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1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 4
12 BIBLIOGRAFIA ........................................................................................... 52
1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao
da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno
se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta ,
para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse
aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No
espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser
direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe
convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida
e prazos definidos para as atividades.
Bons estudos!
2 CONSTRUCIONISMO SOCIAL
Fonte: ampacabrerapinto.blogspot.com
A tentativa de definir o que vem a ser o construcionismo social tal como presente
na literatura em Psicologia é uma tarefa difícil, seja pelas questões envolvidas, seja pela
crescente produção que tem ocorrido. É possível tentar iniciar esta tarefa afirmando que
não há uma definição única, amplamente, aceita, do que vem a ser o construcionismo
social. Alguns definem o construcionismo como um movimento (Gergen, 1985, 1997),
outros afirmam que os autores considerados construcionistas têm entre si apenas uma
‘semelhança familiar’ (Burr, 1995), e outros ainda afirmam não existir uma psicologia
construcionista social (Potter apud Nightingale & Cromby, 1999).
O surgimento do construcionismo na Psicologia é, segundo alguns autores (Burr,
1995), datado de 1973, com a publicação do artigo de Kenneth Gergen “Social
psychology as history” (Gergen, 1973).
Contudo, este mesmo autor questiona a possibilidade de circunscrever desta
forma o surgimento do construcionismo. Segundo ele, a história do construcionismo
social está inserida no contexto do desenvolvimento da ciência, pautada por três críticas
ao fazer científico que contribuíram para a construção de uma concepção alternativa ao
pressuposto do conhecimento como posse do indivíduo: a crítica social, a ideológica e a
retórico-literária. A crítica social emergiu de autores tais como Marx, Weber, Scheler e
Karl Mannheim, os quais estavam preocupados com a gênese social do pensamento
científico, ou seja, de como o conhecimento é cultural e historicamente situado.
De particular importância para o construcionismo foram os estudos dos processos
micro-sociais presentes na produção científica, seja na construção do fato científico, nas
práticas discursivas de autolegitimação, ou na influência do grupo na forma como os
dados são interpretados Já a crítica ideológica possui uma forte identificação com ‘teoria
crítica’ da Escola de Frankfurt - Horkheimer, Adorno, Marcuse, Benjamim e outros.
Esta crítica, para além de sua orientação marxista original, está presente
atualmente em diversos setores das ciências humanas. Ela busca explicitar os vieses
presentes na construção de determinadas teorias, decorrentes de seu compromisso com
grupos sociais específicos. Dessa forma, a teoria crítica rejeita a ideia de neutralidade na
ciência e sua possibilidade de descrição objetiva e acurada do mundo.
A crítica retórico-literária, por sua vez, busca mostrar como as descrições e
explicações científicas são determinadas pelas regras de apresentação literária, as quais
absorvem o objeto de tais descrições, fazendo-o perder seus status ontológico, sua
independência do processo descritivo.
Em paralelo aos estudos literários, a investigação retórica aponta as formas pelas
quais tais descrições ganham seu poder persuasivo, através do uso de determinadas
metáforas, e formas específicas de apresentação da relação autor/leitor e do objeto
descrito. Ela desloca a investigação do objeto para os meios de sua apresentação. A
partir desta crítica, o texto científico fica então aberto para análise de suas metáforas, as
quais não são derivadas da observação, mas “servem como estruturas retóricas através
das quais o mundo observacional é construído” (Gergen, 1997, p. 41).
Assim, estas três críticas redimensionam as teorias científicas, explicitando seu
caráter comprometido, sua determinação histórico-cultural e enfraquecendo uma visão
da ciência como uma descrição objetiva e acurada da realidade, na qual a linguagem é
sustentadora da verdade.
É no bojo do pensamento pautado por estas críticas que emerge o
construcionismo. Para Gergen (1997), buscar uma história da gênese do construcionismo
é remontar à história de cada um destes empreendimento.
O construcionismo social fundamenta-se, dentre outras, por uma noção
sociocultural da mente, muito similar ao que foi proposto pelo pesquisador russo Lev
Vygotsky (1896-1934), para quem o funcionamento mental tem origem nos processos
sociais, ou seja, nas relações que se estabelecem entre as pessoas, e não nas mentes
individuais.
