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Resumo
O tema deste artigo está relacionado ao autismo e teve como objetivo principal mostrar que as
crianças portadoras de autismo podem e devem se adaptar ao meio social, além de desenvolver
suas habilidades e competências como as crianças não portadoras. A metodologia adotada para
coleta de dados foi um estudo de caso, realizado na Escola X, na qual foram realizadas leituras,
pesquisas bibliográficas, observação e uma pesquisa de campo envolvendo três professoras. Os
dados foram interpretados utilizando a análise qualitativa, pois posicionamentos não podem ser
quantificados. Os dados coletados revelaram que o autismo ainda é pouco estudado e
trabalhado, mostra ainda como é a vida de um autista dentro e fora da escola, seus
comportamentos e desenvolvimentos e os círculos afetivos, escolares e familiares, como
ocorrem e qual a posição da família perante a deficiência. Os dados também revelam que à
identificação da anormalidade, que muitas vezes não é iniciada pela família, cabe à escola e,
em especial, ao educador reconhecer o transtorno, em razão de que o professor precisa estar
atento às particularidades de cada um de seus alunos e diante das dificuldades de aprendizagens
pode contribuir para que a mesma possa ser tratada ou ter sua gravidade diminuída. Com essa
pesquisa foi possível concluir que o aluno autista tem muita dificuldade em se relacionar e fazer
alguns trabalhos, porém basta os professores buscarem métodos novos, dinâmicos e lúdicos que
chamem a atenção e incentivem o aluno a apreender. Apesar das dificuldades do aluno autista,
ele também é capaz de desenvolver habilidades e realizar atividades assim como outros alunos.
Introdução
Falar e ensinar não são tarefas fáceis. Na área da educação as diversidades são muitas e
esse universo tem várias barreiras, uma delas são as “dificuldades de aprendizagem”. A
1
Mestre em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professora titular na Universidade
do Oeste de Santa Catarina (Unoesc). E-mail: iara.castegnaro@unoesc.edu.br
2
Graduanda em Pedagogia pela Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc). E-mail:
alexandra.romano@pucpr.br
ISSN 2176-1396
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Tal comportamento se não detectado pode agravar ainda mais a situação, podendo levar
a criança à depressão e a uma tristeza profunda. Esses sintomas devem ser percebidos o mais
rápido possível para permitir que a criança tenha um tratamento adequado e possa ter uma vida
normal, pois a depressão pode parecer inofensiva, mas ela destrói o físico e o emocional de um
ser humano.
As dificuldades de aprendizagem podem ter origem em fatores orgânicos ou mesmo
emocionais, por isso é importante que elas sejam detectadas com antecedência a fim de auxiliar
o desenvolvimento do processo educativo, pois, muitas vezes, são relatadas por pais e
professores como preguiça, cansaço, sono, tristeza, agitação, desordem, entre outros fatores.
Assim, percebe-se a importância do “olhar” pedagógico em sala de aula. O professor
não deve olhar a criança como um mero aprendiz mas, sim, ter sentimento por ela, demonstrar
preocupação e, se constatar algo errado, buscar meios para identificar o que está acontecendo e
como pode auxiliar a criança no processo educativo.
A observação dos professores diante das dificuldades de aprendizagens pode contribuir
para que a mesma possa ser tratada ou ter sua gravidade diminuída. O passo principal em sala
de aula não é rotular o aluno ou discriminá-lo sem antes saber o que está acontecendo no seu
interior. Fatores como cansaço ou problemas emocionais precisam ser discernidos das
dificuldades de aprendizagens, pois estas devem ser observadas e investigadas. É importante
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explicar às crianças que tal dificuldade apresentada tem nome, razão e uma solução. Pais e
professores devem motivar as crianças a enfrentarem os obstáculos, proporcionar confiança e
mostrar os pontos positivos em vez dos negativos, em razão de que a negatividade desanima e
destrói o ser humano.
A partir do exposto, enfatizamos que o presente artigo é parte de um estudo de caso
realizado na Escola X, na qual foram realizadas leituras, pesquisas bibliográficas, observação e
uma pesquisa de campo envolvendo três professoras. Na pesquisa, teve-se como objetivo
mostrar que as crianças portadoras de Autismo podem e devem se adaptar ao meio social, além
de desenvolverem suas habilidades e competências como as crianças não portadoras.
Conforme Oliveira et al. (2014) a palavra autismo vem do grego autos, que significa de
si mesmo ou próprio. Sabe-se que o autismo é um distúrbio de desenvolvimento, com etiologias
múltiplas, de origem neurobiológica, o que implica uma abordagem sobre os diferentes aspectos
comportamentais ligados ao Autismo e seus processos de identificação.
