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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVERSUS VERITAS

Claudiney Genilhu de Almeida 1413807


Clayton Toste de Porencio 1395438
Cleidiane Leopoldino Duarte 1408675
Mariana Isabel da Silva 1465774
Paula Teixeira Viana 1428074
Taynara Santiago Pereira 1440039
Thiago Michel Pereira Silva 1466019

Belo Horizonte
2021
A psicologia, tratando-se da ciência que estuda o comportamento
humano, a interação com o ambiente, os estados e processos mentais, teria de estar
mais presente nas pautas antirracista, já que o racismo está diretamente ligado ao
adoecimento mental de pessoas pretas. De acordo com a resolução N°18/2002 do
Conselho Federal de Psicologia “Os psicólogos não colaborarão com eventos ou
serviços que sejam de natureza discriminatória ou contribuam para o desenvolvimento
de culturas institucionais discriminatórias".

Os psicólogos precisam estar preparados para compreender de fato


como o racismo interfere na saúde mental destas pessoas e como estas se sentem ,
nunca menosprezando ou diminuindo sua dor; por terem passado por uma situação
que muitas das vezes é brutal, a função do profissional é trabalhar nesse trauma,
ajudando a pessoa a compreender e superar aquele acontecimento, a se aceitar e se
amar.

A resolução N°18/2002 do Conselho Federal de Psicologia diz que


“Os psicólogos não se pronunciarão nem participarão de pronunciamentos públicos
nos meios de comunicação de massa de modo a reforçar o preconceito racial”, no
entanto cabe à psicologia promover um diálogo menos limitado, no que diz respeito
aos danos que o racismo causa ao indivíduo e a real falta de conscientização existente
no próprio meio social.

Considerando que as pessoas pretas estejam sujeitas à situação de


descriminação desde a sua infância, fase na qual o indivíduo se desenvolve como
pessoa, aprende e absorve coisas que irão influenciar na vida adulta, até mesmo em
lugares que deveriam ser considerados seguros, à estas não cabe meio isento. Sem
espaço distinto, destinado, o racismo não se revela como casos raros, junto à crianças
e adolescentes, já nos primeiros passos, em meio ao ambiente de convívio e relações,
seja junto as instituições de ensino ou mesmo, muitas vezes, em casa, como descrito
na fala de Ísis Higino, no trecho retirado de livro Relatos sobre a Pele: “Minha mãe
reclamava do meu cabelo, do meu corpo, das minhas tatuagens, dos meus traços e
ficava me humilhando em casa”.
Mesmo os pais pretos acabam reproduzindo falas preconceituosas,
muitas vezes sem perceber, reproduzindo o racismo, indiretamente. Para muitos pais
que não conversam sobre o assunto com os filhos, não existe um reconhecer-se como
negro e acabam sofrendo por um desejo de querer ser como o branco – afinal, “O
negro quer ser como o branco. Para o negro não há senão um destino. E ele é branco.
Já faz muito tempo que o negro admitiu a superioridade indiscutível do branco e todos
os seus esforços tendem a realizar uma existência branca.” Frantz Fanon, Pele negra
máscaras brancas.

O alisamento do cabelo é um exemplo do indivíduo se afastando do


ser negro, da tentativa de uma aproximação, ainda que estética, do branco. Neste ato,
ainda que haja o explicito desejo de “assemelhar-se” ao branco, há a implícita
esperança de não ser notado como negro, de que os outros também não o
reconheçam como tal. Estas pessoas que vivem os mais diversos preconceitos ao
longo de toda a vida, nos mais diversos lugares, de várias maneiras diferentes.

Na escola têm seus cabelos apontados, ditos ruim pelos colegas e


tem seus traços, característicos, como anormais. E destas memórias e experiências,
que, quando pais, evocam um instinto de proteção, que faz de seus filhos o menos
parecido possível com o que até estes são (uma vez que entendem a dolorosa estrada
de o ser), preferindo antão alisar seus cabelos desde cedo, pois não querem que seus
filhos sintam a mesma dor, aceitando assim o afastamento de suas raízes.

Outro ambiente no qual encontramos o racismo de uma forma


mascarada é no mercado de trabalho, onde você pode perder uma oportunidade de
emprego, pelo simples fato de ser uma pessoa negra, mesmo tendo um currículo
melhor que outros candidatos que estão concorrendo a vaga. "Tinham festas
infantis (trabalhou um período como animador de festas) em que os pais deixavam
claro para a empresa que não queriam animadores negros e eu perdi oportunidades
por causa disso." - Expressa Henrique Martins, Sob a pele.

