamento linear no terapeuta, assim
como com os clientes. Consequentemente o terapeuta fica mais crítico. O
efeito de perguntas circulares no terapeuta é o de aprimorar sua neutralidade
e capacidade de aceitar o cliente e a família como são. Esta aceitação em si
mesma tem um potencial de cura no sistema terapêutico ao neutralizar os
efeitos, paralisantes da culpa. O efeito de perguntas estratégicas no terapeuta
é que tendem a encaminhá-lo a uma postura de oposição á família. Por outro
lado, perguntas reflexivas tendem a guiar o terapeuta a se tornar mais criativo
nas perguntas formuladas. Se uma pergunta “não funciona o terapeuta
procura outra que possa liberar a capacidade natural de cura da família. A
figura “2” sumariza a intenção predominante e os efeitos associados com cada
tipo de pergunta. O diagrama inclui os efeitos das perguntas na família, assim
como no terapeuta. Os parênteses tentam indicar que os efeitos reais são
sempre imprevisíveis. Dependendo da estrutura da família no momento, uma
pergunta estratégica poderia ter um efeito gerador em vez de um restritivo.
Uma pergunta linear poderia ter um efeito liberador e uma pergunta reflexiva
poderia ter um restritivo, e assim por diante. Tudo que se pode dizer é que é
mais provável que a família experiencie respeito, novidade e transformação
espontânea como resultado de um questionamento circular e reflexivo; e
experiencie crítica e coerção como resultado de um questionamento linear e
estratégico. Se os membros da família começam a se sentir criticados ou
manipulados, a sessão se torna tensa ou “congelada”. Isto pode ser uma dica
para que o terapeuta mude o tipo de perguntas para aquelas mais neutras.
Por outro lado, se a família fica muito confortável e complacente no processo
terapêutico, talvez algumas perguntas estratégicas bem colocadas possam
estimula-los a considerar novas direções. O que está sendo proposto aqui é
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que o uso destas distinções possa ajudar o terapeuta a escolher o tipo de
pergunta que torne a entrevista numa conversa de cura.

COMENTÁRIOS FINAIS

A impossibilidade de prever os efeitos reais aponta para a importância


de monitorar as reações imediatas da família e de revisar as hipóteses durante
a sessão. Mas não se pode observar muitas vezes os efeitos de uma pergunta;
as reações da família são difíceis de “serem lidas”. Às vezes os efeitos não se
materializam durante a entrevista. A família pode se dar conta apenas depois
da sessão, talvez no dia seguinte. Algumas perguntas ficam na cabeça dos
clientes por semanas, meses e até anos, e ainda fazem efeito. Na maioria das
vezes o terapeuta “trabalha no escuro” e nunca sabe o resultado final de
certas perguntas. Isto deixa ainda mais responsabilidade na intenção do
terapeuta ao decidir sobre o que perguntar. Em outras palavras, o terapeuta
assume responsabilidade pelas perguntas sem saber qual será o seu efeito
total. Mas muito pode ser feito em seu desenvolvimento profissional para
aumentar a chance de que seu comportamento na sessão seja mais
terapêutico do que não-terapêutico ou contra-terapêutico. Devemos, porém
nos conscientizar que a pergunta “imagina” uma resposta na medida em que
estrutura o domínio de uma resposta “apropriada”. Fazer então uma pergunta
em particular seria convidar a uma resposta particular. O tipo de pergunta
que o terapeuta escolhe depende do tipo de resposta que quer ouvir. Se o
cliente aceita ou não o convite para responder no domínio “apropriado” é um
outro assunto, mas selecionar a pergunta é restringir a variedade de respostas
“legítimas”. Esta seleção dá ao terapeuta a capacidade de influir na
determinação e manutenção da direção da conversa. As diferenciações deste
artigo refletem os resultados de minhas pesquisas nos últimos anos. Se um
pesquisador quiser explorar ainda mais estes temas, tentando estabelecer se
uma pergunta foi linear, circular, estratégica ou reflexiva, terá dificuldade em
identificar as teorias e intenções do terapeuta ao formulá-la. O caminho mais
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fácil seria pedir ao terapeuta para articular seus pensamentos enquanto
formula a pergunta. Isto pode ser alcançado durante a revisão do vídeo tape
imediatamente depois da sessão. Um observador poderia também avaliar cada
pergunta em seu contexto. Estas avaliações poderiam ser classificadas em
graus de sucesso e comparadas às descrições das experiências dos clientes
que também veriam o tape. Maiores estudos neste sentido poderiam
contribuir para uma melhor compreensão do processo de entrevista
interventiva.

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