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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DA

FAZENDA PÚBLICA DO ESTADO DO PARANÁ.

Obs. Isenta do recolhimento de custas prévias,


Conforme art. 87 da lei 8.078/90.

APCS – ASSOCIAÇÃO DOS POLICIAIS CABOS E


SOLDADOS, pessoa jurídica de direito privado sem fins
lucrativos, inscrita no CNPJ/MF n 04.453.194/0001-31, com
sede na Rua Itaipu 170, Universitário, Cascavel-PRR,
representado pelos advogados que abaixo subscrevem (conforme
instrumento de mandato), vem respeitosamente perante Vossa
Excelência, propor a presente:

AÇÃO DE DECLARATORIA CONDENATÓRIA

contra ESTADO DO PARANA, pessoa jurídica de direito


público, podendo ser citada e intimada através de seu
representante judicial, na pessoa do PROCURADOR
GERAL DO ESTADO, no Edifício sede da PGE, sito à Rua
Cons. Laurindo 561, 13º andar - 80060-100 Telefones: (41)
3221-8795 e/ou 3221-8796, em razão dos seguintes fatos e
fundamentos jurídicos:
1 PRELIMINARMENTE

DA LEGITIMIDADE AD CAUSAM DA ASSOCIAÇÃO AUTORA

Em face de expressa autorização constitucional, a


Associação Autora possui legitimidade para proposição desta demanda, visando à defesa de
seus associados.

Pacificou-se no âmbito deste Superior


Tribunal, no sentido de que a entidade
associativa não depende da autorização
expressados seus filiados para agir
judicialmente, quer nas ações ordinárias
quer nas ações coletivas do interesse da
categoria que representa, pois atuam como
substitutos processuais em consonância com
as normas da Lei n. 8.073/1990; art. 3º e art.
5º, XXI e LXX, da CF/1988. Com essas
considerações, a Corte Especial
negouprovimento ao agravo regimental.
Precedentes citados do STF: AgRg no RE
225.965- DF, DJ 25/6/1999; do STJ: REsp
676.148-RS, DJ 17/12/2004; RMS 11.055-
GO, DJ 2/4/2001; REsp 511.747-MA, DJ
13/10/2003; REsp 466.266-MG, DJ
10/3/2003, e REsp 427.298-DF, DJ
25/8/2003.” AgRg nos EREsp 497.600-RS,
Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, julgado
em 1º/2/2007.

[...] AJUIZAMENTO POR ASSOCIAÇÃO


REPRESENTATIVA DA POLÍCIA MILITAR.
POSSIBILIDADE. LEGITIMIDADE ATIVA
RECONHECIDA. DESNECESSIDADE DE
AUTORIZAÇÃO PARA PROMOÇÃO DO
FEITO EM ASSEMBLÉIA-GERAL. LISTAGEM
GERAL DOS ASSOCIADOS COM INDICAÇÃO
DE ENDEREÇO. REQUISITO AFASTADO.
IMPOSSIBILIDADE DA INDICAÇÃO DE
TODOS OS MEMBROS, QUE AINDA SE
TRATAM DE FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS.
EFEITOS ERGA OMNES. [...] (( 5ª Câm. Cível,
Mandado de Segurança nº 373830-7, RELATOR
JUIZ JURANDYR REIS JÚNIOR, Julg.
17/07/2007)
Entretanto, anexa-se a Ata da Assembleia Geral
Extraordinária, realizada ano dia 24 de novembro de 2016, convocada especialmente para
concessão de expressa autorização por parte dos seus associados, com vistas a dar guarida ao
protocolo do presente mandamus.

2. DOS FATOS E DOS FUNDAMENTOS DE FATO E DE DIREITO

2.1. Introdutório.

Ilustre Judicante. Como cediço, ao tratar das Disposições


Gerais atinentes a Administração Pública, o constituinte federal normatizou no inciso X, do
art. 37, da Constituição Federal que: “a remuneração dos servidores públicos e o subsídio
de que trata o § 4º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados por lei específica,
observada a iniciativa privativa em cada caso, assegurada revisão geral anual,
sempre na mesma data e sem distinção de índices.” (nosso destaque).

