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Saúde Mental dos Educadores antes da Pandemia

Cerca de 5 mil professores em todo o Brasil revelou que 60% sofrem com
ansiedade, estresse e dores de cabeça e 66% já sentiram fraqueza, incapacidade
ou medo de ir trabalhar. Para 87%, os problemas de saúde são ocasionados ou
intensificados pela profissão.
Os resultados demonstram que saúde mental é um dos temas mais relevantes
entre os professores e que precisa da nossa atenção.

O que é uma pandemia?


Qual era percepção doa durabilidade desse fenomeno “pandemia” Coronona
Virus?

Como está a saúde mental dos professores na pandemia?


A sobrecarga e o sofrimento mental dos professores não é um problema
exclusivo da pandemia.
Uma pesquisa realizada em 2018 com professores da rede pública do Paraná
mostrou que 70% dos entrevistados enfrentavam a ansiedade, 44%
tinham depressão e 75% relatavam conviver com distúrbios
psíquicos menores.
Realizado com 1.021 professores, o estudo também concluiu que a incidência
dos sintomas era maior entre pessoas do sexo feminino e entre quem precisa
levar trabalho para casa. Em todos os casos, o sofrimento mental tinha
relação com as condições de trabalho.
Durante a pandemia, o ensino remoto emergencial aumentou a carga de
trabalho. Muitos professores precisaram se adaptar a um formato online, sem a
capacitação e os recursos necessários.
Tais fatores, aliados à cobrança dos pais e gestores e ao sofrimento de
conviver com uma doença que vitimou milhares de pessoas no país,
contribuíram para gerar problemas na saúde física e mental dos professores.
A pesquisa Retratos da Educação na Pandemia, realizada pelo Instituto
Península revela que, para mais da metade (56%) dos docentes consultados,
houve algum tipo de mudança na situação de trabalho devido à crise do
coronavírus.
Essas mudanças se refletem principalmente na redução de salário e aumento
na carga horária.
Como a escola pode contribuir para a saúde mental dos professores?
O desgaste emocional dos professores é um sintoma que traz consequências
graves para a vida do profissional e deve ser visto como uma questão
de saúde pública.
Em um contexto de pandemia, é necessário entender que a problemática
relacionada à saúde mental não é pessoal, mas sim um problema social que
demanda ações coletivas.
Para manter colaboradores engajados e satisfeitos, a gestão escolar precisa
estar atenta e oferecer recursos para reduzir os gatilhos que atacam a saúde
mental. Confira algumas ações que podem ser tomadas para reduzir o
adoecimento mental de professores.
Oferecer capacitação e ferramentas adequadas
Segundo o estudo Retratos da Educação na Pandemia, 49% dos professores
afirmaram que falta formação para lidar com desafios do ensino remoto,
enquanto 46% alegaram falta de conhecimento das ferramentas virtuais.
Saiba mais >> Educação a Distância no Ensino Médio na pandemia de Covid-
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Para enfrentar os desafios da pandemia, fortalecer essas habilidades é crucial
para apoiar o trabalho docente e recuperar o aprendizado dos alunos.
Cabe a gestão escolar estimular e oferecer cursos preparatórios que capacitem
o docente a utilizar as ferramentas e recursos digitais, como computadores,
além de ajuda para custear o gasto com energia e internet.