Esse ciclo de violência está presente no cotidiano, no círculo de


amizades, onde o ataque se traja por piada, na universidade quando julgam sua
inteligência pela cor da sua pele ou simplesmente te marginalizam. "Eu odeio ser
tratado como se eu fosse bandido e isso acontece muito. A pessoa já te olha com uma
cara de desconfiança…" Henrique Martins, Sob a pele.

O racismo, muitas vezes implícito, dá as caras, aparecendo de


diversas formas; sendo ela verbal, com ofensas sobre a cor, cabelo e traços,
comparando com termos pejorativos com a intenção de diminuir o mesmo, questionar
sua integridade para dizer que são mais propensos a cometer crimes. Noutras, revelar
mais que a cara, mas rivalidade de sua força para com a existência do negro, de forma
física, onde este pode e se sente justificado à espanca-lo, até já morto.

Existe ainda a hiperssexualização da pessoa negra, desde muitos


cedo. Geralmente existe o desejo de se relacionar com esta pessoa sexualmente,
mas nunca de fato amorosamente, “não mais se percebe o preto, mas um membro: o
negro foi eclipsado. Virado membro. Ele é pênis.” Frantz Fanon, Pele negra máscaras
brancas. Ainda existe e há a vergonha do branco em relacionar com o preto, como
no relato do Henrique Martins, que diz: Eu tive vários relacionamentos com pessoas
brancas e elas não queriam sair comigo na rua. Na época eu achava que era porque
a pessoa queria um relacionamento privado, sem se expor e não era isso. Só estavam
a fim de “pegar o negão” e depois: tchau, não te conheço – citação exposta em Sob a
pele.

Por isso é necessário que haja uma consciência racial, um


reconhecer-se como pessoa negra, assim tendo conhecimento e orgulho de sua
origem, e criando forças para lutar contra esse preconceito que infelizmente ainda é
extremamente presente na nossa sociedade.

Dessa maneira os psicólogos precisam primeiramente compreender


que o racismo é algo real e constantemente presente na vida de seus pacientes
negros, que afeta muito a vida dessas pessoas que passam por situações de
violências todo o tempo. Atuar ciente de que o racismo está embutido na sociedade,
por mais que a pessoa não tenham atitudes diretamente racistas, ainda falamos
termos que são racista e pejorativos como "fazer nas coxas" ou "não sou tua nega",
tão presentes e cristalizados no nosso cotidiano, que se quer as percebemos pelo
quão de fato são racistas. Há uma descrença e o descrédito atribuídos de forma
equivocada, onde a descrença (ignorante) nega o real, discursa não acreditar que a
violência racial seja uma realidade e oferece aos seus afiliados uma narrativa pela
qual diminuem a dor de quem sofre tais violências, já que o racismo acabou junto
com a escravidão – chegando ao ponto, por vezes, de narrativas onde se diz que, na
verdade, essa segregação entre as raças seja pelo fatos das pessoas abrirem
diálogos sobre o racismo, num descrédito total aos fatos e estatísticas para
continuarem com o velho discurso de que todos somos iguais.

No entanto a narrativa de igualdade, quando discurso, o que de fato


ora? O que ou a quem de fato assume pregar? Se muitas vezes ao declarar que
todos somos iguais, um apagar de diferenças, existentes, pelo imaginário, pela fictícia
igualdade, o que este olhar percebe e aceita quando se depara com alguém diferente
de fato? Como errado? Quando afirmamos, negamos, quando falamos, mentimos,
sob a oração “de que todos somos iguais”, acabamos por excluir o fato de que existem
diferentes características físicas e culturais, o que abre precedentes para a
intolerância. “Muitos brancos [...] preferem uma imagem de si mesmos como não
racistas, embora na prática hajam frequentemente de forma contrária”. Frantz Fanon,
Peles negras máscaras brancas.

O racismo não terminou quando a escravidão acabou, ficaram ainda


as consequências desse passado que, até hoje, causam danos a este povo; e os
profissionais precisam estar cientes disso primeiramente, para conseguirem tratar
com dignidade e respeito pacientes negros.

Os psicólogos precisam estar prontos para ajudar as pessoas negras


a reconhecer aquilo pelo que elas passaram foi racismo e o trabalhar em como elas
sentem, nos danos que o preconceito podem ter causados e ajudar no processo de
cura desse trauma, os ajudando a aceitar que não existe nada de errado com seus
traços, cor da pele ou cabelo. Essa ideia de existir algo errado, foi imposto pela
sociedade desde cedo, tanto por pessoas em que ela conviveu na escola, no trabalho,
na universidade, quanto por pessoas com as quais ela conviveu em casa, pessoas de
sua família, pois muitas vezes elas passam por uma situação e não percebem que
aquilo foi racismo - a própria mídia e meios de artes tem responsabilidade nesse
aspectos, visto que o negro nunca é retardado como exemplo de beleza, sempre os
vemos em situações abaixo do branco sem representatividade alguma.