Por seu turno o legislador da unidade federativa do


Paraná, repetiu tais regras, fazendo constar do art. 27, inciso X, da Constituição Estadual que:

X - a remuneração dos servidores


públicos e o subsídio de que trata o §4o
do art. 39 da Constituição Federal,
somente poderão ser fixados ou
alterados por lei específica, observada
a iniciativa privativa em cada caso,

assegurada revisão anual,


sempre na mesma data e sem
distinção de índices; (grifo

nosso).
Deste modo, para a Administração Pública em Geral
passou a ser obrigatória a revisão das remunerações e subsídios de seus servidores públicos
ANUALMENTE, uma obrigação constitucional. Certo que, com a liberdade de fixar por
lei específica a forma desta revisão no transcurso do ano, as datas e os índices a serem
utilizados.

Com isso, as Administrações Públicas, direta e indireta


de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, ficou
OBRIGADA, ainda, a criar e editar lei específica para assegurar a revisão anual das
remunerações e ou subsídios dos servidores públicos, na mesma data e pelos mesmos
índices para todos os servidores INDISTINTAMENTE.

E assim, cumprindo as normas constitucionais e para


regulamentar tal dispositivos das Constituições Federal e Estadual, à Administração Pública
do ente federativo do Paraná editou a Lei Estadual nº 15.512, de 31 de maio de 2007, na
qual, no artigo 7º fixou a data base para a REVISÃO ANUAL, para todo o funcionalismo
público, o dia 1º (primeiro) de maio, fixando este como a data base. Diz o dispositivo
legal:

Art. 7º. Fica instituída a data de primeiro


de maio de cada ano para a revisão geral
anual (...). (grifo nosso).

Entretanto, no ano de 2015 a Administração Pública do


Paraná, manobrando astuciosamente, em violação direta à Obrigação Constitucional da
REVISÃO ANUAL, aprovou e editou a Lei Estadual nº 18.493, de 24 de junho de 2015,
pela qual, não apenas alterou provisoriamente o critério da anualidade, pois, remeteu a data
base dos anos de 2014/2015 e 2016 de primeiro de maio de cada ano para o ano seguinte
ao exercício orçamentário, como criou critério diferenciado entre os Servidores do
Executivo e demais servidores da Administração Pública ( vide Lei 18517 – 20 de julho de
2015)

Ficou estabelecido no art. 3º da Lei nº 18.493/2015 que a


data base passaria a ser o dia 1º de janeiro de 2016, 1º de janeiro de 2017 e o dia 1º de maio
de 2017 para as carreiras estatutárias civis e militar do Poder Executivo do Estado do
Paraná.
Art. 3. Estabelece o dia 1º de janeiro de 2017 e o dia 1º
de maio de 2017, para a revisão geral anual da
referência salarial inicial das tabelas de vencimento
básico ou de subsídio, com o consequente reflexo nos
interníveis e interclasses, respeitada a amplitude
salarial e a dinâmica intercargos, às carreiras
estatutárias civis e militar do Poder Executivo do
Estado do Paraná, em atendimento ao disposto no
inciso X do art. 27 da Constituição Estadual.

Assim, apenas a partir do exercício de 2017 retornaria a


data base para 1º de Maio de cada ano, na forma do art. 7º da Lei 15.512/2007, alhures
colacionada.

No entanto, a Administração Pública do Paraná não parou


por ai, pois, através da edição da Lei Estadual nº 18.907/2016, promoveu alteração para a
obrigação constitucional da Revisão Geral Anual, na qual, na foram do art. 33, da Lei
Estadual, adiou POR PRAZO INDETERMINADO os efeitos da reposição salarial
enquanto não comprovada a disponibilidade orçamentária e financeira PARA ESTE
FIM.

Art. 33. Não se aplica e não gera efeitos o disposto no art.


3º da Lei nº 18.493, de 24 de junho de 2015, enquanto
não forem implantadas e pagas todas as promoções e

progressões devidas aos servidores civis e militares e


comprovada a disponibilidade
orçamentária e financeira.

Veja-se que a regra do art. 33 suso colacionado suspende


os efeitos do art. 3º da Lei nº 18.493/2015, com ele a regra da anualidade do reajuste.