Em outras palavras, o construcionismo social postula que os processos
psicológicos de um paciente são sociais, e somente podem ser compreendidos se forem
contextualizados e entendidos à luz da comunidade e das relações em que o paciente
está inserido. Por exemplo, o significado que uma pessoa dá a uma experiência por que
passou não se origina dentro dela.
É, pelo contrário, resultante da interação social que acontece entre ela e outra pessoa.
Sendo assim, a prática clínica da terapia de base construcionista social privilegia buscar
o processo de construção de um significado não nos funcionamentos psicológicos
intrínsecos de um paciente, mas sim na relação que se constrói entre o paciente e seu
mundo relacional.
Enquanto grande parte dos modelos tradicionais de práticas psicoterapêuticas
diria que o problema é resultante de conflitos internos ou intrapsíquicos inerentes ao
paciente, tendo sua origem no próprio indivíduo, essa proposta privilegia o olhar sobre as
relações e práticas discursivas que se dão em todo o contexto do paciente.
A psicoterapia se configura como um espaço aberto para uma conversa, um diálogo, um
convite à reflexão sobre os padrões que se estabelecem na vida do paciente, sobre os
sentidos que ele dá às crises que enfrenta, ao mundo em que vive e às relações que se
estabelecem entre ele e os outros.
O construtivismo concentrou-se em como os indivíduos criavam sua própria
realidade, mas a terapia familiar sempre enfatizou o poder da interação. Como resultado,
outra psicologia pós-moderna, chamada construcionismo social, agora influencia muitos
terapeutas familiares (p. 287).
3 TERAPIA FAMILIAR
Fonte: arapsicologia.com
Fonte: noticias.infocif.es
Fonte: estrelladigital.es
O terapeuta sistêmico e sua família de origem
O terapeuta sistêmico se depara com a necessidade de examinar sua relação com
a família de origem já nos primeiros anos de formação. Em geral ele fica estancado
quando um caso evoca seus problemas familiares. Quando isto acontece, o terapeuta
pode apresentar uma série de indicadores de que fatores pessoais estão interferindo na
sua capacidade de conduzir a sessão, tais como: enrijecimento, fechamento, mudança
brusca de postura ou de tema, foco e intensidade inapropriados, dispersão, irritação,
cansaço, sono.
Todos os terapeutas, em certo nível, veem a si mesmos na vida de seus clientes,
sendo fundamental a consciência de como os valores subjetivos do terapeuta influem no
processo terapêutico, e como suas questões pessoais e familiares se entrelaçam com os
problemas e a realidade dos clientes. Problemas inerentes à terapia serão sem dúvida
perturbadores e penosos para os clínicos, quando tocam em problemas da vida do
terapeuta, como o abandono de um pai, uma luta moral difícil, um trauma emocional
escondido.
A terapia sistêmica baseia-se num processo integrado da pessoa do terapeuta e
de suas habilidades técnicas. No trabalho clínico o terapeuta tem em sua pessoa o mais
rico instrumento de trabalho. É útil ao terapeuta voltar-se para seu genograma,
examinando como seus modelos relacionais e o lugar que ocupou em sua família de
origem interferem no posicionamento frente a cada família e a cada cliente que atende.
Murray Bowen organizou sua Teoria Intergeracional dando destaque ao tema da
família de origem do terapeuta. Em 1967, em congresso realizado na Filadélfia,
apresentou um trabalho a respeito da própria família de origem, surpreendendo a
comunidade científica presente. Ele verificou que os terapeutas que tinham mais êxito na
clínica eram os que mais haviam trabalhado as próprias famílias, pois estavam mais
diferenciados das histórias das famílias dos clientes.
Questionando a ideia de “saúde mental perfeita” e reconhecendo como a própria
vida do terapeuta afeta e é afetada pela terapia que está conduzindo, com respeito aos
seus problemas não resolvidos, transformou a debilidade do terapeuta em um
instrumento útil para a condução da terapia.
O terapeuta sistêmico, quando trabalha sua família de origem, passa a reconhecer
com mais clareza e prontidão a ressonância provocada nele pela interação com as
famílias que atende. Seu “eu pessoal” torna-se uma ferramenta para seu “eu terapêutico”.
