Você está na página 1de 49

CENTRO UNIVERSITÁRIO FAMETRO

CURSO DE PSICOLOGIA

ERIKA OLIVEIRA DA SILVA

VAMOS ESTAR COM O PUNHO CERRADO FALANDO DE NOSSA EXISTÊNCIA


CONTRA OS MANDOS E DESMANDOS QUE AFETAM NOSSAS VIDAS¹:

UMA ANALISE FENOMENOLÓGICA-EXISTENCIAL DA VIVÊNCIA DA


DISCRIMINAÇÃO RACIAL NA PERSPECTIVA DE MULHERES NEGRAS

Manaus /AM
2019

1
ERIKA OLIVEIRA DA SILVA

VAMOS ESTAR COM O PUNHO CERRADO FALANDO DE NOSSA EXISTÊNCIA


CONTRA OS MANDOS E DESMANDOS QUE AFETAM NOSSAS VIDAS¹:

UMA ANALISE FENOMENOLÓGICA-EXISTENCIAL DA VIVÊNCIA DA


DISCRIMINAÇÃO RACIAL NA PERSPECTIVA DE MULHERES NEGRAS

Trabalho de conclusão de
curso, apresentado como requisito
para orientação do titulo de Bacharel
em psicologia pelo Centro
Universitário de Manaus –
FAMETRO.

Orientador: Prof. Me. Cleison Guimarães Pimentel.

Manaus /AM
2019

2
FOLHA DE APROVAÇÃO

ERIKA OLIVEIRA DA SILVA

VAMOS ESTAR COM O PUNHO CERRADO FALANDO DE NOSSA EXISTÊNCIA


CONTRA OS MANDOS E DESMANDOS QUE AFETAM NOSSAS VIDAS¹:

UMA ANALISE FENOMENOLÓGICA-EXISTENCIAL DA VIVÊNDIA DA


DISCRIMINAÇÃO RACIAL NA PERSPECTIVA DE MULHERES NEGRAS

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao


Curso de Psicologia do Centro Universitário de Manaus
(FAMETRO), como requisito parcial a obtenção do grau
de Bacharel em Psicologia – Formação do Psicólogo.

Aprovado em: __/__/__

MEMBROS DA BANCA EXAMINADORA.


Prof.° Me. Cleison Guimarães Pimentel.
Centro Universitário de Manaus –
Assinatura___________________________________________________________
_______________________________
Centro universitário de Manaus – Assinatura
___________________________________________________________________
_______________________
Centro universitário de Manaus – Assinatura
___________________________________________________________________
_______________________

3
DEDICATÓRIA

Ao meu pai Elias Nogueira (in


memorian), não está mais entre nós, mas
se faz presente todos os dias em meus
pensamentos, obrigada por tudo.

4
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, minha mãe Maria Fotunata, que após o falecimento do meu
pai, triplicou sua garra e permaneceu sendo a base da família, obrigada por todo
esforço e ajuda que me deste nessa jornada, sem você eu não conseguiria.

Ao mestre e orientador Cleison Guimarães Pimentel, eu não poderia ter


escolhido alguém melhor para me auxiliar, obrigada pelos ensinamentos que me
passaste, pela paciência. Tu és sem duvidas, o exemplo de profissional que eu
quero seguir.

Aos meus amigos, que são minha família, agradeço por vezes compreender
a ausência, as prioridades, por me incentivarem. Aos amigos que fiz no decorrer do
curso, a Daylla Soares (in memorian) começamos esse sonho juntas e por forças
maiores, não estás mais entre nós, saudade eterna. Agradeço em especial a Tainá
Oliveira, obrigada por caminhar comigo nessa jornada, por ter segurado minha mão
sempre que eu me via perdida.

Gratidão a todas as forças que me guiaram e protegeram até aqui.

5
“Minha luta diária é para ser
reconhecida como sujeito, impor
minha existência numa sociedade
que insiste em negá-la.”
Djamila Ribeiro

6
RESUMO
O presente trabalho analisa a relação do racismo que a mulher negra sofre
durante sua vida e sua perspectiva frente a isso, como interfere e deixam marcas em
diferentes situações, marcas essas que perpassam gerações. Um dos objetivos
dessa pesquisa é abranger através das pesquisas feitas as turbulências que uma
mulher negra pode passar por conta de sua cor e sexo, através de entrevistas foi
possível também realizar um levantamento qualitativo com método fenomenológico
de pesquisa em psicologia, revelando assim o grande impacto da luta pela
sobrevivência em um mundo historicamente racista. Sendo assim possível
compreender o sentido que essas mulheres atribuem ao racismo vivenciado e o
sofrimento que lhes causa.
Palavras-chave: Racismo, mulher, negra, psicologia, fenomenologia.

7
SUMÁRIO

1. REFLEXIVO...........................................................................9
2. INTRODUÇÃO........................................................................11
3. OBJETIVO.............................................................................14
4. MARCO TEÓRICO.................................................................15
4.1 RACISMO NO BRASIL..........................................................15
4.2 RACISMO CONTRA MULHER NEGRA..................................17
4.3 O QUE É SER NEGRA NO BRASIL......................................19
4.3.1 A ESTÉTICA DA MULHER NEGRA..................................19
4.3.2 HIPERSEXUALIZAÇÃO DA MULHER NEGRA.................20
4.3.3 RELACIONAMENTO DA MULHER NEGRA......................21
4.3.4 MULHER NEGRA E O MERCADO DE TRABALHO..........23
4.3.5 RACISMO, MULHERES NEGRAS E SAÚDE MENTAL.....24
4.4 CONTRIBUIÇÕES DO PSICOLOGO NO COMBATE AO
RACISMO............................................................................25
5. FENOMENOLOGIA..............................................................26
6. METODOLOGIA...................................................................30
6.1 MÉTODO DE ANALISE FENOMENOLOGICA......................31
7. CATEGORIA DE ANALISE...................................................33
7.1 MEDO DE FICAR SÓ...........................................................33
7.2 ESTÉTICA...........................................................................35
7.3 PERCEPÇÃO DO OUTRO...................................................37
7.4 SE AUTOCONHECER COMO MULHER NEGRA..................38
8. SINTESE COMPREENSIVA.................................................40
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................42
10. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS......................................44
11. ANEXOS..............................................................................48

8
1. REFLEXIVO

Desde pequena ouvia minha mãe falar que eu não era preta, principalmente
quando era alguém que falava isso, não importava se era da família ou não, falava
que era “morena cor de jambo”, eu nem sabia se aquela cor realmente existia, eu
ficava muito sem graça quando ela corrigia as pessoas falando isso na minha frente,
eu ficava me perguntando quão ruim era ser preta, pessoas da família tiravam
“brincadeiras” pelo fato de eu ser de outra cor, falavam que eu era mais “escurinha”
comparado ao resto da família, e o motivo poderia ser que eu não fosse da família
mas sim adotada, entre risadas forçadas e um silencio desconcertante eu tentava de
todas as formas transparecer que estava tudo bem, aceitava as brincadeiras, dava
algumas respostas esfarrapadas e tentava mudar de assunto, e deixava aquele
assunto ali dentro de mim pra morrer, mas não morria, e pra falar a verdade ele é
tão vivo que as vezes eu realmente chego a me questionar se sou adotada mesmo
ou não.
Na escola não foi diferente, eu ouvia as piadinhas que faziam comigo, sobre
minha cor, e relevava, as vezes ria, aquele sorriso sem graça só pra não demonstrar
que fiquei afetada, as vezes rebatia com algum xingamento ou bagunçando com
algum defeito da pessoa, só pra não me sentir por baixo, eu não via aquilo como
racismo, via aquilo como uma brincadeira que muitas vezes eu não achava legal,
mas tudo bem porque era meus amigos, era só uma piadinha estava tudo bem
deixar pra lá e fingir que não me importava, não me recordo de ter passado por uma
situação mais constrangedora ou de agressão verbal ou física vinda de algum
desconhecido por conta da minha cor, então eu achava que nunca tinha passado
por tal situação.
Ficava me questionando o porquê de tanto ódio a outro alguém por conta de
sua cor, o porquê de em nossa sociedade existir tantas frases e definições
relacionadas a cor preta, que são vistas como algo ruim, acredito que depois que
entrei para faculdade meus olhos se abriram mais ainda pra isso, percebi que ser
negro no mundo é uma coisa bem difícil desde que você nasce, ser mulher negra, é
mais complicado ainda, aos poucos também senti certos “racismos sutis” aqueles
que na verdade sempre estiveram presentes através das brincadeiras e
comparações de mau gosto, comecei a me interessar pela busca em minhas redes

9
sociais de referências que representassem quem eu sou, pois percebi que no meu
leque de pesquisas o que prevalecia era aquele modelo padrão de famosas que são
vistas e colocadas como a beleza verdadeira, entendi que acompanhar esse tipo de
coisa me causava um certo tipo de angustia pois eu acabava sim me comparando, e
muitas vezes a angustia só aumentava ainda mais por perceber que eu estava me
comparando e não tinha forças para me amar como sou, a partir disso fui tomando
mais conhecimento e percepção das adversidades sofridas por conta de nossa cor.
Pouco sei ainda de todo valor existente na minha raça, percebi que era um
assunto pouco comentado, por conta de viver em um país racista, por que talvez,
assim como eu, muitas mulheres se sintam tímidas para falar ou se impor sobre tal
assunto, cheguei à conclusão que não queria mais me esconder e nem evitar o
assunto, nem levar na esportiva certas “brincadeiras”, percebo que cada vez
mulheres negras vem ganhando espaço, poder de fala, ainda que eu sinta que todas
as referências, matérias, livros e artigos falando sobre isso sejam poucos, acredito
num futuro melhor e com mais igualdade. O tema de escolha para meu projeto não
poderia ser outro que não fosse a busca por mais visibilidade social, luta para a
igualdade de raças e combate ao sofrimento psíquico vivenciado pela mulher negra.

10
¹ Frase dia pela vereadora Marielle Franco em 08 de março de 2018 no plenário da Câmara
dos Vereadores do Rio de Janeiro em homenagem ao Dia Internacional da Mulher.