Com isso a revisão anual definida em leis anteriores (Lei


nº 15.512/2007 e Lei nº 18.493/2015) como dia Primeiro de Maio (01/05) de cada ano, passou a
ser por prazo indeterminado, ao menos para parte do funcionalismo público.
Ora, o dispositivo, inserido na 18.907/2016, que trata da
revisão anual, viola o inciso X, do art. 37, da Constituição Federal e inciso X, do art. 27, da
Estadual do Paraná, negando o cumprimento de OBRIGAÇÃO CONSTITUCIONAL, bem
como, viola o direito líquido e certo dos servidores do EXECUTIVO da Unidade Federativa
ao reajuste anual de vencimentos, bem como, da tratamento desigual em relação aos
Servidores dos demais Poderes, especialmente do ponto de vista orçamentário.

Relembra-se que, segundo precedente do STF, "a


doutrina, a jurisprudência e até mesmo o vernáculo indicam como revisão o ato pelo
qual formaliza-se a reposição do poder aquisitivo dos vencimentos, por sinal
expressamente referido na Carta de 1988 – inciso IV do art. 7º --, patente assim a
homenagem não ao valor nominal, mas sim ao real do que satisfeito como
contraprestação do serviço prestado. ESTA É A PREMISSA CONSAGRADORA DO
PRINCÍPIO DA IRREDUTIBILIDADE DOS VENCIMENTOS, SOB PENA DE
RELEGAR-SE À INOCUIDADE A GARANTIA CONSTITUCIONAL, NO QUE
VOLTADA À PROTEÇÃO DO SERVIDOR, E NÃO DA ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA" (STF, Pleno, RMS 22.307/DF, rel. Min. Marco Aurélio).

Sobre a impossibilidade do tratamento desigual entre as


categorias de Servidores Público da Administração Pública, diz a jurisprudência:

O art. 37, X, da Constituição, corolário do princípio fundamental da isonomia,


não é, porém, um imperativo de estratificação da escala relativa de
remuneração dos servidores públicos existentes no dia da promulgação da Lei
Fundamental: não impede, por isso, a nova avaliação por lei, a qualquer
tempo, dos vencimentos reais a atribuir a carreiras ou cargos específicos, com
a ressalva única da irredutibilidade. (...) Constitui fraude aos mandamentos
isonômicos dos arts. 37, X, e 39 e § 1º da Constituição a dissimulação,
mediante reavaliações arbitrárias, de verdade do simples reajuste
monetário dos vencimentos de partes do funcionalismo e exclusão de
outras. (...) Plausibilidade da alegação de que, tanto a regra de igualdade
de índices na revisão geral (CF, art. 37, X), quanto as de isonomia de
vencimentos para cargos similares e sujeitos a regime único (CF, art. 39 e
§ 1º), não permitem discriminação entre os servidores da administração
direta e os das entidades públicas da administração indireta da União
(autarquias e fundações autárquicas).[ADI 525 MC, rel. min. Sepúlveda
Pertence, j. 12-6-1991, P, DJ de 2-4-2004.]= ARE 672.424 AgR, rel. min.
Ricardo Lewandowski, j. 27-3-2012, 2ª T, DJE de 12-4-2012 Vide ARE
672.428 AgR, rel. min. Rosa Weber, j. 15-10-2013, 1ª T, DJE de 29-10-2013
Deste modo é imperioso que seja garantido aos servidores
públicos do executivo a reposição anual, na mesma forma e pelos mesmos índices que os
demais servidores do Paraná, como garantia de irredutibilidade de seus vencimentos e de
igualdade de tratamento.

Assim, por violarem as normas constitucionais e causam


grave lesão à direitos líquidos e certos dos servidores do executivo do Paraná, o art. 33 da Lei
Estadual nº 18.907/2016, dever ter sua inconstitucionalidade reconhecida e ser expurga de
nosso ordenamento jurídico;

Citando a lição de de JJGomes Canotilho, Andre Luiz


Borges Metto, comenta:

Certamente ninguém duvidará que vivemos em um


ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO (CF/88, art.
1º), revelador do que a doutrina chama de verdadeiro e
legítimo ESTADO CONSTITUCIONAL, "que pressupõe
a existência de uma Constituição que sirva – valendo e
vigorando – de ORDEM JURÍDICO-NORMATIVA
FUNDAMENTAL vinculativa de todos os poderes
públicos, aspirando a tornar-se um IMPULSO
DIRIGENTE de toda uma sociedade" (J. J. GOMES
CANOTILHO, "Direito Constitucional", Ed. Coimbra-
Almedina, 1993, 6ª ed., p. 360).1

Quanto ao que se sustenta, convém relatar que o STF


também já teve oportunidade de decidir que "a Constituição não pode se submeter à
vontade dos Poderes constituídos nem ao império dos fatos e das circunstâncias. A
supremacia de que ela se reveste – enquanto for respeitada – constituirá a garantia mais
efetiva de que os direitos e liberdades não serão jamais ofendidos" (RTJ 146/707, Rel.
Min. CELSO DE MELLO).