O que o seu “eu pessoal” registra e vivencia na terapia informa seu “eu terapêutico”
sobre as experiências que o cliente vive na família dele. Assim, o terapeuta pode
reconhecer, por exemplo, através de seus sentimentos de opressão e tensão, os
sentimentos de opressão e tensão que o paciente identificado sofre. Pode avançar e
utilizar está vivência terapeuticamente, porque seu self está diferenciado do self do
cliente, exatamente pela clareza e resolução que obteve a partir do trabalho com sua
família de origem. Assim, seu trabalho clínico se enriquece, e ele enriquece a si mesmo
e às famílias que atende. Neste sentido, podemos concordar com Whitaker, sobre a
possibilidade do terapeuta crescer junto com a família.
Fonte: joblinks.etsb.qc.ca
Fonte: amenteemaravilhosa.com.br
Fonte: albertville.ufcquechoisir.fr
Fonte: terenceherron.com
Situar uma definição única do construcionismo social não tem sido objeto de
consenso dentre os autores construcionistas. A própria origem do movimento não possui
contornos precisos, e alguns autores indicam que a publicação, em 1985, do artigo: O
movimento do construcionismo social na psicologia moderna, de Kenneth Gergen, marca
a entrada do movimento na Psicologia.
O movimento construcionista social em ciência, também denominado por Gergen
(1985) como um “corpo de conhecimentos”, um “movimento contemporâneo” ou, ainda,
uma “consciência compartilhada”, é definido pelo autor como uma perspectiva
preocupada em compreender os processos pelos quais as pessoas descrevem, explicam
ou, de alguma forma, dão conta do mundo em que vivem (incluindo a si mesmas).
Busca articular formas compartilhadas de entendimento tal como existem
atualmente, como existiram em períodos históricos anteriores, e como poderão vir a
existir se a atenção criativa se dirigir neste sentido.
Assim, é uma perspectiva sensível à temporalidade – como os discursos foram
produzidos, como eles estão presentes nos intercâmbios sociais atualmente, e como
podem ser problematizados e modificados a partir da análise crítica e reflexiva de suas
implicações.
Constitui-se também em uma concepção crítica ao status quo, pois que, nas
palavras do autor, o construcionismo social “atua como uma espécie de crítica social”
(Gergen, 1985, p. 301) ao colocar em dúvida as concepções do mundo dadas como
certas.
A ciência tradicional considera que os sujeitos podem produzir conhecimentos de
forma neutra, ou seja, sem que haja influência de suas crenças
e valores na sua visão do objeto. Na perspectiva da construção social, não há
possibilidade de neutralidade na construção do conhecimento, visto que tanto sujeito
quanto objeto são socialmente construídos. Então, o que tomamos como sendo a
realidade emerge a partir de uma inserção em contextos sociais e normativos que
circunscrevem nossa produção de sentidos sobre o mundo.
Estrutura a proposta construcionista segundo os autores, diz respeito à noção de
verdade. Enquanto na ciência tradicional parte-se do pressuposto de que a verdade pode
ser atingida através da aplicação correta e rigorosa dos métodos de investigação e
observação, o pressuposto desta perspectiva aponta a impossibilidade de se chegar a
uma verdade única e imutável.
O que consideramos como “verdade” está sempre circunscrito ao sujeito que fala,
o tempo histórico que está inserido e as condições de produção deste discurso em outras
palavras, está atrelado a quem fala, quando fala, onde fala, e para quem este discurso é
dirigido.
Assim, a proposta do movimento construcionista social nos domínios da
epistemologia diferem-se daquela da ciência tradicional.
As afirmações do construcionismo acerca do que podemos conhecer são
respondidas a partir das relações que as pessoas estabelecem entre si em seus
intercâmbios cotidianos. O conhecimento é construído nas relações entre pessoas
através de práticas discursivas.
Assim, essas possibilidades de construção estão circunscritas pelas convenções
compartilhadas nas comunidades discursivas às quais pertencemos, não sendo,
portanto, determinadas por condições objetivas ou subjetivas (McNamee, 2010).
Fonte: gumuskoza.com.tr
Fonte: ubisafe.org
Fonte: radiobuap.com
8.2 O processo
Sentimentos e emoções têm lugar na mediação, mas não constituem foco maior,
mesmo sendo identificadas, esclarecidas e consideradas. Certos clientes trazem estas
emoções, ao passo que outros procuram não se expor muito.
O mediador vai lidar com tais variações de maneira cautelosa para que o objetivo
do processo não sofra alteração. Alguns mediadores alertam as partes para a
possibilidade de surgimento de sentimentos fortes durante o processo. Deve-se levar em
conta o fato de a família ter escolhido a mediação em lugar da terapia, o que já pode
servir de parâmetro a respeito de sua disponibilidade para aprofundar estes temas.