2. INTRODUÇÃO

O racismo é um assunto enraizado em nossa cultura, dificultando um diálogo


entre os diferentes grupos que existe no Brasil, fica dividido entre a identidade do
que é ser negro e do que é ser branco, onde o primeiro grupo é baseado em
estereótipos negativos e o segundo em estereótipos positivos. A mulher, de
nascença, já recebe vários tabus e discriminação, sendo tratada muitas vezes como
inferior, a mulher negra, é triplamente discriminada: por ser mulher, por ser negra e
por sua classe social, já sofremos bem mais por receber a “marca” do estigma, a cor
da pele é utilizada como principal elemento para atribuições negativas, abusos e
humilhações que refletem em um sofrimento psíquico.
Desde os tempos antigos, na escravidão, a mulher negra tem o corpo
e a cor da pele associados a objeto de uso, naquela época era associado a três
coisas: o prazer sexual, serviçal da casa e o cuidado com as crianças, os senhores
das fazendas as abusavam e as descartavam com frequência. A luta começa a partir
da menor idade, quando a mulher preta, ainda menina, precisa de esforços para se
sentir mais bonitas, porque socialmente a negra mal arrumada é visto como
desleixada, crescendo e tendo de lutar para ser reconhecida e valorizada como
pertencente de um meio social. O racismo produz diferentes formas de adoecimento
e provoca distorções na construção da identidade negra; compreender como ele
atua no psiquismo das raças envolvidas e encontrar formas de superação é uma
tarefa e um dos estágios na reconstrução de uma sociedade mais justa e igualitária.
(NASCIMENTO, 2003).
Por aguentar desde os tempos primórdios situações como essas é que a
mulher negra é taxada com o simbolismo de “mulher guerreira” criado no imaginário
social e projetado em cima de nós, quando na verdade, isso não foi nos dado como
uma escolha, por gerações a mulher negra precisa ser forte por estar
constantemente sendo exposta em contextos de vulnerabilidade e humilhação,
deixando satisfações pessoais de lado por precisar focar na luta ao direito de
aspectos básicos da vida e na superação de adversidades.

11
Existe uma incidência muito grande de racismo e sexíssimo voltados a
imagem da mulher negra em relação às suas características fenotípicas, que estão a
todo o momento sendo alvo de comentários e julgamentos em que são diminuídas
em todos os sentidos da vida, deixando sentimentos de inferioridade e dor, serem
causadores de doenças psíquicas.
O impacto do racismo constrói barreiras psíquicas e sociais difíceis de
enfrentar, a mulher negra está entre os piores indicadores sociais do Brasil, apesar
dos avanços realizados na escolarização e das cotas, a dificuldade no acesso à
educação se reflete no mercado de trabalho, de acordo com a pesquisa “estatística
de gênero” do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) realizada em 2014,
o percentual de mulheres brancas com ensino superior completo é de 2,3 vezes
maior do que o de mulheres negras, e apenas 10,4% das mulheres negras tem
ensino superior completo. Grossi e Aguinsky (2001) lembram que a violência contra
as mulheres, embora esteja presente em todas as classes sociais, incide de maneira
diferente entre os segmentos mais fragilizados da população, nos quais se incluem
as mulheres negras. E a cada dia que passa essa discriminação é reforçada no meio
social, segundo o Atlas da violência 2018, as mulheres negras são assassinadas
mais do que as brancas, cerca de 71% a mais, e em casa são as que mais sofrem
violência.
A discriminação racial e as repercussões nas identidades de mulheres
negras ainda são um campo de pesquisa pouco estudado. Somos de forma geral
expostas a todo tipo crítica e comparação, tendo como a cor e corpo a principal fonte
de julgamento para os outros. O racismo coloca a mulher negra em um patamar
social diferente do grupo racialmente imposto como dominante, o de pessoas
brancas, logo, o padrão feminino de estética também será propagado pela mulher
branca, sendo vistos então como modelo a ser seguido. A busca pela compreensão
das vivências da mulher negra e das consequências da discriminação racial torna-se
necessário para que haja um resgate e uma ressignificação do que é ser mulher
negra no mundo
Esse racismo contra a mulher negra foi construído historicamente no meio
social e político e necessitam ser confrontados para que haja uma estratégia de
redução de danos, reforçando a promoção de políticas de igualdade, é importante
que se tenha debates, implementação do assunto em diversas áreas sociais do país,

12
principalmente em escolas e universidades, para que se possa ter o entendimento e
aceitação da raça como categoria importante no desenvolvimento do ser humano,
valorizando as histórias e expressividades culturais de origem negra.

13
3. OBJETIVO
Compreender os sentidos atribuídos às vivências e a discriminação racial no
contexto de vida de mulheres negras na perspectiva fenomenológica-existencial.

14
4. MARCO TEORICO

4.1 Racismo no Brasil.

O Brasil em 1888, aboliu a escravidão, porém, como coloca Gonçalves


(2018), a lei que aboliu a escravidão libertou do trabalho forçado e ao mesmo tempo
abandonou as pessoas, deixando dessa forma, muitas marcas na sociedade
brasileira, o negro foi liberto da escravidão, mas continuou preso pelos maus tratos,
sofrendo a renúncia do direito de ter condições de moradia, alimentação, acesso à
educação, atendimento hospitalar adequado e segurança.
É difícil falar de racismo quando as pessoas se negam a falar dele, tentam
omitir um preconceito que está explicito diariamente de formas sutis ou violentas, “os
brasileiros sabem haver, negam ter, mas demostram, em sua imensa maioria,
preconceito contra os negros” Rodriguez (1995). O preconceito racial já faz parte da
construção mental dos brasileiros, as pessoas praticam o racismo antes de qualquer
reflexão, reforçando estereótipos, frases e brincadeiras racistas, basta perceber que,
algumas pessoas sempre vão associar o negro a coisas negativas, mas que se
forem questionadas a respeito, vão falar que não são racistas e possivelmente
falaram de forma sutil ou com uma afirmação de que não passou de uma
brincadeira.
O fato de o racismo ser algo enraizado no brasileiro gerou, nutriu e
naturalizou uma hierarquia racial, onde o branco, a elite brasileira, se acha superior
a qualquer outra raça, seja ela mestiça, indígena e principalmente superior ao negro.
Essa construção ideológica tem como uma de suas bases o fato de que o próprio
racista muitas vezes não acha que ele é racista, supondo que não faria mal a
ninguém, ele não sofre racismo, logo não o sente, de forma mascarada a
humilhação e discriminação continuam sendo vividas pela população negra.

Apesar do discurso que nega ou ameniza a presença do


preconceito e da discriminação racial no país, não é difícil ver manifestações
de racismo no dia-a-dia da vida social brasileira. Ora ele é escancarado,
como nos massacres frequentes, ora é silencioso, como no olhar policial
que põe constantemente os negros sob suspeita. Pesquisa recente concluiu
que há diferença de tratamento, por parte da justiça, de brancos e negros.
Estes são tratados com mais severidade, desde a instância policial até o
tribunal, como se a criminalidade e a possibilidade de “perturbar a ordem
social” lhes fosse inerente (ADORNO, 1996).

15
Em uma pesquisa realizada com policiais para a Universidade Federal de
Pernambuco no início de 2018, os mesmos admitem e percebem que pretos e
pardos são as prioridades na hora das abordagens, mas não falam em racismo.
Segundo a população, especialmente entre os jovens, “quando a polícia chega para
nos matar, nós estamos praticamente mortos: discursos sobre genocídio da
população negra no cenário de Recife-PE”, Pernambuco é apontada como um
estado que apresenta alta vulnerabilidade juvenil negra, de acordo com o
levantamento feito pela Secretaria Nacional de Juventude (SNJ), pelo Fórum
Brasileiro de Segurança Pública, pelo Ministério da Justiça e pela Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no Brasil. É
necessário pensar e agir sobre as práticas policiais racistas, infelizmente é comum
assistirmos ou lermos notícias de pessoas negras assassinadas por policial, por ser
confundido com bandido e até mesmo por estar segurando algum objeto que, nem
de longe se parece com uma arma, mas para os policiais parecia e isso já era
suficiente para que fosse manifestado neles o comportamento racista.
A população negra sempre viveu na própria pele a violência da
discriminação e do preconceito racial. Por estarem acostumados com a invisibilidade
da população negra, e por de certa forma, não deixarem de lado sua tradição
escravocrata, o brasileiro expõe seu preconceito quando, especialmente a
população negra ascende socialmente. Silva (2018) afirma que: “Ao conquistarmos a
possibilidade de abrir caminhos institucionais e sociais para a diminuição da absurda
desigualdade racial damos de cara com o ódio racial militante nas classes médias”.
Um exemplo bastante comum de tal situação, é a discussão constante sobre as
cotas em universidades, território que até então era dominado em sua maioria, se
não total, por pessoas brancas.
Esse discurso frequente se dá por contestarem que no Brasil não existe
desigualdade, se baseiam na ilusão do mito da democracia racial, a democracia
racial, significa um sistema desprovido de qualquer barreira legal ou institucional
para a igualdade racial, e em certa medida, um sistema racial desprovido de
qualquer manifestação de preconceito ou discriminação (Diálogos Latinosmericanos,
Domingues, 2005), já o mito da democracia racial, é o inverso disso, como afirma a
pesquisadora e diretora de pesquisas sociais da fundação Joaquim Nabuco,

16
Rosalira Oliveira, em uma entrevista para o diário de Pernambuco (2015) que "A
democracia racial é um mito para esconder a falta de acesso. É uma espécie de

racismo cordial...” fantasiando que o Brasil possui uma inter-relação racial


adequada, longe de racismo e onde todos têm as mesmas oportunidades, essa ideia
está enraizada na população desde a abolição da escravatura, que como
mencionado no texto, não foi nem de longe uma ação libertadora e igualitária para a
população negra estabelecida no Brasil. Em geral, o mito é uma ‘ideologia’, um
‘discurso’ que busca amenizar a tensão entre o real e o imaginário, com base nisso,
o mito da democracia racial tem como fins esconder os conflitos raciais e toda a
estrutura de dominação racial existente, passando uma imagem melhor para a
sociedade, não é à toa que, em uma pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos para “os
perigos da percepção 2017”, o Brasil está em 2º lugar no ranking de percepção
distorcida sobre a realidade, dessa forma, o mito dificulta ações organizadas contra
o racismo.
Ninguém quer o estigma de racista, pois é um termo negativo e todos
querem manter a boa aparência, a utilização do que Martiniano Silva (1995) chama
de “racismo à brasileira” que é esse racismo mascarado, é terrivelmente eficiente em
sua função de discriminar as pessoas da cor negra, e também lamentavelmente
muito difícil de erradicar. É notável a necessidade da busca para soluções em todos
os aspectos vivenciados por nós, é importante conhecer o racismo em detalhes,
saber como atua e seus efeitos sobre as pessoas, que muitas vezes, chega a ser
causa de adoecimento psíquico.

