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TÂNIA COSTA
PSICOPEDAGOGIA
A não-aprendizagem na escola é uma das causas do fracasso escolar, mas a questão é, em si,
bem mais ampla.
FRACASSO ESCOLAR
Considera-se fracasso escolar uma resposta insuficiente do aluno a uma exigência ou demanda
da escola. Essa questão pode ser analisada e estudada por diferentes perspectivas: a da
sociedade, a da escola e a do aluno.
PERSPECTIVAS
1ª PERSPECTIVA
2ª PERSPECTIVA
A segunda perspectiva diz respeito à análise da instituição escola, em seus diferentes níveis,
como sendo a maior contribuinte para o fracasso escolar de seus alunos. Tal possibilidade de
estudo não pode ser vista isolada da anterior, pois sistema de ensino, seja público seja
particular, reflete sempre a sociedade em que está inserido.
A escola não é isolada do sistema socioeconômico, mas, pelo contrário, é um reflexo dele.
Portanto, possibilidade de absorção de certos conhecimentos pelo aluno dependerá, em parte,
de como essas informações lhe chegaram, lhe foram ensinadas, o que por sua vez dependerá,
nessa cadeia, das condições sociais que determinaram a qualidade do ensino.
Termina a rota da "deficiência social“ nas baixas oportunidades do aluno como pessoa,
acrescidas da baixa qualidade da escola.
Considerou que, nesse momento, o sujeito experimenta dois medos básicos a que chamou de
"medo à perda" e "medo ao ataque".
O sentimento de "medo à perda" surge quando teme perder o equilíbrio emocional já obtido
com a segurança que possui no domínio dos conhecimentos anteriores, já integrados. O
"medo ao ataque" do conhecimento novo acontece quando não se sente devidamente
instrumentado na situação nova que está vivendo.
Esses dois "medos“ coexistem sempre; entretanto, não devem chegar a um ponto tal que
atrapalhe a mudança de conduta que vai caracterizar o domínio, a integração
Pelo "momento de discriminação" (separação e procura dos lugares dentro dos conhecimentos
já integrados anteriormente para colocar e relacionar o conhecimento novo) e pelo "momento
de integração" do conhecimento novo a tudo que o sujeito já sabe, a tudo que realmente já
aprendeu.
Por exemplo, quando os conteúdos do programa escolar, ou seja, as informações trazidas para
a sala de aula, são apresentados ao aluno de forma inadequada, tornam-se objetos de difícil
discriminação; eles se confundem com outros conhecimentos já possuídos e não se integram
aos mesmos, gerando grande "confusão" e tornando a elaboração do conhecimento mais
demorada e difícil.
Dizia-me Marta (4a série): "Ela (a professora) explicou frações e eu não entendi nada. Que é
esse negócio de avós?". Depois que objetivei com papel e refiz o caminho, ela falou: "Já sei,
tem que dividir igual. Quando acaba o décimo é que vem o avós". O mesmo ocorreu com
Creuza, 1ª série do Ensino Médio: "Acho que já entendi álgebra. Só não sei é essa tal de
incógnita".
Essas são situações que devem ser consideradas na ação didática do professor. Quando
apresenta a "matéria nova" e logo a seguir, no mesmo tempo de aula, resolve fazer um teste-
surpresa de avaliação sobre o assunto dado, fatalmente estará pegando o aluno em "momento
confusional", que é parte da elaboração normal do conhecimento novo.
O tempo necessário para elaboração total vai variar de um aluno para outro. Considero uma
boa estratégia didática o uso de "exercícios de fixação", orais ou escritos, para facilitar a
rapidez do processo de discriminação e a seguir de integração.
O trabalho interdisciplinar é uma forma de provocar a melhor passagem pelos três momentos
ao se fazer a ligação de "fios de conhecimentos" que vêm de diferentes disciplinas.
Essas diversas questões ligadas à escola precisam ser pesquisadas durante o diagnóstico
psicopedagógico para evitar alocar ao paciente, como se fossem aspectos internos seus,
pontos ligados ao processo ensino aprendizagem, que se originam em procedimentos
didáticos inadequados levando o aluno a ter algum tipo de dificuldade.
Considera-se fracasso escolar uma resposta insuficiente do aluno a uma exigência da escola.
Essa questão pode ser analisada e estudada por diferentes perspectivas: a da sociedade, a da
escola e a do aluno.
3ª PERSPECTIVA
Na minha experiência clínica, com pacientes de diferentes classes sociais, constatei que cerca
de 10% dos casos encaminhados para diagnóstico psicopedagógico tinham sua causalidade
básica em problemática do paciente, oriunda de sua história pessoal e familiar. No entanto, na
visão da escola, esta seria a causa da maioria dos casos de fracasso escolar.
FRACASSO ESCOLAR
O fracasso escolar é causado por uma conjugação de fatores interligados que impedem o bom
desempenho do aluno em sala de aula. A tentativa de identificar durante o diagnóstico um
ponto inicial nas condições internas do aluno ou nas condições externas do ensino e da
situação escolar visa apenas a melhor orientação terapêutica posterior.