Um mediador – por não explorar muito as manifestações emocionais,
identificando-as e dispondo-as com o objetivo de dar continuidade ao processo – pode
optar por não identificar sentimentos que considere dispensável, enquanto que em
terapia a manifestação dos mesmos sentimentos poderia ser trabalhada.
Metas primárias/ mediação: resolução do conflito e/ou mudança nas
relações
Negociação de termas específicos
Possibilidade de acordo
Processo/mediação: tempo, começo e participação
Limitado/breve
Acordo para mediar
Todas as partes envolvidas no conflito (membros da família)
Orientação no tempo – presente/futuro
Natureza – social/semilegal
Temas – mais objetivos
Papel do terceiro: conduta mais ativa para as metas primarias
Expressão emocional: reconhecidas e assinaladas
Terapia: mudança pessoal e relacional
Temas trabalhados são menos focalizados
Tempo não limitado
Sessões para avaliação
Pode iniciar com a parte dos membros da família
Passado/presente/futuro
Psicológica/social
Mais subjetivos
Co-construção do processo
Exploradas, ampliadas e trabalhadas
Fonte: minutopsicologia.com.br
10 CONCEITUAÇÃO DE CONFLITOS
O Enfoque Sistêmico:
Os Estados Unidos, que estão agora na terceira geração de terapeutas familiares,
reclamam para si o pensamento sistêmico no trabalho clínico com famílias.
A partir da teoria geral dos sistemas e da teoria da comunicação surgiram várias
escolas de terapia familiar e vários institutos e centros de atendimento e de formação
foram criados.
Para os teóricos da comunicação, qualquer comportamento verbal ou não verbal,
manifestado por uma pessoa - o emissor -em presença de outra - o receptor - é
comunicação. Ao mesmo tempo que a comunicação transmite uma informação, ela
define a natureza da relação entre os comunicantes.
Estas duas operações constituem, respectivamente, os níveis de relato (digital) e
de ordem (analógico) presentes em qualquer comunicação. Quando estes dois níveis se
contradizem, temos o paradoxo. A comunicação paradoxal está na origem da patologia
familiar.
A família é vista como um sistema equilibrado e o que mantém este equilíbrio são
as regras do funcionamento familiar. Quando, por algum motivo, estas regras são
quebradas, entram em ação meta-regras para restabelecer o equilíbrio perdido.
A terapia desenvolvida a partir deste enfoque enfatiza a mudança no sistema
familiar, sobretudo pela reorganização da comunicação entre os membros da família. O
passado é abandonado como questão central, pois o foco de atenção é o modo
comunicacional no momento atual. A unidade terapêutica se desloca de duas pessoas
para três ou mais à medida em que a família é concebida como tendo uma organização
e uma estrutura. É dada uma ênfase a analogias de uma parte do sistema com relação a
outras partes, de modo que a comunicação analógica é mais enfatizada que a digital.
Os terapeutas sistêmicos se abstêm de fazer interpretações na medida em que
assumem que novas experiências - no sentido de um novo comportamento que provoque
modificações no sistema familiar - é que geram mudanças. Neste sentido são usadas
prescrições nas sessões terapêuticas para mudar padrões de comunicação, e
prescrições, fora das sessões, com a preocupação de encorajar uma gama mais ampla
de comportamentos comunicacionais no grupo familiar.
Há uma certa concentração no problema presente, mas este não é considerado
apenas como um sintoma. O comportamento sintomático é visto como uma resposta
necessária e apropriada ao comportamento comunicativo que o provocou.
A partir do enfoque sistêmico, várias escolas de terapia familiar se desenvolveram,
entre elas a Escola Estrutural, a Estratégia, a de Milão e, mais recentemente, a Escora
Construtivista.
Fonte: philosophadam.wordpress.com
A terapia familiar sistémica assenta numa teoria comportamental da comunicação
e numa estratégia pragmática.
Esta abordagem privilegia a observação, no seio da família, das condutas
interativas e das trocas comportamentais manifestas das quais se tende a denunciar os
efeitos patogénicos. A terapia sistémica possui as suas próprias técnicas (contra
paradoxo, conotação positiva, desqualificação, redefinição, reenquadramento e
provocação) para clarificar a comunicação perturbada no sistema familiar (Doron &
Poirot, 2001).
