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A Psicologia e a Diversidade

Maureen Lizabeth dos Reis1 CRP 08/05902

Você já deve ter visto muito por aí a palavra “diversidade”. Mas você
sabe o que de fato ela significa?
Passo a tecer algumas considerações e reflexões sobre esse tema.
Primeiro se faz necessário, deixar nítida algumas definições e diferenças que
sempre aparecem quando se aborda esta temática, tais como: diversidade,
inclusão, racismo, preconceito, discriminação, sexualidade, gênero, etc
Comecemos com a racismo. Racismo é a crença na superioridade
inerente de uma raça sobre todas as outras e, deste modo, o direito de
dominância; manifestado ou subentendido. É uma relação de Poder.
Já o termo preconceito é uma forma de conceito ou juízo estabelecido
sem qualquer aviso prévio do assunto tratado, enquanto que a discriminação é
o ato de separar, excluir ou diferenciar pessoas ou objetos.
Essas definições são necessárias aqui pois tenho acessado vários
textos e até vídeos de profissionais renomados, profissionais brancos da área
da psicologia, e percebo que muitas vezes, acabam por não nomear
corretamente cada uma das situações tratadas aqui. E isso pode estar
ocorrendo por algum receio interno do profissional, por falta de informação ou,
ainda pela percepção alienada acerca do sistema racial brasileiro, ou melhor,
por estar tão inserido no sistema social marcado por mais de 500 anos de
privilégios e, por consequência mergulhado no racismo estrutural e/ou
institucional que se faz presente no dia-a-dia de quem tem mais melanina, que
não consegue visibilizar as pessoas que não as tem.
O movimento do feminismo negro abre a teoria do lugar de fala, o qual
não se trata de calar o outro, mas sim; de abrir espaço para que diversas vozes
sejam ouvidas e levadas a sério.

1
Psicóloga Clínica, graduada pela Universidade Tuiuti do Paraná, especialista em Dependências
Químicas pela PUCPR, Especialista em Transtornos Alimentares, Obesidade e Cirurgia Bariátrica pela
Faculdades Unyleya, licenciatura em plena em História pela Faculdades Integradas Espírita,
Equoterapeuta pela Associação Nacional de Equoterapia - ANDE-BR de Brasília, DF. Universidade de
Brasília. Mestranda em Psicologia Social pela FUNIBER, 2022.
Segundo Djamila Ribeiro2, numa sociedade como a brasileira, de
herança escravocrata, pessoas negras vão experienciar racismo do lugar de
quem é objeto dessa opressão, do lugar que restringe oportunidades por conta
desse sistema de opressivo. Pessoas brancas vão experiência-lo do lugar de
quem se beneficia dessa mesma opressão.  Logo, ambos os grupos podem e
devem discutir essas questões, mas falarão de lugares distintos. Estamos
dizendo, principalmente, que o que se quer e se reivindica é que a história da
escravização no Brasil seja contada pela perspectiva do escravizado, e não
somente pela do colonizador. E parafraseando Walter Benjamin, em “Teses
sobre o conceito de história” estamos aponto para a importância de quebra de
um sistema vigente que invisibiliza essas narrativas.
Continuando minha reflexão; o senso-comum no campo da sexualidade,
é o título que se recebe do médico obstetra ao nascer, de acordo com as
características fisiológicas como a genitália, os hormônios e os cromossomos
que se carrega. Fica então padronizados os indivíduos na certidão de
nascimento, como feminino ou masculino.
Já a questão de gênero é mais intrincada que o simples uso do termo
sexo, pois inclui papéis e expectativas sociais sobre os comportamentos,
pensamentos, e características que acompanham o sexo atribuído a uma
pessoa. O gênero não necessariamente acompanha o sexo.
A concepção de gênero tem por base, o comportamento, a vestimenta, a
forma de falar. Existe uma forma prévia de como a sociedade espera que se
deva agir de acordo com o sexo.
O sexo atribuído e a identidade de gênero de algumas pessoas são
praticamente os mesmos ou estão alinhados, são as pessoas cisgênero.
Outras pessoas sentem que o sexo que lhes foi atribuído no nascimento é
diferente da sua identidade de gênero, são as transexuais ou transgêneros. Há
também aqueles não se identificam com sexo ou gênero. Essas pessoas
podem escolher rótulos como "genderqueer", não binárias ou de gênero fluido.
Não podemos deixar de fora, ao falar em diversidade as pessoas
portadoras de necessidades especiais que são aquelas que apresentam, em
2
Djamila Taís Ribeiro dos Santos ( Santos, 1 de agosto de 1980) é uma filósofa, feminista negra,
escritora e acadêmica brasileira. É pesquisadora e mestra em Filosofia Política pela Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp). Tornou-se conhecida no país por seu ativismo na Internet, atualmente é
colunista do jornal Folha de S. Paulo.
caráter permanente, perdas completas ou irregularidades de suas funções
psicológicas, fisiológicas ou anatômicas, e que acabam gerando incapacidade
para a execução de certas atividades, dentro do padrão considerado “normal”.
As várias deficiências podem ser: visuais, mentais, auditivas e cerebrais.
No mundo corporativo, as organizações e empresas perceberam o
quanto aumenta a rentabilidade quando o ambiente de trabalho se espelha na
diversidade social; o que não deixa de ser uma ação afirmativa, mesmo que
muitas empresas ainda pensem que seja caridade incluir pessoas diversas,
saindo da lógica hegemônica. No mundo do trabalho, a inclusão da
diversidade consiste em ratificar o cumprimento da responsabilidade
social diante da pluralidade existente na sociedade.
Sabe-se que a diversidade e Inclusão promovem ambientes corporativos
mais criativos, mais inteligentes, mais engajados, mais inovadores e por
consequência que produzem melhores experiências para os consumidores
finais e melhores resultados para os negócios. Mas quando pensa em inclusão
da diversidade, é melhor que seja em todos os setores das empresas,
circulando pelos espaços, e não simplesmente para reproduzir o que muitas
vezes a sociedade faz...manter as pessoas nos lugares já pré-estabelecidos.
Como exemplo: - não é porque a mulher é negra, que necessariamente está
atrás de uma vaga de cozinheira, sem desmerecer as pessoas que ocupam
essa função. Mas após a que sabemos que foi falsa, tipo pra inglês ver, as
mulheres negras somente conseguiam empregos em cozinhas, e em serviços
de limpeza.
Como mulher negra e psicóloga, não posso deixar de pensar no quanto,
ainda nossa ciência precisa avançar, pois ela foi pensada, estudada, definida e
conceituada a partir do pensamento eurocêntrico e colonizador. As
psicoterapias em seu início, foram moldadas no modelo eurocêntrico e
cisgênero, para atender traumas pós-guerras. Não foram pensadas para cuidar
da alma e de trauma de pessoas descendentes de escravizados ou de pessoas
transgêneros.
O racismo brasileiro é baseado numa lógica perversa que tem um
sistema subjetivo, onde o branco não quer perceber os privilégios
sesquicentenários que o seguem. Obviamente não todos, mas alguns já
compreendem o que seja branquitude.
“a branquitude como um lugar estrutural de onde o sujeito branco vê os outros, e a si
mesmo, uma posição de poder, um lugar confortável do qual se pode atribuir ao outro aquilo
que não se atribui a si mesmo”. (Frankenberg, 1999b, pp. 70-101, Piza, 2002, pp. 59-90).

