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2020
A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO COM HOMENS AUTORES DE
VIOLÊNCIA: ALCANCES E DESAFIOS
2020
FICHA CATALOGRÁFICA
A realização deste trabalho só foi possível graças a pessoas que direta ou indiretamente me
auxiliaram nesta jornada.
Agradeço à minha orientadora Profª Doutora Rosa Frugoli pela competência no trabalho de
orientação. Nos momentos em que estávamos juntas discutindo o trabalho, tamanho era seu
envolvimento em me orientar. Uma mulher intensa nos seus propósitos a qual eu admiro
muito.
Ao professor Carlos Pimenta que adentrou na leitura da minha pesquisa, sendo sensível nos
seus apontamentos. Trouxe isso de forma clara e didática, o que me fortaleceu para a
consolidação deste trabalho.
Às amigas que conheci neste programa de mestrado, Giovana Furquim, Ludmila Carderelli
e Graziela Novaes, por compartilharem comigo dos desafios encontrados.
Aos meus irmãos Felipe e Débora, pessoas que amo muito e união que me alimentou de
muito afeto e força para a vida.
Ao meu pai, Carlos Roberto Coppola, homem dócil, que sempre torceu por mim e me
ensinou o valor do esforço.
À minha filha Ana Luiza, a maior riqueza que tenho e amor incondicional que me inspira.
Ao meu marido, parceiro e amigo Leandro Auler que me acompanhou nesta jornada sempre
apoiando e me confortando nos momentos difíceis.
Resumo
1. Introdução
O interesse por esse tema é fruto de uma experiência de 7 anos com mulheres
vítimas de violência doméstica na SOS Mulher1, nas cidades de Taubaté e São José dos
Campos. Durante esse trabalho, eu realizava atendimento psicológico individual e em
grupo com as mulheres.
Naquela instituição, havia equipe multidisciplinar composta por advogados,
sociólogos e assistentes sociais. Profissionais com os quais aprendi em termos de políticas
públicas, leis e encaminhamentos na rede intersetorial, uma vez que, durante a minha
formação em Psicologia, não tinha tido contato com estes temas.
Minha atuação na SOS Mulher se iniciou em 2003 e terminou em 2010, período
significativo, tendo em vista as implementações de políticas públicas no que tange as
medidas de enfrentamento da situação de violência contra a mulher, sendo o advento da
Lei Maria da Penha em 2006 um marco no contexto brasileiro.
Num determinado momento dessa jornada, comecei a me questionar sobre a
efetividade do trabalho com as mulheres em situação de violência doméstica, uma vez
que a atenção se direcionava a elas, enquanto a outra parte, onde estava? Ainda assim, a
condição da mulher como vítima ficava evidente a todo momento, sendo retroalimentada
pela equipe de profissionais. Comecei a visualizar a pouca efetividade no trabalho, já que,
de certa forma, enquanto profissionais também estávamos presos a esta condição de
vítima das mulheres atendidas.
Enquanto psicóloga e mulher, acaba de certa forma, influenciando-me pelos
relatos tanto das mulheres atendidas como das colegas de equipe e adquirindo um certo
distanciamento, até repúdio, dos homens autores da agressão, estigmatizando-os na figura
do malfeitor.
Numa conversa rotineira, com uma amiga da época de graduação sobre o meu
trabalho com as mulheres, ela me contou da existência de programas com os homens
autores de agressão. Aquilo soou como um despertar, no sentido de algo revelador.
Surgiu, a partir daquela conversa, o seguinte questionamento: “quem seriam esses
homens? É possível um trabalho mais efetivo na questão da violência, incluindo os
homens?”. O sentimento que despontou em mim foi de esperança.
Nas conversas com os profissionais tanto da instituição como da rede, fui
1
SOS Ação Mulher e Família foi criado em 1980 por um movimento de mulheres como uma Organização
Não- Governamental (ONG), atualmente denominada Organização da Sociedade Civil (OSC). O SOS
Mulher atendia unicamente mulheres que viviam situações de violência doméstica e sexual.
11
2002).
Este tipo de abuso está ligado à posição desigual das mulheres nos
relacionamentos e ao “direito” masculino ao controle sobres bens e comportamentos
femininos, sendo que quando a mulher desafia esse controle se estabelece a violência.
Com isso, ocorre a configuração de uma relação assimétrica, a qual subordina a condição
de ser mulher no âmbito conjugal (Leite, Amorim, Wehrmeister & Gigante, 2017).
Pelo viés da questão do gênero é possível desenvolver uma nova forma de olhar e
intervir no fenômeno da violência doméstica. Homens imbuídos de valores machistas
encontram na violência a forma para a resolução dos conflitos conjugais.
A Lei Maria da Penha contemplou em seus artigos serviços destinados à educação
e reabilitação para os agressores (Martins, Cerqueira & Matos, 2015). Criou-se a proposta
de mecanismos específicos de responsabilização e educação para os homens autores de
violência. O trabalho com homens autores de violência já acontece nas 5 regiões do país,
porém ainda são poucos, mas estão ganhando força e visibilidade para se tornarem uma
política pública.
Em mapeamento realizado nos anos de 2015 e 2016, foram localizados 41 grupos
com homens autores de violência no Brasil (Beiras, Nascimento & Incrocci, 2019).
Os grupos com homens autores de violência correspondem a um serviço de
atendimentos aos homens que foram sentenciados pela referida lei, na qual, por
determinação judicial, são conduzidos a participar, junto com outros na mesma situação,
de encontros semanais de duração média de 2 horas. Tais grupos são facilitados a cada
encontro por 2 profissionais capacitados, podendo ser encontradas diferentes formações:
psicólogos, assistentes sociais, sociólogos. Tal serviço foi consolidado oficialmente no
Brasil com a Lei Maria da Penha.
Esses grupos necessitam estar vinculados ao sistema de justiça, entendido em
sentido amplo: Poder Judiciário, Secretarias de Justiça Estadual e/ou Municipal (SPM e
SEVM, 2008).
A partir de então, iniciou-se uma articulação entre os profissionais da rede de
enfrentamento da violência contra a mulher para a implementação de serviços que
atendessem a esse público.
A lei reforçou algo que já vinha ocorrendo: grupos educativos e reflexivos de
homens autores de agressão. Beiras (2014) relata o funcionamento de um grupo iniciado
em 1999 pelo instituto Noos, na cidade do Rio de Janeiro. O intuito destes encontros
grupais de reflexão para agressores é trazer aos mesmos uma possível conscientização
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1.1 Objetivos
Objetivos Primários:
Compreender o trabalho de psicólogos com grupos de homens autores de violência contra
as mulheres.
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Objetivos Secundários
Identificar formas de intervenção dos psicólogos a partir do trabalho nos grupos com
homens autores de violência.
2. Referencial Teórico
2
A partir dos anos 2000, observa-se nas produções acadêmicas a nomenclatura violência contra as mulheres,
que passou do singular para o plural, a fim de se alargar a diversidade de mulheres, contemplando mulheres
brancas, negras, índias, amarelas, pobres, ricas, bem-sucedidas, heterossexuais, homossexuais, bissexuais,
enfim, pela evidência de que distintas mulheres sofrem com a violência. O termo mulher não traduzia a
diversidade das que vivenciam a situação de violência em suas variadas formas (Silva, 2017). Desta forma,
nesta dissertação, o termo será pontuado no plural.
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Cabe lembrar que mesmo antes da estruturação do movimento feminista, diversas mulheres no mundo se
mostravam insatisfeitas com a subordinação ao masculino. Um exemplo desta situação ocorre já em 1791,
com Marie Gouze, escritora francesa que se manifestava por meio de pseudônimo da necessidade de se
respeitar direitos humanos e de cidadania. Enfatizava direitos como igualdade, liberdade, justiça, livre
comunicação de pensamentos e das opiniões, direitos que cabiam exclusivamente aos homens (Costa &
Sardenberg, 2008; Monteiro & Grubba, 2017). Entretanto, posturas como desta mulher eram exceções aos
comportamentos femininos.
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A paulistana Bertha Lutz, influenciada pelos movimentos do sufrágio feminino da Inglaterra, ao regressar
da Europa ao Brasil, foi uma das fundadoras da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, organização
que fez campanha pública pelo voto. Em 1927, submeteu abaixo-assinado ao Senado, pedindo a aprovação
de projeto de lei que que dava o direito de voto às mulheres (Pinto, 2010).
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político”. Esta foi uma das chamadas de maior relevância deste movimento de mulheres.
(Martins, Cerqueira & Matos, 2015).
Diversos tratados e convenções começaram a ser aprovados pelas entidades
internacionais de direito e, com isso, sendo incorporados ao processo de
internacionalização dos direitos humanos. O movimento feminista conquistou pautas de
reivindicação, bem como marcou presença pública. Ele trouxe para debate questões como
a restauração da democracia e a crítica de que o Estado transgredia os direitos humanos
(Silva, 2017). Nesta perspectiva, no Brasil, as integrantes do movimento atuavam de
forma a afirmar constantemente sua conexão direta com os direitos humanos.
Além de falar na discriminação contra as mulheres, debatia-se também a violência contra
as mulheres como problema social e político. Os movimentos delatavam a discriminação
baseada no gênero e inscrita nas leis, a negligência destas e o descaso policial no registro
de ocorrências de violência doméstica ou sexual. Além disso, denunciavam um trabalho
discriminatório da justiça criminal, com decisões que absolviam homens que agrediam
suas parceiras, legitimando o comportamento masculino (Pessoa, Pessoa & Marques,
2018).
A política de até então deixou impune muitos assassinatos de mulheres sob a
justificativa de legítima defesa da honra. Como exemplo, tem-se o assassinato brutal de
Ângela Maria Fernandes Diniz pelo ex-marido, Raul Fernando de Amaral Street (Doca).
O mesmo não se conformava com o rompimento da relação e acabou por disparar com
um revólver contra o rosto e o crânio de Ângela. O caso foi a julgamento e Doca foi
absolvido com o argumento de haver matado em “legítima defesa da honra”. A imensa
repercussão deste caso na mídia ocasionou numa movimentação de mulheres em torno do
lema: “quem ama não mata”.
Neste sentido, o movimento feminista lutava pelas políticas públicas para
enfrentar a violência contra as mulheres, principalmente para pôr fim a impunidade, o que
fomentou a criação das delegacias de defesa da mulher, possibilitando maior visibilidade
ao problema.
Em 1985, foi criado o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM),
primeiro órgão no Brasil a tratar exclusivamente do direito das mulheres, tendo um papel
importante na elaboração da constituição Federal de 1988 (Silva, 2017).
A partir os diálogos dos movimentos feministas com o Estado surgiram ações
institucionais de prevenção e punição da violência praticada contra as mulheres. Nesta
perspectiva, ocorre a criação de uma delegacia especializada nesse atendimento e, em
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à Violência contra as Mulheres que implicou num acordo federativo entre o governo
federal, os governos dos Estados e dos municípios para o planejamento de ações que
visassem à consolidação de políticas públicas integradas em todo o território nacional
(Brasil, 2011). Estas propostas enfatizaram a relevância de se trabalhar com homens
autores de violência contra as mulheres.