4.2 Racismo contra mulher negra.

Para os negros, o racismo teve uma significância perversa de destituição de


direitos humanos e a não ascensão econômico-social, para as mulheres negras,
esse fato é potencializado três vezes mais, estamos fadadas a vivermos em uma
sociedade que, além de racista, nos diminuindo com sua crença de superioridade
racial, é sexista, com suas ideologias manifestadas através de comportamentos,
discursos e representações culturais e sociais onde são atribuídos características e
espaço de atuação de acordo com os sexos, provocando a exclusão das mulheres,
é também heteronormativa, onde tendem a ter o comportamento de limitar a

17
existência da mulher, a liberdade de seu corpo e seu desejo de autonomia,
personificando a sexualidade da mulher ao estereótipo de que ela deve estar voltada
para a maternidade, cuidado e manutenção da família e afazeres domésticos,
colocando as mulheres em uma condição subalterna e passível de objetificação.
A população negra, em especial as mulheres negras, são mais vulneráveis,
estamos constantemente lutando pela sobrevivência e visibilidade em um país que
se encontra em 5º lugar em número de homicídios de mulheres e que é tão violento
contra nossa raça, de cada 100 pessoas assassinadas, 71 são negras, segundo o
Atlas de violência 2017, e em um recorte de gênero, a mortalidade de mulheres que
não são negras (brancas, pardas, indígenas) caiu 7,4% entre 2005 e 2015, enquanto
o de mulheres negras o indicie subiu 22%, além do indicie de mortalidade também
sofremos com o descaso da polícia ao retratar assassinatos, procurando muitas
vezes de todas as formas justificar a ocorrência de forma negativa ou dificultosa, o
feminicídio é algo difícil de trabalhar com a população pois muitos acham que isso
não existe, tratar o feminicídio de mulheres negras é mais dificultoso ainda e
demorado perante a lei. Um exemplo claro disso, é o assassinato da vereadora
Marielle Franco no dia 14 de Março de 2018, que foi alvejada por diversos tiros
juntamente com seu motorista Anderson Gomes, o crime segue sob investigação e
sem sinais de estar perto de ser um caso encerrado, 241 dias da morte e seguimos
contando, e pessoas ainda se utilizam de frases como “Ela era negra, mas não
morreu por isso” ou “Um crime político não pode ser tratado como racismo”, na
verdade, o racismo também é político sim, no sentindo de que se torna inseparável
os conjuntos da política e do estado.
De acordo com Nitahara (2015), as mulheres negras estão atrás nos
indicadores sociais e econômicos. O dossiê Mulheres Negras (Marcondes etal,
2013) mostra que:

“Em termos de pobreza, a população negra é mais vulnerável, sete


em cada dez casas que recebem o Bolsa Família são chefiadas por negros,
sendo que 37% das casas são chefiadas por mulheres. Temos entre
mulheres brancas um desemprego de cerca de 9%, entre as mulheres
negras ultrapassa 12%. Outra área que vale a pena ressaltar é o tema da
renda. As mulheres negras recebem 42% do salário dos homens brancos”.

No Brasil, em 2014, o dia 25 de julho foi declarado como dia nacional da


mulher negra, a partir da data regional em homenagem a líder quilombola Teresa de

18
Benguela, e no Rio de Janeiro, dia 14 de março, dia da morte da vereadora Marielle,
instituiu-se como dia de luta contra o genocídio da mulher negra. O número de
violência contra a mulher negra é alarmante, mulheres negras têm três vezes mais
chances de serem vítimas de feminicídio que mulheres brancas. “É por isso que
seguimos fazendo do luto, luta: não porque somos fortes, mas porque não nos dão
outra escolha. São nossos corpos que estão na linha de frente todos os dias. O
racismo não descansa”. (HELAINE, 2018)

4.3 O que é ser negra no Brasil.

A mulher negra vive uma condição histórica de violência onde o abuso


sexual se firmou como mecanismo de opressão, desde o período da escravidão
onde tiveram seus corpos desumanizados, objetificados e diminuídos em nossa
estrutura social, permanecendo a ideia de que a mulher negra está ali para servir o
outro, para ser objeto de prazer. A pesquisadora e escritora Djamila Ribeiro explica
que “esses estereótipos racistas contribuem para a cultura da violência contra as
negras, pois somos vistas como “fáceis”, as que não merecem ser tratadas com
respeito”. As mulheres negras amargam a injustiça social e marginalização em
diferentes aspectos, tais como:

4.3.1 A estética da mulher negra.

As mulheres negras passam pela dominação cultural ao serem


constantemente orientadas a seguir os padrões estéticos das mulheres brancas,
destruindo ou escondendo sua ancestralidade, Bento (2002) fala que:

A violência racial constitui um constante ataque às identidades e


subjetividades dos excluídos, por meio da veiculação de um discurso que
estabelece o padrão cultural dominante, capitalista, branco e andrógino, ao
qual a população negra é constantemente pressionada a se adaptar e
moldar.

A injustiça social cerca a mulher negra desvalorizando-as em múltiplas


violências simbólicas, um dos aspectos dessa violência é a pressão social que a
mulher vive ao querer alisar o cabelo, negando sua origem, para tentar ao máximo
se encaixar no padrão que foi posto pela sociedade, bell hooks analisa que:
19
Dentro do patriarcado capitalista – o contexto social e político em
que surge o costume entre os negros de alisarmos os nossos cabelos –,
essa postura representa uma imitação da aparência do grupo branco
dominante e, com frequência, indica um racismo interiorizado, um ódio a si
mesmo que pode ser somado a uma baixa autoestima. (HOOKS, 2005).

Em relação a estética negra, são muitos os fatores que incomodam a mulher


negra quando se trata do seu corpo, mas a transição capilar para o alisamento é a
mudança mais comum que existe, mudando também muitas vezes para uma cor
clara, na tentativa de chegar o mais perto possível ao perfil ditado pela sociedade
como ideal. Essa construção de não aceitação do cabelo, para mulher negra, vem
desde a infância quando, muitas vezes na escola acabam sendo alvos de piadas
sobre seu cabelo como “bombril” “arame” “cabelo feio ou ruim” entre outros. O
cabelo acaba sendo mais uma extensão do racismo que a mulher negra sofre,
dificultando a construção da identidade negra, a mulher acaba crescendo com a
ideia de que o seu tipo de cabelo não é o “cabelo bom”

Entende-se o cabelo como símbolo de identidade, este pode ser


um vínculo à compreensão da identidade negra na comunidade. O mesmo
vem sendo reprimido na tentativa de manipulação no enquadramento de
padrões sociais eurocêntricos (FÉLIX, 2010)

Pensar em uma identidade negra é pensar em criar mecanismo de


manifestação, de exibição e de valorização da cultura negra e essa cultura perpassa
pela problemática do cabelo, com isso, para a negra, viver na ditadura da estética
branca significa viver sem a liberdade de poder ser negra em sua plenitude física,
cultural e identidária.

4.3.2 Hipersexualização da mulher negra.

Através de um legado histórico extenso, a hipersexualização da mulher


negra perpetua desde a época escravista, onde as escravas tinham como função
proporcionar aos seus senhores a satisfação de suas necessidades sexuais. Até os
dias atuais, sendo banalizada pelo outro, o racismo e o sexismo alinhados
representam por meio de símbolos e imagens, a mulher negra como aquela que está
designada a servir os outros. Outra perspectiva apontada por tal estereótipo é a

20
posição ocupada pela mulher negra como predadora sexual, que seduz com seus
encantos irresistíveis (GILLIAM, 1995 apud. CARNEIRO, 2002).

O corpo feminino negro é hipersexualizado, considerado exótico e


pecaminoso. Quem nunca ouviu falar que a mulher negra tem a “cor do
pecado”? Essa é a brecha que sobrou para que o racismo continue a ser
imposto às mulheres negras: a dicotomia do gostoso, exótico e diferente,
mas que ao mesmo tempo é proibido, impensável, pecaminoso e não serve
para o matrimônio ou monogamia (ARRAES, 2014).

Sendo assim, a mulher negra acaba sendo vista como alvo fácil para
investidas sexuais. Em um estudo realizado por Ana Claudia Pacheco (2013)
chamado “Mulheres negras: afetividade e solidão” onde ela entrevista um grupo de
mulheres negras em Salvador, mostra que, um dos principais fatores para que levam
essas mulheres a não possuírem parceiro fixo, é a ideia de que elas não são
desejáveis para casar.
Em nossa sociedade, os vestígios racistas da época escravocrata ainda se
fazem muito presente, fazendo com que a mulher negra sofra desde cedo, as
meninas e adolescentes negras são vistas com o olhar objetificador, são as maiorias
das vítimas de exploração sexual segundo o dossiê violência e racismo, porque a
hipersexualização da mulher negra é apresentada em uma mulher jovem, sendo
considerada como aquela que incita e depois satisfaz, - legado deixado pelo período
escravocrata -, a mulata de ontem reconfigurada na Globeleza de hoje, como afirma
Figueiredo (2010).
Através desses fatores, a garota negra já cresce com o estigma de ser
promiscua.
A mulher negra ainda tem que enfrentar as questões da
exploração sexual infantil e de adolescentes e o tráfico de mulheres, onde
compõe o grupo de maior incidência. Isto tem forte relação às imagens de
controle que envolvem a mulher negra como objeto de consumo e
exploração sexual, como também a ausência de políticas públicas de
controle e responsabilidade midiática e da indústria do turismo, que
deveriam trabalhar para a eliminação destes estereótipos, mas acabam por
reforça-los. (ROMIO, 2015)

E essa mesma garota negra vivencia em diversas situações a solidão


afetiva, criando em seu imaginário uma serie de incômodos, ferindo a sua visão de si
mesma ao se considerar inadequada frente os padrões sociais exigidos.

4.3.3 Relacionamentos da mulher negra.

21
A trajetória da mulher negra é permeada pela solidão, isso é também
consequência, como por exemplo, do fato de o gosto afetivo ser uma construção
social, sendo baseado na ideia da beleza eurocêntrica, da política do
branqueamento, que exalta o padrão da mulher branca como o certo. É árduo o
trabalho da mulher negra na tentativa de se sentir incluída até mesmo em questões
de afetividade. Silva (2003) analisa que:

A situação da mulher negra no Brasil de hoje manifesta um


prolongamento da sua realidade vivida no período de escravidão com
poucas mudanças, pois ela continua em último lugar na escala social e é
aquela que mais carrega as desvantagens do sistema injusto e racista do
país. Inúmeras pesquisas realizadas nos últimos anos mostram que a
mulher negra apresenta menor nível de escolaridade, trabalha mais, porém
com rendimento menor, e as poucas que conseguem romper as barreiras do
preconceito e da discriminação racial e ascender socialmente têm menos
possibilidade de encontrar companheiros no mercado matrimonial.