Estimular bem-estar físico e emocional


É importante que a gestão escolar estimule que os professores busquem
formas de trabalhar a saúde mental e ajude a quebrar o preconceito com
doenças psicológicas.
Para isso, campanhas de conscientização sobre os benefícios do
atendimento psicológico e psiquiátrico podem ser veiculadas pela escola, com
o objetivo de comunicar a comunidade escolar sobre a necessidade de encarar
o problema de frente.
Práticas esportivas e atividades de relaxamento, como meditação e yoga,
também podem ajudar a desenvolver habilidades socioemocionais e o bem-
estar físico, além de contribuir para a interação e o convívio entre os
professores.
Lembrando que essas atividades podem ser realizadas remotamente, sem a
necessidade de exposição e risco para a saúde dos envolvidos.
Otimizar o diálogo com as famílias
A participação da família é fundamental para que a gestão, professores e
comunidade escolar coloquem as expectativas e objetivos na mesma página.
Uma pesquisa encomendada ao Datafolha pelo Itaú Social e Imaginable
Futures mostrou que a pandemia fez com que as famílias valorizassem ainda
mais o papel do professor.
Saiba mais >> O que é Gestão Escolar Democrática e como aplicar?
Segundo o estudo, 71% dos responsáveis pelos alunos passaram a valorizar
mais o trabalho dos docentes, enquanto 94% acham muito importante que os
professores estejam disponíveis para correção de atividades e esclarecimento
de dúvidas no ensino remoto.
Através de conselhos de classe e encontro com os pais, os professores
podem alinhar a comunicação e entender melhor o contexto e
as cobranças das famílias, contribuindo para humanizar as relações
fragilizadas pelo distanciamento.
No entanto, essa cobrança deve respeitar o espaço do professor. Estabeleça
para alunos e familiares quais momentos o professor estará disponível para
responder às dúvidas dos alunos, evitando sobrecarregar o docente.
Construir redes de apoio
O atendimento psicológico não é totalmente efetivo se as circunstâncias que
criaram o sofrimento não forem tratadas. Para entender o contexto,
a comunicação é fundamental.
Oficinas, eventos e reuniões são indicadas para construírem espaços em que
os professores possam se expressar. Nesse momento, a união entre os
professores é muito positiva.
Provavelmente o grupo está enfrentando as mesmas dificuldades. Manter uma
rede de apoio social permite encontrar ajuda e oferecê-la quando puder.
Adotar a tutoria online
Uma alternativa para reduzir a sobrecarga de trabalho dos professores e
melhorar o desempenho dos estudantes é a tutoria online.
Através de tutores especialistas, a tutoria online atua como um reforço escolar
digital, oferecendo atendimento personalizado e individual na hora que o
estudante precisa e diminuindo a sobrecarga do professor.
Saiba mais >> Problema de 2 Sigma de Bloom: Escalando a Tutoria
Individualizada
O professor ganha mais tempo para se dedicar a atividades pedagógicas
enriquecedoras, enquanto os alunos solucionam suas dúvidas no tempo que
precisam para aprender.
Com tutores das principais universidades do país, o TutorMundi oferece tutoria
online em tempo real, sempre que o aluno precisar, e contribui para melhorar o
aprendizado de milhares de estudantes em todo o Brasil.
Conclusão
Como vimos neste artigo, a saúde mental dos professores na pandemia
encontrou alguns fatores que aumentaram as dificuldades já vivenciadas pelos
docentes.
Mais do que estimular atividades e acompanhamento psicológico, a gestão
escolar pode oferecer recursos e suporte ao trabalho dos professores que
também melhorem o desempenho dos estudantes.
Em tempos de pandemia, encarar os problemas de frente requer coragem e
disposição para acabar com preconceitos e tabus que adoecem milhares de
pessoas todos os anos.
Fontes
Sofrimento mental de professores do ensino público
Cartilha de apoio à saúde mental do(a) professor(a) durante a pandemia
de covid-19
Pandemia faz famílias valorizarem mais os professores
RETRATOS DA EDUCAÇÃO NO CONTEXTO DA PANDEMIA DO
CORONAVÍRUS
Professores: saúde mental fragilizada e a desvalorização como regra
O período de ensino não presencial nesta pandemia trouxe grandes desafios
para a educação brasileira. E que estão deixando, por outro lado, experiências
e legados importantes para a reflexão sobre o futuro do aprendizado. E uma de
suas possibilidades é o modelo híbrido de educação.
Para compreender os atuais cenários da nossa educação, encomendamos ao
lado do Itaú Social e da Imaginable Futures uma pesquisa ao Datafolha
realizada com 1.021 pais ou responsáveis de estudantes das redes públicas
municipais e estaduais, com idade entre 6 e 18 anos, no período de 16 de
setembro a 2 de outubro.
Esta é a quarta onda da pesquisa realizada com amostra de abrangência
nacional. As pesquisas anteriores foram realizadas nos meses
de maio, junho e julho. 
Maior participação das famílias e valorização dos professores
O estudo 'Educação não presencial na perspectiva dos estudantes e suas
famílias' apontou que 51% dos responsáveis consideram que
estão participando mais da educação dos estudantes, no período da pandemia.
Este índice sobe para 58% na região Sul e 57% no Centro-Oeste. Também
aumenta para 58% entre os responsáveis com maior escolaridade, contra 47%
entre os que têm nível fundamental. E 72% concordam com a afirmação de que
estão com mais responsabilidade pela educação dos estudantes durante a
pandemia, do que antes dela.
O levantamento aponta que 71% dos responsáveis pelos estudantes
estão valorizando mais o trabalho desenvolvido pelos professores e 94%
consideram muito importante que os docentes estejam disponíveis para
correção de atividades e esclarecimento de dúvidas durante as aulas não
presenciais. Outro efeito importante da pandemia para a educação é que a
maioria (64%) também considera que as aulas não presenciais foram
eficientes no aprendizado aos estudantes, enquanto 36% afirmam que não
foram eficientes.
Os resultados também revelaram dados sobre o acesso aos conteúdos. Em
setembro, 92% de estudantes brasileiros receberam atividades para fazer em
casa, contra 74% em maio. O aumento ocorreu em todas as regiões do país,
sendo o Norte (84%) a com menor índice de acesso. 
Desafios na pandemia
Por outro lado, o mapeamento mostrou os principais desafios que devem ser
enfrentados de agora em diante. Os estudantes estão menos motivados para
realizar as atividades em casa. Em maio, 46% se sentiam desmotivados, agora
são 54%. Porém, os índices se mantiveram estáveis quando comparados à
pesquisa anterior (de julho/2020): 51% em julho, contra 54% em setembro.
A percepção das dificuldades de estabelecer uma rotina de aprendizagem em
casa passou de 58% para 65%, de maio a setembro. Nos anos iniciais chega a
69%. Também para 28%, o relacionamento em casa piorou após o início das
atividades remotas, contra 21% em maio; nos anos iniciais esse índice é de
30%.