Cabe pontuar que a violência contra a mulher:
a) É um fenômeno que resulta de uma construção histórica a partir
de uma estreita relação com as categorias de gênero, classe e raça/etnia
e suas relações de poder (Pinafi, 2007).
b) Coloca em pauta aquilo que seria exclusivo do privado, das
questões de privacidade familiar para a esfera do serviço público.
c) Está contida na violência de gênero que pode ser identificada em
diferentes espaços, mas, é a violência contra as mulheres no âmbito
doméstico perpetrada por seus companheiros ou respectivos ex’s a sua
forma mais comum; e
d) É um fenômeno que infringe os direitos humanos e ocorre em
escala mundial, independente da classe social e de dimensões como raça
ou etnia, religião, idade ou até mesmo grau de escolaridade (OMS,
2002).
Nesta dissertação, pontua-se que somente a criminalização de homens autores de
violência contra as mulheres por si só não modifica a condição do fenômeno, tendo em
vista que o mesmo envolve atitudes e ações também políticas, sociais, culturais, religiosas
além de outros atravessamentos que inferem na manifestação deste fenômeno.
O interesse por esse tema é fruto de uma experiência de 7 anos com mulheres
vítimas de violência doméstica na SOS Mulher, nas cidades de Taubaté e São José dos
Campos. Durante esse trabalho, eu realizava atendimento psicológico individual e em
grupo com as mulheres.
Naquela instituição, havia equipe multidisciplinar composta por advogados,
sociólogos e assistentes sociais. Profissionais com os quais aprendi em termos de políticas
públicas, leis e encaminhamentos na rede intersetorial, uma vez que durante a minha
formação em Psicologia não tinha tido contato com estes temas.
Minha atuação na SOS Mulher se iniciou em 2003 e terminou em 2010, período
significativo, tendo em vista as implementações de políticas públicas no que tange as
medidas de enfrentamento da situação de violência contra a mulher, sendo o advento da
Lei Maria da Penha em 2006 um marco no contexto brasileiro.
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Maria da Penha Maia Fernandes é cearence, farmacêutica, mãe. Lutou internacionalmente em diversas
esferas para que seu ex-marido viesse a ser condenado por tê-la deixado paraplégica ao tentar matá-la por
duas vezes. No ano de 1983, seu marido, um economista e professor universitário, simulou um assalto, e
atirou com arma de fogo contra ela e, na segunda vez, tentou eletrocutá-la enquanto tomava banho.
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Os documentos provenientes das conferências internacionais sobre direitos das mulheres, como a
Conferência de Viena (1993) e Beijing (1995), a Convenção de Belém do Pará (1994) e outros instrumentos
jurídicos internacionais serviram de base para a elaboração do Projeto de Lei 4.559/04 e, mais tarde, da Lei
11.340/06 (Martins, Cerqueira & Matos 2015).
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doméstico a partir da constatação de que no seio familiar também está presente um tipo
específico de violência. Isso fez com que se oficializasse essa existência de crime, além
de proporcionar respaldo sócio-jurídico para o fenômeno a partir da criação de serviços
direcionados para as famílias.
O Estado brasileiro está incorporando gradativamente as adequações solicitadas
na lei, seja no sistema judiciário, na área psicossocial e da saúde. Para responder a essas
modificações, os profissionais que compõe o trabalho multidisciplinar do enfrentamento
à violência contra as mulheres também se deparam com novas formas de atuar.
As mudanças estruturais pretendidas com a lei objetivam uma série de proteções e
garantias que permitam a preservação da integridade física, moral e patrimonial destas
nas suas relações privadas e íntimas (Martins et al 2015).
Além de políticas públicas integradas, o trabalho no enfrentamento à violência
contra as mulheres demanda a atuação conjunta de diversos profissionais das várias
ciências contempladas na multidisciplinariedade para compreensão do fenômeno. A
capacitação multidisciplinar e a sensibilização dos profissionais que atuam com a
temática torna-se crucial para o alcance de uma intervenção eficiente (Rocha, 2018).
Dentre os profissionais, encontram-se os operadores do direito, da área
psicossocial (psicólogos, assistentes sociais) e da saúde. O trabalho na rede de prevenção
e enfrentamento à violência doméstica demanda a atuação interdisciplinar, na qual as
diferentes áreas estejam em constante contato para trocas e os devidos encaminhamentos.
Com a lei, deixam de existir as penas pecuniárias aos agressores, como o
pagamento de cestas básicas. Esta contempla medidas aplicadas ao homem autor de
agressão:
Artigo 35- A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios
poderão criar e promover, no limite das respectivas competências: V -
centros de educação e de reabilitação para os agressores. [...]
primeiro momento, além de um conhecimento das teorias que embasam a realização dos
mesmos, como os estudos de gênero. Neste sentido, os profissionais necessitam estar
embasados teoricamente sobre as temáticas que são trabalhadas nos encontros como
preconceitos, homofobia, o papel de homem nos diferentes contextos culturais, por
exemplo como é o papel social do homem em países orientais, de tradição mulçumana.
Além das técnicas utilizadas; como o devido tempo para cada integrante falar em grupo,
a postura enquanto facilitador a fim de não se tornar um trabalho num tom de uma palestra
ou de caráter incisivo, e sim encontros de cunho reflexivo. Frente a isso, evidencia-se um
trabalho que exige a devida capacitação do facilitador.
A violência contra a mulher é um fenômeno que resulta de uma construção
histórica a partir de uma estreita relação com as categorias de gênero, classe e raça/etnia
e suas relações de poder (Pinafi, 2006).
Está contida na violência de gênero que pode ser identificada em diferentes
espaços, mas, é a violência contra as mulheres no âmbito doméstico perpetrada por seus
companheiros sua forma mais comum. É um fenômeno que infringe os direitos humanos
e ocorre em escala mundial, independente da classe social e de dimensões como raça ou
etnia, religião, idade ou até mesmo grau de escolaridade (OMS, 2002).
Apresenta-se como um fenômeno que atravessou diferentes momentos sócio-
históricos, adquirindo relevância e visibilidade no final do século XX, trazendo à pauta
aquilo que seria exclusivo do privado, das questões de privacidade familiar para a esfera
do serviço público. Apesar deste tema não ser recente, o mesmo tornou-se caracterizado
como problema público há poucas décadas no Brasil e no mundo. A partir dos anos de
1970 que os direitos das mulheres a uma vida sem violência começaram a se estabelecer.
Entre os anos de 1975 e 1979, muitas mulheres no Brasil se organizaram em grupos e
associações na busca de um diálogo a fim de atender suas demandas. As principais
articulações ocorreram com os sindicatos e as universidades. A partir disso, organizaram-
se manifestações, congressos e debates que tiveram significativo espaço na sociedade, no
que tange políticos e mídia, dando notoriedade às suas reivindicações (Pitanguy, 2002).
Este período designou-se uma dimensão política à questão da opressão feminina
da maneira como propunha o feminismo nos anos 1960 e 1970: “o pessoal é político”.
Esta foi uma das chamadas de maior relevância deste movimento de mulheres (Martins,
Cerqueira & Matos, 2015).
Diversos tratados e convenções começaram a ser aprovados pelas entidades
internacionais de direito e com isso sendo incorporados ao processo de
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2.3 Iniciativas que fazem a diferença: o trabalho com homens autores de violência
A lei 11.340/06 criou mecanismos específicos de responsabilização e educação
para os homens autores de violência, com a possibilidade de o juiz decretar o
comparecimento obrigatório dos condenados nos centros de reeducação.
No caso dos projetos relacionados ao atendimento a homens autores de violência
contra a mulher, destaca-se como órgão que apoiou essas iniciativas a Secretaria Nacional
de Segurança Pública (Senasp) e o Departamento Penitenciário (De-pen) que buscavam
fomentar políticas de penas alternativas (Athala, Amado & Gaudioso, 2013).
Isso ocorreu em 2008, quando foi inaugurado o primeiro Serviço de Educação e
Responsabilização para Homens Autores de Violência contra a Mulher (SERH) em Nova
Iguaçu, Rio de Janeiro (Acosta & Bronz, 2014)
O programa SERH é formado por uma equipe de profissionais qualificados na
realização de grupos reflexivos que sejam capazes de enfrentar os desafios de trabalhar
gênero, masculinidades e violência com a população extremamente heterogênea
frequentadora desses grupos (Athalla, Amado & Gaudioso, 2013).
Cabe ressaltar que anteriormente à lei já ocorria o trabalho em grupo com os
homens agressores no Brasil, porém de forma um tanto isolada e sem visibilidade, dentre
estes tem-se o trabalaho desenvolvido SERH, supracitado. Esses grupos ocorriam a partir
de iniciativas de profissionais estudiosos e militantes da rede de enfrentamento a violência
contra as mulheres. A princípio eram estruturados num contexto informal de forma a
estabelecer alianças destes profissionais com o judiciário para divulgarem o trabalho de
grupo e construírem um fluxo de serviço para os devidos encaminhamentos.
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a lei. A justiça pode influenciar políticas internas e externas as quais insiram questões de
respeito e valorização da mulher, o que abre espaço para o trabalho com os homens
(Granjeiro, 2012).
Este quadro proporciona um espaço para a atuação do psicólogo, atuando de forma
conjugada com o judiciário. A ciência Psicologia traz subsídios para uma intervenção
efetiva nesta área através de técnicas como dinâmicas e o próprio preparo do profissional
no que tange uma escuta diferenciada, possibilitando a sensibilização, reflexão e uma
possível mudança subjetiva nos homens autores de violência.
Ainda assim, quando se pensa nesta atuação conjugada da Psicologia e do
judiciário, no caso o trabalho com os homens, surgem questionamentos em como
proceder, se seria possível a Psicologia adentrar no território jurídico. O último configura-
se com instituições e aspectos mais demarcados em relação à Psicologia, a qual se
apresenta de forma mais flexível, voltando-se para o campo da subjetividade e com isso
propor outros métodos de trabalho (Cordeiro, 2014).
As relações domésticas permeadas pela violência são um problema social e não
serão resolvidos somente com a lei (Beiras, Moraes, Rodrigues & Cantera, 2012).
uma parceria com a Ong NOOS e o CEOM para montar o projeto piloto de atendimento
em grupo a homens autores de violência doméstica contra mulheres. Após este passo, a
equipe do CEOM elaborou uma metodologia através de um grupo de trabalho formado
por assistentes sociais e psicólogos. Duas participantes deste grupo foram designadas para
integrar uma equipe recém- criada, com o objetivo de enfrentar no judiciário a questão da
violência doméstica. Na ocasião, não existia nenhum trabalho como este e foi um grande
desafio abordar um tema tão polêmico. Então, em 2002, iniciou-se, com metodologia
própria, o desenvolvimento do grupo coordenado pelas duas assistentes sociais oriundas
da equipe do CEOM. Com o passar dos anos, com o aumento da equipe técnica e com
acúmulo de experiência, a referida metodologia foi sendo aprimorada, uma vez que está
em contínua construção, atendendo ao público Essas reuniões perduram até os dias atuais,
sendo realizadas semanalmente durante duas horas, com limite de até quinze participantes
e coordenados por dois ou três facilitadores. O desenvolvimento da referida metodologia,
durante a realização dos encontros, não segue um padrão rígido, cada dupla ou trio de
profissionais elege as ferramentas técnicas que avalia mais adequadas para atingir o
objetivo de cada reunião.