Entre os principais conceitos, encontram-se: a noção de família e a ideia de
mudança:
A noção de família: é o conceito-chave da terapia familiar. Andolfi (1995) considera
a família como um sistema de interação que supera e articula dentro dela os vários
componentes individuais e, deste modo, a exploração das relações interpessoais e das
normas que regulam a sua vida como grupo. Esta exploração das relações e das normas
são necessárias para a compreensão do comportamento dos membros que a formam,
bem como para a formulação de intervenções eficazes.
Então, a família pode ser considerada como um sistema aberto, social e auto
organizado constituído por várias unidades ligadas no conjunto, por regras de
comportamento e por funções dinâmicas em constante interação e com trocas com o
exterior. A família é um sistema entre sistemas, essencial à exploração das relações
interpessoais e das normas que regulam a vida dos grupos significativos a que o indivíduo
pertence para que seja possível compreender o comportamento dos membros e
formulação de interações eficazes. (Andolfi, 1995)
A família é como um sistema ativo regulado: por regras desenvolvidas e
modificáveis no tempo através de tentativas e erros que irão permitir aos vários membros
experimentar o que é permitido na relação e aquilo que não é. Por outras palavras, a
formação de uma unidade sistémica é apoiada em modalidades relacionais peculiares ao
próprio sistema e susceptíveis de novas formulações e adaptações no tempo.
A família não é um ser passivo, mas sim um sistema intrinsecamente ativo, em
que cada mudança no seu interior (intrasistémica: nascimento dos filhos, separação, luto,
divórcio), ou no seu exterior (Inter sistêmica: mudanças de trabalho ou contexto, de
valores) irá repercutir-se no sistema de funcionamento familiar, exigindo um processo
constante de adaptação (Andolfi, 1995)
Também é um sistema aberto em interação com outros sistemas (escola,
emprego, bairro): as relações intrafamiliares mantêm uma relação dialética com as
relações sociais: irão condicioná-las ao mesmo tempo que será condicionada pelas
normas e valores da sociedade onde se encontra, procurando estabelecer um equilíbrio
dinâmico. Levi- Strauss refere que tal relação “não é estática como a parede e os tijolos
que a compõem. É antes um processo dinâmico de tensão e oposição com um ponto de
equilíbrio extremamente difícil de encontrar, porque a sua localização exata é submetida
a infinitas variações que dependem do tempo e da sociedade. ” (Levi Strauss, 1967).
A concessão de família até aqui apresentada respeita a atual noção de sistema
entendido como um conjunto ativo, estruturado, que se define em função das diferenças
que apresenta na relação com os contextos em que vive e nas finalidades que constituem
a sua razão de existir. Relação e organização são as palavras-chave deste conceito,
correspondendo, respectivamente, às capacidades interativas (circularidade,
retroatividade) e auto - organizativa dos sistemas (Relvas, 2000).
A terapia familiar mostrou que a família deve ser entendida na sua globalidade, ou
seja, como sistema que cria através de relações e interações algo único e não
sobreponível à soma das pessoas que a compõem. Por outras palavras, permitiu
descobrir como os indivíduos, as suas famílias e o seu sofrimento não podem ser isolados
ou desligados dos contextos de vida em que participam, quer eles sejam privados ou
mais sociais e comunitários. Não se deve ignorar que tudo isto deve ser relacionado com
o presente, ao mesmo tempo que não pode ser dissociado da sua própria história
individual e familiar (Relvas, 2002).
A família é um sistema em constante transformação: e que se adapta às diferentes
exigências das diversas fases do seu ciclo de desenvolvimento, assim como às
mudanças e solicitações sociais com o fim de assegurar a continuidade e o crescimento
psicossocial dos seus membros. Esta continuidade e crescimento desenvolvem-se
através de um equilíbrio dinâmico entre duas funções: a tendência homeostática e a
capacidade de transformação, isto é, circuitos retroativos agem através de um
mecanismo de feedback em direção à manutenção da homeostasia (retroação negativa)
ou em direção à mudança (retroação positiva). (Andolfi, 1995)
Esta ideia da família como um sistema em constante transformação remete para
a ideia de mudança, ou seja, cada família vai-se transformando ao longo do seu tempo
de vida em três aspetos fundamentais: estrutural, interacional e funcional. Cada família
nuclear percorre um ciclo vital, marcado por etapas desenvolvimentais, caracterizado
pela prossecução de objetivos específicos que concorrem para a obtenção de um único
objetivo: a sobrevivência do sistema familiar.