E o medo de abandonar a escola se manteve como em maio, em 30%, depois


de ter chegado a 38% na edição anterior da pesquisa, em julho. 
Covid-19 e renda
A investigação fez também um retrato mais abrangente da pandemia, para
além de aspectos diretamente relacionados à educação. Notou-se
uma sobrecarga nas famílias, reflexo dos efeitos na renda familiar. O
fechamento das escolas tirou refeições importantes para muitos estudantes em
situação vulnerável e existe grande insegurança em relação à saúde. Tais
questões podem se refletir na educação dos estudantes.
Entre os entrevistados, 54% têm em casa pessoas do grupo de risco para o
coronavírus. Já 82% não tiveram contato com a Covid-19 e 18% foram
contaminados pela doença. Uma maioria de 44% está em situação social de
isolamento flexível e apenas 4% têm experienciado uma rotina muito flexível
em relação ao isolamento.  Na contrapartida, 36% têm vivido de modo rigoroso
e 16% estão em uma rotina muito rigorosa.  
Para 42% das famílias, a falta de refeição que os estudantes faziam na escola
está pesando no orçamento, com destaque para o Nordeste, que chega a 52%.
A renda familiar diminuiu em 42%, e 38% recebem ou têm alguém em casa que
recebe Bolsa Família. Aqui, o Nordeste desponta com 58% e o Norte com 50%.
O auxílio emergencial tem sido usado por 59% dos domicílios abordados,
sendo 66% no Nordeste. 
Professores: saúde mental fragilizada e a desvalorização como regra
Sofrimentos psicológicos de educadores também são oriundos de sua vida
profissional — ao invés da pessoal. Com o não reconhecimento, a sociedade
agrava e torna ainda mais invisível essa dor
LAURA RACHID, 22 DE MARÇO DE 2021
 
 
 