Genericamente, a branquitude significa pertencimento étnico-racial


atribuída ao branco, na hierarquia racial é entendido como lugar mais elevado,
com poder para classificar os outros como não branco. Ser branco vai além do
fenótipo, ser branco consiste em ser proprietário de privilégios raciais
simbólicos e materiais.
E esse sistema inter-racial, onde muitas vezes ouvimos: - pra mim,
somos todos iguais não hà distinção; essa coisa de racismo é bobagem.
Bobagem não, o racismo mata, segundo o Atlas da violência descreve
abaixo:

No Brasil, os casos de homicídio de pessoas negras (pretas e pardas) aumentaram


11,5% em uma década, de acordo com o Atlas da Violência 2020, divulgado hoje (27), em São
Paulo, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de
Segurança Pública (FBSP). Ao mesmo tempo, entre 2008 e 2018, período avaliado, a taxa
entre não negros (brancos, amarelos e indígenas) fez o caminho inverso, apresentando queda
de 12,9%.
E não tem como pensar em diversidade sem levar em consideração meu
próprio lugar de fala, que percebe o racismo em suas variadas nuances desde
muito pequena, é o racismo se insere em nossas vidas desde tenra idade, uns
a sentem antes dos 4 anos de idade, outros vão percebendo conforme sua
trajetória o permite. A invisibilidade é tanta que as pessoas brancas não tem
olhos pra nos ver, exemplificando: hoje estava vendo um vídeo de Elisa
Luciana a poeta, cantora e compositora, onde ela relata essa invisibilidade no
programa Quebrando Tabu, onde ela diz:
“eu sempre fui muito confundida, nós pretos somos muito confundidos,
confundem Lazaro Ramos com Seu Jorge, confundem Flávio Bauraqui com
Fabricio Boliveira, me confundem com Zezé Motta, Elza Soares, Margareth
Menezes, só os brancos que confundem os pretos desse jeito, eu não
confundo Eliana com Claudia Leite.....é muito doido, as pessoas não fazem
contato é um corpo preto....o que isso gera? Pois é isso gera milhões de falsos
reconhecimentos que colocam pessoas pretas na cadeia” (Elisa Lucinda,
Programa Quebrando Tabu).
É isso, quando falo sobre invisibilidade da pessoa negra e suas
subjetividades. Não tem como, não entender o impacto do racismo na
construção emocional do nosso povo, na autoestima, na saúde mental da
pessoa preta, as frustrações e medos.

OLIVEIRA, Raquel de – Tramas da Cor enfrentando o preconceito do dia-a-dia


escolar, São Paulo, Ed. Selo Negro, 2005.
MULLER, Tania M.P. e CARDOSO, Lourenço. Branquitude – Estudos sobre a
identidade branca no Brasil, Ed. Appris, 2017
RIBEIRO, Djamila – Lugar de Fala, S.P. Sueli Carneiro, Polen, 2019.

https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/racismo.htm
http://www.geledes.org.br definições

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