Em 2006, enquanto no contexto brasileiro ocorria a promulgação da Lei Maria da
Penha, era publicado um relatório da Secretaria Geral da Organização das Nações Unidas
(ONU) sobre violência contra a mulher apontando a atenção aos homens como uma das
práticas promissoras no enfrentamento dessa forma de violência (Guimarães, 2012).
Já em 2008, foi inaugurado o primeiro Serviço de Educação e Responsabilização
para homens autores de violência contra a Mulher (SERH) em Nova Iguaçu no Rio de
Janeiro. Esta foi a primeira iniciativa na esfera da política pública que colocou em prática
os artigos 35 e 45 da Lei Maria da Penha que prevê a criação de grupos de reflexão para
homens que foram enquadrados na lei (Acosta & Bronz, 2014).
No I Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher na cidade do Rio
de Janeiro, ocorrem grupos com homens autores de violência que contam com
profissionais da psicologia e do serviço social. Neste sentido, realizou-se uma pesquisa
qualitativa, na qual o foco direcionou-se a escutar o discurso dos sujeitos e identificar o
sentido atribuído aos atos violentos, partindo do que estes homens entendem por crime e
transgressão dentro dessa violência específica. Além disso, investigar as causas do
aparente não reconhecimento da Lei Maria da Penha por parte dos sujeitos processados
por mulheres de suas relações amorosas. No que tange aos relatos, a expectativa inicial
desses sujeitos era de que fosse decidido algo contra eles a qualquer momento. No
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decorrer dos encontros, foi possível desconstruir essa ideia, além de sentirem-se mais
abertos para se expressarem. Com isso, ressaltaram que não cogitavam poder falar da
raiva que sentiam do judiciário sem sofrer retaliações. Relataram ficar surpresos pelo fato
dos profissionais os acolherem ao verbalizarem suas histórias de medo, dúvidas ou
desconhecimento. Pois, para alguns, o trabalho dos profissionais neste grupo seria de
testá-los e informar ao juiz suas condutas e possibilidade de reincidências. Com os
resultados obtidos, para alguns a vergonha de ser processado e o fato de ser advertido
pelo Estado foram suficientes para não repetirem as agressões. Para outros, a prisão foi o
limite necessário para se repensar novos lugares a ocupar nessas parcerias. Outro
segmento de homens permaneceu com um discurso no qual buscam por mulheres que
possam se adequar e entender sua maneira de ser (Cordeiro, 2014).
Outro grupo que também acontece é o programa “E Agora José?”, descrito por
Bombini (2017) como um grupo socioeducativo para homens responsabilizados pela lei
Maria da Penha. Iniciou-se em 22 de outubro de 2014 e se concretizou através de um
acordo de cooperação técnica para a execução do inciso V do Art. 35º da Lei Maria da
Penha entre a Secretaria de Políticas para as Mulheres, a Secretaria de Segurança Urbana
e Comunitária, ambas da Prefeitura de Santo André, com a Comarca de Santo André do
Tribunal de Justiça de São Paulo e com a Central de Penas e Medidas Alternativas de
Santo André da Secretaria de Administração Penitenciária do Governo do Estado de São
Paulo.
É notório que a instalação desses grupos depende da mobilização e articulação de
diferentes setores e políticas públicas. Como condições prévias para a efetuação dos
grupos, ocorre a necessidade da integração do programa na rede ampliada de
enfrentamento à violência contra as mulheres, de forma que esses programa de grupos
com os homens seja uma parte do sistema mais amplo de intervenção em prol do
enfrentamento à violência conjugal, devendo estar integrados e alinhados com as ações
de diferentes entidades, instituições e serviços da rede ampliada (Veloso & Natividade,
2013), Nesta perspectiva, tem-se uma prática de atuação que promove um campo aberto
para proposições e práticas a serem adotadas.
Num levantamento realizado entre 2015 e 2016 de programas para homens autores
de violência no Brasil, foram localizados 41 programas nas cinco regiões brasileiras
(Beiras, Nascimento & Incrocci, 2019).
De forma geral, o acesso dos homens é através da via judicial, apesar de não se
restringirem a ela, englobando também vínculos com órgãos não governamentais (Beiras,
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Connell e Pearse (2017) quando se referem aos “agentes de socialização”, como a família,
a escola, os grupos de convivência e a mídia de massas, os quais tomam nas mãos a
criança em desenvolvimento. Através das inúmeras interações, esses agentes transmitem
à menina ou ao menino as “normas “sociais ou expectativas de comportamento. Com isso,
modelos de socialização em papéis sexuais tem por normativo aquilo que é dominante.
A temática de gênero também está presente na interação rotineira. West e
Zimmerman (apud Connel & Pearse, 2017) analisam-na a partir das pessoas envolvidas
em condutas do cotidiano, seja num espectro que varia de conversas e trabalho doméstico
até estilos de interação e comportamento econômico, sendo cobradas no quesito de suas
“categorias sexuais” presumidas como homem ou mulher.
Nesta perspectiva, o gênero não trata apenas de fronteiras, mas também das
desigualdades instauradas na estrutura social. Exemplificando, a maioria das igrejas e
mesquitas é gerida exclusivamente por homens; a maioria da riqueza corporativa mundial
também está nas mãos de homens; nas mudanças e reformas nos locais de trabalho para
promoção de oportunidades igualitárias, alguns homens fazem recusa de submissão à
autoridade de uma mulher; da mesma forma, há categorias inteiras com piadas sobre
loiras, mulheres dirigindo e sogras – baseadas na suposta trivialidade e estupidez das
mulheres (Santos, 2019).
As colocações mostram que os moldes generificados aos quais homens e mulheres
incorporam fazem parte de um repertório que desde cedo ecoa na vida de meninos e
meninas, estruturando um padrão no qual as pessoas funcionam, seja nas atitudes, nos
valores, cuidado com o outro, nas relações de trabalho e familiar. Significados machistas
ainda permanecem em representações sociais de gênero e balizam práticas sexuais e
sociais (Fávero, 2010).
Ainda no que tange as expressões das emoções, reprimir emoções evidencia um
sinal de força e invulnerabilidade associadas a masculinidade. Nessa constância é
internalizada a ideologia de ser agressivo, destemido e invulnerável. A autora salienta o
processo de “doutrinamento” masculino que se inicia na infância e perdura durante a vida
adulta, seja no nível intra como interpessoal, sem haver uma análise consciente, pelos
próprios homens, dos seus efeitos danosos. Em resumo, apresentar-se como não
emocional é central para o aspecto mais masculino de ideologia da masculinidade: “o ser
forte e calado”, o estereótipo do ser invulnerável (Fávero, 2010).
A concepção de masculinidade equivale ao lugar da ação, da decisão e da posição
naturalizada de agente do poder da violência, do comando das guerras e das conquistas
43
o sentido de sua relação com a violência masculina, entretanto, Billand e Molinier (2017)
viram que alguns profissionais se defendem, evitando o quanto for possível o confronto
com as queixas das mulheres e, com isso, posicionam-se a favor de uma forma de divisão
do trabalho: enquanto eles cuidam dos homens, as feministas cuidam das mulheres. Com
isso, quaisquer sejam, as estratégias adotadas por eles, os facilitadores dificilmente
conseguem defender o ponto de vista das mulheres no contexto grupal sem arruinar a sua
relação empática com os homens.
Já Guimarães e Diniz (2017) enfatizam a questão relacional da violência. Neste
sentido, os profissionais devem lançar mão de estratégias criativas para auxiliar homens
e mulheres a identificarem, perceberem e nomearem as anestesias relacionais que
sustentam e naturalizam a violência. Além disso, utilizar-se de ferramentas que podem
questionar lugares fixos como vítima e agressor.
Fávero (2010) defende que a prática psicológica na temática de gênero refere-se a
viabilizar a informação e promover a tomada de consciência a fim de promover as
transformações nos significados explícitos e implícitos em relação ao gênero.
Num primeiro momento, Billand e Molinier (2017) trazem a subjetividade do
profissional como um dos desafios para a efetividade do trabalho. Seus estudos mostram
o reconhecimento de alguns profissionais acerca suas limitações na ordem de gênero e a
implicação disso no trabalho com homens autores de violência e mulheres vítimas de
agressão.
Guimarães e Diniz (2017) enfatizam a questão relacional defendendo uma atuação
na qual se trabalha com vítima e agressor. Já Fávero (2010) foca nas questões de gênero
e sugere um trabalho psicoeducativo como forma de trabalhar os desajustes nas relações
homem e mulher.
Nesta atuação, faz-se necessário o profissional considerar que junto ao modelo
predominante de masculinidade, presente em cada sociedade, existe também modelos
alternativos para reconhecer o que é ser homem. Nessas alternativas de masculinidade, a
violência pode não ser preponderante, sendo importante considerar que individualmente
os homens podem atribuir diferentes sentidos aos padrões de masculinidade.
Trabalhar a relação entre violência e masculinidade sob uma perspectiva
sociocultural e, com isso, desnaturalizá-la, promove um trabalho potente para transformar
o modelo hegemônico de masculinidade, dando voz e vez a outras masculinidades
possíveis. Considerar padrões culturais promove a incorporação de práticas que levam à
reflexão sobre valores e ao que eles geram em termos de condutas (Njaine, Silva,
47
serviços de saúde, como os atendimentos atrelados à justiça. Muitas delas passam várias
vezes pelo sistema de saúde antes de chegarem a uma delegacia ou a um juizado, enquanto
outras nem chegam (IPEA, 2017).
Os sistemas de informação em saúde, apresentam um imenso potencial na geração
de evidências (dados) para o conhecimento do tema e com isso subsídios para as políticas
públicas voltadas a violência contra a mulher (Garcia, Duarte, Freitas & Silva, 2016).
O setor da saúde, assim como as DDMs, apresenta-se também como “porta de
entrada” das mulheres que sofrem agressão pelo companheiro.
As mulheres, num primeiro momento, geralmente recorrem aos profissionais da
saúde com queixas secundárias que possuem como pano de fundo a violência vivenciada.
Segundo Leite et al (2017) não apenas as mulheres como os profissionais de saúde
possuem dificuldade em falar e tratar da violência. Tendo em vista a falta de preparo tanto
dos profissionais como da sociedade num todo, ou seja, das pessoas que circundam o
fenômeno, novamente a situação de violência é mascarada e negligenciada. Isso fica
evidenciado quando esses profissionais não realizam os devidos encaminhamentos, além
de não realizarem uma orientação condizente com a situação da violência.
