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FACULDADE DE PSICOLOGIA DA UFBA

BEATRIZ SANTANA OLIVEIRA

LARA CAROLINA SANTANA SANTOS

LARISSA VIEIRA CARDOSO SANTOS

JAIRO COSTA CERQUEIRA JUNIOR

OS DIFERENTES NÍVEIS DE RACISMO ASSOCIADO AO EXPERIMENTO DE


ENFOQUE PSICOLÓGICO DE CAMPBELL E STANLEY

SALVADOR/BA

2021
BEATRIZ SANTANA OLIVEIRA

LARA CAROLINA SANTANA SANTOS

LARISSA VIEIRA CARDOSO SANTOS

JAIRO COSTA CERQUEIRA JUNIOR

OS DIFERENTES NÍVEIS DE RACISMO ASSOCIADO AO EXPERIMENTO DE


ENFOQUE PSICOLÓGICO DE CAMPBELL E STANLEY

Produção textual realizada em equipe e


solicitada pela Prof. Eleonora Vaccarezza
Santos como requisito parcial para aprovação
na disciplina IPSA14 - PSICOLOGIA
SOCIAL I, Turma 02.

SALVADOR/BA

2021

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO E A RELAÇÃO ENTRE PSICOLOGIA SOCIAL E OS NÍVEIS


DE RACISMO…………………………………….………………….…....………………..3

2. OBJETIVO…………….…………….……….……….….………………………………3

3. ORIENTAÇÃO TEÓRICA……..…………….…….……..........…………….………..3

4. MÉTODO……………………………………………………………………………..…4

5. RESULTADO E CONCLUSÕES………………………………………………….…..5

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS…………….……………….………….…..........6

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INTRODUÇÃO E A RELAÇÃO ENTRE PSICOLOGIA SOCIAL E OS NÍVEIS DE
RACISMO
O racismo é um fenômeno complexo e que se manifesta de diferentes formas e em múltiplas
esferas da sociedade. Lima (2020) atribui a ele duas características essenciais: a primeira é a
sua capacidade de mudar, se transformar e se adaptar a novos contextos de relações entre
grupos e de normas sociais. A segunda é a ruptura entre atitudes e comportamentos, na qual,
ainda que a maioria das pessoas admita a existência desse fenômeno, elas raramente admitem
compactuar e participar dele.
Lima (2020) destaca que as expressões do racismo, embora se manifestem no âmbito das
relações interpessoais e entre indivíduos, são apenas facetas da complexa configuração que
caracteriza o fenômeno do racismo como um todo, que é também sistêmico e se manifesta
nos níveis cultural e estrutural/institucional.
A Psicologia Social é uma excelente ferramenta para analisar os mecanismos que regem essa
relação do macro (estrutural) ao micro (individual) no fenômeno do racismo: a expressão de
um comportamento racista que escapa do controle voluntário e da percepção crítica dos
indivíduos, por exemplo — o chamado “preconceito automático” — é uma pauta constante
nos estudos da Psicologia Social, sendo tal fenômeno associado ao das atitudes implícitas. As
teorias implícitas da personalidade tendem a ocorrer automaticamente e sem a nossa
consciência; quando se trata de como conscientemente explicamos o comportamento de outra
pessoa, tem-se a chamada teoria da atribuição de causalidade, que analisa o modo como
inferimos as causas do comportamento de outras pessoas. Fritz Heider descreve que quando
tentamos deduzir o motivo pelo qual uma pessoa age de certa maneira, podemos chegar a
uma atribuição interna (a pessoa se comporta de certa forma por conta de algo intrínseco e
próprio dela, como sua atitude, caráter ou personalidade) ou a uma atribuição externa (a
pessoa se comporta de tal forma devido a algo circunstancial, uma situação particular em que
ela se encontra, na qual a maioria das pessoas responderia da mesma forma). Os autores
discutem como o tipo de atribuição varia de acordo com a maneira como indivíduos se
relacionam e conhecem a realidade ao seu redor, podendo influenciar fortemente no modo
como julgam as pessoas. Uma sociedade estruturada em fundamentos racistas, portanto, tende
a produzir tipos de atribuição igualmente racistas, cabendo à Psicologia Social analisar a
fundo como essa interação estrutural-individual ocorre, justificando, generalizando e
perpetuando comportamentos preconceituosos.