A mudança é um conceito fundamental para se perceber a família numa
perspectiva sistémica, aparecendo associada ao fator tempo processual e familiar, no
qual os diversos momentos estruturais da família se vão articulando progressivamente.
Não se trata de uma mudança oposta à não mudança, já que a estabilidade não significa
uma paragem na evolução da vida do sistema familiar, dado que estabilidade e mudança
são duas faces da mesma moeda: uma família encontra-se em mudança permanente
(Relvas, 2000).
Assim sendo, os momentos de mudança correspondem às chamadas crises,
definidas por Minuchin (1974) como uma ocasião de evolução e risco de patologia. As
crises, embora impliquem stress, não se relacionam com o carácter agradável ou
desagradável, nem com a carga afetiva negativa de determinada situação ou etapa da
vida familiar.
As crises podem relacionar-se com as exigências de mudanças internas ou
externas, com as tarefas normativas do evoluir familiar (etapas do ciclo vital) ou com
situações e fontes de stress acidentais que, de algum modo, intersectam ou colidem com
o caminho da família ao longo do seu ciclo de vida (Relvas, 2000).
Em suma, terapia familiar teve o mérito de fornecer todo um conjunto de técnicas
específicas de intervenção que, acopladas à entrevista familiar conjunta baseada na
circularidade, se constituiu como um meio para a atualização de estratégias que se
propõem a perseguir os objetivos terapêuticos definidos pelo conjunto de clientes e
terapeuta.
11.1 A escolha da intervenção sistêmica: a consulta psicológica da terapia familiar
Fonte: julianaorrico.com.br
Fonte: monganews.blogspot.com
Descrever e explicar a estrutura familiar, a sua dinâmica, processo e
mudança;
Descrever as estruturas interpessoais e as dinâmicas emocionais dentro da
família;
Ter em conta a família como ligação entre o individual e a cultura;
Descrever o processo de individuação e a diferenciação dos membros da
família;
Prever a saúde e a patologia dentro da família, isto é, ter um conjunto de
hipóteses acerca do funcionamento familiar e das causas da disfunção;
Prescrever estratégias terapêuticas para lidar com a disfunção familiar. (Cit.
em Gameiro, 1992)
Então, o processo terapêutico pode ser definido como a psicoterapia de um
sistema social natural, a família, utilizando como técnica base a entrevista interpessoal
conjunta (cit. Relvas, 2000: 29). A família e o terapeuta passam a formar o sistema
terapêutico, numa acoplagem em que cada qual mantém intacta a sua organização e
autonomia.
Desta forma, a psicoterapia vai-se desenrolando através da realização de diversas
entrevistas com os elementos da família, pontuados pelo terapeuta como importantes no
contexto em que surge o sintoma. O terapeuta pode trabalhar diretamente com um só
indivíduo, com um ou mais subsistemas.
O ritmo e periodicidade das entrevistas variam conforme o terapeuta, podem ser
mais ou menos espaçadas, regulares ou não. Ao longo de todo este processo, vão-se
utilizando técnicas próprias de cada modelo, aplicadas de forma pessoal por cada
terapeuta, tendo como objetivo último a mudança da estrutura da família, ou seja, a
mudança da forma como mantém a sua organização. (Relvas, 2000).
Terapeuta exerce um papel ativo, mas que não procura impor à família uma
realidade que é dele. Rigorosamente, deve-se falar em terapia com a família e nunca de
uma terapia da família. (Relvas, 2000). Assim sendo, a atitude do terapeuta não é a de
tentar explicar um indivíduo, observado isoladamente, sobre o qual realizará inferências,
mas sim de um participante num processo ativo que parte das observações das
interações entre os membros da família e entre está com os outros sistemas que com ela
interagem. (Andolfi, 1995).
É este terapeuta, como agente de mudança, que favorece a amplificação das
flutuações do sistema, de modo a que este, através da reestruturação, evolua para um
novo nível de estabilidade: mais diretivo, provocador e consultor (Relvas, 2000). O
terapeuta deve observar o indivíduo no seu contexto de interação (família, escola, bairro),
nos quais o seu comportamento “diferente” pode assumir um outro significado.
O terapeuta prescinde da necessidade de reconstruir uma história e uma evolução
clínica com fins amnésicos, preferindo começar do zero, analisando as relações no aqui
e no agora entre o indivíduo e o sistema interativo num único ato de observação. Assim,
a família passa a ser considerada um sistema interativo, não como uma soma de uma
série de comportamentos individuais desligados entre si. (Andolfi, 1995).