Saúde mental e educação é um dos temas principais dos estudos e pesquisas
de Deise Juliana Francisco, que também o desenvolve em formação de
professores, pesquisa e extensão universitária. Graduada e licenciada em
psicologia, com mestrado em educação e doutorado em informática na
educação, é professora na graduação e pós-graduação em educação da
Universidade Federal de Alagoas (UFAL).
Deise Juliana faz parte do grupo de pesquisa Saúde mental, ética e educação,
vinculado ao programa de pós-graduação em educação da universidade
alagoana, que atua junto a professores e, recentemente, a alunos que
manifestam sofrimento psíquico tanto no ensino superior quanto na educação
básica. Inclusive, pesquisam sobre a saúde mental dos educadores que atuam
com inclusão. Os resultados, segundo Deise Francisco, são interessantes,
porque verificaram que trabalhar com inclusão é um fator de proteção à saúde
mental do professor, pois ele se sente valorizado e reconhecido na sua atuação
profissional, na medida em que percebe as aprendizagens dos alunos. Por
outro lado, notaram que as atividades burocráticas e a falta de autonomia dos
professores são fatores de risco para a emergência do sofrimento do educador
no trabalho.
Leia: Pandemia de adoecimento mental: um psicanalista em busca de
interlocução
“Como trabalhamos numa perspectiva social, acreditamos que o contexto afeta
muito a saúde mental das pessoas e não podemos ver o sujeito dissociado de
seu contexto laboral. Neste sentido, buscamos pesquisar entendendo as
condições de trabalho aliada ao sofrimento, sem dissociar estes elementos.
Até porque, poderíamos cair na psicologização do mal-estar, o que causa
danos e mais sofrimento aos professores. Nosso sofrimento é social e criado
nas nossas relações de vida e de trabalho. Por isso, a participação de
sindicatos e de outras instâncias coletivas de defesa dos modos de trabalho e
contra precarização do trabalho docente são tão importantes”, defende a
doutora em educação.
Além disso, ela e os alunos da UFAL dedicam-se a atuar junto aos Centros de
Atenção Psicossocial (CAPS) com pessoas em sofrimento psíquico.
“Percebemos o quanto a educação está, ainda, afastada de muitos usuários de
CAPS, o quanto vários estão afastados da escola e pensei em formar
pedagogos para que pudessem alterar esta situação em suas práticas
profissionais, em uma disciplina eletiva do curso de pedagogia da UFAL
intitulada Saúde mental e tecnologias digitais e na pós-graduação, uma
disciplina intitulada Saúde mental e educação.”
Deise Juliana Francisco ainda atua no programa de pós-graduação em
cognição, tecnologias e instituições, da Universidade Federal Rural do Semi-
Árido (UFERSA), no Rio Grande do Norte.
Confira, a seguir, a entrevista que ela concedeu à Educação e que destaca a
realidade preocupante que vivem nossos professores. “Abraçar os educadores
passa por entender que a problemática não é pessoal, é social”, alerta.
Leia: Livro conta 21 histórias reais de estudantes, incluindo refugiados,
que transformaram a educação
Entrevista
Você afirma que ainda é um tabu falar sobre problemas mentais. Por quê?
Nossa sociedade foi construída a partir de algumas divisões, uma delas é entre
a racionalidade e a irracionalidade, o mundo das paixões. A loucura foi sendo
construída como algo perigoso, fora da norma e contra o capital. Michel
Foucault discutiu a construção do conceito de loucura como um efeito de
relações de saber-poder. Desta forma, o imaginário social está contaminado
por ideias como: a pessoa que sofre é perigosa, precisa estar apartada da
sociedade, pode causar algum mal. Isto permeou as práticas hospitalares nos
manicômios. Além disso, temos um ideal de racionalidade como produtividade
e excelência. Estes ideais sociais permeiam nossa subjetividade e fazem-nos
não aceitar outras formas de ser e de viver. Este ideal pernicioso faz com que
tentemos nos adequar a um ideal patriarcal e capitalístico, excluindo os que
não se formatam a este modelo. Ora, com isto, gera-se sofrimento por não nos
adequarmos a este ideal.

