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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Mariana Prioli Cordeiro

Psicologia Social no Brasil:


multiplicidade, performatividade e controvérsias

DOUTORADO EM PSICOLOGIA SOCIAL

São Paulo
2012
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP

Mariana Prioli Cordeiro

Psicologia Social no Brasil:


multiplicidade, performatividade e controvérsias

DOUTORADO EM PSICOLOGIA SOCIAL

Tese apresentada à Banca Examinadora da


Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
como exigência parcial para obtenção do título
de Doutor em Psicologia Social, sob a
orientação da Professora Doutora Mary Jane P.
Spink.

São Paulo
2012
Banca Examinadora

____________________________________

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____________________________________

____________________________________
Aos meus avós, Leonina e Jair
Prioli, que apesar de terem partido
no período de conclusão deste
trabalho, permanecerão sempre
presentes.
AGRADECIMENTOS

Ao Felipe, meu companheiro de pesquisa e de vida, por ter lido e relido inúmeras vezes este
trabalho. Por ter levantado tantas questões (im)pertinentes. Por me fazer refletir. Por me fazer
persistir;

À minha orientadora, Profª. Drª. Mary Jane P. Spink, por ter me acolhido e me apoiado
durante todo o período de realização desta pesquisa. Por ter me feito desembrulhar (e tecer)
novas redes;

Aos meus pais, Rejane e Mauricio, pela confiança, carinho e apoio incondicional. Sem vocês
eu (literal e figuradamente) não estaria aqui!

À Profª. Drª. Maria Cristina G. Vicentin, ao Prof. Dr. Francisco Javier Tirado Serrano e ao
Prof. Dr. Lupicinio Íñiguez Rueda, pelas sugestões que fizeram no exame de qualificação. À
Cris, agradeço, também, por ter me acompanhado e me apoiado durante toda minha trajetória
na PUC-SP. Ao Francisco e ao Lupi, sou igualmente grata pela acolhida durante meu estágio
doutoral na Universidade Autônoma de Barcelona.

Aos colegas do Núcleo de Práticas Discursivas da PUC-SP, do Seminário Medicine-Networks


(GESCIT) e do Laicos-Iapse pelo acolhimento, pelas conversas e pelas discussões que, sem
dúvida alguma, ressoarão ainda por muitos e muitos anos;

Aos amigos María e Luiz, por terem nos recebido com tanto carinho em terras catalãs. Moltes
gràcies!

À Marlene, por estar sempre disposta a me ajudar a ultrapassar as barreiras da burocracia;

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, pelo apoio financeiro


para a realização desta pesquisa e do estágio doutoral.
Qualquer história é uma construção mais ou
menos engenhosa de algo que pode ser
feito de modo inteiramente diferente.
(John Law)
RESUMO

A Psicologia Social apresenta inúmeras definições, abordagens teóricas e objetos de estudo.


Nesta tese, embasados em pesquisas da Teoria Ator-Rede, argumentamos que esses não são
diferentes aspectos ou atributos de um mesmo objeto, mas elementos que ajudam a performar
diferentes versões desse objeto. São, portanto, elementos que fazem Psicologias Sociais
diferentes, embora relacionadas entre si. Que fazem uma Psicologia Social múltipla, ou seja,
que é mais do que uma ao mesmo tempo em que é menos do que muitas. Para construir esse
argumento, lemos e relemos livros-texto de Psicologia Social disponíveis em duas bibliotecas
de referência, buscando identificar como eles descrevem as práticas, referenciais teóricos,
objetivos e locais de atuação da disciplina. Após essa leitura, observamos que vários desses
manuais abordam a crise que assolou a Psicologia Social na década de 1970 e decidimos
buscar materiais que nos ajudassem a contar melhor essas histórias. Além disso, decidimos
selecionar duas dissertações de mestrado e duas teses de doutorado defendidas na área, afinal,
esses trabalhos tendem a descrever de forma mais detalhada os procedimentos utilizados. Por
fim, fizemos um levantamento de textos de acadêmicos e documentos de domínio público que
abordam a criação do título de especialista em Psicologia Social. Tratamos todos esses
materiais não apenas como “textos”, mas como materialidades que produzem efeitos, se
conectam, se articulam com outros textos, com outras práticas. Ou seja, os tratamos como
materialidades que produzem certas realidades da Psicologia Social. Buscamos, com isso,
chamar a atenção para a possibilidade de ordenar e de coordenar a realidade de diferentes
modos. De reconhecer que em uma disciplina cabem múltiplos e diversos actantes. De fazer
uma Psicologia Social que busca conexões complexas que articulam humanos a não humanos
e que performam múltiplas realidades.

Palavras-chave: Psicologia Social; Multiplicidade; Teoria Ator-Rede.


ABSTRACT

Social Psychology has many definitions, theories and objects of study. In this dissertation,
based on Actor-Network Theory, we argue that these are not different aspects or attributes of
a single object, but elements that help to perform different versions of this object. They are,
therefore, elements that make Social Psychologies different, although related to each other.
They produce a multiple Social Psychology, which is more than one and, at the same time,
less than many. To build this argument, we read and reread textbooks on Social Psychology
that were available in two reference libraries. After an initial approach to those books, we
observed that many of them talk about the reference crisis that assailed Social Psychology in
the 1970s. Therefore, we decided to look for materials to help us tell these histories better. As
a next step, we selected two master and two doctoral dissertations in the area, since this kind
of work tends to describe the procedures used with more details. Finally, we looked up
academic texts and public domain documents related to the creation of the Specialist Title in
Social Psychology. We treated all those materials not only as “texts”, but as materialities that
produce effects, relate to each other, articulate with other texts, with other practices. That is,
we treated them as materialities that produce certain Social Psychology realities. In doing so,
we strived to call attention to the possibility of ordinating and coordinating reality in different
ways, of recognizing that there are multiple and diverse actants in a discipline and of making
a Social Psychology that searches for complex connections that articulate humans and non-
humans and perform multiple realities.

Key words: Social Psychology; Multiplicity; Actor-Network Theory.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 9

CAPÍTULO 1 - PRESSUPOSTOS ONTOLÓGICOS E EPISTEMOLÓGICOS.......... 21


1.1 O princípio de simetria generalizada............................................................................... 22
1.2 Heterogeneidade material................................................................................................. 24
1.3 Ator-Rede.......................................................................................................................... 26
1.4 Tradução........................................................................................................................... 28
1.5 Mediação........................................................................................................................... 34
1.6 Sociologia das Associações e Sociologia do Social.......................................................... 37

CAPÍTULO 2 - A NOÇÃO DE MULTIPLICIDADE: DEFINIÇÃO E 45


IMPLICAÇÕES....................................................................................................................
2.1 Não perspectivismo........................................................................................................... 47
2.2 Fazer, performar e enact................................................................................................... 49
2.3 Modos de coordenação da multiplicidade: o exemplo da arteriosclerose...................... 55
2.4 Política Ontológica........................................................................................................... 59

CAPÍTULO 3 - A PSICOLOGIA SOCIAL É MAIS DO QUE UMA............................. 69


3. 1 A Psicologia Social na obra de Aroldo Rodrigues e Social na obra de Silvia 70
Lane.........................................................................................................................................
3.2 A Psicologia Social na dissertação de Menegon.............................................................. 85
3.3 A Psicologia Social na tese de Mandelbaum.................................................................... 90
3.4 A Psicologia Social na tese de A. D. Santos..................................................................... 95
3.5 A Psicologia Social na dissertação de Miranda............................................................... 100
3.6 A Psicologia Social no concurso para especialista na área............................................. 103

CAPÍTULO 4 - A PSICOLOGIA SOCIAL É MENOS DO QUE MUITAS................... 109


4.1 Uso de uma definição singularizante................................................................................ 111
4.2 Distribuição....................................................................................................................... 114
4.3 Adição............................................................................................................................... 121
4.4Inclusão.............................................................................................................................. 122

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................... 129

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................ 137

FONTES DAS IMAGENS.................................................................................................... 155

ANEXOS................................................................................................................................ 157
9

INTRODUÇÃO

No Brasil, a Psicologia Social é uma área do conhecimento que apresenta inúmeras


definições, abordagens teóricas e objetos de estudo. Alguns autores a consideram uma subárea
da Psicologia, outros acreditam que ela é a interseção da Psicologia com a Sociologia. Há
ainda aqueles que afirmam que o adjetivo “social” não delimita uma subdivisão temática ou
conceitual, mas enfatiza a importância do compromisso político que todo psicólogo deve ter.
Uns baseiam-se nas leituras do Materialismo Histórico-Dialético para estruturar sua prática
profissional. Outros preferem as leituras construcionistas ou ainda as da Teoria das
Representações Sociais. Há psicólogos(as) sociais cognitivistas, behavioristas, psicanalistas,
comunitários...
O Conselho Federal de Psicologia - CFP (2003, p. 1), por exemplo, define Psicologia
Social como a área da Psicologia que “[...] atua fundamentada na compreensão da dimensão
subjetiva dos fenômenos sociais e coletivos, sob diferentes enfoques teóricos e
metodológicos, com o objetivo de problematizar e propor ações no âmbito social.” Já para
Cornelis van Stralen (2005), pesquisador e docente da área, esta não é uma subdivisão ou uma
especialidade da Psicologia, mas sim o campo no qual se dá sua interseção com a Sociologia.
A associação representativa da área1, por sua vez, sustenta que toda Psicologia é social, uma
vez que parte do pressuposto de que ser Psicologia Social significa assumir o compromisso
ético-sócio-político que todo(a) psicólogo(a) deve ter (ABRAPSO, 2002).
Essa diversidade de objetos, teorias e práticas já foi abordada por muitos
pesquisadores(as), de diferentes maneiras, em distintos momentos históricos. Alguns(as)
apresentaram suas diferenças teóricas e epistemológicas, outros(as) enfocaram as
transformações que elas sofreram no decorrer de sua história, discutiram suas práticas de
formação, ou falaram das redes sociais que as desenvolveram. Arthur Ramos seguiu o
primeiro desses caminhos: no seu livro “Introdução à Psicologia Social” (1936/2003)2, o autor
discorre sobre diferentes teorias e objetos que formam essa disciplina. Para ele,

1
Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO).
2
A primeira edição deste livro foi publicada em 1936, período em que, no Brasil, começavam a ser ministrados
os primeiros cursos e publicadas as primeiras obras de e sobre Psicologia Social – o primeiro curso foi
ministrado por Raul Briquet, em 1933, na Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo e o segundo foi
ministrado dois anos mais tarde, por Arthur Ramos, na Escola de Economia e Direito da extinta Universidade do
Distrito Federal, no Rio de Janeiro, sendo que, deste último curso, resultou seu livro “Introdução à Psicologia
Social” (BOMFIM, 2004). Nesses primeiros anos, “[...] a psicologia social estava inserida nos estudos de direito,
de economia, de educação e de medicina e se beneficiava igualmente de contribuições biológicas, psicanalíticas,
10

a dificuldade de definição da psicologia social reside na imprecisão dos seus


objetivos. Sendo uma disciplina relativamente recente, não há acordo, no
campo de seus cultores, no sentido de delimitar-lhe os objetivos nítidos e a
extensão de suas aplicações. Enquanto que, para uns, a psicologia social se
aproxima da psicologia (McDougall), para outros, o seu objeto de estudo
quase se confunde com o da sociologia (Ellwood, Ross). [...] De um lado, no
pólo da psicologia, tudo o que não pertencesse à psicologia fisiológica seria
psicologia social: o homem é um animal gregário e todas as suas funções
psíquicas só se compreenderiam no jogo das suas reações sociais [...] De
outro lado, todos os fatos sociais, tendo o homem como centro,
reconheceriam uma base psicológica, e toda a sociologia se converteria
numa psicologia social. (RAMOS, 2003, p. 27).

De acordo com Ramos (2003), a Psicologia Social mais “psicológica” – tal como
aquela proposta por McDougall – preocupar-se-ia, sobretudo, em estudar o processo de
moralização dos indivíduos; ao passo que a vertente mais “sociológica” de Ross buscaria
identificar os fenômenos sociais que possibilitam uniformidades de sentimentos, crenças e
volições3. Já para Ellwood, a Psicologia Social seria o estudo dos modos em que grupos e
indivíduos influenciam-se mutuamente, incluindo nesses estudos não somente aspectos
sociais da consciência individual, mas também os aspectos mentais da associação. “A
psicologia social torna-se aqui uma parte da sociologia; será uma „sociologia psicológica‟ [...].
Os problemas da psicologia serão [...] os mesmos da sociologia; a psicologia social estudará
simplesmente o lugar dos fatores psíquicos nesses problemas.” (RAMOS, 2003, p. 28).

comportamentais, sociológicas e antropológicas.” (SÁ, 2007, p. 8). Como era um campo ainda pouco conhecido,
o objetivo de seus difusores era, sobretudo, apresentar uma visão generalista e panorâmica dessa “nova” área do
conhecimento (BOMFIM, 2004).
3
Aqui é importante ressaltarmos que Ramos (2003) faz referência, sobretudo, a autores norte-americanos da
primeira metade do Século XX. No entanto, ele reconhece que a Psicologia Social tem raízes muito anteriores:
ela nasceu “[...] com os filósofos gregos, nas teorias dos sofistas, e mais especialmente na República de Platão e
na Política de Aristóteles. [...] Mas foi na metade do século XVIII até começos do século XIX, que uma plêiade
de economistas políticos, moralistas, juristas e criminólogos começou a conceder uma grande importância ao
fenômeno da interação mental dos homens” (p. 30, grifos do autor). De acordo com ele, participaram desse
processo autores como Bain, Lazarus e Stemthal, Spencer, Darwin e Bagehot, Sighele, Rossi e Le Bon; mas foi o
sociólogo francês Gabriel Tarde “[...] o verdadeiro iniciador da psicologia social, tal como é considerada hoje.
[...] A obra de Tarde influenciou toda uma escola de sociólogos e filósofos norte-americanos, especialmente a
Edward A. Ross e J. Mark Baldwin. Toda uma escola norte-americana de psicologia social concedeu á imitação
e à sugestão um papel preponderante no estudo dos fenômenos psicossociais.” (p. 32, 33). Diversos autores
posteriores a Ramos também consideram que a Psicologia Social moderna é um fenômeno americano. Gordon
Allport (1954, p. 3, 4), por exemplo, apresenta essa disciplina dizendo que “embora as raízes da psicologia social
possam ser encontradas no solo intelectual de toda a tradição ocidental, seu atual florescimento é reconhecido
como sendo um fenômeno caracteristicamente americano”. Já Lindzey (apud FARR, 2000) e Lindzey e Aronson
(apud FARR, 2000) sustentam que a Psicologia Social possui um “longo passado” – que faz parte de uma
tradição de pensamento ocidental, principalmente europeia – e uma “curta história”, que começou quando ela se
tornou uma ciência experimental, sobretudo nos Estados Unidos. De acordo com Robert Farr (2000), essa
distinção está permeada por uma filosofia de ciência específica – o Positivismo. Além disso, ela acarreta em
narrativas bastantes parciais sobre a história da Psicologia Social, uma vez que tende a privilegiar apenas as
formas mais “psicológicas” da disciplina.
11

Segundo Ramos (2003), F. H. Allport defende outra definição de Psicologia Social.


Para ele, esta não é uma subárea da Sociologia, mas sim uma parte da Psicologia do Indivíduo
– ela só não coincide totalmente com esta última pois estuda o comportamento humano
(individual) em relação com a ambiência social. Já Kimball Young sustenta que o principal
objeto de estudo dessa área do conhecimento é a personalidade, ou, mais precisamente, o
desenvolvimento da personalidade em relação à ambiência social.
Além de apresentar algumas definições e objetos de estudos, no seu livro introdutório,
Ramos (2003) faz referência a uma “Psicologia Social Instintivista” e a uma “Psicologia
Social dos Desejos”, a introspeccionistas e a experimentalistas, a behavioristas e a
psicanalistas, a subjetivistas e a objetivistas, a estruturalistas e a personalistas, ao método
explicativo-causal e ao método compreensivo-teleológico. Todas essas correntes teórico-
metodológicas parecem determinar, de uma maneira ou de outra, o que a Psicologia Social é.
Quase sete décadas depois da publicação do manual de Ramos (2003), Rosane Neves
da Silva publicou o livro “a Invenção da Psicologia Social” (2005) 4, no qual utiliza uma
estratégia bastante diferente para apresentar essa disciplina. Nesta obra, a autora não buscou
encontrar uma (ou várias) resposta(s) satisfatória(s) à pergunta “o que é Psicologia Social?”,
mas discutir o problema que engendra tal questão. Partindo da hipótese de que o social é
menos um campo de aplicação da Psicologia moderna do que a condição de possibilidade
para seu surgimento, a autora buscou entender “[...] como este campo de conhecimento se
articula, reforçando a própria dicotomia indivíduo x sociedade e anunciando aquilo que, numa
perspectiva foucaultiana, marca a passagem das sociedades disciplinares para as sociedades
de controle.” (p. 10). A despeito de falar em transformações que ocorrem com o passar do
tempo, o objetivo da autora não era reconstruir a história da Psicologia Social, mas sim

[...] tornar explícito o movimento que anima o desenvolvimento de


diferentes teorizações do campo psi em relação ao social e, ao mesmo
tempo, exprimir uma certa problemática inerente à própria constituição dos
objetos em questão, ou seja, à constituição das massas, da família e do grupo
como objetos de conhecimento. Trata-se principalmente de situar o

4
Este livro é resultado da tese de doutorado da autora, intitulada “Cartografias do Social: estratégias de produção
do conhecimento”, defendida em 2001 na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), sob orientação
da Profa. Dra. Margareth Schäffer. Diferentemente da obra de Ramos (2003), esse trabalho foi realizado em um
momento histórico em que a Psicologia Social já estava bastante difundida e era ensinada em todos os cursos de
graduação em Psicologia do país. De acordo com a autora, muitas coisas já haviam sido ditas sobre essa área do
conhecimento, no entanto, pouca reflexão havia sido proposta acerca do adjetivo “social” que a qualificava. A
fim de tentar suprir essa lacuna, propôs-se a problematizar (e a desnaturalizar) essa noção: ao invés de tomar o
social como um fato natural intrínseco ao modo de existência da vida humana, ela buscou pensá-lo como “[...]
uma multiplicidade necessariamente construída a partir de uma relação de forças num campo historicamente
dado.” (SILVA, 2004, p. 13).
12

surgimento de um determinado discurso da psicologia em relação ao social,


mostrando como ela passa a problematizar a relação indivíduo x sociedade
tomando o próprio indivíduo como matriz para pensar o social. Procuramos
assim entender o modo pelo qual o social é objetivado pela psicologia em
um determinado momento. (SILVA, 2005, p. 10, 11, grifo da autora).

Ainda que não partam da construção discursiva que sugere a priorização da proposta
genealógica de Foucault, diversos(as) autores(as) – como Silvia Lane (2007a)5, Jefferson
Bernardes (2001)6, Ana Bock, Odair Furtado e Maria de Lourdes Teixeira (2003)7 – também
falam das transformações que essa área do conhecimento sofreu no decorrer de sua (curta)
história. No entanto, o foco deles(as) é outro: eles(as) não falam dos diferentes discursos
sobre o social, mas das diferenças epistemológicas, metodológicas e, sobretudo, éticas que
marcaram dois momentos da história da Psicologia Social: um anterior e outro posterior à
crise de referência que assolou essa área do conhecimento nas décadas de 1960 e 1970. Como
veremos no capítulo 3, o primeiro fundamenta-se em princípios positivistas e tem como
principais referências autores norte-americanos. O segundo, por sua vez, critica o
biologicismo e o individualismo da Psicologia e propõe uma ciência comprometida com a
transformação social.
Já Mary Jane e Peter Spink (2007, p. 565)8 nos chamam a atenção para o fato de que
um mesmo momento histórico pode constituir uma arena de diversidade: as observações de
Peter Lunt (2003) “[...] sobre a variedade de „histórias‟ da psicologia social que se organizam
em volta de eixos diferentes servem de alerta para a possibilidade que essas diferentes
„histórias‟ têm, como função principal, o apoio a atualidades também diferentes.” Para falar
das “múltiplas versões de atualidades” (sic.) da Psicologia Social, os autores buscam,

5
O texto citado é um capítulo do livro “Psicologia Social: o homem em movimento”, publicado pela primeira
vez em 1984 com o objetivo de oferecer um “conhecimento alternativo” ao modelo norte-americano de
Psicologia Social, que até então embasava a maioria dos textos disponíveis sobre essa área do conhecimento.
Além de buscar suprir essa lacuna na literatura acadêmica, esta obra visava contribuir com o fortalecimento de
uma Psicologia voltada para os problemas concretos da realidade brasileira, bem como com a formação de
profissionais que atuassem como agentes de transformação social (LANE, 2007a, 2007b).
6
O texto de Bernardes (2001) também discorre sobre a história dessa “nova” Psicologia Social. Ele foi publicado
pela primeira vez em 1998, no livro-texto “Psicologia Social Contemporânea” – livro este pensado e produzido
por membros da ABRAPSO/SUL a fim de apresentar uma síntese “[...] das discussões temáticas que podem
configurar o campo da Psicologia Social Crítica.” (STREY et al., 2001, p. 9).
7
Publicado pela primeira vez em 1988, o texto escrito pelos autores para apresentar a Psicologia Social faz parte
de um livro didático. Dirigido a um público jovem, este livro busca introduzir as diferentes abordagens teóricas,
objetos de estudos e áreas de atuação da Psicologia.
8
Este texto foi publicado pela primeira vez em 2005, em um livro sobre História da Psicologia. Segundo seus
organizadores, esse livro foi pensado para servir de apoio a professores de graduação e busca apresentar uma
visão da História da Psicologia que, diferentemente daquela encontrada na literatura mais conhecida no Brasil,
não se restringe a que ocorreu na Europa e nos Estados Unidos: a esta “[...] se acrescenta, sempre, as
contingências do saber psicológico em terras brasileiras.” (JACÓ-VILELA; FERREIRA; PORTUGAL, 2007, p.
13).
13

inicialmente, entender como diferentes livros de texto recentes definem essa disciplina. Após
ler os índices, introduções e prefácios desses materiais, concluem que

há alguns pontos de intersecção entre essas diferentes “atualidades” que


permitem identificá-las como psicologias sociais; mas há diferenças
significativas. De um lado, encontramos uma psicologia social do biológico,
do intra-individual, do interindividual e do grupo; no meio, uma psicologia
social da subjetividade, da linguagem, das representações sociais, dos grupos
e dos processos políticos; e, de outro lado, uma psicologia social centrada na
interação social, na reprodução, na mudança e nos movimentos coletivos.
(SPINK, M. J.; SPINK, P., 2007, p. 569).

E, então, se perguntam: “se todos eles são textos recentes sobre a psicologia social, por
que são tão diferentes?” Para responder a essa segunda questão, recorrem a livros de texto
“clássicos” – tais como os de Floyd Allport (1924/1994); Henri Tajfel e Colin Fraser (1978);
Ignacio Martín-Baró (1983) e Silvia Lane e Wanderley Codo (1984/2007) – e nos contam
como eram as “atualidades” de ontem.
Em sua dissertação de mestrado, Robson da Cruz (2008)9 também abordou diferentes
Psicologias Sociais a partir de uma perspectiva histórica, mas o fez seguindo outros caminhos.
Seu objetivo era “[...] traçar possíveis relações entre a produção de conhecimento da
disciplina e as questões sociológicas que envolvem o desenvolvimento de uma comunidade
científica.” (p.15). Para isso, analisou os artigos publicados em um dos principais periódicos
brasileiros da área – a revista “Psicologia & Sociedade” – no período de 1986 a 2007. As
questões que nortearam essa análise foram: “quais os centros e núcleos de desenvolvimento
de Psicologia Social no Brasil?”, “qual o perfil dos autores?”, “quais as temáticas dos
trabalhos?”, “quais as características metodológicas das pesquisas publicadas?” e “qual a
relação entre a produção de conhecimento e o contexto de produção?”.
Ao buscar respostas para essas questões, Cruz (2008) acabou percorrendo os caminhos
sugeridos por várias disciplinas científicas: seguiu tanto os passos dos historiadores – já que
analisou textos e eventos do passado –, quanto dos sociólogos da ciência e dos cientistas da
informação – uma vez que visou encontrar possíveis relações entre “[...] a produção de
conhecimento e as questões sociológicas que envolvem o desenvolvimento de uma
comunidade científica.” (p. 15), além de compreender “[...] como o processo de informação e
comunicação do conhecimento estabelece ligações com a formação e o desenvolvimento de
um campo do saber.” (p. 15).

9
Esse trabalho foi orientado pelo Prof. Dr. Cornelis Johannes van Stralen e defendido na Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG).
14

A tese de doutorado de Ligia de Souza (2005)10, por sua vez, não aborda a história da
Psicologia Social brasileira, mas suas práticas de ensino e as representações sociais que
circulam a seu respeito entre alunos de graduação em Psicologia. Para isso, a pesquisadora
analisou currículos, programas e ementas de disciplinas voltadas para essa área e aplicou
questionários em docentes e discentes. Mais especificamente, ela buscou

[...] através da aplicação de um questionário semi-estruturado; comparar a


organização das disciplinas Psicologia Social nas grades curriculares de
diversas universidades brasileiras; analisar os programas das diversas
disciplinas Psicologia Social presentes nas grades curriculares de diversas
universidades brasileiras, com o objetivo de descobrir peculiaridades neles
presentes; comparar as representações sociais da Psicologia Social,
apresentadas por alunos do curso de psicologia de ingressantes e formandos,
comparando as representações sociais da Psicologia Social de estudantes
pertencentes a uma universidade privada e uma universidade pública e,
finalmente, levantar e analisar a bibliografia das disciplinas Psicologia
Social em programas e nos questionários. (SOUZA, 2005, p. 2).

Sérgio Ozella também estudou a formação em Psicologia Social. Em sua tese de


doutorado (1991)11, analisou documentos enviados por escolas de Psicologia de todo o país e
entrevistou 94 professores de Psicologia Social. A partir desses materiais, o autor categorizou
os programas da disciplina em modelos que iam do “tradicionalista” ao “inovador”. Além
disso, discutiu “[...] a relação entre o verbal e o comportamental, o pensar e o agir do
professor, definindo em termos de Postura teórica crítica/não crítica e Ação concreta
participante/não participante. Finalmente, [fez] uma análise da relação Consciência-Atividade
do professor.” (p. IV).
Após defender sua tese de doutorado, Ozella (1996) iniciou outra pesquisa sobre o
tema, atualizando os dados que já havia produzido e ampliando o universo de estudo para toda
a América Latina. No entanto, devido à dificuldade de fazer entrevistas com docentes de
outros países, nessa pesquisa, o autor trabalhou apenas com documentos. Nesses materiais,
buscou informações sobre os cursos de Psicologia (suas localizações, dependências
10
Esse trabalho foi orientado pelo Prof. Dr. Edson Alves de Souza Filho e defendido na Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ). É importante ressaltarmos que o período de sua realização foi marcado por intensos
debates acerca da formação em Psicologia e pela mobilização de docentes e profissionais de todo o país para
elaborar propostas que servissem de base para as novas diretrizes curriculares – aprovadas em 2004, pelo
Conselho Nacional de Educação (BRASIL, 2004).
11
Esse trabalho, que contou com a orientação da Profa. Dra. Maria do Carmo Guedes, começou a ser realizado
em 1981 e foi defendido dez anos mais tarde, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Diferentemente da pesquisa de Souza (2005), a tese de Ozella abordou um período em que a formação em
Psicologia ainda estava bastante marcada pela “crise de referência”: ao mesmo tempo em que a maioria dos
manuais e livros disponíveis falava de uma Psicologia Social bastante próxima à corrente norte-americana, em
algumas universidades, começavam a se fortalecer grupos que criticavam essa corrente e propunham novas
maneiras de produzir e aplicar conhecimento.
15

administrativas, datas de criação, objetivos, número de vagas e número de professores); bem


como sobre as disciplinas voltadas à Psicologia Social (períodos em que são oferecidas,
professores, objetivos, conteúdos, obras e autores mais utilizados). Esses dados permitiram
que o pesquisador fizesse uma comparação entre a situação do Brasil em 1983 e 1993, e entre
Brasil e América Latina em 1993.
O estudo realizado por Elizabeth de Melo Bomfim (1994) também aborda várias
maneiras de pensar a Psicologia Social e busca contribuir para sua formação. No entanto,
diferentemente de Ozella (1991, 1996), a pesquisadora não investigou práticas de ensino, mas
as atividades realizadas pelos profissionais da área. Para isso, ela realizou dez entrevistas e
aplicou quinze questionários em psicólogos(as) sociais, sendo que os dados obtidos por meio
desses procedimentos foram submetidos a uma análise de conteúdo. Esse estudo deu
continuidade a uma investigação realizada anteriormente por Bomfim e colaboradores (1992),
na qual “[...] foi apresentado um quadro da produção teórico-metodológica e vários relatos de
práticas desenvolvidas pelos psicólogos sociais no Brasil.” (BOMFIM, 1994, p. 201).
Essas pesquisas exemplificam alguns dos inúmeros caminhos que poderíamos
percorrer para falar da Psicologia Social no Brasil. No entanto, nesta tese, optamos por seguir
outro rumo: não fizemos uma historiografia, nem analisamos práticas de ensino ou de
intervenção profissional. Tampouco nos propusemos a fazer uma cartografia dessa disciplina
– até mesmo porque falar de todas as teorias, instituições, políticas, campos profissionais e
objetos de estudos que a constituem seria impossível em uma pesquisa de doutorado. Faltar-
nos-iam tempo, páginas e conhecimento para fazê-lo. Além disso, seria demasiadamente
complicado; e o que queremos não é complicar, mas sim complexificar essa disciplina12. Ou
seja, queremos multiplicar suas realidades, queremos contar histórias sobre alguns lugares e
situações em que a Psicologia é Social.
É importante ressaltarmos que “ser” Psicologia Social adquire, nesta tese, um sentido
bastante preciso. Seguindo a proposta de Annemarie Mol (2002), não usamos esse verbo para
nos referirmos a um objeto reificado ou a uma realidade que está dada a priori. O “ser”, do
modo como aqui o compreendemos, é situado. Ele não diz o que a Psicologia Social é
naturalmente, em qualquer lugar, em qualquer situação. “Ele não estabelece o que está dentro
e o que está fora dela, pois algo nunca „está‟ sozinho. Estar é estar relacionado. [...] O “ser”

12
Segundo Latour (1994a; 2001), apesar de ter a mesma etimologia, as palavras complexo e complicado
possuem significados distintos, que nos permitem diferenciar dois tipos de realidades. O adjetivo complexo
refere-se à irrupção simultânea de múltiplas variáveis que não podem ser tratadas separadamente; enquanto que
complicado se refere à presença de diferentes variáveis que podem ser tratadas individualmente e que podem ser
somadas e transformadas em uma “verdade” – ou, para usar o vocabulário do autor, que podem ser fechadas em
uma caixa preta.
16

praxiológico não é universal, é local. Ele necessita de uma especificação espacial.” (p. 54,
tradução nossa, grifo da autora).
Nesse gênero ontológico, uma afirmação sobre o que a Psicologia Social é deve ser
complementada por outra que indica onde isso ocorre. Sendo assim, nesta tese, não falamos
da Psicologia Social brasileira, mas falamos de alguns lugares em que, no Brasil, a Psicologia
é Social. Falamos, por exemplo, de trabalhos acadêmicos, documentos e livros introdutórios.
Além disso, para compreendermos o que o ser faz, não podemos desconsiderar as
praticidades envolvidas nos processos que performam a realidade (MOL, 2002). Desse modo,
os caminhos metodológicos que percorremos foram guiados por algumas das práticas que
performam a Psicologia Social brasileira. Aqui é importante explicitarmos que essas práticas
não incluem somente as intervenções psicossociais, trabalhos de campo, entrevistas ou
experimentos. Mas, seguindo a proposta de Isabelle Stengers (2006 apud MORAES;
ARENDT, 2010, p. 60), nesta tese,

a prática designa as ciências „se fazendo‟, ela engloba o ajuste de


instrumentos, a escritura de artigos, as relações de cada participante com os
colegas, mas também com tudo isto que e todos aqueles que contam ou
poderiam contar em sua paisagem. Nada está pronto. Tudo está por negociar,
por ajustar, alinhar e o termo prática designa a maneira pela qual tais
negociações, ajustes, alinhamentos constringem e especificam as atividades
individuais sem por isso determiná-las.

E como, em diferentes lugares, práticas distintas tendem a acontecer, a Psicologia


Social tende a variar de um lugar para o outro: aqui, ela é a intersecção da Psicologia com a
Sociologia; ali, é um mecanismo de transformação da realidade social; acolá, é o estudo
científico dos processos de influência grupal. Nesta tese, argumentaremos que esses não são
diferentes aspectos ou atributos de um mesmo objeto, mas elementos que ajudam a performar
diferentes versões desse objeto. São, portanto, elementos que fazem Psicologias Sociais
diferentes, embora relacionadas entre si. Que fazem uma Psicologia Social múltipla, ou seja,
que é mais do que uma ao mesmo tempo em que é menos do que muitas.
Para sustentar esse argumento, primeiramente, apresentaremos os conceitos e ideias
que direcionaram nosso percurso. Para isso, no primeiro capítulo, abordaremos, ainda que de
forma breve, algumas das ideias centrais da Teoria Ator-Rede (TAR), tais como o princípio
da simetria generalizada e as noções de tradução, mediação, ator-rede e associação. No
capítulo 2, discutiremos a noção de multiplicidade proposta por Mol (1999, 2002), bem como
suas implicações metodológicas, epistemológicas e ontológicas. Mais especificamente,
17

sustentaremos que essa noção não é sinônima de “diversidade” – afinal, como observa a
autora, a existência de múltiplas versões de um objeto é apenas um de seus aspectos: para ser
múltiplo, o objeto tem de ser, ao mesmo tempo, igual e diferente, diverso e singular.
Nos capítulos subsequentes, nosso foco será a multiplicidade da Psicologia Social
brasileira: no capítulo 3, sustentaremos a primeira parte de nosso argumento e falaremos de
diversidade. Ou seja, falaremos de alguns lugares e situações em que a Psicologia Social é
mais do que uma. No capítulo seguinte, dedicar-nos-emos à segunda parte. Nele, falaremos de
singularidade ao abordarmos as práticas que fazem com que a Psicologia Social seja,
também, menos do que muitas.
Para elaborar esses dois últimos capítulos, percorremos diferentes caminhos, usamos
diferentes materiais, nos referimos a diferentes pessoas. Em nossas primeiras “idas a campo”,
visitamos duas bibliotecas de referência da área – a Nadir Gouvêa Kfouri, da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e a Dante Moreira Leite, do Instituto de
Psicologia da Universidade de São Paulo (USP).
Ao digitar o descritor “Psicologia Social” nos bancos de dados dessas bibliotecas, nos
deparamos com duas imensas listas de materiais e, como seria inviável lermos e analisarmos
todos eles, optamos por estabelecer alguns critérios de seleção: dentre todos os livros e
manuais disponíveis, selecionamos apenas aqueles que haviam sido publicados entre 1990 e
201113 e que se caracterizavam como livros-texto ou manuais introdutórios de Psicologia
Social14. Não selecionamos, portanto, obras antigas ou que abordavam somente uma subárea,
conceito ou temática específica.
Este critério é, em certa medida, limitador, uma vez que obras que falam, por exemplo,
de Psicologia Social Comunitária, de Representações Sociais ou de Psicologia Social da
Saúde também fazem parte dessa disciplina. No entanto, optamos por utilizá-lo porque seria
impossível, no espaço de tempo de uma tese de doutorado, seguir os atores descritos em todos
os livros que possuem como descritor a palavra “Psicologia Social”. Além disso,

13
Algumas das obras selecionadas foram inicialmente publicadas antes desse período, mas como foram
reeditadas posteriormente, as incluímos no corpus desta tese. A primeira edição do livro “Introdução à
Psicologia Social”, de Arthur Ramos, por exemplo, data de 1936, mas em 2003, em comemoração ao centenário
do nascimento do autor, ela foi reeditada.
14
Para selecionar aqueles que obedeciam a esse critério, lemos os prefácios, apresentações e sumários dos livros
que tinham a expressão “Psicologia Social” no título. Consideramos esta etapa importante pois, muitas vezes, o
título dava a impressão de se referir a um manual introdutório quando, na verdade, tratava-se da publicação de
conferências proferidas em um evento científico – como no caso do livro “Psicologia Social: temas em debate”,
que apresentava as conferências e mesas-redondas do V Encontro Regional de Psicologia Social da ABRAPSO-
Espírito Santo – ou ainda de trabalhos realizados a partir de uma teoria específica – como, por exemplo, o livro
“Psicologia Social: indivíduo e cultura”, organizado por Faria e Brandão (2004, p. 10), e que visa possibilitar
“[...] uma leitura que vai da apresentação e discussão de conceitos abrangentes da Teoria Crítica da Sociedade a
discussões mais específicas de temas, objetos e práticas psicológicas [...]”.
18

“diferentemente dos livros monotemáticos, o livro-texto é uma tentativa de organizar a


disciplina; de responder à pergunta „o que é a disciplina hoje‟, seu foco, suas áreas de estudo,
suas questões principais.” (SPINK, M. J.; SPINK, P. 2007, p. 566). Ou seja, esses manuais
mais “gerais” tendem a falar de diversas correntes teóricas, áreas de atuação e objetos de
estudo ao mesmo tempo em que tratam essa disciplina como algo singular. São, portanto, um
bom “lugar” para acompanharmos alguns dos modos de coordenação de diferentes versões da
Psicologia Social brasileira15.
Outro critério que utilizamos para selecionar os livros e manuais que compuseram o
corpus desta tese foi a nacionalidade dos(as) autores(as). Dentre todas as obras introdutórias,
selecionamos somente aquelas que eram de autoria de pesquisadores(as) brasileiros(as) ou de
estrangeiros(as) que atuam profissionalmente no Brasil. Para conhecer suas nacionalidades
e/ou filiação institucional consultamos, primeiramente, o banco de dados da Plataforma Lattes
(http://lattes.cnpq.br/), sendo que, nos casos em que os(as) autores(as) não estavam aí
cadastrados, buscamos dados sobre sua atuação profissional por meio do motor de buscas
Google (www.google.com.br).
É importante ressaltarmos que, ao estabelecermos esse critério, não estamos propondo
que livros de autores(as) estrangeiros(as) não contribuam para performar a Psicologia Social
no Brasil. Afinal, vários deles estão disponíveis nas bibliotecas de nossas universidades, são
citados em nossas pesquisas e estudados em nossas disciplinas – no curso de graduação em
Psicologia da USP, por exemplo, um dos textos que compõem a bibliografia básica da
disciplina Psicologia Social I é o manual do polonês emigrado nos Estados Unidos Solomon
Asch (1952/1997)16. No entanto, como optamos por não fazer uma etnografia, não
acompanhamos as práticas que esses textos e autores ensejam na realidade brasileira. Os
livros de autoria de pesquisadores “nacionais”, por sua vez, em geral, falam de pesquisas e
experiências profissionais realizadas no Brasil. Assim, independentemente do uso que se faz

15
Consultamos, também, o SciElo – Scientific Electronic Library Online (http://www.scielo.br), uma vez que,
no Brasil, esta é uma das bases de dados virtuais mais utilizadas para a consulta de textos acadêmicos. No
entanto, não encontramos nenhum artigo que obedecesse aos nossos critérios de busca. No período da consulta
(dezembro de 2010), estavam disponíveis 118 textos relacionados à Psicologia Social, mas nenhum deles
buscava introduzir essa disciplina. A maioria dos artigos escritos por autores brasileiros relatava pesquisas da
área (como, por exemplo, SATO, 2007; SILVA, QUEIRÓS, 2006; MATTOS, FERREIRA, 2004); outros
discutiam um conceito ou abordagem teórica específica (como PAIVA, 2000; CROCHÍK, 2008; ARENDT,
1998); uma subdivisão da Psicologia Social (como FREITAS, 1998; ARENDT, 1997; TRAVERSO-YEPEZ,
2001) ou ainda aspectos relacionados à história, formação profissional e ao trabalho de campo na área (como
DIHL, MARASCHIN, TITTONI, 2006; NARITA, 2006; SOUZA, SOUZA FILHO, 2009; SILVA, 2004).
16
O programa e a bibliografia básica da disciplina estão disponíveis em: <http://sistemas2.usp.br/
jupiterweb/obter Disciplina?sgldis= PST0201&nomdis=>. Acesso em 10 dez. 2010.
19

deles, esses materiais falam de algumas das Psicologias Sociais que são feitas em nosso
país17.
Após uma leitura inicial desses livros, observamos que vários deles abordavam a crise
de referência que assolou a Psicologia Social na década de 1970. Ao descrever esse momento
histórico, enfatizavam as controvérsias e discrepâncias entre a proposta de Aroldo Rodrigues
e a de Silvia Lane. Desse modo, decidimos buscar materiais que nos ajudassem a contar
melhor essa história. Para isso, consultamos os bancos de dados das bibliotecas da PUC-SP,
do IP-USP e do SciElo (www.scielo.br), usando nesta busca as seguintes palavras-chave:
“Silvia Lane”, “Aroldo Rodrigues” e “Crise da Psicologia Social”.
Em um terceiro momento, percorremos os corredores das bibliotecas onde estavam
dispostas as teses e dissertações defendidas nos programas de pós-graduação em Psicologia
Social das duas universidades. Após lermos os resumos de todos os trabalhos concluídos entre
1990 e 2011 e identificarmos seus objetos de estudo, linhas teóricas e estratégias
metodológicas, selecionamos duas pesquisas (uma de cada universidade) que faziam
Psicologias Sociais bastante diferentes e que “transitavam” por áreas do conhecimento
distintas. É importante ressaltarmos que esses trabalhos não representam a totalidade das
pesquisas realizadas e defendidas nos dois programas de pós-graduação. Eles são apenas
exemplos de como a Psicologia Social pode ser diferentemente performada.
A leitura da tese e da dissertação selecionadas nos pareceu tão interessante que
resolvemos selecionar mais dois trabalhos. No entanto, desta vez não recorremos às
bibliotecas da PUC-SP e da USP, mas ao site da associação representativa da área, no qual
buscamos as referências dos dois trabalhos premiados no “II Concurso de Teses, Dissertações
e Artigos da ABRAPSO”. Optamos por descrever apenas quatro trabalhos (e não cinco, dez,
vinte ou todos), pois esses nos pareceram suficientes para sustentar o argumento central de
nossa pesquisa. Afinal, como dissemos anteriormente, nosso objetivo não é fazer uma
cartografia da Psicologia Social brasileira, mas falar de alguns lugares em que, no Brasil, a
Psicologia é Social.
Contar histórias sobre teses e dissertações da área nos pareceu um interessante
caminho para falar da multiplicidade da Psicologia Social no Brasil pois, de um modo geral,
esses materiais apresentam de forma detalhada os procedimentos metodológicos utilizados.
Afinal, ao menos em teoria, as sessões de materiais e métodos de textos científicos “[...]
especificam tanto quanto possível as práticas de investigação. Elas evidenciam [instantiate] o

17
Os anexos 1 e 2 apresentam as obras que obedeceram aos nossos critérios de seleção.
20

reconhecimento de que as práticas que forçam um objeto a falar são cruciais para o que pode
ser dito sobre ele.” (MOL, 2002, p. 158, tradução nossa). Podem ser, portanto, uma fonte tão
interessante quanto observações etnográficas para fazer uma praxiografia (MOL, 2002)18.
Outro “lugar” que visitamos para falar da multiplicidade da Psicologia Social
brasileira foi o debate suscitado pela criação do título de especialista na área. Como veremos
no capítulo 3, por meio da Resolução 05/03, o Conselho Federal de Psicologia (CFP)
reconheceu a Psicologia Social como uma especialidade da Psicologia e estabeleceu as
normas e os procedimentos para a concessão e o registro do título de especialista na área
(CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2003). Por um lado, tal medida representou
uma tentativa de singularização da Psicologia Social, uma vez que propunha sua definição e
delimitação. Por outro lado, ela suscitou um intenso debate sobre o que é a Psicologia Social,
explicitando, com isso, a dificuldade de pensar essa área do conhecimento como algo
singular.
Para acompanhar os modos de coordenação dessa diversidade, bem como as
controvérsias que caracterizaram esse debate, recorremos, sobretudo, a textos acadêmicos e a
documentos de domínio público, tais como os editais e as provas do concurso que dão acesso
a essa titulação e o encarte especial dedicado ao tema, publicado no número dezessete da
Revista Psicologia & Sociedade. Buscamos, assim, compreender em que medida e como a
Psicologia Social desses materiais é mais do que uma e menos do que muitas.
É importante ressaltarmos que tratamos todos esses artigos, livros, documentos e
trabalhos acadêmicos não apenas como “textos”, mas como materialidades que produzem
efeitos, se conectam, se articulam com outros textos, com outras práticas. Ou seja, os tratamos
como materialidades que produzem certas realidades da Psicologia Social (MORAES, 2010).
Uma vez apresentado o caminho metodológico percorrido, apresentaremos, no capítulo
seguinte, o referencial teórico que embasa esta tese.

18
Diferentemente da maioria dos pesquisadores da TAR, não utilizamos técnicas etnográficas tradicionais pois
consideramos os autores desses trabalhos como seus próprios etnógrafos. Ou seja, os consideramos como atores
capazes de descrever suas próprias práticas, de fazer suas próprias praxiografias (MOL, 2002). Afinal, segundo
Latour (2008, p. 27, 28, tradução nossa), em um estudo da TAR, “a tarefa não é mais impor alguma ordem,
limitar a variedade de entidades aceitáveis, ensinar aos atores o que são ou agregar certa reflexividade a sua
prática cega. De acordo com uma premissa da TAR, é preciso „seguir os próprio atores‟, ou seja, tratar de
colocar-se em dia com suas inovações [...] para aprender com elas no que se converteu a existência coletiva na
mão de seus atores, que métodos foram adotados para fazer com que tudo se encaixasse, que descrições
poderiam definir melhor as novas associações que se viram obrigados a fazer.”
21

CAPÍTULO 1

PRESSUPOSTOS ONTOLÓGICOS E EPISTEMOLÓGICOS


22

A Teoria Ator-Rede (TAR) é uma etiqueta utilizada para se referir a um conjunto de


princípios metodológicos, epistemológicos e de trabalhos de campo que há mais de duas
décadas vem questionando o pensamento social tradicional. Também conhecida como
“Antropologia Simétrica”, “Sociologia das Associações” e “Sociologia da Tradução", essa
“teoria”19 surgiu a partir de discussões ensejadas no campo dos Estudos da Ciência e
Tecnologia e hoje suas contribuições abarcam o problema da produção e estabilização da
ordem social (TIRADO-SERRANO; DOMÈNECH-ARGEMÍ, 2005). Neste capítulo, não
objetivamos apresentar detalhadamente toda a história e pressupostos da TAR, tarefa
demasiada extensa para um capítulo “teórico”; objetivamos, apenas, apresentar alguns
conceitos e princípios que participaram da elaboração deste trabalho.

1.1 O princípio de simetria generalizada

Uma das principais características da TAR é a defesa do princípio de simetria


generalizada instaurado pela Antropologia das Ciências. Segundo Latour (1994b), esse
princípio foi proposto inicialmente por Michel Callon (1986) para enfatizar a importância de
radicalizar o principio de simetria de David Bloor20 (1976), que propunha que o erro e a
verdade tivessem tratamentos semelhantes e fossem explicados com os mesmos termos.
Em meados da década de 1970, Bloor (1976) publicou a obra Knowledge and Social
Imagery, na qual apresentava seu Programa Forte para o desenvolvimento da Sociologia do
Conhecimento. Esse programa era regido por quatro princípios centrais: 1) o princípio da
causalidade, que propunha que as ciências sociais deveriam explicar o conhecimento
científico do modo como as ciências naturais explicam a natureza: por meio da explicitação
de causas e de um método científico; 2) o princípio da imparcialidade, que propunha que o
analista social deveria explicar tanto a má ciência (dos erros, crenças etc.), quanto a ciência
bem sucedida (da verdade); 3) o princípio de simetria, que afirmava que o conhecimento
verdadeiro e o falso deveriam ser explicados pelas mesmas causas; e 4) o princípio de

19
Estamos colocando a palavra teoria entre aspas pois, segundo Latour (2005), a despeito de se chamar “Teoria
Ator-Rede”, a TAR não constitui uma teoria propriamente dita. Afinal, propõe que são os atores que sabem o
que fazem e “[...] nós temos de aprender com eles não somente o que eles fazem, mas como e por que o fazem.
Somos nós, os cientistas sociais, que desconhecemos o que fazem, e não eles que necessitam de explanações
sobre por que são involuntariamente manipulados por forças exteriores a eles e conhecidas somente pelo
poderoso olhar e método dos cientistas sociais. [...] Longe de ser uma teoria do social ou, pior ainda, uma
explicação do que faz a sociedade exercer pressão sobre os atores, ela sempre foi [...] um método bastante
rudimentar [crude] de aprender com os atores, sem impor-lhes uma definição a priori de suas capacidades de
construção do mundo.” (LATOUR, 2005, p. 19, 20, tradução nossa, grifos do autor).
20
Considerado um dos principais expoentes da Escola de Edimburgo.
23

reflexividade, que sugeria que o analista deveria aplicar em sua própria análise os mesmos
métodos que utilizava para estudar o conhecimento científico.
O Programa Forte de Bloor tinha como objetivo central contrapor-se à Escola
Mertoniana – corrente que, na época, dominava o campo da Sociologia da Ciência. De acordo
com Domènech e Tirado (1998, p.15, 16, tradução nossa),

seguindo os passos de Merton [...], os sociólogos da ciência esmeram-se, durante os


anos cinqüenta, sessenta e boa parte dos setenta, a explicar a organização da ciência
como instituição social – valores, normas... – e em manifestar o papel adulterador
que supostamente teria o social na produção de conhecimento. A ideia que subjaz a
uma sociologia que possui tais tarefas não é outra que um convencimento cartesiano,
sumamente enraizado na concepção moderna do conhecimento, de que o verdadeiro,
o racional, não requer explicação; só o erro, o falso, o irracional necessitam de uma
justificativa causal. [...] Ao considerar que a verdade surge diretamente dos fatos,
não sobra espaço para conceber uma sociologia da verdade, só é possível conceber o
que se chamou de sociologia do erro, ou seja, uma sociologia que toma como objeto
de análise a ideologia, as falsas crenças e os preconceitos, mas nunca a verdade.

A grande contribuição do Programa Forte de Bloor (1976) foi, justamente, propor uma
Sociologia que desse conta de explicar tanto o erro quanto a verdade, tanto o conteúdo quanto
a natureza do conhecimento científico. Nesse Programa, os conhecimentos falsos e os
verdadeiros deveriam ser tratados da mesma forma e explicados pelas mesmas causas: os
fenômenos sociais. Sendo assim, não bastava dizer que uma teoria é melhor que outra por ser
mais verdadeira ou por ser mais bem comprovada pela empiria; era preciso falar das
condições (argumentos, negociações etc.) que tornaram possível a existência de consenso
sobre um conjunto de resultados ou sobre os conteúdos de uma experiência.
No entanto, para Callon (1986), a despeito de tratar simetricamente o erro e a verdade,
esse princípio continuava a sustentar uma assimetria, pois tratava de forma distinta a natureza
e a sociedade. Afinal, considerava o domínio do social como um recurso explicativo,
enquanto que a natureza, a ciência e a tecnologia eram o que deveria ser explicado. Em suas
palavras,

sabemos que os ingredientes das controvérsias são uma mistura de


considerações sobre a natureza e sobre a sociedade. Por essa razão,
propomos que o observador use um único repertório ao descrevê-las. O
vocabulário escolhido para estas descrições e explicações fica a critério do
observador. [...] Mas, dado o princípio da simetria generalizada, a regra que
devemos seguir é não mudar de registro quando nos movemos dos aspectos
técnicos do problema estudado aos sociais. (CALLON, 1986, p. 4, tradução
nossa).
24

Afinal, se mudamos de registro, corremos o risco de adotarmos posturas ontológicas distintas,


ou seja, corremos o risco de sermos construcionistas com a natureza e realistas com a
sociedade, esquecendo-nos que de a sociedade também é um produto, um efeito, algo tão
construído quanto a natureza (LAW, 1987).
Além de propor a utilização de um mesmo repertório para se referir à natureza e à
sociedade, a generalização do princípio de simetria sugere que todas as coisas e fenômenos
sejam tratados sob os mesmos termos. Isso implica a utilização de um estilo de descrição que
não se baseia em dualismos como verdadeiro-falso, humano-não humano, sujeito-objeto,
micro-macro etc. No entanto, é importante ressaltarmos que problematizar essas dicotomias
não significa dizer que não existem divisões entre materialidades e pessoalidades, entre o
natural e o social ou entre verdade e falsidade; mas que essas divisões e distinções são efeitos,
ou seja, são resultados de uma série de associações entre atores heterogêneos.

1.2 Heterogeneidade material

Assim, ao assumir o princípio da simetria generalizada, os(as) autores(as) da TAR


acabam problematizando também a concepção de realidade defendida pelas correntes
tradicionais da Sociologia do Conhecimento. Diferentemente do que ocorre nestas últimas, na
TAR, a “realidade” não é um fato externo, objetivo e sujeito à interpretação cultural da
ciência. Pelo contrário, é algo construído e reconstruído ativamente. E para descrever como
ocorre este processo de construção e reconstrução, é preciso focar na heterogeneidade
material das redes de atores humanos e não humanos e descrevê-la a partir de uma ontologia
relacional. Nas palavras de Law e Mol (1993/1994, p. 48, tradução nossa, grifos dos autores),
as materialidades

[...] não existem por si mesmas, mas são constituídas nas redes de que faz
parte. Os objetos, as entidades, os atores, os actantes são (algo como) efeitos
semióticos: os nós das redes são conjuntos de relações ou conjuntos de
relações entre relações. Isso significa que os materiais são constituídos
interativamente: podem servir para incrementar a estabilidade, mas não são
reais, não existem além de suas interações. As máquinas, as pessoas, as
instituições, o mundo material, a divindade, todas estas coisas são efeitos ou
produtos.21

21
Aqui, cabe observar que a semiótica performada pela TAR é diferente das correntes tradicionais, pois ela
utiliza o insight semiótico do caráter relacional das entidades e o aplica a todos os materiais (e não simplesmente
aos linguísticos) – por essa razão, Law (1999) afirma que a TAR faz uma “Semiótica da Materialidade”.
25

Desse modo, nessa “teoria”, só podemos falar do “real” ao nos referirmos a

[...] uma multiplicidade de materiais heterogêneos conectados em forma de


uma rede que tem múltiplas entradas, está sempre em movimento e aberta a
novos elementos que podem se associar de forma inédita e inesperada.
Todos os fenômenos são efeitos dessas redes que mesclam simetricamente
pessoas e objetos, dados da natureza e dados da sociedade, oferecendo-lhes
igual tratamento. (MELO, 2007, p. 170).

Oferecer-lhes igual tratamento significa não estabelecer a priori o que é social, o que é
natural ou o que é tecnológico. Significa não estabelecer uma hierarquia ou uma ordem de
prevalência entre os atores de uma rede. Significa considerar que qualquer coisa – pessoa ou
objeto – cuja incidência modifique um estado de coisas é um ator22 (LATOUR, 2008).
Desse modo, para os(as) autores(as) da TAR, os objetos também são capazes de
incidir sobre ações23. A ação de batermos em um prego com um martelo, por exemplo, é
diferente da de batermos com a palma da mão, assim como andarmos pela rua com roupas não
é como andarmos sem elas. Entretanto, isso não significa que os objetos determinem a ação,
afinal, não é o martelo que impõe que devemos golpear o prego. Segundo Latour (2008),
existem muitos matizes metafísicos entre a plena causalidade e a mera inexistência: além de
“determinar”, ou de “servir como pano de fundo da ação humana”, as coisas podem autorizar,
permitir, sugerir, dar recursos, influenciar, proibir, bloquear etc. Sendo assim, esses autores e
autoras não propõem a afirmação vazia de que são os objetos – e não os atores humanos – que
fazem as coisas. Dizem, simplesmente, que nenhuma ciência do social pode existir se não
explorar, primeiramente, a questão do que e quem participa da ação – ainda que isso
signifique permitir que se incorporem elementos não humanos à resposta.

22
Em alguns textos (LATOUR, 1996; AKRICH, LATOUR, 1992; TIRADO-SERRENO, DOMÈNECH-
ARGEMÌ, 2005, entre outros), a palavra “ator” é substituída por “actante”, pois, tanto na linguagem científica
quanto na cotidiana, a primeira geralmente é usada para se referir apenas a humanos; enquanto que a segunda
possui menos tradição conceitual e pode mais facilmente ser usada para se referir, também, a não humanos. Em
um texto escrito em coautoria com Madeleine Akrich, Bruno Latour (1992, p. 259, tradução nossa) afirma que
um “actante” é qualquer coisa que atue ou modifique a ação. Em outros textos (como em LATOUR, 2008), o
autor afirma que um actante é um ator que ainda não possui figuração. Nesta tese, usamos os termos “ator” e
“actante” como sinônimos, ou seja, aqui, ambos referem-se às entidades (humanas e não humanas) que possuem
agência.
23
É importante ressaltarmos que dizer que não há diferença fundamental entre pessoas e objetos é uma atitude
analítica, e não uma posição ética. Afinal, segundo Law (1992, p. 4, tradução nossa), isso não significa que
tenhamos de tratar as pessoas como máquinas. “Não temos de negar os direitos, deveres e responsabilidades que
usualmente atribuímos às pessoas. Na verdade, nós podemos usar [essa atitude] para aprofundar questões éticas
sobre o caráter especial do efeito humano – como, por exemplo, em casos difíceis tais como os de vida mantida
artificialmente por conta das tecnologias de tratamento intensivo”.
26

Nos trabalhos da TAR, um ator não constitui a fonte de uma ação, mas é o alvo móvel
de uma quantidade enorme de entidades que convergem em sua direção. Nas palavras de Law
e Mol (2008, p. 58, tradução nossa),

[...] um ator não age sozinho. Ele age em relação com outros atores,
vinculado com eles. Isso significa que ele também está sempre sendo atuado
[acted upon]. Atuando e sendo atuado [enacted] conjuntamente. E mais, um
ator-atuado [enacted-actor] não está em controle. Agir não é controlar, pois
os resultados do que está sendo feito frequentemente são inesperados.