FRACASSO ESCOLAR
A ansiedade vivenciada pelo aluno em situações de conhecimento novo, de conhecimentos
que ele acha que são difíceis e de que "não dará conta", de exigência exagerada da família ou
da escola, de se perceber incapaz, do clima negativo formado em sala de aula, e de outras
mais, leva-o a condutas diversificadas que atrapalham o já citado processo de elaboração do
conhecimento.
Entre as várias condutas assim originadas pode-se exemplificar: aluno com agitação intensa
iniciada em determinada aula, aluno desatento em determinada aula que fica parado, alheio e
de repente começa a se agitar, "doenças" (dor de cabeça, dor de barriga, dor na mão etc.) que
só aparecem em certas aulas, "branco", esquecimento de tudo que sabe na hora da prova,
teste ou exame.
Todas essas condutas podem conduzir a uma dificuldade posterior na aprendizagem escolar
que vai se ampliando aos poucos. Algumas vezes, pode afetar apenas a produção escolar em
determinada área ou momento da vida escolar, gerando, assim, o fracasso escolar.
É preciso não confundir o aluno com dificuldade de aprendizagem com o aluno que aprende
mas não tem a produção esperada pelo professor ou pela família.
Quando, por exemplo, o sujeito está pensando, prestando atenção numa aula e começa a
sacudir as pernas
Para esse autor, toda conduta humana, em cada momento, exprime a predominância
momentânea de uma das três áreas funcionais da conduta: a da mente, a do corpo e a da
relação do sujeito com o mundo externo. A alternância e a integração delas fazem parte da
vida normal. Algumas vezes, as "dissociações de campo" são benéficas, auxiliam a diminuir a
grande ansiedade que está vivendo nesse momento. Por exemplo: esfregar um objeto amuleto
enquanto faz uma prova escolar.
O trabalho psicopedagógico poderá ser feito no momento mais oportuno para cada caso.
Na realidade, crianças portadoras de alterações orgânicas recebem, na maioria das vezes, uma
educação diferenciada por parte da família, o que pode levar à formação de problemas
emocionais em diversos níveis, gerando dificuldades na aprendizagem escolar.
Por exemplo, a criança com grande baixa visual terá seu processo de construção do espaço
complicado, pois suas experiências com o mundo físico ficam diferentes das crianças com visão
normal.
Tive depoimentos de crianças que somente na classe de alfabetização (6-7 anos) tiveram a
alteração visual percebida pelos professores, e a família passou a providenciar a correção com
óculos de "grossas lentes". Essas crianças contaram que as coisas em torno eram diferentes
antes do uso dos óculos.
O não-aprender pode, por exemplo, expressar uma dificuldade na relação da criança com a sua
família; será o sintoma de que algo vai mal nessa dinâmica. Na prática, pode exprimir-se por
uma rejeição ao conhecimento escolar, em trocas, omissões e distorções na leitura ou na
escrita, não conseguir calcular em geral, não conseguir fazer uma divisão etc.
Aspectos sociais estão ligados à perspectiva da sociedade em que estão inseridas a família e a
escola. Incluem, além da questão das oportunidades, o que já foi comentado, o da formação
da ideologia em diferentes classes sociais.
Por exemplo, quando a família tem possibilidade de escolher a escola para seu filho, ela o faz
visando à manutenção de sua ideologia.
Essa escola que "finge" aceitar a diversidade cultural constrói nessas crianças a baixa auto-
estima, o sentimento de inferioridade que carregam para outras escolas ditas mais fáceis.
Isto acontece porque, na realidade, não fazem dentro da escola modificações curriculares e
pedagógicas que auxiliem a criança menos favorecida a ter uma ascensão no conhecimento e
se igualar com as do primeiro grupo.
Nesse conjunto de fatores externos, como já vimos, estão incluídas as questões ligadas à
metodologia do ensino, à avaliação, à dosagem de informações, à estruturação de turmas, à
organização geral etc, que, influindo na qualidade do ensino, interferem no processo ensino-
aprendizagem.
Uma boa escola deveria ser estimulante para o aprender; por essa razão, concordamos que a
função básica dos profissionais da área de educação deveria:
Essa função do educador se distingue da do clínico que terá por obrigação intervir, buscando
remover as causas profundas que levaram ao quadro do não-aprender.
Sintetizando o que foi visto, destacamos a idéia básica de aprendizagem como um processo de
construção que se dá na interação permanente do sujeito com o meio que o cerca.
Meio esse expresso inicialmente pela família, depois pelo acréscimo da escola, ambos
permeados pela sociedade em que estão. Essa construção se dá sob a forma de estruturas
complexas.
Finalizamos com Vygotsky (1989), ao frisar que a aprendizagem da criança começa muito antes
da aprendizagem escolar e que esta nunca parte do zero. Toda a aprendizagem da criança na
escola tem uma pré-história.
REFERÊNCIA
de aprendizagem escolar/ Maria Lúcia Lemme Weiss. - 12.ed. rev. E ampl. - Rio de Janeiro:
Lamparina, 2007
Aspectos básicos do
diagnóstico psicopedagógico