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Psicologia Social Comunitária e Saúde Humana

Resenha crítica

Este tratado busca levantar uma crítica a


respeito do artigo “A percepção dos psicólogos
sobre o racismo institucional na saúde pública”
dos autores Natália Oliveira Tavares, Lorena
Vianna Oliveira, Sônia Regina Corrêa Lages.

Profa. Milene Coelho

Maria Luíza Alves Araújo

MANHUAÇU
2021
1. INFORMAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

Saúde em Debate • Rio de Janeiro, v. 37, n. 99, p. 580-587, out/dez 2013.


TAVARES, N. O.; OLIVEIRA, L. V.; LAGES, S. R. C. • A percepção dos psicólogos sobre o
racismo institucional na saúde pública.

2. DADOS SOBRE O AUTOR

Natália Oliveira Tavares, Mestranda em Psicologia pela Universidade Federal de Minas


Gerais (UFMG) – Belo Horizonte (MG), Brasil. E-mail: nataliaotavares@yahoo.com.br;

Lorena Vianna Oliveira, Graduanda em Psicologia pela Universidade Federal de Minas


Gerais (UFMG) – Belo Horizonte (MG), Brasil. E-mail: lorenavoliveira@gmail.com;

Sônia Regina Corrêa Lages, Doutora em Psicossociologia das Comunidades e Ecologia Social
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil.
Professora Adjunta de graduação e pós-graduação no curso de Psicologia da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) – Belo Horizonte (MG), Brasil. E-mail:
sonialages@ig.com.br.

3. DADOS SOBRE A OBRA

Este artigo propõe a percepção dos psicólogos entrevistados a respeito do racismo nas
instituições de saúde, que descreve a hipótese como, apesar dos padrões profissionais e da
ética, o racismo funciona dentro das organizações para afetar adversamente a qualidade dos
serviços, o clima organizacional e a satisfação e o moral do pessoal no trabalho. Os autores
pontuaram esse argumento da seguinte maneira: Apesar de a Política Nacional de Saúde
Integral da População Negra (2010) reconhecer que as condições de vida dessa população
resultam de injustos processos sociais, culturais e econômicos da história do País, e que a
persistência dessa situação é observada nas altas taxas de mortalidade materna e infantil, na
maior prevalência de doenças crônicas e infecciosas e nos graves índices de mortalidade de
jovens e adultos em razão da violência urbana, drogas e álcool, os estudos sobre a temática
apontam para a fragilidade das ações em prol da superação dessa situação.

Após a realização da pesquisa através do uso da entrevista semiestruturada (MINAYO,


1993) e da análise de conteúdo (BARDIN, 2002) como ferramenta para interpretação dos
dados, aplicada em três hospitais públicos situados na cidade de Belo Horizonte contando
com a participação de sete psicólogos que integram o setor de psicologia dos referidos centros
de saúde. Pôde-se perceber que os autores do artigo consideraram, “preocupante o
desconhecimento dos profissionais sobre as vulnerabilidades daqueles coletivos com relação à
saúde”, à partir do momento que, uma das pessoas entrevistadas disse que não saberia falar
sobre “nenhuma” das doenças que afetam de forma mais pontual a população negra e que
“nem imaginava” que essas diferenciações pudessem acontecer.

4. POSICIONAMENTO CRÍTICO

É indispensável destacar que a obra é fonte de conhecimento sobre um tema polêmico


desde que o racismo é, infelizmente, parte da base da sociedade e das instituições brasileiras,
mas poucos estudos em psicologia comunitária ou estudos organizacionais examinaram,
especificamente, como o racismo afeta esses profissionais.

Do ponto de vista acadêmico, a participação da psicologia e dos profissionais


psicólogos no combate ao racismo nas instituições de saúde é de inegável importância. Além
do fato dessa responsabilidade estar preconizada nos princípios éticos do Conselho Federal, os
psicólogos nos centros de saúde estão em contato direto com a população negra, viabilizando
completamente a construção de um campo de reflexões e ações em prol dessa questão. Dentro
desse contexto, cabe destacar que a contribuição da psicologia para o combate ao racismo nas
instituições de saúde pesquisadas deixou claro, em todas as entrevistas, que a clínica é o
espaço para o tratamento de situações que possam surgir e quem envolvam o racismo: a
“escuta”, “o tratamento humanizado”, “o foco na questão do sujeito”, “resgate do ser
humano”, “estruturar isso com a subjetividade que ele está trazendo”, foram termos, de
maneira geral, utilizados pelos entrevistados da pesquisa.

(...) Podem-se observar comportamentos preconceituosos no


atendimento às pessoas negras, para os outros seis
profissionais isso não foi percebido. Por outro lado, apontam,
em sua totalidade, que tais coletivos ocupam postos de
trabalhos relacionados aos serviços gerais e enfermagem,
como técnicos. Tais dados condizem com as pesquisas e
estudos a respeito da discriminação no mercado de trabalho no
que diz respeito às relações raciais. (IPEA, 2000; BENTO,
2000; COUTINHO, 2006).

Os resultados do estudo apontaram para uma total ausência de percepção do racismo


institucional nos centros de saúde em que os profissionais psicólogos trabalham. A existência
do racismo no país foi um dado confirmado por todos os entrevistados, mas não foi possível
localizá-lo nas relações de trabalho, salvo pelas pequenas observações apontadas que, na
minha concepção, o racismo institucional explica como a opressão pode permear diferentes
características e dimensões, ou diferentes “níveis” organizacionais, onde o racismo opera por
meio das atitudes, crenças e comportamentos dos funcionários, por meio do clima, das
políticas e dos procedimentos internos de uma organização. Isso inclui as relações entre os
funcionários, que estão “enraizadas” em hierarquias formais e informais e relações de poder.
O racismo institucional explica como as organizações influenciam as comunidades, políticas
públicas e instituições de saúde, por exemplo.
Assim, as organizações devem promover empoderamento psicológico, ou serem
orientadas a influenciar a “comunidade” do qual fazem parte.
De acordo com os autores desse artigo, essencialmente construtivo, a proposta de
minimização do “problema” para o combate ao racismo nas instituições de saúde é a
informação e o debate sobre o tema, o que permite a construção de um olhar atento a tais
práticas e que se direciona para os Conselhos de Psicologia, em todos os âmbitos, no sentido
de implementar ações que sensibilizem a categoria que atua no sistema de saúde com o
objetivo se criar instrumentos concretos de superação da iniquidade nesse campo.

Eu, Maria Luíza Alves Araújo, estudante do 4º período de graduação em Psicologia,


recomendo o artigo a não somente psicólogos, mas também, ao público em geral que deve se
informar a respeito da lamentável desinformação a respeito de um tema tão significativo e
precisa ser debatido, pois até que o racismo e outras formas de opressão sejam integrados à
nossa compreensão, não teremos sucesso em alcançar a verdadeira democracia e igualdade,
ou o objetivo da psicologia comunitária de mudança social.

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