Desse modo, a palavra ator assume aqui um sentido bastante diferente do que a
tradição anglo-saxônica comumente lhe atribui. Segundo Latour (1996), para esta última, um
ator é sempre um humano individual – na maioria das vezes, do sexo masculino – que busca
adquirir poder por meio de uma rede de aliados. Já para a TAR, um ator é uma definição
semiótica que se refere a algo que age e que é alvo da ação dos outros. Nas palavras de Arendt
(2008, p. 5, grifos do autor), “um ator não age, simplesmente, mas é levado a agir, ele é
superado por sua ação. Em outros termos, ele não apenas faz, a rede o faz fazer.”

1.3 Ator-Rede

Essa rede que faz fazer difere da rede da Análise de Redes Sociais (ARS) e das redes
tecnológicas. A principal divergência com a primeira refere-se ao fato de que, segundo Latour
(1996), esta é composta por relações sociais existentes entre atores humanos individuais e
pode ser estudada por meio da frequência, homogeneidade, distribuição e proximidade dessas
relações. Já um ator-rede24 é composto também por atores não humanos e não individuais.
Além disso, os pesquisadores da ARS utilizam a noção de rede social para acrescentar
informações sobre as relações estabelecidas entre humanos em um mundo social e natural –
que é mantido intocado pelos analistas – enquanto que a TAR, como dissemos anteriormente,
problematiza as noções de sociedade e natureza. Desta forma, ela não almeja adicionar as
redes sociais à teoria social, “[...] mas reconstruir a teoria social a partir das redes. É tanto
uma ontologia ou uma metafísica quanto uma sociologia [...]. Redes sociais certamente vão

24
Para evitar a confusão com outras noções de rede, muitos autores da TAR (CALLON, 1998; LATOUR, 2008;
LAW, 1997, entre outros) preferem utilizar a expressão “ator-rede”. Outra vantagem deste termo é o fato de ele
garantir a simetria e enfatizar a impossibilidade de separarmos rede de ator. Nas palavras de Callon (1998, p.
156, tradução nossa), essa expressão ressalta que “o ator-rede não é redutível nem a um simples ator nem a uma
rede. Está composto [...] de séries de elementos heterogêneos, animados e inanimados, que têm sido conectados
mutuamente durante certo período de tempo [...] Um ator-rede é, simultaneamente, um ator cuja atividade
consiste em entrelaçar elementos heterogêneos e uma rede que é capaz de redefinir aquilo do qual está feita.”
27

ser incluídas na descrição, mas não haverá privilégio nem proeminência [...]” (LATOUR,
1996, p. 1, tradução nossa).
Já a divergência em relação às redes tecnológicas (como as ferroviárias, as de internet,
as de telefone, as de esgoto etc.) reside no fato de que nelas há elementos distantes conectados
por radares, trilhos, fios e tubulações, sendo a circulação entre esses elementos (ou “nós”)
obrigatória e pré-determinada. Além disso, essa circulação é estabelecida por tecnologias
rígidas, que dão a alguns nós um papel central. Segundo Latour (1996), apesar de, em alguns
casos, a noção de ator-rede poder assumir esse modelo de rede fixa e estável, é muito mais
frequente que ela assuma características completamente diferentes, ou seja, que se refira a
algo local, que não possui ligações obrigatórias e que não tem nós estratégicos. Além disso,
outra importante diferença entre as duas concepções de rede é que, na tecnológica, a
circulação é vista como mero transporte, enquanto que, na latouriana, ela, necessariamente,
implica transformação.
E é justamente este processo de transformação e de construção de fatos, sujeitos,
objetos e crenças que os(as) autores(as) da TAR buscam descrever (LATOUR, 2008). Isto se
dá pois eles(as) consideram que o que importa não é somente a ideia de vínculo ou de aliança;
importa, também, o que esses vínculos produzem, ou seja, os efeitos decorrentes de tais
alianças. Sendo assim, podemos dizer que, na TAR, ator-rede é sinônimo de fabricação, de
ação.

Fabricação interessante, porque deve ser considerada como um processo


distribuído entre todos os atores. Não há um agente primordial, central do
qual emana a fabricação do mundo. Então há uma ação recíproca e o que
importa é acompanhar os efeitos desta ação, os muitos deslocamentos que
ela produz. Será então que devemos considerar a teoria ator-rede como um
quadro de referências, como uma teoria que podemos aplicar a muitos
domínios, inclusive à psicologia? [...] A teoria ator-rede não é uma teoria
cujos princípios estejam dados de antemão. Trata-se antes de um método,
um caminho para seguir a construção e fabricação dos fatos. (TSALLIS et
al., 2006, p. 66).

Sendo assim, na TAR, não mais se discute se o indivíduo é prévio a qualquer coisa e
configura a sociedade; se as instituições são produzidas por um conjunto de relações
duradouras; ou ainda, se um emaranhado de fatos unidos pelo cimento da moral gera o
coletivo. De acordo com Domènech e Tirado (1998, p. 25, tradução nossa), o questionamento
agora é muito mais simples: “[...] indivíduos, fatos, estruturas ou relações são produtos,
efeitos a posteriori do que é somente um emaranhado de materiais heterogêneos, justapostos,
unidos e configurados pelas relações que são capazes de estabelecer ou sofrer.”
28

No entanto, quando pensamos em nosso cotidiano, não temos dúvidas de que existem
estruturas, instituições, relações de poder, normas e classificações. Afinal, temos famílias,
vivemos em um sistema capitalista, aprendemos que não devemos roubar, seguimos
determinadas regras de etiqueta ao comermos, sabemos que a Terra é redonda e que as
doenças não são causadas por castigo divino. Se a realidade não passa de um emaranhado de
materiais heterogêneos, de onde vêm essas regularidades, ou melhor, essas totalidades?
Callon (1986), Latour (1998a, 1998b, 2008) e Law (1992, 1998) respondem a essa questão
dizendo que o mundo toma forma por meio dos processos de tradução25.

1.4 Tradução

Na Teoria Ator-Rede, a noção de tradução é utilizada para se referir não somente à


passagem de uma língua a outra, mas também a um deslocamento, a um desvio, a uma
mediação, à criação de um laço que não existia anteriormente e que, pelo simples fato de
passar a existir, produz transformações (LATOUR, 1998b).
Assim como na Filosofia das Ciências e na Epistemologia, esse termo é usado para
descrever o modo como cientistas passam de enunciados gerais sobre o mundo (teorias) a
enunciados observacionais (e vice- versa). Dizemos, por exemplo, que um(a) leigo(a) é capaz
de observar que a agulha de um amperímetro aponta para o número 100; mas um(a) físico(a)
provavelmente tentará estabelecer equivalências – ou ao menos relações inteligíveis – entre
esse enunciado observacional, que se exprime na língua ordinária, e os enunciados teóricos
que recorrem a palavras e a noções inabituais. Tentará, portanto, relacionar o movimento da
agulha com o fato de que elétrons existem e possuem determinadas características (CALLON,
2003).

A ciência se encarrega de explorar esse abismo que ela contribui para criar.
Os filósofos recorreram à noção de tradução para explicar como os cientistas
em seus laboratórios passam de uma língua que foi feita de noções
totalmente ordinárias [...] a uma língua que é teórica e que faz uso de noções
que descrevem entidades que ninguém nunca viu. A noção de tradução
permite descrever esse transporte misterioso que faz com que possamos

25
Esse processo também é chamado de “ensamblage”, “translação” e “padrões de ordenação”. Nesta tese,
optamos por utilizar a expressão “tradução” uma vez que esta é a terminologia usada por muitos autores de
língua portuguesa (tais como MORAES, 2004; FREIRE, 2006, MELO et al., 2007; BONAMIGO, 2008, entre
outros). No entanto, consideramos que ela pode trazer certa confusão, pois, frequentemente, utilizamos este
termo para fazer referência a uma representação fiel de algo e não a uma transformação. Quando, por exemplo,
citamos a edição brasileira do livro “Jamais fomos modernos”, citamos Latour (1994b), e não Carlos Irineu da
Costa, seu tradutor. Esquecemo-nos das diferenças linguísticas e das interpretações pessoais do tradutor.
Tratamos a edição brasileira como se fosse igual à francesa.
29

passar de observações empíricas, experimentais a enunciados teóricos que,


de certa maneira, não têm nada a ver com os enunciados observacionais [...].
A noção de tradução é uma primeira maneira de descrever esse transporte
de significações da experiência à teoria. (CALLON, 2003, p. 58, tradução
nossa, grifo nosso).

Mas, na TAR, a palavra “tradução” também assume o sentido proposto pelo filósofo
francês Michel Serres (1974) ao ser usada para explicar como as informações e a
comunicação em geral operam por meio de uma série de transformações, de transportes e de
traições. De acordo com Callon (2003, p. 59, tradução nossa), esse duplo significado da
palavra, “[...] tradução de uma língua a outra e transporte de um mundo a outro, pode ser
mobilizado para compreender as relações entre a ciência isolada, a ciência confinada e o
mundo que a rodeia.”
Para dar um sentido mais preciso a essa noção, o autor propõe que distingamos três
tipos de tradução comuns no campo científico: o primeiro deles refere-se à atividade de
transporte do mundo no qual vivemos (do “grande mundo”, do macrocosmo) para dentro do
laboratório. Esse movimento é de grande importância, pois permite que a ciência aja sobre o
mundo – de que adiantariam, por exemplo, estudos de Psicologia Social que abordassem
temas alheios à nossa realidade? Para promover transformações sociais 26, pesquisadores da
área precisam fazer entrevistas, observações, experimentos, escrever diários de campo,
selecionar textos, transcrever... Enfim, precisam transformar fatos, processos e objetos do
“mundo exterior” em material analisável. Precisam trazer a “realidade psicossocial” para
dentro do “laboratório”.
O segundo sentido faz referência ao que acontece dentro do laboratório. Para Callon
(2003), a obsessão de todo pesquisador é a de questionar a natureza, recolher as respostas que
ela fornece e, por fim, interpretá-las. Ou seja, seu trabalho é o de “fazer falar” as entidades
transportadas para dentro do laboratório: “conseguir fazer com que elétrons ou genes falem
não é nada evidente! Conseguir fazer com que digam quem são, como podem agir, tampouco
é evidente! A grande força dos cientistas é conseguir isso dentro do mundo fechado dos
laboratórios.” (CALLON, 2003, p. 59, tradução nossa).
O terceiro movimento de tradução refere-se ao retorno daquilo que foi produzido no
laboratório ao mundo “exterior”.

Uma vez que o grande mundo foi transportado, transposto, para o pequeno
mundo do laboratório, uma vez as entidades assim aclimatadas [...] são

26
Como veremos no capítulo 4, muitos(as) pesquisadores(as) consideram o compromisso com a transformação
social a principal característica dessa área do conhecimento.
30

questionadas, uma vez recolhidas as respostas e, a partir delas, delimitadas –


ao menos parcialmente – suas identidades, o último problema se coloca:
como soltar no grande mundo esses seres pacientemente domesticados? [...]
Não podemos compreender o movimento e a lógica da ciência se
conservamos a imagem de um laboratório confinado [...] Sim, o laboratório
se distanciou, mas entre ele e o mundo ocorre um intenso tráfico, nos dois
sentidos, o laboratório parece uma empresa de importação e exportação que
não se contentará em fazer circular as mercadorias, mas que também as
transformará e as recondicionará. A tradução consiste precisamente nesse
movimento que permite agir sobre o mundo o transportando para dentro do
laboratório e o fazendo voltar transformado para o exterior do laboratório.
O laboratório é um poderoso instrumento para a reconfiguração do nosso
mundo, não é somente um instrumento de observação e interpretação.
(CALLON, 2003, p. 60, tradução nossa, grifos nossos).

A tradução, portanto, substitui uma coisa por outra coisa: substitui uma língua por
outra, uma palavra por outra, um grande mundo por um microcosmo. E essa substituição
implica, necessariamente, transporte. “A ciência sempre começa por essa inversão, essa
mudança de escala, essa miniaturização [...] ao invés de ter o grande mundo, um macrocosmo,
você tem um pequeno mundo, um microcosmo [...]” (CALLON, 2003, p. 61, tradução nossa).
Dizemos, muitas vezes, que esse microcosmo representa o grande mundo; mas para o autor, o
verbo “representar” é demasiadamente estático e omite o transporte, a transformação inerente
a esse processo.
Callon (2003) nos dá um bom exemplo de como os mecanismos de tradução
contribuem para a construção do conhecimento científico ao relatar o caso de pessoas que
sofrem de amiotrofia espinhal infantil, uma doença genética rara. De acordo com o autor, até
o início da década de 1950, esses doentes não tinham interlocutores na área médica nem na
biológica. Não existia nenhum tipo de registro sistemático e o quadro clínico da doença era
bastante impreciso. Apenas alguns(as) pacientes mais empreendedores(as) – ou menos
resignados(as) – se dedicavam a coletar informações sobre os sintomas e sobre o
desenvolvimento da doença. Em colaboração com profissionais da saúde, eles(as)
organizavam campanhas de coleta de sangue, visando construir um banco de DNA que
permitisse a identificação e a localização do gene defeituoso.

Neste caso, em que consiste o movimento de tradução? Você tem uma


população indeterminada de doentes dentre os quais o trabalho de
observação e enquete permite estabelecer certas similitudes; em seguida,
você extrai [prélevez] elementos de seus corpos e os transporta para os
laboratórios e os pesquisadores [...] começam a analisá-los. Não há
ilustração mais bela da tradução que este movimento: formular os problemas
a serem resolvidos, simplificar e reduzir a realidade a ser estudada, extrair
elementos, transportá-los para o laboratório e se engajar no trabalho de
produção de inscrições. Aí está o primeiro arco da tradução. Antes dessa
31

tradução, problemas estavam formulados, questões estavam levantadas, e


restavam sem resposta [...] Depois da tradução, outras questões mais
precisas, mais fáceis de delimitar e de estudar são substituídas pelas
precedentes. (CALLON, 2003, p. 62, tradução nossa, grifo nosso).

Após formular o problema e trazer o material de análise para dentro do laboratório,


os(as) cientistas precisam fazer com que esse material “fale”, ou melhor, precisam fazer com
que esse material “escreva”. No entanto, como amostras de sangue não falam nem escrevem
por si só, eles(as) precisam recorrer a uma série de instrumentos para auxiliar esse processo,
como reagentes químicos, microscópios, computadores, imagens tridimensionais etc. Esses
dispositivos tornam visível aquilo que até então era invisível e permitem que o(a)
pesquisador(a) fabrique inscrições27, como artigos científicos, gráficos e relatórios.
Ao escrever artigos sobre as falhas genéticas que causam a amiotrofia espinhal
infantil, o(a) pesquisador(a) se torna uma espécie de “porta-voz” do gene: é ele(a) quem diz
qual é o gene defeituoso, onde está localizado, quais são as suas características etc. Mas se o
que ele(a) diz difere do diz seu(ua) colega, uma controvérsia científica é estabelecida.

O que é importante nessa maneira de conceber o trabalho do laboratório é a


existência desse coletivo, composto de instrumentos, de pesquisadores, de
técnicos, de bibliotecas, de artigos científicos que passam de mão em mão.
Esse coletivo é orientado para a produção, difusão, acumulação de inscrições
e de traços produzidos pelas entidades que são colocadas em questão. O
conhecimento é certificado a partir do momento em que ninguém mais é
capaz de levantar objeções inesperadas e suscitadas por essas entidades do
laboratório. (CALLON, 2003, p. 65, tradução nossa).

Uma vez que esse conhecimento (e esse gene) foi produzido28, é preciso devolvê-lo ao
grande mundo. Esse é um processo delicado, pois o que foi produzido dentro das quatro
paredes do laboratório, muitas vezes, se comporta de maneira diferente quando volta para o
“exterior”. Quando cientistas testam uma nova droga, o fazem tentando controlar o máximo
de variáveis possível: as “cobaias” devem, por exemplo, receber as doses da droga em
intervalos regulares, não devem tomar outros medicamentos, o ambiente do laboratório não
pode estar contaminado etc. Mas, no grande mundo, as coisas não são necessariamente assim:

27
Os dispositivos de inscrição (ou móveis imutáveis) são as transformações que materializam uma determinada
entidade em um signo, um texto, um arquivo, um documento, um traço (LATOUR, 2001).
28
Ao dizermos que o gene foi produzido, não estamos sugerindo que os pacientes que sofrem de amiotrofia
espinhal infantil nascem sem carga genética alguma, ou que o gene defeituoso passa a existir apenas após sua
descoberta. Não estamos sendo nominalistas radicais, estamos apenas sugerindo que, antes de sua identificação e
localização, esses genes agiam de modo diferente. Antes das pesquisas científicas, os genes já estavam lá, mas
estavam em outra forma, em outro estado, de modo clandestino e com identidades diferentes. “Um gene que
ainda não foi localizado e identificado não é o mesmo gene que aquele que foi isolado em um laboratório; o
segundo fará coisas, poderá participar das ações e dos projetos que eram proibidos ao primeiro.” (CALLON,
2003, p. 68, tradução nossa).
32

as pessoas estão expostas a uma série de micróbios, se esquecem de tomar os comprimidos


nos horários determinados, se automedicam...
De acordo com Callon (2003), uma das estratégias utilizadas por cientistas para fazer
com que suas descobertas sobrevivam no grande mundo é tentar torná-lo o mais parecido
possível com laboratório. É “laboratorizar” a sociedade. Assim, para curar uma doença
genética, um serviço clínico deve se transformar progressivamente em um apêndice dos
laboratórios onde cientistas aprenderam a isolar e a estudar o funcionamento dos genes.

Ele [o grande mundo] se torna uma extensão do laboratório. De modo geral,


todos os trabalhos sobre difusão de conhecimento e inovações mostram que
as descobertas não são difundidas espontaneamente na sociedade, seu
transporte necessita muita energia e não obtém sucesso a não ser que seja
construída uma adequação entre seu conteúdo e seu contexto de aplicação ou
utilização. (CALLON, 2003, p. 67, tradução nossa).

Depois das três traduções, temos, portanto, algo que se assemelha – mas não equivale
– ao mundo que existia antes do experimento. Esse “novo mundo” permanece ligado ao
antigo, mas é um pouco mais do ele. De acordo com Callon (2003), a força do laboratório está
no fato de ele estar, ao mesmo tempo, distante e próximo; exterior e vinculado; dentro e fora.
Para usar uma expressão militar, está no fato de ele ser um “ponto de passagem obrigatório”:
quem quiser curar seus doentes, terá, necessariamente, de passar pelo laboratório.
Assim, as traduções envolvem contínuos deslocamentos de objetivos, de interesses, de
pessoas, de aliados, de dispositivos de inscrição, fazendo com que todos os atores envolvidos
nesse processo sejam resultados de metamorfoses e transformações (CALLON, 1986). Neste
sentido, tal como indica o ditado italiano traduttore-traditore, tradução é traição – e não um
mero reflexo, uma imitação, uma representação fiel da “realidade” (LAW, 1997, CALLON,
1986). Tradução é, também, verbo: é um processo de padronização, de orquestração social, de
ordenamento, de resistência. Em outras palavras, é o processo por meio do qual atores
mobilizam, justapõem e mantém unidos os elementos que os constituem (LAW, 1992).
Callon (2003) descreve três movimentos de tradução que frequentemente ocorrem no
meio científico. No entanto, não podemos generalizá-los para todos os tipos de associações.
Afinal, como nos recorda Law (1992), as traduções são sempre contingentes, locais e
variáveis, portanto só podem ser descritas por meio de trabalho empírico. No entanto,
algumas estratégias de tradução parecem ser mais utilizadas para ordenar o mundo: a primeira
delas é o aumento da durabilidade de uma relação por meio da incorporação de materiais
duráveis, tais como textos e edifícios (LAW, 1992). Se, por exemplo, Darwin não tivesse
publicado “A Origem das Espécies” (1859/2002), dificilmente suas ideias teriam permanecido
33

no tempo. O autor teve de traduzir a relação entre o navio MS Beagle, os tentilhões de


Galápagos, abelhas construtoras, tartarugas gigantes, fósseis, evolução, seleção natural das
espécies etc., em inscrições em páginas de um livro, e, ao fazer, isso, permitiu que essa
relação permanecesse por mais de cento e cinquenta anos. Contudo, segundo Law (1992), não
podemos nos esquecer de que a durabilidade é um efeito relativo, e não um atributo natural.
Afinal,

se materiais se comportam de maneiras duráveis, isto é também um efeito


interativo. Paredes podem resistir a tentativas de fuga de prisioneiros – mas
somente enquanto houver também guardas na prisão. Dito de outro modo,
formas de material durável podem achar outros usos: seus efeitos mudam
quando são postas em novas redes de relações. Em resumo, o argumento
sobre durabilidade é atrativo e tem muito mérito – mas precisa ser usado
com cuidado. (LAW, 1992, p. 6, tradução nossa).

Durabilidade refere-se a um ordenamento no tempo, enquanto que mobilidade29


refere-se a um ordenamento no espaço que permite com que atores ajam à distância. Um
bom exemplo da importância da tradução para tornar fatos científicos móveis e duráveis é
dado por Latour (2001) ao descrever a expedição científica que acompanhou na Amazônia.
Um dos pesquisadores que compunham essa expedição era um pedologista e,
consequentemente, sua função era estudar o processo de formação do solo. Para que sua
pesquisa não existisse somente no momento e no local em que aquele grupo estava reunido,
esse pesquisador teve de traduzir esse solo, ou seja, teve de transformá-lo em amostras
armazenadas e classificadas em um “pedocomparador”30, passiveis de serem transportadas e
analisadas em um laboratório. Além disso, para que esse solo pudesse ir ainda mais longe, ele
teve de criar dispositivos de inscrição, como digramas, gráficos e relatórios científicos.
Assim, diferentemente do solo “em si”, o solo traduzido possuía significado e podia ser
analisado, estudado, conhecido e debatido em laboratórios de pedologia de todo o mundo.
Podia durar no tempo e no espaço31.
No entanto, tal como nos alerta Law (1998), essa é uma duração que, paradoxalmente,
está condenada a não durar, afinal, todo efeito é incerto, inacabado, condenado a ser,

29
Law (1998) utiliza o termo “mobilidade” (mobility) para se referir àquilo que Callon (1986) chama de
“mobilização” (mobilization).
30
Segundo Latour (2001), pedocomparador é um instrumento composto de vários cubos de papel agrupados por
uma moldura de madeira, no qual cada cubo armazena uma amostra de solo. Esse instrumento permite tanto
transportar as amostras quanto lhes atribuir significado, uma vez que cada cubo é codificado de uma determinada
maneira.
31
Law (1992) nos chama a atenção para o fato de que, assim como a durabilidade, a mobilidade também é
relativa. Afinal as dicotomias centro/periferia, aqui/ali, longe/perto não passam de efeitos, de resultados de
relações entre atores heterogêneos.
34

continuamente, traduzido, modificado – inclusive quando é bem sucedido em seus objetivos.


Em outras palavras,

em qualquer momento surge esse ângulo ínfimo que altera um estado de


coisas e o transforma em algo diferente, o traduz. Esse ângulo é inevitável,
dado que pode aparecer da mera justaposição com outras entidades, da
conexão fortuita com algum elemento, da inclusão na rede de uma nova
entidade que forçará irremissivelmente a reorganização, a tradução, de toda a
rede, de suas entidades e significados. Por isso, a tradução é um contínuo
fluir [...]. (DOMÈNECH; TIRADO, 1998, p. 28, tradução nossa).

Portanto, o solo que cientistas debatem em um congresso na Suíça não é exatamente o


mesmo que está na Amazônia ou no diagrama desenhado pelo pedólogo que o coletou. Ele foi
retraduzido e reassociado na medida em que novos atores, humanos e não humanos, entraram
em cena. Em outras palavras, ele não foi transportado por aquilo que Latour (1998b, 2008)
chama de intermediários fiéis; mas por uma série de mediadores que, durante o transporte,
fizeram com que se tornasse algo diferente do que era até então; mediadores que
transformaram esse solo em um ator híbrido, ao mesmo tempo natural e construído, humano e
não humano. Mediadores que o transformaram naquilo que Serres (1983, 1995a, 1995b)
chama de quase-sujeito ou quase-objeto32.

1.5 Mediação

Para Latour (1998b, 2001)33, a noção de mediação possui quatro significados: o


primeiro deles faz referência às metas, passos e intenções que podemos descrever quando
contamos uma história. Para exemplificar esse processo, o autor nos fala sobre o debate
travado entre um grupo pró-desarmamento e uma associação de atiradores (Associação
Nacional do Rifle – NRA). O primeiro grupo argumenta que as armas de fogo matam as
pessoas, enquanto que a NRA sustenta que as responsáveis pela morte são as próprias
pessoas, e não as armas. Um argumento é, segundo o autor, materialista, na medida em que

32
Quase-sujeito e quase-objeto são conceitos que, segundo Tirado e Mora (2004, p. 143, 144, tradução nossa), se
referem a um tipo de posição híbrida; a algo que não é precisamente um sujeito nem um objeto, mas é algo.
Afinal, “[...] sua ação tem efeitos, marca coisas, as marca como sujeitos ou objetos. Não sabemos, no entanto, se
são seres ou relações. Sabemos somente duas coisas. Em primeiro lugar, que são uma posição ou momento entre
o sujeito e o objeto, entre a relação e a mônada. Indicam uma posição intermediária. Em segundo lugar que,
assim como um vetor, podem ter ou apresentar uma direcionalidade de acordo com o momento em que são
descritos: em direção ao sujeito, quase-sujeito, em direção ao objeto, quase-objeto.”
33
Nesses textos, o autor cita exemplos de mediação técnica, contrapondo-se ao modo em que Heidegger aborda
o assunto. Latour (1998b, 2001) acusa o filósofo alemão de transformar a tecnologia em um “monstro”, ao
defender que ela é onipresente, insuperável, superior, única e impossível de ser dominada.
35

propõe que o que faz com que armas de fogo atuem são seus componentes materiais, e não as
características sociais de quem as maneja; o outro é sociológico, pois considera que a arma
não faz nada por si mesma, que ela é apenas um instrumento, um meio, um transmissor neutro
da vontade humana que não acrescenta nada à ação.
Mas para Latour (1998b, 2001), a responsabilidade da ação não recai na arma nem em
seu portador, mas em uma terceira entidade: em um cidadão-pistola ou em uma pistola-
cidadão. Nas suas palavras,

se te defino pelo que tens (a arma), e pela série de associações que participas
quando usas o que tens (quando disparas a arma), então és modificado pela
arma – em maior ou menor grau, dependendo do peso das outras associações
que acarretas. Esta tradução é completamente simétrica. És diferente com
uma arma na mão; a arma é diferente contigo a segurando. [...] A arma já
não é a arma-no-arsenal ou a arma-na-gaveta ou a arma-no-bolso, mas a
arma-em-tua-mão apontando para alguém que grita. [...] O bom cidadão se
converte em um criminoso, um garoto mau se converte em um garoto pior,
uma arma calada se converte em uma arma disparada, uma arma nova se
converte em uma arma usada, uma arma esportiva se converte em uma arma
de fogo. O idêntico erro de materialistas e sociólogos é partir das essências,
as dos sujeitos ou as dos objetos. Esse ponto de partida faz com que seja
impossível medirmos o papel mediador das técnicas. (LATOUR, 1998b, p.
254, tradução nossa).

A arma modifica seu portador, ao mesmo tempo em que ele modifica a arma. Desse
modo, a responsabilidade por uma ação (como a de atirar em alguém) deve ser compartilhada
entre os diferentes actantes nela envolvidos. Essa interferência é o primeiro significado de
mediação.
Assim como os membros da NRA e os militantes pró-desarmamento, na linguagem
cotidiana, frequentemente nos referimos às nossas ações destacando o protagonismo de
apenas um ator. Dizemos, por exemplo, que voamos de uma cidade a outra, mas, obviamente,
não somos nós que voamos, tampouco são os aviões. Segundo Latour (1998b, 2001), são as
companhias aéreas que voam, afinal, voar é uma propriedade da associação de diversos
elementos heterogêneos, que inclui aeroportos, passagens, controladores aéreos, guichês de
check in, pistas de decolagem etc. Sendo assim, o segundo sentido de mediação proposto pelo
autor refere-se ao fato de a ação não ser uma propriedade dos humanos, mas uma decorrência
da associação entre actantes. Em suas palavras: os papéis “atoriais” provisórios podem ser
atribuídos aos actantes somente porque esses últimos “[...] se encontram em um processo de
intercâmbio de competências, oferecendo uns aos outros novas possibilidades, novas metas,
36

novas funções. Sendo assim, a simetria vale tanto no caso da fabricação como no do uso.”
(LATOUR, 1998b, p. 257, tradução nossa).
De acordo com o autor, nossa dificuldade em medir o papel mediador das técnicas
reside, sobretudo, no fato de as ações que tentamos qualificar estarem “caixanegrizadas”, ou
seja, estarem sujeitas a um processo que torna opaca a produção conjunta dos atores e dos
artefatos. Quando pensamos, por exemplo, em um avião, dificilmente nos lembramos dos
inúmeros (e complexos) mediadores que possibilitaram sua construção e que, hoje, permitem
seu funcionamento. Agrupamos sob o rótulo “avião” engenheiros(as), pilotos, fórmulas
matemáticas, motores, incentivos públicos, interesses comerciais, comissários(as) de bordo,
acordos internacionais, combustíveis etc. Essa dobra no tempo e no espaço provocada pela
“caixanegrização” é o terceiro sentido de mediação proposto por Latour (1998b, 2001).
A quarta definição é, segundo o autor, a mais importante, uma vez que subsume as
outras três. Sua proposição central é que os processos de mediação atravessam os limites entre
os signos e as coisas e, para exemplificá-la, Latour (1998b, 2001) nos conta o exemplo de um
quebra-molas. Na maioria dos casos, esse artefato tecnológico é eficaz para diminuir o
número de acidentes de trânsito, no entanto sua eficácia não é, necessariamente, uma
decorrência desse propósito. Afinal, muitas vezes, a meta inicial do condutor é traduzida: de
“reduza a velocidade para proteger os pedestres”, passa a ser “dirija devagar para proteger a
suspensão do seu carro”.
A transformação de condutores imprudentes em condutores disciplinados depende,
também, de outra tradução: ao invés de placas de sinalização e advertências, usa-se cimento e
asfalto. Para falar desse processo, temos de usar uma noção de tradução que seja capaz de não
somente absorver uma mudança na definição das metas e das funções, mas que possa,
também, gerar uma mudança no próprio fundo daquilo que se expressa. Afinal, o programa de
ação dos engenheiros – “conseguir que os condutores reduzam a velocidade no campus” – se
articula agora com o cimento (LATOUR, 1998b). Para Latour, a melhor palavra para
expressar essa articulação não é “objetivar”, “realizar”, “materializar”, “reificar” ou “gravar”,
pois todas essas palavras remetem a um agente humano “todo-poderoso” que impõe sua
vontade à matéria informe – e os não humanos também atuam, deslocam metas e contribuem
para sua redefinição.

Em nosso exemplo, não somente ocorreu um deslocamento de um


significado a outro, mas uma ação (fazer cumprir o limite de velocidade) foi
traduzida a outro tipo de expressão. O programa dos engenheiros foi inscrito
no cimento e, ao considerar essa translação, saímos da relativa comodidade
37

da metáfora linguística para adentrar-nos em um terreno desconhecido. Não


abandonamos as relações humanas com sentido para adentrar-nos em um
mundo de relações materiais brutas [...]. A translação não foi do discurso à
matéria, já que, para os engenheiros, o quebra-molas é uma articulação
significativa dentro de uma gama de possibilidades dentre as quais escolhem
tão livremente como se escolhe o vocabulário na linguagem. Portanto,
permanecemos no significado, mas já não no discurso; ainda que não
residamos entre meros objetos. (LATOUR, 1998b, p. 262, tradução nossa,
grifo do autor).

Fernanda Bruno (2010, p. 11), de certo modo, resume os quatro sentidos de mediação
propostos por Latour (2001, 1998b) ao dizer que essa expressão refere-se ao “[...] processo de
criação de elos entre dois agentes constituindo um composto híbrido que não existia antes e
que desloca os objetivos, funções e intenções previamente estabelecidos.” Sendo assim, nas
pesquisas que seguem os caminhos da TAR, a ação é entendida como

[...] uma propriedade de entidades associadas, de cadeias compostas de


humanos e de não humanos onde cada ponto deve ser considerado uma
mediação e onde cada agente ou ator, humano ou não humano, é um
mediador que jamais pode ser inteiramente causa nem conseqüência de seus
associados. Um mediador não é uma causa, nem um efeito ou um mero
intermediário entre dois pólos definidos de antemão. Ele é um operador de
diferenças, de desvios, de deslocamentos que redefine os termos postos em
relação [...]. (BRUNO, 2010, p. 11).

Para Latour (2008), esse enfoque dado a mediadores que traduzem – e não a
intermediários que reproduzem – relações constitui a principal divergência entre a Sociologia
proposta pela TAR e correntes mais tradicionais, tal como a durkheiniana.

1.6 Sociologia das Associações e Sociologia do Social

No livro Reensemblar lo Social, Latour (2008) argumenta que, ao invés de tomarmos


o social como um domínio ou como o tipo de material que compõe determinados fenômenos
– como faz a sociologia tradicional –, devemos questionar o projeto de dar uma “explicação
social” a algum estado de coisas e resgatar o significado original do termo – que,
etimologicamente, está mais próximo de associações do que de vínculos sociais –, pois,
somente assim, podemos resgatar sua capacidade de rastrear conexões. A partir desse
questionamento, o autor distingue a Sociologia tradicional, que ele chama de “Sociologia do
Social”, da proposta pelos estudiosos da TAR, a “Sociologia das Associações”.
A despeito de apresentar uma proposta bastante diferente, Latour (2008) não
desconsidera a relevância da Sociologia do Social. Pelo contrário, afirma que ela é
38

indispensável para a compreensão da maioria das situações, uma vez que oferece uma
conveniente taquigrafia para designar fenômenos relativamente estáveis e já aceitos pelo
coletivo (tais como distribuição de renda, emissão de CO2, divisões territoriais etc.).
Entretanto, sustenta que, em situações em que são incertas as fronteiras entre grupos e em que
há uma grande variedade de entidades a considerar, ela não é capaz de rastrear as novas
associações. Sendo assim,

é preciso substituir a conveniente taquigrafia do social pela dolorosa e


custosa escrita não taquigráfica das associações. Em consequência disso, os
deveres do cientista social mudam: já não é suficiente limitar aos atores o
papel de informantes [...]. Há que restituí-los de sua capacidade de criar
suas próprias teorias acerca do que compõe o social. A tarefa não é mais
impor alguma ordem, limitar a variedade de entidades aceitáveis, ensinar
aos atores o que são ou agregar certa reflexividade a sua prática cega. De
acordo com uma premissa da TAR, é preciso „seguir os próprios atores‟, ou
seja, tratar de colocar-se em dia com suas inovações frequentemente
insensatas, para aprender com elas no que se converteu a existência
coletiva na mão de seus atores, que métodos foram adotados para fazer
com que tudo se encaixasse, que descrições poderiam definir melhor as
novas associações que se viram obrigados a fazer. Se a sociologia do social
funciona bem com o que havia sido agregado, não funciona tão bem
quando se trata de fazer uma nova recompilação dos participantes no que
não é – ainda – uma espécie de domínio social. (LATOUR, 2008, p. 27, 28,
tradução nossa).

É importante destacarmos que essas duas formas diferentes de Sociologia não são
novas, elas existem desde Gabriel Tarde e Émile Durkheim. O primeiro acusava o segundo de
ter abandonado a tarefa de explicar a sociedade, confundindo causa e efeito, substituindo a
compreensão do vínculo social por um projeto político que apontava para a engenharia do
social. Para Tarde, o social não era um domínio especial da realidade, mas um princípio de
conexões, sendo assim, não havia motivo para separar “o social” de outras associações (como
os organismos biológicos ou os átomos). Além disso, considerava o social como um fluído
circulante que devia adotar novos métodos e não constituir um organismo novo34.
Uma das principais divergências entre as duas formas de pensamento reside no fato de
a Sociologia do Social considerar que existe um contexto social em que se dão as atividades
não sociais e este contexto pode ser usado para explicar as causas de fenômenos residuais que

34
Apesar de não aceitar todas as expressões idiossincráticas de Tarde, Latour (2008) afirma que o autor,
juntamente com Harold Garfinkel, foi um dos principais predecessores da TAR, afinal, “as duas tradições podem
reconciliar-se facilmente, sendo a segunda simplesmente o recomeço da tarefa que a primeira acreditou estar
cumprida cedo demais. Os fatores reunidos no passado sob a etiqueta “domínio social” são simplesmente alguns
dos elementos a serem reunidos no futuro naquilo que chamarei não uma sociedade mas um coletivo.” (p. 30,
grifo do autor, tradução nossa).
39

outros domínios do saber (tais como a Psicologia, o Direito, a Economia e a Linguística) não
conseguem explicar completamente; enquanto que a Sociologia das Associações sustenta que
tal contexto não existe – afinal, seguindo o princípio da simetria generalizada, não devemos
tratar de formas distintas “a natureza” e “a sociedade”, o “texto” e o “contexto”. Além disso,
nesta “teoria”, os fenômenos residuais não podem ser explicados por forças sociais. São as
agregações sociais que devem ser explicadas pelas associações específicas formadas pela
Psicologia, Economia, Linguística, Direito etc.
Entretanto, dizer que não existe um contexto não significa dizer que nossas ações
sejam totalmente autônomas. Muito pelo contrário, se pensarmos, por exemplo, no caso de
um “jovem em conflito com a lei”, poderíamos dizer que algumas correntes da Sociologia e
da Psicologia Social35 atribuiriam suas infrações ao contexto ou ao ambiente (promíscuo e
desregrado) em que ele está inserido. Ou seja, diriam, por exemplo, que tal jovem cometeu o
crime por que vive em uma favela, onde não tem uma estrutura familiar e educacional
adequada. Nessa perspectiva, o contexto é dado como algo pronto, inquestionável, como se
fosse um domínio da realidade capaz de explicar por que esse jovem age de uma determinada
maneira e não de outra. Já nos trabalhos da TAR, tal domínio não existe. Entretanto, existem
atores que nos fazem fazer coisas: o olho roxo da mãe, a escola, a rua, os amigos, a fome, as
drogas, o tênis Nike de R$500 e o traficante são considerados parte da rede de relações desse
jovem, ou seja, essas materialidades e pessoalidades afetam o jovem ao mesmo tempo em que
seriam afetadas por ele.
Como dissemos anteriormente, afetar não significa causar ou controlar totalmente uma
ação, sendo assim, não devemos fazer confluir todas as forças que se apoderam da ação em
algum tipo de agência – como contexto, sociedade, cultura, campo, estrutura etc. – que seria
social.

35
Sobretudo as correntes mais tradicionais, nas quais a ideia de contexto aproxima-se da noção de fato social –
entendendo por fatos sociais as realidades em si, que independem de consciências individuais e que são dotadas
de uma força imperativa e coercitiva, em virtude da qual se impõem (DURKHEIM, 1974/1993). De acordo com
Nielsen (2007), a noção de fato social é comumente associada à Durkheim e a sua escola, no entanto, “outras
teorias sociais além da órbita durkheiniana, também enfatizaram o papel das condições sociais objetivas ou dos
fatos sociais. Teóricos sociais marxistas enfocaram os modos por meio dos quais forças e relações sociais de
produção confrontam indivíduos enquanto condições objetivas de existência. Marx argumentou que indivíduos
fazem a história, mas o fazem sob condições que independem de sua própria vontade. Para Marx, a existência
social determina a consciência. Indivíduos são primeiramente vistos como representantes de classes sociais ou
personificações de forças econômicas objetivas.” (p. 4415, tradução nossa). Segundo Nielsen, além do
marxismo, outras teorias também compartilham essa ideia de realidade objetiva que influencia nossos
comportamentos, tais como a de Talcott Parsons, Kingsley Davis, Wilbert Moore, Robert K. Merton, Levi-
Strauss, entre outros.
40

A ação deve seguir sendo uma surpresa, uma mediação, um evento. É por
esse motivo que aqui novamente devemos começar, não pela „determinação
da ação pela sociedade‟, „as capacidades calculadoras dos indivíduos‟ ou „o
poder do inconsciente‟ como faríamos comumente, mas sim pela
subdeterminação da ação, as incertezas e controvérsias a respeito do que
atua quando “nós” atuamos, é claro que não há maneira de dizer se essa
fonte de incerteza reside no analista ou no ator. (LATOUR, 2008, p. 72,
tradução nossa, grifo do autor).

Entretanto, o fato de não sabermos ao certo qual é a origem de uma ação não significa
que devemos sair à procura de um impulso social oculto ou de um inconsciente que a
explique. Pelo contrário, devemos buscar identificar todos os rastros que manifestam as
incertezas dos próprios atores a respeito dos “impulsos” que os fazem atuar. Sendo assim, a
sociedade não explica nossas ações – ela é apenas “[...] um dos muitos elementos de conexão
que circulam dentro de canais diminutos.” (LATOUR, 2008, p. 18, tradução nossa). Além
disso, o social não é o cimento da sociedade, mas sim aquilo que está cimentado, colado por
muitos outros conectores; e o papel do cientista social é o de rastrear essas associações.
Neste significado do adjetivo, social é “[...] um tipo de relação entre coisas que não
são sociais em si mesmas.” (LATOUR, 2008, p. 19, tradução nossa, grifo do autor). Ou seja,
não é um domínio da realidade ou algum artigo em particular, pelo contrário, é um
movimento, uma transformação, um deslocamento, uma tradução. Em outras palavras, social
é o nome de um tipo de associação momentânea que se caracteriza pela maneira em que
reúnem e geram novas formas36.
Para melhor explicar as diferenças entre essas duas definições de social, Latour (2008)
afirma que, se os sociólogos tradicionais tivessem de organizar um supermercado imaginário,
eles colocariam todos os “vínculos sociais” em uma prateleira e as conexões “materiais”,
“biológicas”, “psicológicas” e “econômicas” seriam dispostas em outros corredores. Um(a)
analista da TAR, por sua vez, não chamaria de social uma estante ou corredor específico, mas
sim as várias modificações na organização das mercadorias (sua etiquetação, seu
empacotamento, a definição de seu seus preços etc.), pois essas trocas mínimas permitem que

36
Neste ponto, a Sociologia das Associações aproxima-se da Etnometodologia. Afinal, nesta teoria, a ordem
social também não é algo dado, mas o resultado de uma prática contínua em que atores, ao interagirem, elaboram
regras ad hoc para coordenar suas atividades. No entanto, segundo Latour (1998b), a Etnometodologia considera
que “tudo depende das interações locais e práticas em que estamos implicados nesse momento” (p. 279, tradução
nossa), ao passo que, para o autor, não existe tal coisa como a interação local e absoluta. Em suas palavras:
“nenhuma relação humana existe em um marco homogêneo no que se refere ao espaço, ao tempo e aos actantes.
[...] A sociedade é o resultado de uma construção local, mas não estamos somente no lugar da construção, já que
ali também mobilizamos muitos não humanos por meio dos quais foi possível reconstruir a ordem do espaço e
do tempo.” (p. 280, 281, tradução nossa).
41

o observador veja que novas combinações estão sendo exploradas e quais caminhos foram
tomados.
Além de definir o social como um movimento, uma transformação, a TAR utiliza uma
definição performativa de agrupamentos sociais. Enquanto que para a Sociologia do Social os
grupos são dotados de certa inércia, já que a regra é a ordem e as exceções são a
decomposição, a criação e a mudança, para a TAR, os agrupamentos são mantidos somente
quando há esforço de formação de grupo, ou seja, se deixam de fazer e refazer os grupos, eles
deixam de existir. Nesse caso, a regra é a atuação e o que deve ser explicado é a exceção, ou
seja, qualquer tipo de estabilidade em longo prazo e em escala maior. O que é pano de fundo
para uma é foco para outra.
Sendo assim, na proposta latouriana, não existe nenhuma sociedade nem reserva de
vínculos, nem frasco de cola que mantém grupos unidos. Se, por exemplo, deixamos de
publicar livros e artigos sobre Psicologia Social e se extinguimos todos os seus cursos, seus
programas de pós-graduação, seus congressos e seminários, essa área do conhecimento deixa
de existir. Ela precisa ser atuada, performada – ou, como diria Annemarie Mol (2002),
enacted – para que continue existindo.
Além de definir os vínculos sociais de forma ostensiva (ou seja, não performativa), a
Sociologia do Social não considera o ponto de partida da análise como crucial. Para essa
corrente, existe um mundo social pré-determinado, sendo assim, um(a) pesquisador(a) pode
destacar as classes ao invés de indivíduos, as nações ao invés de classes, as trajetórias
pessoais ao invés de papéis sociais ou as redes sociais ao invés das organizações e,
independentemente do caminho escolhido, chegará ao mesmo lugar. Isso se dá pois esses
caminhos são apenas formas arbitrárias de olhar para o mesmo fenômeno. Já para os autores e
autoras da TAR, nem o social nem a sociedade estão dados a priori: é preciso recorrer às
mudanças sutis produzidas ao conectar recursos não sociais. Dessa forma, cada ponto de
partida levará a uma análise diferente. Em outras palavras, a primeira corrente considera que
“a sociedade está sempre ali, colocando todo seu peso em qualquer veículo que possa levá-la;
no segundo enfoque, os vínculos sociais têm que ser rastreados seguindo a circulação de
distintos veículos que não podem substituir-se entre si.” (LATOUR, 2008, p. 59, tradução
nossa, grifo do autor).
Sendo assim, nesta tese, partimos do pressuposto de que a palavra social não pode
substituir coisa alguma e nem é a medida comum de todas as coisas. Ela refere-se somente a
um movimento que pode ser apreendido indiretamente quando há uma pequena mudança em
uma associação mais antiga que se transforma em uma ligeiramente mais nova ou diferente. O
42

social é, aqui, um fluido visível somente quando novas associações são criadas. Ou seja, ele é
como nossos sentidos: se segurarmos um objeto por muito tempo, sem nos mexermos,
deixaremos de percebê-lo e de senti-lo; assim como se não há associações novas, não há
maneira de sentir que se está fazendo algo. Para renovar a sensibilidade às relações sociais,
não devemos procurar “[...] manter unidos com a maior firmeza possível, o maior tempo
possível, elementos que [...] estão feitos de uma matéria homogênea.” (LATOUR, 2008, p.
228, tradução nossa) – como fazem os sociólogos e sociólogas do social. Devemos, ao invés
disso, tratar de investigar as controvérsias “[...] sobre a variedade de elementos heterogêneos
que podem estar associados. Em um caso, temos uma ideia aproximada do que está feito o
mundo social, está feito „de‟ ou „com‟ o social; no outro, devemos sempre começar por não
saber do que está feito.” (LATOUR, 2008, p. 228, tradução nossa, grifo do autor).
Em outras palavras, na Sociologia tradicional, o social explica o social; enquanto que,
em uma pesquisa da TAR, é preciso detectar as associações que precisam ser constantemente
reorganizadas para que se possa reunir novamente um coletivo37 que se vê ameaçado pela
irrelevância. A primeira busca percorrer o espaço que vai dos sujeitos às estruturas sociais; já
a segunda busca atravessar espaços que não estão nem no indivíduo, nem na sociedade, mas
que estão nas transformações, nos movimentos – sendo que esses movimentos dependem da
natureza dos vínculos e da capacidade que lhes atribuímos de fazer ou não existir os sujeitos
vinculados. Sendo assim, às ciências voltadas para as liberdades ou determinações, se opõem
às ciências dos fe(i)tiches38, dos meios, das mediações, dos bons e dos maus vínculos
(LATOUR, 2000a).

A maior diferença entre os dois programas de pesquisa está no fato de que os


primeiros acreditam ter que se posicionar acerca da questão do indivíduo e
da sociedade, enquanto que os segundos curto-circuitam inteiramente essas
figuras, demasiadamente generalistas, e não se vinculam a nada além das
especificidades das coisas em si mesmas que sozinhas se tornam fontes de
ação [...]. (LATOUR, 2000a, p. 7, grifo do autor, tradução nossa).

Mas qual poderia ser a contribuição desta Sociologia “curto-circuitadora” para a


Psicologia Social? Será que poderíamos pensar não em uma Psicologia Social, mas em uma
Psicologia das Associações? Que Psicologia seria esta? Seria, sem dúvida, uma Psicologia dos

37
Latour (1998b, 2008) sugere a substituição da viciada palavra “sociedade” pelo termo “coletivo” – definido
pelo autor como um intercambio de propriedades humanas e não humanas em um corpo coorporativo.
38
Fe(i)tiche é a tradução feita por leitores brasileiros da TAR para o trocadilho “fa(i)tiche”, criado por Latour e
usado em diversos textos, principalmente no “Culto Moderno dos Deuses Fe(i)tiches” (LATOUR, 2002). Esse
trocadilho refere-se a algo que é ao mesmo tempo um fato (fait) e um fetiche (fétiche), ou seja, que é real ao
mesmo tempo em que é produzido por nós.
43

humanos e dos não humanos. Uma Psicologia do analista, do cliente/paciente, do divã, da


prateleira, dos livros, do relógio, das lágrimas... Enfim, seria uma Psicologia que não busca
entender o “homem” inserido em uma sociedade, e sim seguir os processos de fabricação dos
homens, mulheres e objetos. Uma Psicologia que considera que os não humanos têm agência
e produzem efeitos no mundo, modificando nossas ações, nossos processos de atribuição de
sentido, nossa cognição. Assim, essa nova proposta não abandonaria por completo a
Psicologia tradicional, mas a transformaria, permitindo pensá-la em suas possibilidades de
aliança com os não humanos.

Renunciar a psicologia construída até então seria percorrer os caminhos da


denúncia crítica. Portanto, despsicologizar aqui é pensar uma psicologia que
faz fazer numa singularidade que não pertence somente aos humanos, mas
também aos não-humanos. Dessa forma, as dicotomias estariam dando lugar
a um tecido inteiriço que produz efeitos, faz emergir os actantes em suas
trajetórias inusitadas. (TSALLIS et al., 2006, p. 83).

Nesta Psicologia, indivíduos e sociedades seriam tratados simetricamente. Sendo


assim, o social não precederia o indivíduo, mas ambos negociariam sua coprodução, explicar-
se-iam mutuamente. Nesta Psicologia, nem mesmo sentimentos tão “íntimos” como o amor
poderiam ser explicados somente a partir do que acontece por detrás da pele de indivíduos.
Afinal, nela, o amor não seria uma instância interna, que emerge da interioridade de um
jovem apaixonado, mas algo aprendido, fabricado – algo que fabricamos e que, ao mesmo
tempo, nos fabrica. Seria algo que aprendemos lendo romances, assistindo a telenovelas, indo
ao cinema, lendo revistas, conversando com amigos etc.; seria algo que faz, em certa medida,
sermos quem somos (ARENDT, 2010). Assim como não existiriam aspectos puramente
individuais ou psíquicos, nesta psicologia também não existiriam fatores puramente sociais.
Nossos comportamentos e nossas ações seriam, portanto, resultados de associações, de
mediações, de traduções. É justamente essa Psicologia que buscamos fazer nesta tese.
44
45

CAPÍTULO 2
A NOÇÃO DE MULTIPLICIDADE: DEFINIÇÃO E
IMPLICAÇÕES
46

Os métodos de pesquisa que aprendemos em mais de um século de Ciências Sociais


tendem a sustentar que o mundo pode ser adequadamente compreendido como um conjunto
de processos específicos, determinados e mais ou menos identificáveis, cabendo às Ciências
Sociais descobrir o que há de mais importante nesses processos No entanto, para Law (2008),
a tarefa das Ciências Sociais – e aqui poderíamos incluir a Psicologia Social – é outra: é
imaginar métodos que não mais procuram o definido, o repetível, o mais ou menos estável.
Em suas palavras, é imaginar um caleidoscópio de impressões e texturas que

[...] reflete e refrate um mundo que, de modo significativo, não pode ser
totalmente compreendido como um conjunto específico de fenômenos
determinados. Este é o ponto crucial: o que é importante no mundo,
incluindo suas estruturas, não é simplesmente tecnicamente complexo. Ou
seja, eventos e processos não são simplesmente complexos no sentido de que
é tecnicamente difícil compreendê-los (apesar de, sem dúvida, este ser
frequentemente o caso). Ao invés disso, eles são complexos porque eles
necessariamente excedem nossa capacidade de conhecê-los. (LAW, 2008, p.
6, tradução nossa, grifo do autor).

O mundo, tal como propõe Law (2008), seria, assim, um fluxo – ao mesmo tempo
amorfo e generativo – de forças e relações. Ou seja, ele não seria uma estrutura, passível de
ser mapeada por meio dos gráficos e diagramas das Ciências Sociais; mas um turbilhão,
repleto de correntes, redemoinhos, vórtices, mudanças imprevisíveis, tempestades e
momentos de calmaria39.
Pensar a Psicologia Social brasileira a partir dessa proposta implicaria, assim, tratá-la
como algo que está em constante transformação, que está sempre sendo traduzido em novas
ontologias, novos saberes, novas formas de atuação. Algo que, às vezes, parece ser definido,
organizado e singular; e que em outros momentos (e em outros lugares) mostra ser algo
confuso, desorganizado e múltiplo.
Ao folhearmos, por exemplo, as primeiras páginas do clássico livro “Psicologia
Social”, de Aroldo Rodrigues (1972), provavelmente teremos a impressão de que, de fato, há
uma Psicologia Social brasileira. Afinal, ele afirma que “a Psicologia Social estuda as
manifestações comportamentais suscitadas pela interação de uma pessoa com outras pessoas,

39
A proposta metodológica de Law (2008) tem como principais antecedentes a Filosofia da Ciência, o
Romantismo Filosófico e o Pós-Estruturalismo. A partir dessas influências, o autor afirma querer livrar-se da
ideia moralista de que somente aqueles que usam métodos corretos levam uma vida de pesquisa saudável, ou
seja, ele busca livrar-se da ideia de que alguém pode descobrir verdades específicas com as quais toda pessoa
razoável pode, ao menos temporariamente, concordar. Além disso, ele busca desfazer-se daquilo que chama de
„singularidade‟: “a idéia de que de fato há conjuntos de processos definidos e determinados, conjuntos de
processos singulares, a serem descobertos somente se você leva uma vida de pesquisa saudável.” (p. 9, tradução
nossa). Também quer desfazer-se de uma ideia particular de política: a que diz que só tem relevância política os
trabalhos que abordam fenômenos determinados (como gênero, classe, etnia, entre outros).
47

ou pela mera expectativa de tal interação.” (p. 3, grifo nosso). No entanto, se pegarmos o
livro-texto escrito por Strey e colaboradores (1998/2007), perceberemos que a Psicologia
Social pode também ser outra coisa: uma área do conhecimento que se preocupa com a
relevância e a aplicabilidade do saber que produz e que busca responder às questões sociais
específicas do contexto brasileiro. Rodrigues (1972) fala de uma Psicologia Social, Strey e
colaboradores (2007) falam de outra. Ou seja, esses livros não se referem a perspectivas
diferentes sobre o mesmo objeto, mas a objetos diferentes.

2.1 Não perspectivismo

Tal como propõe Mol (1999, 2002), nesta tese, buscamos adotar uma postura não
perspectivista de nosso objeto de estudo. Sendo assim, não nos referimos à Psicologia Social
como um objeto singular e definido, que pode ser olhado, interpretado e analisado de diversos
ângulos e perspectivas, mas como algo que pode ser feito, construído e performado de
maneiras diferentes.
Para a autora, o perspectivismo teve o mérito de fugir da versão monopolista de
verdade, uma vez que admitia que diferentes saberes (“verdadeiros”) podiam ser construídos
acerca de um mesmo objeto. Em suas palavras, o perspectivismo “[...] multiplicou os olhares
dos observadores. Fez com que cada par de olhos olhando através de sua própria perspectiva
se tornasse uma alternativa a outros olhos.” (MOL, 1999, p. 76, tradução nossa). No entanto,
ele não multiplicou a realidade. O que fez foi criar uma versão “pluralista” do mundo,
admitindo a existência de diferentes perspectivas – que se excluíam mutuamente ou que
conviviam lado a lado – sem, contudo, multiplicar o objeto. Este, por sua vez, permanecia
somente olhado, “como se estivesse no meio de um círculo. Uma multidão de rostos
silenciosos agrupados em sua volta. Eles parecem conhecer o objeto por meio somente de
seus olhos. Talvez tenham ouvidos que ouvem. Mas ninguém nunca toca o objeto.” (MOL,
2002, p. 12, tradução nossa). Assim, podemos dizer que a principal crítica que a autora faz ao
perspectivismo é que ele enfoca as interpretações e não o objeto que está sendo interpretado:
em um mundo de significados, as palavras são relacionadas aos lugares em que são faladas e,
muitas vezes, o objeto sobre o qual falam acaba esquecido.

Para fugir do perspectivismo, Mol (2002) afirma que devemos colocar em primeiro
plano as materialidades, eventos e práticas que fazem um objeto. Em seu estudo sobre o
diagnóstico e tratamento de arteriosclerose em um hospital holandês (a que ela chama de
48

“Hospital Z”), a autora faz isso por meio de diferentes métodos: acompanha consultas e
exames clínicos, conversa com médicos e técnicos, lê textos acadêmicos, participa de
conferências sobre o tema, entrevista pacientes etc. Ou seja, ela percorre diferentes setores do
hospital, pois uma doença como a arteriosclerose não é feita por uma única pessoa, em um
único lugar. Afinal, para fazer um diagnóstico, não basta haver um médico, é preciso que haja
também um paciente disposto a colaborar com o médico, dizer onde dói, quando dói. É
preciso fazer exame clínico, medir pulsação, temperatura, oxigenação... Ou seja, diversas
pessoas e coisas possibilitam que eventos ocorram: palavras, papéis, salas, sistemas de saúde
etc. Há uma lista infindável de elementos heterogêneos que o pesquisador, dependendo de
seus objetivos, pode destacar ou deixar em segundo plano.