O terapeuta não deve ignorar o facto de a vinda da família à consulta como grupo
poder ser ligeiramente embaraçante, em que qualquer um dos familiares pode estar ali
contra a sua vontade. A verdade é que aquele que é apresentado como “perturbado” é o
que se sente mais melindrado com esta situação, já que sabe que é a razão da vinda à
consulta. Andolfi (1995) refere que cabe ao terapeuta criar um contexto terapêutico
tranquilizante e colaborante, evitando pôr-se no papel de juiz que deve emitir um
veredicto, ou no papel de um aliado ou defensor de quem parece débil.
A grande maioria dos familiares é enviada para a terapia já com um diagnóstico
formulado, daí que seja condicionados, no desespero de tal ocorrência, a raciocinar
segundo a lógica da delegação absoluta para o técnico, ou seja, consideram que cabe
ao terapeuta modificar o que não funciona no doente ou fornecer algumas indicações
para saírem do problema, não esperando um pedido de participação na promoção da
resolução do problema.
Ao contrário do que a maioria das famílias pensa, a solução do problema não está
nas indicações do médico ou na intervenção farmacológica, mas sim na análise sistémica
dos problemas reais da família e na ativação de todas as valências positivas e auto -
terapêuticas que cada núcleo social possui no seu interior. Será o sistema familiar a tomar
a seu cargo a gestão dos problemas de interação pouco a pouco evidenciados,
funcionando como o eixo do processo terapêutico (Andolfi, 1995).
O papel deste terapeuta relacional será, numa primeira fase, ser o consultor dos
problemas que da família e depois o supervisor dos esforços desenvolvidos por ela no
decorrer da terapia. Para que tal seja possível concretizar há que começar a fazer parte
do sistema familiar, com a sua bagagem técnica de experiência, personalidade, sentido
de humor e capacidade de sentir as emoções dos outros, renunciando à ideia de mágico,
de alguém de “ferro”.
Deve ser capaz de avaliar se a intervenção é correta, negando a terapia quando o
problema é resultante de contradições sociais, mascarado por um sintoma psiquiátrico
ou no caso da família se mostrar constrangida em aceitar uma intervenção imposta por
outrem (escola ou instituição) (Andolfi, 1995).
Assim, o problema daquele que levou ao pedido será considerado, mas o
terapeuta também se interessará pelo problema em termos interacionais, ou seja, saber
como, quando, onde, com quem é porquê do comportamento, ao mesmo tempo que
explora os efeitos desse nos outros membros da família e até fora desta (professores,
vizinhança, parentes, etc.), bem como ver como os comportamentos destes últimos se
repercutem no comportamento da pessoa apresentada como o portador do problema, ou
seja, levar em conta o contexto geral em que estas interações têm lugar (Andolfi, 1995).
a função do terapeuta é, ainda, a de compreender o problema em termos e
interação através do contributo de todos os membros da família, traçando na sua mente
um mapa da estrutura familiar com base nas interações mais significativas intra e
extrafamiliares, ou seja, pode-se pedir a todos os membros da família que definam
objetivos que conduzam a uma mudança estável e à solução do problema aqui o
terapeuta deve realizar um mapa do tempo decorrido desta família, isto é, realizar o mapa
vital, no qual será realizado uma descrição dos obstáculos com que se podem deparar
na resolução do problema e para passar com êxito para a próxima etapa (Sidelski, D.,
2000).
Desta forma, a terapia deixa de ter o seu quê de mistério, passando a revelar um
compromisso de colaboração entre todos (família e terapeuta), em que o terapeuta
apresenta um papel privilegiado: o de ativador e mediador da família. Este pressuposto
aplica-se quer ao contexto familiar, quer ao extrafamiliar, para o qual pode ser necessário
propor soluções e ativar comportamentos. (Andolfi, 1995)
Fonte: portalfloresnoar.com
Por fim, não devemos esquecer o setting: os meios técnicos audiovisuais, como o
espelho unidirecional ou o equipamento de vídeo, que se convertem num importante
instrumento terapêutico ou de suporte de trabalho. Além de sustentarem algumas
técnicas particulares, como reforço da delimitação de subsistemas ou playback, são
ainda utilizadas formalmente no processo terapêutico, quer como auxiliares dos
terapeutas para uma posterior reflexão e estudo do caso, quer como meio de
funcionamento da equipa terapêutica (Relvas, 2000).