Existe certa dificuldade, que muitas das vezes não percebemos e por isso
acabamos deixando de falar sobre, que é em reconhecer a mulher negra como
sujeito para ser amado, nos deixando levar pela ideia de que para nós, não existe
amor. Em uma entrevista para a Revista Fórum em 2015, a mestre e doutoranda em
Psicologia Social pela USP e psicóloga do Instituto AMMA Psiquê e Negritude, Clélia
Prestes, afirma que:

“Desde o nascimento e ao longo do processo identitário, a


autoestima é influenciada pelos referenciais coletivos de beleza, nos quais
as mulheres negras praticamente não estão representadas, apesar da
maioria da população brasileira ser negra. Como resultado, no imaginário
social e em concepções pessoais, pensamentos e sentimentos que tratam a
diversidade com hierarquia de valores, prejudicando drasticamente a forma
como mulheres negras são vistas e, consequentemente, sua autoestima e
relações afetivas” (CRUZ, 2017 apud PRESTES, 2015)

Em um levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística (IBGE) sobre a mulher negra brasileira, em 2010, revela que, à época,
mais da metade das mulheres – 52,52% – não viviam em união estável
independentemente do estado civil. Esse número significantemente alto que atinge
afetivamente as mulheres negras, podem gerar danos tanto físicos como
psicológicos, ser preta e ter em seu contexto diário frases e adjetivos pejorativos
atribuídos a sua aparência e/ou cor causam sentimento de menos valia, baixa
autoestima e introspecção. Nesse contexto, a psicóloga Maitê Lourenço,

22
neuropsicóloga pelo Centro de Diagnostico Neuropsicológico da Unifesp, e
colaboradora do Grupo de Trabalho de Psicologia e Relações Raciais do Conselho
Regional de Psicologia de São Paulo, explica que, “Dentro do processo cognitivo,
palavras, gestos e ações são captados e processados pelo cérebro, formando assim
a concepção daquela mulher sobre si mesma de uma forma deturpada”.

4.3.4 Mulher negra e o mercado de trabalho.

Ser mulher e ser negra exibe dificuldades em vários aspectos da vida, no


mercado de trabalho não seria diferente, o período da escravidão contribui bastante
para isso, ali o papel da mulher negra estava inteiramente ligado aos afazeres
domésticos e às questões sexuais, após a abolição, uma das primeiras soluções que
foram tomadas para ela ser inserida no mercado trabalhista foi justamente a
realização do trabalho doméstico, Segundo Santos (2009), “há poucas mulheres
negras trabalhando como executivas, médicas, enfermeiras, juízas, dentre outras
profissões de destaque; o que se verifica ainda é a grande maioria realizando
trabalhos domésticos e recebendo baixos salários”.
O fato de ser mulher e ter que enfrentar todo o machismo da sociedade e o
fato de ser negra e ter que enfrentar toda a carga negativa recorrente do racismo,
dificulta a ascensão da mesma no mercado de trabalho. Segundo dados de
pesquisa do Instituto Ethos, realizada em 2016, pessoas negras só ocupam 6,3%
dos cargos de gerente e 4,7% do quadro de executivos nas empresas analisadas
pelo estudo. A situação é ainda mais desigual para as mulheres negras: 1,6% são
gerentes e só 0,4% participam do quadro de executivos.
Conseguir um emprego formal, uma boa colocação e ingressar no ensino
superior também são dificuldades típicas daquelas que possuem a pele negra
(ARRAES, 2014). A mulher negra no mercado de trabalho é colocada no mais baixo
patamar da pirâmide social e essa problemática se dá pela falta de oportunidade
educacional, Santos (2009) também afirma que:

No que diz respeito à escolaridade, pesquisa realizada em 2006,


revela que entre as mulheres negras com 15 anos ou mais, a taxa de
analfabetismo é duas vezes maior que entre as brancas, no que tange ao
trabalho doméstico infantil, 75% das trabalhadoras são meninas negras. [...]

23
Esses dados são consequências prematuras da mulher negra, ainda jovem,
se tornar muitas vezes mãe, e muitas vezes também, única provedora do lar.

4.3.5 Racismo, mulheres negras e saúde mental.

A luta histórica marcada pelo preconceito e desvalorização da mulher negra


no Brasil mostra como pode ser adoecedor, e também, danoso para saúde mental
se manter viva em uma sociedade machista e racista.

O racismo é desumanizador. Ou seja, tira da pessoa a noção de


sua individualidade, identidade e senso de pertencimento social. Crescer e
viver em um cenário social em que o negro é retratado apenas como objeto
de reportagens sobre violência, fetiche sexual carnavalesco e posição de
servidão com apelações emotivas estereotipadas, cria internalizações sobre
o lugar social (MOURA, 2017).

Diante desse contexto, a mulher negra continua sendo a mais desvalorizada


em todos os sentidos, Maria Aparecida Silva (2009) expõe:

Marcadas pelo estigma da escravidão, a elas permanecem


destinados os trabalhos sem qualificação, trabalhos que dispensam
inclusive a educação e a instrução, sobre elas pesa, além das diferenças de
gênero, também as de raça. O que observamos é que com papéis sociais
“naturalmente” definidos como adequados, os nexos explicativos da
condição da mulher negra remetem, primeiramente à sua condição de
escrava. Sobre elas recaem tanto as representações em relação ao uso de
seu corpo enquanto objeto sexual como aquelas que o vêm adequado ao
trabalho doméstico.

Como já visto nos textos mencionados, a população negra, especialmente


as mulheres, tem os piores indicadores sociais, fazendo com que elas apareçam
cada vez mais apresentando algum tipo de transtorno mental. Em um artigo
publicado em maio de 2018 para a revista de políticas públicas, Imaíra Pinheiro e
Cássius Guimarães, caracterizam dois eixos de fatores, externos e internos, que
podem ser causadores de sofrimento psíquico causado pelo racismo:

No que consiste à construção dos fatores externos, estes são


resultantes do menor nível de escolaridade, do baixo poderio
econômico/financeiro, da ausência de oportunidades e desvalorização no
mercado de trabalho, como exemplos. Em relação aos fatores internos, que
são, em sua maioria consequências da ação dos agentes externos,
destacam-se: a solidão da mulher negra, a maior taxa de fecundidade, a
construção da baixa autoestima, e as cobranças sociais advindas,
especialmente, do enquadramento da mulher negra nos estereótipos
racistas e sexista (PINHEIRO; GUIMARÃES, 2018).

24
A mulher negra está exposta a diversos fatores que podem leva-las ao
estresse e cansaço tanto físico como mental, por vezes e durante toda sua vida,
estão mais suscetíveis a estarem expostas por dificuldade em ter serviços básicos
de saúde e educação, sensação de isolamento, maior sensação de insegurança, a
problemas com sua autoestima pela impossibilidade de se ver como bela. A
psicóloga Jeane Tavares, membro do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA
(ISC/UFBA) e docente da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB)
explica que:

"Crescendo em uma sociedade que ridiculariza e demoniza a


negritude, a pessoa negra é levada a negar sua identidade racial e buscar
de forma irracional se adaptar ao padrão imposto. No entanto, como
alcançar este padrão é impossível para não-brancos, geram-se crenças
persistentes de inadequação, desvalor, desamor e impotência, que são
associadas a depressão e diferentes transtornos de ansiedade" (TAVARES,
2018).

A realidade dessa pressão vivida pelas mulheres negras pode chegar a


causar danos psíquicos profundamente marcantes, com isso, faz-se necessário
traçar o melhor caminho para a prevenção com a saúde da população negra, com o
intuito de:

Qualificar o quesito raça/cor nos instrumentos de saúde é


importante para monitorar e avaliar as ações de promoção da igualdade
racial previstas no Estatuto da Igualdade Racial, em que é garantida à nós
acesso universal e fundamental, que a política de saúde mental inicie
discussão que vá além de recomendações de conferências, para que se
definam estratégias para esse enfrentamento às violações que já se
perduram anos (ALMEIDA, 2017).

4.4 Contribuições do psicólogo no combate ao racismo.


A psicologia, com um trabalho que envolve a escuta, a aprendizagem e o
acolhimento, tem a potencialidade e o compromisso no desenvolvimento de
estratégias para o combate ao racismo e ao machismo, na redução das
vulnerabilidades e desvalorização das mulheres negras.

A discriminação racial estabelece relações hierarquizadas de


poder entre as diferentes raças por meio da ideologia da raça dominante.
Esses mecanismos atuam desrespeitando e menosprezando a identidade
da população negra, produzindo sofrimento físico e emocional e modos de
subjetivação que assujeitam e homogeneízam. (BENTO, 2002; BAIRROS,
2002 apud. LOPES, 2003)
25
Verifica-se então a necessidade, contribuição e estratégias partindo da (o)
psicóloga (o) para que haja enfrentamento ao combate do racismo, assim como
também se faz necessário propostas na formação do estudante de psicologia e do
profissional.
É preciso que as (os) atuais e futuras (os) psicólogas (os)
compreendam de forma mais ampla e especifica como se dão as relações
raciais existentes na sociedade e, principalmente, que há um sofrimento
psíquico peculiar, sutil e explicito presente no cotidiano da vida de pessoas
negras; seja nas relações institucionais em especial na escola, no trabalho,
na família e também nas outras relações sociais como no esporte, no lazer,
nos cultos religiosos, na segregação territorial, na luta de classes, etc.
(Conselho Federal de Psicologia, 2017).

5 Fenomenologia
Na metade do século XX surgiu o movimento filosófico da Fenomenologia,
Edmund Husserl (1859-1938), considerado fundador da Fenomenologia e um dos
pensadores mais importantes do movimento no século XIX, influenciou através de
sua obra tanto as correntes filosóficas do seu tempo como a ciência de forma geral
(BARBIERI, 2011). Husserl utilizou a psicologia como uma das disciplinas mais
abordadas em seus escritos, dessa forma, a psicologia disponibilizou para o restante
das disciplinas das ciências humanas e sociais o método fenomenológico.
Edmund Husserl foi discípulo de Brentano, sendo considerado o mais
importante (VENANCIO 2011), já os pensadores que foram influenciados por
Husserl, alguns dos mais importantes destacasse Martin Heidegger e Merleau-
Ponty, que no decorrer da discussão terão seus pensamentos como base para
análise da pesquisa.
O método fenomenológico é o estudo dos fenômenos em si mesmos,
propondo uma base de análise da experiência na forma como ela se manifesta,
permitindo visualizar outras maneiras de compreensão do homem, mundo, ser,
verdade, tendo essa última como caráter de mutabilidade e relatividade, desta
forma, pode ser vista enquanto uma postura ou atitude, um modo de compreender o
mundo. Desta forma, a fenomenologia nos fornece uma nova forma de “ver” o
mundo e as coisas, e esse novo olhar nos sugere uma nova forma de orientação, de