Um exemplo da importância dessa rede de materiais heterogêneos é dado por Mol


(2002) quando ela descreve a fala de um patologista residente ao analisar uma perna
amputada:

“Você vê, aquilo é uma veia, isso aqui, não é exatamente um círculo, mas
quase” [...] Ele moveu o ponteiro para o centro do círculo. “Aquilo é o
lúmen. Há células sanguíneas dentro dele, você vê. Isso só acontece quando
um lúmen é pequeno. Caso contrário, elas vão embora ao serem lavadas
durante a preparação. E aqui, em volta do lúmen, esta primeira camada de
células, isto é o intima. Está grosso. Oh, wow, não está grosso! [...] Veja.
Agora é sua arteriosclerose. Aqui está. Um espessamento do intima. Isso é
realmente o que ela é”. E então ele complementa, após uma pequena pausa:
“sob um microscópio”. (MOL, 2002, p.30, tradução nossa).

Ao dizer “sob um microscópio”, o patologista residente indica que o espessamento do


intima não existe por si só, ele existe somente através de um microscópio. Esse pequeno
complemento – provavelmente não intencional – poderia facilmente ser esquecido por outro
pesquisador que estivesse investigando a doença. Mas, na proposta de Mol (2002, p. 31,
tradução nossa), ele é fundamental: sua estratégia metodológica depende “[...] da arte de
nunca esquecer-se de microscópios. De persistentemente considerar sua relevância e sempre
incluí-los em histórias sobre fisicalidades.” Assim, as histórias que Mol conta em seu livro
são histórias sobre pessoas, instrumentos, instituições, documentos, pacientes, cirurgias,
artérias entupidas... São histórias sobre diagnósticos e tratamentos da arteriosclerose. São
histórias sobre práticas. Ela faz, portanto, uma praxiografia.
49

Nesta tese, buscamos seguir a proposta de Mol (1999, 2002) e focar as práticas que
fazem a Psicologia Social brasileira, sem esquecermo-nos de que essas práticas dependem de
uma série de elementos heterogêneos, tais como docentes, livros, programas de pós-
graduação, associações, diários de campo, laboratórios, famílias de desempregados, conceitos,
metodologias etc. Todos esses atores (e muitos outros) fazem a Psicologia Social em nosso
país.

2.2 Fazer, performar e enact

A despeito de usarmos o verbo “fazer” para se referir a esse processo, Mol (2002) nos
adverte que ele pode gerar certa confusão. Pode fazer crer que psicólogos(as) de fato
constroem a Psicologia Social, que eles(as) juntam materiais e que essa junção sai para o
mundo como se tivesse vida própria. A fim de evitar essa conotação, a autora prefere usar
uma metáfora teatral e falar em “performar”40 ao invés de “fazer” ou de “construir”41. Uma
das vantagens dessa metáfora é que ela dá a ideia de que pode existir (mas não
necessariamente) um “roteiro” para fazer Psicologia Social – mas o modo em que o roteiro é
encenado depende do local e do momento da encenação; em alguns casos, pode até mesmo
acontecer de os atores decidirem deixá-lo de lado e “improvisar”. Além disso, nessa metáfora,

40
A despeito Mol falar em performance (sobretudo em textos anteriores, como MOL, 1999; MOL, 1998; MOL,
BERG, 1998, entre outros), sua obra não constitui uma versão atualizada da sociologia dramatúrgica de Goffman
(1975). Afinal, de acordo com Law (2008), “Goffman distingue entre representações do eu de um lado, e de
outro, o eu [self] como uma realidade escondida e que produz essas representações. Mas isso é precisamente o
que Mol está tentando evitar. Seu argumento está muito mais próximo a escritos recentes da filosofia, sociologia
e história da performance que enfatizam a performatividade do enactment do que da proposta de Goffman.” (p.
56, tradução nossa, grifos do autor).
41
A palavra construção sugere que objetos não são previamente determinados e que suas identidades são
gradualmente construídas no decorrer da história. No entanto, segundo Mol (2002), este termo apresenta um
problema: pode sugerir que “durante suas infâncias instáveis, suas identidades tendem a ser altamente
contestadas, voláteis, abertas à transformação. Mas uma vez que crescem, os objetos são considerados estáveis.”
(p. 42, tradução nossa). Dito de outro modo: histórias que falam da construção de algo sugerem que as coisas
poderiam não ser como são, ou seja, sugerem que, no passado, várias realidades eram possíveis, mas uma acabou
prevalecendo. Desse modo, para a autora, assim como o perspectivismo, esta postura é pluralista – com a
diferença que desta vez a pluralidade é projetada no passado. Podem ter existido possibilidades diferentes, mas
essas possibilidades acabaram. “Os perdedores perderam.” (MOL 1999, p. 77, tradução nossa). A vantagem da
noção de enactment é que ela não possui essa conotação de estabilidade. Ao contrário, sugere que “como sujeitos
(humanos), objetos (naturais) são enquadrados como parte de eventos que ocorrem e peças que são encenadas.
Se um objeto é real é porque ele é parte de uma prática. É uma realidade enacted.” (MOL, 2002, p. 44, tradução
nossa). Temos de destacar que muitos autores que adotam uma postura construcionista (como, por exemplo,
GERGEN, 1985, IÑIGUEZ, 2003, SPINK, M. J., 1999, 2004) não partem da concepção de construção descrita
por Mol (1999, 2002), afinal consideram que o mundo está constantemente sendo construído e transformado – e
o presente é apenas uma etapa desse processo. Para esses autores “[...] uma construção social não participa da
metáfora arquitetônica de um edifício que, uma vez construído, se mantém por si só. O socialmente construído
não só foi construído por determinadas práticas sociais, mas essas práticas o mantém de forma dinâmica,
incessantemente.” (IBÁÑEZ, 1996, p. 67, tradução nossa).
50

os objetos de cena são tão importantes quanto as pessoas, afinal, são eles que montam o
“cenário” da história.
No entanto, a palavra “performar” também apresenta desvantagens: pode sugerir que
existem “bastidores” nos quais a verdadeira realidade se esconde, ou que uma tarefa precisa
ser cumprida para dar conta de uma situação difícil. Pode, também, sugerir que o que está
sendo feito aqui e agora tem efeitos que vão além desse momento – efeitos performativos42.
Para evitar essas conotações, a autora prefere utilizar uma palavra que não sugere tanto e que
não tem tanta história acadêmica: o verbo enact43. “É possível dizer que objetos são enacted
nas práticas. Isso sugere que atividades acontecem – mas não especifica quem são os atores.”
(MOL, 2002, p. 32, 33, tradução nossa, grifo da autora). Além disso, sugere que, durante a
ação, e somente neste lugar e neste momento, algo é – é enacted44.

Sendo assim, uma etnógrafa/praxiografista que sai para investigar doenças


nunca as isola das práticas nas quais elas são [...] enacted. Ela
obstinadamente anota as técnicas que tornam as coisas visíveis, audíveis,

42
Para Mol (2002), uma ação enact um objeto somente no momento e no local em que ela acontece. Desse
modo, para que um objeto continue a existir, é preciso que haja práticas que o re-enact. Assim, se Austin (1962)
observa que a frase “sim, aceito esta mulher como minha legítima esposa” vai além de uma simples descrição,
pois formaliza uma relação conjugal, Mol diria que, para que essa relação continue existindo, é preciso, por
exemplo, que, após o casamento, o marido se refira à mulher como “minha esposa”, que, ao fornecer dados sobre
seu estado civil, ambos escolham a opção “casados”, que eles não se divorciem etc.
43
Optamos por manter o termo em inglês pois tivemos dificuldade de encontrar uma tradução adequada. Em
alguns dos textos que trabalham com a obra de Mol (2002), o verbo enact aparece traduzido como “fazer existir”
(MORAES; MONTEIRO, 2010); em outros, ele é sinônimo de “realizar” (MORAES; ARENDT, 2010). No
entanto, optamos por não adotar tais expressões a fim de evitar as conotações de intencionalidade e construção
que ambas podem sugerir – afinal, de acordo com o Dicionário Houaiss (HOUAISS; VILLAR, 2001), o verbo
“realizar” significa, entre outras coisas, “criar, produzir a partir de um plano, um projeto [...] cumprir seu ideal
ou meta de vida [...]” (p. 2392); enquanto que o verbo “fazer” pode se referir ao ato de construir, de “[...]
aprontar antecipadamente para determinada finalidade, uso ou atividade; preparar [...]” (p. 1316). Leitores
brasileiros de Maturana e Varela (ARENDT, 2000; BOUYER, SZNELWAR, 2007; KASTRUP, TSALLIS,
2009, entre outros), por sua vez, costumam traduzir o substantivo enactment como “enação”, no entanto,
atribuem um significado distinto ao termo. Para eles, enação refere-se à ação perceptivamente orientada – tanto
que Maria Teresa Guerreiro (apud VARELA, 1994), uma de suas tradutoras, justifica o uso desse termo
afirmando que tal neologismo busca preservar a proximidade entre “ação” e “ator”. Para não causar um mau-
entendimento de nossa proposta, optamos por não utilizar essa expressão – afinal, para Mol (2002), uma das
principais vantagens do termo “enact” é justamente o fato de que ele nos permite focar a ação, deixando vaga a
definição dos atores nela envolvidos. Também não encontramos em dicionários uma tradução que nos parecesse
adequada. No Webster´s Dicionário Inglês-Português (HOUAISS et al., 2007, p. 251), por exemplo,
encontramos as seguintes traduções: “decretar, sancionar, promulgar, ordenar, dar força de lei a, converter em lei
(um projeto); desempenhar o papel de (no teatro e na vida)”, mas nenhuma parecia se referir ao verbo tal como é
utilizado por Mol (2002).
44
De acordo com Mol (2002), participaram do desenvolvimento da noção de enactment conceitos e ideias
discutidos anteriormente por outros autores, tais como a dissolução de dicotomias. (LATOUR, 1994b;
BARKER, 1982; STRATHERN, 1992; HARAWAY, 1991); a metáfora teatral de Goffman (1975), a crítica à
oposição entre superfície aparente e realidade profunda (BUTLER, 1990), a noção de performance
(HIRSCHAUER,1993; HACKING, 1983), o rechaço à ideia de realidade estável (LATOUR; WOOLGAR,
1997), entre outros. Esses autores, “[...] de uma maneira ou de outra, começaram a explorar a possibilidade de
que haja um tráfego em duas mãos entre os enactments de um lado e realidades de outro.” (LAW, 2008, p. 56,
tradução nossa).
51

tangíveis, passíveis de serem conhecidas. Ela pode falar de corpos – mas


sem nunca esquecer-se dos microscópios. (MOL, 2002, p. 33, tradução
nossa).

Dizer que objetos são enacted nas práticas não significa dizer que eles sejam passivos
– afinal, como dissemos no capítulo anterior, eles agem e, ao mesmo tempo, são alvos da ação
dos outros. No entanto, pensar que objetos são enacted em diferentes versões implica admitir
que eles também agem de diferentes maneiras45. E, uma vez mais, eles agem, mas não agem
sozinhos: objetos só agem se há outras entidades (instituições, pessoas, instrumentos,
dispositivos de inscrição etc.) colaborando com eles (LAW; MOL, 2008).
De acordo com Law (2008), enactments e práticas nunca param de acontecer e as
realidades dependem disso para que continuem existindo. Os objetos nunca chegam a estar
“rotinizados” em uma solidez rígida – podem até acontecer fechamentos práticos, como
concluir, em um determinado momento e circunstância, que um paciente sofre de severa
arteriosclerose, mas não há fechamentos gerais. “E se as coisas parecem solidas, anteriores,
independentes, definidas e singulares é, talvez, porque elas estão sendo enacted e re-enacted, e
re-enacted nas práticas. Práticas que continuam. E práticas que são também múltiplas.” (p. 56,
tradução nossa).
Nessa maneira de pensar, os objetos não são simplesmente construções históricas, mas
possuem, também, um presente complexo – um presente no qual suas identidades são frágeis
e podem variar de um lugar ao outro. As práticas que enact a arteriosclerose no consultório
clínico e no laboratório de patologia, por exemplo, são diferentes. E mais, elas se excluem
mutuamente. No primeiro, o médico sente pulsações, ouve relatos dos pacientes, mede
temperatura dos pés... No laboratório, não há pulsação, não há reclamações de dor, nem
temperatura para ser medida. O que há é um pé com alguns centímetros de perna, cuja artéria
deve ser cortada e colocada sob um microscópio. Se o lúmen estiver demasiadamente grosso,
se dirá que o paciente de fato tinha arteriosclerose. Da mesma forma que o patologista não
pode utilizar procedimentos clínicos para fazer o diagnóstico, o clínico não pode
simplesmente cortar um pedaço da perna do paciente para ver o que ele tem.
Entretanto, essa incompatibilidade não é resultado de uma dificuldade de traduzir
palavras de um departamento para o outro – cirurgiões e patologistas tendem a se entender

45
De acordo com M. J. Spink (2009), Mol utiliza o termo “versão” em uma de suas acepções na língua inglesa, a
de “account”. “Ou seja, trata-se da forma singular de relato feito por uma pessoa ou grupo, que incorpora um
ponto de vista. As versões, portanto, não são neutras, e podem existir múltiplas versões sobre um mesmo objeto
– humano ou não-humano. São artefatos lingüísticos incorporados a narrativas que são elos em cadeias
dialógicas que colocam sentidos polissêmicos em ação e, nesse movimento, performam os objetos a que se
referem.” (p. 113).
52

muito bem. Tampouco é uma questão de olhar a partir de diferentes perspectivas. Cirurgiões
sabem olhar através de microscópios e patologistas aprenderam como conversar com
pacientes vivos. A incompatibilidade é uma questão prática: refere-se a pacientes que falam
ou a partes do corpo seccionadas, a reclamações de dor ou a estimativas sobre o tamanho das
células. Na clínica e no departamento de patologia a arteriosclerose é enacted de modo
diferente – assim como são diferentes as Psicologias Sociais que são enacted em uma
empresa, em um hospital, em uma ONG ou em uma mesa de bar. Tal como veremos no
capítulo 3, as diferenças não estão somente nos olhares, preocupações e pontos de vista
dos(as) diferentes psicólogos(as) sociais, mas na própria Psicologia Social: ora ela é algo que
pode acontecer em qualquer lugar e em qualquer momento, ora existe somente dentro de um
enquadre pré-definido e controlado. Ora preocupa-se com práticas discursivas, ora seu foco
são processos inconscientes. Ora seu objetivo é transformar a realidade social, ora é produzir
conhecimento cientifico...

De acordo com Mol (2002), há certa economia em isolar os objetos das práticas nas
quais eles são enacted. Afinal, ao fazermos isso, podemos tratar os objetos como se fossem
realidades singulares, anteriores e independentes de nossas ações. Vários documentos oficiais,
manuais e textos introdutórios (como LANE, 1981; SILVA, 2005; ABRAPSO, 2002, entre
outros) fazem isso ao apresentar a Psicologia Social, como se, atualmente, existisse apenas
uma maneira de ela existir. Do mesmo modo, se conversarmos com um médico, ele
provavelmente dirá que a arteriosclerose é uma doença – que pode ser identificada por meio
de diferentes exames (duplex, angioplastia, exame patológico etc.) e ter diferentes formas de
tratamento (cirurgia, amputação, caminhadas etc.). Falará de uma doença da qual o paciente
padece antes de vir procurá-lo e que, com técnicas e tecnologias adequadas, pode ser
corretamente diagnosticada e tratada. Esse médico, provavelmente, tratará a arteriosclerose
como se ela tivesse uma realidade em si mesma, como se fosse uma única doença, que está
localizada dentro do corpo, mais precisamente, nas artérias. Ao fazer isso, ele tornaria
possível relacionar um relato de dor com uma artéria entupida, como se ambos se referissem a
um objeto comum – o primeiro seria o sintoma que aflora à superfície e o segundo seria a
causa oculta.
No entanto, de acordo com Mol (2002), se não desconsideramos as praticidades e
especificidades da realidade enacted, o quadro muda drasticamente. Se não ficamos “[...]
dentro dos confinamentos do corpo, mas [seguimos] por todo o hospital as várias práticas nas
quais a arteriosclerose é enacted, a topografia da relação entre patologia e clínica parece ser
53

completamente diferente.” (p. 37, tradução nossa). A patologia deixa de ser vista como aquilo
que está por trás das doenças e passa a ser vista como algo ulterior – afinal, só se sabe que o
lúmen da artéria está espesso depois de o médico ter feito o diagnóstico, de a cirurgia ter sido
realizada, de um pedaço do corpo do paciente ter sido seccionado e enviado ao departamento
de patologia para ser analisado sob um microscópio46. Na realidade enacted no hospital, a
clínica vem antes, é o começo e o que permite todo o resto.
Algumas vezes, os objetos da patologia e da clínica podem coincidir, como nos casos
em que um paciente que reclama de fortes dores ao caminhar é diagnosticado como tendo
arteriosclerose, tem a perna amputada e as análises patológicas mostram que o lúmen estava
mais espesso do que o “normal”. Mas, outras vezes, os objetos não coincidem. Pode
acontecer, por exemplo, de um paciente não sentir dor alguma e morrer e, após exames post
mortem, patologistas descobrirem que todas as suas artérias estavam calcificadas. Neste caso,
os objetos enacted na clínica e no laboratório não se sobrepõem e entram em conflito: uma
arteriosclerose é severa e poderia ter sido razão para tratamento, enquanto a outra não é grave
e ninguém nunca se preocupou com ela. “Nesses casos, os objetos da patologia e da clínica
não podem ser aspectos de uma mesma entidade: eles simplesmente não são a mesma coisa.
Eles são objetos diferentes.” (MOL, 2002, p. 46, tradução nossa).
Quando objetos que levam o mesmo nome não coincidem, tendemos a buscar
explicações para essa incoerência. Dizemos, por exemplo, que o paciente não sentia dor pois
sua doença se desenvolveu tão lentamente que seu metabolismo foi, aos poucos
“acostumando-se” com a falta de oxigenação nos membros inferiores. Mas, de acordo com
Mol (2002), ainda que encontremos explicações para as diferenças entre os objetos da
patologia e da clínica, não podemos apagá-las completamente, pois elas, inevitavelmente,
possuem uma consequência prática: “se dois objetos que possuem o mesmo nome entram em
conflito, na prática, um será privilegiado em relação ao outro.” (p. 47, tradução nossa). No
hospital, a clínica é sempre privilegiada, afinal, só se faz o diagnóstico, se o paciente for
consultado por um cirurgião vascular e queixar-se de dor ao andar.
Assim como não há apenas uma arteriosclerose, também não há apenas uma
Psicologia Social: há, por exemplo, uma que se diz comunitária, outra que se preocupa com
questões relacionadas à saúde, uma terceira que afirma atuar nas relações de trabalho, uma
quarta que tem fins clínicos... E se olharmos mais de perto cada uma dessas Psicologias

46
Na maioria dos casos atendidos no hospital no qual Mol (2002) fez sua pesquisa, este tipo de cirurgia não é
necessária, sendo assim, as artérias que recebem o diagnóstico de arteriosclerose nem sequer são analisadas
patologicamente. Nesses casos, a arteriosclerose é um pé frio, uma baixa oxigenação dos membros inferiores,
uma pressão arterial inferior à esperada etc.
54

Sociais, veremos que são cheias de contradições, que não são objeto singulares, que são,
também, múltiplas.
No entanto, dizer que a Psicologia Social é múltipla não significa dizer que suas
diferentes versões não estejam relacionadas; mas que ela é um objeto fractal, ou seja, que é
mais do que uma e menos do que muitas. Em outras palavras, significa dizer que ela não está
totalmente fragmentada e que suas várias versões mantêm alguma relação – afinal, há
programas de pós-graduação, uma associação de classe, disciplinas de graduação, manuais
introdutórios e até mesmo um título de especialista voltados à Psicologia Social. E mais,
significa dizer que essa singularidade não é dada a priori, mas é o resultado de todo um
trabalho de coordenação.
No capítulo 4, discutiremos como isso acontece, ou seja, apresentaremos algumas
práticas e estratégias que permitem com que diferentes Psicologias Sociais se somem, se
fundam, se conectem ou mantenham certa unidade. Como essas análises tiveram como
referência principal a pesquisa de Mol (2002) sobre os modos47 de coordenação de diferentes
arterioscleroses em um hospital holandês, consideramos relevante apresentá-la neste capítulo
“teórico”-metodológico. No entanto, é importante ressaltarmos que não buscamos generalizar
ou aplicar esses mecanismos ao caso da Psicologia Social brasileira, já que, ao fazer isso,
estaríamos separando nosso objeto de estudo das práticas que o enact. Buscamos apenas
apresentar os métodos e reflexões que serviram como ponto de partida para nossas análises.

47
É importante destacarmos que usamos a palavra “modos” sempre no plural. Afinal, de acordo com Moraes
(2011, p. 54), o sentido que a expressão “modos de ordenação” (ou de “coordenação”) abarca “[...] é o de um
verbo, uma ação a ser executada, a fim de fazer existirem certas realidades [...] num processo local, que exige
esforço e trabalho”. Sendo assim, não existe ordem, existem apenas ordenamentos, ordenações, ou melhor,
(co)ordenações. Muitas vezes atribuímos um sentido positivo à ordem. Dizemos, por exemplo, que nossas vidas
estão “em ordem” quando estamos felizes e satisfeitos. O termo “desordem”, por outro lado, frequentemente é
usado para se referir a um descuido ou a uma incompetência. No entanto, para Law (1994, p. 5), onde há
complexidade não pode haver ordem: ordens são ilusórias, “[...] mas até mesmo essas ilusões são exceções. Elas
não duram muito tempo. Seus efeitos são bastante limitados. E elas são o produto, o resultado, ou o efeito de
muito trabalho – trabalho que pode ocasionalmente estar – de forma mais ou menos bem sucedida – escondido
atrás de uma aparência de simplicidade ordenada.”
55

2.3 Modos de coordenação da multiplicidade: o exemplo da arteriosclerose48

De acordo com Mol (2002), apesar de os objetos possuírem identidades locais, os


vários setores do hospital não estão totalmente separados: a perna que ela observou ser
dissecada no laboratório de patologia, por exemplo, foi levada até lá juntamente com um
papel que descrevia as condições clínicas do paciente antes da operação. Após os exames
patológicos, outros formulários foram preenchidos e enviados de volta ao médico que fez a
cirurgia. Assim, clínica e patologia enact objetos diferentes, mas não são totalmente
independentes. Além disso, provavelmente, esse paciente havia passado por diferentes
departamentos, feito diferentes exames, conversado com diferentes médicos e técnicos...
Antes de ser amputada, sua perna teria sido medida, escaneada, sentida, desenhada... Toda a
papelada resultante desses procedimentos teria sido guardada em um único arquivo como se
todos aqueles números, imagens e anotações se referissem a uma mesma arteriosclerose.
Desse modo, no Hospital Z, diferentes arterioscleroses são coordenadas por meio de
um processo de adição. Mesmo referindo-se a diferentes objetos, os exames e procedimentos
terapêuticos são alinhados e somados de tal maneira que passam a referir-se a um objeto
único: a arteriosclerose. Sendo assim,

[...] o fato de diferentes objetos poderem ser somados e transformados em


um não depende da existência projetada de um objeto singular que estava
esperando dentro do corpo. Singularidade também pode ser deliberadamente
trabalhada [strived] a posteriori. Ela pode ser produzida. O resultado da
adição é um objeto único. Uma arteriosclerose que pode ser tratada de forma
invasiva. Ou não. A coordenação para a singularidade não depende da
possibilidade de referir-se a um objeto preexistente. Ela é uma tarefa. É isso
que o desenho do tratamento envolve. As várias realidades da arteriosclerose
são balanceadas, somadas, subtraídas. De uma maneira ou de outra, são
fundidas em um todo composto. (MOL, 2002, p. 70, tradução nossa, grifo da
autora).

Outro modo de coordenação de arterioscleroses utilizado no hospital Z são as


traduções. Como dissemos no capítulo 1, traduções são processos que transformam uma coisa
em outra; transformam, por exemplo, índices de fluxo sanguíneo em porcentagens de perda de
diâmetro de lúmen arterial. Os primeiros são medidos por duplex-scan – um exame mais
moderno e não invasivo, que consiste, sobretudo, em medir a pressão arterial do tornozelo; os

48
Em alguns textos (como MOL, 2002), a autora usa a expressão “coordenação” [coordination]; em outros
(como MOL, 2008), fala em “modos de ordenamento” [modes of ordering]. Nesta tese, optamos por utilizar o
primeiro termo, pois o prefixo “co” enfatiza o caráter relacional desses processos.
56

segundos, por sua vez, são examinados por meio de angioplastias e envolvem a aplicação de
contraste e uso de aparelhos de raios X. O primeiro exame mede a velocidade do sangue,
enquanto que as imagens produzidas pelo segundo mostram lumens venosos. Apesar de os
objetos dessas duas técnicas serem distintos, eles são tornados comparáveis. Na tese
defendida por um dos informantes de Mol (2002), um índice de 2.5 ou mais (medido pelo
duplex-scan) corresponderia a uma perda de 50% ou mais do lúmen arterial; um índice menor
que 2.5 corresponderia a uma estenose menor que 50% e a ausência de sinal corresponderia à
oclusão.

As possibilidades de quantificação foram estabelecidas – duplex-scan pode


quantificar uma doença arterial – e simplificadas – a quantificação não é
mais uma escala com pequenos gradientes de diferença, mas uma questão de
classificação em três grupos. E é assim que os objetos da angiografia e do
duplex-scan são coordenados em um único objeto comum: a severidade da
estenose de algum paciente. (MOL, 2002, p. 77, tradução nossa, grifos da
autora).

Em alguns casos, os dois exames apresentam resultados distintos, como, por exemplo,
quando o duplex-scan indica a presença de uma única estenose e a angioplastia mostra que há
várias. Quando isso acontece, geralmente, vale o que a angioplastia diz, afinal como é um
exame de imagem, ela permite “mostrar a realidade”. Segundo Law (2008), essa submissão é
um versão hierárquica da tradução.
Outra estratégia para lidar com as incoerências de um determinado objeto é a
distribuição. De acordo com Mol (2002, p. 87, tradução nossa), “[...] divergência não
necessariamente implica conflito ou consenso, pelo simples fato de que nem sempre há
necessidade de buscar um solo comum. Tensões podem também persistir de uma forma
pacífica.” Durante muito tempo, diferentes correntes dos Estudos das Ciências dedicaram-se a
compreender o que faz com que as controvérsias que permeiam o campo científico sejam
estabilizadas – ou, como diria Latour (2000b), buscaram entender como caixas-pretas eram
fechadas49. A discussão estava embasada no pressuposto de que é possível chegar a um ponto
final no qual controvérsias são eliminadas e diferenças são estabelecidas. Segundo Mol, essa
postura imitava o fechamento retórico de publicações acadêmicas, que são escritas como se
houvesse uma única realidade com a qual, ao final, todos deveriam concordar.

49
Latour (2000b) faz uso da expressão “caixa-preta” para se referir a todo conhecimento legitimado pela ciência,
de tal forma que ele se torna quase indiscutível. Ou seja, para se referir aos fatos que não questionamos ou que
assumimos como verdades absolutas.
57

No entanto, no hospital, é mais fácil encontrar incompatibilidades abertas


[...]. Lá, a tecnicidade da intervenção é mais importante que a consistência
dos fatos. Incompatibilidades não impedem que pacientes sejam
diagnosticados e tratados. O trabalho pode continuar desde que as diferentes
partes não tentem ocupar o mesmo lugar. [...] A metáfora é espacial: ela
permite-me falar sobre como a diferença não é necessariamente reduzida à
singularidade se diferentes “lugares” forem mantidos separados. (MOL,
2002, p. 88, tradução nossa).

Sendo assim, podemos dizer que distribuições separam aquilo que, se não fosse
separado, entraria em conflito. Durante o período que passou no Hospital Z, Mol (2002)
acompanhou diferentes formas de distribuição, como, por exemplo, a separação das
arterioscleroses enacted nas diferentes etapas do itinerário do paciente. Nesse hospital, a
decisão de operar ou não um paciente baseava-se, sobretudo, em suas queixas, no quanto a
doença afetava sua vida, na intensidade da dor etc. As imagens de raios X, responsáveis por
mostrar a situação do sistema circulatório (e que só eram feitas após a decisão de realizar a
operação), eram usadas meramente como mapas para encontrar o local exato da estenose
durante a cirurgia. Assim, no hospital Z, a arteriosclerose era tanto dor ao andar quanto uma
obstrução no lúmen venoso, mas não ambas no mesmo lugar: era dor no diagnóstico e uma
artéria entupida no tratamento. Ao serem separadas dessa maneira, essas duas versões da
arteriosclerose podiam coexistir “pacificamente”.
Segundo Mol (2002), o corpo múltiplo que resulta desse processo de distribuição não
se encaixa em um espaço euclidiano. Ele é diferente, por exemplo, do corpo dos livros-textos
de medicina, nos quais partes menores se unem para formar todos maiores (uma célula é parte
de um tecido, tecidos formam um órgão, órgãos compõem um corpo, corpos constituem uma
população, e populações são partes de um ecossistema). A despeito de haver controvérsias
sobre as características das relações entre as partes, esses materiais tendem a sempre tratar a
realidade como algo singular.

Amigos e inimigos concordam que a medicina deveria somar suas


descobertas dispersas e tratar o paciente como um todo. Mais forte ainda, se
quer fazê-lo realmente bem, a medicina deveria considerar que cada paciente
como um todo é parte de algo maior: uma família [...], uma população. O
círculo aumenta e aumenta. E o círculo maior contém todos os outros. Mas,
na medida em que as praticidades de enacting a realidade são colocadas em
primeiro plano, esses efeitos de dimensionamento colapsam. [...] Uma vez
que objetos são considerados como parte das práticas que os enact, não é tão
fácil colocar seus tamanhos em um ordem hierárquica. (MOL, 2002, p. 120,
tradução nossa).
58

Não é fácil, por exemplo, dizer se a dor de um paciente ao caminhar é maior ou menor que
uma estenose de 70%. Dimensionamentos como esse são complicados – para não dizer
impossíveis – uma vez que não há nenhuma relação de transitividade entre dor e estenose.
De acordo com Mol (2002), diferentemente do que ocorre nos livros-textos, na prática,
a ontologia médica não é um agrupamento de objetos que estabelece uma classificação que
vai do pequeno ao grande. No entanto, isso não significa dizer que objetos não possam fazer
parte uns dos outros: quando um objeto é enacted, outro pode ser incluído nele, mas isso não
é uma questão de escala, pois essas inclusões podem ser recíprocas (A pode incluir B ao
mesmo tempo em que B inclui A). Em um mundo transitivo, com escalas e hierarquias fixas,
isso não é possível. “Mas, no mundo de objetos enacted no qual vivemos, essas coisas
acontecem. É até mesmo possível que objetos incluam uns aos outros, enquanto que,
simultaneamente, de diferentes maneiras, eles são incompatíveis.” (p. 121, tradução nossa)50.
A arteriosclerose de uma população, por exemplo, depende da variante da
arteriosclerose individual que ela inclui: epidemiologistas que consideram somente casos de
pacientes que foram internados obtêm dados diferentes daqueles que incluem em suas
pesquisas informações sobre todos os pacientes que receberam um diagnóstico positivo. E o
mesmo ocorre no sentido inverso: “os eventos que acontecem com indivíduos dependem e
variam de acordo com a „população‟ que eles, a sua vez, incluem. A maneira em que a doença
individual é enacted depende da epidemiologia.” (MOL, 2002, p. 130, tradução nossa, grifo
da autora). Os médicos do Hospital Z, por exemplo, decidem fazer ou não um exame
dependendo do perfil do(a) paciente, ou seja, dependendo do fato de ele(a) participar ou não
de um grupo que, estatisticamente, tem mais chance de desenvolver a doença.

Ao invés de uma relação transitiva na qual o indivíduo menor está contido na


população maior, o que nós encontramos aqui é inclusão mútua. Uma
população é um agregado de eventos que ocorrem com indivíduos. Mas os
eventos que ocorrem com indivíduos são a sua vez informados pelo
enquadramento da população a que pertencem. O chamado todo é parte de
seus elementos individuais assim como os elementos individuais são parte
do todo. (MOL, 2002, p. 132, tradução nossa, grifo da autora).

Desse modo, a partir dos processos de adição, tradução, distribuição e inclusão,


múltiplas entidades que possuem o mesmo nome podem coexistir. Desse modo, a
arteriosclerose pode ser mais do que uma e menos do que muitas.

50
Essa ideia de inclusão mútua aproxima-se da noção de conexões parciais trabalhada por autoras feministas,
como Dona Haraway (1991) e Marilyn Strathern (1991).
59

2.4 Política Ontológica

Mol (1998, 1999, 2002) – juntamente com outros autores da TAR e da semiótica –
multiplicou a ontologia. Disse que diferentes práticas enact objetos distintos. Mas se há várias
versões da realidade, qual(is) dela(s) queremos enact em nossas práticas como psicólogos e
psicólogas sociais? E o que está em jogo quando fazemos essas escolhas? Onde e em quais
situações podemos escolher? Essas questões têm a ver com o que a autora chama de política
ontológica51. Ou seja, têm a ver com o modo em que “o real” está implicado no “político” e
vice-versa.
Política ontológica é um termo composto: ele fala tanto de ontologia quanto de
política. A primeira palavra refere-se à definição do que pertence ao “real”, às condições de
possibilidade com as quais vivemos. Assim,

se o termo „ontologia‟ é combinado com „política‟, isso sugere que as


condições de possibilidade não estão dadas. Que a realidade não precede as
práticas mundanas por meio das quais nós interagimos com ela; mas é, ao
invés disso, modelada no interior destas práticas. Então, o termo política
serve para sublinhar esse modo ativo, este processo de modelagem e o fato
de que seu caráter é tanto aberto quanto contestado. (MOL, 1999, p. 75,
tradução nossa, grifo da autora).

De acordo com Mol (1999), a realidade nunca foi considerada algo totalmente
imutável. A Tecnologia e a Política, por exemplo, sempre trabalharam com a ideia de que o
mundo pode ser controlado, dominado, modificado. De que, no futuro, as coisas podem ser
diferentes. Mas, ao mesmo tempo, consideravam que os “tijolos” que constroem a realidade
são permanentes e passíveis de serem revelados por meio de investigação científica.
No entanto, nas últimas décadas, as divisões entre presente e futuro, entre o que está
consolidado e o que ainda está em processo de formação, entre os “tijolos” que constroem a
realidade e os modos de ajustá-los, passaram a ser duramente criticadas. Diversas correntes do
pensamento (entre elas a TAR) começaram a afirmar que os elementos que compõem a
realidade não são dados a priori, nem são estáveis ou universais; mas são histórica, cultural e
materialmente localizados. E mais: se são localizados, são, também, múltiplos (MOL, 1999).

51
O desenvolvimento da noção de política ontológica foi fortemente influenciado pela obra de Michel Foucault
(MOL, 1999).
60

Como dissemos anteriormente, para falarmos de multiplicidade, é preciso que nossas


investigações deixem de analisar objetos a partir de diferentes perspectivas e passem a segui-
los nas práticas que os enact. Consequentemente, não faz mais sentido perguntar-nos sobre os
modos em que as ciências representam. Agora, devemos questionar-nos acerca de como elas
intervêm. A ênfase, portanto, muda: “ao invés dos olhos do observador, as mãos do prático
tornam-se o foco da teorização.” (MOL, 2002, p. 152, tradução nossa).
O trabalho de Mol (1998, 1999, 2002) contribui, assim, com um giro filosófico e
político que reivindica que o conhecimento não seja mais tratado apenas como um conjunto
de afirmações sobre a realidade, mas como uma prática que interfere em outras práticas e que,
portanto, participa da realidade. Que os métodos científicos não sejam mais considerados
mecanismos para acessar “o real”, mas algo que possui efeitos, produz diferenças, enact
realidades e ajuda a criar aquilo que “descobre” (LAW; URRY, 2003)52.
No entanto, para Law e Urry (2003), dizer que nossas práticas de pesquisa produzem
realidades não significa dizer que não existam realidades, que a “verdade” não possa ser
“descoberta” ou que nossos instrumentos de investigação sejam inerentemente inadequados.
Para os autores, essa postura é demasiadamente romântica e cientificista – é romântica pois
implica que nunca podemos conhecer a realidade de forma satisfatória e é cientificista pois
parte do pressuposto de que há uma verdade última, ainda que ela esteja fora de nosso
alcance. Para evitar essa polaridade, sugerem que consideremos que existem realidades, mas
que elas não são dadas a priori: elas são produzidas dentro de relações. As teorias e métodos
científicos seriam, assim, protocolos de questionamento e investigação que, ao interagirem
com outros atores, produziriam realidades. Mas isso não significa que a realidade seja
arbitrária. “O argumento não é nem relativista nem realista. Mas que o real é inteiramente
produzido de formas não arbitrárias, em conjuntos densos e extensos de relações.” (LAW;
URRY, 2003, p. 5, tradução nossa). Desse modo, a questão que agora precisamos nos colocar
não é mais “como podemos descobrir ou iluminar o real?”, mas sim “qual realidade queremos
tornar mais real por meio de nossas práticas de pesquisa?”.

Isto significa que a realidade [...] não mais pode exercer o papel que a
filosofia lhe atribuía há alguns séculos, o papel de algo para entrar em

52
Esse giro filosófico e político buscava escapar do modo como as ciências tradicionalmente compreendiam o
conhecimento e os métodos científicos. Ou seja, buscava escapar da ideia de que há um mundo real, com
atributos reais, e que cabe aos cientistas descobrir os atributos que são social ou politicamente relevantes. De
acordo com Law e Urry (2003), este realismo (mais ou menos) empiricista (defendido, por exemplo, por
Durkheim) baseava-se, sobretudo em dois pressupostos: que existe um mundo social definido que pode ser
descoberto por meio de investigação científica; e que é possível distinguir esse mundo do conhecimento que
essas investigações produzem sobre ele.
61

contato. O papel de algo para compreender. Para agarrar-se. Para ter certeza
sobre. A questão filosófica crucial concernente à realidade era: como
podemos ter certeza? Agora, depois do giro para a prática, nos confrontamos
com outra questão: como viver com a dúvida? [...] Se a questão o que fazer
não mais depende do que é real, então, o que mais pode estar relacionado
com isto? (MOL, 2002, p. 165, tradução nossa, grifos da autora).

Mol (2002) sugere que, se não mais podemos encontrar segurança ao perguntar “esse
conhecimento é verdadeiro para esse objeto?”, passa a ser mais relevante perguntar “esta
prática é boa para os atores (humanos e não humanos) envolvidos nela?”. Assim,

ao invés de verdade, benefício [goodness] passa a estar no centro do palco


Ou melhor, não benefício, como se existisse apenas uma versão dele, mas
benefícios [goodnesses]. Uma vez que aceitamos que a realidade é múltipla e
sempre nos deixa em dúvida, torna-se ainda mais urgente dedicar-se aos
modos e modalidades de buscar, negligenciar, celebrar, lutar e, também, de
viver o bem neste, naquele ou em outro de seus muitos aspectos (MOL,
2002, p. 165, 166, tradução nossa).

Fazer o bem é o télos de muitos psicólogos e psicólogas sociais. Bonfim (1994, p.


206), por exemplo, afirma que esses(as) profissionais “[...] buscam formas de trabalho para a
superação da opressão e dominação e de melhor convivência com o meio ambiente.” Já Silva
(2005, p. 126) sugere que “[...] a psicologia social funcionaria como uma „máquina de guerra‟
no sentido de inventar formas de resistência aos modos de assujeitamento da experiência
subjetiva contemporânea através de uma constante desestabilização dos equilíbrios
estabelecidos.”
Mas quem determina (ou deveria determinar) o que é o bem? Ao analisar os serviços
de saúde holandeses, Mol (1999, 2002) observa que, cada vez mais, cresce o apelo para que
pacientes sejam os principais responsáveis por essa decisão. Mas há duas versões diferentes
desta “política-do-quem” (politics-of-who): uma segue um modelo mercadológico e a outra
um modelo cívico. Na primeira, os pacientes são tratados como clientes que devem escolher
um produto dentre uma série de opções que lhes são ofertadas. Na segunda, são tratados como
cidadãos que merecem ter jurisdição sobre as intervenções que são feitas em seus corpos e
vidas. No entanto, a despeito de sustentar que as decisões têm de ser baseadas na
especificidade de cada caso – e que o paciente deve ser capaz de posicionar-se civilmente a
favor de um tratamento ou de outro – a metáfora cívica “[...] não necessariamente defende a
escolha individual. Afinal, a intervenção em uma vida também influencia outras vidas. [...]
62

Intervenções são entendidas como um modo de organizar não somente a vida individual, mas
a de toda a polis, a do corpo político.” (MOL, 2002, p. 167, 168, tradução nossa, grifos da
autora).
Podemos dizer que essa preocupação com quem decide é compartilhada por algumas
correntes da Psicologia Social. A Psicologia Social Comunitária, por exemplo, é comumente
definida como

[...] aquela que trata da comunidade e é realizada com a comunidade. Esta


definição permite delimitar o comunitário e o assistencial com bastante
clareza, pois, caso se exclua o papel ativo da comunidade, poderá tratar-se de
aplicações psicológicas concernentes à saúde, à educação, ao
assessoramento, aos aspectos especificamente clínicos que, ainda que
aconteçam no território próprio da comunidade (caso haja), não implicarão
um trabalho comunitário ao não contar com a participação dos que integram
a comunidade para a qual se dirigem essas ações nem com sua perspectiva
do assunto. Isso supõe uma característica [...] essencial da psicologia
comunitária: o comunitário inclui o papel ativo da comunidade, sua
participação. E não somente como convidada, ou como espectadora
permitida, ou receptora de benefícios, mas como agente ativo, com voz, voto
e veto. (MONTERO, 2008, p. 67, tradução nossa, grifo da autora).

Assim, nessa Psicologia Social, são os membros da comunidade – e não os(as) psicólogos(as)
– que devem decidir o que é o bem e quais são os melhores meios para consegui-lo.
Para Mol (2002), essa “política-do-quem” apresenta alguns problemas. O primeiro
deles é que, apesar de proteger o “consumidor” ou o “cidadão” contra os malefícios do
capitalismo, contra o poder do Estado etc., ela parte do pressuposto que seus desejos são
claros e pré-determinados. Assim, cabe ao analista assumir o papel de advogado e “dar voz”
aos desejos silenciados de pacientes ou membros comunitários.

Mas a posição de advogado não é a única possibilidade. E se o analista


assumir a posição do(a) paciente? Provavelmente, outras questões tornar-se-
iam importantes. Por exemplo, “como podemos ganhar o direito de decidir?”
poderia ser substituída pela questão no mínimo tão urgente “o que deveria
ser feito?” O que pode ser bom fazer? O que ser pode significar aqui e agora,
neste caso e no outro? O problema, então, é que ao tentar dar voz “ao
paciente”, a política-do-quem permanece em silêncio a respeito do que um
paciente poderia falar no momento crucial. (MOL, 2002, p. 169, tradução
nossa).

Um segundo aspecto problemático da política-do-quem é que, segundo Mol (2002),


ela tende a isolar os momentos em que escolhas são feitas, desconsiderando, assim, uma série
63

de histórias que contribuíram para a constituição do problema. Quando, por exemplo, um


médico diz a um paciente qual é a sua patologia e lhe apresenta as vantagens e desvantagens
de uma cirurgia, ele provavelmente deixa de abordar uma série de fatores que também
influem na decisão de realizar ou não a operação, tais como a possibilidade de terapias
alternativas, o custo para os cofres públicos de cada tipo de tratamento, o fato de que, para
muitos idosos, sentir dor ao caminhar faz parte do processo de envelhecimento etc.
Um terceiro problema da política-do-quem é que, apesar de ter sido pensada para
diminuir o poder de profissionais e dar aos “clientes” e “cidadãos” a possibilidade de
decidirem sobre os aspectos relevantes de suas vidas; na prática, ela tem dificuldades de fugir
do “profissionalismo”. Afinal, são os(as) médicos(as), psicólogos(as) e assistentes sociais que
oferecem os fatos. São eles que fazem diagnósticos e apresentam soluções. E por mais que
busquem parecer neutros, a maneira em que apresentam os fatos sempre fará diferença no
modo em que eles serão avaliados.
Ao problematizar a política-do-quem, Mol (2002) não propõe que profissionais
deveriam voltar a ter o poder de decidir acerca das intervenções que fazem. Tampouco diz
que as decisões deveriam ser tomadas unicamente por leigos. Mas sugere que paremos de
mudar a fronteira entre os domínios do profissional e do leigo e passemos a buscar novas
formas de governar esses territórios conjuntamente.
De acordo com a autora, no dia-a-dia do hospital, perguntas sobre quem decide
frequentemente são ofuscadas por questões sobre o que fazer. Em outras palavras, “políticas-
do-quem” são ofuscadas por “políticas-do-que” (politics-of-what). Apesar de a Medicina ter
sempre considerado a dimensão normativa envolvida na questão “o que fazer?”, “[...] sua
auto-reflexão não estava direcionada aos seus objetivos centrais: adiar a morte e melhorar a
saúde” (MOL, 2002, p. 173, tradução nossa). Se, por exemplo, um tratamento quimioterápico
aumentasse em seis meses a expectativa de vida de uma paciente, o benefício (goodness) de
sua prescrição era indiscutível. Ou ainda, se sabíamos que fumar é prejudicial à saúde, era
nosso dever lembrar a população de seus malefícios imprimindo imagens assustadoras em
pacotes de cigarro.
Mas, hoje, muitos pacientes e profissionais começam a pensar que os objetivos
centrais da medicina talvez não sejam tão claros como pareciam ser. Que aumentar a
expectativa de vida e promover saúde talvez não sejam as únicas formas de “fazer o bem”.
Afinal, viver seis meses a mais, entrando e saindo do hospital, sentindo fortes dores, e vendo
seu corpo desintegra-se aos poucos, pode causar mais sofrimento que alívio (MOL, 2002).
Assim como, para um fumante, o consumo de tabaco pode representar um prazer, uma
64

transgressão, uma forma de afirmação pessoal, uma estratégia para ser aceito pelo grupo
(SPINK, M. J., 2010). Mesmo sabendo dos males que o tabaco pode causar à saúde, muitos
fumantes reivindicam o direito e fumar, de poder escolher o que fazer com seus corpos. Para
eles, “o bem” não é necessariamente um pulmão mais puro, ele pode ser também um
momento de relaxamento, a possibilidade de encontrar os colegas de trabalho no
“fumódromo”, uma sensação de segurança...
Para Mol (2002), deixar de avaliar a ação médica somente a partir de parâmetros
físicos e começar a levar em conta o impacto do tratamento na qualidade de vida das pessoas
foi um importante passo em direção a uma política-do-que, mas ainda há um longo caminho
pela frente. É preciso, por exemplo, mudar o modo em que são estruturados muitos estudos
quantitativistas sobre qualidade de vida. Afinal, muitos deles não consideram que essa é uma
noção contestável e, consequentemente, política. Eles registram opiniões individuais,
atribuem diferentes pesos a elas e as usam como base para sofisticados cálculos estatísticos.
Fazem, portanto, com que qualidade se torne quantidade; com que valores se tornem fatos –
fatos sociais. Apagam, assim, qualquer controvérsia sobre o que é viver bem. Além disso, é
preciso que esses estudos não mais busquem identificar as diferenças entre médicos e
pacientes, mas busquem explorar as diferenças entre os vários enactments de uma doença
específica. Engajar-se em um política-do-que implica, assim, assumir que diferentes
enactments envolvem diferentes ontologias e diferentes formas de fazer o bem.

Como a ontologia, o bem é inevitavelmente múltiplo: há mais de um dele.


Por essa razão, para uma política-do-que, o termo política é, de fato,
apropriado. Por muito tempo, e em muitos lugares, a ciência mantinha (ou
continua a manter) a promessa de fechamento por meio da descoberta de
fatos. Na ética, a promessa de fechamento, ou ao menos de consenso
temporário, por meio da racionalização é amplamente compartilhada. Na
tentativa de romper com estas promessas, pode ser útil chamar “o que
fazer?” de uma questão política. O termo política ressoa abertura,
indeterminação. Ele ajuda a sublinhar que a questão “o que fazer” não pode
ser fechada por fatos nem por argumentos. Que ela sempre será permeada de
tensões – ou dúvida. Em uma cosmologia política, “o que fazer” não é algo
dado, mas precisa ser estabelecido. Fazer o bem não é resultado de
descobertas, mas é uma questão de, de fato, fazer. (MOL, 2002, p. 177,
tradução nossa, grifos da autora).

Dizer que “o bem” é múltiplo sugere que há (ou deveria haver) a possibilidade de
escolher entre suas diferentes versões. No entanto, para Mol (1999), muitas condições de
possibilidades não estão, de modo algum, estruturadas como resultados de decisões. Ou seja,
muitas vezes, argumentamos a favor de uma determinada versão da realidade usando
65

justificativas que fazem crer que nosso posicionamento não se baseia em decisões, mas em
fatos. Dizemos, por exemplo, que “a Psicologia Social é a subárea da Psicologia que estuda a
relação indivíduo-sociedade”, desconsiderando que esse não é o papel “natural”, “inevitável”,
“único”, dessa área do conhecimento, mas sim o resultado de uma série de negociações,
interesses, acontecimentos históricos etc. Entretanto, para a autora, fazer política ontológica
não é meramente explicitar as “opções”.

Precisamos investigar melhor as implicações intelectuais e práticas disto. O


que é viver as coisas como opções. Quais são os benefícios e os malefícios
desta forma de vida. E quais podem ser os seus limites práticos. Porque pode
acontecer de os argumentos que são mobilizados na tomada de decisão
mudarem as opções “reais” para outros lugares, e depois, de novo, para
locais cada vez mais distantes. De não haver um último recurso, mas
“opções” por todo o lado. (MOL, 1999, p. 80, tradução nossa).

Assim, não basta dizer que, aqui, a Psicologia Social estuda a relação indivíduo-
sociedade; ali, ela visa propor ações no âmbito social; acolá, produz conhecimento científico;
e que cabe a nós elegermos uma dessas versões – isso apenas faz com que as opções pareçam
sempre estar em lados opostos. O que está em jogo na política ontológica é o reconhecimento
de que nossas escolhas possuem efeito de “realidade”, ou seja, que elas fazem diferença no
modo em que objetos são enacted.
Além de fazer com que as opções pareçam estar sempre distantes, outro efeito
indesejável da concepção de política como eleição refere-se ao fato de o efeito de realidade de
nossas práticas não se restringir a um único objeto. Uma psicóloga social, por exemplo, não
enact somente a Psicologia Social, mas interfere, também, em várias outras realidades
relacionadas a essa área do conhecimento. Se ela busca transformação social, possivelmente,
suas práticas envolvam comunidades carentes, movimentos sociais, líderes comunitários,
livros sobre o compromisso político da Psicologia, políticas públicas, diários de campo etc.
Assim, nas palavras de Mol (1999, p. 82, tradução nossa), uma vez que começamos a “[...]
olhar cuidadosamente para a variedade de objetos performados em uma prática, nos
deparamos com complexas interferências entres esses objetos. Se reconhecemos e analisamos
essas interferências, a questão da avaliação de performances torna-se mais e mais
complexa.”53.

53
O texto do qual extraímos essa citação foi publicado em 1999. Neste período, Mol utilizava o verbo
“performar” para se referir ao que, mais tarde, passou a chamar de “enact”.
66

Podemos, portanto, avaliar um determinado objeto alinhando argumentos sobre seus


benefícios e malefícios, mas se optamos por considerar também os argumentos acerca de
objetos relacionados, a análise torna-se muito mais complexa. “De fato, este
contrabalanceamento nunca chegará a um termo estável, pois há elementos demais. O que
implica que é pouco provável que a política ontológica estabilize, uma vez concluídas as
descrições que dela sejam feitas – pois elas jamais serão concluídas.” (p. 83, tradução nossa,
grifo da autora).
Além disso, como dissemos anteriormente, muitas vezes, realidades diferentes
incluem-se mutuamente. A Psicologia Social acadêmica, por exemplo, frequentemente inclui
aquela que ocorre nas comunidades e vice-versa. As práticas que enact a primeira envolvem
escrever artigos acadêmicos, produzir relatórios, ministrar aulas etc.; enquanto que a segunda
é enacted quando o(a) profissional “vai a campo”, conversa com os membros da comunidade,
identifica demandas, propõe estratégias de enfrentamento... São, portanto, Psicologias Sociais
distintas, mas que estão intimamente relacionadas: muitos dos textos acadêmicos se propõem
justamente a refletir sobre experiências em comunidades, ao passo que, na maioria das vezes,
a intervenção está fortemente embasada em um referencial teórico-metodológico. Mas, se
admitimos que estas duas realidades estão tão relacionadas que chegam a incluir-se
mutuamente, como pensar a possibilidade de escolha? Se opto por fazer Psicologia Social em
uma comunidade, minhas práticas não estarão enacting também uma versão acadêmica da
Psicologia Social?
Para Mol (1999), talvez “escolha” não seja a melhor palavra para se referir ao que
políticas ontológicas fazem. Afinal, admitir que a realidade é múltipla (e não plural) implica
assumir que, a despeito de haver tensões entre diferentes Psicologias Sociais, elas

não estão simplesmente em oposição umas em relação às outras, ou no


exterior umas das outras. Cada uma pode suceder a outra, aparecer em vez
da outra e – será talvez a imagem mais surpreendente – incluir a outra. Isto
significa que o que é “outro” também está dentro. As realidades alternativas
não coexistem simplesmente lado a lado, mas também se encontram dentro
umas das outras. Mas esta é uma situação que não se encaixa facilmente em
nossas noções tradicionais de política. O que significa que novas concepções
de política precisam ser construídas. Mas quais? (MOL, 1999, p. 85,
tradução nossa).
67

Mol (1999, 2002) não responde a esta pergunta, ela simplesmente problematiza a
concepção de política que fala em escolhas e, sobretudo, chama a atenção para o fato de que
nossas práticas de pesquisa ajudam a enact realidades. Em suas palavras,

Por enquanto, o ponto é este. Em contraste com os sonhos universalizantes


que assombram a tradição filosófica acadêmica, o mundo no qual vivemos
não é um: há muitas maneiras de viver. Elas vêm com diferentes ontologias e
diferentes formas de classificar [grading] o bem. Elas são políticas na
medida em que suas diferenças são de um tipo irredutível. Mas elas não são
exclusivas. E não há um nós que permanece fora ou sobre elas, capaz de
controlá-las ou escolher entre elas: nós estamos implicados. Ação, como
todo o resto, é, também enacted. (MOL, 2002, p. 181, tradução nossa, grifo
da autora).

Sendo assim, ao abordarmos a Psicologia Social brasileira, não estamos simplesmente


descrevendo essa área do conhecimento, mas estamos, também, a enacting. Nosso método e
nossa narrativa têm, portanto, implicações políticas que devem ser consideradas durante todo
o processo de investigação. Investigação que, no próximo capítulo, buscará enact uma
Psicologia Social que é mais do uma.
68
69

CAPÍTULO 3
A PSICOLOGIA SOCIAL É MAIS DO QUE UMA
70

Começamos nossa história sobre a Psicologia Social brasileira argumentando que


diferentes lugares e práticas enact diferentes Psicologias Sociais54. Para isso, primeiramente,
visitamos um “lugar” que é permeado de controvérsias, debates e disputas. Em seguida,
percorremos “águas mais calmas”. Visitamos “lugares” onde as controvérsias internas estão
menos explícitas, mas que, claramente, diferem entre si.

3. 1 A Psicologia Social na obra de Aroldo Rodrigues e na obra de Silvia Lane

Diversos textos introdutórios à Psicologia Social brasileira – como Bernardes (2001);


Bock, Furtado, Teixeira (2003); Ferreira (2011); Mancebo, Jacó-Vilela, Rocha (2003), Tittoni
e Jacques (2001), entre outros – falam de ao menos duas versões dessa disciplina: uma
anterior e outra posterior à crise de referência que assolou essa área do conhecimento na
década de 1970. Segundo esses autores e autoras, a primeira era marcada pela hegemonia da
Psicologia Social norte-americana, tinha uma base positivista e Aroldo Rodrigues era seu
principal representante brasileiro. A segunda, por sua vez, caracterizava-se por fazer uma
severa crítica ao modelo biologicista e, principalmente, por defender uma ciência
comprometida com a transformação social.
É importante ressaltarmos que essa crise de referência não aconteceu somente no
Brasil e nem foi um fenômeno restrito à Psicologia Social. Pelo contrário, este movimento de
questionamento – ou, como diria o sociólogo francês Michel Lallement (2008), de
“pulverização metodológica” e “abalo teórico” – afetou também a Sociologia das décadas de
1960 e 1970. De acordo com o autor, este período foi marcado por uma Sociologia que
traduzia, antes de mais nada, o declínio do impulso modernizante do pós-guerra55. O
enfraquecimento da fé na igualdade de oportunidades, bem como o esgotamento das garantias
de coesão social pelo simples crescimento econômico, fizeram com que instituições – como a
escola, a prisão e a fábrica – fossem questionadas

54
Como sugerimos anteriormente, essa não é a história da Psicologia Social brasileira, mas apenas uma história
possível. É uma história formada por diversas outras histórias, é uma história múltipla.
55
De acordo com Liedke Filho (2003, p. 227), no caso específico da América Latina, essa crise foi
impulsionada, sobretudo, pela situação política vivenciada por vários países da região. Nas palavras do autor,
“no bojo da crise social e política latino-americana do final dos anos cinqüenta e início da década de sessenta
verificou-se o início do Período de Crise e Diversificação da Sociologia latino-americana, caracterizado pela
crise institucional e profissional da sociologia sob a repressão político-cultural dos regimes autoritários e,
simultaneamente, por uma profunda crise paradigmática, isto é, pela crise da hegemonia da Sociologia
"Científica", com a emergência de alternativas teóricas como a Sociologia Nacional, a Teoria da Dependência e a
Teoria do "Novo Autoritarismo.”
71

[...] por se pressentir que sua lógica integrativa [ficava] subordinada aos
riscos do poder e da dominação. Esse ponto de vista [alimentou] de modo
todo particular o estruturalismo de perspectiva francesa. Fora do hexágono,
aplicada aos temas das classes, das desigualdades e dos conflitos, esta
perspectiva [favoreceu], de maneira diferente, a volta de Marx.
(LALLEMENT, 2008, p. 65, 66).