Em qualquer forma ou expressão, a violência representa ameaça à integridade e
atinge diretamente a saúde e o bem-estar. Trata-se da violência como ruptura de qualquer
forma de integridade da vítima: integridade física, integridade psíquica, integridade
sexual, integridade moral. Apenas a psíquica e a moral situam-se fora do palpável. Nesta
perspectiva, caso a violência psíquica enlouqueça a vítima, feridas do corpo podem ser
tratadas com êxito num grande número de casos (Silva, 2017).
As probabilidades de sucesso, em termos de cura, são muito reduzidas e, em
grande parte dos casos, não se obtém nenhum êxito. Frente a isso, reconhecer o abuso
psicológico costuma ser negligenciado e raramente reconhecido por parte dessas
mulheres. Tal ato, em grande parte, precede a violência física (Saffiotti, 2004).
Em suas primeiras manifestações, como descrevem, o homem parte para a
restrição da liberdade individual da mulher, avançando para o constrangimento e
humilhação. Neste sentido, observa-se uma previsibilidade do fenômeno na dinâmica do
casal (Leite, Amorim, Wehrmeister & Gigante, 2017).
Existe também uma dificuldade de discernimento desta mulher acerca do que seja uma
atitude violenta em si, identificando-a apenas quando palpável, no caso, somente quando
se consolida enquanto agressão física, marcando o corpo de forma visível. Em geral,
diferentes tipos de abuso coexistem no mesmo relacionamento (Relatório Mundial Sobre
49
Violência e Saúde, 2002). A temática traz sérias implicações para a saúde pública
podendo levar diretamente a traumatismos sérios, incapacidades e óbitos e, indiretamente,
a uma gama de implicações de saúde como mudanças fisiológicas induzidas pelo estresse,
uso de substâncias e falta de controle sobre a fertilidade e autonomia pessoal, como
observado frequentemente em relacionamentos abusivos. Isso revela os efeitos da
violência a médio e longo prazo na vida destas mulheres (OMS, 2009).
Ainda assim, para que a rede de atendimento funcione plenamente, é necessário
que ela consiga oferecer opções reais para que a mulher possa sair do ciclo de violência
(Atlas da Violência, 2017).
O fenômeno da violência de forma isolada não é uma questão de saúde pública,
mas afeta fortemente a saúde e acaba, muitas vezes, desembocando neste setor. Aos
profissionais da saúde, faz-se necessário um preparo para identificarem o fenômeno e
contribuírem para a efetividade no trabalho com a vítima. É expressiva a incidência de
mulheres vítimas de violência conjugal que buscam pelo serviço de saúde.
Estudo realizado em abrigo em Fortaleza/Ceará, segundo Amaral, Vasconcelos,
Sá, Silva e Macena (2016), constatou que as mulheres abrigadas neste local trazem marcas
da violência por meio da força física estampada em hematomas e, outras vezes, invisíveis
e imperceptíveis a olho nu, passando despercebidas pela equipe profissional.
Ainda assim, nas próprias unidades de saúde, os profissionais tendem a produzir
informações apenas sobre as lesões e traumas que tratam sem se perguntar pelo fato ou
razão básica que as causou (Brasil, 2005).
Dentre as formas de violência, têm-se as não visíveis e difíceis de identificar: a
violência psicológica e moral, presentes na ordem do subjetivo, imprimindo suas marcas
por uma vida inteira.
O fenômeno da violência contra a mulher extrapola os aspectos físicos e acaba,
muitas vezes, em agravos à saúde mental, relatado em muitas situações pela diminuição
da autoestima, sendo considerada, por muitos profissionais, como silenciosa,
repercutindo de modo avassalador no que concerne aos agravos à saúde da mulher
(Guimarães et al, 2017).
A situação de violência na vida privada pode colocar essas mulheres numa
condição de vulnerabilidade física e emocional, fator desencadeador de doenças. O
contexto da violência contra a mulher constitui fator de risco para o surgimento de
doenças físicas e mentais, podendo levar a pessoa agredida à invalidez parcial ou total ou,
em alguns casos, até a morte (Guimarães et al, 2017).
50
3. Método
A partir da problematização elencada nesta pesquisa, a saber, como o profissional
psicólogo apresenta sua atuação em grupos com homens autores de violência, o método
delineado foi o qualitativo. A seguir serão trazidos alguns autores que esclarecem acerca
da pesquisa qualitativa. No decorrer, a trajetória da pesquisadora para a execução da
metodologia adotada, como acesso aos entrevistados e o caminho para a realização das
entrevistas. Com isso, será descrito o procedimento para a coleta dos dados e por fim a
descrição das etapas para a análise dos dados.
3.1 Delineamento
A pesquisa qualitativa, segundo Minayo (2002), responde a questões muito
particulares, trabalhando com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças,
valores e atitudes, o que remete a um espaço reflexivo de análises das relações entre as
pessoas envolvidas no campo de investigação.
Isso permitiu que eu pudesse, a partir dos relatos que os psicólogos traziam de
suas experiências com os homens autores de violência, identificar temas que se
correlacionavam com os conteúdos de trabalhos que emergiam destes nos encontros em
54
grupo.
Cada entrevistado revelou um modo peculiar de atuação construído ao longo da
experiência com o grupo de homens, como as formas que os mesmos encontravam para
trabalhar com as adversidades oriundas de questões pessoais, sociais, políticas e culturais
daqueles que geralmente eram parceiros íntimos das mulheres. Desta perspectiva, os
profissionais foram apontando o que consideravam como um desafio de sua atividade de
trabalho e expressando seus aspectos subjetivos, como valores e tendências teóricas.
Durantes as entrevistas, alguns psicólogos se estendiam nas falas e demonstravam
interesse e disponibilidade em apresentar seu trabalho enquanto outros foram mais
objetivos nas falas. Cada qual, a sua maneira, ia descortinando para a pesquisadora,
enquanto psicóloga, pesquisadora e mulher, uma Psicologia com a qual ainda não havia
se deparado. Até então, a mesma não havia parado para refletir numa atuação distante do
padrão clínico, um trabalho de psicólogo em que as pessoas a serem atendidas foram
encaminhadas por meio de sentença judicial, uma vez que era compulsório - “não queriam
estar ali” - e que esses argumentos se baseavam em uma construção que não consideravam
seus atos como crime.
A pesquisa qualitativa nesta dissertação permitiu aprofundar questões e reflexões
sobre várias esferas de um contexto de tema de pesquisa. Ao se entrevistar psicólogos que
trabalham com homens autores de violência, passou-se pela questão do exercício
profissional da área da Psicologia, da idéia do homem não se identificar como um
criminoso quando se trata de atos de violência contra as mulheres, que intervenções neste
âmbito podem ser produtivas, que as mulheres passaram por nova fase de direitos de
cidadania adquiridos, como outros elementos estiveram presentes nesta investigação. Este
contexto permitiu a emergência de novos conceitos que ampliassem a compreensão do
comportamento humano. O objeto de estudo não se reduziu a uma varável, mas por meio
da delimitação do objeto, este foi representado em vários aspectos e dentro de seu
contexto cotidiano, com autores como Minayo (2002) e Flick (2009) revelam necessários
numa pesquisa qualitativa.
Outro benefício da abrangência alcançada por este tipo de pesquisa foi que os
entrevistados demonstraram estar implicados com uma série de condições sociais, como
a articulação com a rede de atendimento das áreas de saúde, da assistência e do judiciário,
como com temáticas emergentes, sobretudo referentes às questões de gênero. À medida
que relatavam suas experiências, traziam temas até então desconhecidos pela
pesquisadora neste tipo de atuação. Nesse processo, novos elementos iam se apresentando
55
na pesquisa.
Considera-se que nesta pesquisa qualitativa ocorreu estudo de caso, pois, como
aponta Yin (2002), o foco recaiu sobre um problema contemporâneo e seu contexto de
vida real, numa abrangência alcançada em diferentes condições, ou seja, as questões
relacionadas ao trabalho do psicólogo e suas implicações com gênero não estão inseridas
apenas em um único espectro de verdade. Diversas variáveis estão contidas como valores,
crenças, competências, habilidades, relações e outros. Neste sentido, Shaughnissy,
Zechmuster e Zechmister (2012), trazem os estudos de caso como um tipo de estudo
potencialmente rico de informações sobre os indivíduos, o qual costuma ser exploratório
em natureza e proporciona uma série de hipóteses e ideias sobre o comportamento dos
sujeitos envolvidos.
Isto requer uma descrição e análise intensiva de cada coleta de dados que nesta
pesquisa a princípio focava sobre os homens autores de violência contra as mulheres.
Naquele momento inicial de investigação, a intenção da pesquisadora era realizar a
pesquisa diretamente com os homens que participavam compulsoriamente nos grupos.
O contato inicial ocorreu com o coordenador do grupo “E agora, José?”. A
pesquisadora chegou a ir ao local aonde se realiza os encontros do grupo, era uma quarta-
feira à noite. No entanto, por motivos éticos e normas do grupo, não pôde assistir nem
participar daquela reunião, mas assistiu à movimentação dos homens chegando,
assinando a presença e dirigindo-se a sala do encontro. Ainda teve a oportunidade de
participar durante o intervalo do encontro, do espaço destinado a “hora do café”7.
Esse contato permitiu quebrar estereótipos, pois mesmo que a pesquisa ocorresse
já há alguns meses, ainda carregava a figura estigmatizada do homem autor de violência
como alguém agressivo e descontrolado o tempo todo. No entanto, a quebra de ideias
referentes a estes homens, somente ocorreu quando do primeiro contato frente a frente
com os “condenados pela lei 11.340. Foi neste momento que se percebeu serem homens
comuns, do dia a dia. Aqueles homens não se mostravam violentos ou agressivos, muitos
deles, inclusive eram gentis e educados.
Este período de reflexão foi demasiadamente importante. Como estes homens não
pareciam “animais ferozes”, também poderiam ser vistos por si mesmos e em muitos
momentos por suas parceiras, como não criminosos.
A partir de um novo contato com o coordenador daquele grupo, soube-se que os
7
Intervalo realizado a cada encontro. Cabe ressaltar que o grupo tem duração de duas horas e após uma
hora é realizado esse intervalo.
56
homens participantes dos encontros estavam sob custódia do Estado, pois foram
sentenciados pelo sistema judiciário e era preciso a aprovação do comitê de ética para o
acompanhamento. Neste caso, a Central de Penas8 autoriza ou não qualquer tipo de
pesquisa com as pessoas que estão sob a responsabilidade do sistema. Considerando que
este trâmite levaria no mínimo cerca de seis meses, no caso desta pesquisa, não havia
tempo hábil para isso. Então, numa conversa com o coordenador do referido grupo, surgiu
a possibilidade de realizar a pesquisa com os próprios profissionais de Psicologia que
trabalham com grupos de homens. Inclusive, como este coordenador também era
pesquisador neste âmbito, poderia auxiliar com novos contatos de outros psicólogos da
região delimitada pela pesquisa. Por meio deste primeiro coordenador, o contato dos
demais profissionais participantes da pesquisa foi coletado.