OBJETIVO
Analisar como o contexto estrutural e a ideologia do sistema socioeconômico vigente ajuda a
produzir discursos que justificam o racismo e o ajudam a se perpetuar através de
comportamentos a nível individual.

ORIENTAÇÃO TEÓRICA
O racismo individual, expresso nas relações interpessoais, pode ter duas subdimensões: a
primeira é o racismo inconsciente ou implícito, no qual a expressão de um comportamento
racista escapa do controle voluntário e da percepção crítica dos indivíduos. A segunda
subdimensão diz respeito ao racismo expresso, que pode ocorrer no nível privado ou em
contexto público, como no futebol e na política. No plano cultural, o racismo encontra-se
propagado por comportamentos, expressões, estereótipos e representações que preveem
“espaços sociais específicos, formas de autoapresentação/representação predeterminadas e
territórios de mobilidade limitados para o negro”, fazendo cair sobre eles estereótipos sociais
negativos ou pseudopositivos que são perpetuados e reproduzidos através de meios de
comunicação de massa como a TV e o cinema, por exemplo. O racismo institucional diz
respeito ao nível macro do sistema social, abrangendo as “instituições, ideologias e a outros

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processos que interagem uns com os outros para gerar e reforçar as desigualdades entre
brancos e negros”.
Essas esferas constantemente influenciam umas às outras: Lima (2020) esquematiza em um
quadro o fluxo dinâmico nas relações entre o espectro e os espaços de expressão do racismo
com seus níveis de produção. (Figura 1). O esquema a variação nos níveis de expressão do
racismo (não consciente, privado e público) e sua relação com o âmbito das relações sociais
(interpessoal e intergrupal), considerando também os âmbitos de manifestação do racismo
(individual, cultural e institucional), para gerar tipos de racismo (infrarracismo, racismo
fragmentado, racismo político e racismo total).
:

Observa-se, com o quadro, que o racismo no âmbito individual, que se confunde com o
preconceito explícito, está também englobado pelo racismo cultural/grupal, indicando que
uma cultura racista molda e influencia o comportamento racista no âmbito interpessoal e
individual. Da mesma forma, o racismo no âmbito institucional abarca em seu espaço de
manifestação também as esferas cultural e individual, de modo que uma estrutura pautada em
elementos racistas constantemente necessita ser legitimada por uma cultura que a fundamente
e hábitos individuais que a mantenha vigente.

MÉTODO
Para alcançar os objetivos almejados por esse trabalho, realizou-se uma revisão bibliográfica
de autores da Psicologia Social e foram coletados, de artigos científicos, dois experimentos: o
primeiro deles foi o discutido por Almeida et al. (2003), que estudaram a influência de um
discurso justificador da discriminação sobre o preconceito racial a partir de um experimento
no qual, em um cenário onde a gerente de uma loja contrata uma moça branca, discriminando
uma negra, metade dos participantes (grupo experimental) recebeu um discurso justificando a
discriminação, o que, no geral, fez com que considerassem a atuação da gerente mais
profissional e menos injusta do que os participantes do grupo de controle (sem o discurso
justificador).
O segundo experimento, trazido para fins somente de citação dos resultados, foi o descrito
por ÁVILA et al. (2005), que procuravam analisar o papel dos contextos de resposta no
preconceito automático (ÁVILA et al., 2005). Foram realizados três estudos: “No primeiro
estudo, investigamos os efeitos de dois contextos normativos (igualitário e meritocrático)
sobre o preconceito automático contra os negros. No segundo estudo, investigamos que
sentidos as pessoas atribuem à ‘igualdade’. Dois sentidos principais foram encontrados:
solidária e formal. Essas duas formas de igualdade foram utilizadas como priming no terceiro
estudo, juntamente com contexto meritocrático.” (ÁVILA et al., 2005)