Segundo Lane (1984/2007a), nesse mesmo período, a Psicologia Social norte-


americana começou a ser problematizada pelos europeus. Na França, por exemplo, a tradição
psicanalítica foi retomada após o movimento de maio de 68 e a tradição norte-americana foi
criticada por ser “uma ciência ideológica, reprodutora dos interesses da classe dominante, e
produto de condições históricas específicas [...]” (p. 11). Esse movimento repercutiu na
Inglaterra, “[...] onde Israel e Täjfell analisaram a „crise‟ sob o ponto de vista epistemológico
com os diferentes pressupostos que [embasavam] o conhecimento científico – [era] a crítica
ao positivismo, que em nome da objetividade [perdia] o ser humano.” (p. 11).
Segundo Bernardes (2001), a despeito de ter abalado os princípios da Psicologia
europeia na década de 1960, essa crise de referência começou a se fortalecer no Brasil e em
outros países da América Latina com uma década de atraso, principalmente durante os
Congressos da Sociedade Interamericana de Psicologia (SIP), como nos realizados em Miami-
EUA (1976) e em Lima-Peru (1979). De acordo com o autor, os principais motivos de
insatisfação foram: a dependência teórico-metodológica, principalmente dos Estados Unidos,
a descontextualização dos temas abordados, a superficialidade e a simplificação das análises
desses temas, a individualização do social e ausência de preocupação política56. Em suma, “a
palavra de ordem era a transformação social.” (BERNARDES, 2001, p. 31).
De acordo com Jacó-Vilela (2007), essas insatisfações levaram ao desenvolvimento
e/ou à adoção de diferentes teorias e metodologias: um grupo de pesquisadores, liderado por
Ângela Arruda e Celso Sá, começou a realizar trabalhos a partir de teorias europeias,
especialmente a das Representações Sociais; outro grupo, liderado por Georges Lapassade,
Oswaldo Saidón e Gregório Barenblit, desenvolveu a Análise Institucional; já Silvia Lane
coordenou o grupo que estabeleceu os fundamentos do que mais tarde viria a ser conhecido
como a Escola Sócio-Histórica da PUC-SP57.

56
Um movimento semelhante de crítica à “importação de saberes” já vinha permeando a Sociologia daquele
período. Segundo Liedke Filho (2005, p. 38), os anos 50 foram marcados “[...] pelo surgimento da proposta de
uma „Sociologia Autêntica‟, nacionalista, que buscava contribuir para o processo de libertação nacional e que
tem na obra de Guerreiro Ramos [...] sua referência principal. Teoricamente, a controvérsia entre Guerreiro
Ramos e Florestan Fernandes dominou a cena da comunidade sociológica brasileira durante esse período, tendo
por fulcro central a questão da particularidade e/ou universalidade do conhecimento social produzido no Brasil.”
57
Com o fortalecimento dessas teorias e metodologias, começou a se pensar na necessidade de criar uma
associação que representasse as “novas” Psicologias Sociais. De acordo com Lane e Bock (2003), essa
72

É justamente a partir das diferenças entre essa “escola” fundada por Lane e a corrente
norte-americana defendida por Rodrigues que começaremos a contar nossa história. Optamos
por fazer esse recorte por duas razões principais: primeiramente, pela inviabilidade de
descrever todas as Psicologias Sociais criadas no Brasil a partir da década de 1970 e, em
segundo lugar, pelo fato de vários autores (como STREY et. al, 2001, LIMA, 2009, SÁ, 2007;
NEIVA, TORRES, 2011, entre outros) se referirem a Lane como uma das principais
opositoras do modelo positivista defendido por Rodrigues.
A Psicologia Social de Rodrigues (1972, p. 55) consiste em realizar um “[...] estudo
científico do processo de interação humana.” Ou seja, é uma ciência básica cuja única forma
de intervenção é indireta: ela fornece dados objetivos para que tecnólogos sociais possam
resolver problemas sociais. Nas palavras do autor,

o tecnólogo social se fundamenta nos dados existentes, combina-os e,


através de sua criatividade, utiliza-os na resolução de problemas sociais.
Como bem diz Jacobo Varela, o inventor da Tecnologia Social, “tecnologia
é síntese, enquanto ciência é análise”. [...] a Psicologia Social é uma
ciência básica e [...] a ela cabe descobrir as relações estáveis entre
variáveis psicossociais a fim de possibilitar ao tecnólogo social a solução
de problemas sociais de forma consciente e não improvisada.
(RODRIGUES, 1985, 19-20, grifo nosso).

Sendo assim, a essa Psicologia Social caberia o papel de estudar, por meio do método
científico, a interação humana e suas consequências cognitivas e comportamentais, enquanto
que as Tecnologias Sociais seriam responsáveis por usar esse conhecimento para transformar
a realidade. Nessa Psicologia Social, estudar um determinado fato a partir do método
científico significa orientar-se pelo seguinte esquema (figura 1):

necessidade foi bastante discutida durante o Congresso da Sociedade Interamericana de Psicologia (SIP),
realizado em Lima, no ano de 1979. “Era uma proposta que buscava fortalecer a organização dos psicólogos
ligados à área da Psicologia Social, criando espaços para o diálogo e o avanço desse campo. Além disso,
caminhava-se para o fortalecimento de um pensamento latino-americano na Psicologia, a partir da Psicologia
Social.” (p. 146). Após o congresso da SIP, foi nomeada uma comissão para redigir o estatuto dessa nova
associação. No ano seguinte, durante a reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
(SBPC), esse estatuto foi votado e aprovado, instituindo oficialmente a Associação Brasileira de Psicologia
Social (ABRAPSO). Segundo as autoras, as intenções políticas da ABRAPSO sempre foram “[...] a construção
de uma psicologia social crítica, voltada para os problemas nacionais, acatando diferentes correntes
epistemológicas, desde que filiadas ao compromisso social de contribuir para a construção de uma sociedade
mais justa. A ABRAPSO nasceu da insatisfação com a psicologia européia e americana. Os problemas de nossa
sociedade, marcada pela desigualdade social e pela miséria, não encontravam soluções na psicologia social
importada como um saber universal dos países do Primeiro Mundo.” (p. 149).
73

Figura 1: Esquema que orienta a Psicologia Social de Rodrigues


Teoria

Levantamento de hipóteses

Teste empírico das hipóteses
levantadas

Análise dos dados colhidos

Confirmação ou rejeição das hipóteses

Generalização

Fonte: RODRIGUES, 1972.

De acordo com o autor, esse esquema deve ser marcado pela neutralidade do(a)
psicólogo(a) social em sua procura das relações não aleatórias entre variáveis. Apesar de
Rodrigues (1985, p. 19) admitir que a escolha do tema e o relatório do cientista possam não
ser neutros, para ele, “o produto final, isto é, o conhecimento novo que surge, este é
inexoravelmente neutro, pois toda a comunidade científica o fiscaliza.”
Contrariamente a Rodrigues, Lane (1985) critica a defesa da neutralidade da ciência e
da objetividade dos fatos. Sendo assim, a Psicologia Social de suas pesquisas e livros resgata
a subjetividade e não vê o indivíduo como produto de si mesmo. Em suas palavras:

se a Psicologia apenas descrever o que é observado ou enfocar o Indivíduo


como causa e efeito de sua individualidade, ela terá uma ação conservadora,
estatizante – ideológica – quaisquer que sejam as práticas decorrentes. Se o
homem não for visto como produto e produtor, não só de sua história
pessoal mas da história de sua sociedade, a Psicologia estará apenas
reproduzindo as condições necessárias para impedir a emergência das
contradições e a transformação social. (LANE, 2007a, p. 15).

Sendo assim, o “homem”58 a que a autora se refere é diferente do que aparece nos
textos de Rodrigues. Para ela, pensar o ser humano dessa maneira implica uma atuação mais
consequente da Psicologia, na qual teoria e prática devem andar sempre juntas (LANE, 1985).
Em outras palavras, sugere que o conhecimento seja compreendido, antes de tudo, como
práxis, e que

58
Estamos utilizando aqui a palavra “homem” para referir-se a “ser humano” a fim de manter a terminologia
utilizada por Lane.
74

[...] cada momento empírico [seja] repensado no confronto com outros


momentos e a partir da reflexão crítica novos caminhos de investigação
[sejam] traçados, que por sua vez [levem] ao reexame de todos os empíricos
e análises feitas, ampliando sempre a concepção e o âmbito do conhecido.
Pesquisa-ação é por excelência a práxis científica. (LANE, 2007a, p. 18).

Pensar a Psicologia Social como práxis significa, segundo Lane (2007a), abrir mão da
busca pela neutralidade científica. Afinal, em sua ciência, tanto o pesquisador quanto o
pesquisado são, ao mesmo tempo, produtos e agentes histórico-culturais e se definem por
meio de relações sociais que tanto podem reproduzir as condições sociais em que ambos estão
inseridos quanto podem transformá-las.

Desta forma, conscientes ou não, sempre a pesquisa implica intervenção,


ação de uns sobre outros. A pesquisa em si é uma prática social onde
pesquisador e pesquisado se apresentam enquanto subjetividades que se
materializam nas relações desenvolvidas, e onde os papéis se confundem e
se alternam, ambos objetos de análises e portanto descritos empiricamente.
Esta relação – objeto de análise – é captada em seu movimento, o que
implica, necessariamente, pesquisa-ação. (LANE, 2007a, p. 18).

Segundo Rodrigues (1989), essa ênfase na práxis e no compromisso social do(a)


pesquisador(a) foi o principal desencadeador da crise que assolou a Psicologia Social em
meados da década de 1970. De acordo com o autor, a gravidade dos problemas sociais da
época gerou certo sentimento de culpa nos psicólogos e psicólogas sociais, o que fez com que
abandonassem o paradigma clássico e buscassem outra orientação teórico-metodológica,
passando, assim, da ciência básica para um movimento articulado de ação social. Entretanto,
Rodrigues (1979, 1989) acredita que esta crise foi artificial, desnecessária e trouxe
consequências nefastas para a Psicologia Social. Em suas palavras:

o fanatismo pela relevância social da atividade do pesquisador pode,


freqüentemente, levar os investigadores sociais a misturar ciência com
política, utilizando-se dos conhecimentos científicos que possuem para obter
transformações sociais orientadas por ideologias desta ou daquela natureza.
O extremismo de posições é, no caso, conseqüência praticamente inevitável
e nefasta. (RODRIGUES, 1979, p. 21).

Além disso, segundo o autor, essa crise só ocorreu devido à ignorância da distinção
entre ciência e tecnologia. Para ele, assim como fisiólogos(as) não curam doentes, ou
físicos(as) não constroem pontes e casas, psicólogos(as) sociais não são os(as) responsáveis
por mudar a realidade social. Seu papel é o de produzir conhecimento, sendo que a aplicação
75

deste conhecimento e a resolução de problemas concretos é tarefa dos(as) tecnólogos(as)


sociais. Nas palavras do autor,

[...] para que se possa empreender uma ação social destinada à resolução de
problemas sociais, não é preciso modificar o paradigma dominante na
psicologia social, nem transformá-la de uma ciência em um movimento de
ação social, necessariamente ideológico; basta, simplesmente, que se
utilizemos [sic.] os ensinamentos básicos que ela nos oferece e, através da
aglutinação destes achados proporcionada por uma tecnologia social eficaz,
sejam eles empregados na resolução de problemas sociais. É o que o médico
faz no tratamento dos doentes amparados pelas descobertas dos biólogos e
dos fisiólogos [...] Não há, pois, razão para extinguir a pesquisa
fundamental; muito pelo contrário, ela deve prosseguir a fim de que possa
proporcionar, ao tecnólogo social, o conhecimento necessário à aplicação da
solução ao caso concreto. (RODRIGUES, 1989, p. 123).

Em um texto autobiográfico, Rodrigues (2008) nos dá um bom exemplo dessa


controvérsia que balançava a Psicologia Social brasileira nas décadas de 1960 e 1970. Neste
texto, conta que, quando voltou ao Brasil após ter passado quatro anos nos Estados Unidos
fazendo seu doutorado, percebeu que seus alunos e colegas demonstravam pouco interesse
pelas pesquisas que acabara de realizar, tanto que, quando ministrou uma conferência acerca
de sua tese em um encontro da Associação Brasileira de Psicologia Aplicada, nenhuma pessoa
da plateia fez questões ou comentários. “Estava um total silêncio, até que um dos membros da
diretoria da Associação levantou e disse: „Professor Rodrigues, seu trabalho é muito elegante
e sofisticado, mas diga-me, qual a aplicação prática de tudo isso? Qual uso podemos fazer de
suas descobertas na realidade brasileira?” (RODRIGUES, 2008, p. 112, tradução nossa).
Neste momento, Rodrigues percebeu que

[...] estava no lugar errado, na hora errada. Os psicólogos brasileiros não


estavam interessados em teoria e metodologia, mas em aplicações da
psicologia que permitissem melhorar as condições das pessoas e resolver
problemas sociais. Em outras palavras, a crise da psicologia social estava
manifestando-se com toda a força no Brasil. O ceticismo em relação a
experimentos em psicologia social, muitas preocupações éticas, e o quase
exclusivo interesse na psicologia social aplicada eram as posições
dominantes. (RODRIGUES, 2008, p. 112, tradução nossa).

Segundo o autor, a situação política que o Brasil vivia na época era bastante favorável
ao desenvolvimento dessa nova Psicologia Social, pois o interesse pelo marxismo, a ênfase na
pesquisa-ação e o desejo de mudar a estrutura social eram predominantes entre os
universitários. Mas como Rodrigues discordava da fusão entre ciência e política, e como
foram frustrados seus esforços para fazer com que seus colegas percebessem que ciência e
76

tecnologia eram coisas distintas, em 1968, ele resolveu voltar aos Estados Unidos, onde
passou a lecionar na Claremont Graduate School.
Em entrevista concedida ao Conselho Federal de Psicologia (CFP), Lane (2007c) fala
claramente das diferenças entre “sua” Psicologia Social e a “de” Rodrigues:

Na ANPEPP de Gramado, o Aroldo Rodrigues me chama para falar de


minha linha teórica. E no encontro anterior, na Venezuela, ele disse que eu
não fazia ciência, eu fazia política. Ah... Eu disse... esse homem vai receber
a resposta e é já! Eu preparei um texto para falar em Gramado só em cima
de resultados de pesquisa, do pessoal que eu conhecia. Quer dizer, mais
prova de que a coisa tem uma consistência científica não é possível.
Acabado o simpósio, eu bati... “Você vai continuar falando que eu faço
política, Aroldo?” Eu falei brincando com ele, ele deu uma risadinha... Mas
depois, foi até interessante, por que, à noite, a gente estava lá no bar
tomando uns uísques e não sei o que... E ele veio conversar comigo e disse
“Olha Silvia, eu admiro seu trabalho, mas eu seria incapaz de caminhar por
aí. A minha formação é muito tradicional. Eu não sou capaz de virar a mesa
como você está virando.” Opa que baita elogio vindo do Aroldo.
(informação verbal)59.

Uma das pesquisas que Lane (1989) mencionou durante sua conferência neste
simpósio da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia (ANPEPP)
tinha como objeto de estudo a consciência de sujeitos gagos. A despeito de não ter
explicitado sua autoria, acreditamos que ela se referia à tese de doutorado de Silvia Friedman,
uma de suas orientandas. Nesse trabalho60, Friedman (1994) estudou as mudanças no
movimento da consciência ao longo de um tratamento terapêutico. Para isso, apoiou-se em
conceitos como consciência, linguagem e representações sociais, e em autores como Leontiev,
Luria, Vigostski, Moscovici, Spink, Jodelet e na própria Silvia Lane. O corpus da pesquisa foi
composto pela gravação e transcrição de algumas sessões terapêuticas que Friedman realizou
em sua clínica de fonoaudiologia e a técnica empregada foi a Análise Gráfica do Discurso.
Segundo Friedman (1994), essa técnica foi desenvolvida por Lane e compreende
algumas etapas: em primeiro lugar, é feita uma numeração das unidades de significados ou
dos conteúdos que compõem o discurso – que geralmente correspondem a um sujeito e a seu
predicado –, acompanhando a sequencia em que aparecem. Em um segundo momento, são
realizadas releituras cuidadosas do material estudado, buscando localizar e marcar os
significados que se repetem. Esta etapa é importante, uma vez que

59
Essa entrevista está gravada em vídeo e disponível no site do CFP (http://www.pol.org.br/pol/cms/pol/
publicacoes/videos/videos_070605_0171.html).
60
Defendido em 1992 e publicado em 1994.
77

as unidades de significado ou as representações que se repetem são os


núcleos de pensamento que expressam os conteúdos da consciência do
indivíduo [...] Um discurso suficientemente longo e detalhado permite
analisar tanto as representações como as mudanças que elas sofrem, as
contradições, os aspectos ideológicos, as relações estabelecidas com os
domínios da realidade, revelando, assim, o movimento da consciência do
indivíduo. (FRIEDMAN, 1994, p. 22).

Para facilitar a identificação dos núcleos de pensamento que compõem os discursos


estudados, marca-se com cores diferentes cada conjunto de conteúdos semelhantes. Na
terceira etapa, a fim de tornar mais claras as representações que compõem os núcleos de
pensamento, bem como o movimento de articulação entre os núcleos, o discurso é reescrito,
aproximando graficamente as representações que compõem um mesmo núcleo, preservando,
por meio de setas numeradas, a sequencia original do discurso. Por fim, são identificados os
conjuntos de núcleos de pensamento que pertencem a um mesmo núcleo temático,
considerando que

as articulações entre as representações, que evidenciam as articulações entre


os núcleos, evidentemente esclarecem também as articulações entre as
categorias. A partir delas [analisa-se] os conteúdos da consciência e seu
movimento, chegando à compreensão dos processos subjacentes à produção
do fenômeno investigado [...]. (FRIEDMAN, 1994, p. 23).

Podemos dizer, assim, que as práticas descritas nessa tese orientada por Lane fazem
uma Psicologia Social que depende de uma série de elementos heterogêneos, tais como
autores russos, livros sobre a Teoria das Representações Sociais, gravadores de voz,
transcrições, jogos de canetas hidrográficas coloridas, setas numeradas, núcleos de
pensamento, discursos, uma consciência que se move, notas de leitura, notas de releitura,
representações gráficas do discurso etc. Juntos, esses atores nos permitem falar do que a
Psicologia Social é.
Na tese de Friedman (1994), a Psicologia Social é algo bastante diferente do que ela é
em uma pesquisa de Rodrigues e Assmar (2003) sobre comportamento normativo. Neste
estudo, os autores replicam pesquisas anteriores de Rodrigues61, introduzindo certo
refinamento metodológico e verificando uma possível influência das distintas bases de poder
no julgamento da justiça da punição infligida ao autor do comportamento normativo. Mais

61
De acordo com os autores, esses estudos demonstraram que “[...] comportamento antinormativo, causado por
influência social derivada da utilização dos poderes de recompensa, informação e referência, é percebido como
mais interno e mais controlável, e seu autor julgado mais responsável por tê-lo emitido, do que esse mesmo
comportamento provocado pelo uso dos poderes de conhecimento, legitimidade ou coerção.” (RODRIGUES,
ASSMAR, 2003, p. 191).
78

especificamente, nessa pesquisa, os autores enfocam “[...] a situação em que o comportamento


representa uma transgressão às normas vigentes, e a pessoa, que é solicitada a emití-lo,
recusa-se de início a fazê-lo, cedendo, posteriormente, à influência exercida pelo
influenciador.” (RODRIGUES, ASSMAR, 2003, p. 191).
Os autores consideram esse fenômeno como sendo tipicamente psicossocial, uma vez
que consiste na “[...] consideração do poder da situação social na modificação de um
comportamento.” (RODRIGUES, ASSMAR, 2003, p. 191). E, para estudá-lo, baseiam-se,
principalmente, em dois referenciais teóricos: na Tipologia das Bases do Poder Social,
proposta por Raven, e na Teoria da Conduta Social, de Weiner.
Como procedimento metodológico, os autores aplicaram um questionário a 84
estudantes de uma universidade do Rio de Janeiro, sendo que a 42 deles apresentaram
previamente um cenário com “desfecho positivo” e aos outros 42 apresentaram um “desfecho
negativo”. O primeiro cenário consistia na seguinte estória:

uma enfermeira recebeu um telefonema de um médico, solicitando-lhe que


desse quatro pílulas de um remédio, que estava ainda em fase experimental,
a um de seus pacientes. Como isso contraria o código de ética das
enfermeiras, ela se recusou a fazê-lo. O médico insistiu e apresentou uma
razão para que a enfermeira fizesse o que ele queria. A enfermeira acabou
por fazer o que o médico lhe pediu. No dia seguinte, o paciente teve notável
recuperação e foi para casa alguns dias depois. (RODRIGUES, ASSMAR,
2003, p. 193).

Já para os estudantes que estavam no grupo “desfecho negativo”, as instruções eram as


mesmas, o que variava era apenas o final da estória, que dizia:

a enfermeira acabou por fazer o que o médico lhe pediu. No dia seguinte, o
paciente piorou muito e veio a falecer alguns dias depois. Nas páginas
seguintes, seguiam-se seis razões apresentadas pela enfermeira para fazer o
que o médico lhe disse, cada uma representando uma das seis bases de poder
da tipologia de Raven (1965). Essas razões, apresentadas em seguida,
correspondem respectivamente, ao poder de recompensa, de coerção, de
legitimidade, de referência, de conhecimento e de informação: a) o médico
disse à enfermeira que facilitaria as coisas para ela no futuro; b) o médico
disse que cortaria o salário da enfermeira em R$ 50,00 por mês, durante
cinco meses; c) o médico disse que, nas organizações decentes, as ordens
superiores devem ser seguidas; d) o médico disse que tinha sido sempre uma
referência positiva para ela; e) o médico disse que ela deveria fazer o que lhe
foi solicitado, pois ele era visto por todos como um especialista; f) o médico
79

disse que os médicos dos principais hospitais do país estavam usando o


remédio. (RODRIGUES, ASSMAR, 2003, p. 193).

Esses contextos eram seguidos por escalas de nove pontos, que mediam o grau de
controlabilidade, de internalidade e de responsabilidade atribuídos à enfermeira. Essas
escalas eram ancoradas nas extremidades pela indicação de totalmente interno/totalmente
externo, sob controle da enfermeira/fora de seu controle e muito responsável/nada
responsável.
Para evitar que as frases que representavam as bases de poder tivessem forças
diferentes, os autores realizaram um estudo prévio, apresentando a 60 participantes (distintos
dos 84 que participaram da pesquisa propriamente dita) seis conjuntos de 10 frases, cada um
representativo de uma das seis bases de poder da tipologia de Raven e relacionado à interação
médico-enfermeira descrita nos cenários. As frases eram apresentadas em ordem aleatória e os
participantes tinham de indicar em uma escala de 11 pontos quão forte eles consideravam a
tentativa de influência descrita em cada frase. Em seguida, era calculado o valor escalar 62 de
cada frase. Se acontecesse de mais de uma frase ter o mesmo valor escalar, os autores
escolhiam a que tinha o menor desvio-padrão. “Desta forma, seis frases com idênticos valores
escalares para as formas de influência do Grupo 1 (recompensa, informação e referência) e
para as do Grupo 2 (conhecimento, legitimidade e coerção) foram selecionadas e utilizadas na
segunda fase da pesquisa [...].” (RODRIGUES, ASSMAR, 2003, p. 194). A fim de evitar um
possível efeito da ordem de apresentação dessas frases, os autores construíram aleatoriamente
seis ordens de apresentação em um quadrado latino63, sendo que este foi replicado sete vezes
em cada condição.
O instrumento utilizado nessa pesquisa continha outra série de itens: solicitava que os
participantes supusessem que o diretor do hospital havia demitido a enfermeira que ministrou
o remédio experimental e, em seguida, apresentava seis escalas de sete pontos, uma para cada
motivo alegado pela enfermeira para fazê-lo (promessa de recompensa, ameaça de punição,
invocação de legitimidade, amizade, conhecimento e apresentação de argumentos). Nessas
escalas, os participantes indicavam, primeiramente, o grau de justiça da decisão do diretor do
hospital de demiti-la e, em seguida, indicavam o grau de justiça da não aplicação de algum
tipo de punição. Indicavam, também, o grau de justiça de aplicação da punição,

62
Segundo Rodrigues e Assmar (2003), o valor escalar é dado pela mediana dos julgamentos de cada uma das
frases.
63
De acordo com os Rodrigues e Assmar (2003, p. 194), em um planejamento de quadrados latinos “[...] são
estabelecidas seqüências distintas de ordenação das frases, contrabalançando-se, assim, o possível efeito de
ordem de apresentação.”
80

independentemente do motivo e, por fim, hierarquizavam as razões para cometer a infração,


sendo que classificação 1 referia-se à merecedora de maior e a 6 à de menor punição.
A Psicologia Social dessa pesquisa não estuda consciência nem discursos. Não se
baseia na obra de autores russos nem de franceses. Não articula núcleos de pensamento nem
unidades de significados. Não grava nem transcreve. Ela é uma Psicologia Social que tem
como objeto os graus de justiça da punição de comportamentos infratores e, para analisá-los,
usa estatísticas, questionários, escalas, tipologias de bases de poder, frases, cenários, valores
escalares, desvios-padrão, réplicas de estudos, classificações, quadrados latinos, salas de aula,
estudantes universitários dispostos a participar de pesquisas científicas, uma enfermeira, um
médico, um remédio experimental, um paciente que é curado de sua doença, outro que vem a
falecer...
Mas não é somente em pesquisas que essas Psicologias Sociais se chocam. Nas
intervenções também há diferenças. Como dissemos anteriormente, Rodrigues defende que o
tecnólogo social seja o responsável por intervir nos problemas sociais, enquanto que Lane
sustenta que teoria e prática devem sempre andar juntas. Um exemplo de como esta
controvérsia é vivida na prática está no depoimento cedido por Wanderley Codo (1985) à
revista “Psicologia, Ciência e Profissão”. O autor – que foi orientando de doutorado de Silvia
Lane – nos conta que o dirigente de uma determinada empresa decidiu demitir um de seus
gerentes e escolheu uma pessoa de outra filial para preencher a vaga, causando mal-estar entre
os funcionários preteridos para o cargo. Para amenizar os possíveis traumas desta transição, a
empresa contratou um cientista. Entretanto, para Codo (1985, p. 21),

qualquer pessoa de bom senso saberia que as causas desse problema estão
na estrutura alienada de trabalho na sociedade contemporânea – que permite
aos diretores alterar ao seu bel prazer os quadros de profissionais da
empresa sem que os próprios tenham direito a opinar sobre isso- e nas
características do mercado capitalista, em que a competição frenética
angustia qualquer trabalhador numa perspectiva de mudança. O que fez o
senhor Varela? Tratou de persuadir os trabalhadores, candidatos naturais
para o cargo, de que não eram as pessoas mais aptas para aquele cargo.
Estamos diante de um duplo engodo: nem a realidade social cabe no
receituário do tecnólogo e muito menos as soluções encontradas são
capazes de resolver qualquer coisa, exceto o problema imediato do dirigente
empresarial. Estamos diante de uma Tecnologia Social sem dúvida voltada
a encobrir os problemas sociais e a serviço dos meios de produção. [...] Eis
algo em que concordo literalmente com Jacobo Varela: o mundo está
carente de uma Tecnologia Social. Mas que seja capaz de resolver não
apenas querelas administrativas das empresas mas, principalmente, capaz de
instrumentalizar o cidadão para a busca de sua própria cidadania.
81

Neste exemplo, podemos ver claramente que a divergência entre esses dois grupos de
pesquisadores não está somente na defesa ou crítica da dicotomia teoria/prática, mas está
também no posicionamento acerca do compromisso político do(a) pesquisador(a). Se, no
grupo de Lane, o(a) psicólogo(a) social é aquele que busca transformar a realidade, no de
Rodrigues, “o único engajamento admissível em ciência é [...] o compromisso desinteressado,
objetivo e persistente na busca da verdade acessível ao arsenal metodológico disponível.”
(RODRIGUES, 1989, p. 129).
Outra importante diferença entre essas Psicologias Sociais refere-se ao
posicionamento em relação à universalidade da ciência. Para Lane,

o saber humano não é universal nem eterno, e o homem é historicamente


situado, bem como os problemas que o afligem. Portanto, a realidade social
não pode ser compreendida por teorias importadas, seja dos Estados Unidos
seja da Europa. É preciso conhecer quem é o homem que se constitui nas
condições sócio-históricas da América Latina. Não se trata de abandonar o
acervo teórico acumulado árdua e rigorosamente pela Psicologia Social,
mas de mudar a sensibilidade epistemológica pra rever-se à luz dos novos
atores sociais, das necessidades, idéias e emoções que objetivam na
atividade cotidiana. (LANE; SAWAIA, 2006, p. 8).

Já Rodrigues (1989) discorda dessa ênfase na geração de teorias e métodos próprios a


um país ou região. Apesar de não ser contra a produção de teorias e métodos novos na
América Latina, o autor critica a ênfase dada à busca de idiossincrasias quando, a seu ver, a
ciência deve procurar universais: “a psicologia social especificamente deve procurar os
universais do comportamento social os quais, por definição, são transculturais e transitórios
[...]” (p. 129).
Estas divergências entre Lane e Rodrigues constituem um bom exemplo da
diversidade de versões da Psicologia Social brasileira. E é interessante notarmos que, mesmo
após anos de debate, a “caixa-preta” não se fechou. Muito pelo contrário, ambos os autores
continuam sendo lidos e seus textos continuam compondo a lista de bibliografia básica de
disciplinas acadêmicas e concursos públicos.
O livro “Psicologia Social” de Rodrigues, por exemplo, está na 28ª edição64 e foi
encontrado nas prateleiras de várias livrarias que visitamos quando estávamos fazendo esta
pesquisa65. Além disso, esta obra fez parte das listas de referências bibliográficas indicadas

64
As edições mais recentes desse livro estão em coautoria com Eveline M. L. Assmar e Bernardo Jablonski. A
28ª edição é de 2010.
65
Livraria Cultura (loja Paulista), Livraria Cortez (loja Perdizes), Livraria Martins Fontes Paulista e Saraiva
Mega Store (Shopping Eldorado), todas na cidade de São Paulo-SP.
82

em vários editais recentes, como o edital n. 021/200866, do concurso público para professor
efetivo na área de Psicologia Social, Organizacional e do Trabalho da Universidade Federal
de Uberlândia (UFU), os editais dos concursos para psicólogo da Prefeitura Municipal de
Caraá-RS (n. 008/2004)67, e da Prefeitura Municipal de Pitanga-PR (edital n. 01/2009)68,
bem como o edital de seleção 2010.1 do mestrado em Psicologia Social da Universidade
Federal da Paraíba (UFPB)69. Outro livro de Rodrigues bastante utilizado é “Psicologia Social
para Principiantes: estudo da interação humana”, que foi reeditado em 2010.
Os livros de Lane, como “O que é Psicologia Social” (LANE, 1981/ 2006) e
“Psicologia Social: homem em movimento” (LANE; CODO, 1984/ 2009), também
permanecem sendo reimpressos/reeditados, estando, respectivamente, na 22ª e 13ª edição (7ª e
5ª reimpressão). Além disso, eles também foram encontrados nas livrarias visitadas e suas
leituras continuam a ser exigidas em concursos e processos seletivos, tal como o da Prefeitura
Municipal de Reserva do Iguaçu-PR (edital n. 01/2009)70 e da Universidade Federal de
Uberlândia – UFU (edital n. 099/2009)71. Os livros de Lane são, também, bibliografia básica
de disciplinas introdutórias à Psicologia Social de vários cursos de graduação, como, por
exemplo, o da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)72, da Universidade Estadual de
Londrina (UEL)73 e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)74.
Além disso, alguns cursos oferecem disciplinas voltadas especificamente à Psicologia
Sócio-Histórica desenvolvida por Lane, como a Universidade Nove de Julho (UNINOVE)75, o
Centro Universitário UNA76 , a Universidade Luterana do Brasil (ULBRA)77 e o Centro
Universitário Celso Lisboa (UCL)78.

66
Edital encaminhado via e-mail aos discentes do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Social da
PUC-SP.
67
Disponível em:‹http://www.pciconcursos.com.br/concurso/39074›. Acesso em: 18 dez. 2009.
68
Disponível em: ‹http://www.exatuspr.com.br/controle/arquivos/1260873987_edital_abertura.pdf›. Acesso em:
26 dez. 2009.
69
Disponível em: ‹http://www.cchla.ufpb.br/pos_psi/pdf/Edital_do_Mestrado_2010.pdf›. Acesso em: 26 dez.
2009.
70
Disponível em: ‹http://www.redesuldenoticias.com.br/edital_teste_seletivo_ri.pdf›. Acesso em: 26 dez. 2009.
71
Disponível em:
‹http://www.ufu.br/sites/www.ufu.br/files/06%20programa%20e%20refer%C3%AAncia%20edital%20n%C2%
BA%2099%202009.doc›. Acesso em: 18 dez. 2009.
72
Disponível em: ‹http://www.cfh.ufsc.br/psicologia/programaPSI5131.php›. Acesso em: 18 dez. 2009.
73
Disponível em: ‹ http://www2.uel.br/ccb/psicologia/3psi010.htm›. Acesso em: 18 dez. 2009.
74
Disponível em: ‹http://www.graduacao.ufrn.br/Programas/Psicologia/PSI0904%20-
%20T%F3picos%20em%20Psicologia%20Social%20I%20.doc›. Acesso em: 18 dez. 2009.
75
O quadro de disciplinas do curso de Psicologia da UNINOVE nos foi cedido por uma colega que leciona nessa
universidade.
76
Disponível em: ‹http://www.una.br/curso/graduacao/psicologia/grade›. Acesso em: 18 dez. 2009.
77
Disponível em: ‹ http://www.una.br/curso/graduacao/psicologia/grade›. Acesso em: 18 dez. 2009.
78
Disponível em: ‹ http://www.educaedu-brasil.com/licenciatura-em-psicologia-carreiras-universitarias-
22691.html›. Acesso em: 18 dez. 2009.
83

Podemos dizer que o fato de as Psicologias Sociais de Lane e de Rodrigues


coexistirem até os dias de hoje nos dá um forte indício da diversidade da Psicologia Social e
da não linearidade da história. Afinal, ao contrário do que afirmam alguns autores, a crise de
referência não representou um divisor de águas propriamente dito, ela não eliminou por
completo a Psicologia Social norte-americana e a substituiu por uma ciência comprometida
politicamente. Como diriam Mol e Law (2002), aquilo que está reduzido ou esquecido em um
momento pode ressurgir no momento seguinte, o que está em segundo plano pode, em
seguida, passar a ser o foco de nossa atenção.
Além disso, o significado atribuído a uma nova teoria é estabelecido a partir da
comparação desta com suas predecessoras – que, na maioria das vezes, não são descartadas,
mas realocadas em uma esfera de ação ligeiramente diferente. Desse modo, o presente

[...] não transcende o passado mas o contém. E ao invés de ser uma unidade
singular, o presente é composto de muitas partes. Há vários tempos
diferentes dentro do presente: o antiquado e o precoce, o atual e o
passageiro. [...] Ao invés de fluir de uma maneira linear, o tempo assume a
forma de dobras, voltas [loops] e espirais. É múltiplo. (MOL, BERG, 1998,
p. 5).

Pensar a Psicologia Social a partir da TAR implica, assim, assumir que sua crise de
referência não representou aquilo que Thomas Kuhn (1962/2003, p. 125) chamou de
“revolução científica”. Afinal, para o autor, as revoluções científicas são “[...] episódios de
desenvolvimento não cumulativo, nos quais um paradigma mais antigo é total ou
parcialmente substituído por um novo, incompatível com o anterior.” 79
De acordo com Kuhn (2003), essas revoluções acontecem quando uma pequena
subdivisão de uma comunidade científica começa a pensar que o paradigma existente não
mais é adequado para a exploração de um determinado aspecto da natureza. Este sentimento
de funcionamento defeituoso do paradigma faz com que esses cientistas proponham uma nova
maneira de ver as coisas, gerando novos problemas a serem considerados. Nas palavras do
autor,

alguns problemas antigos podem ser transferidos para outra ciência ou


declarados absolutamente “não-científicos”. Outros problemas
anteriormente tidos como triviais ou não-existentes podem converter-se,
com um novo paradigma, nos arquétipos das realizações científicas

79
Sendo que por “paradigma” o autor compreende todas “[...] as realizações científicas universalmente
reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de
praticantes de uma ciência.” (KUHN, 2003, p. 13).
84

importantes. [...] A tradição científica normal que emerge de uma revolução


científica é não somente incompatível, mas muitas vezes incomensurável
com aquela que a precedeu. (KUHN, 2003, p. 138).

Até poderíamos dizer que, nas décadas de 1960 e 1970, o grupo liderado por Silvia
Lane passou a ter esse sentimento de funcionamento defeituoso da Psicologia Social e
começou a propor novos problemas e soluções. Entretanto, como dissemos anteriormente, sua
proposta não substitui a tradição norte-americana de Rodrigues. Pelo contrario, até hoje
ambas fazem parte do escopo teórico da Psicologia Social no Brasil, fazendo com que seja
inadequado afirmar que a crise de referência representou uma mudança de paradigmas ou uma
revolução científica.
De acordo com Iray Carone (2003, p. 112), a noção de paradigma é muitas vezes
usada para defender “territórios” no interior da Psicologia – tal como quando manuais
introdutórios se referem a um “paradigma positivista” e a um “paradigma crítico” para
estabelecer a distinção entre as teorias que são “genuinamente” positivistas e aquelas que são
“genuinamente” críticas80. “Ao estabelecer tais distinções, estão separando escolas rivais com
o propósito de valorizar apenas uma ou mais dentre elas, que pretensamente correspondem às
características de um paradigma.” Além disso,

[...] os anúncios repetidos de “revoluções” em um campo teórico parecem


servir ao propósito de “enterrar” os rivais, como no caso do cognitivismo
[...] em relação ao behaviorismo, ou deste com relação ao mentalismo. É
inegável que têm ocorrido grandes alterações ontológicas e epistemológicas
ao longo do desenvolvimento histórico da Psicologia. Mas [...] essas
mudanças ou alterações não são propriamente “revoluções”, porque elas
têm coexistido e se mantido como tradições paralelas na história da
Psicologia. Assim, o mentalismo e o behaviorismo coexistem
paralelamente, embora sejam ontologicamente opostos: essa é a razão pela
qual um não representa uma revolução em relação ao outro. (CARONE,
2003, p. 112, grifos nossos).

80
Na apresentação do livro “Paradigmas em Psicologia Social”, por exemplo, Regina Campos e Pedrinho
Guareschi (2009, p. 9, grifo nosso) afirmam que “as vicissitudes do planejamento social, associadas às
dramáticas conseqüências dos „experimentos socioculturais‟ realizados ao longo do século [XX], mostraram que
as supostas verdades científicas trazem consigo definições éticas que muitas vezes só se revelam com plena
desenvoltura quando experimentadas na prática. [...] As dificuldades de aplicação prática dos conhecimentos têm
levado, assim a uma reflexão mais madura, menos triunfalista. A ciência genuína se torna mais despojada e mais
preocupada com as questões éticas. É essa última tendência que, parece-nos, define grande parte da produção
contemporânea em Psicologia Social na América Latina. Maritza Montero explicitou este ponto de vista ao
propor, em 1996, a existência de um paradigma elaborado pela Psicologia Social latino-americana – o
paradigma da construção e da transformação crítica, caracterizado pela relação dialógica entre o pesquisador e
os sujeitos da pesquisa e pela ênfase na aplicação da ciência à transformação social [...]”.
85

Segundo Carone (2003), a literatura psicológica usa o conceito de paradigma também


para legitimar sua cientificidade, transformando a diversidade de suas teorias e práticas em
“riqueza de conhecimentos”. Ela define-se como “multiparadigmática”, a despeito de Kunh
nunca ter postulado a existência de múltiplos paradigmas na ciência normal81. Para a autora,
seria mais correto dizer que predomina o ecletismo nos campos teórico e prático da Psicologia
(e da Psicologia Social), afinal, “[...] são muitos paradigmas e muitas revoluções para uma
ciência só! Além disso, para uma ciência com pouco mais de um século existência!” (p. 113).
Coexistem, assim, a Psicologia Social de Lane e a de Rodrigues. Coexistem a ciência
básica, que faz uso de laboratórios, experimentos, escalas etc. para estudar o comportamento
interpessoal “[...] tal como influenciado pela percepção do outro e dos demais fatores
situacionais motivadores deste comportamento” (RODRIGUES, 1979, p. 37); e a ciência
politicamente comprometida e preocupada em entender como o ser humano se torna agente
da história (LANE, 2006).

3.2 A Psicologia Social na dissertação de Menegon

Em sua dissertação de mestrado, Vera Menegon (1998)82 não usou escalas nem fez
uma análise gráfica do discurso, não falou de núcleos de pensamento nem de tipologias de
bases de poder. A Psicologia Social de Menegon é outra: é uma Psicologia Social que enfoca
o uso de repertórios interpretativos sobre menopausa em conversas do cotidiano e na literatura
científica da área de saúde. É uma Psicologia Social que acontece em bares, festas, salas de
espera e bibliotecas; que envolve ondas de calor, mudanças repentinas de humor, medos,
dúvidas, preconceitos, tratamentos hormonais, bancos virtuais de dados e diários de campo.
Todos esses atores (e muitos outros) fizeram parte do percurso percorrido por
Menegon (1998, p. 15) para responder à seguinte questão: “como um fenômeno presente na
vida de todas as mulheres [a menopausa] configurou-se [em uma] rede complexa de

81
Ao menos enquanto sustentou a noção de paradigma na análise do desenvolvimento histórico da ciência. De
acordo com Carone (2003, p. 14, grifos da autora), “mudanças importantes ocorreram nos anos 90, no interior da
epistemologia de Kuhn, em decorrência do intenso debate travado com filósofos e historiadores das ciências
após a publicação de A estrutura das revoluções científicas. O autor abandonou, paulatinamente, os conceitos de
paradigma, conflito interparadigmático, etc., ou, pelo menos, deixou de se referir a eles. No lugar desses,
começou a refinar as suas teses sobre o desenvolvimento histórico das ciências, por meio da retomada de
algumas observações constantes em suas obras anteriores, a respeito da incomensurabilidade entre teorias
científicas, de seus léxicos e classificações taxonômicas, além de esboçar um novo modelo historiográfico
inspirado em A origem das espécies, de Charles Darwin.”
82
Essa dissertação foi defendida no Programa de Estudos Pós-Graduados da Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo (PUC-SP) e foi orientada pela Profa. Dra. Mary Jane Spink.
86

conhecimentos e de sentidos, atravessada por conotações negativas e muito mais próxima da


noção de doença?”
Esse percurso começou com a realização de um levantamento bibliográfico em duas
bases de dados, a Medline e a PsycLit83, e com o uso de textos aí encontrados para delinear o
contexto mais amplo de circulação das ideias. O passo seguinte consistiu na análise das
conversas do cotidiano, “[...] centrando o foco no uso dos repertórios associados à
menopausa, buscando ressonâncias das linguagens sociais, permanências culturais, rupturas e
singularidades de sentidos.” (MENEGON, 1998, p. 18).
Essas conversas e os “contextos” em que elas aconteceram foram registrados em um
diário de campo, ao longo de todo o período de realização da pesquisa. Algumas delas
assumiram a forma de depoimentos; outras, de conversas propriamente ditas. Em algumas, os
participantes conheciam previamente a pesquisadora e o tema de seu estudo; em outras, não.
Às vezes, a pesquisadora participava das conversas; outras vezes apenas as presenciava. Mas
o que todas tinham em comum era o fato de acontecerem espontaneamente durante situações
cotidianas, como em bares, salas de espera, encontros casuais, ligações telefônicas etc.
O processo de análise dessas conversas aconteceu em duas etapas: na primeira delas,
Menegon (1998) analisou individualmente cada conversa e, na segunda, fez uma análise
temática do conjunto das conversas. O quadro 1 reproduz uma das análises dessa primeira
fase e nos ajuda a ilustrar algumas das práticas dessa Psicologia Social.

Quadro 1: Exemplo de análise de conversas do cotidiano


CONVERSA 10

1. Contexto
Numa casa de praia: chovia há uma semana e à noite o jogo de baralho “corria solto”. Neste dia
específico, 6 pessoas jogavam (3 duplas), sendo que uma das duplas era formada por um casal (curso
superior e faixa etária entre 50-55 anos).

2. Conversa
Jogadores: Este jogo está devagar... essa chuva que não passa; acho que amanhã vai fazer sol; vai
nada o jornal disse que está subindo outra frente fria do sul; afinal de quem é a vez? Quem joga?
Cláudia (P1): Sou eu.
Pedro (P2): Só podia ser, olha só a mão dela cheia de cartas...
Cláudia (P1): Não estou com pressa... Estou pensando...
Pedro (P2): (inconformado) Não dá para baixar nada?
Cláudia (P1): (depois de algum tempo, coloca duas cartas no jogo)
Pedro (P2): (Tom de voz mais alto, demonstrando não acreditar no que estava vendo) Só isso? O que
você faz com esse leque de cartas na mão? É para se abanar? Parece que está na menopausa mesmo.

83
A Medline é a base de dados da Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos (US National Library of
Medicine´s – NLM) e a PsycLit – hoje denominada PsycInfo – é da Associação Psicológica Americana
(American Psychological Association – APA).
87

Cláudia (P1): (não responde, mas “fuzila” o marido com o olhar)


(Risos na mesa e um certo mal estar)
Vera: (quebrando o silencio) Olha só, uma situação de bandeja, vou relatar essa situação na minha
pesquisa, posso?
Cláudia (P1): (olhando o marido com um sorriso de desafio) Legal, Vera, relata mesmo!
(Enquanto eu anotava, P2 acompanhava as anotações)
Pedro (P2): Certinho, foi isso mesmo que falei (rindo sem jeito e falando mais baixo). É duro andar
com pesquisadora por perto!
(risos generalizados e o jogo continuou)

3. Dinâmica da conversa
Clima de jogo de baralho, várias pessoas falando ao mesmo tempo; P1 olha as cartas calmamente;
jogadores pressionam; P2 pressiona mais, fazendo gozação; P1 continua tranqüila; P2 pressiona
novamente; P1 coloca duas cartas; P2 explode enunciando uma explicação causal.

4. Fluxo de Associação das idéias


(Jogadores): de quem é a vez?
P1: Sou eu...

P2: Só podia ser...



Olha a mão dela cheia de cartas...

P3: Não estou com pressa... ─ Estou pensando...

P2: (inconformado) Não dá para baixar nada?

P1: (depois de algum tempo, coloca duas cartas no jogo)

P2: Só isso? ─ o que faz com esse leque de cartas na mão?



é para se abanar?

parece que está na menopausa mesmo.

4. Repertórios
Menopausa leque (ondas d calor)
Tônica afetiva P2: irritação e sátira; P1: desconforto, sem jeito

5. Uso dos repertórios


Esta situação envolve toda uma gama de relações entre homem e mulher: disputa, competição e
outras “pendengas” privadas que na situação de jogo emergem de forma mais acirrada. No caso da
menopausa fica clara a associação direta entre menopausa e ondas de calor, sinalizando o quanto
sentir calor e abanar-se viram sinônimos de menopausa em nosso imaginário social. Nesta situação,
em específico, emerge também a idéia de que os calores tornam a mulher menos eficaz em suas
ações e pensamentos. Apesar de todo clima de jogo e brincadeira, fica evidente, por parte do homem,
que a mulher na menopausa não deva ser levada muito a sério.
Fonte: MENEGON, 1998, p. 182, 183.

Neste quadro, vemos que, após registrar uma fala sobre menopausa que havia
acontecido espontaneamente, em seu dia-a-dia, a pesquisadora a classificava como conversa
88

ou como depoimento e descrevia o contexto em que havia ocorrido (três casais de amigos,
uma casa de praia, um dia chuvoso, o jogo de baralho corria solto...). Em seguida, ela
identificava a dinâmica da conversa e montava o fluxo de associação das ideias. Por fim,
identificava os repertórios associados à menopausa (leque, ondas de calor), bem como
repertórios que dessem conotação de afetividade, ou seja, que indicassem algum tipo de
manifestação emocional (irritação, sátira, desconforto...).
Após analisar individualmente as conversas, Menegon (1998) concluiu que os
repertórios que nelas apareciam se referiam a três temáticas gerais – a magia e o poder do
sangue menstrual, a medicalização e a menopausa na perspectiva masculina – e passou a
analisá-las, buscando compreender como os sentidos que emergiam nessas conversas se
relacionavam com o imaginário social e com a literatura científica analisada na primeira parte
da pesquisa, tal como ilustrado a seguir (Quadro 2).

Quadro 2: Exemplo da análise temática


Sardenberg (1994) cita algumas pesquisas que registram a existência da idéia de contaminação
associada ao sangue menstrual no imaginário de várias regiões do Brasil. De acordo com estes
registros, a mulher menstruada deveria evitar o preparo de determinados alimentos, pois os faria
“desandar”, isto é, não atingiriam o “ponto certo”. Ainda segundo a autora, o efeito nocivo do
sangue também atingiria os homens, normalmente através de “trabalhos de feitiço”.
A idéia de purificação do corpo através do sangue menstrual pode ser encontrada nas práticas
médicas mais antigas, como por exemplo, na teoria dos humores, conforme mencionamos na
retrospectiva histórica. Este sangue estaria impregnado de toxinas extraídas do corpo feminino, daí
o sentido terapêutico desse sangue relacionado à saúde da mulher.
Na menopausa, as atribuições ao sangue menstrual emergem pela negativa, ou seja, pela ausência.
Detectamos nas conversas o poder purificador do sangue menstrual, definidor da feminilidade, da
sexualidade e da possibilidade de concepção. Está presente, também, uma certa ambigüidade com
relação à menstruação. Esses sentidos foram expressos pelo uso dos repertórios abaixo listados.

Repertórios associados ao sangue menstrual


eliminador de impurezas, saúde, ânimo, disposição, vida sexual ativa, alegria,
sentir-se melhor, sentir-se mulher, um saco

O trecho a seguir, extraído de uma conversa entre mulheres na faixa etária de 42 a 65 anos,
ocorrida numa clínica de fisioterapia, sintetiza parte destes sentidos.

Conversa (anexo 4, Conversa 3, p. 8)


Dalila (P1): Puxa, Leonor, aquele remédio que o médico receitou é realmente bom. Sabe que
depois de 2 anos sem menstruação desceu na semana passada. Estou me sentindo tão bem, é
como se eu estivesse purificada.
Eleonor (P2): Você sabe que o médico me diz que a menstruação realmente funciona como um
eliminador das impurezas. Eu também acho, a mulher com menstruação tem mais saúde. Eu
também comecei a tomar o remédio.
Vera (P3): Desculpe a intromissão, que remédio é esse?
Dalila e Eleonor (P1; P2): a gente não sabe o nome, mas é hormônio.
89

Conceição (P4): Acho que já estou velha para tomar esse remédio, faz dez anos que parou de
descer para mim. Antes eu achava um saco esse negócio de menstruação, mas depois que
parou é que eu vi como era bom para a saúde da gente. Agora não sou mais a mesma mulher.
Vera(P3): Como assim?
Conceição (P4): Antes eu era mais animada, tinha mais disposição. Não por essas coisas de
sexo, porque eu nunca gostei. Fazia por obrigação. Agora graças a Deus meu marido ficou
impotente e não me amola mais.
Dalila (P1): Ah! Eu gosto de fazer sexo com meu marido. Mas sem a menstruação eu fiquei
meio sem vontade. Agora que desceu de novo, me sinto mulher novamente.
O termo menopausa não é utilizado. Em seu lugar há referência à falta da menstruação e suas
conseqüências.
O sentido de saúde associado ao sangue menstrual fundamenta-se na versão da purificação do
corpo pelo sangue. O uso destes repertórios nos remete à medicina dos humores, em que o sangue
menstrual significa equilíbrio para a saúde. Sua retenção provocaria a destruição e o
envelhecimento dos órgãos.
Fonte: MENEGON, 1998, p. 105, 106, grifos da autora.

Ao dizer que o fato de essas mulheres terem usado uma série de repertórios negativos
para falar da menopausa está, de alguma maneira, relacionado à medicina dos humores,
Menegon (1998) trata as conversas do cotidiano como esquetes, que só podem ser
compreendidos dentro de um cenário. Esse cenário “[...] não é estático e separado do texto, ao
contrário, caracteriza-se pela dinâmica interativa, alimentando e sendo alimentado pelo
imaginário social, pelos vários campos de domínio do saber e pelas práticas sociais do
cotidiano.” (p. 17). A medicina dos humores seria, assim, um desses saberes e essa conversa
em uma clínica de fisioterapia, uma das práticas sociais do cotidiano.
Para analisar esses esquetes e cenários, Menegon (1998) recorre, sobretudo, aos
trabalhos de autores “construcionistas” e analistas de discurso, como Jonathan Potter, Brown
Davis e Rom Harré, Mary Jane Spink e Mikhail Bakhtin, afinal, conforme diria Latour (2000,
p. 58), um pesquisador deve sempre reportar-se a textos anteriores para fortalecer seus
argumentos, arregimentar aliados para o posicionamento que assume em seu trabalho e
mostrar que participa dos debates de uma disciplina. Nas palavras do autor, o adjetivo
científico “[...] não é atribuído a textos isolados que sejam capazes de se opor à opinião das
multidões por virtude de alguma misteriosa faculdade. Um documento se torna científico
quando tem a pretensão de deixar de ser algo isolado.” E, ao relacionar-se com esses autores,
a Psicologia Social dessa dissertação volta-se aos processos de “[...] produção coletiva de
conhecimento e de sentidos, posicionando a produção de sentido na esfera das inter-relações.”
(MENEGON, 1998, p. 16).
Sendo assim, a Psicologia Social dessa pesquisa não é “positivista” nem “sócio-
histórica”. Tampouco se restringe às quatro paredes de uma sala de aula – como no estudo de
Rodrigues e Assmar (2003) – ou de um consultório fonoaudiológico – como na tese de
90

doutorado de Friedman (1994). Ela pode ocorrer em qualquer lugar, em qualquer momento.
Aqui, o fazer pesquisa é um trabalho em tempo integral, que exige que a pesquisadora ande
sempre com um caderninho na bolsa para tomar nota de tudo que tenha a ver com seu objeto
de estudo. É, também, um trabalho que envolve marido, filhos, amigos, desconhecidos... Que
acontece durante as férias, na rampa da faculdade, através de uma linha telefônica... É um
trabalho que transforma o banal, o cotidiano, o “sem importância”, em algo relevante, em
objeto de estudo de uma ciência.

3.3 A Psicologia Social na tese de Mandelbaum

Já o corpus da tese de doutorado de Belinda Mandelbaum (2004) 84 não é formado por


relatos de situações do cotidiano da pesquisadora, mas por transcrições de entrevistas e
sessões de atendimento clínico. Sua produção não acontece a qualquer hora, em qualquer
lugar; mas em uma instituição pública de saúde, em horários agendados previamente, com
clientes/pacientes escolhidos por apresentar características especificadas em seu projeto de
pesquisa. Além disso, seu objeto de estudo não é a menopausa, mas sim “[...] o impacto do
desemprego nas dinâmicas familiares e as respostas que esse tecido de relações deixa surgir
diante desse trauma.” (p.20).
Assim como a Psicologia Social das pesquisas de Lane, essa tese busca unir
investigação com intervenção – tanto que considera que

o modo de lidar com o registro, de transformar a experiência vivida em


discurso escrito, já é teoria, e não apenas um detalhe externo sobre o qual
operar-se-ia a construção teórica posterior. Em psicanálise, assim como em
todos os campos em que procuramos e oferecemos significados aos fatos, a
escuta já é teoria. (MANDELBAUM, 2004, p. 170).

No entanto, para isso, articula atores e utiliza técnicas bastante diferentes. Em primeiro
lugar, ela parte de um referencial teórico psicanalítico e, sendo assim, fala de Freud, de
sofrimento psíquico, de traumas, de sintomas etc. Fala de relações entre “o real” (sic.) e a vida
psíquica, ou seja, de relações entre condições materiais – como o desemprego – e o “[...]
desdobrar sem fim de versões pessoais em cujo interior atuariam como vetor principal
essencialmente forças advindas do campo pulsional – a dimensão do desejo [...]”
(MANDELBAUM, 2004, p. 10).

84
Essa tese de doutorado foi defendida no Programa de Psicologia Social do Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo (IP-USP) e foi orientada pela Prof a. Dr a. Sylvia Leser de Mello.
91

Em segundo lugar, Mandelbaum (2004) realiza entrevistas e atendimentos clínicos


com grupos e famílias de desempregados, buscando criar um espaço de “escuta” capaz de
lidar com suas dores e histórias. Sendo assim, seu compromisso não é propriamente com a
transformação da sociedade, como no caso de Lane, mas com as demandas daqueles que
aceitam participar de sua pesquisa.
Como as sessões de atendimento aconteciam em um Centro de Referência em Saúde
do Trabalhador85, desde as entrevistas iniciais, Mandelbaum (2004) percebeu que as famílias
de desempregados esperavam que seu estudo se inserisse dentro da sistemática de trabalho do
Centro. Em suas palavras,

[...] as famílias insistiam em querer ver o contato comigo como fazendo


parte do trabalho do Centro. Por isto, cada vez mais, fui estabelecendo o
atendimento às famílias aprofundando as pontes e tentando integrar o
trabalho com os demais profissionais do Centro [...] Como fruto desse
processo, encontrei-me semanalmente em reuniões com esses profissionais e
o resultado foi, inicialmente, a estruturação de um grupo de famílias, um
espaço no qual diferentes famílias que tinham em comum a vivência do
desemprego pudessem trocar experiências e refletir juntas sobre a condição
que vivem, buscando eventualmente, de forma coletiva, alternativas de
enfrentamento. (MANDELBAUM, 2004, p. 30).

