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Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Educação Continuada

Curso de Especialização em Psicopedagogia


DISCIPLINA: Testagens e Avaliação em Psicopedagogia

Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem (EOCA)

Aplicação

Identificação

Sujeito: Paulo (fictício) Idade: 8 anos e 3 meses


Escolaridade: 2ª Série
Problemática: dificuldades de aprendizagem da leitura e escrita.
Contato:
O sujeito foi indicado por meio de um contato com a escola e com a professora
que sugeriu intervenção com a criança devido as suas dificuldades de aprendizagem.
Procedimento:
Dada a consigna: “mostre-me o que você sabe fazer, o que lhe ensinaram e o
que você aprendeu”, o sujeito executa o descrito abaixo”.
Pega um papel laminado amarelo, começa a dobrar e logo mais pega a tesoura
e recorta. Pergunta se não há cola e o entrevistador diz que sim. Procura a cola e
consegue localiza-la com o olhar.
Pega um papel bege, olha e devolve.
Pergunta se pode apontar o lápis que está na mesa.
O entrevistador responde: - Como achar melhor
Aponta o lápis, quebra a ponta, aponta novamente.
Tenta novamente e consegue.
Com o lápis apontado faz detalhes na dobradura.
Diz que está feito e pergunta;
- Está feito?
-O que você acha?
- Acho que não
Há uma pausa.
O entrevistador afirma: – Já percebi que você sabe fazer dobraduras. Que outras
coisas você pode mostrar que sabe fazer?
Pega outro papel amarelo, mas do tipo camurça, pega a tesoura e começa a
cortar. Olha para o entrevistador e diz: - é um trevo de quatro folhas. Tem lá em casa.
Continua fazendo picotes no papel sem um objetivo definido. Pára e olha o
entrevistador. Este pergunta novamente se não tem mais nada para mostrar e ele diz
que não. Parece meio distante.
Diz que ia passear no Paraíso do sol, em uma excursão mas que não foi, embora
tivesse pago. (...).
Havia lápis com pontas quebradas em cima da mesa, pega as pontas quebradas e diz
que costuma jogar no amigos. Ele e outro fazem isso.
Continua explicando que ele e outro amigo fazem “artes”. Diz que não gosta da
classe, que as crianças fazem barulho e falam muito.
Que a antiga professora batia neles, que quebrou a régua na cabeça de um aluno
e que só não quebrou a dele porque se abaixou e pegou na carteira.
Quando lhe é perguntado o que aprende na escola, do que gosta, diz que não
gosta da escola, que queria estar fazendo lição do segundo ano, já que está no segundo
ano e não no primeiro.
Diz que sabe muitas coisas, que sabe fazer continhas com chaves e quem
ensinou foi seu irmão, que o viu fazendo e aprendeu. (Neste momento, o avaliador pode
dizer: “mostre-me”)
Fala que só tira nota “A” em matemática e que em linguagem vai “mais ou
menos”. Fala que o irmão repetiu de ano duas vezes, mas que ela não vai repetir. Que
passou do primeiro ano para o segundo e que vai passar para a outra série.
Fala que se não passar vai apanhar e que tem que passar.
Enquanto fala da escola, gira a tesoura com o lápis preto, em movimentos
rotativos e rápidos.
Pergunta quanto custa um lápis daquele e lhe é dito que aquele era emprestado.
Fala que comprará lápis para si e, quando o fizer, comprará um lápis para o
entrevistador.
Interpretações

Quanto a análise das respostas verbais e não verbais o sujeito parece não ter
tido um objetivo determinado para alcançar sua execução, não houve um tema
escolhido. Fez ao acaso. Pode perceber que um desinteresse na consecução, porém
demonstra uma necessidade de verbalizar seus sentimentos a respeito da escola e do
que aprende. Há um descaso quanto a execução da tarefa. Parece desejar estar no
Paraiso do sol, assim evita o esforço para aprender. A narrativa do sujeito vem confirmar
seu desinteresse pelo estudo.
Faz uma dobradura que provavelmente aprendera na pré-escola. É uma flor, um
trevo de quatro folhas. Talvez quisesse realizar algum desejo (...)
Quanto a dinâmica, a postura do sujeito durante a confecção da dobradura e do
recorte do trevo pareceu tranquila. Ele permaneceu calmo, recortando e dobrando em
silêncio. Porém quando começou a falar da escola pareceu ansioso, angustiado,
fazendo movimentos com a tesoura e o lápis, enquanto explicava.
O produto final parece muito pouco significativo em termos de produção de
aprendizagem. Não há uma criação, uma elaboração propriamente dita. A criança
parece usar mais a acomodação do que a assimilação, pelo demonstrado no seu
trabalho, em relação aprendizagem. (A pesquisadora quer dizer que o sujeito não cria,
apenas repete conhecimentos já aprendidos)
Levantamento de Hipóteses
Podemos levantar algumas hipóteses sugeridas pelo resultado da entrevista:
O sujeito não cria algo novo, repete conhecimentos adquiridos anteriormente,
utilizando esquemas cognitivos empobrecidos, demonstrando falta de envolvimento
com o objeto de aprendizagem e consequentemente, com o conhecimento e com quem
o transmite.
A escola não o satisfaz, percebe o vínculo com o conhecimento como uma
situação sem prazer.
Há um problema de aprendizagem, segundo Visca (1987), com um obstáculo
epistemofílico, tendo uma dificuldade de estabelecer um vínculo afetivo adequado com
os objetos e as situações de aprendizagem, assim como um obstáculo epistémico,
devido as alterações da estrutura cognitiva, ocasionado uma detenção do
conhecimento.
Delineamento da Investigação
Pelos motivos explicitados, aplicaria, num segundo encontro com o sujeito, o
teste Pareja Educativa, buscando verificar o vínculo do sujeito com o conhecimento e
com o ensino.
Posteriormente, aplicaria as provas operatórias com a intenção de verificar as
estruturas de pensamento do sujeito, sondando sua operatoriedade, noções de
conservação, estratégias que utiliza na elaboração de suas respostas.

Referências

CHAMAT, L. S. Técnicas Diagnóstico Psicopedagógico: o diagnóstico clínico na


abordagem interacionista. São Paulo: Vetor, 2004.

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