26
pensamento, de análise do mundo, das coisas, como do próprio sujeito
cognoscente1 (BRAGAGNOLO, 2014).
A direção que Husserl deu a fenomenologia foi de ir as coisas mesmas, A
fenomenologia husserliana considera que aquilo que é dado à consciência é o
fenômeno (objeto do conhecimento imediato). Esse fenômeno só aparece numa
consciência, portanto, é a essa consciência que é preciso interrogar. A consciência,
para Husserl, define-se como uma certa maneira de perceber o mundo e seus
objetos. Mostrar os diversos aspectos pelos quais a consciência percebe esses
objetos e sob os quais eles lhe aparecem. Nessa abordagem o pesquisador
considera sua vivência em seu mundo, uma experiência que lhe é própria,
permitindo-lhe questionar o fenômeno que deseja compreender. (SILVA; etal, 2011)
Já a filosofia heideggerianA, se propõe a abordar questões do sentido do
Ser, buscando a noção de homem em sua singularidade a partir do que chamou de
Dasein (CASTRO, 2017).
O Dasein ou ser-aí, segundo Roehe e Dutra (2014), é o ente que manifesta
o quê e como algo é, revela o Ser a partir de sua condição existencial. O Dasein
como totalidade estrutural, revela-se na cotidianidade como abertura para
possibilidades de outras formas de vir a ser-no-mundo, o dasein se lança para o
mundo para qual o Ser se mostra, sendo o Ser lançado no mundo a todas as
possibilidades da existência, o antológico – sendo aquele que atribui sentidos e
significados as situações cotidianas, Segundo Castro (2017), “o objetivo da reflexão
filosófica heideggeriana é desvendar o ser em si mesmo, partindo da existência
humana (Dasein – ser-aí)”.
O Dasein tem como composição fundamental para a analítica existencial, o
ser-no-mundo, sendo o modo particular e individual de compreender e interpretar a
vida e as situações que nela ocorrem, caracterizando o indivíduo como o ser que ele
é. Esse mundo se refere a tudo, ou seja, se refere à sempre estar em relação com
algo ou alguém. Para Samaridi (2011) Ser-no-mundo é ir muito além de ser
(humano) e estar (no mundo), mas sim se encontrar aberto às possibilidades que lhe
são oferecidas. Dessa forma, ser-no-mundo é fazer-se Ser, Ser as próprias
possibilidades.

1
Cognoscente é um adjetivo que qualifica a pessoa que busca ou toma o conhecimento
sobre algo, também utilizado para se referir ao indivíduo que tem a capacidade de conhecer e
assimilar o saber.
27
Sabendo-se que o fenômeno mundo é caracterizado por ser carregado de
sentido para o homem, a partir disso, o Dasein se lança no mundo com a
possibilidade de mergulhar na aventura da partilha deste mundo com os outros,
Heidegger considera que, segundo Castro (2017), em vista de a existência se
revelar como essência da pre-sença (do ser humano), somente dessa forma pode-
se analisar seu mundo de relações, sendo compreendida pelo autor como
característica fundamental do existir humano, existir é originalmente ser-com-o-
outro. É uma relação de reciprocidade, onde as potencialidades do indivíduo se
fortificam conforme a relação cotidiana, para Roberto (2009), o Dasein como ser-
com-o-outro, está lançando-se no mundo, mantendo uma interação consigo mesmo,
com os demais entes – todas as coisas – e com o mundo.
Outro presente aspecto que faz parte do ser-no-mundo é o cuidado, sendo
esse o modo como resultamos em relação aos entes que nos envolvem no mundo,
Oliveira e Carraro (2010) entendem o conceito de Heidegger ao falar do cuidado
como:

Cuidado pode ser entendido como ato, o qual ocupa um sentido


ôntico, ou como possibilidades, um sentido que vai além do ato, além do
que se pode perceber, ocupando um sentido ontológico. Para Heidegger o
cuidado contempla o modo positivo de cuidar dos entes, não é sinônimo de
bondade, é entender autenticamente o que é importante. (P. 378)

A partir disso, o cuidado, envolve as necessidades que precisam ser


atendidas, é o cuidado em tratar de si mesmo e dos outros.

Merleau-Ponty e a corporeidade
Para o filósofo, sua concepção de mundo é: um mundo constituído por
relações objetivas é a partir da experiência vivida do homem que origina e sustenta
todas as explicações posteriores a ele. Sendo assim, o sentido da subjetividade
instalada no corpo e não mais na transcendência de um eu interior pensante
(DENTZ, 2008).
Na visão de Merleau, a percepção não está fundada no empirismo e no
intelectualismo onde apresenta o pensamento objetivo, para ele, a percepção está
relacionada à atitude corpórea. Na concepção fenomenológica da percepção a
apreensão do sentido se faz pelo corpo, tratando-se de uma expressão criadora, a
partir dos diferentes olhares sobre o mundo (NÓBREGA, 2008).

28
A partir disso, a consciência está ligada ao corpo em um diálogo permanente
com o mundo, ocorrendo uma relação direta do homem com o mundo, denominada
como corpo-mundo.
Com isso, o filosofo considera redefinir a fenomenologia ao não concordar
em tomar o físico e o psíquico como objetos de estudo no sentido da determinação
de princípios e funcionamento. Nóbrega (2008, p.142) enfatiza que é preciso
enfatizar a experiência do corpo como campo criador de sentidos, a percepção não
é uma representação mentalista, mas um acontecimento da corporeidade e, como
tal, da existência.
A concepção de corpo vai além da sua constituição, por isso, não pode ser
objetificado, pois é um aspecto fundamental da existência humana, é um objeto que
se traduz como corporeidade, sendo assim o que constitui o existir do homem. A
percepção é a experiência do corpo com o mundo ao seu redor, Castro (2017)
acrescenta que, Merleau em sua teoria, compreende da seguinte forma, existir
significa ser um corpo, que o viver sempre se dá corporalmente e que é através do
corpo que acontece toda relação homem-mundo.
Dentz (2008) concorda com o filósofo ao comentar que:

O sujeito, como corpo, desta maneira, não é um evento ou parte do


mundo – como coisa -, mas a instância fundamental de um "pacto de
intencionalidade vital", no qual o corpo conduz o mundo em si (tem
consciência de..., do mundo..., das coisas..., do outro..., e de si próprio),
assim como o mundo o conduz. (p.3)

Portanto, o mundo é uma extensão do corpo do indivíduo, e este fenômeno


chamado corpo aprende e apreende em sua potencialidade, de acordo com nossas
experiências diárias e percepções.

29
6 Metodologia
Este trabalho tem como finalidade compreender os assuntos determinantes
para o adoecimento psíquico causado na vida de mulheres negras que já sofreram
racismo. Como a psicologia é uma ciência, ela se utiliza do método cientifico para
produzir seus conhecimentos com o objetivo de, estudar o comportamento e os
processos mentais, como o ser humano reage, se comporta e vive essas situações
da vida, ou seja, sua interação com o mundo, a cultura e sociedade (SILVA 2010). O
campo da psicologia em sua totalidade é bastante vasto e expõe teorias, pesquisas
e métodos (CAVALCANTI 2012), sendo assim, o conhecimento cientifico é uma
busca de articulação entre uma teoria e a realidade empírica, o método é o ‘fio
condutor’ para essa articulação. SILVA (2010 apud Minayo e Sanches 1993).
A pesquisa realizada será de forma qualitativa, de caráter exploratório,
buscando analisar dados de uma determinada questão. Segundo Oliveira (p. 7) o
pesquisador qualitativo pauta seus estudos na interpretação do mundo real,
preocupando-se com o caráter hermenêutico na tarefa de pesquisar sobre a
experiência vivida dos seres humanos. Desta forma, um fenômeno pode ser melhor
compreendido no contexto em que ocorre e do qual é parte, devendo ser analisado
numa perspectiva integrada (GODOY, 1995). Sendo assim, compreende-se que, a
pesquisa de forma qualitativa tem como finalidade conseguir dados voltados para
compreender as atitudes, motivações e comportamentos de determinado grupo de
pessoas.
Existe diversas formas utilizadas para coletar dados de forma qualitativa, a
forma escolhida para o presente trabalho, foi a entrevista aberta. Sobre entrevista,
segundo Almeida (2004 apud Bleger, 1998), na consideração de entrevista
psicológica ela possui:

Regras empíricas, com os quais não só se amplia e se verifica como


também, ao mesmo tempo, se aplica o conhecimento científico. Essa dupla
face da técnica tem especial gravitação no caso da entrevista porque, entre
outras razões, identifica ou faz coexistir no psicólogo as funções de
investigador e de profissional, já que a técnica é o ponto de interação entre
a ciência e as necessidades práticas; é assim que a entrevista alcança a
aplicação de conhecimentos científicos e, ao mesmo tempo, obtém ou
possibilita levar a vida diária do ser humano ao nível do conhecimento e da
elaboração científica. E tudo isso em um processo ininterrupto de interação
(p. 1)

30
Diante disso, a escolha da entrevista aberta se dá por, principalmente, possuir a finalidade
exploratória, permitindo um aprofundamento mais amplo da personalidade do entrevistado, e sobre a
sua estruturação, Boni e Quaresma (2005) explicam que:

O entrevistador introduz o tema e o entrevistado tem liberdade para


discorrer sobre o tema sugerido. É uma forma de poder explorar mais
amplamente uma questão. As perguntas são respondidas dentro de uma
conversação informal. A interferência do entrevistador deve ser a mínima
possível, este deve assumir uma postura de ouvinte e apenas em caso de
extrema necessidade, ou para evitar o término precoce da entrevista, pode
interromper a fala do informante (p.74).

A partir disso, a entrevista aberta se dará por meio de 5-10 participantes,


onde será feito relatos e experiências de diversas situações em mulheres
vivenciaram o racismo.