Algumas das famílias que participaram das entrevistas iniciais foram convidadas a
participar desse grupo, enquanto outras foram convidadas a integrar uma etapa posterior do
trabalho, voltada para um atendimento focal.
Segundo a autora, tanto durante o trabalho grupal quanto durante o focal, eram
discutidas questões relacionadas ao mundo do trabalho e suas ressonâncias nas dinâmicas
familiares, aceitando o que fosse “mais emergente” para cada uma das famílias que
participaram da pesquisa. Sendo assim, a despeito de ter um tema central, as sessões estavam
organizadas de modo a propiciar um espaço aberto de escuta, no qual as famílias podiam
trazer para a discussão suas principais demandas. Entretanto, as estratégias de análise dessas
duas etapas da pesquisa eram distintas: o processo grupal foi abordado enfocando o processo
que a pesquisadora viveu junto às famílias. Para isso, ela apresentava a transcrição inteira de
cada uma das sessões de acordo com a ordem em que ocorreram e, em seguida, as discutia
(como exemplificado no quadro 3).

85
Esse Centro de Referência é uma instituição pública que oferece atendimento clínico (por meio de serviços de
orientação, diagnóstico e tratamento) a trabalhadores com problemas de saúde decorrentes do trabalho.
92

Quadro 3: Exemplo de análise do processo grupal.


[logo após a transcrição integral do sexto encontro]
Estão presentes Rosa, Pedro, Lucio, Silva, Lurdes e Maria, Laís, Margaret e eu, que inicio a sessão:
„como hoje é nosso último encontro, gostaríamos de conversar sobre o que foi o grupo para cada um
de vocês, ter um retorno do trabalho que fizemos juntos‟. Na verdade, inicio encerrando, pedindo,
antes do fecho final, algo assim como uma avaliação. Minha fala foi dura demais. Para um grupo de
pessoas que, no princípio, concordaram em participar muito mais por uma demanda feita pelo Centro
de Referência do que uma opção pessoal; para pessoas que tinham que, num curto espaço de tempo –
seis semanas –, preencher o espaço do grupo com expectativas de características muito difíceis de
serem sustentadas na medida certa- uma vez que a expectativa maior deles, a de arranjar trabalho ou
verem suas reivindicações jurídicas atendidas, tende a ofuscar todo o resto; e, por outro lado, a falta
de familiaridade com um trabalho subjetivo mais concreto, com um trabalho propriamente com a
subjetividade –, todos esses elementos estabelecem coordenadas que tornam a apropriação da
experiência que vivemos no grupo uma tarefa difícil. Leva tempo e, se no encontro anterior, pudemos
nos sentir, em alguns momentos, trabalhando como um grupo que toma para si a tarefa de refletir
com seriedade as questões que iam emergindo, e não apenas como uma reunião de singularidades,
agora, mal eles se vincularam mais fortemente ao grupo, eu o finalizo. E de um modo em que me
distancio deles, por que não me incluí na avaliação.
Fonte: MANDELBAUM, 2004, p. 146, 147, grifos nossos.

Nessa análise, a pesquisadora não falava simplesmente das famílias que atendia, falava
também de seus sentimentos diante delas, questionava seus próprios procedimentos, se
colocava, a todo o momento, como parte do processo grupal.
Já no atendimento a Pedro (o único que compareceu regularmente às sessões focadas),
ela realizava um trabalho de síntese, capaz de “capturar” (sic.) o modo de ser do participante
junto a sua família em uma situação de desemprego. Nas palavras da autora, “[...] mais do que
uma síntese do processo, o que [esperava] apresentar é uma descrição do modo de funcionar
de Pedro diante dos desafios que sua situação existencial coloca para ele.” (MANDELBAUM,
2004, p. 159). Como o foco não estava mais no processo, a cronologia das sessões não foi
seguida e as transcrições dos atendimentos foram apresentadas somente nos anexos. O quadro
4 ilustra essa análise.

Quadro 4: Exemplo de análise de atendimento focado.


[...] Pedro é dependente dos outros, como supõe que seu filho é dependente da não separação dele de
Laura. Mas, contrapõe a essa realidade de dependência – principalmente no caso de sua relação com
Laura – uma certa superioridade moral, que ele põe em ação com o intuito de amplificar algo assim
como uma força gravitacional e atrair sua companheira com maior intensidade para o seu campo
particular: „... eu tento normalizar e não complicar mais. Se eu for embora, ela vai pôr a culpa em
mim, que eu larguei a família. Tenho que agüentar, para tentar normalizar a família naquele padrão,
não deixar as crianças tristes. Comigo estamos tendo o maior cuidado, casa arrumadinha, comida
pronta. Queria ver outro, ela ia encontrar em porta do bar, jogando sinuca, baralho... [Ela] tem que
agradecer a Deus por ter encontrado eu, estou sendo bom demais. Se eu arrumei uma família, foi para
levar... agora viver essa desigualdade, um querendo passar por cima do outro... tem que ser calmo.
Ela pode tirar pelas amigas dela que têm marido, nenhuma faz o que eu faço‟ [...] Talvez seja o
orgulho de Pedro que a situação de desemprego arranha. Talvez sejam suas expectativas de
formação: será que Pedro cresceu sentindo que deveria substituir o pai como provedor para a sua
família? Ou toda a história do imaginário das famílias brasileiras, no qual o homem ocupa o lugar
93

do patriarca – „o ramo do homem é manter a casa. Não é lugar ficar em casa...‟ –, contribui para
pressionar nele uma atitude quase que de „prestar contas emocionais‟, na relação com Laura e seu
filho, de todas as limitações que a vida maior impôs sobre ele? Se a vida o rebaixa – „eu fico em casa,
varro, lavo, cuido do menino. Quando ela chega, eu estou mal, não é a minha área, é de mulher, fico
sem jeito‟ – para resgatar um equilíbrio narcísico pessoal, Pedro precisa rebaixar a companheira:
„ela deve ter problema. Só fala gritando. Isso ofende... Eu fico com as crianças e ela diz que eu não
ajudo. Acho que eu vou voltar para a minha mãe. É erro da parte dela‟. As próprias potencialidades
dela – ou o que ele reconhece como potencialidades nela – o ameaçam: „hoje ela foi fazer bico... fora
de casa, ela faz tudo, conversa. Dentro de casa não se dispõe. As amigas chamam, ela vai com o
maior prazer, vai com elas comprar no supermercado... e reclama em casa. Acho que ela tem
problema‟. E começa a denegri-la. Ela o trai para receber alguns trocados de volta. Como uma mulher
de rua. E, desse modo, internamente, Pedro resgata uma superioridade necessária para ele, para poder
sobreviver sem ter que enfrentar a sua condição de ser absolutamente dependente dela.
Fonte: MANDELBAUM, 2004, p. 161- 165, grifos nossos.

Nesse trecho da análise, podemos observar que a pesquisadora enfoca as relações


emocionais que estruturam a vida psíquica de Pedro e que, ao mesmo tempo, são estruturadas
pela história familiar e pelo campo sócio-econômico-cultural em que ele está inserido. Essas
relações são, segundo ela,

[...] detectáveis em ambos os casos através da fala dos sujeitos implicados,


desse campo em que incidem dinâmicas pulsionais, elaborações simbólicas,
processos transformadores dos significados das palavras, juízos de valor e
também determinismos de um para além das palavras, de um estado de
coisas suscitado pelos processos sócio-econômicos. (MANDELBAUM,
2004, p. 170).

Assim, para a pesquisadora, Pedro sente-se humilhado. Humilhado por não ter um
emprego, por depender financeiramente da esposa, por ter de realizar trabalhos “de mulher”.
E, possivelmente, esse sentimento esteja relacionado com sua crença no papel de substituto do
pai como provedor do lar ou com o imaginário das famílias brasileiras, em que o homem
ocupa o lugar do patriarca. Ou seja, possivelmente esse sentimento esteja relacionado com sua
história familiar ou com o contexto social em que ele está inserido.
Após descrever o processo grupal e o modo de funcionar de Pedro, Mandelbaum
(2004) optou por fazer um terceiro tipo de registro, que, segundo ela, funcionava como uma
síntese dos dois primeiros. Tal como fez com o grupo, passou a descrever passo a passo uma
das sessões realizadas com um casal (Roberto e Leonor); mas, desta vez, trazendo para essa
análise as ressonâncias de todas as 16 sessões das quais o casal participou, fazendo, assim, ao
mesmo tempo, uma análise não cronológica do modo de funcionar do casal, tal como
ilustrado no quadro 5.
94

Quadro 5: Exemplo da análise do atendimento ao casal.


Roberto e Leonor têm por volta de 40 e poucos anos, ela alguns mais do que ele. Essa diferença é
visível: ele tem um porte mais jovem e uma certa beleza na qual ganha destaque um par de olhos bem
azuis, entre sedutores e perturbadores. Encará-lo não é fácil. [...] Dizem que olhos azuis costumam
ser perigosos. No caso de Roberto, o perigo dos olhos azuis parece recair sobre ele próprio. “Olhem-
me”, parece dizer ele. E todo esse não-dito se acumula, e então Roberto retira o olhar, recuando,
incapaz de sustentar o que ameaçadoramente, como em erupção de ondas, é posto em movimento
através do olhar. Leonor transparece, em gestos e fala, um modo de ser mais pragmático, batalhador.
[...] a proposta de um trabalho terapêutico com o casal foi recebida com entusiasmo por parte de
Leonor, que viu no atendimento a única tentativa para mudar o modo de ser de Roberto e, assim,
salvar seu casamento. Roberto parece ter aceito a proposta de um modo passivo e silencioso, sem
expressar qualquer repercussão em si a partir dela. Como propusemos anteriormente, vamos agora
acompanhar o passo a passo de uma sessão do casal – que ocorreu no período final do processo
terapêutico -, levando em consideração, para a sua compreensão, elementos advindos de todas as
sessões anteriores.
Sessão do dia 07/10/2003:
Roberto: vocês receberam o recado da semana passada?
Margaret: sim.
Leonor: é que eu estou mudando para a sub-prefeitura do Cambuci.
[... continua a transcrição integral da sessão]
Roberto começa nos perguntando „vocês receberam o recado da semana passada?‟ O casal tinha
faltado na última sessão, deixando um recado. Margaret diz que sim, Leonor explica: „é que eu estou
mudando para a sub-prefeitura do Cambuci‟. Na dinâmica deste casal, quase sempre é assim: Leonor
explica tudo, justifica tudo e até propõe tudo. Foi assim desde o primeiro momento em que nos
vimos, quando estabelecemos a proposta de trabalho. Ela, como dissemos, entusiasmou-se com a
possibilidade de participarem de um atendimento de casal porque, casada com Roberto há 14 anos,
sempre ele „teve problemas de emprego, ficando por volta de um ano e meio em cada lugar... é bom
funcionário, mas sempre o perseguem e acaba sendo mandado embora. Não sei se ele não atura, não
tem paciência...quando você pensa que ele vai ficar bom, ele perde o emprego‟ [...].
Fonte: MANDELBAUM, 2004, p. 170-176, grifos nossos.

É interessante notarmos que, em boa parte da tese, Mandelbaum (2004) refere-se a


sua pesquisa como um trabalho de Psicanálise. Ela justifica seus procedimentos dizendo que é
assim que se faz na Psicanálise e usa conceitos e termos típicos dessa área do saber.
Entretanto, no primeiro capítulo da parte II, posiciona seu trabalho como um estudo de
Psicologia Social, tal como podemos ver no trecho a seguir:

ser desempregado é um aspecto do real ou uma condição da vida psíquica? A


pergunta é tola, porque nada mais faz do que ressaltar a fronteira entre o
território particular de cada um, sua assim chamada vida interior, e o
coletivo do qual todos nós fazemos parte, a assim chamada vida exterior.
Toda vez que lidamos com singularidades em Psicologia Social,
preocupamo-nos em estabelecer o hífen entre o individual e o coletivo, entre
o singular e o plural, visando, como diz Adorno, integrar o homo
oeconomicus – o homem que é o resultado da ação das instituições e
engrenagens nas quais se suporta e se limita seu intercâmbio com outros
homens, sua socialização, em cujo interjogo dá-se o essencial das trocas
responsáveis pelo comércio da adaptação -, e o homo psychologicus que, a
partir de Freud, Melanie Klein, e outros seguidores, ressalta as intensidades
de uma demanda pulsional, de um além do campo do racional, pressentindo
95

em qualidades emotivas, entre o amor e o ódio, a partir das experiências de


amparo e desamparo e da inerente tolerância a lidar com angústias, com os
determinantes de uma economia subjetiva na qual se daria o comércio
essencial do processo de colorir emocionalmente a si mesmo e ao mundo em
que se está. (MANDELBAUM, 2004, p. 189).

O uso da primeira pessoa do plural na frase “toda vez que lidamos com singularidades
em Psicologia Social, preocupamo-nos em estabelecer [...]” (MANDELBAUM, 2004, p. 189,
grifos nossos) é um dos indicativos do posicionamento supracitado. Sendo assim, podemos
dizer que o que a pesquisadora faz é não somente Psicanálise, mas é, também, Psicologia
Social. No entanto, não é qualquer Psicologia Social, é uma que coloca o hífen entre o
individual e o coletivo, entre o singular e o plural, entre o homo oeconomicus e o homo
psychologicus. É uma que vincula teorias sobre a vida humana à vida concreta, atende a
demandas e busca diminuir o sofrimento psíquico dos que dela participam. Nesta Psicologia
Social, os sentimentos da pesquisadora – como o incômodo gerado pelos (sedutores e
perturbadores) olhos azuis de Roberto – fazem parte do material de análise. Assim como
também o fazem figuras paternas, equilíbrios narcísicos, imaginários populares, dinâmicas
pulsionais, elaborações simbólicas, processos transformadores dos significados... Em suma, a
Psicologia Social dessa tese é Psicanálise.

3.4 A Psicologia Social na tese de A. D. Santos

Já a Psicologia Social da tese de doutoramento de Alessandra Daflon dos Santos


(2008)86 não é Psicanálise, é História. Neste trabalho, a pesquisadora toma como ponto de
partida a publicação de uma revista de Psicologia – a Rádice87 – para contar-nos a história da
Psicologia no Rio de Janeiro e no Brasil. Em suas palavras:

o objeto de investigação desta tese é a revista Rádice, produzida por psicólogos,


estudantes de psicologia, artistas e jornalistas durante a segunda metade da década
de 1970, no Rio de Janeiro. O trabalho partiu da vontade de saber como a revista
foi possível e como foi, para o grupo de colaboradores, produzi-la. A idéia que
sustenta este trabalho é a de que existem movimentos instituintes no campo da
86
Esse trabalho foi orientado pela Profa. Dra. Ana Maria Jacó Vilela e defendido no Programa de Pós-Graduação
em Psicologia Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Em 2009, venceu o II Concurso
Brasileiro de Teses de Doutorado, Dissertações de Mestrado e Artigos oriundos de Trabalhos de Conclusão de
Curso (TCC, Monografia), de Iniciação Científica e de Estágios de Graduação em Psicologia, na modalidade
“tese de doutorado”.
87
Segundo A. D. Santos (2008), a Rádice foi produzida entre 1976 e 1981 e caracterizava-se por levar aos seus
leitores temas variados e polêmicos que não eram abordados nas revistas de Psicologia da época, tais como a
repressão política, o tratamento desumano oferecido por hospitais psiquiátricos, as terapias corporais e a
regulamentação da profissão.
96

psicologia, e que a Rádice é um deles. Meu objetivo é apresentar a trajetória desta


revista-acontecimento irradiadora de idéias, pensamentos e discussões que
marcaram determinado momento histórico da psicologia no Rio de Janeiro e,
porque não dizer, no Brasil. (A. D. SANTOS, 2008, p. 10).

Para atingir esse objetivo, A. D. Santos (2008) leu e releu todos os exemplares da
Rádice e realizou entrevistas com pessoas que participaram de sua produção. Ao ouvir os
depoentes, percebeu que os relatos sobre a revista confundiam-se com a vida de cada um: “a
cada encontro uma “nova” Rádice surgia através dos afetos e da forma como cada um foi
marcado por aquela experiência.” (p. 17). Os questionamentos suscitados através desses
encontros instigaram a pesquisadora a investigar a relação tempo-memória-subjetividade –
sendo “o tempo, sempre o do presente; a memória vista como marcas impressas no corpo a
partir das experiências vividas; a subjetividade entendida como o modo singular de ver,
pensar e perceber o mundo, efeito das experiências e dos encontros ao longo da vida.” (p. 17).
Para a autora, uma história que leva em conta essas singularidades não pode ter a
pretensão de ser “a oficial”. Afinal, segundo ela, verdades são elementos transitórios, que
dependem do momento em que são produzidas. Sendo assim, a história (ou as histórias) sobre
a Rádice que ela apresenta em sua tese teria(m) sido inventada(s) e partiria(m)

[...] de uma interrogação contemporânea, no presente, que implica o


questionamento sobre a psicologia e a formação, o envolvimento com instituições
representativas da profissão, a constituição de novas práticas. Essas questões
ganham destaque na medida em que, hoje, pensamos a psicologia como prática
social, possível no campo das resistências, buscando formas de escapar aos
modelos há muito naturalizados. A psicologia deve ser um instrumento de
interpelação e análise das relações sociais e históricas e nossas implicações com o
mundo. Ao abrir a Rádice o que nos fez apaixonar foi perceber nela tal afirmação,
da psicologia como resistência: a Revista torna-se, assim, um instrumento de
atualização das questões do presente. (A. D. SANTOS, 2008, p. 22).

Após delimitar a revista como objeto de sua tese de doutoramento, A. D. Santos


(2008) iniciou um movimento de “rasgá-la” (sic.) em pedaços para compreender sua
organização, os temas abordados e o lugar das pessoas envolvidas na sua produção. Para isso,
elaborou mapas com resumos dos conteúdos de cada número e fez uma extensa lista com
todos os nomes que aparecem nos expedientes, especificando os números e seções em que
apareceram, suas “funções” e mudanças e o tipo de material com o qual contribuíram (se
foram artigos, resenhas, notas etc.).
A pesquisadora também estabeleceu modos diferentes de ler a revista: primeiramente,
procurou criar uma ideia geral sobre cada número lendo integralmente os exemplares, sem
97

preocupar-se em fazer anotações e análises. Em um segundo momento, já preocupada com


registros, concentrou-se na leitura dos editoriais e da sessão “Geralmente”, pois esses dois
espaços da revista apresentavam dados sobre o momento histórico em que os exemplares
foram produzidos, além de permitirem que a pesquisadora relacionasse um número com o
outro por meio da construção de mapas comparativos que indicavam as especificidades
estruturais de cada publicação.
As entrevistas (ou depoimentos) não seguiram um roteiro pré-estabelecido, A. D.
Santos (2008) apenas pedia para o depoente falar sobre sua formação, sua trajetória e seu
encontro com a Rádice. Nesses encontros, a pesquisadora sempre levava, além do gravador,
exemplares da revista (ou “instrumentos para suscitar memórias”, como gosta de chamá-los).
Quando o depoente era um ex-colaborador da Rádice, ela tinha o cuidado de fazer um
levantamento prévio (a partir do corpo da revista e dos expedientes) de tudo o que ele havia
feito.
A escolha dos depoentes obedeceu a diferentes critérios: ao esmiuçar a revista, a
pesquisadora localizou pessoas que se destacavam pela quantidade de trabalho, observada no
número de notas e matérias. “Nem todos foram localizados; aos que conseguia encontrar,
pedia indicação de novos nomes para novos depoimentos. Para mapear os possíveis depoentes
entre os que leram a revista e participaram dos simpósios e festas, [contou] com a colaboração
de antigos professores e amigos.” (A. D. SANTOS, 2008, p. 23). Esses depoimentos não
foram analisados ou interpretados formalmente, foram instrumentos que fizeram a
pesquisadora “vibrar” (sic.).
Para construir o argumento de sua tese, A. D. Santos (2008) não se limitou ao
conteúdo da revista. Pelo contrário, cada temática, autor ou evento abordado na Rádice servia
como um ponto de partida para a autora falar de política, história, repressão, Reich, formação
profissional etc. No primeiro capítulo, por exemplo, ela busca contextualizar o surgimento da
revista descrevendo fatos que marcaram a história do Brasil, como a ditadura militar, a
emergência de movimentos sociais, a exigência da anistia, as transformações nas
universidades brasileiras, a situação precária (e desumana) dos hospitais psiquiátricos etc. Já o
capítulo 2, dedicado a uma fase mais propositiva da Rádice, fala da história e da obra de
Wilhelm Reich, do papel da imprensa alternativa como difusora do pensamento da esquerda
brasileira, das denúncias de tortura, da criação do Sindicato dos Psicólogos no Rio de Janeiro
e da mobilização contra as propostas de reformulação do currículo mínimo dos cursos de
Psicologia. Por fim, no capítulo 3, a autora nos conta histórias sobre os encontros e simpósios
“alternativos” realizados na época, sobre os Ciclos Reich, sobre as criticas às sociedades de
98

psicanálise “oficiais”, sobre a criação do Instituto Brasileiro de Psicanálise, Grupos e


Instituições (IBRAPSI) e sobre a transformação da revista Rádice no jornal “Luta e Prazer”. O
quadro 6 exemplifica a estratégia argumentativa da autora, na qual o tema de uma matéria
serve como disparador para a construção de uma História.

Quadro 6: Exemplo da estratégia argumentativa utilizada por A. D. Santos (2008)


Em 1979, na Rádice no 9 uma grande matéria sobre a proposta de um novo currículo para os cursos de
psicologia no Brasil contava a história dessa proposta, seu início em 1976, quando o Conselho Federal
de Educação (CFE) abriu um processo de reformulação do currículo mínimo da psicologia e a
constituição em 1977, de uma comissão do Departamento de Assuntos Universitários do Ministério da
Educação e Cultura (DAU/MEC), com o mesmo propósito. A denúncia desses acontecimentos, visto
como ato autoritário, pois não houve uma convocação ampla de todos os interessados, gerou intensas
mobilizações, reunindo estudantes, professores e profissionais de psicologia. Essas mobilizações, que
se estenderam por todo o país, além de terem tido um caráter singular, tiveram como efeito o
arquivamento da proposta. A partir da vigência da Lei 4.119 de 27 de agosto de 1962, que
regulamentou a profissão de psicólogo e os cursos de formação em psicologia, foi fixado, o currículo
de psicologia, através do Parecer no 403 do Conselho Federal de Educação (CFE). [...] O primeiro
currículo foi elaborado a partir da experiência dos centros de formação já existentes no país e das
discussões provocadas pela proposta de currículo publicada em 1954 na revista Arquivos Brasileiros
de Psicologia (ABP), com a colaboração de professores renomados nacionalmente. A proposta
apresentava matérias comuns [...], que envolviam conhecimentos instrumentais como fisiologia e
estatística, e os conhecimentos de psicologia – psicologia geral e experimental, psicologia da
personalidade, psicologia social e psicopatologia geral. Definia, ainda, para a formação do psicólogo,
duas matérias chamadas “fixas” (Técnicas de Exame e Aconselhamento Psicológico e Ética
Profissional) e três “variáveis”, definidas pelos estabelecimentos de ensino de acordo com suas
necessidades e possibilidades, mas que deveriam observar e atender às características da atividade do
psicólogo nas áreas tradicionais, como a escola, a empresa, a clínica. [...] No ano de 1976, o Conselho
Federal de Educação (CFE) encarregou a conselheira Nair Fortes Abu-Mehry de apresentar um
anteprojeto para a reformulação do currículo mínimo da psicologia, que [...] havia sido estabelecido
pelo Parecer no 403 de 1962. Em 1977, foi constituída pelo Departamento de Assuntos Universitários
do Ministério da Educação e Cultura (DAU/MEC) uma comissão, presidida por Samuel Pfromm
Netto, com o mesmo objetivo – reformulação do currículo. [...] As críticas ao processo de
reformulação do currículo e aos argumentos expostos acima foram intensas, gerando a mobilização de
professores universitários, estudantes, profissionais psicólogos e diversas entidades representativas,
como os sindicatos em todo o país. [...] Pela primeira vez uma unanimidade na psicologia brasileira:
todos contra o “pacote pfrometa”, que propunha a psicologia como uma entidade repressiva,
psicologizando os problemas sociais. Rádice (1979) aponta uma série de enganos, na proposta, que
vão desde a formulação do documento, passando pela definição de psicologia, estabelecimento de uma
psicologia tecnocrática ligada á produção, incremento do consumo e repressão, e, ainda, o
desconhecimento das diferenças regionais e da autonomia universitária, além de deixar de mencionar a
prática da pesquisa. [...] As mobilizações não pararam e na seção “Psicologia nos Estados” [da revista
Rádice], são relatadas reuniões, debates, assembléias e organizações de novas comissões partidárias
em diferentes regiões do país. [...] A preocupação com o caráter científico da formação do “novo
profissional” surgiu em períodos anteriores ao de 1970. Esch e Jacó-Vilela (2001) ressaltam as
propostas do psicólogo polonês radicado no Brasil, Waclaw Radecki, o projeto apresentado pelo
psiquiatra espanhol Mira y López e, ainda, o projeto substitutivo a esse apresentado pelo Conselho
Nacional de Educação (CNE), em 1957.
Fonte: A. D. SANTOS, 2008, p. 112-117.
99

Neste trecho de sua tese de doutoramento, A. D. Santos (2008) toma como ponto de
partida a matéria da Rádice sobre a proposta de um novo currículo para os cursos de
Psicologia para falar da história da formação na área. Para isso, recorre a outros historiadores,
a documentos oficiais, personalidades, órgãos governamentais, periódicos acadêmicos,
acontecimentos, comissões etc. (Fig. 2). Ela “volta” ao ano de 1954 – quando foi publicada a
primeira proposta curricular (antes mesmo da regularização da profissão) – passa pela década
em que a Rádice circulava em bancas, festas e diretórios acadêmicos e “aterrissa” nos dias de
hoje, nos fazendo refletir (ainda que implicitamente) sobre a formação profissional que
queremos.

Figura 2 – Atores evocados para falar da história da formação em Psicologia

Nair Fortes Abu-Mehry Mira y López

Arquivamento da
1976 - CFE abre processo de proposta de reformulação
reformulação do currículo
mínimo de Psicologia
Preocupação
com o caráter
Mobilização contra a científico da
reformulação formação do
Lei 4.119
de 1962 “novo
1976 - Constituição profissional
da DAU/MEC

Pacote
1954- Arquivos
Rádice no. 9 pfrometa
Brasileiros de Waclaw Radecki
Psicologia Professores
renomados
nacionalmente Autonomia
universitária

Crítica à Consumo
Matérias “fixas” e Psicologia
”variáveis” tecnocrática Diferenças regionais
Repressão

Para que essa Psicologia Social que nos faz “viajar no tempo” exista, é preciso “rasgar
revistas em pedaços”, transportar gravadores, carregar “instrumentos para suscitar memórias”,
construir mapas comparativos... É preciso “inventar” uma história que não tem a pretensão de
ser a única história possível. É preciso “vibrar”.
100

3.5 A Psicologia Social na dissertação de Miranda

Na dissertação de mestrado de Sheila Ferreira Miranda (2009)88, a História não é foco,


mas apenas o pano de fundo para falar do processo de construção de identidades de
afrodescendentes. Para isso, a pesquisadora escolheu como “caso a ser estudado” o Grupo de
Inculturação Afrodescendentes Raízes da Terra – um grupo urbano, minoritário, preocupado
em revitalizar a memória das culturas afrodescendentes que migraram para o Brasil e que
“[...] traz uma história de resistências contra condições de vida adversas e preconceitos.”
(MIRANDA, 2011, p. 27).
O estudo de Miranda (2011) teve como fio condutor as seguintes questões: “[...] como
„assumir plenamente‟ uma identidade com traços históricos carregados de ambigüidade e de
uma situação de indefinição social que cotidianamente é vivenciada através das mais diversas
manifestações de preconceito?” (p. 27); “como o Grupo tem reagido a tantas adversidades?”
(p. 27); “quais as estratégias utilizadas para sobreviver num contexto permeado de
antagonismos?”(p. 27); “de que maneira estas situações são vivenciadas e re-significadas
pelos integrantes do Grupo, já que elas inevitavelmente desempenham um importante papel
reflexivo na constituição identitária destes sujeitos?”(p. 27).
Para responder a essas perguntas, Miranda (2011) reconstruiu a história do Raízes da
Terra a partir de quatro tipos de materiais: 1) atas de registro das reuniões do grupo,
enfocando, sobretudo, suas relações com a igreja católica e os conflitos políticos a elas
relacionados; 2) diários de campo produzidos durante os doze anos em que estagiários do
Laboratório de Pesquisa e Intervenção Psicossocial da Universidade Federal de São João Del-
Rei (LAPIP)89 realizaram trabalhos de pesquisa e de extensão com o Grupo; 3) entrevistas de
“história oral de vida” e 4) entrevistas de “história oral temática”.
De acordo com Miranda, as atas lhe permitiram fazer uma leitura dos diferentes
momentos do Raízes da Terra e das ações coletivas e debates (internos e externos) gerados
por acontecimentos que marcaram a trajetória do Grupo. Já a visão dos(as) interventores(as)
que passaram pelo estágio lhe ofereceu “[...] uma nova perspectiva dos acontecimentos, lutas
e estratégias travadas nestes anos.” (MIRANDA, 2011, p. 75). Para a autora, os diários que

88
Esse trabalho foi orientado pelo Prof. Dr. Marcos Vieira Silva e defendido, em 2009, no Programa de
Mestrado em Psicologia da Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ). No mesmo ano, venceu o II
Concurso Brasileiro de Teses de Doutorado, Dissertações de Mestrado e Artigos oriundos de Trabalhos de
Conclusão de Curso (TCC, Monografia), de Iniciação Científica e de Estágios de Graduação em Psicologia, na
modalidade “dissertação de mestrado”. Como a dissertação não está disponível online, utilizamos a versão
publicada em 2011 pela editora da ABRAPSO.
89
Coordenado por Marcos Vieira Silva. A pesquisa de Miranda (2011) fez parte de um dos projetos do LAPIP.
101

eles(as) construíram foram importantes para sua pesquisa pois, neles, estavam registradas
tanto as descrições dos acontecimentos ocorridos em campo, quanto as observações teóricas,
as impressões e os sentimentos dos(as) pesquisadores(as). Em suas palavras, “neste contexto,
os significados atribuídos aos diferentes momentos históricos do Grupo puderam ser
apreendidos através de um trabalho que propiciou a leitura reflexiva do processo de interação
entre pesquisador e sujeitos da pesquisa.” (p. 75, 76). E na busca de entender as significações
produzidas no processo de construção dessas ações coletivas, bem como suas implicações na
produção de identidades, Miranda elegeu o trabalho de história oral de vida e história oral
temática como “metodologias suporte” (sic.) de seu trabalho.

O trabalho de história oral de vida propicia ao sujeito uma reconstituição da


própria experiência pessoal. Assim o “sujeito primordial” da entrevista é o
depoente, de forma que as intervenções do entrevistador são mínimas. A
experiência biográfica toma relevo e é encadeada segundo a temporalidade,
recordações e vontade do entrevistado. [...] A questão de uma “verdade”
torna-se irrelevante, tendo em vista que as investigações são centradas nos
significados atribuídos à narrativa e a versão oferecida pelo colaborador é o
centro do trabalho [...]. As omissões e os enquadramentos narrativos
concedidos pelo depoente, também são elementos importantes no processo
de análise dos dados, já que o que interessa é a forma como cada sujeito
constrói sua narrativa e o modo como ele pretende que a sua experiência
seja considerada [...]. Neste sentido, a história de vida proporciona um
sentido à noção de processo [...], de modo que se apresenta como
instrumento privilegiado de análise e interpretação para o entendimento das
articulações entre as experiências subjetivas e a conjuntura dos fenômenos
históricos. [...] a história oral temática possibilitou à entrevista um caráter
mais preciso, pontual, permitindo o esclarecimento acerca de dados da
história do Grupo, sem necessariamente abranger a totalidade da existência
de todos os sujeitos [...] ao optarmos pelo trabalho da história oral temática
[...] convidamos os colaboradores a rememorarem momentos marcantes
desta construção coletiva, incluindo também no trabalho da entrevista a
possibilidade de uma revitalização. [...] a revitalização toma corpo no
encontro entre os sentidos individuais e a conjuntura de construções sociais.
(MIRANDA, 2011, p. 76, 77, grifos nossos).

Miranda (2011) realizou a entrevista de história oral de vida com Dona Benedita,
fundadora e idealizadora do Raízes da Terra. Já as entrevistas temáticas foram realizadas com
esta última e com outros três membros antigos do Grupo que, segundo a pesquisadora,
exercem grande influência sobre os demais.
Miranda (2011) contou a história do Raízes da Terra intercalando informações
contidas nas atas e diários de campo, relatos dos depoentes e reflexões acadêmicas, tal como
exemplificado no quadro 7.
102

Quadro 7: Exemplo da estratégia argumentativa utilizada por Miranda (2011)


Abertos os comentários ao Grupo [...] D. Benedita começou falando de experiências próprias,
afirmando que o negro não é reconhecido como alguém que possui um cargo importante na
sociedade, e exemplificou dizendo que trabalha como responsável numa área administrativa, mas que
as pessoas ao se dirigirem a ela, sempre perguntam onde está o responsável, como se ela fosse uma
faxineira ou uma empregada. “O negro não aparece no meio dos brancos” – diz.
Outra experiência contada foi vivida enquanto ela [D. Benedita] conversava com um Bispo de uma
região na qual participava de um encontro. Este havia dito que o negro tinha muito o que acrescentar
aos brancos, pois somente ele [o negro] é que sabia como fazer uma “boa comida e limpeza”. Tal
comentário gerou indignação nos componentes do Grupo, que discutiram sobre o caráter contraditório
da igreja – que prega a igualdade, mas age discriminatoriamente. Foi questionado “o porque” do
negro não poder ser visto como alguém que também pode acrescentar intelectualmente tanto quanto
“o branco” e porque ele ainda é subestimado, mesmo tendo um curso superior.
D. Bety acrescenta que, como existe a lei que dá, ao negro, igualdade de direitos, por mais que essa lei
não seja praticada, o negro deve buscá-los, já que são seus. Acrescenta que não gosta de ser chamada
de “escurinha” ou de “preta” e diz que é NEGRA – transparecendo o orgulho ao dizer, como se a
palavra “negro” compreendesse sua identidade. [...] (Diário de Campo, 01/08/05 [...]).
As discussões refletem indagações sobre as políticas de identidade (CIAMPA, 2002) do Grupo e seus
efeitos nos embates com os discursos dos setores dominantes. Observemos que as experiências
contadas por D. Benedita e D. Bety, refletem não só o caráter contraditório da igreja, mas também as
atitudes discriminatórias fomentadas pelo histórico discurso preconceituoso acerca dos afro-
descendentes. [...] Este momento de intensas reflexões gerou a análise das próprias possibilidades de
atuação e a elaboração de estratégias de resistência (FOUCAULT, 1979; 1975), que se exprimiram na
busca de parcerias com outros párocos e reestruturaram as relações intergrupais.
Fonte: MIRANDA, 2011, p. 96, 97, grifos da autora.

A despeito de ter usado diários de campo, estes não eram iguais aos usados por
Menegon (1998). Afinal, Miranda (2011) e seus(as) colegas do LAPIP fizeram seus registros
apenas nos horários e locais do estágio e frequentemente “puxavam” os assuntos que lhes
eram de interesse; enquanto que o diário de Menegon continha conversas que aconteciam
“espontaneamente”, em qualquer hora e lugar. Diferentemente da tese de Friedman (1994), a
dissertação de Miranda não falou da consciência de sujeitos gagos, mas da identidade de
pessoas negras. Não fez uma “Análise Gráfica do Discurso”, mas “revitalizou” uma história.
Mandelbaum (2004) fez referência a Sigmund Freud, Isidoro Berenstein e Christophe
Dejours; já Miranda citou Antônio da Costa Ciampa, Michel Foucault e Kabengele Munanga.
Rodrigues e Assmar (2003) utilizaram escalas e mediram graus de justiça, enquanto que
Miranda falou de preconceito e de estratégias de resistência. Sua pesquisa não abordou
regimes ditatoriais, currículos universitários, movimentos estudantis ou a imprensa “de
esquerda”, como a de A. D. Santos (2008), mas contou a história de muitos homens e
mulheres que – como Dona Bety e Dona Benedita – lutam pela “[...] constituição de um
projeto identitário que possibilite a produção de um sentido para a vida.” (p. 152).
103

3.6 A Psicologia Social no concurso para especialista na área

Até o momento, argumentamos que a Psicologia Social é mais do que uma


contrapondo as práticas e os conceitos utilizados em algumas pesquisas da área. Mas para
falar de diversidade não temos, necessariamente, de visitar “locais” diferentes e falar do que
acontece em cada um deles. Em alguns casos, um “lugar” é por si só uma arena de
diversidades90.
O primeiro concurso promovido pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) para a
concessão do título de especialista na área é um bom exemplo disso91 – afinal, ele não
somente fala de uma série de práticas e locais de atuação distintos, como também suscita
inúmeras controvérsias sobre a definição e a delimitação dessa “especialidade” da Psicologia.
De acordo com Ana Maria Jacó-Vilela (2007) e Esther Arantes (2005), a criação do
título de especialista gerou debate não somente sobre os aspectos normativos e burocráticos
do exercício da profissão, como também sobre o entendimento do que é a Psicologia Social.
Levantou questões como: a Psicologia Social trata da discussão subjetiva dos fenômenos
sociais, da dimensão social do subjetivo ou da aplicação e investigação da Psicologia em uma
perspectiva social? Ela refere-se a um ramo da Psicologia ou a um espaço de intersecção
entre a Psicologia e a Sociologia?
Para Cornelis van Stralen (2005), presidente da Associação Brasileira de Psicologia
Social (ABRAPSO) na gestão 2003/2005, a segunda opção é a mais pertinente. Ele afirma
que, como a Psicologia Social constitui um campo de intersecção entre a Psicologia e a
Sociologia, sua prática profissional não coincide com a prática profissional da Psicologia e,
sendo assim, não deve sujeitar-se à ação reguladora do CFP. Para o autor, o reconhecimento
da Psicologia Social como especialidade “[...] aparentemente é resultado dos esforços do CFP
para ampliar o campo profissional da psicologia.” (p. 93). Já para Neuza Guareschi,
presidente da ABRAPSO na gestão anterior a de van Stralen, o argumento que sustenta a não
pertinência do registro do título de especialista em Psicologia Social é outro. Em ofício

90
O fato de termos argumentado que cada uma das teses e dissertações que descrevemos enact uma Psicologia
Social distinta não significa que um mesmo trabalho não possa ter diferentes práticas ou enact Psicologias
Sociais distintas.
91
No ano de 2000, o CFP instituiu, por meio da resolução 014/00, o título profissional de Especialista em
Psicologia. Além de criar as especialidades em Psicologia Escolar e Educacional, Psicologia Organizacional e do
Trabalho, Psicologia do Trânsito, Psicologia do Esporte, Psicologia Jurídica, Psicologia Hospitalar, Psicologia
Clínica, Psicopedagogia e Psicomotricidade, essa resolução dispunha sobre as normas e procedimentos para o
seu registro. Três anos mais tarde, o CFP baixou outra resolução, a 005/03 (anexo 3), adicionando a esta lista de
especialidades a Psicologia Social. O III Concurso de Provas e Títulos, realizado em 2006, foi o primeiro a
conceder o título referente a esta nova especialidade.
104

encaminhado ao CFP (2002)92, ela afirma que a proposta de uma especialidade em Psicologia
Social não é coerente com a finalidade e a composição da Associação que presidiu, e vai de
encontro

[...] aos auspícios da luta pela compreensão de que toda a Psicologia é


social [...]. A posição desta direção é de não legitimar uma ação que venha
depor ao contrário desta luta e, também, não contribuir para a formação de
uma especialidade em Psicologia Social, correndo o risco de delimitar o
compromisso ético-sócio-político que se quer para a prática de qualquer
profissional como um fazer técnico somente dos profissionais especialistas
nessa área. (GUARESCHI, 2002, p. 2).

Sendo assim, podemos dizer que, para Neuza Guareschi (2002), a Psicologia Social
não é uma especialidade, pois ela refere-se ao comprometimento social, à reflexão crítica e ao
engajamento político que todo psicólogo deve ter. Heliana de Barros Conde Rodrigues (2005,
p. 84, grifos da autora), por sua vez, posiciona-se contra o registro desse título dizendo que a
Psicologia Social é aquela que procura não separar a dimensão social da subjetiva. Em suas
palavras,

nós, psicólogos sociais (mas... ainda saberemos quem somos nós?), temos
procurado inventar/conceber coisa outra: a dimensão social desse tal
subjetivo. Em termos mais precisos, aliás, temos tentado imanentizar o que
fora separado. Algo sabemos da “dor e delícia” dessa utopia ativamente
exercida, seja como estudiosos, profissionais ou militantes. Também temos
buscado, por sinal, imanentizar essas funções ditas “especializadas”.

Seu argumento, assim como o de Guareschi (2002), de van Stralen (2005) e o do CFP
(2003), indica-nos que posicionar-se no debate acerca do registro do título de especialista
implica necessariamente assumir uma concepção de Psicologia Social. Desta forma, podemos
dizer que a resolução 05/03 do Conselho Federal funcionou como um “incidente crítico”93,
pois fez com que profissionais da área refletissem e discutissem sobre as diferentes formas de
fazer e de pensar a Psicologia Social.
Como dissemos anteriormente, essa diversidade de definições, teorias e práticas está
presente não somente nos argumentos pró ou contra o título de especialista, mas também nas
provas (discursiva e de conhecimentos específicos) do concurso que dá acesso a essa

92
Agradecemos à Profa. Dr a. Ana Maria Jacó-Vilela por ter permitido que tivéssemos acesso a esse material.
93
O conceito de incidente crítico foi desenvolvido pelo Núcleo de Práticas Discursivas e Produção de Sentidos
da PUC-SP, para se referir aos “[...] eventos-chave que podem ilustrar aspectos que se deseja investigar,
funcionando como possibilidades de micro-análises que permitem entrever processos da construção de sentido
sobre um dado fenômeno.” (GALINDO, 2003, p. 30).
105

titulação. De acordo com o edital (anexo 4), essas provas tinham por objetivo avaliar as
seguintes habilidades e conhecimentos:

1 Raízes epistemológicas da Psicologia Social. 2 Fundamentos teóricos e


metodológicos da Psicologia Social. 3 Teorias e práticas de intervenção
psicossocial na comunidade. 4 Grupos, organizações e instituições. 5
Categorias étnico-raciais, de gênero, geracionais, de orientação sexual e de
classes sociais e suas intersecções com a Psicologia Social. 6 Psicologia
Social e Movimentos Sociais. 7 Psicologia Social e Políticas Públicas. 8
Psicologia Social e Saúde Coletiva. 9 Psicologia Social e Educação. 10
Psicologia Social e Trabalho. 11 Possibilidades de intervenção psicossocial
em comunidades e movimentos sociais. 12 Direitos Humanos e Psicologia
Social. 13 O compromisso ético-político do psicólogo social. 14 Psicologia
Social e as transformações no mundo do trabalho. (CONSELHO
FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2006, p. 18).

A prova de conhecimentos específicos (anexo 5) era composta de sessenta questões de


múltipla escolha, com cinco alternativas cada, e o candidato tinha três horas e trinta minutos
para respondê-las. Já a prova discursiva (anexo 6) tinha duas horas e meia de duração e era
composta de quatro questões que abordavam situações-problema relativas à prática
profissional de psicólogos sociais. O quadro 8 sintetiza as temáticas abordadas em cada uma
dessas questões94.

94
É importante ressaltarmos que, para elaborar esse quadro, consideramos apenas as temáticas mencionadas nos
enunciados das questões e nas alternativas de respostas corretas (de acordo com o gabarito oferecido pela
Fundação VUNESP). Optamos por fazer essa delimitação a fim de evitar a inclusão, em nossa análise, de
repertórios que não são considerados pelo CFP como referentes à psicologia social – um repertório presente
numa resposta errada não necessariamente se refere ao que os elaboradores da prova consideram como
específico da Psicologia Social.
106

Quadro 8: quadro de sistematização dos repertórios relacionados à prática profissional de psicólogos(as) sociais presentes nas provas do concurso
Q. Área de atuação/área do conhecimento/ técnica Teórico(a) Característica/conceitos/objetos de estudo/objetos de intervenção
1 Psicologia Comunitária - Grupos; consciência crítica; identidade social e individual
2 Psicologia Comunitária - Ideologia; significados; sentidos; estereótipos; relações de dominação
3 Psicologia Comunitária - Território; habitação; lócus simbólico; alteridade; possibilidades de convívio
4 Psicologia Social Comunitária - Crianças/ adolescentes em situação de risco; cidadania; projeto político-pedagógico
5 Vertente Psicossociológica Lourau Instituição
Lapassade
6 Análise Institucional Lapassade Organizações do trabalho; coletivo; alienação; condições de trabalho
7 - Bleger Sociabilidade; indiferenciação/sincretismo; grupos e instituições
8 - - Grupos operativos; estruturas estereotipadas
9 - - Grupos operativos; Experiência do Rosário
10 Psicologia - Consequências psicológicas e psicossomáticas das situações de trabalho; questionamento da sociedade (de sua
direção, valores e estrutura de poder)
11 - - Violência psicológica contra crianças e adolescentes; políticas públicas na área de saúde; foro familiar
12 Psicologia Social no âmbito da saúde do trabalhador; Psicologia - Capitalismo periférico; leis; saúde do trabalhador; conhecimento prático
Social na área sindical
13 Psicologia Social; Psicologia Clínica - Serviços de saúde (utilização dos serviços e participação da comunidade em sua avaliação)
14 Psicologia Social - Processos involuntários de segregação; saúde/doença; processo de produção social
15 Psicologia Social - Trabalho; sentido; identidade
16 Psicologia Social - Mundo do trabalho; fala do trabalhador; conscientização
17 - - Desemprego; significado do trabalho
18 Psicologia Organizacional; Psicologia Ambiental; Psicologia - Relações no ambiente de trabalho
Comunitária
19 Perspectiva psicossocial Guareschi Pensamento neoliberal e liberal; sociedade industrial contemporânea; liberdade; competitividade; exclusão;
culpabilização
20 Psicologia Social Martins Exclusão social; políticas econômicas; políticas de exclusão; políticas de inclusão precária
21 - - II Seminário Nacional de Psicologia e Políticas Públicas; protagonismo social do psicólogo
22 Interface SUS-Psicologia - Processos de subjetivação que ocorrem no plano coletivo; princípio de inseparabilidade
23 Campo psi Despolitização; percepção dicotomizada de sujeito
24 Psicologia (leitura exclusivamente psicológica) - Movimentos sociais
25 Pesquisa Participante; Psicologia Social - Movimentos sociais; dimensões políticas e sociais; conhecimento produzido a partir das relações e da participação
26 Psicologia Social - Identidade municipal; consciência que reflete, explica e transforma a vida do lugar
27 Psicologia Comunitária - Investigação científica; vida cotidiana na comunidade; participação subjetiva e objetiva no cotidiano
28 Psicanálise (técnica grupal de orientação psicanalítica) Grupos operativos, progresso das pessoas envolvidas
29 - - Microgrupos; mediação indivíduo e sociedade
30 Sociopsicanálise (Sociologia; Psicanálise) Marx Freud Instituições; demandas de uma classe institucional
31 - - Atitude, respostas avaliativas (cognitivas, afetivas e comportamentais)
32 - - Representação social; comunicação social (aspectos interindividuais, institucionais e midiáticos); estruturas dos
sistemas de comunicação (conduta, opinião, atitude, estereótipo); difusão; propaganda; propagação
33 - - Interação social (aparência física, sinais comportamentais), comunicação interpessoal; modelo da média simples
34 Psicologia Social Experimental - Falta de compreensão da significação e historicidade dos fenômenos de natureza social e cultural; princípios formais
35 Medicina; Engenharia de Segurança - Transformações no mundo do trabalho; saúde do trabalhador; trabalho insalubre; trabalho perigoso
36 Abordagem Psicodinâmica do Trabalho - Sofrimento (insatisfação e ansiedade)
37 Psicologia Social no trabalho - Gênero, saúde e risco no cotidiano do trabalho
107

38 Ética - Eticidade da existência; alteridade; dimensão antropológica, personalista e dialógica da ética


39 - Minayo Violência contra a 3ª idade; indiferença; negligência; descaso; omissão
40 Psicologia Social Moscovici Social; processos de interação; esquema sujeito-outro-objeto
41 Teoria da Representação Social Moscovici Representações sociais; integração cognitiva do objeto representado; sistema de pensamento social pré-existente;
ancoragem
42 Psicologia Social; Völkerpsychologie W. Wundt Raízes da Psicologia Social
43 - - Fórum Social Mundial; alternativa às políticas neoliberais
44 Psicologia Comunitária; Psicologia; Sociologia/Política - -
45 - H. Arendt Ordem, disciplina; violência simbólica; violência física; escola; banalidade do mal
46 Psicologia; Psicologia Social; Pragmática; Fenomenologia Lane Perspectiva histórica da Psicologia Social; duas tendências dominantes
47 Psicologia/Psicologia Social - Toda Psicologia é social
48 Nova Pedagogia (formação psicológica do educador); Psicologia - Aspectos socioculturais e componentes psicológicos da ação pedagógica
Social
49 Psicologia Social cujo foco é a comunidade - Saída dos consultórios e empresas para ir aos bairros populares; negação do passado; reconstrução; práxis, ação
educativa, social e científica
50 Ética - Natureza histórica da ética
51 Psicologia Social (décadas de 60 e 70) - Psicologia Social dos EUA
52 Psicologia Social - Crise da Psicologia Social; perda da confiança na epistemologia; racionalidade científica
53 Psicologia Social Comunitária - Educação da população para compreender a natureza e a causa dos problemas psicossociais e os recursos disponíveis
para lidar com eles
54 Psicologia Social - Socialização (formação de crenças, valores e significações)
55 Psicologia Social - Gênero
56 - - Influência social
57 - - Preconceito
58 Interacionsmo Simbólico (forma sociológica de Psi. Social) Blumer -
59 Construcionismo na Psicologia Social - Sujeito, objeto, construções sócio-históricas, desnaturalização, problematização
60 Escala do tipo Likert - Escala de atitudes
1d Psicologia Social Comunitária - Transformação social, ênfases teóricas e metodológicas, reconhecimento de várias formas de conhecimento
2d - - Representação social; representação social da violência
3d Psicologia Social; Materialismo Dialético - Indivíduo inserido no processo grupal
4d - Freud Relação indivíduo-sociedade; fenômenos de massa
108

Neste quadro, podemos observar que, para o CFP, há psicólogos(as) sociais que
trabalham em comunidades, em organizações, em serviços de saúde... Alguns(as) fazem
análises institucionais, outros(as) fazem experimentos laboratoriais, pesquisas participantes ou
ainda coordenam grupos operativos. Uns(as) são construcionistas, outros(as) preferem o
Materialismo Dialético ou a Sócio-Psicanálise. O(a) especialista na área pode estudar atitudes,
representações sociais, ideologia, sentidos e significados, processos grupais, fenômenos de
massa, preconceitos, relações de gênero, violência, risco no trabalho processos de influência
ou de transformação social...
Mas, a despeito de essa especialidade poder ser enacted de diferentes maneiras, ela é
uma especialidade. E isso só é possível pois existem modos de coordenação dessa diversidade
– tema do próximo capítulo.
109

CAPÍTULO 4
A PSICOLOGIA SOCIAL É MENOS DO QUE MUITAS
110

Dizer que há diferentes Psicologias Sociais não significa dizer que elas não estejam
relacionadas, mas que essa área do conhecimento é um objeto fractal: é mais do que uma ao
mesmo tempo em que é menos do que muitas. E mais, significa dizer que essa singularidade
não é dada a priori, mas é o resultado de um trabalho de coordenação. Afinal,

não estamos lidando com perspectivas diferentes e possivelmente


equivocadas do mesmo objeto. Ao invés disso, estamos lidando com
diferentes objetos produzidos em diferentes ensamblagens
metodológicas. Esses objetos sobrepõem-se, sim. De fato, é sobre isso
que se trata todo o problema: tentar garantir que eles se sobreponham
de modos produtivos. Modos que tornam possível intervir [...]. Então,
eles se sobrepõem, mas não são iguais. Diferentes realidades estão
sendo criadas e mutuamente ajustadas para que possam relacionar-se –
com maior ou menor dificuldade. (LAW, 2008, p. 55, tradução nossa,
grifos do autor).

O fato de utilizarmos um mesmo nome para nos referirmos a uma série de práticas
distintas é um indicativo dessa sobreposição. No capítulo anterior, dissemos que há
Psicologias Sociais que ocorrem em locais e horários previamente determinados; enquanto
outras ocorrem em qualquer lugar, a qualquer momento. Algumas usam escalas e tipologias;
enquanto outras lidam com pulsões, complexos e demandas. Umas buscam fazer ciência;
outras transformar a realidade social. A despeito de ocorrerem em locais distintos e de
possuírem diferentes objetivos e modos de intervir, essas práticas são chamadas da mesma
maneira: “Psicologia Social”. Esse rótulo funciona como uma espécie de ponte que une
diferentes espaços e práticas, que cria semelhanças, que articula as realidades de um objeto
múltiplo.
Essa articulação está presente tanto em políticas de formação e de fomento à pesquisa
quanto em livros introdutórios e associações profissionais: todos os cursos de graduação em
Psicologia do país possuem ao menos uma disciplina voltada à Psicologia Social (SOUZA;
SOUZA FILHO, 2009), a Capes reconhece cursos de pós-graduação stricto sensu na área,
instituições de fomento dão bolsas a pesquisadores(as) que se autoidentificam como
psicólogos(as) sociais, editoras publicam os livros desses(as) pesquisadores(as) e a
ABRAPSO os(as) representa. Em todos esses espaços, o nome “Psicologia Social” vincula
uma série de práticas, referenciais teóricos e objetos de estudo. E esses vínculos, articulações
e coordenações constituem o foco deste capítulo. No entanto, é importante ressaltarmos que
os modos de coordenação da Psicologia Social que abordamos aqui não são os únicos. Além
111

disso, muitas vezes, eles não operam independentemente uns dos outros, mas sobrepõem-se,
reforçam-se ou excluem-se mutuamente.

4.1 Uso de uma definição singularizante

Uma das formas de coordenar diferentes versões da Psicologia Social é abordar essa
área do conhecimento como se houvesse apenas uma maneira de ela existir. Ou seja, é
“caixanegrizá-la”, omitindo suas controvérsias, problematizações e condições de produção
(LATOUR, 2000b)95. Melinda Mandelbaum (2004, p. 189) utiliza essa estratégia ao afirmar
que a Psicologia Social é aquela que estabelece o hífen entre o individual e o coletivo. Em
suas palavras:

ser desempregado é um aspecto real ou uma condição da vida psíquica? A


pergunta é tola, porque nada mais faz do que ressaltar a fronteira entre o
território particular de cada um, sua assim chamada vida interior, e o
coletivo do qual todos nós fazemos parte, a assim chamada vida exterior.
Toda vez que lidamos com singularidades em Psicologia Social,
preocupamo-nos em estabelecer o hífen entre o individual e o coletivo, entre
o singular e o plural, visando, como diz Adorno, integrar o homo
oeconomicus [...] e o homo psychologicus.”96.

Ao fazer isso, a autora generaliza sua preocupação, trata-a como se fosse


compartilhada por todos(as) psicólogos(as) sociais. Para ela, toda tentativa de fixar o hífen

[...] é um aspecto essencial de qualquer estudo desenvolvido no campo da


Psicologia Social, não apenas por estabelecer, um modelo teórico qualquer
que, de forma mais ou menos feliz, mais ou menos coerente, consiga
abranger e estabelecer conexões causais necessárias entre os diversos
domínios da existência humana e as determinações da vida dos homens, mas
porque ajudam a estabelecer um vínculo entre o que seriam as teorias

95
Márcia Moraes (2011, p. 55) nos chama a atenção para o fato de que “caixanegrizar” um objeto é uma
estratégia de construção de verdades que parecem a-históricas e universais. Em suas palavras: “há, aí, embutida,
sem dúvida, uma certa concepção de conhecimento atrelada a um desengajamento: quanto mais desengajado
das condições práticas, locais, situadas, tanto mais verdadeiro é o fato.”
96
A partir da obra de Theodor Adorno, Mandelbaum (2004) define “homo oeconomicus” como o “[...] homem
que é o resultado da ação das instituições e engrenagens nas quais se suporta e se limita seu intercâmbio com
outros homens, sua socialização, em cujo interjogo dá-se o essencial das trocas responsáveis pelo comércio da
adaptação.” (p. 189). Já a noção de “homo psychologicus” – que é baseada nas obras de Sigmund Freud,
Melanie Klein e outros seguidores – é definida pela pesquisadora como aquela que “[...] ressalta as intensidades
de uma demanda pulsional, de um além do campo relacional, pressentido em qualidades emotivas entre o amor e
o ódio, a partir das experiências de amparo e desamparo e da inerente tolerância a lidar com angústias, como os
determinantes de uma economia subjetiva na qual se daria o comércio essencial do processo de colorir
emocionalmente a si mesmo e ao mundo em que se está.” (p. 189).
112

sobre a vida dos homens – as teorias históricas, econômicas, sócio-culturais,


psicológicas, etc. – e a expectativa em si da vida humana. Mais do que
vincular interioridades e exterioridades, subjetividades e objetividades, vida
psicossexual e processos históricos, sócio-econômico-culturais,
singularidades humanas e histórias coletivas – todas, de algum modo,
elaborações teóricas sobre a vida dos homens –, a Psicologia Social deve
ressaltar o hífen entre todo esse campo teórico, as minuciosas e inumeráveis
construções elaboradas em seu interior, e a concretude da vida humana em
si, colaborando, deste modo, para que a representação sobre a vida dos
homens não se desprenda da situação de vida concreta e ganhe plena
autonomia, reduzindo a vida humana à representação ou a representação dela
ao campo de postulados ideacionais que sobre ela e a partir dela são
produzidos. (MANDELBAUM, 2004, p. 189, 190, grifos nossos).

