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Projeto Esperançar: Uma experiência de trabalho com um grupo reflexivo de homens

autores de violência contra mulher


Roseli Alves Amaral Sobrinho¹. Camilly Franca da Cruz¹. Guilherme dos Santos Teixeira¹. Joanne Barbosa
Nascimento¹ Maria Eduarda Gonzaga Kruschewsky¹ Tiala Dourado de Brito¹ Thiago Luan dos Santos Alves¹ Andreza
Maia Silva Barbosa² Fabiana Maria de Souza³

¹ Graduandas do curso Bacharelado em Psicologia, FAI, Irecê – Bahia, Brasil;


²Mestra em Psicologia (UNIVASF) e Docente da FAI
³Mestranda em Psicologia da Saúde -UFBA, Psicóloga e Docente da FAI

*E-mail: 20202367@faifaculdade.com.br

A violência doméstica e familiar contra a mulher é um dos problemas mais preocupantes da atualidade, de modo que as taxas
de violência praticadas por parceiros íntimos permanecem consistentes em todo o mundo. Nesse sentido, o Brasil promulgou a
Lei nº 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, a qual trata especificamente da proteção integral a mulheres vítimas
de violência doméstica e familiar. Essa Lei propõe, dentre outras medidas protetivas de urgência, o acompanhamento
psicossocial do agressor, por meio de atendimento individual e/ou em grupo de apoio. Assim, surge a proposta do Projeto
Esperançar, um grupo reflexivo para homens autores de violência contra a mulher, que visa auxiliar no seu processo de
responsabilização e na ressignificação dos modos de se relacionar, promovendo reflexões acerca da violência, e de como os
autores são afetados pela cultura do machismo e de ideias patriarcais, ainda muito marcantes na sociedade contemporânea, que
acabam por influenciar no ciclo da violência. Para tanto, objetivou-se discutir as atividades realizadas no Projeto Esperançar:
grupo reflexivo de homens autores de violência contra a mulher no semestre 2023.2. Quanto à metodologia, o presente estudo
consiste em um relato de experiência, de caráter descritivo e abordagem qualitativa, que apresenta os resultados observados a
partir da realização desses encontros. Para a execução do projeto, foram organizadas cinco etapas: a primeira consiste na atuação
em conjunto do Núcleo Especializado de Atendimento à Mulher (NEAM), o Ministério Público e Tribunal de Justiça, realizando
encaminhamentos de homens autores de violência doméstica e familiar para a Clínica-Escola de Psicologia da Faculdade Irecê.
Em um segundo momento o encaminhado passa por uma entrevista de acolhimento e triagem, e caso se encaixe nos critérios
do projeto, é direcionado aos encontros. No terceiro momento, ocorre o planejamento das atividades com a supervisão das
professoras/coordenadoras do projeto e a preparação dos estagiários para a condução dos encontros. Na quarta etapa ocorrem
os grupos reflexivos, organizados em cinco encontros de frequência semanal, com metodologias participativas e ativas,
perguntas reflexivas, uso de atividades lúdicas que trabalham as ressignificações sobre a construção social de masculinidades,
partindo da perspectiva de gênero e de teorias feministas contemporâneas, com abordagem crítica e reflexiva, que contemplem
direitos humanos, igualdade de gênero, interseccionalidades, diversidades e desconstrução do patriarcado, da homofobia e da
transfobia, com vistas a evitar a naturalização, banalização e legitimação social das violências de gênero e problematizar como
os diversos marcadores da diferença contribuem para as desigualdades sociais. Por fim, na quinta e última etapa, após o
encerramento dos grupos, caso seja verificada a necessidade, são realizados os devidos encaminhamentos para atendimentos
psicoterápicos individuais na própria Clínica-Escola de Psicologia, dando continuidade à assistência ou para outros serviços da
Rede de Assistência do Município. Como resultados da realização dos grupos reflexivos percebe-se que nos encontros iniciais
existe uma resistência acompanhada de questionamentos sobre o porquê precisam fazer parte dessas reuniões, visto que,
entender sobre o tipo de violência (para além da violência física) que cada um cometeu, é um processo lento, o qual exige que
as transmissões de informações sejam passadas de maneira clara e objetiva, ao passo em que os participantes percebam sua
autoria, e sobre o que os levou a compor o grupo, auxiliando também na desconstrução e ressignificação acerca dos elementos
sociais e culturais que permeiam as suas relações. Conclui-se portanto, a necessidade do Projeto, uma vez que através dele, é
oportunizado intervir no outro lado das histórias, auxiliando na prevenção de violências, bem como, promovendo a reflexão, a
responsabilização e a possível transformação desses homens que irão retornar para a sociedade a partir de um novo lugar e de
um novo discurso. São identificadas dificuldades referentes ao perfil social dos participantes e suas diversidades, além de ser
verificada a necessidade de ampliação dos encontros, de modo a possibilitar o aprofundamento das discussões.

Palavras-chave: Grupo reflexivo, Violência, Mulher, Masculinidades.

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