Enquanto isto, para que a pesquisa se iniciasse numa nova perspectiva de quem
seriam os participantes para a coleta de dados, o projeto inicial foi reestruturado e
encaminhado para o Comitê de Ética da Universidade Metodista de São Paulo. Houve a
garantia desta pesquisadora de que os entrevistados assinassem o termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE), sendo tomados os cuidados éticos necessários à realização
da pesquisa junto aos participantes, respeitando o sigilo das informações, a
confidencialidade e o cuidado com a análise e a veiculação dos dados obtidos. Na coleta
das informações, foram considerados os princípios estabelecidos pela resolução n.
466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, que regulamenta a pesquisa envolvendo seres
humanos, de forma a seguir as normas quanto à autonomia, beneficência e justiça. Neste
sentido, os riscos de danos foram pontuados e consignado que os entrevistados poderiam
ausentar-se de qualquer participação se houvesse necessidade ou percepção da
pesquisadora de que a proposta de pesquisa pudesse acarretar ou tivesse acarretado algum
tipo de incômodo a estes. Neste caso, seria disponibilizado os serviços de atendimento
psicológico da Universidade Metodista de São Paulo, na cidade de São Bernardo do
Campo, campus Rudge Ramos. Com isto, o projeto foi aprovado logo no primeiro envio,
sob número 3.208.814, e, assim, deu-se início o contato com o primeiro entrevistado.
Para se chegar à quantidade de profissionais que participaram da pesquisa foi
considerada as informações passadas pelo primeiro coordenador de grupos que a
pesquisadora teve contato e com dados sobre grupos da região da Grande São Paulo e da
cidade de São Paulo.
8
Central de Penas e Medidas Alternativas, comitê de ética do Estado de São Paulo.
57
9
A maioria dos profissionais é oriunda de cursos das Ciências Humanas, como Direito, Psicologia, Ciências
Sociais, Serviço Social. Geralmente, não há impedimentos quanto à participação de outros profissionais de
áreas estranhas às Ciências Humanas, desde que sejam devidamente capacitados em realizar grupos
reflexivos de gênero (Athallah, Amado & Gaudioso, 2013).
58
não verbais, além de possibilitar um melhor entendimento dos significados, dos valores e
das opiniões dos atores sociais sobre situações e vivências pessoais (Fraser & Gondim,
2004).
As entrevistas foram realizadas pessoalmente e individualmente com cada
psicólogo. Com os psicólogos 1 e 3, a duração foi de cerca de 1 hora e 30 minutos, já com
os psicólogos 2 e 4, a duração foi de cerca de 50 minutos.
Neste sentido, quando bem realizadas, as entrevistas possibilitam ao pesquisador
um estudo mais aprofundado, além de ter acesso a informações consistentes que permitem
a descrição e a compreensão das relações que se estabelecem no interior de determinado
grupo, o que seria mais difícil obter a partir de outros instrumentos de coleta de dados
(Duarte, 2004).
10
Criar um clima favorável a fim de reduzir ao mínimo a possibilidade de paralisações e bloqueios do
entrevistado (Ocampo e Arzeno, 1999).
11
Esses vieram de encontro com a pesquisa qualitativa.
60
que se apresentam para se chegar ao todo. Neste movimento, esses fragmentos necessitam
de se comunicarem entre si. À medida que se analisa essas partes com o todo, vão
emergindo sentidos e significados que o próprio fenômeno mostra.
No caso, os entrevistados iam trazendo diferentes aspectos de suas experiências
no trabalho com os homens autores de violência, os quais iam configurando um todo, o
fenômeno.
É por existir um sujeito que se permite conhecer, por outro lado, um objeto que se
volta para o sujeito através de uma relação interativa e implicativa chamada
intencionalidade que se pode dizer algo sobre o real. Não há para a fenomenologia
conhecimento da realidade sem interação. Então, é a partir disto que se estabeleceu a
pesquisa. O pesquisador não tem a designação única de fontes de dados, mas sim, fontes
de impressões fenomênicas que interagem com ele, de maneira direta ou indireta e o
modificam porque lhe oportunizam uma experiência da qual e na qual ele está interessado
(Costa, Castro & Bosco, 2017).
Através desta interação em cada entrevista, à luz da Fenomenologia, ia captando
aspectos trazidos por cada encontro, tecendo uma rede e formando um todo. Neste
processo, os participantes são expressões daquilo que se apresenta como alteridade em
relação aquilo que se pesquisa. A fim de certifica-se num estatuto de cientificidade, sem
correr o risco de cair em um relativismo ou subjetivismo tem-se o método
fenomenológico:1) emersão do fenômeno e tomada de consciência do sujeito no mundo
da vida; 2) a atitude fenomenológica do sujeito; 3) a redução eidética ou transcendental e
4) as sínteses puras da consciência (Husserl 1931/2001 apud Costa, Castro & Bosco ,
2017). Cada dado obtido assume um contorno não linear nem evidente, mas interativo,
interessado e co-presente (Costa, Castro & Bosco, 2017).
Num primeiro momento, faz-se necessário a atitude fenomenológica que implicou
numa tomada de consciência da pesquisadora que interagiu com o fenômeno acerca de
vários fatores que puderam influenciar a apreensão e compreensão do mesmo. A partir
disso, buscou-se identificar os preconceitos e julgamentos, isolá-los e separá-los do
fenômeno, deixando somente a estrutura constitutiva, como foi no episódio do encontro
com os homens autores de violência contra as mulheres, sentenciados que estavam no
grupo. Ao deparar-se com isso, conseguiu novos diálogos com o fenômeno.
Neste sentido, esse método auxiliou uma das entrevistas. Percebeu-se que um dos
entrevistados encontrava-se não disponível, demonstrando um certo cansaço. Isso foi
demonstrado entre uma pergunta e outra quando ele verbalizou por mais de uma vez:
61
“falta muito para acabar?” Nesta passagem, houve empatia e a percepção verbalizada da
pesquisadora de seu cansaço e esforço para conceder aquela entrevista. A partir disso, a
pesquisadora se percebeu mais à vontade, uma vez que se sentiu desconfortável com suas
indagações acerca do tempo que faltava para finalizar. A entrevista transcorreu de forma
mais suave e conseguiu atender aos objetivos da pesquisadora. A autora considera que
sua atitude empática naquele momento foi relevante para o sentido da experiência.
As vivências a partir das entrevistas a permitiu de fato compreender os indicativos
de Amatuzzi (2009), quando descreve que na Fenomenologia não importa para a pesquisa
o conhecimento racional do fenômeno, mas a intencionalidade através do ato de
denunciar, descortinando os significados.
Nesta perspectiva, ao reler as entrevistas percebeu temáticas que se
correlacionavam e foi agrupando por temas. A partir das perguntas norteadoras da
entrevista semiestruturada, optou-se por selecionar cada resposta compatível de todas as
entrevistas. Neste processo, identificou-se que algumas respostas condiziam a outras
perguntas, assim, houve uma segunda organização. Com isso, pegou-se todas as
respostas, vinculando-as às perguntas, uma vez que durante a entrevista ora o entrevistado
voltava a outros temas que não correspondiam àquela pergunta, mas sim à outra.
O passo seguinte, após as distribuições das respostas dos participantes para cada
pergunta, foi observar quais os temas ou assuntos apareciam num determinado conjunto
advindo daquela resposta. Cabe ressaltar que neste período de análises houve diversos
arranjos de compatibilidade e busca por sentidos e significados sobre as seleções de
respostas.
Advindo deste processo, surgiu o primeiro conjunto (grupo 1) de resposta e se
referia a identificação profissional, tempo de formado e instituição de graduação em
Psicologia e instituição na qual realizou a formação. O segundo conjunto (grupo 2)
referia-se à experiência pregressa ao trabalho com o grupo de homens. O terceiro conjunto
(grupo 3) foi referente à percepção do profissional de como o homem autor de violência
contra as mulheres chega no grupo e como analisam suas atividades e desempenho no
decorrer dos encontros. No quarto grupo, (grupo 4) sobre a percepção do profissional
acerca da violência contra as mulheres, sobretudo a conjugal. Já no quinto grupo (grupo
5), os desafios encontrados pelos profissionais, tanto relativos aos aspectos subjetivos dos
próprios profissionais, como os relativos à ordem estrutural do trabalho, como a
articulação com a rede intersetorial para a implementação do trabalho e sua continuidade.
No sexto grupo (grupo 6), a atuação do profissional psicólogo no grupo com homens
62
Com isso, norteada pela fenomenologia e com as leituras das entrevistas sendo
realizadas por diversas vezes foi possível formar arranjos e estabelecer os agrupamentos
de respostas. A seguir, segue a discussão dessses resultados.
4. Resultados e Discussão
4.1 Quem são os psicólogos que trabalham em grupos reflexivos com homens autores
de violência contra as mulheres?
Diante do tema levantado pela pesquisa que se refere à experiência do psicólogo
no trabalho em grupo com homens autores de violência, buscou-se um método que
abrangesse a experiência do profissional inserido na temática em questão. Neste sentido,
a entrevista com cada profissional resultou na descoberta de experiências, atitudes,
pensamentos, sentimentos e dificuldades oriundas dos encontros entre psicólogos e os
homens dos grupos, os quais cometeram o crime de agressão contra as mulheres pautados
na lei 11.340/06 - Maria da Penha.
Os psicólogos entrevistados são todos do sexo masculino. Os mesmos serão
identificados pela numeração de 1 a 4, ordem referente à realização das entrevistas.
65
Universidade Federal
PSICÓLOGO 2 38 anos 15 anos
de Santa Catarina
Universidade
PSICÓLOGO 3 37 anos 14 anos
Metodista/UMESP
12
Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul.
66
meses, com homens autores de violência. Possui uma experiência de 14 anos como
psicólogo em serviços ligados a pessoas em situação de vulnerabilidade na área da saúde
na Fundação Casa13. Fez curso de aprimoramento em álcool e drogas. Atualmente, é
integrante do projeto de um grupo socioeducativo de responsabilização de homens
autores de violência.
O psicólogo 4 iniciou seu trabalho com homens autores de violência já no final da
graduação em 2011 num grupo de direito de mulheres na cidade de São Paulo, onde
permanece até os dias atuais. Fez mestrado e sua dissertação foi sobre os grupos reflexivos
com os homens autores de violência. Começou a realizar palestras e capacitações sobre
as questões de gênero relacionadas à violência contra a mulher.
13
O atendimento aos jovens autores de ato infracional sentenciados com medidas socioeducativas de
privação e restrição de liberdade, no Estado de São Paulo, é feito pela Fundação CASA (Centro de
Atendimento Socioeducativo ao Adolescente). O novo nome da antiga Febem/SP (Fundação Estadual para
o Bem-Estar do Menor de São Paulo) foi alterado pela Lei Estadual nº 12.469/06.
http://justica.sp.gov.br/index.php/entidades-vinculadas/fundacao-casa/
67
14
Ainda que para a autora não signifique que este caráter de consolidação já tenha sido atingido.