Deise Francisco sobre saúde mental: “muitos professores não aceitam ou


divulgam o CID de transtorno psiquiátrico para não ficarem estigmatizados na
escola, para não serem chamados de loucos” (foto: arquivo pessoal)
Esse quadro gerou tabu, porque as pessoas sentem-se constrangidas,
culpadas e com vergonha de ter algo que elas deveriam ser, imaginariamente,
capazes de controlar e superar. No ambiente de trabalho alia-se a isto o medo
de perda do emprego e da competência profissional.
Muitos professores não aceitam ou divulgam o CID [Classificação Estatística
Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde] de
transtorno psiquiátrico, para não ficarem estigmatizados na escola, para não
serem chamados de loucos. Este é, ainda, um problema a ser encarado de
forma coletiva pelas instituições de ensino.
Além disto, tem a questão do período de tratamento, em que algumas pessoas
começam a fazer atividades de lazer e de práticas esportivas e podem ser
vistas pelos colegas de trabalho como não tendo problemas, sendo vistas
como preguiçosas. Este é outro desafio a enfrentar. E isto não é privilégio do
Brasil não.
Como integrantes do grupo de pesquisa Saúde mental, ética e educação
da UFAL, o que tem chamado a atenção de vocês nos últimos tempos?
Temos visto o aumento espontâneo de pessoas que relatam sofrimento na
educação, seja alunos, professores, técnicos. Nas redes sociais também
acompanhamos casos de professores com exaustão, aumento de ansiedade e
insônia, dentre outros sintomas.
Se olharmos mais atentamente, veremos que os relatos são feitos mais
frequentemente por mulheres, negros, homoafetivos, transgêneros e outras
minorias. Então, vemos que há recortes de gênero, raça/etnia e classe social.
Dar visibilidade a isto, neste contexto de pandemia, é muito importante. Sair do
registro da meritocracia é também uma necessidade. Seriam estas pessoas
mais frágeis? Ou seriam as mais atacadas pelo sistema social? Como dar
visibilidade às estratégias de fragilização, de exclusão e de morte social e
simbólica que certos grupos sofrem?
A medicalização para quaisquer sintomas é também reflexo de nossos tempos
em que não há tempo para sofrer, há de se produzir. A metáfora do corpo
como uma máquina para trabalhar perpassa também a saúde mental, pois, se
não podemos “perder tempo” com dor de cabeça, poderíamos “perder tempo”
com outros sintomas?
Vemos, também, casos de suicídio, de ansiedade em situações de avaliação,
especialmente, surtos e outros episódios para os quais a comunidade escolar e
universitária não se encontra preparada ainda.
Por que os professores, sejam eles da educação básica ou superior,
estão com a saúde mental fragilizada?
A Organização Internacional do Trabalho aponta a categoria docente como
sendo a segunda a apresentar doenças ocupacionais, sendo os sintomas
psiquiátricos bastante representativos e presentes nos afastamentos do
trabalho. Sendo assim, esta não é só uma questão para a educação, esta é
uma questão de saúde pública.
A literatura tem apontado que o trabalho docente tem passado por uma
precarização e desvalorização crescente por parte da sociedade, com reflexos
em baixos salários, grande carga horária de trabalho e muitas tarefas para
realizar nos momentos de lazer, diminuição de autonomia no trabalho, excesso
de tarefas burocráticas e administrativas. Aliado a isto, cresce o número de
funções delegadas aos professores, que antes eram da família ou de outros
profissionais, gerando sentimento de desqualificação e, também, sobrecarga
de trabalho. Os contratos temporários, a perda de garantias trabalhistas, a falta
de autonomia para planejar as aulas, bem como dificuldades no trato com pais
e alunos também geram sofrimento, aliados à violência escolar.
Leia: Centro Brasileiro de Pesquisa Aplicada à Primeira Infância é lançado
No contexto da pandemia, esta situação se torna mais visível. Espero que a
sociedade possa ter sentido “na pele” a importância da educação e da escola
na formação dos cidadãos.
A produção do sofrimento é coletiva e a forma de encarar o problema deve ser,
também, coletiva.
De forma rápida, como abraçar esses educadores?
Não adianta encaminharmos o professor para atendimento psicológico
individual se, após o atendimento, o professor voltar para as mesmas
circunstâncias que criaram o quadro de sofrimento. Abraçar os educadores
passa por entender que a problemática não é pessoal, é social. Como bem
diziam as feministas, “o pessoal é político”, ou seja, as condições de vida são
tramadas política e socialmente, mas as sentimos como pessoais, como um
efeito dos jogos de poder. É comum ouvirmos “o problema sou eu”, “eu não sou
capaz”, etc.  Para abraçar o educador, podemos começar desconstruindo esta
proposição, ao colocar que as condições de trabalho são políticas, mas
vivenciadas individualmente, entre as paredes do dito mundo privado e
psicológico. Sentir o problema como seu é um efeito, um dos mecanismos da
invisibilização do sofrimento ou da culpabilização daquele que o sofre.
As formas coletivas de fala, como oficinas, eventos, reuniões pedagógicas,
discussões em sindicatos, são indicadas para ampliar a discussão e promover
espaços de expressão e de discussão pública, bem como ações intersetoriais.
Reforçar os fatores individuais, familiares, escolares e comunitários de
proteção e tratar os fatores de risco é importante para fortalecer a rede de
atenção à saúde mental.
A formação para a saúde é um campo a fortalecer na formação dos
educadores, para que estes possam ficar sensíveis à detecção precoce de
questões de saúde mental, não para diagnosticar, mas sim para encaminhar e
discutir no coletivo escolar formas de promover saúde. Bem como para
promover educação socioemocional para a comunidade escolar.
Pensando em longo prazo, como mudar esse quadro? Qual o papel das
prefeituras e governos no caso da educação básica? E no ensino
superior?
Temos que atuar de forma a promover a saúde mental na educação e abrir
fóruns para criação de políticas públicas que envolvam a causa desde um olhar
plural e interdisciplinar. Esta questão é intersetorial, precisando de uma
atenção em rede para que possamos atuar no ambiente de trabalho, nas
relações de poder instituídas, no fortalecimento do sistema de saúde, nas
ações de lazer e arte, na formação universitária e em serviço.
Quando adentramos esta problemática, vemos que ampliar o olhar, pensar nas
diferenças e nos modos de operação da exclusão social são tanto
diferenciados quanto perniciosos. Envolver o movimento feminista, movimento
negro, movimento de inclusão, dentre outros, pode ser uma via interessante, na
qual a voz dos envolvidos deve ser ouvida e levada em consideração.
Podemos pensar em saúde mental no trabalho da professora, da pessoa com
deficiência, da criança, e de outros tantos. Além disso, uma discussão com a
sociedade em geral também é relevante.
Com participação social, discussão ampla, divulgação das formas de atenção e
busca de estabelecimentos de atenção, criação de políticas públicas, inserção
da saúde nos projetos políticos-pedagógicos dos cursos, formação de equipe
interdisciplinar e criação de políticas públicas podem ser um bom caminho para
promover saúde nas instituições de ensino.