6.1 Método de análise fenomenológica


Para que haja um melhor entendimento de como as mulheres negras
vivenciam o racismo, será feito uma análise na perspectiva fenomenológica
existencial, com o objetivo de chegar aos significados da experiência vivida, a
proposta fenomenológica tem como objetivo mostrar o núcleo essencial do
fenômeno, que tem como significado, “o que se manifesta à consciência” (SILVEIRA
E OLIVER, p.3).
O método introduzido será para compreender a colocação do mundo exterior
para que a investigação se dê apenas com as operações realizadas pela
consciência, essa etapa é conhecida como redução, sabendo que o fenômeno é a
consciência manifestada, Merleau-Ponty diz que, “as essências trazem consigo
todas as relações vivas da experiência, e, consequentemente, estão vinculadas à
existência. ” (GRAÇAS, p.30). Ou seja, tem como objetivo pelo pesquisador,
identificar os significados nos relatos que o sujeito expressa, selecionando no
discurso o que pode ser relevante para a pesquisa.
Diante disso, o método parte para a compreensão de toda a colocação, a
compreensão é o estado constante de projeção no sentido das inúmeras
possibilidades que despertam na medida em que o entrevistado se defronta com o
mundo, diz respeito a interpretação e a compreensão das respostas dadas pelo
sujeito, a direção se dá para a coisa mesma, para o fenômeno que vai se apresentar
para a experiência como fenômeno, ou seja, daquilo que se mostra à experiência

31
(SIANI etal, 2016). É o modo onde o “ser-ai” se faz presente cheio de possibilidades
para construir os projetos, interpretando o que foi compreendido, sendo a linguagem
que o sujeito vai utilizar, sua expressão, responsável para tornar as possibilidades
desse projeto explicito.
Com base nisso, o pesquisador entra em relação com os sentidos atribuídos
pelos participantes, através do método fenomenológico que busca o conhecimento
das essências, estando em contato com as expressões e percepções que o sujeito
possua sobre suas experiências.
Para melhor entendimento dos conteúdos explícitos na entrevista, e
consequentemente, para a análise compreensiva, foi utilizado as recomendações de
Martins e Bicudo (2005) que indicam:
I. A transcrição literal de todas as entrevistas; leitura preliminar de cada
entrevista com o intuito de se alcançar uma compreensão global e
intuitiva de seu modo de existir durante suas experiências, ou seja,
uma leitura atenta dos depoimentos sem buscar ainda qualquer
interpretação, atributo ou elemento, a fim de encontrar o sentido geral
do que está descrito;

II. Releitura reflexiva de cada uma das entrevistas com o objetivo de


apreender os sentidos e significados na descrição, dentro de uma
perspectiva, focalizando o fenômeno que está sendo pesquisado,
dessa forma o pesquisador pode vivenciar a experiência do sujeito,
dessa maneira o fenômeno estudado é posto em frente aos olhos do
pesquisador, com isso, envolvendo-se e distanciando-se quantas
vezes forem necessários, encontrando as Unidades de Significado,
pontos que indicam uma totalidade existente entre partes da descrição
que surgem de maneira espontânea quando o pesquisador assume
uma atitude fenomenológica, ou seja, o insight psicológico que o
pesquisador tem do que está sendo dito, o que o outro está querendo
me dizer naquilo que fala sob a forma de uma ou duas palavras; e
buscar a convergência das unidades significativas para se chegar a
uma descrição da vivência do sujeito que englobasse a todos,
constituindo desta forma as categorias temáticas para a base da
compreensão do fenômeno.

III. Ao pesquisador caberá, após a análise individual de cada transcrição,


buscar as convergências ou invariantes, o aspecto comum que
permaneceu em todas as transcrições das entrevistas – as Unidades
de Significado - construindo as categorias de análise.

Nesta postura, foi possível através do ver fenomenológico, integrar todos os dados,
aspectos e características obtidos, através das unidades de significado.
Considerando o objetivo da pesquisa, a compreensão do vivido analisada a partir da
32
fala das participantes e o método a ser utilizado - o fenomenológico, a síntese dos
dados será efetivada a partir dos pressupostos da Psicologia Fenomenológico-
Existencial.

7 Categoria de análise
Posteriormente a transcrição das entrevistas, foi realizada a análise de cada
diálogo, a partir do qual obtive as unidades de significado, os elementos que
possibilitam a compreensão dos sentidos implicados no discurso do fenômeno “a
vivência da discriminação racial na perspectiva de mulheres negras”. Identifiquei,
então, as partes semelhantes nestes discursos, através das quais sistematizei as
categorias de análise, que se resume em quatro, que se mostraram da seguinte
forma:
7.1 Medo, medo de ficar só, vulnerabilidade, insegurança:

Como já foi mostrado neste trabalho, as estatísticas revelam que a mulher


negra está no topo da pirâmide da solidão, e essas estatísticas só concretizam
pensamentos de que realmente a mulher negra sempre vai ter dificuldades afetivas
não importa a classe social, através das entrevistas feitas para tal pesquisa pude
perceber a conexão de pensamentos a respeito do medo de ficar só, nunca se sentir
suficiente. A rejeição é um processo histórico, assim como nossos gostos e nossa
construção afetiva também perpassam aspectos sociais, então, se os gostos são
processos sociais e a sociedade historicamente impõe que o padrão certo é o da
pessoa branca, obviamente a mulher negra, mais uma vez e em mais um aspecto da
vida, fica colocada de escanteio. A respeito da submissão por medo de ficar só:

“... eu acho que isso influenciou muito no meu


relacionamento porque eu acho que a gente tem uma
fragilidade muito maior assim, um medo de ficar sozinha é muito
grande e isso acaba deixando a gente muito muito muito mais
vulnerável a violência dentro de um relacionamento né, porque
são coisas assim que nossos companheiros reproduzem
mesmo não sendo tipo, a pessoa que eu namorava não era

33
branca, ele era indígena digamos assim, ele não era de uma
comunidade mas ele tinha traços e tal e ele reproduzia racismo
comigo né, tipo de me objetificar, de falar coisas pesadas, acho
que não só por conta do machismo como também do racismo,
acho que juntava os dois ne, e ai de certa forma eu me
submetia a esse tipo de violência por medo de ficar só”. (Shuri)

Frente à insegurança de ser objetificada:

“O medo é grande, vou te falar, é grande... é grande ter


alguém... de ter alguém... me olhando com aquele olhar de tipo,
da preta do bundão, da preta com o peitão, de estar com uma
roupa mais curta e mexer ou de.. não sei. Medo de ta em um
relacionamento e piscar e o cara me trocar por uma menina
branca, e ai voltar todos os tijolos que eu fui construindo, tipo
“não eu sou foda, isso não vai acontecer”, mas é porque nossa
autoestima é abalada, medo de tudo, é insegurança”. (General
Okoye)

Em uma concepção heideggeriana do homem como Dasein perante as


tonalidades afetivas, fala-se sobre estar-lançado, que significa estar projeto dentro
de uma situação (POMPÉIA; SAPIENZA, 2011), situação essa que gera não apenas
medo, mas também muitas expectativas, nesse ponto de vista, a mulher negra se
submete a alguns tipos de relações pelo medo de ficar só, cria expectativas que
muitas vezes podem se desdobrar, e que vão se arrastando no contentamento de ter
aquilo para diminuir a dor da solidão. Dentro do contexto de tonalidades afetivas
também existe a vergonha (POMPÉIA; SAPIENZA, 2011), que está dentro da
tonalidade de desabrigo, é a sensação de estar exposta, sensação essa que
mulheres negras vivenciam ao ter o medo de ser olhada por conta de seu corpo, de
não poder vestir o que quer por ter a sensação de estar desprotegida.
Martin Heidegger em sua teoria fenomenológica explica sobre as esferas de
mundo que constituem a espacialidade existencial da pre-sença, isto é, do ser
humano (CASTRO, 2017) sendo uma delas o mundo pessoal, que diz respeito sobre

34
a relação que o individuo estabelece consigo mesmo, na consciência de si e no
autoconhecimento. Dessa forma, as situações que a mulher negra vai vivenciando,
sua relação o mundo circundante e com os outros é que vão possibilitar a
atualização de suas potencias e de como elas se enxergam, colocando as condições
necessárias para ir se descobrindo e se reconhecendo exatamente como é.

7.2 Estética:

Visto que o padrão estabelecido pela sociedade, é o da mulher branca de


traços europeus, existe uma grande inferiorização da estética negra, isso se dá
desde a escravatura, onde os traços negroides foram demonizados e colocados
como feios perante a sociedade. Por toda nossa vida foi criado um tabu de que ser
branco é ser gente, então quanto mais perto da branquitude à mulher negra chega,
mais dignamente ela pode ser tratada, nessa tentativa de alcançar o inalcançável
surge a angustia de lutar contra sua aparência, pois cada vez que a mulher é julgada
ou recebe olhares de estranhamento por causa do seu fenótipo, mais ela se sente
pressionada a seguir um padrão. A mulher negra se vê desde pequena condicionada
a se esforçar para se encaixar nesse ideal de branquitude. Visto que, a partir do
cabelo também se constrói a identidade e que a família incentiva algumas coisas,
consciente ou inconscientemente, pode-se notar como esse ciclo de opressão a
estética existe por varias gerações na procura por meios que possam camuflar seus
traços naturais.

“Mana, eu comecei a alisar meu cabelo com 12 anos.


por ter aquele padrão dentro da família também de todo mundo
ir pro salão, sempre, e eu ia com minha mãe pro salão eu via
todo mundo bonito daquele jeito e eu pedi uma chapinha, e eu
fazia todo dia, e acordava sei lá, 1 ou 2 horas mais cedo do que
tinha que acordar pra ir pra aula, pra poder alisar meu cabelo,
eu acordava 4 da manhã pra 6 horas sair de casa. E eu só não
alisei antes dos 12 porque a mamãe não deixou, se não com 8
anos eu já estava com a chapinha na mão ou feito alguma
química”. (General Okoye)
35
Frente ao medo que o impacto dos traços naturais causa no outro:

“Ano passado eu coloquei tranças né, e ai eu tava em


Goiânia e depois fui pra Brasília, e ai eu percebi nos olhares, as
piadinhas, porque Goiânia é uma cidade de brancos né e ai
eu... foi horrível, assim, porque eu tava passando na feira e as
pessoas tavam tipo, teve gente que tocou no meu cabelo, bem
aleatório assim sem nem eu conhecer sabe. E acho que isso
fere a gente [...] primeiro que eu fiquei com medo de sofrer
violência na rua né. Como te falei é uma cidade
predominantemente branca a gente fica meio assustada porque
muita gente olhou ao mesmo tempo e aí foi na mesma hora que
a pessoa passou a mão no meu cabelo e eu estava sozinha,
porque eu tinha ido com mais amigas né no encontro de
mulheres negras, e aí eu tinha ido na feira sozinha e aí parece
que todo mundo virou pra mim ao mesmo tempo, isso me
deixou desesperada e aí falei ‘meu Deus espero que não
aconteça nada comigo’ porque foi uma coisa muito estranha
como se fosse um objeto estranho, no lugar estranho, o que
talvez pra eles tenha ate sentido, não sei, mas é isso eu fique
com medo de ser atacada, não sei se aconteceria alguma coisa
porque foi muito estranha a reação deles quando me viram”.
(Shuri)
Dentro do contexto de tonalidades afetivas de Heidegger, se encontra a
angustia existencial, a partir dessa angustia o primeiro movimento do Dasein é
procurar abrigo, e ele vai se abrigar no “todo mundo” (POMPEIA; SAPIENZA 2011),
ou seja, o Dasein vai procurar determinações ou referencias dada pelo coletivo na
busca de enquadrar, de acordo com isso, a mulher negra ao enfrentar a angustia de
não poder ser quem é, muda sua estética na expectativa de conseguir o padrão e
significados já estabelecidos de “todo mundo”, o que acaba lhe gerando angústia
também já que o Dasein fica impedido de ser ele mesmo. Por outro lado, quando a

36
mulher negra também se mostra ao mundo de acordo com seus traços penteados e
afins, também passa pelo sentimento de medo e ameaça (POMPÉIA; SAPIENZA,
2011), como visto em uma das entrevistas onde foi relato a estranheza no olhar do
outro.
Segundo a fenomenologia de Merleau-Ponty (CASTRO, 2017), o corpo não
pode ser objetificado nem coisificado, pois a consciência está ligada com o corpo, e
o corpo compreende, e assim os sentidos existenciais se manifestam corporalmente,
sendo assim, a mulher negra existe para si mesma pela experiência do seu corpo e
por meio do seu corpo assume o espaço e não deveria passar por essas
representações simbólicas ou objetificantes.