Segundo Dechichi, Silva e Ferreira (2012, p. 213, grifo do autor), “[...] o distúrbio
fundamental mais surpreendente, ‘patognômico’, é a incapacidade dessas crianças de
estabelecer relações de maneira normal com as pessoas e situações desde o princípio de suas
vidas.”
A principal característica do Transtorno Autista é o prejuízo da criança no que se refere
ao seu processo de desenvolvimento, na interação social, comunicação, aquisição da linguagem
e estruturação de jogos simbólicos ou imaginativos. O autismo ocorre habitualmente em
crianças que apresentam alguma deficiência mental profunda ou um transtorno grave no
desenvolvimento da linguagem.
De acordo com Dechichi, Silva e Ferreira (2012, p. 214),
Ao contrário do que muitos pensam, com o autista pode-se construir e aprender muito.
Os movimentos de aprendizagem não se constroem somente com a qualidade de nossas ideias
e, sim, com nossas ações.
Essa ação requer um trabalho bem elaborado, com profissionais atuando de maneira
individualizada, planejada, que se sujeitam a novos desafios e que trabalham sempre em
sintonia com a família.
Quando o aluno ingressa na escola, durante a entrevista psicopedagógica é de suma
importância que nada passe despercebido para que as informações sirvam de maneira positiva
para a ação do psicopedagogo. Ele, por sua vez, usará de sua sensibilidade de educador para
identificar as dificuldades e implementar as possibilidades de aprendizagem.
O ambiente deve propiciar ao aluno autista condições favoráveis para estímulos
afetivos, sensoriais e cognitivos, além de um educar que transmita total segurança, em razão de
que a educação deve estar centrada no ser humano e não na patologia.
Segundo Cunha (2011, p. 53), “[...] transforme as necessidades do aprendente em amor
pelo movimento de aprender e de construir. Concede-lhe autonomia e identidade.” Portanto, o
início da construção da autonomia do autista ocorre quando há afeto entre ele e o seu professor.
Todo tipo de atividade a ser construído com o aluno deve ter caráter terapêutico, afetivo,
social e pedagógico. A própria prática escolar abre muitas oportunidades tanto para a família
quanto para a escola, pois as atividades podem ser incluídas no dia a dia da criança. É
interessante ressaltar que as crianças, enquanto pequenas, aprendem facilmente ações básicas
como vestir-se, lavar-se e comer. Já nas crianças autistas é visível a dificuldade para realizar
essas tarefas básicas, portanto, a escola e a família têm a tarefa de trabalhar esses pontos para
que a criança diminua a dependência.
O modo como o professor fala com o aluno autista contribui significativamente para que
a criança confie nele, ou seja, a fala deve ser serena, assim como os gestos, pois são os principais
meios de comunicação com o autista, considerando que toda forma de comunicação deve ser
objetiva e de fácil compreensão. Cunha (2011, p. 60, grifo do autor) destaca como exemplo:
“se um menino autista subir na cadeira, poderá não haver sentido para ele se um adulto disser:
‘Não faça isso!’, porque nem sempre saberá o que fazer ao ouvir a palavra ‘não’. O certo é dar-
lhe um objetivo, dizendo: ‘Coloque os pés no chão’.”
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Em muitos aspectos da vida, o que se sabe é que, nossos gestos falam muito mais do
que nossas próprias palavras, portanto, ao se trabalhar com uma criança autista, não somente o
seu professor, mas toda a equipe escolar deve enfatizar a questão social, os valores da amizade,
do carinho, do afeto, do amor e da importância do próximo e, também, compartilhar
sentimentos e interesses. Certamente se toda escola trabalhar esses pontos a compreensão do
aluno autista será facilitada, em razão de que ele estará envolvido diariamente em um meio
social.
Durante o processo de aprendizagem, a maior dificuldade do autista adquirir
aprendizado é o deficit de atenção, pois ele faz com que sua atenção se disperse. Entretanto,
autores alertam quanto aos três estágios que devem ser percebidos pelo professor: no primeiro,
considera-se papel do professor atrair a atenção do aluno, provocando nele a vontade de
aprender; no segundo, por mais que o autista não se comunique por meio da fala, todo e qualquer
tipo de comportamento é uma forma de expressão significativa, que deve ser notada; no terceiro
e último estágio, o autista deve ter a capacidade de brincar com o restante dos colegas sem que
haja intervenção do professor, e isso é tão interessante que essa atividade interativa reduz o
isolamento e os comportamentos inadequados (CUNHA, 2011).
