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escola-na-promocao-da-saude-mental-dos-estudantes
Publicado em NOVA ESCOLA 31 de Agosto | 2022
Prática pedagógica
Por isso, outro ponto importante é otimizar a conexão entre escola e aluno. Na
opinião do médico, a escola precisa ser um lugar onde os adultos se
comportam de forma estável porque, muitas vezes, esse é o único ambiente
onde a criança encontra isso. Esse aspecto, no entanto, também passa por
olhar para o professor. Foi isso que a diretora Edna, do começo desta
reportagem, entendeu que precisava fazer para começar a mudar o cenário
visto no início do ano.
Projeto une música e empatia
O primeiro passo dado por Edna na Anísio Teixeira foi dimensionar o problema.
Da mesma forma que a unidade mapeou as lacunas de aprendizagem, uma
avaliação diagnóstica específica foi realizada para entender o estado emocional
dos cerca de 800 alunos, da Educação Infantil aos Anos Finais do Ensino
Fundamental.
A diretora explica que foram aplicados formulários com atividades de escrita e
desenho para que os estudantes expressassem seus sentimentos. Em paralelo,
os momentos de formação continuada dos professores foram utilizados para,
além de acolhê-los, permitir que fossem orientados no desenvolvimento das
propostas relacionadas ao projeto. “No primeiro momento também tivemos
que acolher o professor, ouvir as suas dores e depois prepará-los para acolher
os alunos.”
Em seguida, a escola definiu que uma etapa importante era trabalhar o
entendimento de empatia e que a música seria o fio condutor do projeto.
Assim, após escolher um título para o projeto, denominado de Empatia, os
professores passaram a usar canções de formas variadas nas aulas de
diferentes disciplinas, debatendo as letras e discutindo o assunto, além de
buscar atividades para que os alunos praticassem a empatia.
Assim, são feitas interpretações de letras de músicas, criação de acrósticos com
o nome do projeto e os títulos das canções, construção de frases e slogans em
Língua Portuguesa e elaboração de cartazes, faixas e murais em Artes, por
exemplo. Edna salienta que essa é uma forma de avançar com os conteúdos
pedagógicos, mas garantindo oportunidades para debater as questões
socioemocionais. Outras atividades práticas que integram o projeto são
contações de histórias e jogos colaborativos, que apresentam novas realidades
aos estudantes e os ajudam a ampliar a capacidade de escuta e a respeitar e a
reconhecer a importância do outro.
As famílias também se envolvem ao responder pesquisas, via whatsApp, sobre
o tema. As atividades culminam em momentos semanais, nos quais toda a
comunidade escolar se reúne para cantar a canção escolhida. “É um momento
de muita emoção, acolhimento e fortalecimento de vínculos. É hora de
mostrarmos que estamos unidos”, resume a diretora. E o repertório é eclético.
Já fizeram parte das atividades canções da banda Titãs, Gonzaguinha e Bruno e
Marrone.
Para os estudantes que apresentam casos mais complexos, a escola conseguiu,
em parceria com a Prefeitura de Uberaba, dois psicólogos que realizam rodas
de conversa e mediação de conflitos. As atividades são sempre acompanhadas
por um professor. É uma maneira, segundo Edna, de aumentar o repertório dos
docentes sobre o assunto. Há também situações em que a família é
comunicada e encaminhada para a rede municipal de saúde. “No início do ano,
tivemos que desacelerar e olhar muito para essa questão emocional. Mas, hoje,
já podemos focar mais no pedagógico porque a saúde mental dos nossos
alunos está melhor”, afirma Edna. “Aprendemos na marra que se não
atentarmos para as questões socioemocionais, não identificamos problemas de
saúde mental não podemos avançar. Não é possível trabalhar sem olhar para o
aluno de forma integral.”
Simone André, especialista em Educação integral e desenvolvimento
socioemocional, explica que as competências socioemocionais protegem a
saúde mental dos estudantes, na medida em que oferecem experiências
educacionais que, de forma intencional, fortalecem o relacionamento consigo
mesmo, com o outro e o coletivo, preparando o estudante para lidar com as
situações de incerteza, ansiedade, estresse e vulnerabilidade que caracterizam
a sociedade contemporânea.
Metodologias ativas e saúde mental
Para além das intervenções específicas, que muitas vezes são necessárias para
garantir e promover a saúde mental dos alunos, Angela Uchoa Branco,
professora emérita da Universidade de Brasília (UnB) e doutora em Psicologia
pela Universidade de São Paulo (USP), diz ser fundamental que as escolas
renovem suas práticas pedagógicas, no sentido de motivar e gerar a
participação ativa dos alunos no processo de ensino e aprendizagem.
O que pode ajudar, segundo ela, é a promoção de encontros e rodas de
conversa, de forma a favorecer maior cooperação e colaboração entre os
professores, tanto em nível socioafetivo quanto em trocas de ideias e práticas
pedagógicas e inclusivas.
“Com isso, não apenas os conteúdos das disciplinas são mais bem ensinados,
mas os alunos terão mais oportunidades de se expressarem e serem ouvidos e
valorizados, fortalecendo a autoestima e a autoconfiança, essenciais para o seu
desenvolvimento pleno. Além disso, promover debates e discussões em sala de
aula poderá permitir o aprofundamento de questões essenciais à formação
cidadã e democrática dos estudantes, para que celebrem a diversidade e a
inclusão nos contextos educativos e fora deles”, avalia Angela. Tudo isso pode
contribuir para a saúde mental de todos, estudantes e educadores.
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