Uma de suas batalhas é que as escolas também sejam vistas como


provedoras de um ambiente de saúde para educadores, colaboradores,
alunos e famílias. Você pode explicar um pouco mais dessa sua luta e
dificuldades?
As escolas são estabelecimentos com potencial para serem promotoras de
saúde mental. Por terem contato com os cidadãos ao longo de seu
desenvolvimento, podem acompanhar a saúde mental, promovendo escuta dos
alunos em seu desenvolvimento, criar espaços de formação para temáticas
como bullying escolar, depressão, desordens alimentares, automutilação,
sexualidade, autismo, transtorno de déficit de atenção e tantos outros que
podem fazer parte do cotidiano. Da mesma forma, temas próprios aos
professores como síndrome de Burnout, transtorno de ansiedade, relações de
poder na escola, e outros pertinentes ao trabalho do professor.
Verificamos relatos de professores que parecem, inicialmente, pessoais, mas
que vão encontrando eco nas vivências dos outros participantes.  Situações de
violência verbal, de assédio moral ficam restritas, na maioria das vezes, aos
envolvidos nos episódios. À medida que isto toma corpo e voz, podemos
construir formas de encaminhamento.
A luta é para inserir essa pauta na comunidade escolar, para produção de
políticas públicas nas quais todos possam ser escutados. As escolas têm um
potencial de trabalho com a subjetividade muito grande, abarca muitas pessoas
e instituições, podem ser promotoras de saúde mental.
“A participação majoritária de mulheres na docência na educação básica é uma
realidade histórica. Ao agregar educação e cuidado, em especial nas etapas
iniciais, a presença delas chega a 97,5% nas creches (dados Sinopse Censo
da Educação Básica 2019). Na medida em que se avança nas etapas de
ensino, a presença feminina diminui, ainda que no Ensino médio elas
representem 58%. Ao atribuir o recorte racial às profissões que exigem ensino
superior, a carreira docente se destaca por uma maior participação de negros.
Estudos realizados pela FCC indicam que enquanto nas engenharias a relação
é de três homens para uma mulher e cinco brancos para um negro, na
educação essa relação é de quatro mulheres para um homem e dois brancos
para cada negro.” (ARTES, 2018) Estudos indicam que durante a pandemia as
diferenças por sexo e cor/raça presentes na educação, tanto nas perspectivas
dos alunos como na de docentes, são mantidas e as desigualdades podem ser
ampliadas. O acesso à escola para meninos e meninas, brancos e negros é
marcado por desigualdades de condições de frequência e qualidade da
educação ofertada. São os negros e as meninas que tendem a enfrentar
maiores barreiras para acompanhar as atividades remotas, seja pelo não
acesso às tecnologias, seja pelas demandas domésticas ou pela necessidade
de trabalhar pelo sustento, na maioria das vezes em condições precárias e na
informalidade. O estudo realizado pela FCC com docentes indica que são as
professoras e professores negras/os que se sentem menos apoiados nas
atividades realizadas com seus alunos e alunas. Saber se esta percepção é
preexistente no espaço escolar ou agravada com a pandemia requer um olhar
interseccional para o cotidiano escolar e seus processos de convivência e de
trabalho.” ARTES, Amélia. Dimensionando as desigualdades por sexo e
cor/raça na pós-graduação brasileira. Educação em Revista, v. 34, 2018.