A seleção dos materiais pedagógicos contribui para a estimulação do aluno no processo
de construção do conhecimento. O manuseio de alguns objetos específicos, estimulam também
a função cognitiva, considerando que, por meio do manuseio de peças, qualquer criança acaba
desenvolvendo a concentração, a coordenação motora, o equilíbrio e a compreensão dos
conceitos perto, longe, atrás, frente, alto, baixo, direita, esquerda, pequeno e grande.
O aluno com autismo não é incapaz de aprender, mas possui forma peculiar de
responder aos estímulos, culminando por trazer-lhe um comportamento diferenciado,
que pode ser responsável tanto por grandes angústias como por grandes descobertas,
dependendo da ajuda que ele receber. (CUNHA, 2011, p. 68).
Além de ser imprescindível o cuidado na escolha dos materiais como forma de facilitar
a aprendizagem do autista, é de extrema importância que a família e o meio escolar tomem
cuidado com a alimentação da criança autista. Alguns alimentos ou medicamentos podem
provocar alergias e alterar o comportamento da criança, causando dificuldades no processo de
aprendizagem. É necessário estabelecer uma dieta alimentar em razão das anormalidades
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metabólicas, pois torna-se muito difícil educar uma criança que apresenta sintomas decorrentes
de uma alimentação imprópria.
Segundo Cunha (2011, p. 69)
Relatos mostram alunos que ficaram mais aptos ao aprendizado escolar após a
observância de uma criteriosa rotina alimentar. A escola e a família precisam estar
atentas para toda prescrição médica a esse respeito.
com os colegas, pois é por meio da interação que o autista tem maiores possibilidades de
aprendizagem.
Para Cunha (2011), as atividades devem possuir caráter social, propiciando ao autista,
experiências em grupo, “[...] por meio de momentos de aprendizagem em sala de aula e no
convívio diário com os demais alunos, trabalhando a interação e a comunicação.” (CUNHA,
2011, p. 54).
Com relação à reação da escola ao ver as conquistas do autista, todas as entrevistadas
descreveram que, “há vibração geral, todos ficam sabendo, pois cada avanço é visto como um
grande progresso.” (informação verbal). Nota-se como é grande a preocupação e a dedicação
de toda a equipe escolar em relação à criança autista, uma vez que, quanto maior o empenho,
maior será o sucesso obtido.
Ainda para Cunha (2011, p. 49),
Sempre que atentarmos para o interesse do aluno e os seus desejos em nossa prática
pedagógica, estaremos comunicando-nos com seu afeto. Para não desistirmos de
nossos propósitos na educação, devemos fazer isto em nosso trabalho e, para que
nossos alunos também não desistam, precisamos contagiá-los com o nosso amor.
Nada se constrói com qualidade na educação sem o amor.
Somente com muito amor é que um professor consegue a confiança e também se une
mais afetivamente ao seu aluno em meio às dificuldades.
Tratando da interação dos pais com o autista, as professoras destacam que:
as atividades acontecem “da melhor forma para que ele consiga realizar alguma delas.” E a
professora C diz que são “atividades breves, com pouca informação e que de alguma forma lhe
atraiam.” (informações verbais).
De acordo com o desenvolvimento do aluno nas atividades propostas e sobre quais ele
consegue realizar sozinho as professoras informam que:
Considerações Finais
Pode-se concluir com o estudo de caso abordado neste artigo que, apesar de o autismo
apresentar algumas dificuldades, tanto para o relacionamento social quanto para o processo de
aprendizagem, é possível sim que o autista se torne uma pessoa capaz de conviver em sociedade
e evoluir como qualquer outro indivíduo não portador do transtorno, sobretudo quando são
descobertas as suas potencialidades.
Para que se torne concreta a evolução do autista, é preciso que sua anormalidade seja
identificada e diagnosticada para que ele seja acolhido, aceito e compreendido pelos seus grupos
sociais. Quanto à identificação da anormalidade, que muitas vezes não é iniciada pela família,
cabe à escola e, em especial, ao educador reconhecer o transtorno, em razão de que o professor
precisa estar atento às particularidades de cada um de seus alunos.
Vale enfatizar a importância de uma maior divulgação sobre esse assunto, considerando
que é indispensável que tanto o educador quanto a sociedade tenham conhecimento sobre essa
anomalia e viabilizem o acolhimento e a compressão em relação à condição do autista.
REFERÊNCIAS
AMY, Marie Dominique. Enfrentando o autismo: a criança autista seus pais e a relação
terapêutica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.