O papel do psicólogo está em entender todas essas coisa que o negro


vive no mundo que ele não se vê e isso afeta a auto estima a ponto de terem receio
de frequentar certos lugares, é preciso ter empatia e ajudar esse paciente levando em
consideração toda sua experiência.

É preciso discutir também sobre o motivo de que várias pessoas que


deixam de ir ou adiam procurar pela terapia, essas pessoas sempre fazem surgir um
empecilho para não procurarem por ajuda de um profissional. Um dos motivos desse
adiamento é o medo de também passarem por uma situação de violência. Quando
essas se reconhecem como negras e entende o impacto que o racismo tem em suas
vidas e precisam de um profissional apto a trabalhar suas dores, por não se sentirem
compreendidos por um profissional branco, procuram um psicólogo negro, que
provavelmente não irá reproduzir falas racistas e entender melhor suas dores por
terem passado por experiência semelhantes.

O Conselho Federal de Psicologia estabelece as normas e diretrizes


que precisam ser seguidas dentro da profissão, isso determina que todo o profissional
deve ser capaz de reconhecer o racismo na sociedade e entender como essa violência
afeta seus pacientes negros assim ajudando-o e acolhendo sua dor. É claro que,
para termos uma psicologia realmente antirracista, precisa-se de pessoas que
estejam dispostas à luta por esta causa, pessoas que entendam e levantem essa
bandeira, precisa-se de pessoas negras dentro da profissão e o mais importante: dar
voz a elas.

Para que apontem os problemas do racismo dentro e fora da


psicologia, para que assim possamos levantar mais pautas sobre a raiz do problema
e entendermos as diversidade consequências em sua vida, e até mesmo o profissional
negro que pode sofrer com preconceito em sua profissão, seja para conseguir atender
em determinado local ou no fato de que algumas pessoas não vão querer se consultar
com ele por causa da cor da sua pele. E além do fato desses profissionais serem
importantes para apontarem o preconceito dentro da profissão e lutar por melhorias,
eles são um exemplo para pessoas negras, para seguirem carreira dentro da
psicologia e para irem buscar ajuda profissional, pois irão se sentir representadas por
ao terem pessoas como elas numa função de tamanha importância, que passam o
que elas passam e que vão compreendê-las.

“Agora eu tenho ido a uma psicóloga negra e está sendo bem


diferente. Ela tem uma abordagem mais corporal. Eu procurei essa psicóloga negra
especificamente para falar de racismo. Ísis Higino, Sob a Pele.”

Por todos esses aspectos o fato é que a psicologia e os psicólogos


tem um papel de extrema importante na luta contra o racismo, tanto para auxiliarem
pessoas pretas quantos as pessoas brancas, já que não basta somente os oprimidos
aprenderem a identificar o que é o racismo, no intuito de que essa violência tenha fim,
pois precisamos trabalhar também as pessoas que são as opressoras, aceitando de
se conscientizando, num processo verdadeiro de aprendizado e desconstrução em
que aprenda a identificar o racismo que existe nelas, o motivo pelo qual ele existe, de
onde vem esse sentimento de superioridade.

Acabar com crença limitada de que o preto é ladrão, sujo e que


sempre vai estar em posição de inferioridade, a hipersexualização desse povo é outro
grande problema, trabalhar para que no todo, junto a todos, o nítido entendimento do
quão danosas e mentirosas essas ideias são; e para as pessoas pretas se verem
como indivíduos próprios que valem a pena, detentores de uma cultura linda, não
inferiores ou piores que ninguém.

Cabe uma atuação antirracista, disposta a causa e militar, acolher e


trabalhar com os pacientes a respeito disso, identificando de fato o problema, se
banalizar o real. ”Os psicólogos atuarão segundo os princípios éticos da profissão
contribuindo com o preconceito e a eliminação do racismo” Resolução CFP
N°18/2002.
Bibliografia

Resolução de 2002 do Conselho Federal de Psicologia:


Art.1°
Art. 5°
Art. 6°
Sob a pele - Relatos sob os efeitos do racismo na saúde mental, Lucas Ludgero.
Relatos Isis Higino e Henrique Martins
Pele negra máscara branca, Frantz Fanon.

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