1
BORGES NETTO, André Luiz. A obrigação constitucional da revisão geral anual da remuneração dos servidores
públicos. Jus Navigandi, Teresina, ano 5, n. 47, 1 nov. 2000. Disponível em: . Acesso em: 29 jan. 2012.
Na lição de lição de KONRAD HESSE: "Quem se
mostra disposto a sacrificar um interesse em favor da preservação de um princípio
constitucional, fortalece o respeito à Constituição e garante um bem da vida indispensável
à essência do Estado, mormente ao Estado democrático. Aquele que, ao contrário, não se
dispõe a esse sacrifício, malbarata, pouco a pouco, um capital que significa muito mais do
que todas as vantagens angariadas e que, desperdiçado, não mais será recuperado" ("A
Força Normativa da Constituição", Ed. Sérgio Antônio Fabris, 1991, p. 23).

Excelência, no caso em tela está se tolhendo a verba


alimentar do funcionalismo público do Estado do Paraná, pois o art. 37, XV da Constituição
Federal consagra a irredutibilidade dos vencimentos. Essa irredutibilidade deve ser
considerada direito fundamental, nos termos do art. 5º, § 2º da Constituição Federal, e como
tal, uma cláusula pétrea.

Da mesma forma é cláusula pétrea o direito adquirido


(arts. 5º, XXXVI e 60 § 4º, IV da Constituição Federal).

Na lição de Hely Lopes Meirelles:

"É assegurada revisão geral anual dos subsídios e


vencimentos, sempre na mesma data e sem distinção
de índices (CF, art. 37, X). Aqui, parece-nos que a EC
19 culminou por assegurar a irredutibilidade real e
não apenas nominal do subsídio e dos vencimentos"
("Curso de Direito Administrativo", 25ª ed., 2000, p.
431).

Sendo assim, a alteração da data base, postergando-a sem


data definida, ainda mais se tratando de verba salarial, ofende tais dispositivos
constitucionais.
Deste modo, imperioso é que seja reconhecida e
declarada a inconstitucionalidade do art. 33 da Lei Estadual nº 18.907/2016, obrigando que
a Administração Pública Estadual realize a revisão geral anual que já teria que ter ocorrido
originalmente em 1º de Maio, e com a aplicação dos mesmos índices utilizados para a
revisão dos vencimentos e subsídios dos demais servidores públicos do Paraná.

2 DOS REQUERIMENTOS

DA PROCEDENCIA – “Ex positis”: Respeitosamente.


Requer, se digne Vossa Excelência, ao final, julgar totalmente procedente a presente Ação Judicial
para, reconhecendo e declarando a inconstitucionalidade do art. 33 da Lei Estadual nº 18.907/2016,
CONDENAR a Administração Pública Estadual (Estado do Paraná) realizar a revisão geral
anual, aplicando os mesmos índices utilizados para a revisão dos vencimentos e subsídios
dos demais servidores públicos do Paraná.

CITAÇÃO DO ESTADO DO PARANA -“Ex positis”:


Respeitosamente. Requer a citação Do Estado do Paraná para, querendo, contestar a presente Ação;

INTIMAÇÃO DO ILUSTRE REPRESENTANTE DO


MINISTÉRIO PÚBLICO. “Ex positis”: Respeitosamente. Requer, se digne Vossa Excelência em
determinar a intimação do Mui Digno Representante do Órgão do Ministério Público, para que tome
conhecimento da Ação, na forma da lei.

DAS PROVAS - “Ex positis”: Respeitosamente. Requer, se


digne Vossa Excelência, deferi, eventual, produção de prova, em especial a junta de documentos,
exibição de documentos, e os demais meios de se fizerem necessário para a solução da lide.

Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (um mil reais).

Termos em que pede deferimento.


Cascavel-PR, 20 de Junho de 2017.

SILVIO SILVA MARCELO ELENO BRUNHARA


OAB/PR: 24.864 OAB/PR: 27.563.

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