A importância da promoção da saúde mental de professores


Uma recente pesquisa sobre o impacto do sofrimento mental dos
professores que atuam no ensino público no Paraná destacou a relevância do
cuidado com a saúde emocional desses profissionais. O resultado da amostra
com 1021 professores revelou os seguintes dados:
·         ansiedade em 70%;
·         distúrbios psíquicos em 75%;
·         depressão em 44% dos entrevistados.
Esses índices demonstram a necessidade urgente de buscar formas de reduzir
os efeitos da quarentena na rotina diária desses profissionais. A substituição
da modalidade de aulas presenciais pela online elevou a carga de trabalho,
aumentou a ansiedade e o estresse e gerou todo tipo de desgastes nesse
grupo. 
Na verdade, ninguém estava preparado para as mudanças impostas pela
pandemia e, para os profissionais da educação, isso teve um peso ainda
maior. Fatores como cobranças administrativas e a falta de preparação para
essas transformações geraram graves problemas à saúde física e mental dos
educadores.
Mediante a urgente necessidade de se reinventar, muitos professores tiveram
a saúde emocional abalada pelos desafios impostos por esse cenário. Muitas
são as demandas que exigem a rápida adaptação deles a essas situações.
Além disso, o ritmo do trabalho virtual pode ser muito mais intenso do que nas
aulas convencionais.
Logo, a adaptação forçada ao “novo normal”, a extensa rotina online, o medo
da contaminação pela doença, o medo de muitos de perderem seus
empregos e a necessidade de manter o isolamento resultaram em grandes
impactos psicológicos nesses profissionais. Por isso, a atenção à promoção da
saúde mental dos educadores não pode ser negligenciada.
Saúde mental dos professores na quarentena
Promover a saúde mental do professor se tornou ainda mais necessário para
superar os desafios impostos pelas aulas digitais. Um estudo publicado pelo
Scielo alertou sobre a importância de prevenir o adoecimento mental nesse
grupo, dada a complexidade que envolve o trabalho docente nesse contexto de
pandemia.
A saúde mental desses profissionais durante a quarentena é um tema de
extrema relevância, já que muitos estão ficando exaustos, já que o novo
contexto exige que se aprenda novas habilidades em um curto espaço de
tempo, o que por si só é cansativo. Além disso, o trabalho em casa, muitas
vezes tendo de conciliar com as rotinas domésticas e necessidades da família
geram uma grande sobrecarga. Na maioria das vezes, não há um suporte
adequado por parte da direção da escola. Por essa razão, muitos docentes se
sentem impotentes diante dos desafios que não conseguem enfrentar
sozinhos.
Alguns profissionais — como pedagogos e psicólogos — que poderiam apoiar
os docentes nesse momento nem sempre estão presentes. Por conseguinte,
os professores estão cada vez mais expostos aos altos níveis de estresse
decorrentes do cenário atual da educaçãoque podem levar a transtornos
mentais.
Entre os maiores fatores que afetam a saúde mental dos professores,
destacam:se:
desvalorização social do trabalho;
classes virtuais muito numerosas;
falta de preparo para lidar com as tecnologias de ensino à distância;
falta de técnicas pedagógicas para o ensino on-line;
falta de apoio da gestão escolar;
relações interpessoais insatisfatórias;
turmas desinteressadas pelo aprendizado;
desânimo e desmotivação para o trabalho;
inexistência de tempo para um adequado descanso;
cobranças e exigências de qualificação do desempenho.
Dicas para promover a saúde mental do professor
Um ensaio sobre Liderança Educacional, publicado pela Universidade de
Harvard (EUA), abordou a importância de proteger a saúde mental dos
professores. Segundo os pesquisadores, os docentes percebem a necessidade
de promover o bem-estar de seus alunos, mas nem sempre se dão conta da
relevância de cuidar da própria saúde mental.
Tendo isso em vista, elencamos algumas práticas para melhorar a condição
emocional do professor. Confira!
Organize sua rotina
Engana-se, quem pensa que dar aula em casa é uma tarefa fácil. Além da
necessidade de mais tempo para pesquisar, planejar e elaborar as videoaulas
ou podcasts, ainda há o risco de imprevistos que podem surgir durante o dia.
Portanto, organizar melhor a rotina e estabelecer um cronograma com as
atividades diárias é crucial.
Pratique atividade física
Além de fortalecer o organismo contra diversos tipos de doenças, inclusive a
Covid-19, os exercícios físicos ajudam a relaxar a mente e promover o bem-
estar emocional. Tais práticas se tornam imprescindíveis à diminuição do
estresse e ao controle dos pensamentos negativos que comprometem a saúde
mental do professor.
Desconecte-se
Entre as formas de preservar o autocuidado, o controle do uso de dispositivos
eletrônicos é um dos mais relevantes. Como o cenário atual trouxe a
necessidade do uso constante da tecnologia para o trabalho, os professores
precisam buscar um ponto de equilíbrio em suas tarefas diárias.
O ideal é alternar a elaboração das videoaulas com atividades relaxantes,
como ioga, caminhada e práticas de instrumentos musicais. Adotar essas
medidas ajuda a relaxar o cérebro, além de movimentar o corpo para evitar os
danos decorrentes da postura durante o trabalho online.
Melhore as relações com os colegas
É fundamental que o corpo docente cumpra as metas estabelecidas pela
escola, mas o papel do diretor e dos demais auxiliares é fundamental na
organização da demanda. Melhorar as relações com os colegas e manter uma
comunicação eficaz pode diminuir a pressão e as cobranças resultantes da
sobrecarga de trabalho.
A importância de buscar ajuda 
Diante de tudo isso que apresentamos, é preciso buscar maneiras mais
adequadas para lidar com a questão emocional dos educadores em tempos de
pandemia. Por isso, para garantir uma saúde mental mais equilibrada, a ajuda
profissional é indispensável. 
Nessas circunstâncias, somente uma equipe de especialistas está apta a
auxiliar os docentes na superação dos riscos associados à rotina escolar. Um
suporte adequado é essencial para o enfrentamento das questões resultantes
dessa rápida transformação do contexto educacional.
Como vimos, diversas questões podem prejudicar a saúde mental do professor
e comprometer a qualidade do ensino. Logo, a ajuda de uma instituição
especializada em saúde mental não pode ser negligenciada.
E você, precisa de auxílio nesse sentido? Entre em contato com o Hospital
Santa Mônica e conte conosco!
A saúde mental dos professores brasileiros, que já demonstrava níveis de
preocupação alarmantes antes da pandemia, também foi fortemente abalada
pela crise causada pelo novo coronavírus. É isso o que demonstra uma série
de levantamentos em diferentes países que buscou identificar os efeitos do
isolamento social na rotina e na saúde mental da população. De acordo com os
dados, transtornos psicológicos poderiam atingir até metade da população em
decorrência da pandemia, de acordo com relatório da Fundação Oswaldo
Cruz (Fiocruz).
Outros estudos feitos com professores reafirmam essa preocupação e revelam
o medo, a insegurança e a reviravolta na rotina que acometeu a categoria
desde desde o início da pandemia de COVID-19. No Brasil, levantamento do
Instituto Península com 2,4 mil pessoas mostrou que, no período inicial da
pandemia, sete em cada dez professores tiveram a rotina muito ou
completamente afetada. O resultado apontou preocupação com a própria
saúde e de seus familiares, mas que também buscaram estudar, se manter
culturalmente ativos e buscar conteúdos e informações de cursos. 
A pesquisa começou a ser feita pela internet nas primeiras semanas de março
e será publicada em quatro fases que buscarão avaliar os sentimentos e a
percepção dos educadores brasileiros em cada um dos estágios do isolamento
social, objetivando assim um retrato das diferentes etapas da crise. 
Os primeiros dados da pesquisa mostraram que mais de 90% dos educadores
estavam muito ou totalmente preocupados com a situação que se assomava
nas primeiras semanas. Além disso, 60% procurou usar o tempo em casa para
se aprimorar e fazer cursos para se preparar para o momento. Ainda assim, na
segunda etapa da pesquisa, 83,4% revelaram que não se sentem preparados
para o ensino remoto, e mesmo os professores com experiência e robusta
formação em tecnologias e ensino a distância foram pegos de surpresa (confira
mais dados dessa pesquisa no infográfico ao final deste texto).
 