69
sociais de ocorrência no cotidiano que ainda não eram abarcados pela Psicologia levaram
os psicólogos a buscarem nas pesquisas capacitações, habilidades e competências para
trabalharem e proporem novas atividades junto à população. O psicólogo 1 também
aponta em sua trajetória acadêmica a relevância de ampliar seus estudos para além da
graduação.
Eu acho que no mestrado foi o lugar que eu consegui os referenciais
teóricos, para desenvolver esse trabalho. Foi no mestrado, fazendo a
minha pesquisa, que eu fui arrumando esse alicerce (Psicólogo 1).
Os psicólogos acima relataram que a vida acadêmica foi um alicerce para o
trabalho em grupo com os homens. No decorrer da atuação profissional, estes foram se
inserindo em eventos científicos, na produção de artigos e livros que eram resultados de
seus trabalhos nos grupos, como também foram refletindo sobre suas atitudes
participativas e atuantes nas temáticas de gênero. Essa representação acadêmica de ambos
exerceu, no cenário brasileiro, acentuada influência no processo de consolidação no
trabalho da Psicologia em grupos com homens autores de violência. Estes psicólogos
tornaram-se referência teórica e prática para a categoria. Isso pode ser elucidado quando
o psicólogo 2 relatou sua autoria na criação e implementação de uma metodologia em
grupos reflexivos de homens autores de violência.
[...] uma iniciativa de produzir metodologia e capacitação para os
sistemas públicos no caso o TJ (Tribunal de Justiça). Esse era um dos
projetos de construção da minha carreira universitária. Aí eu publiquei
a metodologia Noos em 2006, depois saiu o mapeamento que o Instituto
Noos fez, sendo meu primeiro mapeamento neste (sic) ano (Psicólogo
2).
Este psicólogo se refere a uma metodologia na qual a violência entre homens e
mulheres é vista como resultado de um contexto cultural que estabelece relações violentas
e apresenta a participação ativa dos indivíduos em sua constituição. Nesse sentido, a
esfera social está em permanente interação com a subjetividade individual, que se
influenciam mutuamente. Todo o trabalho é realizado no sentido de se evidenciar este
processo e fornecer aos indivíduos maior autonomia na forma de se relacionar com os
demais. É um enfoque inclusivo, que comporta abordagens como as psicológicas,
educativas e vinculadas às teorias de gênero (Beiras & Bronz, 2016).
Os psicólogos 1 e 2 relataram suas experiências num trabalho de articulação com
outras áreas, no caso o Judiciário e as políticas públicas, para a implementação dos grupos
70
com os homens. Neste sentido, tem-se a figura do psicólogo imerso num novo contexto e
atuando também como facilitador de contatos.
Cabe ressaltar que no país os primeiros trabalhos realizados por psicólogos junto
ao Judiciário enfatizaram perícias criminais com diagnósticos no campo da
psicopatologia, os profissionais eram responsáveis em realizar um parecer que
subsidiasse as decisões jurídicas. Para Brito (2012), geralmente os psicólogos não eram
servidores do Judiciário, mas profissionais indicados, somente nos anos 1980, tem-se
notícia da criação do cargo de Psicólogo junto ao Poder Judiciário do Estado de São
Paulo15. Atualmente, embora haja o cargo de psicólogo no Judiciário atuando
principalmente com questões relacionadas à infância e juventude, a temática sobre a
família e as mulheres têm tomado interesse no campo jurídico. Ainda assim, muitos
profissionais prestam serviço neste âmbito, mas não são efetivos deste setor público.
Destaca-se, contudo que o CFP vem usando a designação Psicologia na
interface com a Justiça, a partir do entendimento de que essa expressão
incluiria não só os profissionais lotados nos tribunais, mas também os
que executam trabalhos que são encaminhados ao sistema de Justiça,
ou seja, os psicólogos que não possuem vínculo empregatício com o
Poder Judiciário. Inserem-se aí, portanto, trabalhos realizados por
aqueles que atuam em consultórios clínicos e os que compõem equipes
de outras instituições, convidados ou solicitados a emitir pareceres que
serão anexados aos autos processuais. Nesse último grupo, pode-se
listar, por exemplo, os psicólogos que exercem sua prática profissional
em unidades que executam medidas socioeducativas, em penitenciárias,
em Conselhos Tutelares, em CREAS e em ONGs, entre outros. Tais
explicações também se encontram presentes em algumas indicações
para atuação de profissionais, elaboradas pelo Centro de Referência
Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP), como dispostas
nas Referências Técnicas para Atuação do Psicólogo em Varas de
Família (Brito, 2012).
Os psicólogos da pesquisa não são funcionários públicos lotados no Judiciário,
mas revelam um trabalho que faz esta interface entre Psicologia e Poder Judiciário, uma
vez que os homens autores de violência contra as mulheres diante da penalidade sofrida
são compulsoriamente encaminhados a participarem dos grupos reflexivos. Estes
15
A UERJ foi a primeira universidade em 1986 a ter turma do curso de Especialização em Psicologia
Jurídica (Brito, 2012).
71
encaminhados por decisão proferida pelo juízo competente. Quanto aos custos, os
profissionais facilitadores não são remunerados por este trabalho e o projeto recebe uma
ajuda de custo da justiça, a qual é destinada para a infra estrutura do local aonde é
realizado o grupo.
Quando chega ao programa, ele passa por dois encontros preparatórios,
individuais, em dupla, trio ou quantos vierem. No primeiro encontro, recebe orientações
sobre o funcionamento do grupo e regras de convivência. É aplicada uma escala de gênero
e masculinidades e construído um crachá pelo próprio participante, com o nome que
deseja ser chamado no grupo. É também realizado a leitura de um resumo da Lei Maria
da Penha e explicado seu funcionamento. No segundo encontro, ainda fora dos grupos
principais, é convidado a fazer um relato sobre como chegou ao programa: o ocorrido, a
denúncia, a violência, a situação conjugal e a guarda dos filhos.
Já no terceiro dia de participação, o homem é inserido em um dos dois grupos e
participa das oficinas temáticas, independentemente do tema daquele encontro. Deve
participar de 20 oficinas temáticas, no entanto, dependendo do número de faltas, poderão
vivenciar determinado tema ou repetir outros. Quando completa o ciclo de 20 oficinas,
em seu último dia no grupo, apresenta um relato por escrito sobre sua participação,
realizando a leitura. Neste momento, recebe uma devolutiva dos facilitadores e demais
participantes do grupo.
No decorrer do vigésimo terceiro encontro, já fora do grupo, é realizada uma
entrevista de avaliação na qual é aplicada novamente a escala de gênero e masculinidades
e um questionário com perguntas sobre o perfil do participante. A escala e o questionário
não são avaliados e interpretados individualmente, o questionário proporciona a
elaboração de um perfil geral e a escala estabelece uma comparação entre o discurso de
entrada e de saída dos participantes, permitindo uma percepção sobre os pontos fracos
das oficinas, os aspectos que precisam ser mais enfatizados e temas que precisam ser
reforçados no processo socioeducativo.
Os três últimos encontros são quadrimestrais: 1ª quarta-feira de fevereiro, 1ª
quarta- feira de junho e 1ª quarta-feira de outubro - sempre nessas datas, iniciando na data
mais próxima do final de seu percurso. Nesses encontros, busca-se conversar com esses
homens sobre os resultados das participações, abordando aspectos de como está a vida
pós-grupo, relacionamentos, violências e planos futuros.
Cabe ressaltar que o psicólogo 3 também compõe o mesmo programa do psicólogo
1, sendo um dos facilitadores dos grupos socioeducativos para homens autores de
73
violência.
O psicólogo 4 atua num grupo reflexivo oferecido por uma ONG, grupo aberto,
de fluxo contínuo que vem sendo desenvolvido desde 2009. Assim como os psicólogos 1
e 3, os profissionais facilitadores deste projeto não são remunerados. Este grupo recebe
homens autuados pela Lei Maria da Penha encaminhados pelo Juizado de violência
doméstica e família numa determinada região na cidade de São Paulo. A decisão em
participar desse grupo é livre, podendo, segundo informação que recebem da juíza, terem
uma possível atenuação da pena, caso sejam condenados. É considerado participação no
grupo a frequência contínua de dezesseis encontros semanais, com duração de duas horas.
Como critérios de inclusão: homens autores de violência e réus primários, não serem
portadores de transtornos psiquiátricos ou dependentes de substâncias psicoativas.
vez que aquela visão estigmatizada do agressor foi descortinada, aparecendo um homem
comum, como um “homem da sociedade”.
E trabalhando com os homens, você consegue ver que quem agride,
quem mata as mulheres, são homens da sociedade. Quando a gente vê
no Datena, a gente liga a tv, ele pinta o homem como se fosse o maior
monstro e não, eu trabalho com homens desde 2011 eu nunca vi esse
homem! Eu via de uma forma estigmatizada, quem agride a mulher são
homens da sociedade, são homens comuns, homens da minha família,
homens como meus amigos, são homens com uma referência machista
de masculinidade, referência primitiva. Jornalistas quando vão me
entrevistar perguntam qual o perfil dos homens e eu digo: são homens
de 18 a 78 anos, de todas as cores, tem Boliviano, Peruano, já teve
Americano, de regiões do país, é uma amostra fidedigna dos homens
brasileiros, dos homens que passam no grupo, dos homens de dentro do
grupo, dos homens fora do grupo! O que difere é somente um boletim
de ocorrência, uma amostra extremamente fidedigna. Deixei de vê-los
de forma estigmatizada, como monstros e vejo como homens com uma
amostragem dos homens brasileiros com o que temos de masculinidade,
não vejo como uma patologia, são homens comuns (Psicólogo 4).
Ampliar o olhar sobre o fenômeno e compreender que este homem não é um
agressor a todo o tempo torna-se importante. Assim como ele trouxe a autoria de uma
agressão, possui outras características que também fizeram esta mulher vivenciar bons
momentos na relação conjugal. Assim, o trabalho com os homens autores de agressão
podem ser olhado como uma quebra de paradigmas. que vai além da mulher-vítima e
homem-algoz.
Guimarães (2012) comenta que no campo do judiciário é encontrado uma lógica
binária, na qual o homem é o algoz e a mulher, a vítima. Este pensamento pode dificultar
na promoção de resultados e coloca a necessidade em se pensar na ampliação das
estratégias de ação a fim de potencializar a compreensão do fenômeno da violência,
promovendo mudanças subjetivas e sociais. Tal colocação do autor também pode se fazer
presente na atuação de profissionais da Psicologia, como relatado acima, o que inviabiliza
a efetividade no trabalho de enfrentamento da violência contra a mulher.
Bernardes e Mayorga (2017) colocam a importância para o psicólogo estar atento
ao risco da adoção do sentido essencializado do homem autor de violência, ou seja, a
acepção destes como “inimigos das mulheres” e com isso sendo colocado limites num
processo de transformação no trabalho com os mesmos.
(2014) ao falar que num primeiro momento, o profissional de saúde precisa conhecer as
questões relacionadas ao gênero e sua relação com os tipos mais comuns de violência.
O psicólogo 4 relatou a experiência em grupo como um espaço psicológico para
esses homens conversarem sobre sentimentos e situações pessoais que até então não se
permitiam fazer.