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RESULTADOS E CONCLUSÃO

Experimento 1 - A influência de um discurso justificador da discriminação sobre o


preconceito racial
Conforme relatam os autores do artigo, o grupo que teve acesso a esse discurso justificador
não só teve mais tendência a aderir aos princípios organizadores da decisão da gerente, como
também manifestou que seria a sua própria decisão caso estivessem em sua posição. Eles
explicam que “com os princípios organizadores, o preconceito é avaliado de forma indireta na
medida em que a percepção de justiça e a avaliação profissional da gerente permitem um
julgamento indireto do alvo da discriminação. Nesse sentido, quanto menos injusta e quanto
mais profissionalmente a decisão da gerente foi percebida mais favoráveis à discriminação os
estudantes foram.” (ALMEIDA et al., 2003)
Esse resultado expressa uma mentalidade contemporânea na qual, ainda que haja uma grande
disseminação e compartilhamento de informações acerca do racismo e suas manifestações na
sociedade, especialmente no que tange à expressão estrutural e institucional desse fenômeno,
o comportamento individual comum ainda costuma se orientar no sentido de atitudes racistas,
em destaque para as situações que envolvem o mercado e o campo profissional. O discurso
justificador que nasce para fundamentar decisões racistas mostra-se, geralmente, como
fomentador e intensificador da posição marginalizada que vivem os negros no contexto
capitalista, solificando-os nessa categoria precária e excluindo-os das oportunidades que os
permitiriam ascender socioeconomicamente. Não à toa, os fundamentos clássicos de tal
discurso são os argumentos da meritocracia, valorização da competição e do “merecimento”
ao mercado de trabalho baseado no esforço e capacidade cognitiva, que muitas vezes gerou a
proliferação de falsas concepções raciais baseadas em determinismos biológicos e racismo
científico. A estrutura socioeconômica racista, enquanto vigente, necessita que o âmbito
cultural e as decisões individuais fomentem e perpetuem um modelo social que relegue à
população negra os papéis marginalizados impostos, utilizando da ideologia liberal para se
reproduzir continuamente.
Experimento 2 - A influência das normas e dos contextos sociais vigentes no momento
de expressão do preconceito automático
O primeiro estudo verificou que a ativação automática do preconceito é mais forte entre os
participantes que foram levados a pensar na competição. No segundo estudo, os autores
constataram a multiplicidade de sentidos atribuídos à igualdade (ÁVILA et al., 2005),
destacando duas visões centrais: uma que “entende a igualdade como igualdade de direitos e
deveres, num sentido mais formalista e outra que concebe a igualdade em termos de uma
ética das relações sociais, num sentido mais solidário e inclusivo. Este sentido mais social da
igualdade (equidade) foi utilizado como prime no terceiro estudo” (ÁVILA et al., 2005). Foi
nesse terceiro estudo que os autores conseguiram anular o preconceito automático contra os
negros, o que ocorreu no contexto da igualdade solidária. Os autores concluíram que “o
preconceito automático não acontece num vácuo social e não é meramente um resíduo
indesejável e inevitável do funcionamento cognitivo humano, como afirma grande parte dos
autores da psicologia social que estudam o tema” (ÁVILA et al., 2005), percebendo que ele é
fortemente influenciado pelos contextos de resposta e que o fato de as pessoas pensarem
sobre a competição as tornam mais preconceituosas; já quando são influenciadas a pensar
sobre a igualdade solidária, o preconceito inconsciente contra os negros diminui.

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REFERÊNCIAS:

ALMEIDA, Saulo Teles. PEREIRA, Cícero. TORRES, Ana Raquel Rosas. Um estudo do
preconceito na perspectiva das representações sociais: análise da influência de um discurso
justificador da discriminação no preconceito racial. 2003. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/prc/a/B8xn3m8C4y3SfMqSTkw3RPc/?lang=pt>. Acesso em: 21 de
novembro de 2021.

ÁVILA, Josele. LIMA, Carolina. LIMA, Marcos Eugênio Oliveira. MACHADO, Caliandra.
VALA, Jorge. Normas Sociais e Preconceito: O Impacto da Igualdade e da Competição no
Preconceito Automático Contra os Negros 2004. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/prc/a/4xbKhZrLkPPCg94KZ49yWPj/?format=pdf&lang=pt>.
Acesso em: 21 de novembro de 2021.

LIMA, Marcos Eugênio Oliveira. Psicologia social do preconceito e do racismo. São Paulo:
Blucher Open Access, 2020.

LIMA, Marcos Eugênio Oliveira. VALA, Jorge. As novas formas de expressão do


preconceito e do racismo. 2004. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/epsic/a/k7hJXVj7sSqf4sPRpPv7QDy/?lang=pt>. Acesso em: 21 de
novembro de 2021.

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