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Centro de Gestalt-terapia Sandra Salomão
Rua Elvira Machado, 16 – Botafogo – Rio de Janeiro - Telfax 21-2541-5186
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exemplo deste último é que um terapeuta pode questionar o cliente sobre sua
vida particular e pessoal. Ao fazer isso ele expõe as vulnerabilidades do cliente.
Consequentemente existe um potencial para mais trauma paralelo ao
da cura. A maneira pela qual este questionário é feito é que fará a diferença.
Alguns padrões da conversa podem ser mais terapêuticos do que outros. Um
dos fatores que contribuem para esta variação é a natureza da pergunta que é
feita.
Durante uma conversa que tenha a pretensão de ser curativa, o
terapeuta contribui com afirmações e perguntas. Em geral, afirmações
apresentam temas, posições ou visões, enquanto perguntas chamam temas,
posições ou visões. Em outras palavras, perguntas chamam respostas,
enquanto afirmações as fornecem. Ao mesmo tempo, entretanto, estas
características não são excludentes, perguntas e afirmações se sobrepõem. Por
exemplo, perguntas podem ser feitas em forma de afirmações. “Você deve ter
tido uma razão para vir me ver”. “A maioria das pessoas vem porque algo as
preocupa profundamente”. Alternadamente, afirmações podem surgir em
forma de perguntas: “Não é interessante que você tenha chegado tarde de
novo?”, “ Por que você não saiu mais cedo, quando você sabia que o tráfego
estaria terrível?”. Apesar disso, parece razoável esperar que a forma lingüística
dominante do terapeuta tenha um efeito importante na natureza e direção da
conversa.
Parece haver algumas vantagens para o terapeuta que usa mais
perguntas, especialmente nas fases iniciais e no meio de uma entrevista. Uma
delas é a maior garantia de uma conversa centrada no cliente. As percepções,
experiências, reações, preocupações, metas e planos do cliente tomam o palco
central. Se o terapeuta responde às respostas do cliente com mais perguntas,
as experiências e crenças do terapeuta permanecem num papel de apoio na
conversa. Portanto, quando o equilíbrio favorece perguntas sobre afirmações,
o “trabalho” da sessão é centrado naturalmente no cliente e não no terapeuta.
Outra vantagem é que as perguntas, mais que as afirmações, continuem um
convite mais forte para que o cliente se engaje na conversa. A forma
gramatical de uma frase que gera uma pergunta levanta a expectativa de uma
resposta. A cadência, o tom e a pausa na fala do terapeuta aumentam a
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expectativa de uma resposta. Quando o terapeuta também passa um
compromisso com a escuta, ao ouvir a resposta do cliente, a expectativa fica
ainda maior. Portanto, através de perguntas, o cliente é trazido para um
diálogo com o terapeuta.
Na verdade, até clientes reservados ou calados acham difícil manter o
silêncio quando perguntas são feitas a eles. Mais uma vantagem em fazer
perguntas é que os clientes soam estimulados a pensar sobre seus problemas.
Isto favorece sua autonomia e assegura uma sensação de conquista pessoal
quando ocorre uma mudança terapêutica, em vez de induzir dependência ao
“conhecimento” do terapeuta.
Existem, entretanto alguns limites na predominância de perguntas
sobre afirmações. Um terapeuta pode se esconder atrás deste questionamento
sem fim e não entrar na relação como uma pessoa real. Isto poderia ser uma
grande desvantagem ao limitar o desenvolvimento de uma aliança terapêutica.
Os clientes necessitam ver o terapeuta como alguém coerente o íntegro para
que possam confiar. Para isso, o terapeuta tem que fazer afirmações de
tempos em tempos posições sobre certos temas (mesmo que seja uma posição
de não tomar posição, tal como “o casal deve se separar ou continuar junto”}.
Ainda mais, a expectativa de uma resposta pode ser percebida como uma
demanda, e se tornar uma imposição. Algumas perguntas podem ser
extremamente ameaçadoras. Uma longa série de perguntas pode ser percebida
como um interrogatório ou castigo. Estas possibilidades levantam a
necessidade do terapeuta monitorar constantemente a conversa, e mudar para
afirmações quando suas perguntas se tornarem contra-terapêuticas. Por outro
lado, podemos lidar com estas dificuldades, mudando o tipo de pergunta que
está sendo feita.
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influência é apenas é apenas um convite para que os terapeutas descubram
suas intenções durante o processo de estrategizar sobre o que perguntar.