A gente tem que pensar que o caminho é pela socialização que seria
falar dos próprios sentimentos, seria nomear a própria angústia, seria
falar sobre o que você sente. O homem não fala, logo ele tem muita
dificuldade pra falar o que sente, que os homens apresentem os seus
defeitos e isso volta muito como violência, com formas do uso
demasiado de álcool e outras drogas, como forma de aliviar angústia: o
suicídio, quase 80% dos suicídios no Brasil são cometidos por homens
(Psicólogo 4).
O profissional acima colocou a importância destes homens terem um espaço
psicológico para falarem sobre sentimentos, uma vez que quando não há esse lugar de
expressão em suas vidas tornam-se vulneráveis a comportamentos destrutivos como a
violência, uso abusivos de álcool, bem como até o suicídio.
No que tange as expressões das emoções, Fávero (2010) coloca que reprimir
emoções evidencia um sinal de força e invulnerabilidade associadas a masculinidade.
Nessa constância é internalizada a ideologia de ser agressivo, destemido e invulnerável.
A autora salienta o processo de “doutrinamento” masculino que se inicia na infância e
perdura durante a vida adulta, seja no nível intra como interpessoal, sem haver uma
análise consciente, pelos próprios homens, dos seus efeitos danosos. Em resumo,
apresentar-se como não emocional é central para o aspecto mais masculino de ideologia
da masculinidade: “o ser forte e calado”, o estereótipo do ser invulnerável.
Ainda assim, Njaine et al (2014) relatam que a masculinidade hegemônica
costuma ter como pontos centrais a dominação e a heterossexualidade. Tal modelo, tem
como características: a força; o poder sobre os mais fracos (sobre as mulheres ou sobre
outros homens); atividade entendida como o contrário de passividade, inclusive sexual; a
potência; a resistência; a invulnerabilidade.
O psicólogo 1 apontou sua forma de trabalhar nos grupos a questão da
masculinidade e principalmente os valores machistas destes homens.
Geralmente no discurso mesmo, na dinâmica, aí você vai apontando as
contradições, você vai fazendo perceber que isso é uma violência, que
o caráter de ter uma amante é uma violência, então você começa a tirar
ele desse lugar de conforto machista. E os outros também começam a
perceber que esse lugar parece um privilégio. É um privilégio!
(Psicólogo 1)
Outro profissional trouxe que muitos homens no grupo já quebraram alguns
82
16
Termo do inglês cuja tradução é tempo. No caso o momento certo e oportuno.
17
Expressão dos sentimentos reprimidos.
85
preconizada pelo modelo médico, reinventando sua própria prática. Veloso e Natividade
(2013) descrevem que este tipo de trabalho deverá apoiar-se na crença de que as pessoas
têm a capacidade de mudar, promovendo a responsabilização masculina pelo ato
cometido, e pelas consequências destes, bem como o reconhecimento do uso da violência
como uma escolha feita dentro de um leque de possibilidades pacíficas de resolução de
conflito.
defendo que nesse trabalho que se faz com esse homem até esse
momento é o agressor mesmo, às vezes as pessoas perguntam pra mim,
por que chamar de autor de violência? E não, até esse momento é o
agressor! (Psicólogo 1)
Granjeiro (2012) coloca que a instituição judiciária é um órgão normativo e tem
como objetivo julgar e aplicar a lei. A justiça pode influenciar políticas internas e externas
as quais insiram questões de respeito e valorização da mulher, o que abre espaço para o
trabalho com os homens. Tal quadro também proporciona espaço para a atuação da
Psicologia.
O psicólogo 3 também avaliou como positiva a atuação conjunta da Psicologia e
do judiciário, ocorrendo um trabalho complementar entre Psicologia e judiciário, o que
pode resultar na conscientização deste homem de que o mesmo cometeu uma agressão e
que isso se configura em crime. Segundo ele, essa interface promove outro nível de
consciência nos homens.
Eu acho também que no mundo utópico não deveria ter Lei Maria da
Penha. Isso não deveria existir. Mas eu acho que já tinha uma
banalização da violência... então acho que ela entra para colocar essa
questão em outro nível de discussão. Isso provoca uma discussão para
que gere outro nível de consciência. Preciso olhar para isso como
trabalho totalmente desnecessário, mas no contexto que a gente vive,
circula desde a questão da pensão que não é paga, seja agressão mesmo
que aconteça, se não, não haveria feminicídio, acho que sem a lei seria
muito mais caótico, muito mais bárbaro. Acho de somar grupos
educativos para cuidar do agressor, aí é um ponto de transformação!
Tem um homem lá que eu acho que ele tem 15 boletins de ocorrência
por agressão, se você não transformar a cabeça desse cara ele vai chegar
a 30, ele não vai entender a gravidade, ele não vai saber que a ferida
dele, a questão da Maria da Penha, tem que punir, seja prestação de
serviço, seja alguns meses de cadeia, que aí acho que é muito extremo
e acho que as iniciativas de você poder refletir sobre isso faz diferença.
Então acho que como qualquer coisa, ela (a lei Maria da Penha) vai se
aprimorando com o tempo (Psicólogo 3).
Guimarães (2015) quando se refere ao judiciário, coloca que não é ser contra o
aspecto punitivo da lei, mas sim ser contra a generalização da punição para todos os
homens. Com isso, este trabalho pode intervir na redução de reincidências, atuando de
forma preventiva. Isso conduz à necessidade da implementação de ações preventivas e
intervenções psicoeducativas às sanções jurídicas, a fim de que os envolvidos em
situações de violência sejam institucionalmente acolhidos.
Neste tipo de trabalho, Rosa et al (2008) ressaltam que desvelar o universo da
violência conjugal vai além da punição prevista em lei, sendo necessário a
instrumentalização de políticas públicas que incluam esse homem a fim de buscar
medidas mais efetivas no trabalho da violência praticada contra a mulher.
87
conseguir sair daqui sem te falar, vai fazer muita diferença para mim,
porque eu não tinha essa noção que eu poderia agir de uma outra
maneira!” Brincando de entender que muitas vezes você acaba
descontando algumas coisas na questão da violência e agressividade
onde não é o foco (Psicólogo 3).
Quanto ao enfoque e atitudes no trabalho direto com os homens autores de
violência, Veloso e Natividade (2013) descrevem que este tipo de trabalho deverá apoiar-
se na crença de que as pessoas têm a capacidade de mudar, promovendo a
responsabilização masculina pelo ato cometido, e pelas consequências destes, bem como
o reconhecimento do uso da violência como uma escolha feita dentro de um leque de
possibilidades pacíficas de resolução de conflito.
Nesta perspectiva, quando se pensa em possibilidades para solucionar um conflito
que não seja a violência, o trabalho com os homens permite uma ampliação de consciência
a fim de extrair nestes homens outros recursos psíquicos mais evoluídos, como o diálogo.
na minha vida, e o difícil nesse trabalho que ele pega a gente, e a gente
começa a exigir coerência, o machista ele é muito hipócrita, no sentido
de que os homens dizem muitas coisas, mas nas práticas são outras.
Parece que a moral é toda inventada para que as mulheres obedeçam a
moral, que é uma forma de controle das mulheres. No mundo masculino
tem muito disso, esse controle, eu lembro de amigos assim da
adolescência que eu fui encontrar depois de casado, na época eu era
casado, e... como era falado essa coisa da infidelidade, era valorizado
entre os homens (Psicólogo 1).
Logo o psicólogo 4 também trouxe uma reflexão acerca da masculinidade, falando
dos modelos patriarcais e suas influências no comportamento do homem contemporâneo.
São as referências não dos homens do grupo, mas que está no nosso
imaginário, são homens que estão nos livros, nas revistas, na tv, na
internet, e eu diria que assim, são os moldes de uma sociedade patriarcal
que presa por uma virilidade, que pesa os valores do homem, uma
masculinidade dicotômica, ou você é forte ou você é fraco, ou você é
garanhão, pegador, ou você é gay, ou você é pobre ou rico, só existe
preto e branco, não existe a possibilidade de existir cinzas (Psicólogo
4).
O psicólogo 2 comentou as limitações de alguns profissionais os quais capacita
para trabalharem com homens autores de violência. Segundo ele, os mesmos, por muitas
vezes acabam revelando-se presos a comportamentos e pensamentos deterministas no que
diz respeito às questões de gênero.
Então é super necessária a sensibilidade de gênero, desnaturalizar
questões de gênero, entender o que é gênero, esse exercício precisa ser
feito antes, o trabalho do facilitador e o trabalho da equipe, precisa
entender o que eles estão fazendo, parece um trabalho simples, mas não
é. Parece um trabalho que você se sensibiliza vai lá e faz, e não é. A
gente vê com os profissionais que eu capacitei, os profissionais que eu
dei curso, como aquilo tocava eles emocionalmente e eles não sabiam
o que fazer com isso, como as ações deterministas que eles colocam na
mesa e ás vezes não faz sentido pra você, então como lidar com esse
dissenso? Como lidar com essas questões tão marcadas, isso cansa, só
desanima! Às vezes nosso desafio é estar sempre se ressignificando,
com todo tempo que eu trabalho gênero (Psicólogo 2).
Ainda de acordo com o psicólogo 2, o mesmo comentou que em algumas situações
se flagrou utilizando de conteúdos machistas e do desafio constante em suplantar isso.
Eu entendo que eu não tô (sic) isento de ser machista só porque eu
trabalho com homem. Entendo que eu estou ressignificando, atento,
procurando conscientizar, mudar, me comprometendo a mudar, mas o
impulso social e o normativo é tão grande, que a gente escorrega.
Escorrega sem perceber, não é pra (sic) justificar que eu faça, mas tento
observar, mudar e me comprometendo a mudar. E outra questão é de
não ser bélico, quando alguém te fala isso e poder receber. Quando
alguém te fala isso, entender como uma crítica construtiva. Às vezes
não é fácil porque a pessoa também vem com uma forma bélica. O
confronto tá (sic) muito forte hoje. Eu tenho tentado trabalhar com
práticas que sejam mais colaborativas, que vão entender esse lugar de
mediar conflitos e de centros, isso tem sido um desafio (Psicólogo 2).
O psicólogo 2 traz também reflexões da sua história de vida sobre masculinidades
90
ano de prisão ele pode pegar e vem pro grupo também como uma forma
de reflexão destes comportamentos. E aí que a gente começou,
chegamos no “E agora José” toda essa história foi pra contextualizar
(Psicólogo 1).
Neste relato, o psicólogo 1 descreveu os passos a partir dos contatos na rede para
a implementação do trabalho, o que denota diferentes serviços envolvidos e uma postura
ativa e ao mesmo tempo paciente do profissional para atingir seu objetivo.