A instalação e utilização deste equipamento implica sempre uma organização
adequada do espaço físico: o espaço terapêutico deve ser dividido em duas salas
contíguas (de entrevista e observação), separadas pelo espelho unidirecional e com
comunicação através de um sistema de som. No mobiliário da sala de entrevista não
devem ser esquecidos os brinquedos e jogos para crianças. Aqui, é de salientar que este
setting terapêutico deve ser de imediato apresentado à família, explicando quais as
razões da sua disposição e composição, nunca esquecendo de solicitar à família a
autorização para utilizar o material (sobretudo o de gravação) (Relvas, 2000).
Quanto às implicações terapêuticas da terapia familiar encontramos: razões que
legitimam fazer psicoterapia com a família enquanto totalidade, em que o comportamento
sintomático é entendido como uma mensagem e um comportamento interacional
adequado ao contexto em que se manifesta.
Por exemplo, quando na intervenção se assume que o que está em jogo é o aspeto
relacional, é precisamente sobre a relação que se vai intervir através da implementação
da mudança dos processos comunicacionais nela implicados. Desta forma entende-se
que a terapia da família não tem de ser obrigatoriamente feita com toda a família, pelo
que se justifica que se possa falar de uma intervenção sistémica junto do indivíduo, do
casal, da instituição, etc. (Relvas, 2000)
A própria conceção de mudança acarreta implicações importantes para o processo
terapêutico, bem como para o próprio papel do terapeuta. Por outras palavras, faz com
que a noção de cura adotada pelos modelos causalistas lineares seja substituída pela de
mudança, ou seja, o objetivo não é o retrocesso a um estádio anterior de funcionamento
onde o comportamento problemático era inexistente, mas sim uma evolução para um
novo estádio. Esta evolução para um novo estádio permite uma resolução adequada e
eficaz da situação problemática ou de crise e, obviamente, de novas possibilidades de
evolução (Relvas, 2000).
Tal como Bateson formulou, a terapia é considerada um processo descritivo de
deutero - aprendizagem, ou seja, o organismo “aprende a aprender”, percebe e assimila
um contexto de interações, o que lhe permite ultrapassar o nível de acolhimento puro e
simples de uma informação, acolhendo novos modos relacionais e novos contextos
interacionais por um processo de ensaios e erros, permitindo-lhe corrigir os seus
fracassos.
O objetivo da terapia não é apenas mudar, mas fundamentalmente aprender a
mudar: a mudança é condição dessa aprendizagem, pois é necessário que o sistema
mude para aprender a mudar. O próprio terapeuta faz parte deste processo, no qual ele
próprio se transforma, isto é, incluído no sistema terapêutico, utiliza-se a si próprio não
como um regulador homeostático, mas como um agente ativador da mudança. Cada
terapeuta terá uma representação particular do modo como o fará (Relvas, 2000).
Assim, uma abordagem interativa sistémica requer uma formação séria e
aprofundada, aproximando-se da família e desta forma poderá revelar conflitos que não
pareciam tão evidentes aos olhos desta, ao mesmo tempo que liberta o doente
identificado da sua condição de bode expiatório. Por outras palavras, para aprender uma
abordagem sistémica, o terapeuta em treino deve trabalhar não só com a família, mas
também em contato direto com a comunidade, em que o conhecimento teórico dos
processos interacionais tem de ser implementado pela experiência em campo, ou seja, a
dissolução duma divisão rígida tradicional dos papéis profissionais, ensinando o
terapeuta a lidar com novas responsabilidades, requerendo uma competência genuína e
efetiva (Andolfi, 1995).
Fonte: prezi.com
12 BIBLIOGRAFIA
BUENO, R. K.; Leal, C. F. R.; Souza, S. A. de. (2012). Mediação na Defensoria Pública:
Um relato de experiência. Revista Pensando Famílias, 16(1), 249-258.
Nichols, M. P., & Schwartz, R. C. (2007). Terapia familiar. Conceitos e métodos (7a
ed.) (M. A. V. Veronese, Trad.). Porto Alegre: Artes Médicas (Trabalho original dessa
edição publicado em 2006) Penso, M. A., & Costa, L. F. (2008). A transmissão geracional
em diferentes contextos. Da pesquisa à intervenção. São Paulo: Summus.