Uma outra dimensão importante para diferenciar perguntas se refere às
diferentes teorias sobre a natureza do fenômeno mental e o processo
terapêutico. Para razoável assumir que existe uma rede de teorias e
suposições na mente do terapeuta que fundamenta suas perguntas. Durante
a sessão estas teorias e suposições ficam inconscientes. Elas podem,
entretanto, ser trazidas para a consciência e modificadas numa ou outra
direção. Em outras palavras, estas teorias também podem ser colocadas
numa escala. Num extremo da escala estariam as teorias lineares ou de
causa-e-efeito, e no outro, as teorias circulares ou cibernéticas.
A distinção entre “linear” e “circular” foi importada para terapia de
família do trabalho pioneiro de Bateson em sua exploração da natureza da
mente. Desde então, uma rica rede de idéias, conceitos e associações giraram
em torno desta distinção. Estas idéias permeiam agora a literatura em terapia
de família. Teorias lineares tendem a ser associados a reducionismo,
determinismo causal, atitudes de julgamento e atitudes estratégicas. Teorias
circulares são associadas ao holístico, princípios interacionais, atitudes
neutras e atitudes sistêmicas. Estas associações não implicam
necessariamente numa identidade ou isomorfismo dentro de cada grupo de
conceitos. Nem implicam que teorias lineares e circulares sejam mutuamente
exclusivas. As distinções entre linear e circular podem ser consideradas como
complementares e não apenas como e/o, e devido a isso estas teorias e suas
associações podem se sobrepor e enriquecer uma à outra. A maioria dos
terapeutas internalizam estes conceitos em algum nível e, provavelmente,
operam com ambas as idéias, mas de maneiras, consistências e tempos
diferentes. Apesar destas teorias e suposições exercerem um efeito
inconsciente, ainda tem um efeito significativo na natureza das perguntas.
Portanto, esta segunda dimensão acrescenta profundidade na compreensão
das diferenças entre as perguntas.
Uma intersecção destas duas dimensões básicas (intenção do terapeuta
e teorias do terapeuta) forma quatro quadrantes que podem ser usados para
diferenciar quatro tipos básicos de perguntas. Isto está indicado na figura 1. A
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linha horizontal representa o grau da intenção do terapeuta, se está em
direção a mudar o self ou mudar o outro. A linha vertical representa o grau
das teorias do terapeuta sobre os processos mentais: linear ou circular. Se o
terapeuta assume que os eventos que estão sendo explorados ocorrem de uma
maneira linear ou de causa-e-efeito, as perguntas de orientação irão refletir
isto e podem ser consideradas como “perguntas lineares”. Se o terapeuta
assume que os eventos são circulares, repetidos e cibernéticos, as perguntas
de orientação são chamadas de “perguntas circulares”. Se o terapeuta assume
que é possível influenciar outros diretamente através de informações ou
interações de instrução, as perguntas de influência podem ser consideradas
como “perguntas estratégicas”. Se o terapeuta assume que só é possível
influenciar através da perturbação de processos circulares existentes na
família, as perguntas de influência são consideradas como “perguntas
reflexivas”. Algumas perguntas refletem graus diferentes de linearidade e
circularidade e variam de intenção, por isso podem estar em qualquer ponto
do diagrama. Entretanto, algumas perguntas se encontram num quadrante
específico. Por exemplo, os tipos comuns de perguntas que definem os
problemas, ou os explicam, tendem a refletir um questionamento linear.
Perguntas de diferenças e uma série de perguntas sobre o comportamento
sugerem exploração de um processo circular. Perguntas orientadas para o
futuro e baseadas na perspectiva do observador tendem a ser reflexivas. Tipos
e seqüências diferentes de perguntas têm efeitos diferentes na conversa
terapêutica. Por exemplo, a maneira como um evento histórico específico é
relatado pelo cliente é influenciado pelas palavras e tom das perguntas do
terapeuta. Uma pergunta linear convida a uma descrição linear, enquanto que
uma pergunta circular estimula uma descrição circular.
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QUATRO TIPOS DE PERGUNTAS
PERGUNTAS LINEARES
PERGUNTAS CIRCULARES
PERGUNTAS ESTRATÉGICAS
PERGUNTAS REFLEXIVAS
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depressão desaparecesse de repente, em que a vida de vocês seria diferente?” e
assim por diante.
Estas perguntas são reflexivas na medida em que são formuladas para
fazer a família refletir sobre as implicações de suas percepções e ações atuais e
considerar novas opções. Apesar de também influenciar a família numa
direção terapêutica, este tipo de pergunta é mais neutro e respeita a
autonomia da família. Desenvolver a capacidade de manter uma postura de
neutralidade aumenta a probabilidade de que uma pergunta de influência seja
reflexiva em vez de estratégica.