7.3 Percepção do outro:


É possível ver a prática comum do pré-conceito gerado pela sociedade em
cima da raça negra, até porque, historicamente as pessoas sempre buscaram
silenciar os negros, seja por meio de tratamentos desiguais ou por meio da não
valorização e não identificação da raça, a maneira que as pessoas colocam isso em
cima da mulher negra causa-lhe distorções em sua imagem e autoestima. O outro
está constantemente impondo sobre a mulher como ela deve ser, com a mulher
negra não é diferente, além de ser pior por conta da sociedade que está tão
adoecida em controlar o outro, que acaba impondo até mesmo de que cor ela deve
ser, como mostra a fala a seguir:

“Eu vou falar de uma vez, marcou muito comigo porque


foi dentro da universidade e foi com uma professora. A gente
estava conversando, professora tava dando a matéria, acho que
teoria da comunicação que ela estava dando pra gente, e a
gente chegou no âmbito de falar sobre racismo no Amazonas,
pessoas negras, essa parada toda. Ela, mulher branca, e tinha
um outro colega de turma, ele era teólogo, e ele era meio
metido a sociólogo mesmo que ele não tivesse formação, do
Paraná, branco também, a gente estava conversando sobre e
eu fui falar sobre experiências como mulher negra, situações, e

37
ai ela falou “ah, mas você não é negra, você é queimadinha de
sol do Amazonas, você é morena” e eu falei “professora, eu sou
negra” e ela “não, você não é”, tipo, uma pessoa que não tem
propriedade nenhuma pra apontar o dedo na minha cara e me
dizer “não você não é negra”, porque na época talvez eu tinha o
cabelo liso, porque meu cabelo era vermelho, eu maquiava de
uma forma que deixasse meus traços mais fino, tipo, aquela
parada nariz da Kim kardashian, talvez isso tenha ajudado a
passar isso”. (General Okoye)

Frente à existência que se revela como a essência da pre-sença, Martin


Heidegger (CASTRO, 2017) diz que esta só poderá ser analisada em sua relação
com os outros, se existir é originariamente ser-com-o-outro, e, como Merleau-Ponty
ressalta que as coisas oferecem suas faces e o individuo as percebe de diversos
pontos de vista espaciais e temporais (CASTRO, P.30), será somente a partir
dessas relações cotidianas que a mulher negra terá suas potencialidades exaltadas,
sendo o Ser essas potencialidades, a experiência diária da mulher, e suas
percepções fará que, em seu fenômeno chamado corpo, ela aprenda e apreenda
enquanto humana nas relações que vivencia.

7.4 Se autoconhecer como mulher negra:


Um dos aspectos muito dolorosos da vida da mulher negra é da construção
e aceitação da própria identidade. É curioso, e ao mesmo tempo triste, notar que o
processo destrutivo está desde a infância, o desenvolvimento já é fundado em
procurar meios de ascender qualquer traço que seja mais perto do traço da pessoa
branca, e esconder de alguma forma o traço negroide, se dentro do seu meio
familiar e/ou social não tiver o contato necessário para que a criança tenha esse
auto reconhecimento, todo o restante do processo evolutivo será mais doloroso
ainda. O racismo que a mulher negra sofre desde nova, quando não mata, a deixa
insegura, com medo de sonhar. É a partir das falas dessas mulheres que foi possível
perceber mais ainda, que enquanto não se reconhece nem se assume tais
características fenotípicas, irá existir um certo sofrimento. Pode-se entender que:

38
“... eu acho que uma das primeiras coisas assim que
eu me deparei depois que eu consegui me reconhecer como
mulher negra né, porque demorou um pouco, acho que foi em
2015 depois que eu entrei no movimento social que eu consegui
me identificar enquanto mulher negra e entender as coisas que
aconteciam na minha vida e que eu não sabia o motivo né, não
tudo né, mas algumas coisas”. (Shuri)

Analisando a perspectiva dessa dificuldade em se reconhecer como mulher


negra, Heidegger em sua filosofia denomina tal situação como inautenticidade
(CASTRO, 2017), que se dá pelo distanciamento de sua condição real, ou seja, de
sua condição como mulher negra. É só quando a mulher negra encontra o sentindo
do Ser que ela poderá se reconhecer em sua singularidade, é a partir do Dasein,
Heidegger explica que o Dasein é a abertura para possibilidades, de ser-no-mundo,
que é livre em seu modo de ser, deve ser entendido como uma estrutura de
realização do ser (CASTRO, 20177), frente a condição de mulher negra, é só
quando ela atingir a reflexão como negra que ela irá conseguir desvendar o ser em
si mesmo, partindo da sua existência e reconhecimento como mulher negra que ela
terá a abertura (Da) para a compreensão das coisas (Sein), e a possibilidade de ser
propriamente quem é.

39
8 SÍNTESE COMPREENSIVA
O interessa por abordar o tema racismo vivido dentro da condição de ser
mulher negra foi pensado com intuito tanto de aprender, como de gerar mais
conteúdos que mexam com essa temática, com o olhar fenomenológico, o objetivo
foi compreender os sentidos que essas mulheres atribuíam a partir do racismo que
vivenciaram e vivenciam no decorrer de suas vidas.
Desde o momento que iniciei as buscas pelo tema, fui me deparando com
vários conteúdos e informativos que até então eram desconhecidos para mim, que
talvez eu não entendesse como racismo, me chamou atenção o fato de eu, como
mulher negra, fazer tão pouco uso de mídias sociais que me representavam, não só
mídias, mas conteúdos bibliográficos também e daí por diante, a partir disso
comecei a me aprofundar em diversos conteúdos, pude ter uma noção maior do
peso que o racismo, que está inteiramente ligado também com o machismo, causa
na vida de uma mulher negra.
Por meio de círculos sociais consegui chegar até três mulheres, as quais tive
a oportunidade de entrevistar. Logo de cara estabelecemos um dialogo muito bom,
foi interessante notar como tínhamos situações semelhantes, o que fazia essas
entrevistas se estender por mais tempo, pois a cada assunto colocado na
conversava, acaba que puxando outro, e ali se tornou uma troca de experiência, de
informação, percebi em uma das entrevistas o medo comum frente a vulnerabilidade
principalmente se tratando do corpo, do relacionamento afetivo, me senti feliz e triste
amo mesmo tempo, feliz por saber que eu não estava sozinha no meus
pensamentos sobre como eu percebia as coisas (na relação afetiva), triste por ter
mais certeza ainda que apesar dos processos ocorridos ainda somos vistas e
tratadas de formas muito desiguais, a entrevista se tornou uma conversa mais
carinhosa, por despertar conteúdos meus também, foi uma experiência muito boa
essa troca de conhecimento, de compartilhar a verdadeira fragilidade do que é ser
mulher negra.
Foi possível verificar que apesar de todas se identificarem como mulher
negra, e de ter conteúdos semelhantes, nossos processos de descobertas e
autoconhecimento são singulares, pude perceber na conversa com uma das
entrevistadas a presença de falas carregadas de pré-conceito que por sua vez
também eram racistas, porque sim, tudo é tão enraizado e doente que pessoas

40
pretas também reproduzem racismo, sem ao menos perceber. E por essa razão eu
escolhi não introduzir a entrevista na linha de pesquisa, pois acredito que não
condizia com o que eu queria passar.
O racismo tem efeitos e marcas que são carregados à vida toda, para mim,
foi um privilegio abordar esse assunto, na busca de compreensão do ponto de vista
da vida da mulher negra, também pude me compreender, e reaprender. Vejo através
dessa pesquisa uma forma de contribuir para o movimento na luta contra a
discriminação racial.

41
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a pesquisa pude compreender como a história de vida da mulher negra


carrega tanto tabu desde o seu nascimento, cada uma com suas particularidades.
Foi possível notar a carga emocional existente em todas as mulheres, foi
transpassada a fragilidade do que é ser mulher e negra, são marcas que o racismo
instala na autoestima, nas escolhas, em tudo, como se fosse uma ferida
constantemente aberta.
Ao notar todo trajeto da pesquisa, fica evidente que a mulher negra está bem
mais a mercê como alvo da sociedade, por sofrer em estruturas tanto do racismo,
como do machismo e classismo. Por essa razão, se faz necessário pensar sobre
politicas públicas, mas um olhar com o devido recorte racial, é possível reconhecer o
avanço que houve frente à temática, mas ainda é preciso mais vozes aos
movimentos sociais, com foco em prevenções na área da saúde, educacional,
moradia, trabalho. Sabemos que o trabalho de politicas publica é lindo no papel e
muito bem desenvolvido, mas para que funcione é necessário criar todo um conjunto
de etapas de desenvolvimento, infelizmente o planejamento de qualquer intervenção
dentro das politicas publica leva mais tempo do que resultado, um dos muitos
exemplos é na área educacional, que possui uma precariedade no acesso ao
conhecimento para todos em prol de um país menos desigual, essa educação que
se diz para todos não existe para a menina preta que tem que parar de ir para a aula
porque tem que ajudar em casa, que precisa abrir mão de seu lazer para trabalhar,
muitas vezes em situações desumanas, para sobreviver.
No campo da psicologia, pensar nessas politicas públicas e relações raciais
se torna necessário, uma vez que a psicologia é uma área que tem como alguns dos
princípios éticos, atuar com responsabilidade social, politica e econômica,
eliminando qualquer forma de negligencia e discriminação. Estaria o profissional de
psicologia preparado para tal demanda? Quais ferramentas e manejos o profissional
teria para intervenção no campo das relações raciais em diversos contextos?
Acredito que ainda exista um déficit muito grande a respeito da temática dentro da
formação da (o) psicóloga (o), se formos parar para analisar, uma das justificativas
para a falta de estudo a respeito da problemática, é o fato de a grande maioria das
(os) psicólogas (os) serem brancas (os), é muito difícil, diria que quase não existe,

42
um profissional, ao se deparar com a queixa de alguma paciente negra por exemplo,
fazer o devido recorte racial para analisar que o conteúdo se trata de determinada
desigualdade racial, infelizmente acontece de o profissional enquadrar o tema em
outro tipo de aspecto, seja violência doméstica, problema no trabalho, na vida social
ou amorosa, nesse sentido, falta um olhar mais delicado para a situação, para que
se possa perceber esse tipo de situação até mesmo para que haja um levantamento
de dados melhor sobre a real situação do que se passa com a população negra e
assim tenha um direcionamento melhor de providencias a serem tomadas. Como
estudante de psicologia acredito que é importante refletir sobre esses desafios
desde a sala de aula, com intuito de sensibilizar os alunos diante à realidade que a
sociedade vive.
Ao termino desta pesquisa pude compreender a necessidade que existe em
fazer disso um trabalho continuo, após toda a pesquisa, a desconstrução do racismo
e de seus consequentes é um trabalho interdisciplinar. Este trabalho é só uma ponta
de tantas outras que podem ser desenvolvidas, acredito que assim como a pesquisa
contribuiu para minha vida e formação, ela também pode contribuir para a sociedade
de modo que possa alcançar todas as classes.