Podemos dizer que, neste trecho de sua tese doutoral, Mandelbaum (2004) fala em
nome de todos(as) psicólogos(as) sociais, convertendo-se, assim, em porta-voz de seus
interesses, práticas e preocupações. Ao fazer isso, transforma a Psicologia Social na prática
de “colocar hífens”; faz com que o vínculo entre as teorias sobre a vida e a expectativa em si
da vida humana seja um ponto de passagem obrigatório97.
Silvia Lane (2006a), Jaqueline Jesus (2011), Cláudia Mayorga e Marco Aurélio Prado
(2007) utilizam uma estratégia semelhante para apresentar a Psicologia Social brasileira.
Afinal primeira afirma que

[...] a Psicologia Social estuda a relação entre o indivíduo e a sociedade,


esta entendida historicamente, desde como seus membros se organizam para
garantir sua sobrevivência até seus costumes, valores e instituições
necessários para a continuidade da sociedade. Porém, a história não é
estática nem imutável [...] E a grande preocupação atual da Psicologia
Social é conhecer como o homem se insere neste processo histórico, não
apenas como ele é determinado, mas principalmente, como ele se torna
agente da história, ou seja, como ele pode transformar a sociedade em que
vive. (LANE, 2006a, p. 10, grifos nossos).

A segunda, por sua vez, sustenta que a Psicologia Social “[...] trata da atração
interpessoal a partir de uma visão especulativa da personalidade humana, que não pode ser
dissociada da idéia de afetividade: desejamos ser aceitos pelos outros; [...] adquirimos, por
meio do sucesso em atrair e/ou ser atraído, maior liberdade para nos reinventar [...]” (J.
JESUS, 2011, p. 239, grifo nosso). E os terceiros argumentam que

uma das principais áreas de efervescência da pesquisa e da intervenção, a


psicologia social, desde suas origens, tem desenvolvido um profícuo diálogo
com as principais questões da sociedade brasileira. Após a passagem da
importante crise paradigmática dos anos 1970 do século passado e com o

97
Como dissemos no capítulo 1, as noções de “porta-voz” e “ponto de passagem obrigatório” foram propostas
por Callon (1986, 2003).
113

desenvolvimento da crítica ao isolacionismo científico e ao atomismo


metodológico das ciências sociais, a psicologia social desenvolveu-se em
pleno diálogo com as contradições sociais e políticas de nosso tempo.
(MAYORGA; PRADO, 2007, p. 11, grifo nosso).

Esses autores e autoras generalizam suas preocupações e práticas, excluindo tudo


aquilo que é diferente, desconsiderando que existem Psicologias Sociais que não colocam
hífens, nem possuem uma visão especulativa da personalidade humana, nem buscam dialogar
com as contradições políticas e sociais da realidade brasileira. Mandelbaum (2004)
desconsidera, por exemplo, que vários(as) psicólogos(as) sociais posicionam-se como
contrários a dicotomias como indivíduo-sociedade ou conhecimento-realidade98, de tal
maneira que, para eles(as), não faz sentido “colocar hífens”. Desconsidera, também, que
outros(as) tantos(as) focam somente um lado dessa dicotomia: estudam questões individuais
ou aspectos sociais; produção de conhecimento ou a “realidade em si”99.
Lane (2006), por sua vez, desconsidera que, atualmente, existem Psicologias Sociais
que não buscam entender como o “homem” se torna agente da história, mas que objetivam
compreender o presente ou antecipar o futuro100. Já J. Jesus (2011) não leva em consideração
os inúmeros trabalhos que não estão preocupados em estudar atração interpessoal,
personalidade ou afetividade101; enquanto que Mayorga e Prado (2007) omitem os diversos
trabalhos, realizados após a crise da década de 1970, que não se preocupam em resolver
problemas sociais102. Esses autores e autoras apresentam a Psicologia Social como algo
pronto, estabilizado; e não como algo que está em constante transformação e que é alvo de
inúmeras controvérsias. Em todos esses textos, a Psicologia Social é traduzida: o que é
complexo e difuso é transformado em algo ordenado, coerente e singular.
Esse modo de lidar com multiplicidade é perspectivista, pois se preocupa em produzir
objetos singulares. Em outras palavras, esses textos criam singularidade “apagando”,
“camuflando” ou desconsiderando a existência de diferentes versões da Psicologia Social.
No entanto, de acordo com Law (2008), há maneiras de evitar pluralização sem criar objetos
singulares que, na melhor das hipóteses, podem ser olhados a partir de diferentes perspectivas
– aquilo que Mol (2002) chamou de “distribuição” é um exemplo disso.

98
Tais como Escóssia e Kastrup (2005), Arendt (2003), M. J. Spink e Menegon (1999), entre outros
99
Tal como propõe a clássica divisão entre Psicologia Social Psicológica e Psicologia Social Sociológica.
100
Como, por exemplo, Oliveira (2008) e Souza (2005).
101
Tais como Menegon (1998), Moraes (2010) e M. J. Spink (2009).
102
Como, por exemplo, Rodrigues e Assmar (2003) e G. Jesus (2009).
114

4.2 Distribuição

Como dissemos no capítulo 2, diferentes versões de um objeto podem coexistir


“pacificamente” desde que não tentem ocupar o mesmo lugar no tempo e no espaço.
Dizemos, por exemplo, que, nas escolas, a Psicologia Social busca identificar contradições,
evidenciar a estrutura concreta e simbólica dos conflitos escolares, além de viabilizar
propostas de intervenção que permitam a participação de todos os interessados (ALVES;
SILVA, M. A. M., 2006). Que, nas instituições de saúde, a Psicologia Social visa
compreender processos de saúde e doença, o funcionamento dos serviços, bem como os
mecanismos de promoção e proteção da saúde (van STRALEN, 2007). Enquanto que, nas
comunidades, a Psicologia Social preocupa-se em desenvolver a consciência de seus
moradores “[...] como sujeitos históricos e comunitários [...]. Seu problema central é a
transformação do indivíduo em sujeito.” (GÓIS, 1993 apud NEVES; BERNARDES, 2007, p.
241).
A despeito de possuírem diferentes objetivos e métodos, essas Psicologias Sociais não
entram em conflito. Afinal, cada uma acontece em um ambiente determinado: uma ocorre em
escolas, outra em instituições de saúde e a terceira em comunidades. Em outras palavras,
assim distribuídas, diferentes versões dessa área do conhecimento podem coexistir sem que
essa coexistência seja considerada uma contradição.
Outra forma de evitar o “choque” entre diferentes Psicologias Sociais é distribuí-las
geograficamente. Silvia Lane (2007a, p. 10, grifos nossos) faz isso ao afirmar que

[...] na década de 50 se iniciam sistematizações em termos de Psicologia


Social, dentro de duas tendências predominantes: uma, na tradição
pragmática dos Estados Unidos, visando alterar e/ou criar atitudes, interferir
nas relações grupais para harmonizá-las e assim garantir a produtividade do
grupo – é uma atuação que se caracteriza pela euforia de uma intervenção
que minimaliza conflitos, tornando os homens “felizes” reconstrutores da
humanidade que acabava de sair da desconstrução de uma II Guerra
Mundial. A outra tendência, que também procura conhecimentos que evitem
novas catástrofes mundiais, segue a tradição filosófica européia, com raízes
na fenomenologia, buscando modelos científicos totalizantes, como Lewin e
sua Teoria de Campo.

Ao contar essa história da Psicologia Social, a autora distribui geograficamente duas


versões distintas dessa área do conhecimento: uma existia nos Estados Unidos e visava
garantir a produtividade do grupo; a outra era europeia e buscava desenvolver modelos
totalizantes para entender os seres humanos e as sociedades. A despeito de partirem de
tradições filosóficas distintas e de possuírem objetivos diferentes, essas duas Psicologias
115

Sociais podiam coexistir sem grandes conflitos, pois cada uma estava restrita a um lugar, a um
grupo de pesquisadores, a uma “escola” específica.
Outros(as) autores(as) referem-se à existência de diferentes versões da Psicologia
Social distribuindo-as não geograficamente, mas temporalmente. Como dissemos no capítulo
anterior, diversos textos introdutórios103 falam de uma Psicologia Social anterior e outra
posterior à “crise de referência” da década de 1970. Alberto Abib Andery (2007), por sua vez,
adiciona mais um período a esta linha do tempo, ao dizer que

as correntes mais antigas definiram Psicologia Social como estudo de


comportamentos instintivos: gregários, agressivos ou outras condutas e
emoções ligadas a fatores genéticos e hereditários, e isoladas do contexto
social mutável em que sempre reaparecem. Em contraposição a essa corrente
instintivista, surgiram os experimentalistas, principalmente americanos,
atomizando o estudo dos comportamentos sociais através do esquema S-R
abstrato e vazio de conteúdo social. Os comportamentos sociais passam a ser
descritos a nível apenas da aprendizagem de reações individuais a estímulos
proximais, abstraindo esses estímulos dos contextos mais gerais: históricos,
econômicos e culturais, em que, de verdade estão inseridos e dos quais
ganham significado e sentido. Essas tendências mais antigas da Psicologia
Social, que hoje são consideradas quase a-sociais, duraram mais de meio
século [...]. Só nos anos 70 é que essa Psicologia se considera em crise como
construção específica de um saber próprio e busca, numa reaproximação às
ciências histórico-sociais, sua nova maneira de trabalhar o social em
Psicologia. (ANDERY, 2007, p. 204, 205, grifos do autor).

Assim separadas, a Psicologia Social “instintivista”, a “experimentalista” e a “social


de fato” não colidem. A primeira era enacted em estudos sobre comportamentos instintivos,
envolvia emoções, fatores hereditários, impulsos adquiridos (hábitos) etc. A segunda, por sua
vez, utilizava métodos experimentais, estudava a relação entre estímulos e respostas e
explicava processos de aprendizagem. Já a terceira enfocava fenômenos sociais e era
politicamente comprometida. Ao estarem temporalmente separadas, essas diferentes práticas,
objetivos e objetos de estudo podem coexistir “pacificamente”. Em outras palavras, podem
coexistir sem que isso implique uma contradição.
Já para outros(as) autores(as) não é o tempo ou o espaço que separa diferentes
Psicologias Sociais, mas o foco no indivíduo ou na sociedade. Conforme dissemos na
introdução, Arthur Ramos (2003) divide a Psicologia Social em duas correntes dominantes:
uma mais próxima da Psicologia e outra mais próxima da Sociologia104. Maria Cristina

103
Tais como Bock, Furtado, Teixeira (2003); Mancebo, Jacó-Vilela, Rocha (2003); Neiva, Torres (2011);
Almeida, Santos (2011) e Tittoni e Jacques (2001).
104
Segundo Jacó-Vilela (2007), a distinção entre as vertentes psicológica e sociológica da Psicologia Social foi
estabelecida a partir da publicação, em 1924, do livro “Social Psychology”, de Floyd Allport, mas passou a ser
amplamente divulgada no Brasil apenas após a publicação da edição nacional do livro “As Raízes da Psicologia
116

Ferreira (2011), Jefferson Bernardes (2001), Ângela Pinheiro (2004), Elaine Neiva e Cláudio
Torres (2011) parecem concordar com essa distinção. A primeira afirma que

[...] a ênfase maior dada ao indivíduo ou à sociedade irá acompanhar a


evolução da teorização no campo da psicologia social desde seus primórdios,
levando à caracterização de duas diferentes modalidades da disciplina: a
psicologia social psicológica e a psicologia social sociológica. A psicologia
social psicológica [...] procura explicar os sentimentos, pensamentos e
comportamentos do indivíduo na presença real ou imaginada de outras
pessoas. Já a psicologia social sociológica [...] tem como foco o estudo da
experiência social que o indivíduo adquire a partir de sua participação nos
diferentes grupos sociais com os quais convive. Em outras palavras, os
psicólogos sociais da primeira vertente tendem a enfatizar principalmente os
processos intraindividuais, enquanto que os da segunda tendem a privilegiar
as coletividades sociais. [...] Duas obras, publicadas no ano de 1908, irão
marcar a fundação oficial da psicologia social moderna: Uma introdução à
psicologia social, de William McDougall, e Psicologia social: uma resenha e
um livro, de Edward Ross (Pepitone, 1981). Cumpre ressaltar, porém, que
esses dois autores, embora fossem contemporanâeos e tivessem usado a
expressão psicologia social nos títulos de seus livros, não estavam falando
do mesmo assunto. Edward Ross (1866-1951) era um sociologo norte-
americano que, influenciado pelas obras de Tarde e de Le Bon, caracterizou
a psicologia social como o estudo das uniformidades de pensamentos,
crenças e ações decorrentes da interação entre os seres humanos (Pepitone,
1981). Segundo Ross, os fenômenos subjecentes a essa uniformidade são a
imitação, a sugestão e o contágio, o que explicaria a rápida uniformidade
verificada entre as emoções e as crenças das multidões. [...] McDougall
(1871-1938), por outro lado, era um psicólogo britânico que foi fortemente
influenciado pelas concepções de Darwin e Spencer sobre evolução. Sua
obra gira em torno do conceito de instinto, ressaltando a importância de
certas características inatas e instintivas para a vida social. [...] Os estudos de
McDougall são considerados precurssores das teorias motivacionais, que
posteriormente se tornarão objeto de investigação de alguns psicólogos
sociais (McGarty e Haslam, 1997). No momento em que a psicologia começa
a se definir como uma disciplina independente, a publicação concomitante
das obras de Ross e McDougall, estando situadas uma no âmbito da
psicologia e outra, no âmbitoda sociologia, pode ser vista como uma
evidência da separação entre a psicologia social psicológica e a psicologia
social sociológica que se avizinhava. A partir do início do século XX, ambas
as correntes sofrerão grande impulso nos Estados Unidos, ainda que
trilhando direções distintas. (FERREIRA, 2011, p. 13- 17, grifos nossos).

Já no texto de Bernardes (2001), o que separa essas duas formas de Psicologia Social é
o fato de a “Psicológica” usar métodos experimentais, ter forte influência positivista, explicar

Social Moderna”, de Robert Farr, em 1998. De acordo com Farr (2000, p. 153, 154), a Psicologia Social “[...]
floresceu no contexto de duas disciplinas bastante distintas (a saber, a sociologia e a psicologia), assumindo
diferentes formas nos dois contextos [...] cada uma das formas de psicologia social que evoluiu dentro destas
diferentes disciplinas foi influenciada pelas características da disciplina-mãe. A psicologia social em ambas as
disciplinas funcionou como uma força compensatória às forças dominantes na disciplina-mãe. Isto,
necessariamente, produziu duas formas de psicologia social que tem pouco ou nada em comum, uma vez que só
podem ser entendidas em relação à [sic.] contextos diferentes. Neste aspecto, são como diferentes espécies da
mesma planta.”
117

os fenômenos sociais tratando-os como se fossem naturais e basear-se em modelos


explicativos que, em última instância, remetem sempre a explicações centradas no indivíduo;
ao passo que a “Sociológica” preocupa-se em estudar, sobretudo, instituições e fatos
históricos.
Pinheiro (2004) parece seguir a mesma direção de Bernardes (2003) ao argumentar
que a Psicologia Social Psicológica caracteriza-se por ser basicamente experimental,
predominante nos Estados Unidos e fundada em um paradigma que aborda os processos
psicológicos a partir de um modelo de processo linear; enquanto que a Psicologia Social
Sociológica reflete “[...] a relação entre o individual e o coletivo, buscando superar a
dicotomia entre tais níveis de análise, não reduzindo, assim, as explicações nem ao nível
individual, nem ao coletivo, mas à relação entre eles” (p. 86).
Neiva e Torres (2011), por sua vez, sustentam que a Psicologia Social Psicológica
“[...] tem como ponto de partida o lugar central ocupado pelo indivíduo e seus processos
intrapsíquicos para a explicação dos fenômenos sociais” (p. 36); enquanto que a Psicologia
Social Sociológica “[...] tem suas origens no pensamento psicossocial presente na sociologia e
preconiza, como objeto de estudo da psicologia social, o social. Dito em outros termos, na
primeira, o social seria o adjetivo, e, na segunda, o social seria o próprio substantivo”
(NEIVA; TORRES, 2011, p. 36)105.
Sendo assim, tanto no texto de Ramos (2003), quanto nos de Bernardes (2001),
Pinheiro (2004), Ferreira (2011) e Neiva e Torres (2011), há pelo menos duas Psicologias
Sociais distintas: uma tem suas origens na Psicologia e é centrada no indivíduo; a outra surge
a partir de trabalhos de sociólogos(as) e privilegia coletividades sociais. Mas o interessante é
que isso não implica uma contradição, afinal uma é “psicológica”, enquanto a outra é
“sociológica”.
Muitas vezes, as diferentes Psicologias Sociais recebem nomes distintos: a Psicologia
Social “pré-crise”, por exemplo, é conhecida como “experimentalista” ou “positivista”,
enquanto que a “pós-crise” é “crítica”. O trabalho em comunidades frequentemente é
chamado de “Psicologia Comunitária” ou “Psicologia Social Comunitária”, enquanto que o
que ocorre em instituições seria parte da “Psicologia Institucional”, da “Psicologia Escolar”
ou da “Psicologia do Trabalho”. No entanto, quando os(as) profissionais que atuam nesses

105
Elaine Braghirolli, Siloé Pereira e Luiz Antonio Rizzon (2003) não falam propriamente de uma Psicologia
Social Psicológica e outra Sociológica, mas dividem os temas dessa área do conhecimento em duas grandes
categorias: 1) a daqueles que têm o indivíduo como foco central de interesse (e estudam temas como
personalidade; percepção social; linguagem e comunicação; motivos sociais; atitudes e desenvolvimento social)
e 2) a daqueles que focam o grupo ou a organização (e estudam temas como formação de grupos; papéis sociais,
liderança e atração interpessoal).
118

diferentes lugares ou momentos históricos dialogam, usam um nome comum: Psicologia


Social. Nos encontros da ABRAPSO, por exemplo, participam profissionais e
pesquisadores(as) que atuam em diversos lugares, leem diferentes autores, estudam temáticas
distintas e militam por causas específicas. Mas durante os encontros da associação, todos(as)
– ou pelo menos quase todos(as) – são psicólogos(as) sociais.
O rótulo “Psicologia Social”, portanto, funciona como um mediador, como uma
espécie de ponte que liga as diferentes versões dessa área do conhecimento que estão
distribuídas no tempo, no espaço e nas disciplinas acadêmicas. Ou seja, funciona como

[...] um mecanismo de coordenação que opera em conjunto com as várias


distribuições. [...] Desse modo, ajuda a evitar que a distribuição se torne a
pluralização de uma doença [ou de uma área do conhecimento] em objetos
diferentes e não relacionados. Distribuição, ao invés disso, separa o que
também, em outro lugar, um pouco mais a frente, ou um pouco depois, está
conectado novamente. (MOL, 2002, p. 117, grifos nossos, tradução nossa).

Outro mediador que muitas vezes impede que distribuições acabem por fragmentar a
Psicologia Social em uma série de objetos não relacionados é o discurso sobre a necessidade
de promover transformações sociais. O Conselho Federal de Psicologia (CFP), por exemplo,
afirma que a Psicologia Social “[...] atua fundamentada na compreensão da dimensão
subjetiva dos fenômenos sociais e coletivos, sob diferentes enfoques teóricos e
metodológicos, com o objetivo de problematizar e propor ações no âmbito social.” (CFP,
2003, p. 1, grifos nossos). Ou seja, para o CFP, a despeito de estarem distribuídas em
diferentes correntes teórico-metodológicas e campos de atuação, as diferentes Psicologias
Sociais estão conectadas por um objetivo comum: problematizar e propor ações sociais.
Esse elo também está presente em diversos livros introdutórios e trabalhos
acadêmicos. Na introdução do manual “Psicologia Social Contemporânea”, por exemplo,
Marlene Strey e colaboradores (2001, p. 15, grifos nossos) sustentam que, após a “crise” da
década de 1970, a Psicologia Social passou a ensejar “[...] a complexificação do simples, a
pluralidade teórico-metodológica, a intersecção das diferentes áreas de aplicação da
Psicologia, a prática interdisciplinar e a preocupação ética em relação aos seus compromissos
sociais e políticos.” Passou, portanto, a ser uma Psicologia Social preocupada com “[...]
aspectos de relevância e aplicabilidade ao contexto brasileiro e que possam responder às
questões sociais específicas de sua população.” (p. 15). Já no capítulo sobre pesquisa,
119

Jaqueline Tittoni e Maria da Graça Jacques (2001, p.76, grifos nossos) afirmam que pensar a
produção de conhecimento em Psicologia Social

[...] requer pensá-la de forma estratégica, sempre vinculada a alguma forma


de prática social e política capaz de articular as questões da teoria com os
aspectos empíricos, os objetivos da produção do conhecimento com as
transformações sociais. As vertentes da Psicologia Social derivadas desta
perspectiva [que surgiu na América Latina na década de 1970] estão bem
representadas nas chamadas Psicologia Política e Psicologia Social
Histórico-Crítica, fortemente influenciadas pelo materialismo histórico.

No livro de Ana Maria Cantizani (1998), Psicologias Sociais distintas não se unem por
uma preocupação política comum. Muito pelo contrário. Neste texto, o(a) pesquisador(a) da
área deve adotar uma “[...] atitude de afastamento de suas próprias emoções e tendências
políticas.” O que as diferentes temáticas e teorias que a autora aborda em seu livro possuem
em comum é o fato de se referirem às “[...] relações dinâmicas entre o homem e seu meio
ambiente” (p. 7).
Esse elo também está presente no capítulo de Hartmut Günther (2011, p. 58, grifo
nosso), afinal, para o autor, a despeito de a Psicologia Social estudar um grande número de
assuntos e envolver um número diversificado de abordagens metodológicas, ela pode ser
definida como a ciência que

[...] estuda a relação reciproca entre o indivíduo e seu meio social: de um


lado, trata do impacto que as pessoas exercem em seus amigos, familiares,
colegas e até em desconhecidos. Por outro, estuda a maneira como cada um
de nós é influenciado pelos outros no que diz respeito a nossos sentimentos,
experiencias e comportamentos. Essa relação recíproca entre um indivíduo e
um dado meio social sempre diz respeito a algum objeto, espaço, idéia,
pessoa (a si próprio, ao meio social ou a terceiros) sobre os quais se tem
atitudes, experiências ou disposições comportamentais.

De modo similar, Maria Cristina Ferreira (2011, p. 13, grifos nossos) sustenta que,
desde o início,

[...] essa área da psicologia social foi marcada por uma relativa falta de
consenso acerca de seu objeto de estudo. Ainda assim, é possível observar
que o binômio indivíduo-sociedade, isto é, o estudo das relações que os
indivíduos mantêm entre si e com a sociedade ou a cultura, esteve
frequentemente no centro das preocupações dos psicólogos sociais.

Enquanto que Elaine Neiva e Cláudio Torres (2011, p. 36, grifo nosso) argumentam
que
120

[...] envolvida em discussões sobre a natureza do objeto, definido por uns


como societal, ou, por outros, como a introjeção do social no indivíduo, o
campo específico da psicologia social é o campo da articulação de diferentes
níveis de análise, desde os processos cognitivos até os níveis culturais.

No capítulo de Ana Maria Jacó-Vilela (2007), o elo entre as diferentes Psicologias


Sociais não está no binômio indivíduo-sociedade, mas em sua capacidade de compreender o
“homem” (sic.) como sujeito da cultura:

entender o homem como sujeito da cultura é a contribuição que a psicologia


social oferece à psicologia – de poder historicizar seu campo e suas práticas,
de compreender a história daqueles que a procuram e, principalmente, de
entender que a diversidade – teórica, metodológica, prática – é uma marca
de suas marcas. E respeitá-la. (JACÓ-VILELA, 2007, p. 51, grifos nossos).

A compreensão do “homem” como sujeito da cultura, a transformação social, o


vínculo entre indivíduo e sociedade e o próprio rótulo “Psicologia Social” são, portanto,
alguns dos elos que permitem que a Psicologia Social não se fragmente em uma série de
(sub)disciplinas que pouco ou nada têm em comum. São conectores que permitem que essa
área do conhecimento seja múltipla – e não plural.
No entanto, é interessante notarmos que o que aqui funciona como conector, em outros
lugares e em outros momentos, produz efeitos distintos. A articulação entre indivíduo e
sociedade, por exemplo, pode unir ou pode excluir diferentes Psicologias Sociais. Nos
capítulos de Ferreira (2011) e de Günther (2001), ela une. Faz com que práticas distintas se
relacionem e possam receber um mesmo nome. Já no livro de Lane (2006a)106 , ela exclui. Faz
com que todas as Psicologias Sociais que não colocam hífens entre indivíduo e sociedade
deixem de ser Psicologias Sociais.
Outro exemplo é a ênfase na promoção de transformações sociais: ela pode unir,
excluir ou distribuir diferentes Psicologias Sociais. No prefácio do livro de Sheila Miranda
(2011), Marcos Silva (2011) afirma que o trabalho de sua orientanda

[...] nos apresenta uma experiência de pesquisa e intervenção psicossocial


desenvolvida na perspectiva da Psicologia Social crítica, de uma Psicologia
envolvida com a transformação social, com a busca da autonomia dos grupos
humanos, com a produção das identidades coletivas. Uma Psicologia que
investiga a formação dos vínculos afetivos, e a busca das possibilidades de uma

106
Nesse livro, a autora afirma que “o enfoque da Psicologia Social é estudar o comportamento de indivíduos no
que ele é influenciado socialmente” (LANE, 2006a, p. 8).
121

participação social comprometida e autônoma. (SILVA, M. V., 2001, p. 18,


grifos nossos).

Se a dissertação de Miranda (2011) pertence à “perspectiva da Psicologia Social


crítica”, é porque existem outras “perspectivas”, ou melhor, é porque existem outras versões
de Psicologia Social. Mas, a despeito de indicar essa diversidade, Silva (2011) não diz que
essas diferentes versões estão conectadas pelo compromisso com a transformação social –
como fazem o CFP (2003), Strey e colaboradores (2001) e Tittoni e Jacques (2001). Muito
pelo contrário, ele afirma que esse compromisso é, justamente, o que separa a corrente
adotada por sua orientanda das outras Psicologias Sociais.

4.3Adição

Assim como os objetos podem ser distribuídos, eles podem, também, ser
recombinados para formar entidades compostas (LAW, 2008). Mol (2002) chama esse
mecanismo de coordenação de “adição”. Frequentemente, documentos oficiais e textos
introdutórios definem Psicologia Social somando uma série de práticas e objetos. A resolução
005/2003 do CFP, por exemplo, afirma que

o psicólogo nesse campo desenvolve atividades em diferentes espaços


institucionais e comunitários, no âmbito da Saúde, Educação, trabalho, lazer,
meio ambiente, comunicação social, justiça, segurança e assistência social.
Seu trabalho envolve proposições de políticas e ações relacionadas à
comunidade em geral e aos movimentos sociais de grupos e ações
relacionadas à comunidade em geral e aos movimentos sociais de grupos
étnico-raciais, religiosos, de gênero, geracionais, de orientação sexual, de
classes sociais e de outros segmentos socioculturais, com vistas à realização
de projetos da área social e/ou definição de políticas públicas. Realiza
estudo, pesquisa e supervisão sobre temas pertinentes à relação do indivíduo
com a sociedade, com o intuito de promover a problematização e a
construção de proposições que qualifiquem o trabalho e a formação no
campo da Psicologia Social. (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA,
2003, p. 2).

Assim, de acordo com essa resolução, o(a) psicólogo(a) social faz pesquisa e propõe
políticas públicas; trabalha com movimentos sociais e com a comunidade em geral; intervém
no âmbito da saúde e da educação; atua no mundo do trabalho e da justiça; lida com questões
referentes ao meio ambiente e à comunicação social... Essas diferentes práticas e locais de
atuação são alinhados e somados de tal maneira que passam a referir-se a um objeto único: a
Psicologia Social.
122

Tal como dissemos anteriormente, a coordenação para a singularidade não depende da


possibilidade de referir-se a um objeto preexistente, mas ela é uma tarefa. Desse modo, não
existe uma Psicologia Social que pode ser pensada a partir de diferentes perspectivas que, ao
serem devidamente identificadas e somadas, podem nos dizer o que essa área do
conhecimento de fato é. O processo é inverso: ao definir a Psicologia Social desta maneira, o
CFP soma e subtrai uma série de práticas e como resultado cria uma Psicologia Social
singular.
Além de singular, essa Psicologia Social é composta. Ou seja, é uma unidade formada
por uma série de elementos agrupados. É como um trabalho de patchwork, no qual tecidos
com diferentes texturas, cores e padrões são cortados, alinhavados e costurados formando um
todo. No entanto, esse todo não é igual à soma de suas partes, afinal uma colcha de patchwork
não é um mero agrupamento de retalhos; mas é algo que cobre camas, decora quartos, evoca
lembranças, aquece corpos... Do mesmo modo, a Psicologia Social enacted pelo CFP também
não se reduz à soma das atividades descritas na resolução 005/2003. Ela provoca debates,
estabelece normas, define quem pode e quem não pode receber o título de especialista na área,
influencia políticas educacionais, embasa concursos públicos etc.

4.4 Inclusão

Podemos dizer que, ao definir as especialidades da Psicologia, o CFP cria uma


identidade107 para cada “tipo” de profissional: o(a) especialista em Psicologia Social seria
aquele(a) que estuda a relação indivíduo-sociedade, propõe políticas públicas e intervém na
área social; enquanto que o(a) especialista em trânsito desenvolveria pesquisas e interviria
“[...] no campo dos processos psicológicos, psicossociais e psicofísicos relacionados aos
problemas de trânsito [...]” (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2007, p. 19); e o(a)
especialista em Psicologia Jurídica atuaria no âmbito da Justiça, “[...] centrando sua atuação
na orientação do dado psicológico [...] para possibilitar a avaliação das características de
personalidade e fornecer subsídios ao processo judicial, além de contribuir para a formulação,
revisão e interpretação das leis [...]” (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2007, p.
19).
No entanto, de acordo com Dorinne Kondo (1990), não há um eu definido e estável,
que está sempre em oposição ao mundo exterior. Sendo assim, não faz sentido tentarmos

107
Estamos chamando de identidade toda manifestação que, com pretensões de permanência, circunscreve e
estabelece uma diferença específica em relação ao que lhe é externo (BARROS FILHO; LOPES, 2003).
123

delimitar a identidade do(a) psicólogo(a) social ou discutirmos em que medida ela se


diferencia da de profissionais de outras áreas ou subáreas do conhecimento108. Segundo a
autora, as questões que devemos colocar-nos são outras: de que modo e em que situações os
eus (no plural) são construídos? Como essas construções podem ser complexificadas e
alentadas pela multiplicidade e ambiguidade? E como elas moldam e são moldadas por
relações de poder?
Assim como a oposição binária entre o eu e o outro, a delimitação de fronteiras entre
diferentes áreas do conhecimento também não nos permite contemplar a complexidade da
Psicologia Social brasileira. De acordo com Annemarie Mol (2002, p. 135, grifo da autora,
tradução nossa),

as maneiras ocidentais dominantes de cingir [framing] o que pertence e o


que não pertence, o que é de espécie similar e o que é de categoria diferente,
são de caráter regional. Elas agrupam o que é de tipo semelhante e
imaginam, ou criam, uma fronteira ao redor. O que é diferente é também
pertencente a outro lugar.

No entanto, o estabelecimento desses limites nem sempre é fácil. Não é fácil, por
exemplo, dizer onde começa e onde termina a Psicologia, a Sociologia e a Psicologia Social,
pois as fronteiras entre essas três disciplinas (e outras tantas) frequentemente são bastante
borradas. Alguns(as) pesquisadores(as) da área – como, por exemplo, Arthur Ramos (2003);
Maria Cristina Ferreira (2011) e Cornelis van Stralen (2005)109 – argumentariam que essa
dificuldade resulta do fato de a última estar situada na intersecção das duas primeiras. De ser,
portanto, um “objeto fronteiriço”. A noção de objeto fronteiriço

[...] surge da ideia de que existem diferentes mundos sociais. Cada um


desses diferentes mundos sociais tem seus códigos, hábitos, instrumentos e
modos de atribuir sentido. Mas eles compartilham algo: o objeto fronteiriço.
Os significados específicos que cada um atribui a este objeto são diferentes.

108
Pudemos observar claramente essa dificuldade de separar o “eu” do “outro” quando analisamos os currículos
Lattes dos(as) docentes que lecionam em cursos de pós-graduação voltados para a Psicologia Social. Dos(as)
248 professores(as), apenas 24 se autoidentificam apenas como psicólogos(as) sociais. Muitos(as) deles(as) se
definiram também como psicólogos(as) da saúde, do trabalho e da educação. Outros(as) tantos(as) afirmam atuar
em áreas “exteriores” à Psicologia, tais como Saúde Coletiva, Comunicação Social, Sociologia e Serviço Social
(CORDEIRO; M. J. SPINK, 2011).
109
Silvia Lane (2007a, p. 13) também se refere à Psicologia Social como um objeto fronteiriço. No entanto, para
a autora, esta estaria situada na intersecção da Sociologia com a Psicanálise (e não com a Psicologia) e seria
permeada pela História. Em suas palavras: “por um lado a psicanálise enfatizava a história do indivíduo, a
sociologia recuperava, através do materialismo histórico, a especificidade de uma totalidade histórica concreta na
análise de cada sociedade. Portanto, caberia à Psicologia Social recuperar o indivíduo na intersecção de sua
história com a história de sua sociedade – apenas este conhecimento nos permitiria compreender o homem
enquanto produtor da história”.
124

Mas enquanto ninguém enfatiza essas diferenças, o objeto fronteiriço não


parece ser dois ou três objetos diferentes. Ele permanece suficientemente
borrado [fuzzy] para absorver as possíveis tensões. É um objeto comum,
compartilhado por grupos sociais variados. Assim, ele facilita a colaboração
através das fronteiras e com isso faz com que essas fronteiras sejam menos
absolutas [...] Borrar fronteiras é uma maneira de contestá-las. O que se
mantém, entretanto, é a ideia de que há diferentes regiões. (MOL, 2002, p.
138, tradução nossa, grifo da autora).

Mas se observamos as práticas que enact a Psicologia Social, percebemos que elas não
estão circunscritas a uma única região, mas envolvem elementos e associações “pertencentes”
a diversos lugares, campos do conhecimento e instituições. Percebemos, portanto, que essa
disciplina não corresponde ao espaço intermediário do diagrama que algumas vezes
utilizamos para representá-la (fig. 3), mas envolve um emaranhado de materiais heterogêneos,
justapostos, unidos e transformados pelas relações que estabelecem.

Figura 3: Representação gráfica da Psicologia Social como objeto fronteiriço


Psicologia

Psicologia Sociologia
Social

Além de forçar uma localização e delimitação “geográfica”, falar em “fronteiras”


restringe nossas possibilidades de abordar as diferenças internas a cada “região”. Afinal, essa
metáfora destaca apenas os pontos de divergência entre os diferentes lados da divisa. “Aqui
ou ali, cada lugar é localizado em um lado de uma fronteira. É assim que um „dentro‟ e um
„fora‟ são criados. O que é parecido está perto. O que é diferente está em outro lugar.” (MOL;
LAW, 1994, p. 647, tradução nossa).
Ao definir a Psicologia Social, van Stralen (2005)110 faz esse tipo de separação:

110
Esse texto foi publicado na revista Psicologia & Sociedade em um dossiê especial sobre a criação do título de
especialista em Psicologia Social.
125

atualmente, há bastante consenso de que a Psicologia Social como disciplina


científica possui uma especificidade, não pelo seu objeto de estudo, mas
antes de tudo por suas abordagens teóricas que articulam aspectos estruturais
e aspectos subjetivos e integram explicações psicológicas e sociológicas.
Como tal, a Psicologia Social apresenta-se como um campo de interseção
entre a Psicologia e a sociologia, no qual encontramos teorias procedentes
tanto da Psicologia como da sociologia. (van STRALEN, 2005, p. 94, grifo
nosso).

Para o autor, a Sociologia estuda aspectos estruturais; a Psicologia, aspectos


subjetivos; e a Psicologia Social, ambos. Ao fazer essa separação “geográfica”, ele enfatiza as
similaridades dentro de cada uma das regiões e as diferenças através das fronteiras.
No entanto, tal como temos argumentado nesta tese, “dentro” da Psicologia Social
também há diferenças. Mas, se para pertencer à mesma “região” é preciso ser “igual”, como
estabelecer os limites dessa disciplina? Será que podemos falar aqui em limites? Como, então,
pensar a relação da Psicologia Social com outras áreas do conhecimento? Ela inclui
explicações psicológicas ou está incluída na Psicologia? Se assumíssemos a definição de van
Stralen (2005), tenderíamos a escolher a primeira opção: a Psicologia Social “[...] não se
restringe ao campo da Psicologia.” (p. 93), ela é um todo, e uma de suas partes é formada por
conhecimentos psicológicos. Mas se assumíssemos a postura do CFP, diríamos o contrário: a
Psicologia é um todo e uma de suas partes (ou especialidades) é a Psicologia Social.
Nesta tese, tentamos não seguir nenhum desses caminhos. Tentamos pensar que um
objeto pode incluir e, ao mesmo tempo, estar incluído em outro. Ou seja, tentamos pensar as
áreas do conhecimento de uma forma intransitiva: não como uma matryoshka, na qual as
bonecas maiores incluem as menores (fig. 4); mas, usando a metáfora proposta por Michel
Serres (1994), como bolsas maleáveis que podem incluir-se mutuamente – como, por
exemplo, aquelas sacolas de compras reutilizáveis (ou “ecobags”), que possuem saquinhos
acoplados para guardá-las (fig. 5). Quando vamos ao supermercado, dobramos a sacola e a
colocamos dentro bolsinho, mas quando precisamos utilizá-la, retiramo-la e guardamos o
bolsinho dentro da sacola.
126

Figura 4: Forma transitiva de enact as áreas do conhecimento

Conhecimento científico

Ciências Humanas
Psicologia
Psicologia Social
Psicologia Social do Trabalho
Saúde mental do
trabalhador

Figura 5: Forma intransitiva de enact as áreas do conhecimento111

Psicologia

Psicologia Social

Assumir essa postura evita, entre outras coisas, problemas na hora de definir o
“tamanho” das áreas, subáreas e especialidades. Afinal, o que é maior, a Psicologia Social ou
a Psicologia Comunitária? Intervenção Psicossocial ou Clínica Psicanalítica? Provavelmente,
muitos(as) pesquisadores(as) se deparam com essa dificuldade ao preencherem formulários ou
cadastrarem seus currículos na Plataforma Lattes (lattes.cnpq.br)112 – tanto que, nessa
plataforma, o escalonamento dos campos do saber não é padronizado. Alguns(as)
pesquisadores(as) colocam, por exemplo, a Psicologia Comunitária como uma subárea da
Psicologia, outros(as), a colocam como uma especialidade da subárea Psicologia Social
(CORDEIRO; M. J. SPINK, 2011).

111
É importante ressaltamos que o fato de, nesse esquema, a bolsa menor representar a Psicologia e a maior a
Psicologia Social não significa que estejamos afirmando que uma área é maior que a outra. Pelo contrário, o que
estamos propondo é que não há tal relação de tamanho. O que é “maior”, ao ser dobrado torna-se “menor” e
vice-versa.
112
De acordo com sua página na internet, a Plataforma Lattes (lattes.cnpq.br) foi desenvolvida pelo Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para integrar em um único sistema de
informações bases de dados de currículos e instituições das áreas de ciência e tecnologia.
127

Mas no dia-a-dia de um(a) pesquisador(a), esse escalonamento de saberes muitas


vezes não tem tanta relevância. Na tese de Mandelbaum (2004), por exemplo, a Psicologia
Social e a Psicanálise não estão distribuídas hierarquicamente. Uma não está dentro da outra,
mas ambas andam lado a lado. Na maior parte da tese, a autora concentra-se em fazer um bom
trabalho psicanalítico: cria um espaço de “escuta”, identifica pulsões, diminui sofrimento
psíquico etc. Mas, no início da parte II, abruptamente, muda seu foco para a Psicologia Social:
“ser desempregado é um aspecto do real ou uma condição da vida psíquica? [...] Toda vez que
lidamos com singularidades em Psicologia Social, preocupamo-nos em estabelecer o hífen
entre o individual e o coletivo [...]” (MANDELBAUM, 2004, p. 189). Em tal tese, a atenção
dirigida à vida psíquica é facilmente voltada ao vínculo entre individual e coletivo. Mas isso
não se dá “tirando o zoom” e ampliando o escopo, mas mudando a “câmera” de lugar e
focando outro objeto (MOL, 2002).
Dizer que disciplinas acadêmicas incluem-se mutuamente nos remete à discussão
sobre “transdisciplinaridade” – sendo esta entendida não como a simples ação de conectar
áreas afins, ou buscar enriquecer uma disciplina com contribuições oriundas de outras
disciplinas; mas como a supressão de fronteiras entre diferentes ciências (IÑIGUEZ-RUEDA,
2003).
É importante ressaltarmos que transdiciplinaridade não é sinônimo de inter ou
multidisciplinaridade. Afinal, a interdisciplinaridade junta disciplinas diferentes – operando
mais ou menos como a Organização das Nações Unidas (ONU), “[...] na qual as nações estão
associadas umas às outras, cada uma conservando sua autonomia, tentando colaborar, mas
com freqüência entrando em conflito.” (MORIN, 2007, p. 24); enquanto que a
multidisciplinaridade articula diferentes disciplinas e a transdiciplinaridade “[...] supera a
particularidade, conjuga os saberes e faz com que aportes diferentes trabalhem por um mesmo
fim.” (SILVA, J., 2007, p. 33, grifo nosso).
A dissertação de Vera Menegon (1998), por exemplo, é um trabalho de Psicologia
Social, desenvolvido e defendido em um programa de pós-graduação na área. No entanto,
poderia, também, ser considerado um trabalho de Saúde Coletiva. Afinal, objetiva pensar a
saúde “numa perspectiva coletiva” (sic.), além de ampliar conhecimentos que subsidiam
intervenções na área:

desde a época da graduação em Psicologia, pensar a saúde numa perspectiva


coletiva tem sido um desafio para mim. Nesse sentido, a opção pela Pós-
Graduação em Psicologia Social representou um dos caminhos possíveis
para estar trabalhando e aprofundando questionamentos antigos, que
128

acabaram por desencadear tantos outros. [...] Esse questionamento levou-me


a pensar na importância de compreender o processo de construção dos
conhecimentos e dos sentidos atribuídos à menopausa, tanto pela mulher
como pela cultura na qual está inserida. Este tipo de abordagem poderia
estar ampliando os conhecimentos que subsidiam programas de saúde
destinados às mulheres de meia-idade e da chamada terceira-idade.
(MENEGON, 1998, p. 12-15, grifos nossos).

Essa dissertação é, portanto, um trabalho de Psicologia Social que inclui objetos,


conceitos e referenciais teóricos das “Ciências da Saúde”, ou é um trabalho de Saúde Coletiva
que se apropria de métodos e autores da Psicologia Social? Talvez a resposta seja: “ambos”.
Em alguns momentos, ela parece pertencer a uma área, em outros, parece pertencer à outra –
como a ecobag, que assume diferentes tamanhos e formatos de acordo com a “necessidade”.
A própria autora destaca a dificuldade de definir dentro de que fronteiras seu trabalho está
inserido ao dizer que a forma em que ela aborda a menopausa

[...] representa uma restrição a estudos monodisciplinares e, por mais


recortes que se faça, a exigência de uma perspectiva transdisciplinar estará
sempre presente. No caso do estudo sobre a menopausa foi necessário
estabelecermos interlocução com campos tais como: Psicologia, Biomédicas,
História, Sociologia, Antropologia, Lingüística, além da Psicologia Social.
(MENEGON, 1998, p. 28).

Quando não mais buscamos traçar fronteiras, complexificamos a realidade113.


Permitimos que um método, uma teoria ou um objeto de estudo estabeleça diferentes relações,
pertença a diferentes campos disciplinares, seja “topologicamente” múltiplo. A
transdisciplinaridade transcende a lógica clássica do “sim” e do “não”, do “é” ou do “não é”,

[...] segundo a qual não cabem definições como „mais ou menos‟ ou


„aproximadamente‟, expressões que ficam „entre linhas divisórias‟ e „além
das linhas divisórias‟, considerando-se que há um terceiro termo no qual „é‟
se une ao „não é‟ [...]. E o que parecia contraditório em um nível da
realidade, no outro, não é. (A. SANTOS, 2008, p. 74).

113
Segundo Morin (2007, p. 22), a palavra “complexo” vem do latim “complexus”, que significa aquilo que é
tecido conjuntamente, aquilo que se deve enlaçar. “Nesse sentido, é certo que os conhecimentos que se
encontram atualmente separados, fragmentados, enclausurados em disciplinas, não podem se ligar uns aos
outros. Não se pode perceber o tecido comum. Portanto, a complexidade exige transdiciplinaridade.”
129

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta tese, buscamos fugir do realismo que caracteriza grande parte das pesquisas
científicas. Sendo assim, não falamos de uma realidade exterior, que antecede e que
independe de nossas ações. Mas falamos de uma realidade que se torna real por meio de
nossas práticas. Não falamos, portanto, da Psicologia Social brasileira. Falamos apenas de
uma Psicologia que é Social porque assim a fizemos ser.
Ao abordarmos a multiplicidade da Psicologia Social brasileira da forma como o
fizemos, deixamos de mencionar inúmeros procedimentos, autores, conceitos. Não demos
conta do todo; apenas contamos histórias sobre alguns lugares em que, no Brasil, a Psicologia
é Social. Afinal, por mais que quiséssemos conhecer, representar ou documentar essa área do
conhecimento da forma mais completa possível, nós nunca conseguiríamos fazê-lo.
Segundo John Law (2003), essa limitação não é causada somente por uma
inadequação técnica; mas, sobretudo, pelo fato de que tornar algo presente implica,
necessariamente, tornar outras coisas ausentes. “Ambas [presença e ausência] andam juntas.
Não poderia ser de outra forma. Presença implica ausência.” (p. 7, tradução nossa). Para o
autor, essa limitação constituiria um problema se acreditássemos em sujeitos que tudo sabem,
em olhos que tudo veem, em base de dados que tudo representam. No entanto, para ele, essa
totalidade não passa de uma pretensão, pois

o conhecível é dependente de, está relacionado e é produzido com o não


conhecível. Aquilo que está em outro lugar. Ausente. Assim, o problema não
está na tentativa de conhecer. Há muitas razões para se tentar conhecer de
uma forma ou de outra. Ao invés disso, está no fracasso (ou na recusa) em
entender a lógica, o caráter e a política do projeto de conhecimento. No
fracasso em pensar através daquilo que está implicado pelo fato de que o
conhecimento é constitutivamente incompleto. (LAW, 2003, p.7, tradução
nossa).

Sendo assim, para Law (2003, 2008), o problema de muitas ciências naturais e sociais
não está em não mencionar ou em excluir o “outro” – isso é inerente ao processo de tornar
algo presente. Mas está na negação dessa exclusão. Está na pretensão de ter um saber global,
universal e totalizante. Está, também, no fato de ignorar que as práticas científicas produzem
realidades.
De acordo com o autor, muitas ciências naturais e sociais partem do pressuposto de
que existe uma realidade exterior e pré-determinada e que cabe a elas representar essa
130

realidade da forma mais fiel possível: “é uma via de mão única. A natureza é colocada no
papel de quem fala por si mesma.” (LAW, 2003, p. 7, tradução nossa). No entanto, tal como
dissemos nos capítulos 1 e 2, não há uma realidade anterior e independente de nossas
práticas114. As ciências, portanto, não apenas representam, mas elas criam realidades. A
questão que Mol (1999, 2002) nos coloca passa, então, a ser de extrema importância: qual
realidade queremos enact em nossas pesquisas?
Demos pistas de nossa resposta ao longo de toda a tese. Logo na introdução, dissemos
que não buscávamos encontrar uma definição única e final de Psicologia Social nem
cartografar seu universo. Muito pelo contrário, assim como no trabalho de Moraes (2010, p.
46),

[...] o que fervilha entre estas linhas é a afirmação de um multiverso, isto é,


um mundo livre das unificações prematuras [...], mundo comum porque
múltiplo e heterogêneo. A composição deste mundo comum nos engaja na
difícil tarefa de produzi-lo, a cada dia, em nossas práticas de pesquisa, nos
momentos em que decidimos o que conta ou não como “dado” de pesquisa,
no momento em que nos engajamos na prática de relatar aquilo que nós
pesquisamos. Pesquisar é, neste sentido, engajar-se numa política ontológica
que, em última instância, produz o mundo em que vivemos.

Nesta tese, portanto, não nos engajamos apenas em uma política de pesquisa, mas
também em uma política de realidade (LAW, 2003). Engajamo-nos em um compromisso com
um “multiverso” – ou como diria Law (2011), com um “fractiverso” (fractiverse) – no qual a
realidade não passa de um efeito de relações contingenciais e heterogêneas. Engajamo-nos em
uma Psicologia Social que é mais do que uma e menos do que muitas: é mais do que uma
porque pode ser enacted de diferentes maneiras e menos do que muitas pois suas diferentes
versões muitas vezes se relacionam.
Nesta Psicologia Social, os não humanos também têm agência: eles produzem
diferenças, desvios, transformações. Sendo assim, ela não é “social” no sentido mais usual do
termo, pois não fala somente de pessoas, grupos ou sociedades. Ela é social em um sentido
mais amplo, o de associações. Em outras palavras, aqui, “ser social” não significa analisar,
descrever ou intervir em um domínio da realidade específico, mas falar das associações, das
mediações, dos vínculos entre atores humanos e não humanos. Aqui,

114
Realidades até podem ser enacted como independentes, pré-determinadas, definidas e singulares. Mas isso só
é possível “[...] porque elas estão sendo feitas dessa maneira. Poderia ser o contrário. [...] Se elas estão sendo
feitas desta maneira é porque a alternativa – que elas podem ser dependentes, simultâneas, indefinidas e/ou
múltiplas – está sendo sistematicamente excluída [othered].” (LAW, 2003, p. 8, tradução nossa).
131

o que nos mantém unidos é o que está além de nossa carne. Mesclado com o
linguístico, com o político, com o ideológico... Em outras palavras, [aqui] o
social não é o que nos mantém juntos, mas o que é mantido. Além disso, se
algo caracteriza nossos marcos de interação é o fato de eles não constituírem
algo claramente demarcado e definido, de frequentemente serem redes
convulsas repletas de diversos dados, lugares, artefatos, símbolos e pessoas.
São, definitivamente, multiplicidades absolutas. Sendo assim, [...] o social é
um assunto performativo. É impossível estabelecer a priori propriedades que
sejam peculiares à vida em sociedade, ainda que na prática se faça isso. Os
elementos que compõem o social são muito variados e o laço social tem
propriedades extrassociais e heterogêneas; e são os atores que executam a
sociedade, que definem in situ o que é social e o que não é. (TIRADO, 2011,
p. 4, tradução nossa).

É importante ressaltarmos que assumir essa definição de social não nos transforma em
relativistas radicais; tampouco permite que nos identifiquemos como totalmente
construcionistas. Talvez, pudéssemos definir-nos como simpatizantes de uma espécie peculiar
de construcionismo, chamada por Latour (2003) de “construcionismo realista” (realistic
constructivism). Assim, esquivamo-nos do dilema “ou você acredita na realidade, ou adere ao
construcionismo” e assumimos que o social é real justamente porque é construído (PEDRO,
2010).
Assumir essa definição de social possui, também, implicações éticas. Afinal, se a
sociedade só existe por meio de nossas práticas, cabe a nós refletir sobre os efeitos daquilo
que fazemos. Cabe a nós, perguntarmo-nos “o que queremos que o Social de nossas
Psicologias signifique e produza?”
De acordo com Latour (2008), tomar o social como um movimento de reassociação e
reagrupamento (reensamblado) de atores heterogêneos amplia a lista de membros que
compõem o mundo social e, consequentemente, aumenta nossas possibilidades de intervir na
realidade. Em suas palavras, nascida em um momento pouco auspicioso, a Sociologia
tradicional

[...] tratou de imitar as ciências naturais no auge do cientificismo e encontrar


um atalho para o devido processo político de responder às demandas
urgentes de uma solução para a questão social. Mas, ao fusionar a ciência e a
política de modo demasiadamente fácil, nunca chegou a explicar de que tipo
de matéria não social estava feito o social, nem teve liberdade para elaborar
sua própria concepção de ciência. Os sociólogos não se equivocaram;
simplesmente acreditaram que tinham a solução à mão ao usar “o social”, e
especialmente a sociedade, para definir o mundo comum. Queriam opinar
sobre questões políticas de seu tempo, fazer algo a respeito do veloz rumo da
modernização, ou no mínimo aplicar as leis de suas ciências à engenharia
social. Mas, por mais respeitáveis que possam parecer essas razões, não
132

deveriam suspender o trabalho de desdobrar e reunir [recolectar] as


associações. [...] Não é necessário enorme habilidade ou perspicácia política
para compreender que se é preciso lutar contra uma força que é invisível,
não rastreável, ubíqua e total, não se tem poder algum e se termina em
derrota absoluta. Só se pode ter alguma possibilidade de modificar
determinado estado de coisas se as forças estão feitas de vínculos menores,
cuja resistência pode ser provada um a um. (p. 349, tradução nossa).

Não adianta, por exemplo, vestir uma armadura e lutar contra o monstro chamado
“sistema capitalista”. Afinal, como saber em que castelo ele reside, que armas devemos usar
para atacá-lo ou como podemos nos proteger? Para Latour (2008), a estratégia bélica mais
eficaz é a transformação de relações menores, de relações concretas. Não podemos lutar
contra algo tão abstrato como o “sistema”, mas podemos deixar de comprar um carro do ano,
contribuir com a construção de uma política social mais solidária, promover um debate sobre
as estratégias de legitimação do discurso neoliberal, participar de uma passeata, reivindicar a
estatização dos meios de produção, estabelecer relações de trabalho mais horizontais, deixar
de tomar Coca Cola, não comprar presentes de Natal... Podemos, portanto, criar novas (e
pequenas) associações. Podemos fazer com que vínculos que não consideramos desejáveis
deixem, em alguma medida, de existir. Podemos resistir.
Tampouco adianta dizer que a Psicologia Social estuda como o comportamento de
indivíduos é influenciado socialmente. Afinal, de que indivíduos estamos falando? A qual
sociedade nos referimos? Como se dá essa influência? É muito mais fácil responder a essas
questões se, ao invés de falarmos de algo tão complexo e abstrato como a sociedade, focarmos
as associações (locais e diminutas) que enact determinada realidade. Até mesmo a capacidade
transformadora da Psicologia se torna mais factível se não nos prendemos somente ao seu
compromisso social – afinal, sem dúvida alguma, é muito mais fácil mudar vínculos que
mudar a sociedade. Não podemos, por exemplo, transformar todo o “contexto social” que
influencia (negativamente) o comportamento do jovem infrator de que falamos no capítulo 1.
Mas podemos tentar intervir nos vínculos que ele estabelece com seus familiares, com a
polícia, com as drogas, com a escola, com o (custoso) tênis Nike etc.

Não é óbvio, então, que a única maneira de começar a contemplar qualquer


tipo de luta é com uma madeixa de vínculos débeis, de relações construídas,
artificiais, atribuídas, das quais se pode dar conta, e surpreendentes? Em
relação à Totalidade, não há nada a fazer exceto se ajoelhar diante dela, ou
pior, sonhar em ocupar o lugar do poder completo. Creio que seria muito
mais seguro sustentar que a ação é possível somente em um território que foi
aberto, aplanado e reduzido a um lugar em que os formatos, as estruturas, a
globalização e as totalidades circulam por canais diminutos e onde cada uma
de suas aplicações tem de depender de uma multidão de potencialidades
133

ocultas. Se não é possível, então a política não existe. Jamais se ganhou


batalha alguma sem se recorrer a novas combinações e eventos
surpreendentes. As próprias ações “supõem uma diferença” somente em um
mundo feito de diferenças. [...] A política é uma coisa demasiadamente séria
para ser deixada nas mãos de uns poucos que [...] são os encarregados de
decidir no que ela deve consistir. (LATOUR, 2008, p. 352, 353, tradução
nossa, grifo do autor).