Medos em comum
Nos Estados Unidos, onde também eclodiu um dos principais epicentros da
crise, o Yale Center for Emotional Intelligence, da Universidade Yale, em
conjunto com o grupo CASEL (Collaborative for Social Emotional and Academic
Learning), realizou um questionário com 5 mil professores americanos sobre
sua saúde mental. 
Os pesquisadores pediram que descrevessem, com suas próprias palavras, as
três emoções mais frequentes que sentiam a cada dia de isolamento social.
Mais de 95% das palavras registradas no levantamento refletiam sentimentos
desagradáveis. Ansioso, medroso, preocupado, oprimido e triste foram as cinco
respostas mais comuns, enquanto apenas 6% da amostra mencionou
sensações positivas, como sentir-se esperançoso ou agradecido.
Em artigo, Marc Brackett, um dos relatores do levantamento, disse que as
causas do sofrimento relatadas pelos educadores estavam relacionadas
principalmente a problemas financeiros, falta de acesso a mantimentos e
material de limpeza, dificuldades de equilibrar a vida profissional e familiar,
sensação de confinamento ou medo de que eles ou alguém próximo contraísse
o coronavírus.
Ainda de acordo com Brackett, os dados coletados em março deste ano trazem
algumas preocupações que já haviam sido demonstradas em pesquisas
anteriores, como a dificuldade de balencear a vida privada com o trabalho.
Para exemplificar, o autor citou um estudo feito pelo mesmo grupo em 2017
identificando, àquela época, que os professores americanos já se sentiam
frustrados, estressados e cansados com a rotina de trabalho. 
A pesquisa de 2017 mostrava que a principal fonte dessa frustração estava
relacionada à falta de apoio da administração escolar para atender as
necessidades de aprendizado de seus alunos, às mudanças constantes no
currículo e à falta de equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal.
Emoções importam em todos os contextos
No LIV (Laboratório Inteligência de Vida), falamos frequentemente sobre como
as emoções impactam a aprendizagem dos alunos dentro e fora da escola.
Contudo, lembramos sempre que a educação socioemocional não se encerra
no estudante, pois as emoções afetam toda a comunidade escolar, bem
como as decisões tomadas por coordenadores, gestores e demais
funcionários.

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