Hoje, nós estamos fazendo um convênio de 5 anos entre UFSC
(Universidade Federal de Santa Catarina) e TJ (Tribunal de Justiça)
para que a gente faça grupo de homens na universidade em parceira com
o TJ, eles passam um diálogo de violência doméstica pra gente e
começamos a capacitar os psicólogos que trabalham no tribunal para
trabalhar dali conosco e o projeto dentro da universidade de ampliar
essas questões começam surgir agora. Paralelamente, eu tinha feito com
o Noos (Instituto de Estudos) algumas ações de capacitação com a
polícia Civil do Espírito Santo, eles procuraram, chamaram pra fazer
uma palestra e depois o curso, e paralelamente eu capacitei, ofereci
umas capacitações gratuitas para o CREAS que trabalha com homens
em Santa Catarina, mas especialmente e em Florianópolis (Psicólogo
2).
O psicólogo 2 também relata essa articulação com a rede, no entanto de uma forma
diferente do psicólogo 1, pois o primeiro está no âmbito acadêmico e isso promove uma
outra forma de divulgação do trabalho com os homens autores de violência. Neste sentido,
o psicólogo 2 está focado na promoção da capacitação dos profissionais psicólogos que
irão atuar neste trabalho. Ambos possuem o mesmo fim implantar e propagar a atuação
do trabalho em grupo com homens autores de violência, no entanto os meios de diferem.
Faz-se notório a postura de ambos de propagarem este trabalho para as outros segmentos
e a articulação destes com o judiciário.
Frente aos relatos dos 4 profissionais psicólogos, obsevamos que a atuação com
homens autores de violência está permeada por fatores que vão desde a subjetividade dos
prórpios profissonais, principalmente no que tange a condição de homens, até a
participação de uma nova maneira de atuar num trabalho integrado com o judiciário.
Revelaram que nas experiências dos encontros em grupos com os homens autores de
violência possuem nas ferramentas da psicologia enquanto ciência segurança e respaldo
teórico para alcançar efetividade neste trabalho.
5. Conclusão
Ocorrência18”.
Quanto às questões subjetivas que emergem nesta atuação com o grupo de homens
autores de violência, um psicólogo revelou que consegue se identificar como um homem
que esteve imbuído de conteúdos machistas, sobretudo demarcando seu passado, sendo
que o trabalho na atualidade o fez resgatar desta postura e, de certa forma, entender a
expressão dos homens do grupo a partir desses valores. No entanto, salienta a importância
da atitude de um facilitador perante esses homens e o quanto esse tipo de trabalho exigiu
coerência de si nas suas relações pessoais, estando sempre atento a rever seus
posicionamentos e não repetir os valores machistas do passado.
A necessidade da inserção de temas transversais na formação do psicólogo, como
os temas de gênero, fez-se relevante e algo a ser pensado. Os participantes foram
unânimes ao enfatizarem a importância de se entender sobre as questões de gênero para
a execução deste tipo de trabalho. Um participante trouxe que já na graduação teve
contato com essa temática, uma vez que a instituição na qual se graduou possui uma
emergência forte sobre temas relativos ao gênero. Já outro participante relatou a
importância de os cursos de Psicologia apresentarem em sua grade essa temática, uma
vez que a grande maioria destes cursos ainda não possui os temas relacionados a gênero
em suas disciplinas.
Ainda sobre temas transversais necessários a formação do psicólogo, em 2020, os
profissionais, ao discorrerem acerca as experiências profissionais pregressas, trouxeram
o trabalho em grupo com pessoas em situação de vulnerabilidade. Neste sentido,
relataram uma atuação fora do tradicional modelo de atuação clínica, envolvendo o
trabalho com grupos, bem como estudos voltados para a temática de gênero. Neste
âmbito, o processo de formação em Psicologia se evidenciou como relevante no sentido
de facilitar as atuações profissionais. A Psicologia facilitou, pois de acordo com estes, as
técnicas e ferramentas que a Psicologia traz enquanto ciência torna- se primordial para a
interação do profissional com o grupo e facilita o processo de reflexão dos homens autores
de violência. Dentre os subsídios que a Psicologia fornece, destacam-se: a escuta para
conseguir identificar que num primeiro momento os homens chegam defensivos, uma vez
que negam serem autores dos atos de violência. Chegam com uma postura vitimista, não
disponíveis para escutar o outro. Descreveram que neste momento, alguns colegas, que
não têm a formação em Psicologia, não possuem a percepção desse processo, dando um
18
Documento oficial utilizado pelos órgãos da Polícia Civial e pelas Policias Militares para fazer o registro
da notícia do crime. https://www.delegaciaeletronica.policiacivil.sp.gov.br/ssp-de-cidadao/home
96
outro direcionamento ao grupo, algo como uma de palestra de cunho educativo ou mais
incisivo o que inviabiliza o processo de reflexão do homem no grupo.
Ainda que tenham feito o curso de Psicologia, os profissionais também
reconhecem as dificuldades pessoais em algumas situações, como em discussões
religiosas, como um dos psicólogos que relatou o fato de estar diante de questões
religiosas trazidas por alguns homens, as quais se relacionam a uma postura rígida e
alienada bem como falas homofóbicas, tendo certa dificuldade na condução da discussão,
deixando para o colega coordená-la com o grupo. Embora tenha dificuldades, reconhece
suas limitações. Assim, revelam a necessidade de sempre se questionarem sobre as
atuações e buscarem relacionar teoria e prática. Inclusive, o trabalho em rede favorece o
desenvolvimento profissional.
O contato com a rede intersetorial possibilita aos profissionais uma compreensão
sobre políticas públicas direcionadas a este âmbito de intervenção e de como funciona a
rede de serviços até que este homem chegue ao grupo. Isso se apresenta como um dos
diferenciais nesta nova forma de atuar. Dois participantes destacaram-se por uma postura
atuante no que tange a articulação com a rede de serviços principalmente na esfera do
judiciário.
O contato com os homens autores de violência permitiu aos psicólogos ampliarem
o olhar sobre a complexidade da violência contra as mulheres, incluindo, assim, o caráter
humano e sensível se faz presente e eles têm consciência disso. Um dos participantes
relatou que ao atender os homens prefere não ter acesso ao delito cometido, pois sabe que
isso pode influenciar na sua abordagem. Já outro psicólogo falou de sua dificuldade nas
suas palavras com o “machômetro”, ou seja, homens que atuam no grupo exaltando seus
valores machistas com a finalidade de impressionar os demais. Neste sentido, cada um à
sua maneira, nos encontros com os homens, vai se deparando com conteúdos subjetivos,
num processo de se conhecer e ressignificar valores, principalmente aqueles relacionados
a própria masculinidade.
No que se refere à percepção dos psicólogos referentes aos homens nos grupos
sobre suas atividades e desempenho, expressam a transformação destes ao longo dos
encontros. Depois de alguns encontros, relataram que os homens mostram-se mais
abertos, receptivos às orientações, escutam o que outros integrantes dizem e iniciam um
processo de compartilhar experiências em grupo. É neste momento que começam a
expressar sentimentos e afetos até então, para muitos, nunca permitidos por eles mesmos,
por uma questão cultural, na qual a condição de homem não lhes permitia. O psicólogo
97
atua como quem auxilia o grupo a construir este espaço psicológico de descoberta e
reflexão na vida destes homens. O foco para os integrantes que a princípio estava em
defender-se da denominação autor de violência, vai tomando outra direção, possibilitando
discussões que promovam o pensar sobre a condição de homem no casamento, no
trabalho, nas relações. Sem que esses homens percebam, existe um potente trabalho que
está tocando sensivelmente em valores transgeracionais que moldaram pessoas com
crenças machistas, desembocando em relações afetivas permeadas pela agressão.
Segundo fala um dos relatos de psicólogo “é trabalho muito potente” e de fato,
frente às experiências trazidas, evidencia-se um trabalho capaz de transformar as bases
da violência contra as mulheres, promovendo reflexão e consequentemente uma
reeducação nos homens, interrompendo a cadeia da violência na vida destes que tinham
na violência o único recurso para solucionar conflitos.
Os psicólogos revelaram que não recebem remuneração pela atividade. A
interface entre Psicologia e Judiciário é uma constante nesta atuação, ainda que ocorrendo
encontros e desencontros. Outro exemplo desta situação é referente ao número de
encontros nos quais os homens devem se inserir. Este número não está estipulado para os
encontros e é um ponto de divergência entre os psicólogos e outros profissionais
envolvidos, principalmente aqueles da esfera judiciária. Os psicólogos enfatizaram a
necessidade de uma padronização para 20 encontros grupais. No entanto, deparam-se com
situações nas quais profissionais de outras áreas inseridos neste trabalho defendem e
atuam a partir de 8 sessões por exemplo.
Portanto, entre acertos e dificuldades, o trabalho de psicólogos em grupos de
homens autores de violência mostrou-se relevante no que compete ao enfrentamento da
violência de gênero, tendo como consequência homens agressores de mulheres que
geralmente são suas parceiras íntimas. Neste contexto, a Psicologia contribui em revelar
que uma atuação que reelabore relações humanas é efetiva no combate a violência.
Somente a punição das leis, numa perspectiva exclusivamente punitiva, não transforma
atitudes e comportamentos. O trabalho dos psicólogos mostra-se efetivo nestas
considerações, além de que, nesta atuação profissional, também se está trabalhando com
as mulheres, uma vez que contribui para a diminuição de reincidência dos casos de
violência contra as mulheres tanto em relacionamentos atuais como em futuros.
Ao se debruçar sobre este tema, esta pesquisa permitiu olhar o profissional
psicólogo numa condição mais livre e menos engessada, que vem se desvencilhando dos
tradicionais modelos clínico e biomédico, os quais são imbuídos das certezas que esses
98
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http://periodicos. ufpb.br/ojs2/index.php/ged/index
110
Apêndice
Eu _______________________________________________________________
aceito participar voluntariamente do estudo “A atuação do psicólogo com homens autores
de violência”, que tem como objetivo:
Para que os objetivos sejam atingidos é necessário a permissão do participante para que
a pesquisadora grave a entrevista.
____________________________,______________ de 2019.
_________________________________________________
Assinatura da Participante
Nome:
_______________________________________________
Raquel Gagliotti Coppola/ Pesquisadora
_______________________________________________
Orientadora responsável Rosa Maria Frugoli
112
Anexo A
1) Identificação Nome:
Idade:
Instituição de graduação em Psicologia:
Tempo de formado:
2) Como foi sua trajetória profissional até chegar no trabalho com o grupo de
homens?
4) Fale sobre o fluxo da rede por qual esses homens passam até chegarem no grupo
que vocês facilitam.
5) Na sua opinião, como a Psicologia pode contribuir no trabalho com esses homens?
7) Como você percebia o homem autor de violência antes deste trabalho em grupo?
E hoje, como você o percebe?
113
Anexo B
PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP
Objetivo da Pesquisa:
O objetivo principal da pesquisa "Analisar a percepção dos profissionais facilitadores
sobre as experiências de homens autores de agressão conjugal nos grupos sócio
educativos", com seu desdobramento nos objetivos específicos, está bem claro e
amparado num conjunto de metodologias e referencial teórico que permitiram o seu
alcance.
Recomendações:
Não há recomendações.
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Assinado por: Dario Paulo Barrera Rivera (Coordenador(a))