Nesta tese, buscamos fazer proliferar narrativas locais, parciais, menores. Narrativas
politicamente comprometidas com a possibilidade de a Psicologia Social ser múltipla. É claro
que no caminho perdemos a “grande história”. “Este é o custo: não temos mais a visão geral.
Mas, ao mesmo tempo, criamos algo que não existia antes: interferências entre histórias [...]
cultivar várias histórias uma ao lado da outra é alterar o caráter do saber e do fazer. É tornar o
saber e o fazer complexo e múltiplo.” (LAW, 1997 apud MORAES; ARENDT, 2010, p. 70).
Para cultivar diferentes histórias sobre a Psicologia Social brasileira, usamos
ferramentas, conceitos e reflexões oriundas de diferentes disciplinas acadêmicas, sobretudo da
Sociologia, Antropologia e Filosofia. No entanto, não fizemos um trabalho interdisciplinar. O
que fizemos é um trabalho de Psicologia Social que inclui e, ao mesmo tempo, está incluído
em outras áreas do saber – como a ecobag de que falamos no capítulo 4.
Fizemos, portanto, um trabalho que busca fazer uma diferença (ainda que pequena) no
campo da Psicologia Social. Que busca chamar a atenção para a possibilidade de ordenar e de
coordenar a realidade de diferentes modos. De reconhecer que nessa disciplina cabem
múltiplos e diversos atores. De fazer uma Psicologia Social que “[...] ao invés de isolar
variáveis, busca conexões complexas que articulam humanos a não humanos e que performam
múltiplas realidades” (MORAES; MONTEIRO, 2010, p. 112).
É importante ressaltarmos, uma vez mais, que a Psicologia Social que fizemos nesta
tese não é a única possível; nem é mais verdadeira, mais abrangente ou mais bem
intencionada que as outras. No entanto, o fato de ela não revelar a verdade sobre o mundo não
significa que seja falsa. De acordo com Law (2008), se admitimos que a realidade é múltipla,
a verdade não pode mais ser o único árbitro na decisão de que métodos e teorias devemos
seguir – ainda que, obviamente, ela permaneça sendo importante. A

[...] assemblage metodológica [method assemblage] não trabalha na base do


capricho [whim] ou da volição. Ela precisa ressoar em e através de um
conjunto estendido e materialmente heterogêneo de relações padronizadas se
quiser manifestar uma realidade e uma presença que está relacionada a esta
realidade. Então, verdade é um bem [good]. Ela permanece sendo um bem.
(LAW, 2008, p. 148, tradução nossa, grifo do autor).
134

Nesta tese, temos, portanto, um compromisso com a verdade – mas com uma verdade
que não é a única possível. Temos, também, um compromisso político: buscamos tornar
certos arranjos mais prováveis, mais fortes, mais reais. Arranjos que permitem que a
Psicologia Social seja múltipla.
De acordo com Law (2008), criar imaginários ônticos/epistêmicos múltiplos pode ou
não ser um bem – isso dependerá das circunstâncias, do conteúdo desses imaginários e de
como nos posicionamos ao avaliá-los. No entanto, para o autor, propor a proibição completa
desses imaginários nunca é um bem. É uma política de alteridade (politics of Othering) que
pressupõe e impõe “[...] que singularidade é destino, que o desencantamento está na natureza
das coisas, e que multiplicidade é um erro.” (p. 149, tradução nossa).
Sendo assim, nesta tese, não estamos propondo que todos psicólogos e psicólogas
sociais devam sempre fazer e falar de uma Psicologia Social múltipla; estamos apenas
chamando a atenção para essa possibilidade. Em alguns casos, enfatizar tamanha
complexidade pode até mesmo ser inadequado. Podemos imaginar, por exemplo, a confusão
que uma professora de graduação causaria caso resolvesse abordar a fractalidade da disciplina
em um curso introdutório. Talvez fosse muito mais proveitoso para a formação de seus alunos
e alunas se ela começasse o curso dizendo que há diferentes versões da Psicologia Social
(muitas vezes sobrepostas), mas que, por determinadas razões, optou por apresentar e discutir
esta ou aquela. Assim, ela não estaria negando o caráter múltiplo da disciplina, estaria apenas
afirmando que, naquela ocasião, focá-lo não contribui para fazer aquilo que considera ser o
“bem”.
Abordar as implicações dessa noção de multiplicidade para políticas de formação seria
uma interessante forma de dar continuidade a esta pesquisa. Afinal, no Brasil, os cursos de
graduação em Psicologia estão estruturados de maneiras bastante diferentes: uns são mais
“psicanalíticos”, outros mais “behavioristas”; em uns a Psicologia Social é “sócio-histórica”,
em outros ela é “construcionista” ou “cognitivo-comportamental”; em alguns aprender a fazer
pesquisa é importante, em outros basta a formação clínica ou organizacional. Mas será que
nossas políticas de formação abordam a multiplicidade da área, ou apenas lhe permitem ser
diversa? Em outras palavras, será que, nelas, as diferentes versões da Psicologia estão
coordenadas? Ou será que elas partem do pressuposto de que há uma Psicologia com diversas
especialidades, sendo que cada especialista possui competências, hábitos, histórias e
preocupações particulares, que lhe permitem ter um olhar diferente acerca de um objeto
comum? (MOL, 1999). Que tipo de profissional elas querem formar e em que medida enact
135

uma realidade múltipla contribui para esse projeto político? O modelo de formação
profissional que elas propõem é condizente com aquilo que acreditamos ser o “bem”?
É claro que uma pesquisa que levantasse essas questões seria extremamente relevante,
no entanto, ela não conseguiria respondê-las completamente – afinal, se assumimos que a
ontologia é múltipla, temos de assumir que o “bem” também o é. E, tal como dissemos no
capítulo 2, “fazer o bem não é resultado de descobertas, mas é uma questão de, de fato, fazer.
De tentar, remendar, esforçar-se, fracassar e tentar novamente.” (MOL, 2002, p. 177, tradução
nossa).
Assim, abordar a Psicologia Social da forma como o fizemos é uma ação, através da
qual esperamos contribuir para a produção de um “bem”. No entanto, não há como saber se
este texto fará alguma diferença na prática. Tudo depende de quem o lerá, de onde ele estará
disponível (ficará restrito à biblioteca da PUC-SP? Será publicado em formato de artigo?
Poderá ser acessado a partir do banco de teses da Capes?) e se haverá ou não sobreposição de
suas preocupações com a de seus(as) possíveis leitores(as) (MOL, 2002). Se aqueles(as) que
um dia lerem esse trabalho buscarem uma definição ideal de Psicologia Social, provavelmente
não produziremos nenhum efeito relevante. Mas se, ao invés de respostas, buscarem questões,
talvez possamos, com este trabalho, fortalecer uma realidade da Psicologia Social
ligeiramente diferente.
136
137

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155

FONTES DAS IMAGENS

Capítulo 1
- Quadrinhos do Peanuts: disponível em: <http://reacesso.webnos.org/tag/actor-network-
theory/>. Acesso em: 23 de dez. 2011.
- Capa do livro “Ciência em Ação”: arquivo pessoal da autora.
- Pedocomparador: disponível em: <http://www.flickr.com/photos/mounier/page238/>.
Acesso em: 23 de dez. 2011.
- Formiga: disponível em: <http://teeje.tumblr.com/post/463031540>. Acesso em: 23 de dez.
2011.
- Capa do livro “Reensamblar lo social”: arquivo pessoal da autora.
- Quadrinhos com Bruno Latour e Peter Sloterdijk: disponível em:
<http://klaustoon.wordpress.com/category/latour/>. Acesso em: 23 de dez. 2011.

Capítulo 2
- Capa do livro “The body multiple”: arquivo pessoal da autora.
- Capa do livro “Actor-Network Theory and after”: arquivo pessoal da autora.
- Árvore fractal: disponível em: <http://vandretec.blogspot.com/2010/03/fractais-o-que-
sao.html> . Acesso em: 23 de dez. 2011.
- Mafalda: disponível em: <http://justoeu.wordpress.com/2007/08/>. Acesso em: 23 de dez.
2011.
- Microscopia da artéria radial com depósito de gordura em seu endotélio: disponível em:
<http://www.rbccv.org.br/article/1163/Incidencia_de_aterosclerose_em_arterias_radiais_de_c
adaveres>. Acesso em: 23 de dez. 2011.
- Desenho de uma artéria com depósito de gordura: disponível em:
<http://www.vidacomqualidade.com.br/diminua-o-colesterol-no-dia-a-dia/>. Acesso em: 23
de dez. 2011.

Capítulo 3
- Foto de Aroldo Rodrigues: disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1414-
98931985000100007&script=sci_arttext>. Acesso em: 23 de dez. 2011.
- Cartaz do Concurso para a obtenção do título de Especialista em Psicologia: disponível em:
<http://canalpsirevista.blogspot.com/2010/05/prova-de-especialista-em-psicologia-do.html>.
Acesso em: 23 de dez. 2011.
- Imagem de um grupo focal: disponível em: <http://fuscologia.com.br/site/?p=2524>. Acesso
em: 23 de dez. 2011.
- Capa do livro “Rádice: Muito Prazer!”: disponível em:
<http://www.abrapso.org.br/informativo/view?ID_INFORMATIVO=243>. Acesso em: 23 de
dez. 2011.
- Capa do livro “Identidades de afro-descendentes”: disponível em:
<http://www.abrapso.org.br/informativo/view?ID_INFORMATIVO=244>. Acesso em: 23 de
dez. 2011.
- Capa do livro: “Psicologia Social: o homem em movimento”: arquivo pessoal da autora.
- Capa do livro: “O que é Psicologia Social”: arquivo pessoal da autora.
- Desenho de um experimento do Psicologia Social: disponível em:
<http://oaprendizdeignorante.blogspot.com/2009/06/milgram-experiment.html>. Acesso em:
23 de dez. 2011.
156

Capítulo 4
- Estante com livros de Psicologia Social: arquivo pessoal da autora.
- Sacola de compras reutilizável: disponível em:
http://www.ecologicabrindes.com.br/materias.php?cd_secao=10&codant=&friurl=:-Bolsas-:.
Acesso de em: 23 de dez. 2011.
- Fachada da PUC-SP: arquivo pessoal da autora.
- Logomarca da ABRAPSO: disponível em: <
http://nucleoabrapsoufmg.wordpress.com/2010/12/17/abrapso-minas-regional/>. Acesso de
em: 23 de dez. 2011.
- Representação gráfica de uma rede de Psicologia: In: NEIVA, E. R.; CORRADI, A. A.. A
psicologia organizacional e do trabalho no Brasil: uma análise a partir das redes sociais de
pesquisadores da pós-graduação. Rev. Psicol., Organ. Trab., v. 10, n. 2, 2010 . Disponível
em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-
66572010000200006&lng=pt&nrm=iso>. acesso em 30 dez. 2011.
- Quebra-cabeça (globo): disponível em: http://ssfic.blogspot.com/2010/05/psicologia-social-
e-servico-social.html. Acesso de em: 23 de dez. 2011.
157

ANEXOS
158

Anexo 1- Livros-texto disponíveis na Biblioteca Nadir Gouvêa Kfouri (PUC-SP)


Critérios de busca:
Busca simples
Informar palavra ou expressão: psicologia social Campo para busca: Título
Palavras adjacentes?: sim Base para busca: Bibl. Nadir Gouvêa Kfouri
Filtros de busca:
Tipo de material: Livro Suporte: impresso
Idioma: Português Intervalo de ano: de 1990 até 2011

Autores(as) Título Ano Descrição


LANE, S. T. M.; CODO, Psicologia social: o homem em 2007, “Este livro se propõe a atender a essa necessidade [de um conhecimento alternativo em
W. movimento 1995 Psicologia Social] com artigos de vários autores abordando os tópicos que julgamos
fundamental serem discutidos em disciplinas de Psicologia Social que compõem o currículo de
Formação Geral do Psicólogo, assim como de outros cursos que necessitem de conhecimento
nessa área.” (p. 7).
115
LANE, S. T. M. O que é psicologia social 2006, Este livro faz parte da coleção “Primeiros Passos”, que, de acordo com o site da editora ,
1995, apresenta uma abordagem direta e concisa sobre os mais variados assuntos escritos por
1991 renomados autores”.
SILVA, M. F. S.; Psicologia social: desdobramentos e 2004 “[...] empenhamo-nos em organizar na forma de um livro reflexões sobre o contexto atual da
AQUINO, C. A. B aplicações Psicologia Social. [...] O resultado é um retrato da diversidade e da impossibilidade de uma
compreensão unívoca sobre a Psicologia Social. [...] A presente obra objetiva estimular a
reflexão sobre o contexto atual da Psicologia Social, revelando sua diversidade e interface com
outras disciplinas. (p. 14-16).
JACQUES, M. G. et al. Psicologia social 2003, “[...] esta produção tem o caráter de um manual que apresenta os conhecimentos de forma
contemporânea: livro-texto 2001, acessível sem ser, contudo, simplista e/ou superficial. Pretende introduzir „novas‟ temáticas e/ou
1998 „novos‟ olhares sobre uma mesma temática. Pretende, ainda, ser um recurso útil de ensino-
aprendizagem tanto para alunos como para professores.” (p. 9).
RAMOS, A. Introdução à psicologia social 2003 Este livro “[...] representa uma tentativa de sistematização de uma disciplina relativamente
recente no quadro das ciências sociais. [...] Procurei apresentar, neste volume, num critério o

115
Disponível em: <http://www.editorabrasiliense.com.br/brasiliense/?module=Colection&action=view&id=7055ed91-737c-9670-ec9d-4a981b9ca7d4>. Acesso em: 12 set.
2011.
159

menos doutrinário possível, o imenso panorama descortinado pela Psicologia Social, seguindo a
esteira dos mestres estrangeiros da especialidade, ainda incipiente entre nós” (p. 23).
RODRIGUES, A.; Psicologia social 2002 “Este livro se destina às pessoas que desejam obter uma visão geral das principais contribuições
ASSMAR, E. M. L.; da psicologia social contemporânea. O livro é essencialmente um livro-texto para estudantes de
116
JABLONSKI, B. psicologia em nível de graduação.” (p. 17) .
BRAGHIROLLI, E. M.; Temas de psicologia social 1996 “Temas de Psicologia Social foi escrito com uma finalidade específica: servir de texto didático
PEREIRA, S,; RIZZON, para as disciplinas dos diversos cursos de graduação que têm incluídos, em seus programas,
L. A. esses conteúdos. [...] Espera-se estar contribuindo, com esta publicação, para a compreensão dos
processos subjacentes ao complexo problema das relações humanas.” (p. 9, 10)

116
As duas primeiras edições do livro foram assinadas apenas por Rodrigues. Quase três décadas depois da primeira edição, Eveline Assmar e Bernardo Jablonski – seus ex-
alunos utilizaram edições anteriores do livro em suas aulas e tiveram oportunidade de observar a reação dos alunos ao texto. Tais observações foram utilizadas – a partir da 3ª
edição – para reformular e adaptar o livro às suas necessidades.
160

Anexo 2- Livros introdutórios disponíveis na Biblioteca Dante Moreira Leite (IP-USP)


Critérios de busca:
Busca simples
Informar palavra ou expressão: psicologia social Campo para busca: Título
Palavras adjacentes?: sim Base para busca: Instituto de Psicologia
Filtros de busca:
Idioma: Português Ano: de 1990 até 2011
Tipo de Material: Livro Bases de dados: Livros e Outros Materiais

Autores(as) Título Ano Descrição


TORRES, C. V.; Psicologia Social: principais temas e 2011 “Esta obra revisa de forma didática os principais estudos da Psicologia Social, abordando as
NEIVA E. R. (ORGS.). vertentes diversas tendências que a influenciaram em todo o mundo ao longo do tempo e a multiplicidade
de abordagens teóricas adotadas atualmente para se compreender a interação entre o ser humano
e o meio.” (Contra Capa).
RODRIGUES, A; Psicologia Social 2009, “Este livro se destina às pessoas que desejam obter uma visão geral das principais
ASSMAR, E. M. L.; 2003 contribuições da psicologia social contemporânea. O livro é essencialmente um livro-texto para
JABLONSKI, B. estudantes de psicologia em nível de graduação.” (p. 17).
MAYORGA, C.; Psicologia Social: articulando saberes 2007 “Os organizadores, os autores e autoras desta obra coletiva e Associação Brasileira de
PRADO, M. A. M. e fazeres Psicologia Social (ABRAPSO) – Regional Minas, instituição que fomentou esta publicação, nos
(Orgs.). apresentam uma visão atual do saber e do fazer em psicologia social no Brasil. esta coletânea,
longe de ser uma repetição de temas mais ou menos usuais no campo psicossocial, daqueles
que poderíamos encontrar aqui e acolá nos livros de consagrados autores „internacionais‟ de
origem francesa ou anglo-saxônica, ao contrário, entra na práxis desenvolvida a partir da
experiência vivida e a partir de uma perspectiva, que sem rechaçar o conhecimento científico
socialmente acumulado, o submete a uma crítica rigorosa e critativa.” (p. 7).
SILVA, M. F. S.; Psicologia social: desdobramentos e 2004 “[...] empenhamo-nos em organizar na forma de um livro reflexões sobre o contexto atual da
AQUINO, C. A. B. aplicações. Psicologia Social. [...] O resultado é um retrato da diversidade e da impossibilidade de uma
compreensão unívoca sobre a Psicologia Social. [...] A presente obra objetiva estimular a
reflexão sobre o contexto atual da Psicologia Social, revelando sua diversidade e interface com
outras disciplinas. (p. 14-16).
BRAGHIROLLI, E. M.; Temas de psicologia social 2003 “Temas de Psicologia Social foi escrito com uma finalidade específica: servir de texto didático
RIZZON, L. A.; para as disciplinas dos diversos cursos de graduação que têm incluídos, em seus programas,
PEREIRA, S. esses conteúdos. [...] Espera-se estar contribuindo, com esta publicação, para a compreensão dos
161

processos subjacentes ao complexo problema das relações humanas.” (p. 9, 10)


JACQUES, M. G. et al.. Psicologia social 2003, “[...] esta produção tem o caráter de um manual que apresenta os conhecimentos de forma
contemporânea: livro-texto 1999 acessível sem ser, contudo, simplista e/ou superficial. Pretende introduzir „novas‟ temáticas e/ou
„novos‟ olhares sobre uma mesma temática. Pretende, ainda, ser um recurso útil de ensino-
aprendizagem tanto para alunos como para professores.” (p. 9).
RAMOS, A. Introdução à psicologia social 2003 Este livro “[...] representa uma tentativa de sistematização de uma disciplina relativamente
recente no quadro das ciências sociais. [...] Procurei apresentar, neste volume, num critério o
menos doutrinário possível, o imenso panorama descortinado pela Psicologia Social, seguindo a
esteira dos mestres estrangeiros da especialidade, ainda incipiente entre nós” (p. 23).
CANTIZANI, A. M. L. Psicologia social: introdução e 1998 Este livro objetiva “[...] elaborar um resumo introdutório dos assuntos que a Psicologia Social
conceitos trata, levando-se em conta a vasta gama de óticas em seu tratamento e estabelecer uma
seqüência didática de causa e efeito, considerando-se uma visão gestáltica” (p. 3).
162

Anexo 3 – Resolução CFP 005/2003

Resolução CFP Nº 005/2003

Reconhece a Psicologia Social como


especialidade em Psicologia para finalidade de
concessão e registro do título de Especialista.

O CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, no uso de suas atribuições legais e


regimentais, que lhe são conferidas pela Lei 5.766, de 20 de dezembro de 1971 e

CONSIDERANDO a Resolução CFP N.º 014/00, de 20 de dezembro de 2000, que institui o


título profissional de Especialista em Psicologia e dispõe sobre normas e procedimentos para seu
registro;
º
CONSIDERANDO o que dispõe a Resolução CFP N.º 14/00 em seu art.3 , parágrafo único,
de que poderão ser regulamentadas novas especialidades sempre que sua produção teórica, técnica e
institucionalização social assim as justifiquem;

CONSIDERANDO o disposto na Resolução CFP N.º 02/01, que altera e regulamenta a


Resolução CFP Nº 14/00;

CONSIDERANDO o avanço da Psicologia e a consolidação da área profissional da


Psicologia Social;

CONSIDERANDO a decisão da APAF- Assembléia de Políticas Administrativas e


Financeiras, em reunião realizada em 14 de dezembro de 2002, de regulamentar a especialidade da
Psicologia Social para finalidade de concessão e registro do título de Especialista e

CONSIDERANDO o decidido em reunião plenária do dia 14/6/2003,

RESOLVE:
o
Art.1 . Fica reconhecida a especialidade de Psicologia Social para finalidade de concessão e
registro de título de Especialista.
o
Art.2 . O título concedido ao psicólogo será denominado “Especialista em Psicologia
Social”.
o
Art.3 . A especialidade de Psicologia Social fica instituída com a seguinte definição:
I - Atua fundamentada na compreensão da dimensão subjetiva dos fenômenos sociais
e coletivos, sob diferentes enfoques teóricos e metodológicos, com o objetivo de
problematizar e propor ações no
âmbito social. O psicólogo, nesse campo, desenvolve atividades em diferentes
espaços institucionais e comunitários, no âmbito da Saúde, Educação, trabalho, lazer,
meio ambiente, comunicação social, justiça, segurança e assistência social. Seu
trabalho envolve proposições de políticas e ações relacionadas à comunidade em
geral e aos movimentos sociais de grupos e ações relacionadas à comunidade em
geral e aos movimentos sociais de grupos étnico-raciais, religiosos, de gênero,
geracionais, de orientação sexual, de classes sociais e de outros segmentos
socioculturais, com vistas à realização de projetos da área social e/ou definição de
políticas públicas. Realiza estudo, pesquisa e supervisão sobre temas pertinentes à
163

relação do indivíduo com a sociedade, com o intuito de promover a problematização


e a construção de proposições que qualifiquem o trabalho e a formação no campo da
Psicologia Social.
o
Art.4 . Para habilitar-se ao título de Especialista em Psicologia Social e obter o registro, o
psicólogo deverá estar inscrito no CRP há pelo menos dois anos e atender aos requisitos de uma das
o -
situações especificadas na Resolução CFP Nº 02/01, no capítulo I, artigo 1 concessão de título
profissional de Especialista em Psicologia por experiência comprovada de 5 (cinco) anos de exercício
o
profissional na área, até a data da entrega da solicitação; no Capítulo II, artigo 3 - concessão por
o -
aprovação em concurso de provas e títulos; e Capítulo III, artigo 4 concessão por conclusão de
o o
cursos de especialização, e ainda a condição prevista no inciso IV do parágrafo 1 do artigo 1 da
Resolução CFP 02/01, na forma da Resolução CFP N.º 03/02, que trata da atividade de supervisão de
estágio.
o
Art.5 . O prazo para requerer a concessão de título profissional de Especialista em Psicologia
º
Social e o respectivo registro, na condição de que trata o Artigo 1 , Capítulo I da Resolução CFP No.
02/01, é de 270 dias a contar da data de publicação desta Resolução.
o
Art.6 . A presente resolução entra em vigor na data de sua publicação.
o
Art.7 . Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 14 de junho de 2003

ODAIR FURTADO

Conselheiro-Presidente

Fonte: Psicologia Online – POL. Disponível em: <http://www.pol.org.br/pol/export/sites/


default/pol/legislacao/legislacaoDocumentos/resolucao2003_5.pdf>. Acesso em: 13 mar. 2009.
164

Anexo 4 – Edital C.F.P. 01/2006

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA


CONCURSO DE PROVAS E TÍTULOS PARA CONCESSÃO DO TÍTULO DE
ESPECIALISTA EM PSICOLOGIA E SEU RESPECTIVO REGISTRO
EDITAL N.º 1/2006 – CFP

O CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, tendo em vista as Resoluções CFP n.º 14/00 e n.º
02/01, torna pública a realização de concurso de provas e títulos para concessão do Título de Especialista em
Psicologia e seu respectivo registro, mediante condições estabelecidas neste edital.

1. DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES


1.1 O concurso de provas e títulos será regido por este edital e executado pela Fundação para o Vestibular da
Universidade Estadual Paulista – Fundação VUNESP.
1.2 As provas serão realizadas na cidade de São Paulo/SP.

2. DAS ESPECIALIDADES
2.1 PSICOLOGIA CLÍNICA
2.2 PSICOLOGIA DO ESPORTE
2.3 PSICOLOGIA DO TRÂNSITO
2.4 PSICOMOTRICIDADE
2.5 PSICOPEDAGOGIA
2.6 PSICOLOGIA ESCOLAR E EDUCACIONAL
2.7 PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO (verificar item 14.7 deste
edital: PSICOLOGIA SOCIAL E ORGANIZACIONAL; )
2.8 PSICOLOGIA JURÍDICA
2.9 PSICOLOGIA HOSPITALAR
2.10 PSICOLOGIA SOCIAL
2.11 NEUROPSICOLOGIA

3. DOS REQUISITOS BÁSICOS EXIGIDOS


3.1 O candidato deverá ser psicólogo com mais de dois anos de inscrição em Conselho Regional de Psicologia,
contínuos ou intermitentes, contados até a data de realização da prova, e estar em pleno gozo dos seus direitos.
3.2 O candidato deverá ter prática profissional na especialidade requerida, a ser comprovada conforme indicado
nos subitens 13.6, 13.7 e 13.8 do presente edital, pelo período mínimo de dois anos, conforme especificação a
seguir, em cumprimento ao disposto no § 1º. do artigo 3.º da Resolução CFP n.º 02/01.
3.2.1 No caso de profissional com vínculo empregatício, constitui documento obrigatório a declaração do
empregador (pessoa jurídica), em que deverá constar:
I – identificação do empregador com número do CNPJ e endereço completo;
II – identificação do signatário, que deverá ser responsável legal pelo registro de funcionários, com a citação
do cargo que ocupa, ou que ocupou, e número de inscrição no CPF;
III – função exercida, com a descrição das atividades e a indicação do período em que foram realizadas pelo
requerente; ou
IV – atividade de supervisão na especialidade requerida e o período dessa atividade, ratificada pelo
responsável direto pelo curso e acompanhada do programa da disciplina de estágio, no caso dos psicólogos
que comprovarão a
experiência profissional por meio da supervisão de estágio em cursos regulares de graduação e pós-
graduação em psicologia.
3.2.2 No caso de profissional autônomo, deverá apresentar os documentos abaixo relacionados para a
comprovação do exercício profissional durante o período de, pelo menos, dois anos:
I – prova de inscrição no INSS e na Secretaria da Fazenda Municipal (ISS), durante todo o período;
II – declaração de três psicólogos regularmente inscritos nos Conselhos Regionais de Psicologia há, pelo
menos, cinco anos, atestando o exercício profissional do requerente, na especialidade, durante o período,
com dedicação exclusiva ou como atividade claramente principal, devendo constar, necessariamente, a
identificação
do declarante com o número de inscrição profissional no CRP, número de inscrição no CPF e endereço
completo.
III – pelo menos um documento complementar, entre os abaixo discriminados:
a) declaração do CRP atestando que atuou como responsável técnico por pessoa jurídica regularmente
165

registrada ou cadastrada;
b) pelo menos duas declarações ou cópias contratuais de consultorias realizadas na área da especialidade;
c) declaração de vinculação pessoal à sociedade científica, associativa ou de formação, legalmente
estabelecida por cinco anos e que tenha objetivos estatutários ligados à área, na qualidade de membro,
aluno, docente ou associado;
d) declaração da condição de conveniado na especialidade, com planos de saúde ou organizações de
seguridade social, regularmente registrados, com remuneração direta por parte do plano, especificado o
tempo e o volume anual de serviços prestados;
e) declaração de atividade docente de supervisão de atividade prática, em curso de Psicologia em instituição
de ensino superior, reconhecida pelo MEC, por período de dois anos, em disciplina ligada à área da
especialidade;
f) outros documentos que o profissional considere suficientes para atestar a inequívoca especialidade no
efetivo exercício profissional, cuja aceitabilidade dependerá de parecer da Comissão de Análise para a
Concessão do Título Profissional de Especialista do Conselho Regional.
3.2.3 Atividade voluntária comprovada na especialidade requerida por pelo menos dois anos, contínuos ou
intermitentes atestada por instituição. Constitui documento obrigatório a declaração da instituição (pessoa
jurídica), em que deverá constar:
I – identificação da instituição com número do CNPJ e endereço completo;
II – identificação do signatário, que deverá ser responsável legal pelo registro de funcionários, com a citação
da função que ocupa, ou que ocupou, e número de inscrição no CPF;
III – função exercida, com a descrição das atividades e a indicação do período em que foram realizadas pelo
requerente.
IV – esta modalidade dispensa a apresentação de comprovantes de INSS e ISS.

4. DA INSCRIÇÃO NO CONCURSO
4.1. São condições para inscrição:
a) ser brasileiro, nato ou naturalizado, ou gozar das prerrogativas previstas no art. 12 da Constituição Federal e
demais disposições de lei, no caso de estrangeiros;
b) ter, na data de encerramento das inscrições, idade mínima de 18 (dezoito) anos completos;
c) estar em dia com as obrigações eleitorais;
d) se do sexo masculino, estar em dia com as obrigações militares;
e) declarar, no requerimento da inscrição, que possui os requisitos exigidos para o título pretendido e que
conhece e aceita as normas constantes deste Edital.
f) estar com o CPF regularizado;
g) não registrar antecedentes criminais;
h) estar em dia com o Conselho de Classe.

5. DAS INSCRIÇÕES VIA INTERNET


5.1 As inscrições deverão ser efetuadas em uma das especialidades referidas no item
2 - DAS ESPECIALIDADES, pela internet – site www.vunesp.com.br.
5.2 Para inscrever-se, o candidato deverá acessar o site www.vunesp.com.br, durante o período de 12 de junho
de 2006 até 14 de julho de 2006, localizar os “links correlatos ao Concurso, ler o respectivo Edital, imprimir o
boleto bancário e efetuar sua inscrição conforme os procedimentos descritos a seguir:
a) Efetuar o pagamento da taxa de inscrição no valor de R$ 150,00 (cento e cinqüenta reais) em qualquer
agência bancária, até às 16 horas (horário de Brasília) do dia 14 de julho de 2006, quando a ficha de inscrição
será retirada do sistema.
b) O pagamento pode ser feito em cheque ou dinheiro. A inscrição para pagamento em cheque somente será
considerada efetuada após a respectiva confirmação.
c) A efetivação da inscrição ocorrerá após a confirmação, pelo banco, do pagamento do boleto referente à taxa.
A pesquisa para acompanhar a situação da inscrição deverá ser feita no site www.vunesp.com.br, na página do
Concurso Público, 72 (setenta e duas) horas após o encerramento do período de inscrições. Caso seja detectada
falta de informação, o candidato deverá entrar em contato com o Disque VUNESP, pelo telefone 11-3874-6300,
de segunda a sexta-feira, das 8 às 20 horas.
d) A Fundação Vunesp e o Conselho Federal de Psicologia não se responsabilizam por solicitação de inscrição
via Internet não recebida por motivos de ordem técnica dos computadores, falhas de comunicação, bem como
outros fatores de ordem técnica que impossibilitem a transferência de dados.
e) O descumprimento das instruções para inscrição via internet implicará a não efetivação da inscrição.
5.3 Não haverá, em hipótese alguma, devolução da importância paga, objeto da inscrição do candidato.
5.4 Não serão aceitos pedidos de isenção de pagamento do valor da inscrição, seja qual for o motivo alegado.
166

5.5 Não será aceita inscrição por via postal, fac-símile, condicional ou fora do período estabelecido neste Edital.
Será cancelada a inscrição se for verificado, a qualquer tempo, o não atendimento a todos os requisitos
estabelecidos neste Edital.
5.7 O deferimento da inscrição dar-se-á mediante o correto preenchimento da ficha de inscrição, a assinatura do
candidato no requerimento de inscrição e o pagamento da taxa de inscrição.
5.8 Não deverá ser enviado ao Conselho Federal de Psicologia ou à Fundação Vunesp qualquer cópia de
documento de identidade.

6. DAS DISPOSIÇÕES GERAIS SOBRE A INSCRIÇÃO NO CONCURSO


6.1 No ato de inscrição, o candidato deverá indicar sua opção de especialidade em que realizará a prova de
conhecimentos teóricos e práticos e apresentação dos títulos, observados o item 2 deste edital.
6.2 Não será aceita solicitação de alteração de opção de especialidade para a realização da prova e de
apresentação de títulos.
6.3 A qualquer tempo poder-se-á anular a inscrição, a prova e/ou a certificação do candidato, desde que
verificada qualquer falsidade nas declarações e/ou quaisquer irregularidades na prova e/ou nos documentos
apresentados.
6.4 Antes de efetuar a inscrição, o candidato deverá conhecer o edital e verificar se preenche todos os requisitos
exigidos para a certificação.
6.5 O comprovante de inscrição deverá ser mantido em poder do candidato e apresentado nos locais de
realização da prova.
6.6 Os candidatos que necessitarem de prova Braille ou ampliada ou de condições especiais, deverão requerê-la
durante o período de inscrição, pessoalmente ou via SEDEX, à Fundação Vunesp, localizada na Rua Dona
Germaine Buchard, 515 – Água Branca/Perdizes – CEP: 05002-062. Os candidatos que não o fizerem até o
término da inscrição, por qualquer motivo, não poderão ser atendidos.
6.6.1 A solicitação de condições especiais será atendida obedecendo a critérios de viabilidade e de
razoabilidade.
6.6.2 A não-solicitação de condições especiais no ato de inscrição implica a sua não concessão no dia de
realização da prova.
6.7 O candidato deverá efetuar inscrição para apenas uma das especialidades. Se o candidato se inscrever para
mais de uma especialidade, o candidato deverá optar por uma delas, sendo considerado eliminado do Concurso
naquela especialidade em que foi considerado ausente.
6.8 As informações prestadas na solicitação de inscrição serão de inteira responsabilidade do candidato,
dispondo o Conselho Federal de Psicologia do direito de excluir do concurso aquele que não preencher o
formulário de forma completa, correta e legível e/ou que fornecer dados comprovadamente inverídicos.
6.9 O candidato deverá declarar na solicitação de inscrição que tem ciência e aceita que, caso seja habilitado,
deverá entregar ao Conselho Regional de Psicologia em que estiver inscrito os documentos comprobatórios dos
requisitos exigidos no subitem 3.2 deste edital para efeito da concessão e registro do Título de Especialista em
Psicologia, no prazo de um ano a contar da data de divulgação do resultado final do concurso.
6.10 Não serão aceitas as solicitações de inscrição que não atenderem rigorosamente ao estabelecido neste
edital, sendo que, no ato da inscrição, o candidato deverá declarar que conhece e aceita os termos do presente
edital.

7. DAS PROVAS DO CONCURSO


7.1 O concurso constará de prova objetiva, discursiva e de Títulos, de caráter eliminatório e classificatório. A
prova objetiva será composta de questões de múltipla escolha, com 5 (cinco) alternativas cada e a prova
discursiva será composta de 4 (quatro) questões, conforme segue:

PROVAS N.º DE QUESTÕES


1ª Fase
Objetiva:
- Conhecimentos Específicos por especialidade 60
Discursiva:
- Conhecimentos Específicos por especialidade 04
2ª Fase
Títulos ––

7.2 As provas objetiva e dissertativa avaliarão habilidades que vão além do mero conhecimento memorizado,
abrangendo compreensão, aplicação, análise, síntese e avaliação, valorizando a capacidade de raciocínio, de
acordo com o item 14 – DO CONTEÚDO PROGRAMÁTICO.
7.3 A prova objetiva terá duração de 3 (três) horas e 30 (trinta) minutos e será composta de questões de
167

múltipla escolha, com 5 (cinco) alternativas cada.


7.4 A prova discursiva terá duração de 2 (duas) horas 30 (trinta) minutos e será composta 04 (quatro)
questões que abordarão situações-problema relativas à prática profissional da especialidade requerida.
7.4.1 Na avaliação da parte discursiva, serão considerados o domínio do conhecimento teórico-prático, o
emprego adequado da linguagem, a articulação do raciocínio, a capacidade de argumentação teórico-
metodológica e o uso correto do vernáculo.
7.5 As provas serão realizadas na cidade de São Paulo.
7.6 A Fundação Vunesp enviará cartão de convocação informando o local e o horário de realização da prova de
conhecimentos teóricos e práticos bem como da entrega de títulos, por meio de comunicação pessoal dirigida ao
endereço fornecido pelo candidato no ato de inscrição.
7.6.1 O envio do cartão de convocação dirigido ao candidato, ainda que extraviado ou por qualquer motivo não-
recebido, não desobriga o candidato do dever de observar o edital a ser publicado, consoante dispõe o subitem
7.4 deste edital.
7.7 A confirmação da data e horário e informações sobre o local para a realização das provas deverão ser
acompanhadas pelo candidato por meio de Edital de Convocação a ser publicado no Diário Oficial da União. É
de responsabilidade exclusiva do candidato a identificação correta de seu local de realização da prova e o
comparecimento no horário determinado.
7.8 Nos 3 (três) dias que antecederem a data prevista para as provas o candidato
deverá:
- verificar a publicação do Edital de Convocação no Diário Oficial da União; ou
- consultar os sites: http://www.pol.org.br e www.vunesp.com.br; ou
- contatar o Disque VUNESP, pelo telefone 11-3874-6300, de segunda a sexta-feira, das 8 às 20 horas; ou
- consultar o sistema TTS (Text to Speach), pelo telefone 11-3874-6300, digitando o número do respectivo
CPF; ou
7.9 Eventualmente, se, por qualquer que seja o motivo, o nome do candidato não constar do Edital de
Convocação, deverá acessar o site www.vunesp.com.br ou entrar em contato com a Fundação Vunesp, pelo
Disque VUNESP, no Telefone 11-3874-6300, de segunda a sexta-feira, das 8 às 20 horas, para verificar o
ocorrido.
7.9.1 Ocorrendo o caso constante deste item, poderá o candidato participar do Concurso e realizar a prova, se
apresentar o respectivo comprovante de pagamento, efetuado nos moldes previstos neste Edital, devendo, para
tanto, preencher, no dia da prova, formulário específico.
7.9.2 A inclusão de que trata este item será realizada de forma condicional, sujeita à posterior verificação da
regularidade da referida inscrição.
7.9.3 Constatada eventual irregularidade na inscrição, a inclusão do candidato será automaticamente cancelada,
sem direito à reclamação, independentemente de qualquer formalidade, considerados nulos todos os atos dela
decorrentes.
7.10 O candidato deverá comparecer ao local designado para a realização das provas com antecedência mínima
de uma hora do horário fixado para o seu início, munido de caneta de tinta azul ou preta, de comprovante de
inscrição e de documento de identidade original.
7.11 Não será admitido ingresso de candidatos nos locais de realização das provas após o horário fixado para o
seu início.
7.12 Não haverá segunda chamada para a realização das provas. O não comparecimento para realização das
provas implicará a eliminação automática do candidato.
7.13 Não será aplicada prova, em hipótese alguma, fora da data, do local e do espaço físico predeterminados em
edital .
7.14 Serão considerados documentos de identidade: carteiras expedidas pelos Comandos Militares, pelas
Secretarias de Segurança Pública, pelos Institutos de Identificação e pelos Corpos de Bombeiros Militares;
carteiras expedidas pelo órgão fiscalizador de exercício profissional (Conselhos Regionais de Psicologia);
passaporte; certificado de reservista; carteiras funcionais do Ministério Público; carteiras funcionais expedidas
por órgão público que, por força de lei federal, valham como identidade; carteira de trabalho; carteira nacional
de habilitação (somente o modelo novo, com foto).
7.14.1 Caso o candidato esteja impossibilitado de apresentar, no dia de realização da prova, documento de
identidade original, por motivo de perda, furto ou roubo, deverá ser apresentado documento que ateste o
registro da ocorrência em órgão policial, expedido há, no máximo, trinta dias.
7.14.2 Não serão aceitos como documentos de identidade: certidões de nascimento, títulos eleitorais,
carteiras de motorista (modelo antigo), carteiras de estudante, carteiras funcionais sem valor de identidade
nem documentos ilegíveis, não-identificáveis e/ou danificados.
7.14.3 Não será aceita cópia de documento de identidade, ainda que autenticada.
7.15 Por ocasião da realização das provas, o candidato que não apresentar documento de identidade original, na
forma definida no subitem 7.12 deste edital, será automaticamente excluído do concurso.
168

7.16 No dia de realização das provas, não será permitido ao candidato entrar ou permanecer no local do exame
com armas, ainda que possua o respectivo porte, ou aparelhos eletrônicos (bip, telefone celular, relógio do tipo
data bank, walkman,agenda eletrônica, notebook, palmtop, receptor, gravador, etc.), ou estiver fazendo uso
de boné ou chapéu. Caso o candidato leve alguma arma e/ou algum aparelho eletrônico, estes deverão ser
recolhidos pela Coordenação e devolvidos ao final da prova. O descumprimento da presente instrução implicará
a eliminação do candidato, caracterizando-se tentativa de fraude. Não podemos ficar sobre a
responsabilidade destes equipamentos principalmente com armas.
7.17 A candidata que tiver necessidade de amamentar durante a realização das provas deverá levar um
acompanhante, que ficará em sala reservada para esta finalidade e que será o responsável pela criança.
Prova Objetiva
7.18 A prova objetiva tem data prevista para sua realização em 10 de setembro de 2006, no período da manhã.
7.18.1 O horário de início da prova será definido em cada sala de aplicação.
7.18.2 No ato da realização da prova objetiva serão fornecidos o Caderno de Questões e a Folha Definitiva de
Respostas.
7.18.3 O candidato somente poderá retirar-se do local de realização da prova levando o caderno da prova
objetiva, após 2 horas e 30 minutos do seu início.
7.18.4 O candidato deverá transcrever as respostas na Folha de Respostas, com caneta de tinta azul ou preta,
bem como assinar no campo apropriado, que será o único documento válido para a correção da prova. O
preenchimento da Folha de Respostas será de inteira responsabilidade do candidato, que deverá proceder em
conformidade com as instruções específicas contidas neste edital e na Folha de Respostas. Em hipótese alguma
haverá substituição da Folha de Respostas por erro do candidato.
7.18.5 Não será permitido que as marcações na Folha de Respostas sejam feitas por outras pessoas, salvo em
caso de candidato que tenha solicitado condição especial para esse fim. Nesse caso, se necessário, o candidato
será acompanhado por um fiscal da Fundação VUNESP devidamente treinado.
Prova Discursiva
7.19 A prova discursiva será aplicada no mesmo dia da prova objetiva (10 de setembro de 20066), no período
da tarde.
7.19.1 Para a realização da prova Discursiva o candidato receberá o Caderno de Questões, no qual redigirá as
respostas com caneta de tinta azul ou preta. A prova deverá ser feita em letra legível, não sendo permitida a
interferência e/ou a participação de outras pessoas, salvo em caso de candidato que tenha solicitado condição
especial para esse fim. Nesse caso, o candidato será acompanhado por um fiscal da Fundação Vunesp,
devidamente treinado, que deverá ditar o texto, especificando oralmente a grafia das palavras e os sinais
gráficos de pontuação. A prova deverá ser manuscrita, não podendo ser assinada, rubricada ou conter, em outro
local que não seja o cabeçalho das folhas de texto definitivo, qualquer palavra ou marca que o identifique, sob
pena de ser anulada. Assim, a detectação de qualquer marca identificadora no espaço destinado à transcrição do
texto acarretará a anulação da prova e a conseqüente eliminação do candidato do Concurso.
7.19.2 Será anulada a prova que contenha qualquer elemento que permita a identificação do candidato.
7.19.3 Ao final da prova o candidato entregará o Caderno de Questões ao fiscal da sala.
7.20 Terá sua prova anulada e será automaticamente eliminado do concurso o candidato que, durante a
realização das provas:
a) usar ou tentar usar meios fraudulentos e/ou ilegais para a sua realização;
b) for surpreendido dando e/ou recebendo auxílio para a execução da prova;
c) utilizar-se de livros, máquinas de calcular e/ou equipamento similar, dicionário, notas e/ou impressos que não
forem expressamente permitidos, telefone celular, gravador, receptor, pagers, notebook e/ou equipamento
similar e/ou que se comunicar com outro candidato;
d) faltar com o devido respeito para com qualquer membro da equipe de aplicação da
prova, as autoridades presentes e/ou os candidatos;
e) fizer anotação de informações relativas às suas respostas no comprovante de inscrição e/ou em qualquer
outro meio, que não os permitidos;
f) recusar-se a entregar o material da prova ao término do tempo destinado para a sua realização;
g) afastar-se da sala, a qualquer tempo, sem o acompanhamento de fiscal;
h) ausentar-se da sala, a qualquer tempo, portando a folha de respostas;
i) descumprir as instruções contidas no caderno de prova,
j) perturbar, de qualquer modo, a ordem dos trabalhos, incorrendo em comportamento indevido;
k) utilizar ou tentar utilizar meios fraudulentos, para obter aprovação própria ou de terceiros, em qualquer etapa
do concurso.
7.21.Se, a qualquer tempo, for constatado, por meio eletrônico, estatístico, visual ou grafológico, ter o candidato
utilizado processos ilícitos, sua prova será anulada e ele será automaticamente eliminado do concurso.
7.22 Não haverá, por qualquer motivo, prorrogação do tempo previsto para a aplicação da prova em virtude de
afastamento de candidato da sala de prova.
169

7.23. No dia de realização da prova, não serão fornecidas, por qualquer membro da equipe de aplicação da
prova e/ou pelas autoridades presentes, informações referentes ao conteúdo da prova e/ou aos critérios de
avaliação.

8 – DOS TÍTULOS
8.1 A entrega de títulos será realizada do dia 05 ao dia 09 de setembro de 2006, em um Stand da Fundação
Vunesp no mesmo local que será realizado o II Congresso Brasileiro de Psicologia: Ciência e Profissão.
(colocar endereço do Congresso)
8.2 Somente serão aceitos os títulos a seguir relacionados, expedidos até a data da entrega, observadas as
condições previstas neste edital.

QUADRO DE ATRIBUIÇÃO DE PONTOS PARA A AVALIAÇÃO DE TÍTULO


TÍTULOS VALOR DE PONTUAÇÃO MÁXIMA
CADA TÍTULO
a) Certificado de Curso de Extensão na área da
especialidade requerida, presencial ou a distância,
com duração mínima de 80 horas, realizado em 1 3
Instituição de Ensino Superior, pública ou privada,
reconhecida pelo MEC.
b) Certificado de Curso de Aperfeiçoamento na área
da especialidade requerida, presencial ou a distância,
com duração mínima de 120 horas, realizado em 2 6
Instituição de Ensino Superior, pública ou privada,
reconhecida pelo MEC.
c) Certificado de Curso de Especialização na área da
especialidade requerida, com duração mínima de 360
horas, realizado em Instituição de Ensino Superior, 9 9
pública ou privada, reconhecida pelo MEC.
d) Certificado de Curso de Especialização em área
afim à área da especialidade requerida, com duração
mínima de 360 horas, realizado em Instituição de 5 5
Ensino Superior, pública ou privada, reconhecida
pelo MEC.
e) Certificado de Curso de Especialização na área da
especialidade requerida, com duração mínima de 500 14 14
horas, realizado em Instituição de Ensino Superior,
pública ou privada, reconhecida pelo MEC.
f) Certificado de Curso de Especialização em área
afim à área da especialidade requerida, com duração
mínima de 500 horas, realizado em Instituição de 7 7
Ensino Superior, pública ou privada, reconhecida
pelo MEC ou credenciado pelo CFP.
g) Diploma, devidamente registrado, de conclusão 12 12
de Mestrado na área da especialidade requerida.
12 12

h) Diploma, devidamente registrado, de conclusão de 6 6


Mestrado em área afim à área da especialidade
requerida.
i) Diploma, devidamente registrado, de conclusão de 12 12
Doutorado na área da especialidade requerida.
j) Diploma, devidamente registrado, de conclusão de
Doutorado em área afim à área da especialidade 6 6
requerida.
k) Comprovação de ser membro de Associação / 1 1
Entidade Nacional da área da especialidade.
l) Experiência profissional superior a dois anos na
área da especialidade requerida, nos moldes da
Resolução CFP nº 02/2001 ou atividade voluntária 5 por ano 30
superior a dois anos na área da especialidade
170

requerida, nos moldes requeridos no item 3.2.3 deste


edital. Não será considerada fração de ano.
m) Aprovação em concurso público, em cargo de 1 3
Psicólogo.
n) Publicação de livro de autoria ou de co-autoria do
candidato, referente à área da especialidade requerida, 2 6
com comissão editorial.
o) Publicação de capítulo/artigo de livro de autoria ou
de co-autoria do candidato, referente à área da 1 3
especialidade requerida, com comissão editorial.
p) Publicação de artigo em periódico especializado de
autoria ou de co-autoria do candidato, que tenha 2 6
comissão editorial.
q) Publicação de artigo completo em anais de
congresso de autoria ou de co-autoria do candidato 2 6
referente à área da especialidade requerida.

8.3 Para a entrega dos Títulos, o candidato deverá preencher e assinar relação, de acordo com o modelo a ser
fornecido pela Fundação VUNESP, no qual indicará a quantidade de títulos apresentados. Juntamente com essa
relação deve ser apresentada uma cópia, autenticada em cartório, de cada título declarado. As cópias
apresentadas não serão devolvidas em hipótese alguma.
8.4 Não serão consideradas, para efeito de pontuação, as cópias não-autenticadas em cartório.
8.5 Os certificados de conclusão de cursos de pós-graduação em nível de aperfeiçoamento ou de especialização
deverão conter a carga horária, sob pena de serem desconsiderados.
8.5.1 Para comprovação de conclusão de curso de pós-graduação em nível de mestrado ou doutorado deve
ser apresentado diploma, devidamente registrado, expedido por instituição oficial ou reconhecida.
8.5.2 Para os casos previstos nas alíneas g, h, i e j, não serão aceitas declarações ou atestados de conclusão
do curso ou das respectivas disciplinas.
8.6 Todo documento expedido em língua estrangeira somente será considerado quando traduzido para a Língua
Portuguesa por tradutor juramentado.
8.6.1 Os documentos de conclusão de curso expedidos em língua estrangeira deverão estar, também,
revalidados por instituição de ensino superior no Brasil.
8.7 A comprovação de aprovação em Concurso Público deverá ser feita por meio de apresentação de certidão
expedida pelo setor de pessoal, ou equivalente, do órgão respectivo, ou por meio de cópia do Diário Oficial,
autenticada pela imprensa oficial correspondente, especificando o concurso e o cargo para o qual o candidato
foi
aprovado.
8.7.1 Não será considerado Concurso Público, para os fins do presente edital, a seleção em que conste
apenas avaliação de títulos e/ou de currículo e/ou prova prática.
8.8 A comprovação de publicações deverá ser efetuada mediante a apresentação de exemplar integral (original
ou cópia de boa qualidade, com autenticação em cartório das páginas em que conste a autoria/co-autoria). Em
todos os casos, é imprescindível que conste claramente o nome do candidato.
8.8.1 Não serão aceitas publicações em mídia eletrônica.
8.8.2 Trabalhos publicados sem o nome do candidato deverão ser acompanhados de documento emitido pelo
editor ou dirigente do órgão editor, atestando a autoria.
8.8.3 Dissertações/teses de mestrado e de doutorado não serão consideradas como trabalhos publicados para
efeito de contagem de pontos.
8.4 Para efeito de pontuação, cada título será considerado uma única vez.
8.5 Os pontos que excederem o valor máximo em cada alínea do Quadro de Atribuição de Pontos para a
Avaliação de Títulos, bem como os que excederem ao limite de 60 pontos serão desconsiderados.

9. DO JULGAMENTO DAS PROVAS E HABILITAÇÃO


9.1 A prova objetiva constará de 60 questões e será avaliada na escala de 0 (zero) a 60 (sessenta) pontos.
9.2 Será considerado habilitado o candidato que obtiver no mínimo 30 pontos.
9.3 Não será acatada, em hipótese alguma, solicitação, pelo candidato, de vistas de prova.
9.4 O candidato que não atingir o mínimo de 30 (trinta) pontos será excluído do concurso.
9.5 A prova discursiva constará de 4 (quatro) questões, e será avaliada na escala de 0 (zero) a 40 (quarenta)
pontos.
9.6 Será considerado habilitado o candidato que obtiver no mínimo 20 (vinte) pontos.
9.7 O candidato que não atingir o mínimo de 20 (vinte) pontos será excluído do concurso.
171

9.8 A avaliação dos títulos será de até 60 (sessenta) pontos.


9.8.1 A pontuação dos títulos será efetuada de acordo com o tabela de títulos, estabelecidos neste Edital.

10. DA NOTA FINAL DO CONCURSO


10.1 A nota final do candidato no Concurso será a soma das notas obtidas nas provas objetiva, discursiva e de
títulos, sendo habilitado à certificação o candidato que atingir, no mínimo, 70 (setenta) pontos.

11. DOS RECURSOS


11.1 O prazo para interposição de recurso será de 2 (dois) dias úteis, ou contado da data da divulgação do fato
que lhe deu origem.
11.1.1 Admitir-se-á um único recurso, de forma individualizada, para cada questão ou para o fato que lhe deu
origem e em 2 (duas) vias de igual teor (original e cópia).
11.2. O recurso deverá ser dirigido ao Presidente de Conselho Federal de Psicologia e enviado em CD e uma
cópia impressa, via Sedex à Rua Dona Germaine Buchard, 515 - Água Branca – cep 05002-062 com as
seguintes especificações:
a) nome do candidato;
b) número de inscrição;
c) número do documento de identidade;
d) Concurso Público para o qual se inscreveu;
e) especialidade para a qual se inscreveu;
f) endereço completo;
g) questionamento;
h) n° da questão;
i) embasamento do recurso;
j) data e assinatura.
11.3 O recurso deverá estar digitado ou datilografado, não sendo aceito recurso interposto por fac-símile, telex,
internet, telegrama ou outro meio não especificado neste Edital.
11.4 A resposta ao recurso interposto será objeto de divulgação no DOE.
11.5 No caso de provimento do recurso interposto dentro das especificações, este poderá, eventualmente, alterar
a nota/classificação inicial obtida pelo candidato para uma nota/classificação superior ou inferior, ou ainda
poderá ocorrer a desclassificação do candidato que não obtiver a nota mínima exigida para habilitação.
11.6 Será indeferido o recurso interposto fora da forma e dos prazos estipulados neste Edital. Será considerada,
para tanto, a data do respectiva postagem.
11.7 Não haverá, em hipótese alguma, vistas de prova.

12. DAS DISPOSIÇÕES FINAIS


12.1 As informações sobre o presente Concurso, até a publicação da classificação final, serão prestadas pela
Fundação VUNESP, por meio do Disque VUNESP, pelo telefone 11-3874-6300, de segunda a sexta-feira, das 8
às 20 horas, e pela internet, no site www.vunesp.com.br, sendo que após a competente homologação do
resultado
final, as informações serão de responsabilidade do Conselho Federal l de Psicologia.
12.2 A inscrição do candidato implicará a aceitação das normas para concurso contidas nos comunicados, neste
edital e em outros a serem publicados.
12.3 O resultado final do concurso será homologado e publicado no Diário Oficial da União e divulgado na
Internet, nos endereços eletrônicos http://www.vunesp.com.br e http://www.pol.org.br.
12.4 O candidato deverá observar rigorosamente os editais e os comunicados a serem publicados no Diário
Oficial da União, divulgados na Internet, nos endereços eletrônicos http://www.vunesp.com.br e
http://www.pol.org.br, sendo de inteira responsabilidade do candidato o seu acompanhamento, não podendo ser
alegado qualquer espécie de desconhecimento.
12.5 O prazo de validade do concurso será de 12 meses.
12.6 Durante o prazo de validade do concurso, o candidato considerado habilitado deverá apresentar os
documentos para comprovação dos requisitos exigidos para a certificação, especificados no subitem 3.2 deste
edital.
12.7 Os documentos deverão ser entregues no Conselho Regional de Psicologia em que o candidato estiver
inscrito.
12.8 A habilitação no concurso gera, para o candidato, apenas a expectativa de direito à certificação. Durante o
período de validade do concurso, os Conselhos Regionais de Psicologia reservam-se o direito de procederem à
análise da documentação apresentada pelos candidatos e, caso seja constatado o não-cumprimento de quaisquer
dos requisitos exigidos no item 3 deste edital, o candidato perderá o direito ao registro do Título de Especialista
em Psicologia.
172

12.9 Os casos omissos serão resolvidos pela Fundação Vunesp juntamente com o Conselho Federal de
Psicologia.
12.10 O CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA e a Fundação VUNESP se eximem das despesas
decorrentes de viagens e estadas dos candidatos para comparecimento a qualquer fase.

12.11 O candidato deverá manter seu endereço atualizado na Fundação VUNESP, enquanto estiver participando
do concurso e, posteriormente, se habilitado, no Conselho Federal de Psicologia. São de inteira
responsabilidade do candidato os prejuízos advindos da não-atualização de seu endereço.

12.12 Toda menção a horário neste Edital e em outros atos dele decorrentes terá como referência o horário
oficial de Brasília.

12.13 Os itens deste Edital poderão sofrer eventuais atualizações ou retificações, enquanto não consumada a
providência ou evento que lhes disser respeito, circunstância que será mencionada em Edital ou Aviso a ser
publicado no DOE.

12.14 Legislação com entrada em vigor após a data de publicação deste edital, bem como alterações em
dispositivos legais e normativos a ele posteriores, não serão objetos de avaliação na parte objetiva do presente
concurso.

12.15 Decorridos 90 (noventa) dias da data da homologação e não caracterizando qualquer óbice, é facultada a
incineração da prova e demais registros escritos,mantendo-se, porém, pelo prazo de validade do Concurso
Público, registros eletrônicos.
Sem prejuízo das sanções criminais cabíveis, a qualquer tempo, o Conselho Federal de Psicologia poderá anular
a inscrição, prova ou admissão do candidato, verificadas falsidades de declaração ou irregularidade no Certame.
E, para que chegue ao conhecimento de todos é expedido o presente Edital.