43
REFERÊNCIAS

Acesso e Permanência da população negra no ensino superior / Maria


Auxiliadora Lopes e Maria Lúcia de Santana Braga, organização. – Brasília:
Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e
Diversidade : Unesco, 2007. 358 p. (Coleção Educação para Todos; v. 30) ISBN
978-85-60731-06

ALMEIDA, Nemésio. A entrevista psicológica como um processo


dinâmico e criativo. 34 – PSIC - Revista de Psicologia da Vetor Editora, Vol. 5,
nº.1, 2004, pp. 34-39.

BARBIERI, Josiane. Relação entre Psicologia e Fenomenologia a partir


da obra “Psicologia e Fenomenologia” (1917) de Edmund Husserl. 2011. 73f.
Dissertação de Mestrado – Pontificia Universidade Católica de São Paulo – SP.
2011.

Boni, Valdete; Quaresma, Sílvia. Aprendendo a entrevistar: como fazer


entrevistas em ciências sociais. Revista Eletrônica dos Pós-Graduandos em
Sociologia Política da UFSC. Vol. 2 nº 1 (3), janeiro-julho/2005, p. 68-80.

Borges, Taynara. Democracia Racial no Brasil: Um Mito. 2018. Disponível em:


https://www.portalraizes.com/democracia-racial/ . Acessado em: 11 de dezembro.

CAMINO, L. et al. A face oculta do racismo no Brasil: Uma análise


Psicossociológica. Revista Psicologia Política. 200. P. 13-36.

CAMPOS, Luiz. Racismo em três dimensões: Uma abordagem realista-crítica.


2017. Revista brasileira de ciências sociais - Vol. 32 N° 95. P. 1-19.

CARVALHO, Eliane. A identidade da mulher negra através do cabelo. 2015.


Monografia apresentada à Universidade Federal do Paraná – Curitiba. 58f.

CASTRO, Ewerton. Fenomenologia e Psicologia: As teorias e práticas da


pesquisa. 2017. P. 1-42.

COLPO, Marcos. O método fenomenológico de investigação e as


práticas clínicas em psicologia. 2013. Psic. Rev. São Paulo, volume 22, n.1, 101-
118.

Conselho Federal de Psicologia. Relações Raciais: Referências Técnicas para


atuação de psicólogas (os). Brasília. 1 ed. 2017.

DENTZ, René. Corporeidade e Subjetividade em Merleau-Ponty. 2008.


V.1 – No.2. pp. 296-307.

Dossiê mulheres negras: retrato das condições de vida das mulheres negras
no Brasil. Organizadores: Mariana Mazzini Marcondes ... [et al.]. - Brasília: Ipea,
2013.160 p.
44
DUARTE, R. Entrevistas em pesquisas qualitativas. Educar, Curitiba, n. 24, p.
213-225, 2004. Editora UFPR.
GRAÇAS, Elizabeth. Pesquisa qualitativa e a perspectiva fenomenológica:
fundamentos que norteiam sua trajetória. 200. Rev. Min. Enf., 4(1/2):28-33,
jan./dez., 2000

GODOY, Arilda. Pesquisa Qualitativa: Tipos Fundamentos. 1995. São


Paulo, v. 35, n.3, p. 20-29.

HOLANDA, Adriano. Fenomenologia e Psicologia: Diálogos e


interlocuções. 2009.
Revista da Abordagem Gestáltica – XV(2): p. 87-92, jul-dez, 2009.

LIMA, ABM., org. A relação sujeito e mundo na fenomenologia de Merleau-


Ponty. In: Ensaios sobre fenomenologia: Husserl, Heidegger e Merleau-Ponty
[online]. Ilhéus, BA: Ed. 2014, pp. 77-102. ISBN 978-85-7455-444-0. Disponível em:
http://books.scielo.org

NÓBREGA, Terezinha. Corpo, percepção e conhecimento em Merleau-


Ponty. 2008. – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 2008. Estudos de
Psicologia 2008, 13(2), p. 141-148.

NUNES, Sylvia da Silveira. Racismo no brasil: tentativas de disfarce de uma


violência explícita. Psicologia USP, 2006, 17(1), 89-98

OLIVEIRA, CAROLINE. Atlas da violência 2017: negros e jovens são as maiores


vítimas – publicado 5 de junho de 2017 - Disponível em:
https://www.cartacapital.com.br/sociedade/atlas-da-violencia-2017-negros-e-jovens-
sao-as-maiores-vitimas. Acesso em: 19 set. 2018.

OLIVEIRA, Cristiano. Um apanhado teórico-conceitual sobre a pesquisa


qualitativa: tipos, técnicas e características. Travessias, ed. 04. ISSN 1982 –
5935.

OLIVEIRA, Marília; CARARO, Telma. Cuidado em Heidegger: uma possibilidade


ontológica para enfermagem. 2010. Programa de pós-graduação em Enfermagem.
Florianópolis – SC. P. 367-380.

Redação. Brasil mata 71% mais mulheres negras do que brancas - publicado 6
de junho de 2018 – Disponível em:
https://www.cartacapital.com.br/diversidade/brasil-mata-71-mais-mulheres-negras-
do-que-brancas Acesso em: 19 set. 2018.

RODRIGUES, Cristiano; PRADO, Marco. Movimento de mulheres negras:


trajetória política, práticas mobilizatórias e articulações com o estado
brasileiro. Psicologia & Sociedade; 22 (3): 445-456, 2010.

45
Roehe, M. V. & Dutra, E. (2014). Dasein, o entendimento de Heidegger sobre o
modo de ser humano. Avances em Psicología Latinoamericana, vol. 32(1), pp. 105-
113. doi: dx.doi.org/10.12804/apl32.1.2014.07.

SAMARIDI, Isadora. O ser-no-mundo e suas possibilidades existenciais


num conceito atual. 2011. Caderno de textos - IV Congresso de Fenomenologia
da região Centro-Oeste - 19 – 21 de Setembro de 2011. P. 290-293.

SANTOS, M. et al. Desigualdade de gênero: a mulher negra no mercado


de trabalho. 2017. VIII Jornada Internacional Políticas Públicas. S.P.

Siani, S; Correa, Dalila; Casas, Alexandre. Fenomenologia, método


fenomenológico e pesquisa empírica: O instigante universo da construção de
conhecimento esquadrinhada na experiência de vida. 2016. Revista de
administração da UNIMEP. V. 14, n.1. Janeiro-abril – 2016. ISSN: 1679-5350. P.
193-219.

SILVA, Benedita. Racismo no brasil: o veneno que corrói um país que não
consegue virar nação. 2015. Disponível em:
https://www.brasil247.com/author/Benedita+da+Silva . Acessado em: 12 de
novembro.

SILVA, Milena. O impacto do racismo na saúde mental das vítimas.


2017. 11f. Universidade Católica de Pernambuco - Psicologia.pt ISSN 1646-6977.

SILVIA, Karla. O que é ser negro no Brasil?: Uma reflexão sobre o processo de
construção da identidade do povo brasileiro. Cadernos Imbondeiro. João Pessoa,
v.2, n.1, 2012.

VILELA, Antonio Augusto. Uma breve reflexão sobre racismo no Brasil e o


direito no âmbito da sociedade brasileira. 2018. Disponível em:
http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,uma-breve-reflexao-sobre-o-racismo-no-
brasil-e-o-direito-no-ambito-da-sociedade-brasileira,591314.html. Acessado em: 03
de outubro

VIEIRA, Bianca. Mulheres Negras no Brasil: trabalho, família e lugares sociais.


2018. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Campinas – SP - P.
12-102.

Oliveira, M. L. P., Meneghel, S. N. e Bernardes, J. S. Modos de subjetivação de


mulheres negras: efeitos da discriminação racial. Psicologia & Sociedade; 21 (2):
266-274, 2009

PACHECO, Ana. “Branca Para casar, mulata para f...., negra para trabalhar”:
escolhas afetivas e significado de solidão entre mulheres negras. 2008. Tese
de doutorado – Programa de pós-graduação em ciências sociais do Instituto de
filosofia da Universidade Estadual de Campinas – SP. P. 1-317.

PIMENTEL, Cleison. Redescobrindo o viver: sentidos atribuídos por


adolescentes à experiência do diagnóstico de HIV/AIDS. 2015. Dissertação
46
submetida ao Programa de Pós-graduação em Psicologia - PPGPSI da Universidade
Federal do Amazonas – UFAM. P. 1-85.

47
ANEXOS

48
TERMO DE AUTORIZAÇÃO

Eu, ____________________________________depois de entender os


riscos e benefícios que a pesquisa intitulada “uma análise fenomenológica-
existencial da vivência da discriminação racial na perspectiva de mulheres negras”
poderá trazer, e entender especialmente os métodos que serão usados para a coleta
de dados, assim como, estar ciente da necessidade da gravação de minha
entrevista, autorizo, por meio deste termo, a pesquisadora Erika Oliveira da Silva a
realizar a gravação de minha entrevista sem custos financeiros a nenhuma parte.
Esta autorização foi concedida mediante o compromisso dos pesquisadores
acima citada em garantir-me os seguintes direitos:
1. Se desejar, poderei ler a transcrição de minha gravação.
2. Os dados coletados serão usados exclusivamente para gerar informações
para a pesquisa aqui relatada e outras publicações dela decorrentes, quais sejam:
revistas científicas, congressos e jornais.
3. Minha identificação não será revelada em nenhuma das vias de
publicação das informações geradas.
4. Qualquer outra forma de utilização dessas informações somente poderá
ser feita mediante minha autorização.
5. Serei livre para interromper minha participação na pesquisa a qualquer
momento e/ou solicitar a posse da gravação e transcrição de minha entrevista.

Assinatura da participante da pesquisa.

Assinatura do pesquisador responsável.

49

Você também pode gostar