O que falta em todos esses exemplos é o tom emocional usado na
formulação das perguntas. As diferenças entre esses grupos ficariam ainda
mais evidentes se estivessem presentes a cadência, tom e comportamentos
não-verbais do terapeuta. O que é enfatizado aqui é que a diferenciação destas
perguntas não depende da estrutura sintática do ou conteúdo semântico.
Depende sim, das intenções e teorias do terapeuta ao decidir usá-las. Na
verdade, as mesmas palavras poderiam constituir uma pergunta linear,
circular, reflexiva ou estratégica. Por exemplo, se o terapeuta pergunta ao
filho: “O que a sua mãe faz quando seu pai chega tarde e o jantar já esfriou?”
apenas para descobrir como a mãe reage quando o pai a provoca. Isto seria
pergunta de orientação linear. Se fosse uma parte de uma seqüência de
perguntas de comportamento (que se seguiria por outra: “E o que o seu pai faz
quando sua mãe grita com ele?”), para explorar a interação circular entre os
pais, seria uma pergunta de orientação circular. Se aquela pergunta é feita
para levar os pais a observar seu próprio comportamento, seria uma pergunta
reflexiva. Se é feita porque o terapeuta antecipou o que a criança responderia e
queria esta informação para confrontar a mãe ou o pai, seria uma pergunta
estratégica. Portanto, as mesmas palavras podem significar coisas diferentes
numa mesma sessão. Geralmente, é a postura emocional do terapeuta ao fazer
a pergunta que faz a diferença no que os clientes vão ouvir. Estas emoções
são, por sua vez, associadas às intenções e teorias do terapeuta.
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OS EFEITOS DAS DIFERENTES PERGUNTAS
PERGUNTAS LINEARES
PERGUNTAS CIRCULARES
PERGUNTAS ESTRATÉGICAS
PERGUNTAS REFLEXIVAS
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a padrões problemáticos e cegos a novas alternativas, a confusão pode ser
bastante libertadora.
Finalmente, eu gostaria de chamar a atenção para os possíveis efeitos
no terapeuta ao fazer tipos diferentes de perguntas. O terapeuta também é
influenciado pelas perguntas. Seu pensamento não é influenciado somente
pelas teorias e suposições levantadas durante a formulação das perguntas,
mas também pelas reações dos clientes ás perguntas. Perguntas lineares
tendem a alimentar ainda mais um pensamento linear no terapeuta, assim
como com os clientes. Consequentemente o terapeuta fica mais crítico. O
efeito de perguntas circulares no terapeuta é o de aprimorar sua neutralidade
e capacidade de aceitar o cliente e a família como são. Esta aceitação em si
mesma tem um potencial de cura no sistema terapêutico ao neutralizar os
efeitos, paralisantes da culpa. O efeito de perguntas estratégicas no terapeuta
é que tendem a encaminhá-lo a uma postura de oposição á família. Por outro
lado, perguntas reflexivas tendem a guiar o terapeuta a se tornar mais criativo
nas perguntas formuladas. Se uma pergunta “não funciona o terapeuta
procura outra que possa liberar a capacidade natural de cura da família. A
figura “2” sumariza a intenção predominante e os efeitos associados com cada
tipo de pergunta. O diagrama inclui os efeitos das perguntas na família, assim
como no terapeuta. Os parênteses tentam indicar que os efeitos reais são
sempre imprevisíveis. Dependendo da estrutura da família no momento, uma
pergunta estratégica poderia ter um efeito gerador em vez de um restritivo.
Uma pergunta linear poderia ter um efeito liberador e uma pergunta reflexiva
poderia ter um restritivo, e assim por diante. Tudo que se pode dizer é que é
mais provável que a família experiencie respeito, novidade e transformação
espontânea como resultado de um questionamento circular e reflexivo; e
experiencie crítica e coerção como resultado de um questionamento linear e
estratégico. Se os membros da família começam a se sentir criticados ou
manipulados, a sessão se torna tensa ou “congelada”. Isto pode ser uma dica
para que o terapeuta mude o tipo de perguntas para aquelas mais neutras.
Por outro lado, se a família fica muito confortável e complacente no processo
terapêutico, talvez algumas perguntas estratégicas bem colocadas possam
estimula-los a considerar novas direções. O que está sendo proposto aqui é
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que o uso destas distinções possa ajudar o terapeuta a escolher o tipo de
pergunta que torne a entrevista numa conversa de cura.
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