13. DO CONTEÚDO PROGRAMÁTICO (HABILIDADES E CONHECIMENTOS)

13.1 PSICOLOGIA CLÍNICA: 1 Elementos gerais sobre a prática clínica: 1.1 Psicologia Clínica e Políticas
Públicas para a Saúde no Brasil; 1.2 A função do psicólogo nos campos da promoção, vigilância e atenção
integral à saúde, em hospitais, consultórios, clínicas multidisciplinares, postos e/ou centros de saúde,
centros comunitários, organizações não governamentais; 1.3 Modalidades de atuação do psicólogo clínico:
atendimento individual, grupal, institucional, a crianças, adolescentes, adultos, idosos, casais e famílias,
orientação profissional; 1.4 O psicólogo clínico e o trabalho interdisciplinar; 1.5 Histórico das práticas
terapêuticas psicológicas; 1.6 Elementos básicos da relação terapêutica: estabelecimento do vínculo,
diagnóstico, plano de tratamento, contrato terapêutico, término do tratamento; 1.7 Processos psicológicos
básicos e seus fundamentos; 1.8 As alterações das funções e estruturas psicológicas; Métodos e técnicas de
avaliação psicológica no contexto clínico; 1.9 Métodos e técnicas de avaliação psicológica no contexto clínico;
1.10 Código de ética para o exercício profissional dos psicólogos nas questões concernentes à prática clínica,
incluindo a ética do psicólogo clínico em pesquisas com seres humanos; 2 Elementos Pertinentes aos Sistemas
Psicológicos: 2.1 No âmbito das Terapias Cognitivas e Comportamentais: Procedimentos de intervenção; 2.2
Formulação de casos; 2.3 A prática clínica baseada nos princípios elementares do comportamento e de seus
processos afetivos, cognitivos, sociais e institucionais concomitantes; 2.4 Técnicas das terapias cognitivas e
comportamentais; 2.5 Formulação e tratamento de quadros relacionados no CID 10 e no DSM-IV; 2.6 Prática
baseada em evidências; 3 No âmbito das Psicoterapias Humanistas: 3.1 A Psicologia e o Humanismo Moderno,
entendido como aquele no qual o ser humano é concebido e afirmado como fonte de suas representações e de
seus atos, seu fundamento-sujeito; 3.2 A Fenomenologia de Husserl, Heidegger e Sartre como método nas
psicoterapias existenciais; 3.3 As relações entre metafísica e fenomenologia; 3.4 O método fenomenológico na
Gestal-terapia; 3.5 A idéia de liberdade em Sartre como condição de possibilidade nas psicoterapias
existenciais; 3.6 Os conceitos de consideração positiva incondicional, empatia e congruência e suas relações
com o postulado de tendência atualizante no trabalho psicoterapêutico, na Abordagem Centrada na Pessoa; 3.7
Os princípios psicoterapêuticos da Abordagem Centrada na Pessoa e os “grupos de encontro”; 3.8 As técnicas
psicoterapêuticas da Gestal-terapia e seu uso na prática clínica; 4 No âmbito da Psicanálise: 4.1 O surgimento
da Psicanálise: do método catártico à associação livre; 4.2 A hipótese do inconsciente e o descentramento do
sujeito; 4.3 O princípio de determinação em Psicanálise: determinismo e causalidade; 4.4 As pedras angulares
da psicanálise: pressuposto de processos mentais inconscientes, reconhecimento do recalque, resistência e
transferência, importância da sexualidade e Complexo de Édipo; 4.5 O discurso teórico da Psicanálise: a
metapsicologia e os três pontos de vista (tópico, dinâmico e econômico); 4.6 Investigação e cura em
Psicanálise; 4.7 O processo analítico e a questão da linguagem; 4.8 As teorias psicanalíticas depois de Freud;
173

4.9 Psicoterapias de orientação psicanalítica: recursos terapêuticos e procedimentos de intervenção.

13.2 PSICOLOGIA DO ESPORTE: 1 Histórico da psicologia do esporte (nos EUA, na Europa, no Brasil). 2
Histórico da educação física e do esporte (Grécia antiga/ jogos gregos; movimento ginástico; movimento
esportivo; jogos olímpicos da era moderna; história da Educação Física e do esporte no Brasil); Psicologia e
história (gregos, império romano e idade média, renascimento, psicologia como ciência). 3 Diversidade do
objeto de estudo da psicologia. 4 Diferentes abordagens (funcionalismo, estruturalismo, associacionismo). 5
Principais teorias: behaviorismo (Watson, Pavlov, Thorndike, Skinner), teorias psicodinâmicas (Freud, Jung,
Adler, Erikson), gestalt (Kurt Lewin), humanista (Maslow, Carl Rogers). 6 Áreas da psicologia: psicologia do
desenvolvimento (Piaget, Vigotski), psicologia da aprendizagem (teorias de condicionamento e as
cognitivistas), psicologia da personalidade (traços de personalidade, temperamento, caráter; teoria de Erich
Fromm), psicologia social (percepção social, comunicação, atitude, processo de socialização, grupos sociais,
papéis sociais, identidade), psicobiologia (conceito de adaptação). 7 Campos de atuação (esporte profissional/
esporte escolar/ prática esportiva de tempo livre/ esporte de reabilitação/ esporte em projetos sociais; objetivos e
práticas específicas). 8 Referenciais epistemológicos [os projetos de W. Wundt/ Titchener/ Watson/ Dewey,
Angel e Carr (funcionalistas); Wetheimer, Kohler e Koffka (Gestalt), Skinner, Piaget e Freud; técnicas e
referenciais teóricos da Psicologia aplicados ao esporte]. 9 Processos psicológicos
(Ativação/Estresse/Ansiedade; Concentração e focos de atenção; Motivação; Emoção; Pensamento; Aquisição e
manutenção de habilidades psicológicas). 10 Fenômenos de grupo (coesão de grupo e objetivos; influências e
tipos de lideranças; comunicação). 11 Metodologia do trabalho e subjetividade (trabalho interdisciplinar;
trabalho multidisciplinar). 12 Relações com as Ciências do Esporte (Antropologia; Filosofia; Sociologia;
Medicina; Fisiologia; Biomecânica. 13 Temas interdisciplinares: relação entre atividade física, saúde e
qualidade de vida; esporte na terceira idade; interação e comunicação em grupo esportivos; análise de
instituições e organizações esportivas; comportamento agressivo e violência na torcida; socialização por meio
do esporte; normas e regras do esporte. 14 Avaliação Psicológica (Resolução CFP nº 007/03; usos e abusos;
limitações; explicação, feedback e sigilo. 15 Formas de intervenção e técnicas específicas [avaliação
psicológica no esporte; avaliação de desempenho; pesquisa e intervenção; técnicas específicas (estabelecimento
de objetivos, relaxamento, auto-fala, visualização)]. 16 Papel profissional (Formas de atuação; Objetivos da
atuação profissional; Para quem servimos? Comprometimento profissional; Contrato). 17 Qualidade de Vida
(definição do conceito qualidade de vida; relação qualidade de vida – saúde física e mental – bem estar
psicológico). 18 Ética (Código de Ética profissional).

13.3 PSICOLOGIA DO TRÂNSITO: 1 Processos psicológicos básicos dos comportamentos dos diversos
usuários da via. 2 Desenvolvimento físico e psicológico e deslocamentos no trânsito. 3 Alterações das funções e
estruturas psicológicas que desaprovam o candidato a CNH. 4 Classificação, objetivos e ética profissional
diante
dos testes psicológicos para a seleção de candidatos a CNH. 5 Os processos de Tomada de informação e sua
importância para as outras fases da psicogênese do comportamento no trânsito. 6 Como planejar, desenvolver e
apresentar processos para comprovar a validade e fidedignidade de testes para motoristas. 7 A responsabilidade
ética do Psicólogo de Trânsito como profissional, cientista, professor e cidadão. 8 As implicações do trânsito e
do Transporte na qualidade de vida, na saúde pública e nas inter-relações entre contexto sociocultural e
comportamento viário. 9 Principais áreas de conhecimentos, competências e habilidades do Psicólogo de
Trânsito. 10 Laudos, pareceres e atestados psicológicos referentes a diagnósticos e perícias psicológicos
referentes ao trânsito. 11 Métodos e técnicas de avaliação psicológica para candidatos a obtenção e renovação
de CNH. 12 Métodos de investigação científica de problemas comportamentais em Psicologia do Trânsito. 13
Relação entre a ética do psicólogo e suas técnicas e instrumentos, assim como compromissos ético-políticos. 14
Disfunções do sistema nervoso e psicopatias que impossibilitam o comportamento seguro no trânsito. 15 Tipos,
objetivos e procedimentos da entrevista psicológica diagnóstica no processo de seleção de condutores. 16
Classificação das principais enfermidades mentais que impossibilitam dirigir um veículo. 17 Conceitos
ergonômicos e sua aplicação nos veículos e no sistema viário. 18 Causas diretas e indiretas dos acidentes de
trânsito. 19 Punição, esquiva, reforço e terapias comportamental-cognitivo em relação ao comportamento dos
usuários na via. 20 A influência do uso de remédios, álcool, fumo e outras drogas sobre o comportamento
viário.

13.4 PSICOMOTRICIDADE: 1 Histórico (Aspectos Filosóficos da Psicomotricidade; Evolução dos


conceitos da Psicomotricidade de debilidade mental a corpo afetivo sem expressão; Evolução da Prática
Psicomotora na visão global do indivíduo; A Psicomotricidade no Brasil). 2 Áreas da Psicomotricidade
(Aspectos Fundamentais da Psicomotricidade; Aspectos motores da Psicomotricidade; Psicomotricidade
Relacional; Psicomotricidade Evolutiva do Desenvolvimento; Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers; Técnica
de Relaxação; Técnicas de Expressão Psicomotora; Equoterapia; Clínica Psicomotora). 3 Avaliação
174

Psicomotora por meio de testes psicológicos (Avaliar o conhecimento das possibilidades de realização de uma
avaliação psicomotora, Avaliar conhecimento da interpretação afetiva, grafo-motora, e seus significados
enfatizando a imagem corporal e o esquema corporal; Avaliar a maturação percepto-motora em crianças a partir
de 7 anos; Avaliar a maturação neurológica e perceptiva em crianças menores; Avaliar a capacidade de
realização de provas motoras de acordo com tabelas por faixa etária; Avaliar os aspectos da Psicomotricidade
de 5 a 12 anos estabelecendo um perfil psicomotor amplo; Medir a função perceptiva motora em crianças de 4 à
8 anos, através de provas corporais;
avaliar a condição rítmica e auditiva).

13.5 PSICOPEDAGOGIA: 1 Especificidade e Conceituação da Psicopedagogia (Psicopedagogia como área


de atuação, de conhecimento e de pesquisa; Objeto de estudo e âmbito de atuação da Psicopedagogia; Bases
teóricas e organização interdisciplinar; Fundamentos da prática: diferentes abordagens, diferentes estilos do
ensinar e do aprender; Ética do trabalho psicopedagógico). 2 Psicopedagogia e Áreas do Conhecimento
(Desenvolvimento cognitivo e processos de pensamento lógicomatemático; Desenvolvimento emocional e
afetivo e implicações na aprendizagem; Desenvolvimento da linguagem e aquisição da leitura e da escrita;
Desenvolvimento psicomotor e implicações na aprendizagem; Aprendizagem: diferentes conceitos e suas
articulações com Áreas da Educação e da Saúde; A Etiologia dos problemas de Aprendizagem). 3
Psicopedagogia e Contextos de Aprendizagem (3.1 Psicopedagogia e contexto familiar; estudos sobre família e
educação; modalidades de aprendizagem na família; família e problemas de aprendizagem; 3.2 Educação e
Aprendizagem; política educacional e sistemas de ensino; legislação educacional; inclusão; cultura, sociedade e
ideologia; pensamento contemporâneo; 3.3 Psicopedagogia e contexto institucional educacional; relações de
poder e saber na escola; dinâmica institucional e estilos de ensinar 3.4 Psicopedagogia em outros contextos: nas
empresas e nos hospitais; 3.5 A Clínica Psicopedagógica como contexto de aprendizagem). 4 Diagnóstico e
Intervenção Psicopedagógica (4.1 Fundamentos do diagnóstico psicopedagógico nos vários contextos; 4.2
Fundamentos da intervenção psicopedagógica nos vários contextos; 4.3 Instrumentos de avaliação: da
linguagem
(escrita, oral, simbólica); dos processos lógico-matemáticos; do desenvolvimento psicomotor; do
desenvolvimento afetivo, cognitivo e emocional em seu vínculo com o aprender; 4.4 Avaliação dos aspectos
dinâmicos e psicossociais de grupos e instituições em seus vínculos com o aprender; 4.5 Integração entre
diagnóstico e intervenção. 5 Pesquisa em Psicopedagogia (Metodologia da pesquisa em Psicopedagogia;
Projetos de pesquisa e projetos de prestação de serviço; Pesquisa para o desenvolvimento de recursos e
instrumentos próprios de trabalho).

13.6 PSICOLOGIA SOCIAL E ORGANIZACIONAL: 1 Transformações no mundo do trabalho e mudanças


nas organizações. 2 Análise e desenvolvimento organizacional. 3 Cultura organizacional: paradigmas,
conceitos, elementos e dinâmica. 4 Poder nas organizações. 5 Clima organizacional:evolução conceitual,
componentes e estratégias de gestão. 6 Suporte organizacional. 7 Motivação, satisfação e comprometimento. 8
Liderança nas organizações. 9 Processo de comunicação na organização. 10 Grupos nas organizações:
abordagens, modelos de intervenção e dinâmica de grupo. 11 Equipes de trabalho e desempenho organizacional
em diferentes organizações. 12 Condições e organização do trabalho: trabalho prescrito, ambiente físico,
processos de trabalho e relações sócioprofissionais.13 Carga de trabalho e custo humano: atividade, tarefa e
condições de trabalho. 14Trabalho, subjetividade e saúde psíquica. 15 Segurança no trabalho e saúde
ocupacional. 16 Fatores psicossociais da DORT e outros distúrbios relacionados ao trabalho. 17 Análise de
tarefa e desenho do trabalho.
18 Recrutamento, seleção de pessoal e desligamento. 19 Treinamento e desenvolvimento de pessoal:
levantamento de necessidades, planejamento e avaliação. 20 Avaliação de desempenho. 21 Acompanhamento
psicossocial. 22 Pesquisa e intervenção nas organizações: planejamento, instrumentos (escalas, questionários,
documentos, entrevistas, observações), procedimentos e análise. 23 O indivíduo e o contexto organizacional:
variáveis individuais, grupais e organizacionais. 24 Comportamento humano no trabalho: motivação, satisfação
e comprometimento. 25 Grupos e equipes de trabalho. 26 Ergonomia.27 Saúde no trabalho. 28 Gestão de
comportamento nas organizações. 29 Metodologia de pesquisa e intervenção. 30 Papel do psicólogo e
implicações éticas.

13.7 PSICOLOGIA ESCOLAR E EDUCACIONAL: 1 Desenvolvimento da Psicologia Escolar no Brasil:


origens, atualidades e perspectivas. 2 Psicólogo escolar: função preventiva da atuação do psicólogo escolar;
competências e habilidades para o trabalho na escola e na comunidade, numa perspectiva intra e
interdisciplinar. 3 Políticas públicas em educação e a Psicologia Escolar – o foco no processo de ensinar e
aprender baseia-se nos princípios do desenvolvimento humano e da estimulação de potencialidades e enfatiza a
valorização pessoal e a cidadania. O estabelecimento de diretrizes e ações visa efetivar a presença do psicólogo
na rede pública de ensino, com atribuições diferenciadas frente às diferentes modalidades de práticas educativas
175

e a proposição de estratégias para ampliar a visibilidade sobre o campo de atuação profissional. 4


Aprendizagem da leitura e escrita e o letramento - o aprendiz como sujeito de seu processo de aprendizagem.
Aspectos relacionados ao professor, ao aluno e às práticas pedagógicas. O cotidiano da sala de aula e o universo
afetivo e sociocultural da criança. 5 A queixa escolar: visão de mundo, a criança, a instituição escolar, a família.
6 Motivação da aprendizagem –conhecimento e implementação de sistemas motivacionais adequados que
incluam a participação direta do professor/aluno e demais integrantes do sistema educacional. 7 Estratégias de
aprendizagem –conhecimento sobre o conceito e o desenvolvimento de estratégias de aprendizagem com
alunos/ professores/ família, de modo a favorecer o processo de aprendizagem. 8 Necessidades especiais na
aprendizagem - caracterização e orientação da pessoa com deficiência, empregando métodos e estratégias
psicológicas na seleção e na aplicação de programas especiais de ensino; alternativas de intervenção
diagnóstica: jogos e dinâmicas grupais. 9 Orientação profissional e vocacional – aplicação de testes de
sondagem de aptidões e outros meios, que contribuam para uma melhor integração do indivíduo no mundo do
trabalho e sua conseqüente auto-realização. 10 Pesquisa psicoeducacional - planejamento e execução de
pesquisas relacionas à compreensão do processo ensino-aprendizagem e conhecimento das características
psicossociais da clientela (professor, aluno, diretor e técnicos). 11 Construção de projetos pedagógicos da escola
- planejamento pedagógico, currículo e políticas educacionais, concentrando sua ação nos aspectos que dizem
respeito aos processos de desenvolvimento humano, da aprendizagem e das relações interpessoais; a prevenção
de problemas escolares. 12 Avaliação educacional – análise dos planos e práticas educacionais, com a sugestão
de implementação de metodologias de ensino que favoreçam a aprendizagem e o desenvolvimento. 13
Prevenção e a reabilitação de problemas psicoeducacionais -
conhecimento sobre processos de aprendizagem, da natureza e causa das diferenças individuais, para ajudar na
elaboração de procedimentos educacionais diferenciados capazes de atender às necessidades individuais. 14
Administração e organização escolar- consultoria escolar; diagnóstico institucional; planejamento, execução e
avaliação de projetos de capacitação para professores, administradores e equipe técnica. 15 Interação
Escola/Família/Comunidade - supervisão, orientação e execução de trabalhos na área da psicologia educacional
em ambientes acadêmicos e fora da escola, atuando em situações de ensino formal e informal; atuação
preventiva quanto às questões de sexualidade, violência e a problemática das drogas. 16 Sucesso e Fracasso
Escolares – consideração de que o sucesso e o insucesso escolares não são acontecimentos estáticos, mas
processuais, que dependem das oportunidades de mediação de aprendizagens importantes para o aluno, que
possam desenvolver o seu potencial para aprender. Professores, pais, colegas, irmãos ou outros adultos e
crianças oportunizam que a criança, qualquer que seja o seu nível cognitivo, adquira novas aprendizagens em
contextos dos mais variados (sala de aula, brinquedo, rua, casa, pátio de recreio, parques, museus etc.),
transmitindo- lhe os significados da cultura em que vive. 17 Formação de Professores – o psicólogo escolar
como mediador de aprendizagens necessárias ao professor, visando a apropriação dos conhecimentos
produzidos cientificamente pelas várias áreas da Psicologia, instrumentalizando-se para exercer seu trabalho nos
vários níveis de ensino e
problematizar sobre a sua prática. 18 Aspectos Afetivos, Cognitivos e Sociais Envolvidos no Processo de
Ensino-Aprendizagem – construção do conhecimento mediado por afetos e significações sociais. 19 O conceito
de problemas de aprendizagem no pensamento educacional brasileiro e a atuação do psicólogo escolar: história,
concepções teóricas e perspectivas. 20 Os processos que constituem o cotidiano escolar e suas influências na
escolarização de crianças, jovens e adultos: o caso brasileiro.

13.8 PSICOLOGIA HOSPITALAR: 1 Psicologia hospitalar no Brasil: aspectos conceituais e históricos. 1.1
Percurso do psicólogo brasileiro em instituições hospitalares, tanto do ponto de vista técnico como
administrativo. 1.2 Diferenças e semelhanças entre a chamada “ordem médica” e a “ordem psicológica” e as
possibilidades de trabalho interdisciplinar e multiprofissional daí decorrentes, do ponto de vista epistemológico.
2 Diagnóstico psicológico no contexto hospitalar. 2.1 Entrevista psicológica. 2.1.1 Como instrumento
fundamental do método clínico, objetivando: diagnóstico, investigação, orientação e pesquisa. 2.1.2
Desenvolvimento do relacionamento terapeuta-paciente (rapport). 2.1.3 Diversos tipos de entrevista e quando
utilizar: aberta; semi-dirigida e fechada. 2.1.4 Aspectos relevantes para serem abordados na primeira entrevista
com pacientes hospitalizados e em seguimento ambulatorial. 2.1.5 Anamnese: quando utilizar e como conduzir.
2.2 Alcances e limites do uso de testes psicológicos no hospital. 2.2.1 Instrumentos para psicodiagnóstico e
utilização em pesquisas: avaliação de personalidade (técnicas projetivas, medidas objetivas), nível intelectual,
depressão, ansiedade, qualidade de vida. 2.2.2 Relacionamento entre os resultados psicométricos com aspectos
da história de vida e outros dados clínicos, com vista à determinação das medidas terapêuticas necessárias ao
cliente. 2.3 Registro em prontuário e relatório psicológico: elaboração de relatório e registro em prontuário de
paciente. 3 A inserção do psicólogo nos diferentes campos de atuação. 3.1 Diferenciação entre reação
patológica da não patológica (adaptativa X não adaptativa) em diferentes contextos. 3.2 Atendimento
ambulatorial: técnicas de avaliação e planejamento de condutas pertinentes à situação clínica e psíquica. 3.3
Internação: técnicas de abordagem do paciente nas diferentes condições de int ernação: clínica, cirúrgica e
176

UTI.3.4 Pronto Socorro: técnicas de avaliação e planejamento de conduta pertinente. 4 O papel do psicólogo
junto ao paciente/família/equipe. 4.1 Avaliação e acompanhamento de ocorrências psíquicas os pacientes
hospitalizados ou de ambulatório. 4.2 Diferentes abordagens teóricas. 4.3 Intervenções direcionadas a uma
adequada relação médico/ paciente e família. 4.4 Aspectos referentes ao processo do adoecer, hospitalização e
condutas médicas e
das repercussões emocionais advindas deste processo. 4.5 Modalidades de intervenção. 5 Interdisciplinaridade e
ações preventivas. 5.1 Atuação junto à equipe interdisciplinar. 5.2 Ações voltadas para a promoção de saúde,
através de grupos de psicoprofilaxia. 6 Principais alterações psíquicas e comportamentais em situações
específicas de adoecimento e hospitalização. 6.1 Conhecimentos Gerais. 6.1.1 Interface entre doença clínica e
representação mental: transtornos mentais afetando condições médicas; sintomas psicológicos afetando
condições médicas. 6.1.2 Psicopatologia. 6.1.3 Psicofarmacologia. 6.1.4 Teorias de personalidade. 6.1.5 Fases
do desenvolvimento humano. 6.1.6 Comorbidades. 6.1.7 Alterações neuro-cognitivas. 6.1.8 Reações
fisiológicas às variáveis psicológicas e comportamentais. 6.1.9 Mecanismos regulatórios biológicos associados
com variáveis psicológicas e comportamentais. 6.1.10 Efeito das doenças psiquiátricas no curso e no resultado
do tratamento de enfermidades médicas. 6.1.11 Fatores de risco comportamentais para o adoecimento. 6.1.12
Recursos de enfrentamento. 6.1.13 Mecanismos de adaptação. 7 Psicologia e pesquisa em instituições
hospitalares. 7.1 Diferentes abordagens em pesquisa passíveis de serem desenvolvidas no hospital, de maneira
interdisciplinar ou
não. 7.2 Planejamento e desenvolvimento de projetos de pesquisa. 7.3 Alternativas quantitativas e qualitativas
de tratamento de dados e dos fundamentos de estatística paramétrica e não paramétrica.

13.9 PSICOLOGIA JURÍDICA: 1 Psicologia jurídica: aspectos históricos, éticos e interdisciplinaridades. 1.1
Conceituação, histórico e campos de atuação da Psicologia Jurídica. 1.2 A complexidade do trabalho
interdisciplinar. 1.3 Ética e limites de atuação do psicólogo jurídico. 1.4 Entrevistas de devolução. 1.5 O sigilo
profissiona l. 2 A Execução Penal e as funções atribuídas aos psicólogos. 2.1 Relativismo histórico e cultural do
conceito de crime. 2.2 Determinantes sociais, políticos e econômicos da criminalidade. 2.3 Características das
instituições totais. 2.4 Da pena dos suplícios à pena de prisão: o controle social na história da humanidade. 2.5
O sistema social da prisão. 2.6 A Lei de Execução Penal e a função das Comissões Técnicas de Classificação.
2.7 O exame criminológico no contexto penitenciário nacional. 2.8 A reincidência e as políticas de prevenção à
delinqüência. 3 Perícias psicológicas no assessoramento à justiça. 3.1 Histórico da prova pericial aplicada ao
Poder Judiciário. 3.2 Medicina Legal, Psiquiatria Forense e Psicologia Jurídica - a configuração do modelo
pericial. 3.3 O poder técnico no estabelecimento da ordem social. 3.4 Condições, desenvolvimento e
possibilidades de realização das perícias. 3.5 O perito e o assistente técnico. 4 O Estatuto da Criança e do
Adolescente e os novos paradigmas de proteção integral à infância e à juventude. 4.1 Direitos da criança e do
adolescente: as indicações da normativa. 4.2 A condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. 4.3 Conselhos
Tutelares: atribuições e a contribuição da equipe técnica. 4.4 A importância das redes de atendimento na
garantia dos direitos infantojuvenis. 4.5 Atribuições e funcionamento dos Conselhos de Direitos. 4.6 Políticas
públicas para a infância e a juventude. 4.7 As responsabilidades da família, do Estado e da sociedade na
garantia dos direitos de crianças e adolescentes. 5 Crianças e adolescentes em situação de abrigo e no contexto
da rua. 5.1 Histórico da assistência e proteção aos menores de idade. 5.2 Direito de convivência familiar –
atribuições e projetos das equipes. 5.3 Abrigos: contra indicações da institucionalização e a excepcionalidade da
internação. 5.4 Análise de programas e instituições de atendimento a menoridade. 6 Adolescentes em conflito
com a lei e as medidas socioeducativas: complexidade interdisciplinar. 6.1 Inimputabilidade penal de crianças e
de adolescentes. 6.2 Histórico de internatos para adolescentes infratores. 6.3 A busca da etiologia da
delinqüência juvenil. 6.4 A doutrina da situação irregular e a doutrina da proteção integral: diferenças
conceituais no trabalho das equipes interdisciplinares. 6.5 O projeto socioeducativo previsto no Estatuto da
Criança e do Adolescente. 6.6 A incompletude institucional no atendimento ao adolescente autor de ato
infracional. 6.7 Exame da problemática no contexto nacional. 6.8 A promoção das relações familiares e
comunitárias no âmbito da medida socioeducativa. 6.9 Avaliação dos adolescentes no contexto da medida
socioeducativa. 6.10 Função das equipes na execução de programas socioeducativos segundo os parâmetros da
doutrina da proteção integral. 7 A Psicologia junto ao Direito de Família: problemática e intervenção. 7.1 A
relação Família/Estado. 7.2 Papéis sociais e relações de gênero. 7.3 A família contemporânea. 7.4 A igualdade
de homens e mulheres prevista na Constituição Federal. 7.5 Guarda de filhos menores e papéis parentais –
implicações psicológicas. 7.6 Contexto adversarial na disputa de guarda de filhos e a atuação dos psicólogos.
7.7 Visitação de filhos de pais separados. 7.8 Pais de fim de semana. 7.9 Mediação. 8 Adoção: implicações
sociais e psicológicas. 8.1 Filiação e parentalidade no contexto contemporâneo: aspectos jurídicos, culturais,
sociais e psicológicos. 8.2 Questões psicológicas implicadas nos pedidos de adoção. 8.3 A intervenção das
equipes no contexto dos diferentes casos de adoção, guarda e tutela de crianças e adolescentes. 8.4 Habilitação
para adoção: o trabalho com grupos de candidatos a adoção. 8.5 Adoção por cônjuge e destituição do Pátrio
Poder – implicações psicológicas. 9 Violência Familiar. 9.1 Os conceitos de violência e de violência familiar.
177

9.2 Histórico da violência contra a mulher, a criança e contra o idoso e sua relevância na sociedade
contemporânea. 9.3 Diferentes manifestações de violência familiar: violência física, sexual, psicológica,
negligência e da exploração econômica. 9.4 Indicadores diagnósticos e fatores de risco. 9.5 Noção de
transmissão geracional da violência. 9.6 Implicações da violência sobre a dinâmica familiar. 9.7 Intervenção e
equipe interdisciplinar. 9.8 Dificuldades do diagnóstico, do estabelecimento de atendimento adequado e do
diálogo entre os sistemas de assistência e jurídico. 9.9 Legislação. 9.10 A questão da obrigatoriedade da
notificação dos casos de violência contra a criança. 9.11 Procedimentos de denúncia. 9.12 Questões éticas: a
responsabilidade dos profissionais; implicações da intervenção no desenvolvimento da criança e na vida
familiar. 10 Crime e Loucura. 10.1 Inimputabilidade penal e legislação. 10.2 Análise histórico-crítica da relação
entre Psiquiatria e Justiça. 10.3 Manicômios Judiciários e a intervenção das equipes interdisciplinares. 10.4
Loucos infratores e a reforma psiquiátrica. 10.5 A cidadania do louco

13.10 PSICOLOGIA SOCIAL: 1 Psicologia Social: Raízes epistemológicas da Psicologia Social. 2


Fundamentos teóricos e metodológicos da Psicologia Social. 3 Teorias e práticas de intervenção psicossocial na
comunidade. 4 Grupos, organizações e instituições. 5 Categorias étnico-raciais, de gênero, geracionais, de
orientação sexual e de classes sociais e suas intersecções com a Psicologia Social. 6 Psicologia Social e
Movimentos Sociais. 7 Psicologia Social e Políticas Públicas. 8 Psicologia Social e Saúde Coletiva. 9
Psicologia Social e Educação. 10 Psicologia Social e Trabalho. 11 Possibilidades de intervenção psicossocial
em comunidades e movimentos sociais. 12 Direitos Humanos e Psicologia Social. 13 O compromisso ético-
político do psicólogo social. 14 Psicologia Social e as transformações no mundo do trabalho.

13.11 NEUROPSICOLOGIA: 1Histórico da Neurologia e da Neuropsicologia. 2 Neuropsicologia hoje:


caracterização da especialidade. 3 Avaliação psicológica x neuropsicológica – especificidades da técnica. 4
Entrevista e técnicas de observação neuropsicológica. 5 Comportamentos indicativos de enfermidade cerebral. 6
Bases Anatômicas e Fisiológicas do Sistema Nervoso. 6.1 Estrutura dos neurônios e sinalização neuronal. 6.2
Mecanismos excitatórios e inibitórios. 6.3 Estrutura cerebral cortical e subcortical – funções. 6.4 Córtices
unimodais e heteromodais. 6.5 Bases neuroanatômicas da cognição. 7 funções neuropsicológicas. 7.1
Raciocínio e o conceito de inteligência amplificado. 7.2 Modalidades atencionais. 7.3 Linguagem e habilidades
acadêmicas. 7.4 Percepção e visuoconstrução. 7.5 Habilidades mnemônicas. 7.6 Funções executivas e afetivas.
7.7 Integração funcional das habilidades cognitivas. 8 Testes psicológicos aplicados à neuropsicologia. 8.1
Como são construídos os testes. 8.1.1 Escalas de desenvolvimento. 8.1.2 Escalas adaptativas. 8.1.3 Testes que
avaliam Raciocínio e Capacidade intelectual 8.1.4 Testes que avaliam Atenção 8.1.5 Testes que avaliam
Linguagem 8.1.6 Testes que avaliam Percepção e Visuoconstrução. 8.1.7 Testes que avaliam Memória. 8.1.8
Testes que avaliam Funções Executivas e Afetivas. 9 Métodos e técnicas da investigação neuropsicológica. 9.1
Técnicas específicas para avaliação da criança, do adulto e do idoso. 9.2 Programação das sessões de avaliação
a partir do levantamento de hipóteses. 9.3 Elaboração do diagnóstico neuropsicológico em função da
consistência dos resultados obtidos a partir dos instrumentos utilizados, da história do indivíduo e de seu
comportamento em avaliação. 9.4 Definição de encaminhamentos e programação do tratamento. 9.5 Elaboração
de relatório neuropsicológico. 10 Enfermidades neurológicas e multidisciplinaridade. 10.1 Enfermidades
Neurológicas Infantis. 10.2 Epilepsias. 10.3 Distúrbios do Sono. 10.4 Distúrbios do Movimento. 10.5 Danos
Cerebrais Agudos. 10.6 Afasias. 10.7 Agnosias. 10.8 Demências. 10.9 Reabilitação neuropsicológica da
criança, do adulto e do idoso.

ANA MERCES BAHIA BOCK


Presidente do Conselho Federal de Psicologia

Fonte: Psicologia Online – POL . Disponível em: <http://www.vunesp.com.br/cfps0601/.>.


Acesso em: 13 mar. 2009.
178

Anexo 5 – Prova de Conhecimentos Específicos do Concurso de Provas e Títulos para a


Concessão do Título de Especialista em Psicologia Social (2006)

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS 04. Um projeto político-pedagógico, realizado com


crianças e adolescentes em situação de risco, que teve
01. As práticas psicológicas estão cada vez mais como objetivo a construção da cidadania a partir da
presentes nas comunidades, aquelas que podem ser percepção dos participantes quanto ao seu mundo de
chamadas de Psicologia Comunitária e se relações interpessoais, pode ser classificado como
caracterizam por Psicologia

(A) privilegiarem o trabalho com grupos e (A) Clínica na comunidade.


colaborarem para a formação da consciência crítica e (B) Social Comunitária.
para a construção da identidade social e individual. (C) Social Etnográfica.
(B) estarem inseridas em espaços institucionais que (D) Social Clínica.
oferecem serviços para a população carente em (E) Institucional.
grandes centros urbanos.
(C) estarem ligadas às práticas em saúde, ao 05. Como a vertente psicossociológica, representada por
movimento de saúde, realizadas por meio de Lourau e Lapassade, denomina um sistema lógico de
mediação de algum órgão prestador de serviço. definições de uma realidade social e de
(D) desenvolverem trabalhos dentro da perspectiva comportamentos humanos aos quais classifica e divide,
do chamado trabalho institucional, do movimento atribuindo-lhes valores e decisões, algumas prescritas,
institucionalista e das intervenções outras proscritas, outras apenas permitidas e algumas,
macrossociológicas. ainda, indiferentes?
(E) serem práticas que eram tradicionalmente
realizadas no consultório e passaram a ser (A) Sociedade organizada.
psicométricas. (B) Classe social.
(C) Instituição.
02. A ideologia cria significados e sentidos, sempre com (D) Cultura moderna.
uma conotação de valor positivo ou negativo. Ao se (E) Movimento popular.
debruçar sobre os esteriótipos negativos presentes
em uma comunidade, a Psicologia Comunitária 06. A Análise Institucional, proposta por Lapassade,
busca identificar quando seu objeto de discussão são as organizações do
trabalho, parte do princípio de que
(A) problemas que devem ser solucionados por meio
da educação escolar. (A) as instituições de trabalho são organizadas de
(B) a cultura da comunidade para modificar a acordo com processos inconscientes.
comunicação com seus membros. (B) elementos heredogenéticos gerados por sujeitos
(C) significados que criam e sustentam as relações psíquicos são seus organizadores.
de dominação. (C) sempre existirá uma regressão do
(D) os desníveis culturais entre as classes sociais de psicoinstitucional ao psicofamiliar.
uma sociedade. (D) cada coletivo está alienado à falta de
(E) a prioridade da comunidade para auxiliá-la em conhecimento de suas condições de trabalho.
sua organização. (E) sempre há uma reação irreal e fantástica, dos seus
integrantes, frente à reorganização.
03. Quando utiliza-se o conceito de território, em
estudos de Psicologia Comunitária sobre habitação, 07. Ao abordar a sociabilidade estabelecida sobre um
entende-se que fundo de indiferenciação ou de sincretismo, no qual
indivíduos enquanto tais não têm existência, Bleger
(A) esse termo relaciona-se a questões legais da refere-se a
habitação típicas de cada espaço social.
(B) as condições objetivas da vida em comunidade (A) grupos e instituições.
não são prioritárias para esse trabalho. (B) pacientes psiquiátricos.
(C) os grandes centros urbanos apresentam uma (C) fenômenos religiosos.
cultura que valoriza a região de habitação. (D) esquizoanálise.
(D) a habitação deve ser na região de origem, pois (E) violência e instituições.
resguarda a identidade social.
(E) ele é um locus simbólico, lugar onde a alteridade
e possibilidades de convívio se manifestam.
179

08. Dentre as finalidades e propósitos dos grupos 12. No contexto de uma sociedade de capitalismo
Operativos, pode-se dizer que periférico, o ponto de vista do trabalhador, muitas
vezes, não é levado em consideração na elaboração de
(A) seu objetivo é a identificação e a resolução das leis relacionadas à sua saúde. A atuação do psicólogo
psicopatologias de cada indivíduo. social no âmbito da saúde do trabalhador e na área
(B) eles são a orientação técnica do grupo para sindical deve se voltar também para o conhecimento
realização das etapas de um trabalho. prático dos trabalhadores, porque
(C) devido à sua não diretividade, essa técnica busca
apenas a reflexão. (A) compreende-se que existem importantes formas de
(D) o intuito é a preparação de pacientes para conhecimento além da ciência.
tratamentos individuais. (B) a subjetividade é uma dimensão complicada, e só
(E) sua atividade está centrada na mobilização de pode ser entendida clinicamente.
estruturas estereotipadas. (C) a relação saúde e trabalho é pautada na
positividade dos fenômenos.
09. O ponto de partida para as investigações com grupos (D) isso é previsto em dispositivos legais elaborados a
operativos provém de uma atividade grupal realizada e partir da Medicina do Trabalho.
que foi denominada (E) existe uma grande teorização sobre o
conhecimento popular de artesãos.
(A) Laboratório Grupal.
(B) Experiência do Rosário. 13. É cada vez maior a inserção do psicólogo nos
(C) Psicodrama Analítico. serviços de saúde, no entanto, constata-se que essa
(D) Comunidade Terapêutica. inserção ainda é predominantemente orientada pelo
(E) Grupos de Aprendizagem. enfoque da Psicologia Clínica. Pensando a atuação do
Psicólogo Social nesse campo, qual objeto de estudo é
10. O entendimento das conseqüências psicológicas e compatível com a proposta dessa especialidade?
psicossomáticas das situações de trabalho obriga o
Psicólogo a (A) Formas de intervenção em grupo, para aumentar a
adesão a tratamentos.
(A) focar sua atuação para questões gerenciais e (B) Terapias psicológicas para queixas físicas em
trabalhistas a fim de otimizar o trabalho. comunidades carentes.
(B) questionar a sociedade, sua direção, seus valores e (C) Utilização dos serviços e a participação da
suaestrutura de poder. comunidade em sua avaliação.
(C) centralizar seus esforços apenas nos indicativos (D) Medicina comportamental e suas aplicações
clínicos de cada pessoa. preventivas.
(D) adequar o processo seletivo para evitar o (E) Atendimento de grupos de pacientes como forma
adoecimento dos trabalhadores. de atender a demanda.
(E) buscar formas de treinamento que otimizem a
produção e reduzam o esforço do trabalhador. 14. Dentro da perspectiva da Psicologia Social, o estudo
de processos involuntários de segregação da pessoa
11. Uma das causas da notificação relativa da violência doente poderevelar
psicológica contra crianças e adolescentes no Brasil, e
que dificulta a elaboração de políticas públicas na área (A) a existência de uma dicotomia entre a esfera social
da saúde é e a individual.
(B) a presença de grupos sociais com traços que são
(A) a inerentes a seus integrantes.
controvérsia teórica dos efeitos desse fenômeno sobre (C) as concepções sobre saúde e doença resultantes de
o desenvolvimento de crianças. um processo de produção social.
(B) a análise epidemiológica, que é um instrumento (D) uma falta de compreensão do modelo médico que
secundário para prevenção nesses casos. resulta da relação médico-paciente.
(C) a violência psicológica que quase não ocorre nos (E) uma reação natural de auto preservação típica em
países em desenvolvimento. situações de risco constante.
(D) o tabu de considerar que essas questões devem
permanecer restritas ao foro familiar.
(E) o desconhecimento dessa forma de violência
dentre os pesquisadores da saúde coletiva.
180

19. Dentro do pensamento neoliberal e liberal, que


15. Em Psicologia Social, os estudos sobre o trabalho e orienta a organização da sociedade industrial
seu significado se apóiam contemporânea, está presente o pressuposto de que o
desenvolvimento depende da liberdade e da
(A) na possibilidade de otimização da produção a competitividade. Dentro da perspectiva psicossocial,
partir do gerenciamento de conflitos. apresentada por Guareschi (1999), esse modelo é
(B) na urgência de requalificação e motivação gerador de exclusão e se apóia em uma estratégia de
profissional, tendo em vista a nova realidade. legitimação descrita como estratégia da
(C) no fato de que o contexto de desemprego aumenta
a gama de significados do trabalho. (A) normalização.
(D) no pressuposto de que o trabalho confere sentido e (B) culpabilização.
identidade à vida. (C) cooperação.
(E) na tendência taylorista de gerenciamento e (D) curva de Gauss.
organização do trabalho. (E) inclusão competitiva.

16. Como primeiro passo para a transformação do


mundo do trabalho, a ação do psicólogo social deve 20. A exclusão social no Brasil não é um tema novo, mas
vem ganhando novos contornos. Dentro da perspectiva
(A) debruçar-se sobre a busca de resultados na da Psicologia Social, esse cenário se mantém devido a
produção como forma de legitimar intervenções. políticas econômicas, contudo alguns pensadores,
(B) buscar uma prática profissional científica e como Martins(1999), afirmam que essas não são
tecnicista distanciada da subjetividade humana. políticas de exclusão, mas sim, políticas de
(C) auxiliar e participar de ações sindicais de
reivindicação salarial. (A) repressão popular.
(D) instruir os trabalhadores a respeito da necessidade (B) inclusão social.
de organização sindical. (C) exclusão de classe.
(E) resgatar a fala do trabalhador como instrumento (D) nacionalização econômica.
para a conscientização. (E) inclusão precária.

17. Em tempos de grande desemprego, o significado do


trabalho se transforma. Nesse contexto, ele 21. O II Seminário Nacional de Psicologia e Políticas
Públicas enfatizou
(A) passa a significar dever ou simples condição de
sobrevivência. (A) o protagonismo social do psicólogo.
(B) fica mais gratificante, a concorrência reafirma a (B) a necessidade de neutralidade ideológica.
identificação com a tarefa. (C) a saúde mental no Brasil.
(C) passa a ser um operador fundamental na (D) a atuação na saúde privada.
constituição da identidade do sujeito. (E) a condição da criança no Brasil.
(D) perde importância em relação às vantagens
materiais a ele associadas.
(E) é fortalecido em seu sentido original, resultando 22. A afirmação de que a interface SUS-Psicologia está
em estado de grande motivação. nos processos de subjetivação que ocorrem no plano
coletivo diz respeito ao princípio de
18. A Psicologia Organizacional pode estabelecer elos
entre a Psicologia Comunitária e a Psicologia (A) co-responsabilidade.
Ambiental (B) transversalidade.
(C) inseparabilidade.
(A) implantando treinamento para detecção de riscos (D) universalidade.
ambientais em áreas preservadas. (E) gratuidade.
(B) estudando as relações que o homem desenvolve,
constrói e aprende no ambiente de trabalho.
(C) por meio da busca de incentivos fiscais destinados
a programas de preservação ambiental.
(D) oferecendo treinamento para a implantação de
coleta seletiva na empresa e na comunidade.
(E) focando, primeiramente, ações voltadas para o
ambiente interno da organização e da comunidade.
181

27. A investigação científica em psicologia comunitária,


23. Observando a história das práticas no campo psi que busca apreender a vida cotidiana na comunidade,
percebe-se um processo de sua despolitização. Essas ocorrerá quando
práticas se alinham a uma concepção de sujeito
(A) existir instrumento padronizado adequado ao
(A) dicotomizada, que o percebe destacado do social. objeto de estudo.
(B) que prioriza a necessidade de participação política. (B) for possível estabelecer situações controladas para
(C) que enfoca suas determinações sociais. a coleta de dados.
(D) sedimentada nas perspectivas sócio-históricas. (C) a dicotomia entre o pesquisador e o pesquisado for
(E) que articula realidades internas e externas. garantida.
(D) estiver implantada a organização comunitária
24. Em relação a uma leitura exclusivamente psicológica democrática.
dos movimentos sociais, pode-se afirmar que esse tipo (E) houver participação subjetiva e objetiva nesse
de leitura cotidiano.

(A) é suficiente para a compreensão do fenômeno em


questão. 28. A técnica grupal de orientação psicanalítica, que tem
(B) é insuficiente para a compreensão do fenômeno como objetivo não a psicoterapia, mas sim, esclarecer
em questão. temas, situações, tarefas e proporcionar algum
(C) fornece subsídios suficientes para ações efetivas aprendizado que favoreça o progresso das pessoas
nesses movimentos. envolvidas é denominada
(D) possibilita uma perspectiva mais aprofundada do
sentido dos movimentos. (A) grupos operativos.
(E) é predominante no campo das ciências sociais. (B) psicanálise coletiva.
(C) dinâmica de grupo.
25. A pesquisa participante é um método bastante usado (D) grupos de auto-ajuda.
em psicologia social quando são estudados fenômenos (E) grupos de aconselhamento.
como os movimentos sociais. Esse tipo de
investigação apresenta duas dimensões
epistemológicas, uma política e outra social. O que 29. Os microgrupos consistem em uma mediação
confere essas dimensões ao método em questão? necessária entre

(A) A objetividade das formas de registro e as (A) trabalho e capital.


reivindicações. (B) indivíduo e sociedade.
(B) Os objetivos políticos e a cooperação da (C) família e trabalho.
universidade. (D) sociedade e trabalho.
(C) O conhecimento produzido a partir das relações e (E) indivíduo e indivíduo.
da participação.
(D) A absorção do conhecimento de classes populares
e a transformação social. 30. A sociopsicanálise busca conciliar dois referenciais
(E) A aproximação entre classes sociais e a teóricos da sociologia e da psicanálise, buscando
instrumentalização do movimento. intervir nas instituições, respondendo às demandas de
uma classe institucional. Quais são os representantes
26. O estudo da identidade municipal é importante para dessas duas vertentes integradas?
a Psicologia Social porque
(A) Bleger e Lewin.
(A) revela um conjunto heterogêneo de formas de (B) Freud e Guatarri.
pensar que orientam a conduta. (C) Marx e Freud.
(B) permite pensar em personalidades predominantes (D) Enriquez e Marx.
e no planejamento de intervenções. (E) Bourdieu e Freud.
(C) orienta o coordenador de grupos terapêuticos na
busca de técnicas apropriadas.
(D) traz em si a consciência que reflete, explica e
transforma a vida do lugar.
(E) explica as deficiências culturais de determinadas
comunidades desorganizadas.
182

35. O estudo das transformações no mundo do trabalho


31. Sempre se expressa por respostas avaliativas de levou a medicina e a engenharia de segurança ao
diversos tipos. Habitualmente essas respostas podem desenvolvimento de duas categorias que visam
ser de três tipos: cognitivas, afetivas e compreender a relação entre condições de trabalho e
comportamentais. A definição refere-se a saúde. Também contribuíram com estudos e ações
concernentes à saúde dos trabalhadores. Essas
(A) estereótipo. categorias são:
(B) influência social.
(C) crença. (A) psique humana e trabalho penoso.
(D) atitude. (B) trabalho insalubre e trabalho perigoso.
(E) representação social. (C) reações ansiosas e trabalho perigoso.
(D) depressão grave e ergonomia.
32. A comunicação social, sob seus aspectos (E) doenças crônicas e trabalho penoso.
interindividuais, institucionais e midiáticos aparece
como condição de possibilidade e de determinação de
representações sociais. É conhecido que os sistemas 36. A abordagem psicodinâmica do trabalho destaca dois
de comunicação podem assumir propriedades tipos básicos de sofrimento que podem ser vivenciados
estruturais diferentes quanto às dimensões das pelos trabalhadores por meio de dois sintomas:
representações sociais que estão relacionadas à
edificação da conduta: opinião, atitude e estereótipo. (A) mania e depressão.
Essas propriedades são, somente, (B) medo e mania.
(C) insatisfação e ansiedade.
(A) difusão, propaganda e comunicação. (D) ansiedade e depressão.
(B) propaganda, propagação e estereotipia. (E) fobia e ansiedade.
(C) difusão, propagação e comunicação.
(D) difusão, propaganda e propagação.
(E) difusão, comunicação e estereotipia. 37. Uma pesquisa direcionada a relacionar gênero, saúde e
risco no cotidiano do trabalho, realizada em um
33. A aparência física e outros sinais comportamentais Hospital de Clínicas Veterinárias é um exemplo de
têm sido informações longamente investigadas na área pesquisa de
da interação social como fatores decisivos para a
eficácia da comunicação interpessoal. Existem (A) Psicologia Clínica na comunidade.
diversos modelos para abordar a integração dessas (B) Psicologia Social no trabalho.
informações. O cálculo de uma impressão em que se (C) Sociologia na comunidade.
somam as pontuações que um indivíduo atribui a (D) Subjetividade e qualidade de vida.
determinadas características (em uma escala definida) (E) Psicologia Clínica e Saúde Mental.
e se divide o total pelo número de características que
foram consideradas pertence ao modelo da média
38. A eticidade da existência consiste no reconhecimento
(A) aditiva. da alteridade. Essa afirmação significa aceitar
(B) simples.
(C) ponderada. (A) o paradigma da lei natural para a compreensão da
(D) linear. ética.
(E) da população. (B) o paradigma da lei positiva para a compreensão da
ética.
34. A falta de compreensão da significação e da (C) a ética como dimensão propositiva.
historicidade dos fenômenos de natureza social e (D) a ética em um positivismo jurídico.
cultural seguindo princípios formais é próprio da (E) a ética em uma dimensão antropológica
personalista e dialógica.
(A) Psicologia Social Experimental.
(B) Psicologia Social.
(C) Psicologia das massas.
(D) Sociologia.
(E) Psicossociologia
183

43. O Fórum Social Mundial é um espaço internacional


39. Conforme Minayo, a prevalência de violência contra a para reflexão e articulação que busca uma alternativa
terceira idade pode alcançar parcelas representativas às políticas neoliberais. O mesmo pertence à
dessa classe, com níveis que variam de 4% até 28%. A
forma de violência mais prevalente para com os idosos (A) Organização Mundial da Saúde e à Organização
é Pan-Americana da Saúde.
(B) Organização Pan-Americana da Saúde e à
(A) a rejeição, a discriminação e o isolamento. Organização das Nações Unidas.
(B) o desrespeito. (C) Movimentos sociais, redes, ONGs e a outras
(C) a negligência, seguida do descaso, da indiferença e organizações da sociedade civil.
da omissão. (D) Ordem dos Advogados do Brasil e ao Fórum
(D) a agressão verbal. Econômico Mundial.
(E) a violência institucional. (E) Organização das Nações Unidas e ao Fórum
Econômico Mundial.

40. Para entender o que é “social” em psicologia social,


Moscovici propõe um esquema que, segundo ele, é 44. A Psicologia Comunitária é uma tentativa de fusão
crucial nessa discussão para poder sistematizar os entre
processos de interação. Trata-se do esquema
(A) Filosofia e Sociologia/Política.
(A) sujeito-outro-objeto. (B) Psicologia e Economia.
(B) sujeito-sujeito. (C) Psicologia e Sociologia/Política.
(C) sujeito-objeto. (D) Antropologia e Filosofia.
(D) comportamento-sujeito. (E) Antropologia e Biologia.
(E) objeto-interação.

45. Em nome da ordem e da disciplina, muitas práticas de


41. Uma das tarefas mais importantes que um pesquisador violência simbólica, e até mesmo casos de violência
tem quando estuda representações sociais é que ele física, são legitimados na escola. É possível que
consiga entender como ocorre a integração cognitiva “puxar a orelha”, “bater”,“gritar”, sejam consideradas
do objeto que é representado a um sistema de atitudes necessárias para “corrigir” os alunos. Essa
pensamento social pré-existente e que descubra as “naturalização” e “legitimação” da violência nas
transformações que estão implicadas em tal processo. relações entre professores e alunos, assim como entre
Segundo a teoria da Representação Social de pais e filhos, é denominada por um autor como
Moscovici, os elementos explicados correspondem “banalidade do mal”. Essa denominação foi dada por

(A) ao processo de objetivação. (A) Hanna Arendt.


(B) às funções do núcleo central. (B) Vicente Masip.
(C) ao processo de ancoragem. (C) Mary Jane Spink.
(D) às funções do núcleo periférico. (D) Silvia. T. M. Lane.
(E) às funções do núcleo periférico próximo. (E) Robert Farr.

46. Conforme Lane (1997), a relação entre a Psicologia e a


Psicologia Social deve ser entendida em sua
42. Nas raízes da Psicologia Social há um termo perspectiva histórica, quando na década de 50 se
reconhecido e cunhado entre os pesquisadores. Trata- iniciam as sistematizações em termos de Psicologia
se do termo “Völkerpsychologie”. Esse termo foi Social dentro de duas tendências predominantes, uma
proposto por na tradição

(A) E. G. Boring. (A) piagetiana, e outra na tradição da fenomenologia.


(B) W. Dilthey. (B) da fenomenologia, e outra na tradição do
(C) E. Durkheim. construtivismo.
(D) H. Ebbinghaus. (C) pragmática, e outra na tradição com raízes na
(E) W. Wundt. fenomenologia.
(D) biológica de psicologia, e outra na tradição
piagetiana.
(E) psicanalítica, e outra na tradição da fenomenologia.
184

51. Uma das tendências mais sobressalentes da Psicologia


47. Toda a Psicologia é social. Essa afirmação permite Social no Brasil até as décadas de 60 e 70 era adotar a
Psicologia Social
(A) negar a especificidade da Psicologia Social.
(B) reduzir as áreas específicas da Psicologia à (A) como uma ciência natural.
Psicologia Social. (B) como uma ciência cognitiva.
(C) conhecer o indivíduo no conjunto de suas relações (C) dos Estados Unidos.
sociais. (D) dos países da Europa.
(D) negar a especificidade histórico-social do ser (E) como uma pseudociência.
humano.
(E) reconhecer que não é o homem o sujeito da
história. 52. Uma das raízes da crise da Psicologia Social em torno
da perda da confiança na epistemologia foi a
48. Na nova pedagogia, a formação psicológica do problemática gerada ao redor da
educador deve incluir, apenas, aspectos
(A) racionalidade científica.
(A) do desenvolvimento físico e cognitivo das (B) ideologia.
crianças e habilidades psicomotoras. (C) ética.
(B) de motivação para a aprendizagem e processos (D) subjetividade.
mentais para adquirir conhecimentos. (E) comunicação.
(C) do universo cultural e político da ação pedagógica
e do ambiente escolar.
(D) socioculturais e componentes psicológicos da ação 53. A educação da população para compreender a natureza
pedagógica e psicologia social. e as causas dos problemas psicossociais e os recursos
(E) de manejo de grupos e aspectos do ambiente disponíveis para lidar com esses problemas é uma
escolar relacionados à infraestrutura. tarefa valiosa da Psicologia

49. Uma das psicologias sociais emergentes no Brasil, (A) Clínica.


cujo foco é a comunidade, traz o impulso de sair dos (B) Organizacional.
consultórios e das gerências das empresas para ir aos (C) Infantil.
bairros populares. É uma nova maneira de fazer (D) Social Comunitária.
psicologia que nega o passado, se reconstrói, aproveita (E) do Trabalho.
o passado desde o presente e se constitui em uma nova
práxis de Psicologia Social. Essa nova psicologia
visualiza uma ação 54. Em Psicologia Social, a socialização significa
processo de
(A) caritativa em relação às classes mais baixas.
(B) assistencialista. (A) percepção de si próprio e do outro.
(C) ativista e político-partidária. (B) formação de nossas crenças, valores e
(D) educativa, social e científica. significações.
(E) remediativa. (C) interação com o outro.
(D) formação de representação sobre si próprio.
50. Aceitar a ética em Psicologia Social significa que (E) formação de predisposições para as ações.

(A) somente o social é ético.


(B) somente o psicológico é ético.
(C) a ética é da natureza humana.
(D) a ética é um estado absoluto.
(E) a ética é histórica.
185

59. O construcionismo na Psicologia Social pressupõe que


55. Em Psicologia Social existe um tema de grande tanto o sujeito como o objeto são construções
relevância no contexto cultural atual. O tema vai tratar
das diferenças sexuais, mas não necessariamente das (A) sociais que precisam ser problematizadas e
diferenças fisiológicas tal e como as vemos em nossa desfamiliarizadas.
sociedade. É um conceito que se constrói (B) psicológicas que precisam ser problematizadas e
culturalmente em diferentes sociedades e diferentes familiarizadas.
épocas. Trata-se do conceito de (C) históricas que precisam ser problematizadas e
familiarizadas.
(A) identidade sexual. (D) sócio-históricas que precisam ser problematizadas
(B) estereótipo. e familiarizadas.
(C) gênero. (E) sócio-históricas que precisam ser problematizadas
(D) atitude. e desfamiliarizadas.
(E) sexo.

60. Aquelas escalas de atitudes cujas frases manifestam


56. Existem ocasiões em que as ações de uma pessoa são claramente apenas dois tipos de atitudes: claramente
condições para as ações de outra, entretanto é favorável ou claramente desfavorável em relação ao
necessário acrescentar que essa presença do outro não objeto avaliado são as escalas do tipo
é necessariamente real. Apenas pode ser imaginada,
pressuposta. Essa definição refere-se a (A) diferenciador semântico.
(B) Guttman.
(A) identidade social. (C) Likert.
(B) atitude. (D) Thurstone.
(C) influência social. (E) cumulativas.
(D) atribuição social.
(E) conflito.

57. Julgamento prévio negativo de membros de uma raça,


de uma religião ou de indivíduos que desempenham
qualquer papel significante e que se mantém mesmo
que os fatos não o confirmem corresponde a

(A) atitude.
(B) preconceito.
(C) representação.
(D) influência.
(E) negociação.

58. O interacionismo simbólico iniciado por Blumer, em


Chicago, é tratado como uma forma

(A) sociológica de psicologia social.


(B) psicológica de psicologia social.
(C) de behaviorismo social.
(D) de positivismo.
(E) de construtivismo.

Fonte: Psicologia Online – POL. Disponível em: <http://www.pol.org.br/pol/export/


sites/default/pol/servicos/servicosDocumentos/10-PsicoSocial.pdf>. Acesso em: 13 mar.
2009.
186

Anexo 6 – Prova discursiva do Concurso de Provas e Títulos para a Concessão do Título


de Especialista em Psicologia Social (2006)

QUESTÃO 1
Detalhe e explique as ênfases teóricas e metodológicas da Psicologia Social Comunitária
comprometidas com a transformação social e que reconhecem a importância de várias formas
de conhecimento.

QUESTÃO 2
Explique o conceito de representação social e comente a importância de pesquisas sobre a
representação social da violência.

QUESTÃO 3
Quais pressupostos a psicologia social propõe para a análise do indivíduo inserido em um
processo grupal a partir do enfoque do materialismo dialético?

QUESTÃO 4
Descreva as relações entre indivíduo e sociedade, de acordo com Freud, ao elaborar seus
escritos sobre os fenômenos de massa.
Fonte: Psicologia Online – POL. Disponível em: <http://www.pol.org.br/pol/export/sites/
default/pol/servicos/ servicosDocumentos/10-PsicoSocial_Discursiva_Miolo.pdf>. Acesso
em: 13 mar. 2009.
187

Anexo 7 – Gabarito da prova de conhecimentos específicos do Concurso de Provas e


Títulos para a Concessão do Título de Especialista em Psicologia Social (2006)

Fonte: VUNESP. Dsiponível em: <http://www.vunesp.com.br/cfps0601/gabaritoscfps.pdf>.


Acesso em: 13 mar. 2009.

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